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REDUÇÃO DE
COMPORTAMENTOS-
-PROBLEMA
ACADEMIA DO AUTISMO
REDUÇÃO DE COMPORTAMENTOS-PROBLEMA
por Fábio Coelho
INTRODUÇÃO
Segundo pesquisas, até 50% das crianças com TEA apresentam comportamen-
tos-problema. Os pais descrevem "colapsos" frequentes, "birras", "desafio às instruções
rotineiras", "explosões agressivas", "bater cabeça" e outros problemas comportamen-
tais graves recorrentes no contexto da vida diária.
Sendo assim, comportamentos como birras, se jogar no chão, chorar, gritar e es-
pernear são comportamentos que prejudicam o desenvolvimento emocional e social da
criança, comportamentos autolesivos/machucar a si mesmo e agressões/agredir outras
pessoas são considerados, então, comportamentos-problema e serão passíveis de inter-
venção.
Hipótese 1: Ele está tentando fugir das aulas? Neste caso, embora a consequên-
cia do professor seja lógica, também é ineficaz pois a criança conseguiu escapar das au-
las e, portanto, é provável que o comportamento-problema volte a ocorrer.
Uma das maneiras de avaliação funcional direta é o registro ABC, no qual regis-
tramos o que acontece antes e depois de uma determinada resposta:
• Antecedentes: Tudo que está em volta do sujeito, ou dentro dele, e que antece-
de a resposta.
• Chamado de ambiente, situação, contexto ou estímulo antecedente: São estí-
mulos que discriminam (SD) se uma consequência "x" será, ou não, apresentada.
• Comportamento: O comportamento, seja ele explícito ou implícito (aberto ou
encoberto; privado ou público).
• Consequências: Aquilo que vem depois do comportamento e que altera o pa-
drão de sua apresentação.
Principais funções do comportamento-problema:
• Sensorial/físico.
• Tangível.
• Fuga.
• Atenção.
Exemplo 1: A criança está chorando porque está com dor de ouvido. Neste exem-
plo, o choro não se deve a um fator fora do corpo da criança. Em vez disso, é devido à
experiência que a criança está sentindo no interior. Exemplo 2: A criança coça a pele
para aliviar a coceira por causa da picada de mosquito.
Já a função tangível significa querer algo que é tangível; tocar, pegar, jogar, co-
mer, fazer. Este comportamento ocorre, geralmente, quando um adulto pede para a
criança parar de fazer uma atividade ou retira algo que ela estava fazendo. Por exemplo:
o aprendiz estava brincando com o boneco e este foi retirado, então ela começa a se
envolver em comportamentos-problema. O que reforça esse comportamento é o acesso
ao item.
Exemplo 1: A criança quer chocolate na fila da cantina, e diz: "Eu quero um Ba-
ton". O professor responde "Não". A criança chora e reclama mais sobre querer o Baton.
Então, o professor deixa a criança pegar o chocolate. A criança aprende que chorar e
reclamar vai fazer com que ela consiga o doce. Exemplo 2: A criança quer usar um brin-
quedo que gosta. A professora está segurando o brinquedo. A criança agarra o brinque-
do para pegá-lo. A professora dá o brinquedo. A criança aprende que pegar o brinquedo
faz com que ela consiga acessá-lo.
Exemplo 1: A criança resmunga até que os colegas falem com ela. A criança
aprende que resmungar vai fazer com que ela receba a atenção de seus colegas. Exem-
plo 2: O professor está conversando com outro adulto. A criança joga um item na sala
de aula. O professor olha para a criança e explica que ela precisa pegar o brinquedo.
A criança aprende que jogar algo no chão chama a atenção do professor.
Se vocês me perguntarem o que eu faço com uma criança que está mordendo,
direi para vocês: "Eu não sei", porque o morder é uma topografia, precisamos descobrir
a função, e para descobrir a função, olhamos o que acontece antes e o que acontece
depois.
Imagine que a criança não está recebendo, naquele momento, a atenção. A gen-
te percebe, em vários momentos da rotina dela, que ela não está recebendo atenção,
está brincando sozinha e os pais estão fazendo outras coisas ao longo da casa, ela não
está tendo acesso a nenhum ser sociável e nenhuma pessoa dando atenção pra ela,
então, ela vai e morde a mãe. A mãe olha pra ela e repreende: "Não, assim não pode,
vem cá, vamos fazer outra coisa", direcionando-a dando atenção.
Essa mesma criança, em outro exemplo, está com a mãe, caminhando no super-
mercado. A mãe está conversando com ela e o telefone da mãe toca, a mãe atende e a
criança morde a mãe para que a mãe olhe pra ela. Olhando o antes e o depois, esses
comportamentos teriam uma função de atenção. Todas as estratégias vão girar em
torno de substituir esse comportamento pra que ela ganhe atenção de outras formas.
Agora, imagine que essa criança está diante de um brinquedo que ela gosta mui-
to, o irmãozinho dela vem e pega esse brinquedo da mão dela pra jogar. Então, ela vai
e morde o irmão. Temos, aqui, um exemplo de tangível. Podemos imaginar, também,
ela entrando na cozinha e mordendo o pai, que rapidamente procura algo pra oferecer
à criança (um biscoito, um suco) e vai oferecendo até ela pegar aquele item. Temos,
aqui, uma forma comunicativa de pedir algo, de ter acesso a algo, um tangível que pode
ser também um comestível.
E se a criança chega na escola, a professora senta com ela, pede pra ela fazer
uma atividade e ela morde a professora? Ou vai à terapia e o profissional pede pra ela
fazer uma atividade, ela faz a primeira vez, o profissional elogia, pede pra ela fazer de
novo, e neste momento ela morde o profissional. Aqui, estamos diante de uma função
de fuga. Ou, ainda, ela pode emitir o comportamento de morder, estar brincando com
as crianças e comendo o que ela mais gosta, sem nenhuma demanda. Se for um com-
portamento que ocorre ciclicamente, ou seja, volta e meia esse comportamento ocor-
re sem uma função social específica, em diferentes contextos, pode ser algo físico ou
sensorial. E neste caso, não vai adiantar buscar estratégias de não dar atenção, ou dar o
que a criança quer, é preciso pensar em estratégias a nível sensorial, já que ela tem essa
necessidade sensorial de morder e está transferindo isso para um comportamento topo-
gráfico de morder outras pessoas ou até a si mesma.
MANEJO DE ANTECEDENTES
O time in é uma forma de saciar a criança com aquele item antes dela pedir, por
exemplo: a criança emite muitos comportamentos-problema quando o pai chega em
casa, porque ele tem um chaveirinho que a criança gosta de brincar. Então, a criança co-
meça a emitir uma série de comportamentos-problema, bate e se joga no chão até ter
acesso ao item. Uma forma de prevenir esses comportamentos seria, quando o pai che-
gasse em casa, entregar o item pra que a criança brinque, sacie-se com aquele chaveiro,
sem a necessidade de pedir de maneira inadequada. Outra solução seria comprar um
chaveiro igual, também visando prevenir a ocorrência de um comportamento-proble-
ma, logicamente, com outras estratégias envolvidas.
Para a função de fuga, o uso da rotina visual é também bastante indicado, a previ-
sibilidade diminui muito a ansiedade, favorece o engajamento na atividade, diminui o
comportamento de resistência, de fuga e a redução da demanda. Um ponto importante
aqui é refletir sobre por que a criança não quer fazer aquela atividade. Será que precisa-
mos manter um ensino leve e agradável? E se essa demanda está excessiva, gerando
comportamentos disruptivos, precisamos flexibilizar a demanda? Se pedirmos para a
criança fazer atividades durante 15 minutos, diminuímos para 12 minutos? Se pedirmos
para a criança fazer 10 repetições, diminuímos para 6 repetições? Podemos diminuir o
nível de dificuldade, incluir um tipo de ajuda para ela. Vamos diminuir, de alguma forma,
essa demanda para prevenir a ocorrência de comportamentos mantidos por fuga e
comportamentos com a função de fuga; ou podemos, ainda, trocar a atividade. Reduzir
ou trocar a demanda é importante para que o ensino seja mais agradável.
Algumas estratégias de prevenção, examinando os antecedentes de um compor-
tamento-problema:
Passo a passo para uma rotina visual: A previsibilidade e uma rotina claramente
definida para as crianças com TEA promove a compreensão e diminuição do comporta-
mento-problema. Ao estabelecer uma rotina, certifique-se de colocar atividades agradá-
veis após as exigentes (por exemplo: selecionar a história para contar depois que a cri-
ança estiver pronta para dormir). Uma programação para esses eventos diários pode
ajudar a criança a saber o que esperar – o que pode, por si só, melhorar a conformidade
com essas atividades.
ENSINO DE HABILIDADES
Exemplo:
• Resposta disruptiva (choro) – será colocada em extinção.
• Função – acesso ao comestível.
• Resposta alternativa – entregar figura com foto do sorvete e legenda "Quero sor-
vete, por favor". Será reforçada e substituirá a resposta disruptiva
1. Contato visual.
2. Linguagem corporal.
3. Emoções.
4. Brincar social.
5. Habilidades de comunicação.
PROCEDIMENTO DE EXTINÇÃO
REFORÇO DIFERENCIAL
Exemplos:
• Não levantar durante 5 minutos.
• Não bater durante 10 minutos.
• Não jogar objetos durante 15 minutos.
Exemplos:
• Fazer perguntas.
• Pedir para ir ao banheiro.
• Conversar com o colega.
Exemplos:
• Sentar x correr na sala.
• Falar sobre algo relevante x fala ecolálica.
• Comer com garfo x comer com a mão.
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