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Procuração forense

Atualizado em 2024/01/18

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mandato > Procuração forense

1) Definição:
Na linguagem jurídica corrente a expressão “procuração forense”
designa:

a) quer o ato jurídico, concretamente o negócio jurídico unilateral,


pelo qual alguém (cliente) atribui a um Advogado, voluntariamente,
poderes de representação, com a intenção de que este, na execução
de um contrato de mandato forense em sentido amplo celebrado entre
ambos, pratique um ou mais atos jurídicos em nome (e por conta)
daquele (cliente);

b) quer o documento escrito (em suporte de papel ou em suporte


eletrónico ou digital) onde esses poderes de representação tenham
sido atribuídos [1].

Índice
 1) Definição:
 2) Exemplos – minutas:
o 2.1) Procuração forense passada por pessoa singular
o 2.2) Procuração forense passada por sociedade comercial
 3) Elementos ou estrutura da procuração:
 4) Procuração forense vs mandato forense:
 5) Procuração forense = “procuração” + “forense”:
 6) Obrigatoriedade de observância de forma especial, nomeadamente, escrita?
 7) Importância prática:

2) Exemplos – minutas:
2.1) Procuração forense passada por pessoa singular

António Alexandre Almeida Amaral, casado, empresário, titular do Cartão de Cidadão n.º
12345678 1ZZ1, válido até 2028/01/01, natural de Leiria, residente na Rua Dona Teresa
de Jesus Pereira, N.º 4, 1.º direito, 2560-000, Torres Vedras, freguesia de Santa Maria,
São Pedro e Matacães, concelho de Torres Vedras, constituiu seu bastante representante
e procurador, o Exmo. Senhor Dr. Flávio Mouta Mendes, portador da Cédula Profissional
n.º 58620L, Advogado na Pereira Mouta Mendes & Associados, Sociedade de Advogados,
SP, RL, com escritório sito na Rua Dr. Bastos Gonçalves, N.º 5 B, 1600-898 Lisboa, a
quem confere, com os de substabelecer, os mais amplos poderes forenses em Direito
permitidos e ainda os poderes especiais para confessar qualquer ação, transigir sobre o
seu objeto, desistir do pedido ou da instância, receber custas de parte, ou precatório
cheque, apresentar queixas-crime, deduzindo ou não pedidos de indemnização cível.

Lisboa, 16 de junho de 2021,

Assinatura conforme cartão de cidadão.

2.2) Procuração forense passada por sociedade comercial

Almeida & Bernardes – pinturas, Lda., sociedade por quotas, com sede na Rua Dona
Teresa de Jesus Pereira, N.º 2, R/C, 2560-000, Torres Vedras, freguesia de Santa Maria,
São Pedro e Matacães, concelho de Torres Vedras, matriculada na Conservatória do
Registo Comercial de Lisboa, com o número de matrícula e de identificação de pessoa
coletiva 512 345 678, com o capital social de 5000,00€ (cinco mil euros), representada
neste ato pelos seus gerentes, o Senhor António Almeida e o Senhor Bento Bernardes,
com poderes para o ato, constituiu seu representante e procurador, o Exmo. Senhor Dr.
Flávio Mouta Mendes, portador da Cédula Profissional n.º 58620L, Advogado na Pereira
Mouta Mendes & Associados, Sociedade de Advogados, SP, RL, com escritório sito na
Rua Dr. Bastos Gonçalves, N.º 5 B, 1600-898 Lisboa, a quem confere, com os de
substabelecer, os mais amplos poderes forenses em Direito permitidos e ainda os poderes
especiais para confessar qualquer ação, transigir sobre o seu objeto, desistir do pedido ou
da instância, receber custas de parte, ou precatório cheque, apresentar queixas crime,
deduzindo ou não pedidos de indemnização cível, nos termos e condições que tiver por
convenientes.

Carimbo da sociedade comercial (empresa)

Assinatura dos gerentes ou administradores conforme cartão de cidadão.


3) Elementos ou estrutura da procuração:
3.1) Passadas por pessoas singulares:

– nome completo,
– estado civil,
– naturalidade e
– residência habitual dos outorgantes (cfr. art. 46.º, n.º 1 al. c) do
Código do Notariado [2] aplicável às procurações forenses por
analogia);
– é costume colocar-se também a profissão;
– se o outorgante for casado, é frequente indicar-se também o regime
de bens do casamento (comunhão de adquiridos, separação de bens
ou comunhão geral).
– deve indicar-se ainda o número de cartão de cidadão com menção
da data de validade [3].

O Advogado (mandatário e beneficiário da procuração) deve comprovar,


em especial, a identidade do outorgante, através dos elementos do
cartão de cidadão: fotografia, nome, etc… (cfr. art. 90.º, n.º 2 al. c) do
Estatuto da Ordem dos Advogados [EOA] [4]).

3.2) Passadas por sociedades comerciais, através dos respetivos


representantes (representação orgânica):

– A firma (ou denominação – nome da sociedade),


– o tipo societário (sociedade por quotas, sociedade unipessoal por
quotas, sociedade anónima (SA), etc…),
– a sede (ou morada da “sede”),
– a conservatória do registo onde se encontrem matriculadas,
– o seu número de matrícula,
– o seu número de identificação de pessoa coletiva (ou NIF) e,
– sendo caso disso, a menção de que a sociedade se encontra em
liquidação;

– as sociedades por quotas, as sociedades unipessoais por quotas,


as sociedades anónimas (SA) e as sociedades em comandita por
ações devem ainda indicar:
i) o capital social,
ii) o montante do capital realizado, se for diverso da cifra do
capital social (isto é, se houver capital subscrito e não realizado), e o
iii) montante do capital próprio segundo o último balanço
aprovado, sempre que este for igual ou inferior a metade da cifra do
capital social (cfr. art. 171.º, n.ºs 1 e 2 do Código das Sociedades
Comerciais [5]).
– a identificação dos respetivos gerentes ou administradores (que são
as pessoas singulares que representam a sociedade – representação
orgânica), através da indicação do seu nome completo, estado civil,
naturalidade e residência habitual (art. 46.º, n.º 1 al. c) do Código do
Notariado, aplicável por analogia [6]).

3.3) O Advogado deve verificar a identidade e os poderes dos


gerentes ou administradores das sociedades comerciais:

No caso das sociedades comerciais e das pessoas coletivas em geral


o Advogado deve verificar:

i) a identidade dos representantes do cliente (representação orgânica


– por exemplo, os representantes de uma sociedade por quotas são os
respetivos gerentes; os representantes de uma sociedade anónima
(SA) são os respetivos administradores);

ii) assim como os poderes de representação conferidos a estes.

Consultar a certidão permanente de registo comercial:

Assim, para cumprir este dever, o Advogado pode ter que pedir uma
certidão permanente de registo comercial ou, em alternativa, o número
com o código de acesso à certidão, de modo a poder apurar se as
pessoas singulares que passam a procuração têm os poderes
necessários para vincular a sociedade [7] (cfr. art. 90.º, n.º 2 al. c) do
EOA [8]).

Por exemplo, se uma determinada sociedade por quotas se vincula com


a assinatura de dois gerentes, quaisquer que eles sejam, o Advogado
deve verificar se as pessoas singulares que vão outorgar a procuração
estão inscritas na certidão permanente de registo comercial como
gerentes daquela sociedade [9].

3.4) Identificação do Advogado:

O Advogado a quem são passados poderes deve surgir claramente


identificado na procuração forense, através da indicação dos
respetivos:
– nome profissional,
– número de cédula e
– domicílio profissional (cfr. neste sentido, art. 224.º alínea i) do
EOA [10]).

3.5) Poderes forenses gerais e poderes forenses especiais:


A procuração forense:
– confere sempre, em qualquer caso, poderes forenses gerais; e
– eventualmente, também pode conferir poderes forenses especiais.

São poderes forenses especiais os poderes para:


a) confessar a ação judicial;
b) transigir sobre o seu objeto (isto é, para celebrar um contrato de
transação civil, judicial ou extrajudicial, para a composição de um
litígio já efetivo ou meramente potencial) e/ou para
c) desistir, do pedido ou da instância.

4) Procuração forense vs mandato forense:


Em geral:

Em teoria, a procuração e o mandato são conceitos e negócios


jurídicos distintos. Na prática, porém, subjacente à procuração está
normalmente um mandato [11]. Ver: procuração vs. mandato: separação ou
unidade?

Ao contrário do contrato de mandato civil, que pode ser com outorga


de poderes de representação ou sem outorga de poderes de
representação, o contrato de mandato forense é sempre, em qualquer
caso, um contrato de mandato com outorga de poderes de representação.

Em regra, dá-se forma escrita (formaliza-se) apenas à procuração [12],


concretamente, através de documento escrito e assinado pelo
mandante-outorgante da procuração (cliente), em formato de papel ou
em formato digital ou eletrónico (por exemplo, em PDF ou JPEG).

Forma escrita voluntária:

Com efeito, mesmo nos casos em que a Lei não exige a observância
de forma especial para a procuração, é frequente que a procuração
forense, enquanto documento escrito e assinado pelo representado,
constitua, de certo modo, a própria forma escrita voluntária do contrato
de mandato forense (art. 222.º do Código Civil [doravante CC] [13]).

Ou seja, nestes casos, a procuração forense opera verdadeiramente


como o título [14] do contrato de mandato forense.
Sobre a obrigatoriedade ou não de a procuração forense observar forma especial,
sobretudo escrita, ver em baixo ponto 6.

5) Procuração forense = “procuração” + “forense”:


Procuração (em geral): é o ato pelo qual alguém atribui a outrem,
voluntariamente, poderes representativos (art. 262.º, n.º 1 do CC).
Ver: procuração.

Forense: a palavra forense deriva de “foro”, que, por sua vez, se for
empregue em contexto jurídico, significa Tribunal.

6) Obrigatoriedade de observância de forma especial,


nomeadamente, escrita?
6.1) Forma escrita (papel, digital ou eletrónica); assinatura
eletrónica:

Assinale-se, desde logo, que a forma escrita inclui:


– não só aquela que está em suporte de papel (documento escrito);
– como também a que está em suporte digital ou eletrónico (por
exemplo, em PDF ou JPEG).

Por outro lado, a assinatura do mandante-representado (cliente) que


outorga a procuração também pode ser uma assinatura eletrónica
(através de certificado digital).

6.2) Regras para a procuração em geral:

Enquanto ato jurídico pelo qual alguém atribui a outrem,


voluntariamente, poderes representativos, a procuração revestirá a
forma exigida para o negócio que o procurador deva realizar, salvo
disposição legal em contrário (262.º, n.º 2 do CC).
Artigo 116.º do Código do Notariado
Procurações e substabelecimentos

1 – As procurações que exijam intervenção notarial (escritura pública, termo de


autenticação [documento particular autenticado] ou reconhecimento presencial de
assinaturas, especialmente por força do 262.º, n.º 2 do CC supra referido) podem ser
lavradas por instrumento público, por documento escrito e assinado pelo representado
com reconhecimento presencial da letra e assinatura ou por documento autenticado.
2 – As procurações conferidas também no interesse de procurador ou de terceiro (são as
chamadas procurações irrevogáveis cfr. art. 265.º, n.º 3 do CC) devem ser lavradas por
instrumento público cujo original é arquivado no cartório notarial.
3 – Os substabelecimentos revestem a forma exigida para as procurações.

6.3) Regras especiais sobre a forma da procuração forense:

6.3.1) Decreto-Lei n.º 267/92, de 28 de novembro (sem alterações) –


Artigo único:
Artigo único

“1 – As procurações passadas a advogado para a prática de actos que envolvam o


exercício do patrocínio judiciário, ainda que com poderes especiais, não carecem de
intervenção notarial, devendo o mandatário certificar-se da existência, por parte do ou
dos mandantes, dos necessários poderes para o acto.
2 – As procurações com poderes especiais devem especificar o tipo de actos, qualquer
que seja a sua natureza, para os quais são conferidos esses poderes.”

6.3.2) Decreto-Lei n.º 342/91, de 14 de setembro (sem alterações) –


aprova a abolição do reconhecimento notarial da assinatura
de Advogado no ato de substabelecimento.

6.3.3) Decreto-Lei n.º 168/95, artigo único – é aplicável aos


solicitadores o disposto no artigo único do Decreto-Lei n.º 267/92, de
28 de novembro.

6.4) Procuração forense para o mandato judicial (para intervir


em Tribunal):

43.º do Código de Processo Civil:

Enquanto ato jurídico pelo qual alguém (cliente) atribui a um Advogado,


voluntariamente, poderes de representação, para o exercício de
um mandato judicial, a procuração forense terá que revestir a forma:
a) de instrumento público (escritura pública) ou de documento
particular (documento escrito e assinado pelo mandante-cliente), nos
termos do Código do Notariado (cfr. art. 43.º, n.º 1 al. c) do Código do
Notariado) e da legislação especial;
b) de declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se
pratique no processo.

(art. 43.º do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente


também ao processo penal, ao processo de trabalho e ao processo
tributário).

Procuração – documento particular:

Ora, o documento particular pelo qual se confere o mandato judicial é


precisamente a procuração forense, enquanto documento escrito e
assinado pelo mandante-cliente.

Com efeito, na vida prática, a procuração forense para o mandato


judicial (e para o mandato forense que não seja mandato judicial) é
passada, via de regra, através de documento particular, isto é, de
documento escrito, assinado pelo outorgante, em formato de papel ou
em formato digital.
Nesse caso, haverá coincidência entre (confundem-se):
– a procuração enquanto ato jurídico que confere poderes de
representação; e
– a procuração enquanto documento escrito e assinado onde esses
poderes de representação tenham sido atribuídos.

Desnecessidade de formalidades:

A procuração forense para mandato judicial que conste de documento


particular não carece de formalidades. Assim, nomeadamente não
carece:
– nem de reconhecimento presencial de assinaturas;
– nem de termo de autenticação (resulta do disposto no art. único do
já citado Decreto-Lei n.º 267/92, de 28 de novembro – ver em
cima ponto 6.3.1).

6.5) Procuração forense para um mandato forense (em


sentido amplo) que não seja um mandato judicial (por ex.
mandato para negociar a celebração de um contrato):

Não está sujeita nem a forma escrita, nem a formalidades:

Enquanto ato jurídico pelo qual alguém atribui a um Advogado,


voluntariamente, poderes representativos para o exercício de
um mandato forense em sentido amplo que não seja um mandato
judicial (destinado por exemplo, à negociação da celebração ou
modificação de contratos, à assessoria na realização de operações de
reestruturação societária, a operações de aumento de capital
social de sociedades comerciais, etc…), a procuração forense não está,
em princípio, sujeita a forma especial:
– nem a forma escrita,
– nem a formalidades (como o reconhecimento presencial de
assinaturas ou o termo de autenticação).

Forma escrita voluntária:

Contudo, é muito frequente na praxis da Advocacia, mesmo naquela


que não seja “Advocacia de barra”, especialmente na chamada
“Advocacia de negócios”, o cliente passar sempre uma procuração por
escrito ao Advogado, com a designação “procuração forense” ou,
simplesmente, “procuração”.

Pelo que, também neste caso, a procuração enquanto ato jurídico que
confere poderes de representação ao Advogado, confunde-se com o
documento escrito (em papel ou em formato digital) onde esses
poderes foram conferidos. Constituirá, porém, nesse caso, uma
hipótese de forma escrita voluntária (art. 222.º do CC).

7) Importância prática:
As procurações forenses são, claramente, as procurações com maior
importância na vida prática, incluindo na vida empresarial
(praxis comercial).

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Notas de Rodapé
Notas de Rodapé
Pedro de Albuquerque, Código Civil Comentado I – Parte Geral, coord. de A. Menezes Cordeir
[1]
Direito Civil V, 3ª edição, Almedina, Coimbra, 2018, pág. 128. ↑
[2] 6↑ Consultar o Código do Notariado no link: https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.p
[3] 7↑ 9↑ Edgar Valles, Prática Processual Civil, 12 ª edição, Almedina, Coimbra, 2020, págs. 34 a 37. ↑
[4] 8↑ 10↑ Consultar o Estatuto da Ordem dos Advogados no link: https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostr
[5] Consultar o Código das Sociedades Comerciais no link: https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostr
[11] 12↑ A. Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil XII, Almedina, Coimbra, 2018, pág. 696. ↑
[13] Consultar o Código Civil no link: https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=
[14] Luís da Cunha Gonçalves, Tratado de Direito Civil, 12 (1933), pág. 388 apud A. Menezes Cord

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