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INSTITUIÇÕES DE DIREITO (2024 1º Semestre)

TURMA: 26 CURSO: Atuária

SEMINÁRIO AULA: 4 , PARTE: 2

TEXTOS: ACESSO À JUSTIÇA E O PAPEL DOS DEFENSORES E


PROMOTORES PÚBLICOS NO LITÍGIO SOBRE DIREITO À SAÚDE NA
CIDADE DE SÃO PAULO

GRUPO (nomes completos e número USP):

Nome No USP

Isabela Clasen Iadocicco 13643530

Lucas Shimada Rodrigues 15639595

João Pedro Sakashita Machado 12447706

Victor Moraes de Souza 15491195


Sumário:

1 Introdução

1.1 Argumento 1

1.1.1 Sub-argumento

1.2 Argumento 2

1.2.1 Sub-argumento

1.2.2 Contra-argumento

1.3 Argumento 3

1.4 Conclusão da Seção

2 Desenvolvimento do argumento principal do texto

2.1 Os dados

2.1.1 Defensoria Pública (DP)

2.1.2 Ministério Público (MP)

2.2 Argumento Principal 1

2.2.1 Sub-argumento

2.3 Argumento Principal 2

2.3.1 Sub-argumento

2.4 Apontamentos finais

3 Conclusão
ACESSO À JUSTIÇA E O PAPEL DOS DEFENSORES E PROMOTORES
PÚBLICOS NO LITÍGIO SOBRE DIREITO À SAÚDE NA CIDADE DE SÃO
PAULO

1 Introdução

1.1 Argumento 1

Desde a Constituição Brasileira de 1988, observou-se um aumento significativo no


número de ações judiciais relacionadas ao direito à saúde, com muitas dessas ações
exigindo que o governo cumpra com suas obrigações de garantir esse direito. Esse
fenômeno tem sido amplamente estudado, destacando-se que o litígio tende a
concentrar-se em regiões com melhores condições socioeconômicas, o que sugere um
desequilíbrio na efetivação do direito à saúde.

1.1.1 Sub-argumento

A judicialização da saúde tem favorecido principalmente indivíduos de origens


privilegiadas, que possuem melhor acesso a informações, assistência jurídica e ao
sistema judiciário. Isso resulta na alocação de recursos limitados do governo para
tratamentos caros e importados, muitas vezes não prioritários para a maioria da
população atendida pelo sistema público.

1.2 Argumento 2

O debate acadêmico sobre a judicialização da saúde no Brasil divide-se entre aqueles


que veem o litígio como um mecanismo legítimo para efetivar o direito à saúde e
aqueles que argumentam que ele pode, de fato, comprometer a implementação desse
direito.

1.2.1 Sub-argumento

Uma visão crítica sugere que, ao beneficiar uma minoria privilegiada, o modelo de
litígio brasileiro na área da saúde pode intensificar as desigualdades sociais, ao invés de
reduzi-las, contradizendo o objetivo da Constituição de 1988 de diminuir as
disparidades em saúde e outros bens sociais.

1.2.2 Contra-argumento

Apesar das críticas, existe uma perspectiva dentro do campo pró-litígio que reconhece a
necessidade de reformar o modelo brasileiro de litígio na saúde. Essa vertente
argumenta que os tribunais poderiam servir como um meio importante para que os
menos favorecidos apresentem suas reivindicações, desde que haja um acesso mais
amplo à Justiça.
1.3 Argumento 3

O acesso à Justiça, especialmente em relação ao litígio sobre o direito à saúde, melhorou


desde a Constituição de 1988, com destaque para os estados do Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul, e na cidade de São Paulo, onde uma significativa parcela dos litigantes
foi representada por advogados públicos. Esse fenômeno sugere uma potencial
democratização do acesso ao litígio na área da saúde.

1.4 Conclusão da Seção

O litígio na área da saúde no Brasil é um fenômeno complexo que reflete as


desigualdades socioeconômicas do país. Enquanto promove o direito à saúde para
alguns, pode exacerbar as disparidades para outros. A solução proposta por alguns
estudiosos envolve não a eliminação, mas a reforma do litígio, visando um acesso mais
igualitário à Justiça e, consequentemente, ao direito à saúde. A possibilidade de que
advogados públicos possam atuar como um catalisador para a melhoria do acesso à
saúde para os mais necessitados representa um ponto de esperança e um campo vital
para futuras investigações.

2 Desenvolvimento do Argumento Principal do Texto

2.1 Os dados

2.1.1 Defensoria Pública (DP)

A Defensoria Pública (DP) de São Paulo, estabelecida em 2006, tem a missão de


fornecer apoio legal gratuito a indivíduos com renda familiar até três vezes o salário-
mínimo, ampliando o acesso à justiça para aqueles que não podem pagar por advogados
privados. Até fevereiro de 2009, o teto de renda para qualificação era de R$1.395,00,
com uma flexibilidade no critério baseada na situação financeira da família, o valor em
disputa e a natureza do caso. Casos de saúde, especialmente, permitem uma maior
elasticidade devido aos altos custos de tratamento.

Distribuídas pela metrópole paulista, as unidades da DP centralizam questões de


saúde numa Unidade Fazenda Pública no centro da cidade, onde, em 2009, cinco
defensores dividiam aleatoriamente os processos, assegurando uma distribuição
equitativa dos casos. Desde sua inauguração até fevereiro de 2009, a DP analisou 340
casos de direito à saúde.

2.1.2 Ministério Público (MP)

O Ministério Público (MP), com a responsabilidade de assegurar a observância dos


direitos constitucionais e proteger interesses coletivos e difusos, desempenha um papel
complementar à Defensoria Pública (DP) no contexto jurídico de São Paulo. Enquanto a
DP se concentra mais em ações judiciais individuais, um entendimento não oficial
encaminha o MP para priorizar ações civis públicas. Especificamente, o MP paulista
abriga o Gaesp, criado em 1999, que até fevereiro de 2009, tinha proposto 62 ações
civis públicas, focando em questões de saúde. Destas, 32 ações foram selecionadas para
estudo, todas direcionadas contra entidades governamentais, exigindo intervenções na
área da saúde ou medidas sanitárias por parte do Estado.

2.2 Argumento Principal 1

Defensoria Pública: Considerando os casos apresentados pela Defensoria Pública,


destaca-se o tratamento de doenças crônicas como um estigma predominante,
especialmente na esfera da saúde, representando aproximadamente 50% das
solicitações. É também relevante notar as taxas de êxito dos pedidos de litígios,
alcançando cerca de 80%, uma proporção significativamente alta quando comparada à
taxa do Ministério Público.

Ministério Público: De maneira semelhante, ao abordar os casos analisados pelo


Grupo de Atuação Especial de Saúde Pública (GAESP), cerca de 69% apresentam
problemas estruturais no âmbito da saúde pública. Em uma minoria desses casos, os
pedidos foram atendidos, geralmente caracterizados como "isolados". Observa-se uma
relação adversa entre as decisões favoráveis à Defensoria Pública e ao Ministério
Público, com este último recebendo uma menor proporção de afirmações por parte do
sistema judiciário. Isso se deve, em grande parte, à natureza coletiva dos problemas
abordados pelo Ministério Público, que visam à melhoria de questões estruturais
relacionadas às políticas de saúde pública. Em contrapartida, os casos representados
pela Defensoria Pública tendem a ser predominantemente de natureza individual.

Nesse contexto, percebe-se uma aversão do sistema judiciário a alterações que


possam impactar negativamente a economia, uma vez que tais mudanças podem afetar o
sistema como um todo. Isso é exemplificado por duas decisões do Supremo Tribunal
Eleitoral (STE) relacionadas à saúde, nas quais o STE rejeitou demandas coletivas,
alegando o potencial impacto na economia. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal
(STF) estabeleceu que um pedido só deve ser concedido se houver uma necessidade
individual claramente demonstrada.

Perfil dos Litigantes Representados pela Defensoria Pública: É importante notar que
a pobreza não pode ser completamente quantificada, sendo necessária a análise de
diversos fatores além do simples indicador de renda per capita, que muitas vezes não
reflete com precisão a linha de pobreza e as condições de extrema carência. A
Defensoria Pública considera outros indicadores socioeconômicos, como a renda
familiar e a localização geográfica, para avaliar a situação dos indivíduos que buscam
seus serviços, especialmente em áreas específicas da cidade de São Paulo.

2.2.1 Sub-argumento

Embora a análise financeira seja relevante para medir a pobreza, em alguns casos ela
pode ser inadequada. Portanto, outros métodos, como o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e o Índice Nacional de Saúde (INS), são utilizados para complementar
essa avaliação. O IDH é uma medida do desenvolvimento humano que inclui o Produto
Interno Bruto (PIB) per capita, a expectativa de vida e a educação. Analisando esses
dados, observa-se que 60% da população de São Paulo vive em áreas com baixo IDH.
No entanto, é irônico que os litigantes que residem em bairros de classe média tenham
uma representação proporcionalmente maior na Defensoria Pública, uma vez que,
apesar de apresentarem uma menor fatia da sociedade, eles tendem a ter maior
conhecimento e aproveitam os benefícios disponíveis. O INS, por sua vez, é utilizado
para identificar as áreas de São Paulo com maior necessidade de acesso à saúde, com
base em dados demográficos, epidemiológicos e condições sociais de cada bairro.
Surpreendentemente, apenas 42% dos representados pela Defensoria Pública são de
áreas consideradas precárias, enquanto 58% são de áreas de classe média/baixa.

Essa distribuição geográfica contraditória destaca uma lacuna nos litígios


relacionados ao direito à saúde patrocinados pela Defensoria Pública. Embora os
indivíduos abaixo da linha de pobreza representem 80% dos litigantes, uma análise
geográfica revela que muitos estão localizados em áreas mais privilegiadas, diminuindo
o acesso aos serviços por parte dos mais necessitados

2.3 Argumento Principal 2

O texto analisa as ações civis públicas interpostas pelo Ministério Público (MP),
destacando que elas diferem das ações da Defensoria Pública por focarem em mudanças
estruturais em políticas públicas de saúde, impactando assim um grande número de
pessoas, ao invés de beneficiar indivíduos específicos. Estas ações são complexas,
especialmente ao considerar seu impacto nos mais pobres, pois envolvem políticas
públicas de grande escala. Um exemplo notável é a ação civil pública que demandou
transporte gratuito para mulheres grávidas de baixa renda, um dos raros casos
claramente voltados para beneficiar os pobres. No entanto, essas políticas nem sempre
são executadas com eficiência e podem não alcançar todos os beneficiários potenciais.

Focando em 22 casos nos quais o MP buscou melhorar unidades de saúde, o texto


revela uma análise baseada na localização geográfica e indicadores sociais das unidades.
Foi observado que as ações do MP tendem a concentrar-se em bairros com um Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevado, embora estes representem uma menor
parcela da população. Além disso, bairros com altos índices de necessidade em saúde
são menos atendidos, sugerindo uma desigualdade no acesso à justiça. Este fenômeno
pode ser parcialmente explicado pela distribuição desigual dos serviços de saúde na
cidade.

2.3.1 Sub-argumento

Outro ponto abordado é a tendência das ações do MP em focar em hospitais e


unidades de saúde de maior complexidade, ao invés de unidades básicas. Isso reflete um
desequilíbrio, considerando que a maior parte das unidades de saúde de São Paulo são
de atendimento básico. Essas constatações levam à conclusão de que as ações civis
públicas do MP apresentam um viés em direção a bairros com maior IDH e a
tratamentos de saúde de complexidade mais elevada. Isso sugere desigualdades na
atenção à saúde e no acesso à justiça na cidade de São Paulo.

2.4 Apontamentos finais

Com uma interpretação não neutra, ou seja, que visa favorecer os mais pobres, o
litígio deve ser estendido para incluir os mais desfavorecidos no que diz respeito às
necessidades em saúde. Desse modo, deve-se melhorar o acesso à Justiça, pois
atualmente esse litígio em São Paulo é restrito a um grupo de membros da classe média
ou alta, representados por advogados particulares. Ademais, é necessário deslocar o
foco desse litígio de tratamentos novos e caros para ações e serviços de saúde
considerados prioritários para grupos menos favorecidos, principalmente unidades e
tratamentos do sistema básico de saúde.

Outro ponto importante é o de que os indicadores de renda são coletados por


meio de autodeclaração e esses dados de renda coletados divergem quando se utiliza o
Índice de desenvolvimento humano e o Índice de Necessidade em Saúde. Destarte, a
renda familiar é um indicador que deveria ser levado em consideração com cautela,
pois os cidadãos podem ter subestimado sua renda familiar e declarado uma renda
inferior à linha da pobreza estabelecida pela Defensoria Pública para receber assistência
jurídica gratuita, logo, pesquisas sobre a confiabilidade de dados autodeclarados de
renda familiar indicam que essa informação tende a ser sistematicamente inferior à
renda de fato. Além disso, a Defensoria Pública é mais acessível aos indivíduos que,
embora sejam economicamente pobres, vivem em áreas melhores, devido ao fato de
essas pessoas viverem em regiões mais ricas parece indicar que elas possuem melhor
acesso à informação sobre seus direitos e sobre as instituições que oferecem assistência
jurídica gratuita.

Com isso, a maioria dos casos representados pela Defensoria Pública trata de
ações individuais, porém, casos individuais raramente promoverão mudanças
estruturais em políticas de saúde que podem beneficiar uma parcela mais ampla da
população pobre. Assim, a taxa de êxito das ações civis públicas patrocinadas pelo
Ministério Público em tribunais superiores é menor do que em casos individuais, o que
indica que os tribunais estão mais propensos a lidar com a resolução desses casos do
que com problemas estruturais.

3 Conclusão

Os dados anteriormente apresentados indicam que mesmo o litígio promovido


por advogados públicos enfrenta desafios consideráveis para atender os mais
necessitados, por conta que prover representação jurídica gratuita não garante por si
só que os mais pobres poderão levar suas reivindicações ao Poder Judiciário. Logo,
há um caminho longo e complexo a ser percorrido entre sofrer um dano e recorrer ao
litígio, portanto, esse caminho é inacessível para uma grande parcela da população.
Tendo em vista que um dos principais problemas no sistema brasileiro de
saúde é a desigualdade no acesso à saúde básica e preventiva, muitas pessoas
pobres sequer possuem consciência de seus problemas de saúde, principalmente em
casos de doenças crônicas, ou talvez tomem conhecimento apenas quando é muito
tarde. Nesse viés, apenas os mais escolarizados e informados saberão que receber
tratamento do serviço público de saúde configura um direito constitucional. Por fim,
apenas um número pequeno de pessoas saberá que há instituições públicas que
oferecem assistência jurídica gratuita. Isto posto, conclui-se que ainda precisa
melhorar muito no que diz respeito ao acesso à Justiça no Brasil.

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