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CARTÃO DE ACOLHIDA - TEXTO PARA ESTUDO


FORMAÇÃO DE DIRETORES ESCOLARES MUNICIPAIS DE 12 AO 52 ANO - 2024
MÓDULO li: A GESTÃO ESCOLAR E OS ELEMENTOS QUE TRADUZEM O NíVEL DE APRENDIZAGEM DOS
ALUNOS

Os pais na escola: participar ou decidir?


Há algum tempo ouvi de professores, em seminário, comentários acerca da
interferência dos pais nas escolas: "Por vezes não temos nenhum poder de decisão, os pais têm
toda a preferência!" "Muitos pais que criticam os professoresnão sabem nem mesmo educar
seus filhos!" "Não temos apoio da direção quando eles reclamam do que se faz."
Na mesma semana, li uma matéria em revista para professorestrazendo a opinião de
alguns especialistas sobre isso. Defendia a matéria que, "quanto mais os pais se envolverem
.com a escola) e cobrarem isso (qualidade), maior a possibilidadede garantiremum estudo de
qualidade para suas crianças".
Faço aqui um contraponto a esse argumento presente em matérias jornalísticas,
programas e novelas da televisão brasileira, que encontra eco em muitas camadas sociais da
população brasileira: a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou de sua
"cobrança", mas da atuação competente dos profissionais que ali somada à adequada
infraestrutura das instituições quaisquer reformulaçõespedagógicasdevem ser decisões de
profissionais de educação embasadas em fundamentos teóricos consistentes.
Nesse sentido, resgatar a credibilidade da sociedade quanto à competência dos
professores é uma das condições necessárias para qualquer avanço. Como escreve Pedro
Demo (2009), o professor é o profissional da aprendizagem, peça absolutamente chave de uma
sociedade intensiva do conhecimento,figura crucial dos processosformativos que implicam
formação do caráter, da personalidade das pessoas. Ninguém se torna profissional sem passar
por muitos professores. Professores de Educação Infantil e dos anos iniciais, por exemple,
participam ativamente da vida das crianças. Em muitos casos passam mais tempo com elas do
que seus pais oferecendo-lhes,para além da aprendizagem,a segurançae o afeto que muitas
não encontram em casa.
Para tornar-se "bom professor", por outro lado, é necessário estudar muito, realizar
estágios em escolas, especializar-se, participar de seminários e de atualização. Inúmeros
profissionais frequentam cursos universitários (especialização, mestrado, doutorado) ao longo
de sua carreira profissional apesar do esforço que isso representa,do pouco tempo disponível
e da falta de apoio das instituições públicas e privadas às quais pertencem.
É direito e dever dos pais "acompanharem"a escolarizaçãodos filhos? As famílias
qualidade? Respostaafirmativa para as duas perguntas.
brasileiras têm direito a uma escola de
pais em "profissionais da educação" ou lhes dá a
O que não transforma os
decidir sobre ações pedagógicas. Muito menos a sua
formação/competência necessária para
eco se o corpo docente não for qualificado.
"cobrança" encontrará algum

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Lyceum
Faço, entretanto, a esse respeito, um segundo contraponto, questionando se algumas
atitudes dos educadores não estariam dando origem a tamanho "controle ou cobrança dos
pais.

Imaginemos, pois, esta situação: uma criança doente, hospitalizada, aos cuidados de
uma equipe de profissionais da saúde; um diagnóstico a fazer; um tratamento ou cirurgia a
decidir. Como procedem esses profissionais em relação aos pais do paciente?

Primeira hipótese: reúnem-se, estudam, debatem o caso e decidem sobre o melhor


tratamento. Após tomarem tal decisão, conversam com os pais e explicam como irão tratar a
criança usando uma linguagem para leigos. Solicitam, é claro, mais atenção e cuidados ao seu
filho definindo com clareza o papel dos médicos e da família nesse sentido.

Segunda hipótese: reúnem-se, debatem o caso concluindo que é muito difícil de


resolver. Alguns profissionais da equipe mostram-se bastante desanimados, outros inseguros,
há ainda aqueles que culpam a família pelo problema diagnosticado. Então, a equipe chama os
pais para conversar e aponta as inúmeras "dificuldades".Apresenta-lhes algumas "linhas de
ação" (em linguagem técnica), e pede sua opinião a respeito, acatando decisões, mesmo que
os pais não entendam do assunto ou que eles, médicos, não considerem adequado o
tratamento a seguir.
Sugiro que os leitores transponham essas situações para o dia a dia das escolas
brasileiras, pensando em situações similares a essas que ocorrem com frequência. Como
poderão reagir os pais diante da insegurança e desânimo de muitos? Em que medida alguns
professores responsabilizam os próprios pais pela melhoria dos estudantes em alfabetização,
na aprendizagem da matemática ou em outras áreas - tarefa que não compete aos pais?
Poderão as famílias sentir confiança na escola que assim se comporta?
Quem revela autoria e competência no exercício de sua profissão alcança credibilidade
da sociedade e poder de decisão no que lhe compete. Quem demonstra insegurança, ao
contrário, está sujeito a que outros interfiram em suas decisões.
Participar da escolarização dos filhos não é decidir os rumos da escola, assim como
professores não devem delegar aos pais a função pedagógica. Pais e professores devem
redefinir o papel que de fato lhes cabe na luta por uma educação de qualidade para milhares
de crianças e jovens deste país.

Referência
Hoffmann, Jussara. Avaliar: primeiro, educar depois. 5 ed. - Porto Alegre: Mediação, 2019. 184p.

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