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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

A RELAÇÃO ENTRE VOTOS E MANDATOS NO


SISTEMA ELEITORAL ANGOLANO: Uma Análise a
Partir do Resultado Eleitoral de 2022.

Por: João Domingos António

Orientador: Me. Manuel da Silva Palanca

Trabalho apresentado para obtenção do grau de Licenciatura em Ciência


Política.

Luanda, 2023
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

A RELAÇÃO ENTRE VOTOS E MANDATOS NO


SISTEMA ELEITORAL ANGOLANO: Uma Análise a
Partir do Resultado Eleitoral de 2022.

JOÃO DOMINGOS ANTÓNIO

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade de


Ciências Sociais da UAN como requisito para obtenção
do grau de Licenciatura em Ciência Política, orientado
pelo Me. Manuel da Silva Palanca.

Luanda, 2023
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, José António, em memória, e


Teresa Domingos João.

III
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, pretendo deixar os meus agradecimentos ao supremo criador, Deus,


pela conservação e suporte na minha caminhada!

Aos meus pais, José António e Teresa Domingos João, não tenho palavra para
descrever a imensa gratidão que sinto. Obrigado pelo carinho, incentivo e apoio
incondicional!

Ao meu irmão Eduardo António, por ter investido e depositado confiança em mim e
aos meus estudos!

Aos meus irmãos António João, Roberto Antonio, Mateus António, Agostinho
António, Júlia Antonio, Domingas Antonio, Isabel António por terem me apoiado
sempre, bem como, ao casal António Agostinho e Juliana André pela hospitalidade!

Ao Orlando Quintas, a quem devo muita estima e gratidão, por ter estado sempre
disponível em responder os meus gritos de socorro!

Ao meu grande amigo e irmão Hamilton Gouveia pela amizade, partilhas de


constantes visões e debates que contribuiram para que o trabalho ganhasse forma!

À minha família pelo apoio incondicional e compreensão constante na hora da


elaboração deste trabalho, em especial a minha amada esposa Jéssica Rodrigues e a
nossa princesinha Jaziela António a quem a amamos muito!

Aos meus colegas, que durante este período de formação vivemos como uma família,
e que esta irmandade permaneça para muitos e longos anos!

Ao querido orientador, Me. Manuel da Silva Palanca por ter aplicado o seu saber, sua
experiência e paciência dedicada na forma como o trabalho foi conduzido até se
tornar uma realidade!

À Direcção da FCS-UAN e ao colectivo de docentes, pela paciencia com quem


souberam transmitir os seus conhecimentos durante o período de formação!

E de modo geral, a todos que me acompanharam directa ou indirectamente nessa


conquista, aqui fica marcado o meu testemunho de agradecimento.

Muito Obrigado!

IV
RESUMO

O Trabalho fez uma abordagem da relação entre votos e mandatos no sistema


eleitoral angolano: uma análise a partir do resultado eleitoral de 2022, ou seja,
analisou os efeitos do sistema eleitoral angolano sobre a representatividade e do grau
em que a percentagem de votos corresponde à percentagem de mandatos nas eleições
de 2022, procurou conceituar sistemas eleitorais e caracterizar os aspectos mais
influentes na proporcionalidade da relação entre votos e mandatos, como: as
fórmulas eleitorais, a magnitude dos círculos eleitorais e a cláusula de barreira. O
trabalho teve como objectivo geral: Analisar os factores influentes na relação entre
votos e mandatos no Sistema Eleitoral Angolano. Teve como hipóteses: A relação
entre votos e mandatos cria desequilíbrio na representação política e que o Sistema
Eleitoral Angolano é tendencialmente influenciado por fórmula eleitoral e magnitude
dos círculos eleitorais. O trabalho justificou-se pelo facto de que são poucos
estudiosos nacionais que falam sobre este assunto que para nós é muito importante
que se clarifique e pelo facto de trazer um debate pertinente sobre a
proporcionalidade e representação das minorias em Angola. O trabalho utilizou o
método quantitativo e qualitativo que permite ao investigador fazer afirmações de
percepções com base em experiências individuais, sociais, políticas, históricas e
estatísticas. A técnica de investigação foi a revisão bibliográfica que se constitui no
amplo levantamento das fontes teóricas na análise de obras e documentos.

Palavras-chave: Angola, Sistema eleitoral, Mandatos, Proporcionalidade, Fórmulas


eleitorais.

V
ABSTRACT

The Work made an approach to the relationship between votes and mandates in
the Angolan electoral system: an analysis from the electoral result of 2022, that is, it
analyzed the effects of the Angolan electoral system on representativeness and the
degree to which the percentage of votes corresponds to the percentage of mandates in
the 2022 elections, sought to conceptualize electoral systems and characterize the
most influential aspects in the proportionality of the relationship between votes and
mandates, Like: the electoral formulas, the magnitude of the constituencies and the
barrier clause. The work had as general objective: To analyze the influential factors
in the relationship between votes and mandates in the Angolan Electoral System. His
hypotheses were: The relationship between votes and mandates creates imbalance in
political representation and that the Angolan Electoral System is tendentially
influenced by electoral formula and magnitude of constituencies. The work was
justified by the fact that there are few national scholars who talk about this subject
that for us it is very important to clarify and by the fact that it brings a pertinent
debate on the proportionality and representation of minorities in Angola. The work
used the quantitative and qualitative method that allows the researcher to make
statements of perceptions based on individual, social, political, historical and
statistical experiences. The research technique was the bibliographic review that is
constituted in the broad survey of the theoretical sources in the analysis of works and
documents.

Keywords: Angola, Electoral system, Mandates, proportionality, electoral formulas,

VI
ÍNDICE

DEDICATÓRIA .................................................................................................... III


AGRADECIMENTOS ........................................................................................... IV
RESUMO ................................................................................................................ V
ABSTRACT ........................................................................................................... VI
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................. IX
LISTA DE QUADROS E TABELAS ...................................................................... X
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
Justificativas ....................................................................................................... 11
Problematização.................................................................................................. 12
Hipóteses ............................................................................................................ 12
Objectivos do estudo ........................................................................................... 12
Objectivo geral: .................................................................................................. 12
Objectivos específicos: ....................................................................................... 12
Metodologia........................................................................................................ 13
Delimitação e limitações da pesquisa .................................................................. 14
Estrutura do trabalho ........................................................................................... 14
CAPÍTULO I - SISTEMA ELEITORAL UMA ABORDAGEM CONCEPTUAL .. 16
1.1. Definição e caracterização ........................................................................... 16
1.1.1. Sistema maioritário ............................................................................... 17
1.1.2. Sistema proporcional ............................................................................ 18
1.1.3. Sistema misto ....................................................................................... 21
1.2. Magnitude do círculo e desproporcionalidade .............................................. 22
CAPÍTULO II – SISTEMA ELEITORAL ANGOLANO NA CONSTITUIÇÃO DE
2010 ....................................................................................................................... 23
2.1. Eleição do Presidente da República.................................................................. 23
2.1.1. Elegibilidade ao cargo de Presidente da República .................................... 23
2.1.2. Inelegibilidade ao cargo de Presidente da República .................................. 24
2.1.3. As candidaturas a Presidente da República ................................................ 25
2.2. Eleição do Vice-Presidente da República ......................................................... 25
2.3. Eleição dos deputados à Assembleia Nacional ................................................. 26
2.3.1. Inelegibilidade .......................................................................................... 27

VII
2.3.2. Candidatura ............................................................................................... 27
CAPÍTULO III – RELAÇÃO ENTRE VOTOS E MANDATOS NO SISTEMA
ELEITORAL ANGOLANO ................................................................................... 28
3.1. Distribuição dos mandatos no circulo nacional ............................................. 28
3..2 Apuramento provincial ................................................................................. 29
3.3. Cláusula de barreira ..................................................................................... 39
3.4. Análise de proporcionalidade dos resultados das eleições de 2022 ................ 39
CONCLUSÕES ..................................................................................................... 41
SUGESTÕES ......................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 43

VIII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APN – Aliança Patriótica Nacional

CRA – Constituição da República de Angola

CNE – Comissão Nacional Eleitoral

CASA-CE – Convergência Ampla de Salvação de Angola Coligação Eleitoral

FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

PHA – Partido Humanista de Angola

PRS – Partido de Renovação Social

P-NJANGO – Partido Nacionalista para a Justiça em Angola

RP – Sistema de Representação Proporcional

UNITA – União Nacional para Independêcia Total de Angola

IX
LISTA DE QUADROS E TABELAS

Tabela 1: Círculo eleitoral Nacional ....................................................................... 28

Tabela 2: Círculo eleitoral do Bengo ......................................................................29

Tabela 3: Círculo eleitoral de Benguela .................................................................. 30

Tabela 4: Círculo eleitoral do Bié ...........................................................................30

Tabela 5: Círculo eleitoral de Cabinda .................................................................... 31

Tabela 6: Círculo eleitoral do Cuando Cubango ...................................................... 31

Tabela 7: Círculo eleitoral do Cuanza Norte ........................................................... 32

Tabela 8: Círculo eleitoral do Cuanza Sul ............................................................... 32

Tabela 9 Círculo eleitoral do Cunene ......................................................................33

Tabela 10: Círculo eleitoral da Huíla ......................................................................33

Tabela 11: Círculo eleitoral do Huambo .................................................................34

Tabela 12: Círculo eleitoral de Luanda ................................................................... 34

Tabela 13: Círculo eleitoral da Lunda Norte ........................................................... 35

Tabela 14: Círculo eleitoral da Lunda Sul ............................................................... 35

Tabela 15: Círculo eleitoral de Malange .................................................................36

Tabela 16: Círculo eleitoral do Moxico................................................................... 36

Tabela 17: Círculo eleitoral do Namibe .................................................................. 37

Tabela 18: Círculo eleitoral do Uíge ....................................................................... 37

Tabela 19: Círculo eleitoral do Zaire ......................................................................38

Tabela 20: Relação votos e mandatos por % ........................................................... 40

X
INTRODUÇÃO
Os sistemas eleitorais são variáveis pertinentes na democracia moderna ou
representativa, esta democracia tem como base a igualdade de participação política e
igualdade de votos, ou seja, cada cabeça, um voto. Os regimes democráticos tendem
a adoptar sistemas eleitorais formais com o fito de viabilizar a representação política
e a representatividade dos grupos sociais e políticos. Apesar de o sistema eleitoral
angolano ter também essa pretensão, a realidade política muitas vezes desvia-se desta
pretensão.
As eleições de Agosto de 2022, foram das mais competitivas dos últimos anos,
por serem assim, reacendeu o debate sobre a desproporcionalidade do sistema
eleitoral e da relação entre votos e mandatos obtidos. Tendo sido no trabalho
apontado os principais factores como: As fórmulas eleitorais, métodos de conversão
de votos, a magnitude dos círculos eleitorais e a cláusula de barreira que de tempos
em tempos vem “eliminando” os partidos pequenos do sistema partidário angolano.
O trabalho procura, portanto, analisar os factores influentes na relação entre
votos e mandatos no sistema eleitoral angolano. Para concretizarmos a nossa
pesquisa, optamos pela abordagem mista, ou seja, quanti-qualitativa.

Justificativas
É complexo versar sobre Sistema Eleitoral pelo facto dele apresentar várias
especificidades e variáveis que podem ser estudadas. Por outro lado, vemos que estes
factores aparecem também como impulsionador para se falar deste assunto. Pela sua
especificidade e variáveis a serem estudadas, nos centramos em abordar sobre a
relação entre votos e mandatos em um determinado pleito eleitoral, com vista a
conhecer os factores que influenciam nessa relação. O estudo é desafiador, pois são
poucos estudiosos nacionais que falam sobre este assunto que para nós é muito
importnte que se clarifique.
É sabido que os sistemas eleitorais constituem uma instituição política que tem
recebido particular atenção, quer pelos investigadores como também pelos
governantes e sabe-se que raramente um eleitor comum conheça em detalhes as
minúcias técnicas do sistema eleitoral adotado em seu país.
No entanto, a pesquisa que realizamos, será importante para futuros estudos
ligado ao tema; ajudar na formação, principalmente, científica dos estudantes e
11
governantes que queiram aperfeiçoar sobre o sistema eleitoral angolano e constituir
uma fonte importante para intelectuais e indivíduos que tenham algum interesse no
assunto desenvolvido.

Problematização
É importante que um sistema eleitoral assegure a representação de todos os
partidos políticos ou coligação de partidos políticos de acordo aos votos obtidos na
sua lista.
Face o postos, as eleições gerais de 2022 em Angola apresentou um elevado
nível de desproporcionalidade na atribuição de mandatos se comparados com os
números de votos validamente expressos por cada lista de partido político ou
coligação de partidos políticos. Esta desproporção é causada por várias deficiências
ao nível do próprio sistema eleitoral angolano. Por este motivo, formula-se a seguinte
pergunta: Qual é a relação entre votos e mandatos no sistema eleitoral angolano?

Hipóteses
Para dar resposta à pergunta de partida formulou-se as seguintes hipóteses:
H1 – A relação entre votos e mandatos cria desequilíbrio na representação política;
H2 – A relação entre votos e mandatos é tendencialmente influenciado por fórmula
eleitoral e magnitude dos círculos eleitorais.

Objectivos do estudo
Objectivo geral:
Analisar a relação entre votos e mandatos no Sistema Eleitoral Angolano.
Objectivos específicos:
Conceituar o Sistema Eleitoral com maior destaque na perspectiva restrita, com
vista ao entendimento do assunto em estudo;
Descrever o sistema eleitoral angolano, forma de eleição do Presidente da
República, Vice-Presidente da República e Deputados;
Explicar os factores influentes na relação entre votos e mandatos.

12
Metodologia
A concretização dos Objectivos passa pela escolha de um conjunto de métodos,
técnicas e instrumentos adequados e precisos que nos permitem alcançar de forma
objectiva as razões pela qual desenvolvemos este trabalho.
Assim, a pesquisa desenvolve-se metodologicamente na abordagem de
natureza mista, isto é, quanti-qualitativa. A pesquisa quantitativa é assim chamada
porque geralmente resulta em números, estatisticamente analisados e descritos de
forma clara. Esta pesquisa gera uma maior margem de segurança com relação às
inferências feitas, por isso, foi usada para se fazer a mensuração dos dados obtidos.
Assim sendo, procedeu-se a elaboração de tabelas e consequente a análise (Castilho,
Borges, & Pereira, 2014).
A pesquisa qualitativa, por sua vez, é caracterizada pela não utilização de
instrumentos estatísticos na análise de dados. (Castilho, Borges, & Pereira, 2014)
dito de outra forma, a pesquisa qualitativa usa a “subjetividade que não pode ser
traduzida em números” (Souza, Müller, Fracassi, & Romeiro, 2013, p. 15).
Quanto aos objectivos, a pesquisa é exploratória, pois para Zanella (2013) visa
essencialmente ampliar o conhecimento a respeito de um determinado fenômeno. Ou
seja, ela busca proporcionar maior familiaridade com o estudo. No entender de Gil
(2002: 41) estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou
a descoberta de intuições.
Conforme os procedimentos técnicos para a recolha de dados, nossa pesquisa
terá o suporte das tipologias de pesquisas que se valem das chamadas “fontes de
papel” (Festinger e Katz, 1974: 43), a pesquisa bibliográfica e a pesquisa
documental.
A pesquisa bibliográfica é aquela “desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (Kidder, 1987,
25). O que significa que utilizamos um conjunto de obras publicadas como livros,
artigos científicos, publicações periódicas, resultado de leituras de referências, para
dar o suporte metodológico necessário ao trabalho. A vantagem deste modelo de
pesquisa reside no facto de nos permitir a cobertura de uma gama de fenômenos e
factos muito mais ampla do que aquela que poderíamos pesquisar directamente.

13
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A
diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa
bibliográfica, utilizamos fundamentalmente para ter acesso as contribuições dos
diversos autores sobre sistema eleitoral, a pesquisa documental nos proporciona o
acesso de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com o objecto da nossa pesquisa como
documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições privadas, tais
como associações científicas, cartas pessoais, diários, fotografias, gravações,
memorandos, regulamentos, ofícios, boletins ligados a processo eleitoral.
A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens. De acordo com Gil
(2002: 45) “os documentos constituem fonte rica e estável de dados; tornam-se a
mais importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica; além da
capacidade do pesquisador, exige apenas disponibilidade de tempo” Ela tem ainda a
vantagem de o custo da pesquisa torna-se significativamente baixo, quando
comparado com outras pesquisas.

Delimitação e limitações da pesquisa


O trabalho procura estudar exclusivamente a relação entre votos e mandatos no
sistema eleitoral angolano: uma análise a partir do resultado eleitoral de 2022. Como
qualquer pesquisa, existe sempre limitações, as principais limitações prendem-se
com a obtenção de conteúdos atinentes à relação entre votos e mandatos nos sistemas
eleitorais e a escassez de informações que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE)
disponibilizou sobre as eleições gerais de 24 de Agosto de 2022, por exemplo, a
CNE não disponibilizou o número de votos que se obteve em cada município do
País.

Estrutura do trabalho
Depois desta nota introdutória, o trabalho está estruturado em três capítulos: O
primeiro faz um enquadramento do sistema eleitoral, as suas tipologias, a magnitude
dos círculos eleitorais e a desproporcionalidade, bem como, a ligação entre sistema
eleitoral e representação política;
O segundo capítulo caracteriza o sistema eleitoral angolano na constituição de
2010. O modo de eleição do Presidente da República, do Vice-presidente e a eleição
dos deputados à Assembleia Nacional;
14
O terceiro caracteriza a relação entre votos e mandatos, abordando os factores
influentes, faz a distribuição de mandatos nos círculos eleitorais nacionais e
provinciais tendo em conta os resultados das eleições gerais de 2022, as fórmulas
eleitorais, a magnitude dos círculos eleitorais e a cláusula de barreira, bem como, a
análise da desproporcionalidade nos resultados das eleições de 2022. Por fim, temos
as Conclusões, sugestões e as referências bibliográficas.

15
CAPÍTULO I - SISTEMA ELEITORAL UMA
ABORDAGEM CONCEPTUAL

1.1. Definição e caracterização


O Sistema eleitoral adotado num país pode exercer e, via de regra, exerce
considerável influxo sobre a forma de governo, a organização partidária e a estrutura
parlamentar, refletindo até um certo ponto a índole das instituições e a orientação
política do regime. O debate em torno dos sistemas eleitorais está na operação da
conversão de votos ou vontade popular através do sufrágio em mandatos
representativos (MACHADO, COSTA, & HILÁRIO, 2013).
Assim, conforme Nicolau (2004), Martins (2008), Almeida (2015), os estudos
dos sistemas eleitorais impõem, antes de mais, a clarificação da sua dimensão
conceptual. Em termos gerais, os sistemas eleitorais podem ser vistos em sentido
amplo e restrito. No sentido restrito, vários autores reduzem a noção de sistema
eleitoral ao conjunto de regras que através das quais se convertem os votos expressos
por um determinado corpo eleitoral em mandatos de um determinado órgão
representativo.
Farrel (2001, pp.3-4 citado por MARTINS, 2008, p.186) distingue entre
sistemas eleitorais e leis eleitorais, considerando que:

Leis eleitorais são constituídas pela família de regras que


regulam o processo eleitoral, incluindo-se, por exemplo: as
regras relativas à organização das candidaturas, à capacidade
eleitoral activa e passiva, ao período de campanha, ao modo de
funcionamento das assembleias de voto, aos processos de
fiscalização, bem como as regras relativas à organização,
funcionamento e financiamento da campanha eleitoral. Já o
sistema eleitoral corresponde ao conjunto de leis relacionado
directamente com o processo de eleição propriamente dito:
modo de votação, fórmula eleitoral, determinação definitiva
dos eleitos.

16
Martins (2008) apoiado da ideia de Farrel sobre sistema eleitoral reforça que “o
sistema eleitoral destina-se a transformar votos em mandatos”. Do ponto de vista
restrito, os sistemas eleitorais expressam os votos de uma eleição geral em mandatos
parlamentar no caso de eleições legislativas, ou em cargos políticos no caso de
eleições presidenciais (ALMEIDA, 2015).
Ainda na linha das concepções restritas, Miranda apresenta as concepções
formalistas, ou seja, as que enfatizam os aspectos jurídicos e que, deste ponto de
vista, não fogem muito das abordagens acima citadas. Para ele, os sistemas eleitorais
correspondem à forma como a vontade psicológica do corpo eleitoral é expressa e
convertida em vontade jurídica, ou seja, na distribuição de mandatos (1996).
Num sentido amplo, de acordo a Dieter Nohlen, o sistema eleitoral envolve
todos os aspectos relacionados com o processo eleitoral, desde direito ao sufrágio,
administração eleitoral, à contencioso eleitoral ( citado por ALMEIDA, 2015), dito
de outro modo, o sistema eleitoral na sua vertente ampla respeita a todos os
normativos que regulam os processos eleitorais como: a marcação das eleições; o
processo de apresentação de candidaturas; as regras que regulam as campanhas
eleitorais etc.
Vallés e Bosch entendem que do ponto de vista amplo, o sistema eleitoral
reconhece um conjunto de elementos normativos e sociopolíticos que configuram o
processo de designação dos titulares do poder, quando este processo se baseia em
preferências expressas pelos cidadãos de uma determinada comunidade política.
(MARTINS, 2008)
São dois os modelos tradicionais de sistemas eleitorais: o maioritário e o
proporcional. Todos os outros são nem mais nem menos do que modificações e
aperfeiçoamento destes.

1.1.1. Sistema maioritário


O sistema maioritário de representação é o mais antigo. Tecnicamente consiste
na repartição do território eleitoral em tantas circunscrições eleitorais quantos são os
lugares ou mandatos a preencher (BONAVIDES, 2000).
Este sistema parte do princípio segundo o qual a vontade da maioria dos
eleitores é a única a contar na atribuição das cadeiras, ou seja, “o candidato que
obtiver maior número de votos é proclamado eleito” (FERNANDES, 2010). A sua

17
atuação está ligada ao facto de que o eleitorado está mais ou menos repartido em
colégios.
Para Nicolau, “o sistema maioritário tem o propósito de assegurar apenas a
representação dos candidatos mais votados em uma eleição” (2004, p.17). Em geral,
a fórmula maioritária é utilizada em distritos uninominais 1. Aqui, o candidato mais
votado recebe 100% da representação e os outros partidos, independentemente da
votação, ficam sem representação.
No que respeita ao número de candidatos a eleger, o escrutínio maioritário
pode ser: uninominal, quando a nível de circunscrição há um único lugar a
preencher; plurinominal2, quando em cada circunscrição se pede aos eleitores que
designem vários candidatos, que normalmente se agrupam por listas.
Quanto ao número de votações, o sistema oferece duas variantes principais que
são: maioria simples ou relativa e maioria absoluta ou qualificada.
Maioria simples ou relativa, adoptada na Inglaterra, é aquela que a eleição
maioritária se faz mediante escrutínio de uma só volta ou turno, isto é, o candidato
eleito é o que obtiver maior percentagem dos votos, sem que se tenha em
consideração o facto de a maioria dos eleitores não se ter pronunciado a seu favor.
Na modalidade do escrutínio maioritário de duas voltas, são eleitos na primeira
volta ou votação os candidatos que tiverem obtidos a maioria absoluta dos votos3,
quer dizer, mais da metade dos votos expressos. E caso nenhum candidato haja
obtido maioria absoluta, procede-se a uma segunda volta ou votação, onde se elegerá
o concorrente que obtiver maior número de votos expressos. Via de regra, só
disputam a segunda volta os dois concorrentes mais votados na primeira volta.

1.1.2. Sistema proporcional


Igualmente chamado sistema de representação das opiniões, vem sendo
adoptado por vários países desde a primeira metade do século XX. Ela acompanha a
moderna democracia de massas e a ampliação do sufrágio universal.
Bobbio, Matteucci, & Pasquino, entendem que “numa assembleia
representativa, deve criar-se espaço para todas as necessidades, interesses e ideias

1
Círculos eleitorais que elegem apenas um candidato
2
Para preencher mais de um lugar.
3
Mais da metade dos votos
18
que animam um organismo social” (1998). Para tal, o princípio proporcional procura
estabelecer a perfeita igualdade de votos e dar a todos os eleitores o mesmo peso,
prescindindo de preferência manifesta.
A representação proporcional de acordo com Prélot “tem por objecto assegurar
às diversas opiniões, entre as quais se repartem os eleitores, um número de lugares
proporcional às suas respectivas forças”. De tal modo, parafraseando Jeanneau, o
sistema proporcional é aquele que os lugares a preencher são repartidos entre as listas
disputantes proporcionalmente aos números de votos que hajam obtidos (Prélot
citado por Bonavides, 2000).
Para Duverger, o princípio básico da representação proporcional é que este
processo assegura uma representação das minorias em cada circunscrição numa
proporção aproximada dos votos obtidos (Duverger Citado por FERNANDES,
2010).
A fórmula proporcional tem duas preocupações fundamentais: assegurar que a
diversidade de opiniões de uma correspondência entre os votos recebidos pelos
partidos e sua representação. A principal virtude da representação proporcional, de
acordo aos defensores, estaria em sua capacidade de espelhar no Legislativo todas as
preferências e opiniões relevantes existente na sociedade.
No que concerne à distribuição dos assentos parlamentares, isto é, lugares a
preencher, podem ser utilizados vários processos. Normalmente, atribui-se a cada
lista os lugares que lhe cabem, dividindo os sufragios obtidos pelo “quociente
eleitoral”. Mas acontece muitas vezes que algumas listas não obtêm sequer um
número de votos igual ao quociente eleitoral, e os votos obtidos pelas outras não são
exactamente divisíveis por este. É necessário, por isso, proceder-se à repartição de
alguns lugares em função dos restos (FERNANDES, 2010). O problema da
utilização dos restos é o mais difícil de resolver, por isso, para resolver este problema
foram adoptados processos de escrutínio de representação proporcional, tais como:
A represntação proporcional com atribuição dos lugares restantes aos
restos maiores consiste em dividir, numa primeira fase, o número de sufrágios
expressos em cada circunscrição pelo número de lugares a preencher, obtendo-se o
quociente eleitoral4, e de seguida dividindo-se o número de votos obtidos por cada

4
Obtém-se o quociente eleitoral, dividindo o número total dos votos, pelo número total dos
mandatos a preencher.
19
partido pelo respectivo quociente. Esta operação permite atribuir alguns lugares aos
partidos que alcançaram um número de votos igual ou superior ao quociente
eleitoral. Depois, os partidos que tiverem os restos maiores ficarão com os restantes
lugares.
A representação proporcional com repartição dos lugares restantes pela
médias maiores segue, numa primeira fase, um mecanismo idêntico ao anterior. Mas
o processo para atribuição dos lugares restantes é diferente. Adiciona-se
ficticiamente a cada lista um lugar aos que lhe couberam em virtude da divisão dos
votos obtidos pelo quociente eleitoral – se ainda lhe não foi atribuído nenhum lugar,
faz-se a divisão por 1 – e divide-se o número de sufrágios que a lista recolheu pelo
número assim obtido, encontrando-se uma média para cada lista. O partido que tiver
a média mais alta fica com o lugar restante ou um dos lugares restantes. Recomeça-se
a operação até serem atribuídos todos os lugares.
A representação proporcional com a atribuição dos lugares segundo o
método de Hondt foi adoptada pela lei belga de 1899. Este processo tem a vantagem
de permitir encontrar, mediante uma operação, o número total de lugares que cabem
em cada lista.
O método de Hondt proporciona resultados próximos dos obtidos pela
aplicação do mecanismo da média maior, mas segue um caminho diferente.
Dividem-se os votos obtidos por cada lista por 1, 2, 3, 4, 5, n, representando n o
número de lugares a preencher.
Os resultados alcançados por esta operação são ordenados de seguida, por
ordem decrescente, até ao número de deputados a eleger. O último número da lista
assim ordenado chama-se repartidor, e é diferente do quociente eleitoral dos
exemplos anteriores, porque dividindo os votos alcançados por cada lista por este
número repartidor obtém-se directamente o número de lugares que cabe a cada
partido.
A representação proporcional com a distribuição dos lugares segundo o
método de Saint-Lague segue um método de Hondt, procurando corrigir este no
sentido de uma proporcionalidade mais aproximada entre o número de eleitos e a
quantidade de votos obtidos por cada partido. Para tanto, introduz-se um pequeno
pormenor, que consiste em dividir os votos obtidos por cada lista por algarismos
ímpares, começando-se por 1, 4, isto é, dividem-se aqueles resultados por 1, 4, 3, 5,
20
7, n. Este mecanismo faz baixar o número repartidor, permitindo deste modo uma
representatividade mais equitativa e, por conseguinte, mais justa.
A representação proporcional com a distribuição dos lugares segundo o
método dinamarques é uma correção do método de Saint-Lague e o qual consiste
em dividir os resultados por 1, 4, 7, 10, 13, n. Este método é o mais justo de todos,
pois garante uma representatividade quase equitativa.
A representação proporcional com a repartição dos lugares pelo quociente
rectificado seguindo o método de Hagenbach-Bischoff, é utilizado na Suíça. O
processo do quociente retificado consiste em acrescentar uma unidade, ou mais, ao
número de lugares a preencher, a fim de fazer baixar o quociente eleitoral de forma
que todos os lugares sejam atribuídos ao dividirem-se os votos obtidos por cada lista
pelo respectivo quociente. Cotteret e Emeri advertem que este processo apresenta um
inconveniente: “o risco de levar a uma repartição de lugares superior à legalidade
prevista” (FERNANDES, 2010).

1.1.3. Sistema misto


Sistemas eleitorais mistos tentam combinar os atributos positivos de sistemas
eleitorais de maioria e de representação proporcional. Em um sistema misto, há dois
sistemas eleitorais a usarem fórmulas diferentes e a funcionar paralelamente
(Gianturco, 2018). Os votos são expressos pelos mesmos eleitores e contribuem para
a eleição de representantes sob ambos os sistemas. Um destes sistemas é um sistema
de maioria, geralmente de maioria simples, e outro um sistema de lista de
representação proporcional.
Gianturco (2018) apresenta duas formas de sistemas mistos, a saber:
Representação proporcional personalizada é um sistema misto no qual as
escolhas expressas pelos eleitores são usadas para eleger representantes através de
dois sistemas diferentes – um sistema de lista de representação proporcional e um
sistema de maioria onde o sistema de lista de representação proporcional compensa a
desproporcionalidade dos resultados do sistema de maioria.
Sistema paralelo é um sistema misto no qual as escolhas expressas pelos
eleitores são usadas para eleger representantes através de dois sistemas diferentes –
Um sistema de lista proporcional e um sistema de pluralidade ou maioria, mas no

21
qual não se contabilizam os assentos atribuídos pelo primeiro sistema para calcular
os resultados do segundo sistema.
Enquanto que um sistema de representação proporcional personalizada
geralmente tem resultados proporcionais, o sistema paralelo provavelmente obtém
resultados cuja proporcionalidade fica algures entre os de uma pluralidade ou maioria
e de um sistema de representação proporcional.

1.2. Magnitude do círculo e desproporcionalidade


Círculo eleitoral, também referido como distrito eleitoral ou circunscrição
eleitoral é uma divisão territorial criada para fins eleitorais, cujos eleitores inscritos
correspondem um determinado número de mandatos, previamente definido, no órgão
a eleger. Portanto, correspondem a critérios demográficos para organizar as eleições.
Os círculos eleitorais podem corresponder à organização administrativa, a solução
mais comum nos países que não usam círculos uninominais (isto é que elegem
apenas um representante), ou serem demarcados especificamente para fins eleitorais.
A dimensão do círculo pode ir de município ou unidade semelhante, até à
totalidade do território nacional, como ocorre em Angola nas eleições para
o Presidente, Vice-Presidente e Deputados à Assembleia Nacional.
Quando os círculos são plurinominais, é em geral utilizado um método de
distribuição proporcional dos mandatos para garantir que o número de eleitos de cada
lista reflete adequadamente a proporção dos votos recebidos. Estes métodos contêm
por vezes provisões de discriminação positiva em relação às minorias, facilitando a
atribuição de pelo menos um mandato, embora também seja comum a existência de
um valor limiar, normalmente fixado em percentagem do voto válido, que exclui de
consideração as listas que o não atinjam. Uma das formas mais comum de
distribuição proporcional dos mandatos é o método D’Hondt.
A fixação dos círculos eleitorais é em geral controversa, pois pode determinar a
priori o resultado final de uma eleição, pelo que esta matéria costuma ser reservada
para a Constituição dos Estados ou para leis especiais que apenas podem ser
aprovadas com maiorias qualificadas e em certos períodos bem definidos.

22
CAPÍTULO II – SISTEMA ELEITORAL ANGOLANO
NA CONSTITUIÇÃO DE 2010

O sistema eleitoral angolano, estabelecido na Constituição da República de


Angola (CRA) de 2010, é designado como um sistema eleitoral de representação
proporcional contendo um duplo círculo (provincial e nacional), de lista fechada 5 e
rígida, reconhecendo-se apenas os partidos e coligações de partidos a prerrogativa de
apresentação de candidaturas às eleições gerais, que visam a eleição dos deputados,
do Presidente e do Vice-Presidente (Art. 32º, da Lei n.º 36).
O círculo provincial elege 5 deputados em cada província, perfazendo um total
de 90 deputados eleitos, através do método D’Hondt (art.27, da Lei n.º 36). Por seu
turno, o círculo nacional elege 130 deputados, usando o método Hare (Art. 144º, nº 2,
a, da CRA), o Presidente e o Vice-Presidente. Quer o Presidente quer o Vice-
Presidente acabam por ser o primeiro e o segundo membro da lista mais votada no
escrutínio (Art. 109º, nº1, e Art. 131, nº 2 da CRA). Assim, a Assembleia Nacional é
constituída por cerca de 220 deputados.

2.1. Eleição do Presidente da República


No n.º 1 do artigo 109º da CRA é eleito Presidente da República e Chefe do
Executivo o cabeça de lista, pelo círculo Nacional, do partido político ou coligação
de partidos políticos mais votados no quadro das eleições gerais.
A Constituição ao dizer que é eleito Presidente da República o cabeça de lista
do partido político ou de coligação de partidos políticos mais votados pelo círculo
Nacional, não exigindo qualquer maioria específica, ela opta claramente por um
sistema eleitoral maioritário de uma volta ou volta única, isto é, basta que um partido
político e o seu candidato obtenha mais votos que os demais (maioria relativa),
independentemente da diferença e da maioria percentual alcançada para ser
considerado vencedor.

2.1.1. Elegibilidade ao cargo de Presidente da República


A Constituição da República Angola estabelece quatro requisitos subjectivos
para os candidatos a Presidente da República, nomeadamente a nacionalidade

5
Neste tipo de lista, o cidadão eleitor não tem a possibilidade de alterar a ordem da lista.
23
angolana de origem, a idade mínima, a residência habitual, a plenitude de gozo de
direitos civis e políticos e a capacidade física e mental. Em síntese, são:

1. Nacionalidade angolana de origem: Só são elegíveis ao cargo de Presidente da


República de Angola os cidadãos angolanos de origem, isto é, “filhos de pai ou
mãe de nacionalidade angolana, nascido em Angola ou no estrangeiro” Artigo
9º nº 2 da CRA. Nos termos do nº 3 do mesmo artigo “presume-se cidadão
angolano de origem o recém-nascido achado em território angolano”.
2. Possuir no mínimo 35 anos de idade: Os angolanos de origem só podem
candidatar-se a Presidente da República se possuírem pelo menos 35 anos de
idade. Ao estabelecer um limite mínimo etário, entende o legislador que um
cidadão antes de completar 35 anos não está nas melhores condições para o
exercício de tão importante cargo.
3. Residência habitual: Só pode ser candidato a Presidente da República o
cidadão angolano de origem, maior de 35 anos de idade, que resida
habitualmente em Angola há pelo menos 10 anos.
4. Plenitude de gozo de direitos civis e políticos e capacidade física e mental: Por
último, é necessário que os candidatos a Presidentes da República estejam no
pleno gozo dos seus direitos civis e políticos, isto é, que não tenham sido
condenados judicialmente a suspensão de direitos civis e políticos, por outro,
não estejam limitados física e mentalmente.
Cabe ao Tribunal Constitucional verificar se os candidatos reúnem ou não os
requisitos acima referidos.

2.1.2. Inelegibilidade ao cargo de Presidente da República


A CRA no nº 1 e 2 do artigo 110º estabelece um conjunto de inelegibilidade ao
cargo de Presidente da República. Desta forma, são inelegíveis:

a) Os cidadãos que sejam titulares de alguma nacionalidade adquirida;


b) Os Magistrados Judiciais e do Ministério Público no exercício das
suas funções;
c) Os Juízes do Tribunal Constitucional no activo;
d) Os Juízes do Tribunal de Contas no activo;
e) O Provedor de Justiça e o Provedor de Justiça-Adjunto;

24
f) Os membros dos órgãos de administração eleitoral;
g) Os antigos Presidentes da República que tenham exercido dois
mandatos, que tenham sido destituídos ou que tenham renunciado ou
abandonado funções.
h) Os cidadãos que tenham sido condenados com pena de prisão superior
a 3 anos.

2.1.3. As candidaturas a Presidente da República


As candidaturas ao cargo de Presidente da República não são independentes
das candidaturas partidárias às eleições legislativas 6. Pelo contrário, estão
interligadas e são interdependentes.
As candidaturas ao cargo de Presidente da República são apresentadas única e
exclusivamente pelos partidos políticos ou coligação de partidos políticos, conforme
no nº 2 do artigo 111º da CRA. Não são admissíveis candidaturas independentes,
entendidas estas como todas as apresentadas sem suporte partidário directo e
expresso. Dito de outra forma, tendo em conta o modelo de eleição geral previsto
pela CRA, só é candidato a Presidente da República aquele que for colocado no
primeiro lugar de uma lista de candidatos a Deputados pelo círculo nacional de um
partido político ou de uma coligação de partidos políticos.
Nada impede que a lista de candidatos a Deputados pelo círculo nacional seja
encabeçada por um cidadão não militante do respectivo partido político. Ou seja, não
pode haver candidaturas independentes, mas pode haver candidaturas independentes,
isto é, no plano subjectivo. É o que resulta do nº 2 do artigo 111º.

2.2. Eleição do Vice-Presidente da República


A CRA consagra o Vice-Presidente da República como um órgão auxiliar do
Presidente da República no exercício da função executiva (nº 1 do artigo 131º). Cabe
ao Vice-Presidente substituir o Presidente da República, tanto nas suas ausências e
impedimentos temporário (nº 3 do artigo 131º), quando nas situações de vacatura do
cargo de Presidente da República, caso em que assume o mandato até ao fim, com
plenitude dos poderes (artigo 132º).

6
São as eleições para o órgão legislativo, isto é, a Assembleia Nacional, no caso Angolano,
temos eleições gerais.
25
É eleito Vice-Presidente da República o candidato número dois da lista, pelo
círculo nacional, do partido político ou coligação de partidos políticos vencedor das
eleições gerais. Esta formulação permite, por um lado, que o Vice-Presidente tenha a
legitimidade necessária para substituir o Presidente da República e, por outro lado,
faz com que ele seja sempre do mesmo partido político que o Presidente da
República.
São aplicáveis à eleição do Vice-Presidente as regras aplicáveis à eleição do
Presidente da República, nomeadamente quanto aos requisitos necessários à
candidatura. Contrariamente ao candidato a Presidente da República, o candidato a
Vice-Presidente não é identificado no boletim de voto.

2.3. Eleição dos deputados à Assembleia Nacional


A Assembleia Nacional é o parlamento da República de Angola. A Assembleia
Nacional é um órgão unicameral7 composto por 220 deputados, representativo de
todos os angolanos, que exprime a vontade soberana do povo e exerce o poder
legislativo do Estado. A Assembleia Nacional é composta por Deputados eleitos nos
termos da Constituição e da lei.
Os Deputados são eleitos mediante sufrágio universal, livre, igual, directo,
secreto e periódico pelos cidadãos nacionais maiores de dezoito anos de idade
residentes no território nacional, considerando-se igualmente como tal os cidadãos
angolanos residentes no estrangeiro por razões de serviço, estudo, doença ou
similares.
Os Deputados são eleitos segundo o sistema de representação proporcional,
para um mandato de cinco anos, nos termos da lei. Os Deputados são eleitos por
círculos eleitorais, existindo um círculo eleitoral nacional e círculos eleitorais
correspondentes a cada uma das 18 províncias.
Para a eleição dos Deputados pelos círculos eleitorais são fixados os seguintes
critérios: 130 deputados são eleitos a nível nacional, considerando-se o País, para
esse efeito, um círculo eleitoral nacional único. 5 deputados eleitos em cada
província, constituindo para esse efeito, um círculo eleitoral provincial.

7
Diz-se do sistema de representação que admite apenas uma câmara legislativa.
26
2.3.1. Inelegibilidade
São inelegíveis a Deputados:

A) Os magistrados judiciais e do Ministério Público no exercício de funções;


B) Os militares e os membros das forças militarizadas no activo;
C) Os membros dos órgãos de administração eleitoral;
D) Os legalmente incapazes;
E) Os que tenham sido condenados com pena de prisão superior a dois anos.
Nota-se no nº 2 do Artigo 145º da CRA que os cidadãos que tenham adquirido
a nacionalidade angolana apenas são elegíveis decorridos setes anos desde a data da
aquisição, fora isso são inelegíveis.

2.3.2. Candidatura
As candidaturas a Deputados à Assembleia Nacional são apresentadas pelos
partidos políticos, isoladamente ou em coligação, podendo as listas integrar cidadãos
não filiados nos respectivos partidos, nos termos da lei.
As candidaturas devem ser subscritas por 5000 a 5500 eleitores, para o círculo
nacional e por 500 a 550 eleitores, por cada círculo provincial.

27
CAPÍTULO III – RELAÇÃO ENTRE VOTOS E
MANDATOS NO SISTEMA ELEITORAL ANGOLANO

3.1. Distribuição dos mandatos no circulo nacional


Com os Dados da Comissão Nacional Eleitoral das eleições de 2022,
procuramos fazer os cálculos dos mandatos de cada candidatura no círculo nacional
de acordo com o método Hare, também chamado por método do resto mais forte, tal
como obriga o artigo 27° da lei n° 36/11 de 21 de dezembro, a lei orgânica sobre as
eleições gerais. Assim, tal como está na Acta de apuramento nacional, temos os
seguintes dados: O total de votos válidos 6.272.104
Este valor, total de votos válidos, é dividido pelo número de assentos no
círculo nacional que são 130 (6.272.104/ 130=48.246). Neste caso, o nosso quociente
eleitoral são 48.246 (Aqui é opcional podendo ser usado apenas os dois primeiros
algarismos ou todo o quociente eleitoral).

Tabela 1: Círculo eleitoral Nacional


Partidos Votos por cada 1ª Resto 2ª
Políticos lista/quociente eleitoral Distribuição
Distribuição

MPLA 3.209.429/48.246=66,522 66 0,522 67

UNITA 2.756.786/48.246=57,202 57 0,202 57

PRS 71.351/48.246=1,478 1 0,478 2

FNLA 66.337/48.246=1,374 1 0,374 2

PHA 63.749/48.246=1,321 1 0,321 2

CASA-CE 47.446/48.246=0,983

APN 30.139/48.246=0,624

P-Njango 26.867/48.246=0,552

Total 126 130

Fonte: elaborado pelo autor com base aos dados da CNE (2022).
28
Na primeira operação temos um total de 126 mandatos distribuídos, restando 4
mandatos por distribuir, sendo assim o número 3 do artigo 27° da lei orgânica, na
alínea c), manda distribuir os mandatos restantes em ordem do resto mais forte de
cada partido político, contudo, o número 4 do mesmo artigo assevera que para a
distribuição dos mandatos restantes concorrem apenas os partidos ou coligações de
partidos que tenham conseguido eleger pelo menos um Deputado. Na segunda
operação, somente o MPLA, UNITA, PRS. FNLA e PHA concorrem para os
mandatos restantes, pois apenas eles elegeram pelo menos um deputado.

Como vemos, o método Hare em muitos casos, favorece os partidos mais


pequenos do sistema eleitoral, o exemplo foi o PRS, FNLA e o PHA terem
conseguido na segunda operação mais um mandato respectivamente, ao passo que a
UNITA por ter o menor resto não conseguiu eleger nenhum deputado na segunda
operação.

3..2 Apuramento provincial


De acordo com o artigo 144º da constituição angolana, cada província
corresponde um círculo eleitoral provincial, elegendo cinco deputados em cada
província, perfazendo os 90 deputados nos círculos provinciais. Para os círculos
provinciais, o apuramento é feito de acordo com o método de Hondt, tal como ordena
o número 2 do artigo 27º da lei orgânica sobre as eleições gerais, ora:
Tabela 2: Círculo eleitoral do Bengo
Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de
mandatos
MPLA 64.278 32.139 21.426 16.069 12.855 3
UNITA 45.407 22. 703 15.135 11.351 9.801 2
PRS 984 0
FNLA 1.982 0
PHA 1.214 0
CASA-CE 1.077 0
APN 666 0
P-NJANGO 336 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).
A Província do Bengo teve um total de 115.944 votos válidos, dentre esses
109.685 votos foram convertidos nos cinco mandatos provinciais, tendo sido
29
“desconsiderado” cerca de 6.259 votos dos eleitores. Há, portanto, um grupo de
eleitores que a sua vontade eleitoral não foi transformada em verdade representativa.
Tabela 3: Círculo eleitoral do Benguela
Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de
mandatos
MPLA 315.086 157.543 105.028 78.771 63.017 3
UNITA 243.721 121.860 81.240 60.930 48.744 2
PRS 3.626 0
FNLA 3.639 0
PHA 5.825 0
CASA-CE 1.665 0
APN 1.570 0
P-NJANGO 2.795 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A província de Benguela teve um total de 577.927 votos válidos, sendo


558.807 utilizados na conversão de votos, tendo sobrado cerca de 19.120 votos dos
eleitores. O mesmo cenário do círculo eleitoral do Bengo é verificado no círculo
eleitoral de Benguela.
Tabela 4: Círculo eleitoral do Bié
Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de
mandatos
MPLA 228.089 114.044 76.029 57.022 45.617 3
UNITA 132.623 66.311 44.207 33.155 26.524 2
PRS 3.448 0
FNLA 3.110 0
PHA 4.347 0
CASA-CE 1.124 0
APN 1.597 0
P-NJANGO 2.245 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).
A Província do Bié teve um total de 376.583 votos válidos, sendo utilizado
apenas 360.712 votos válidos, tendo sobrado cerca de 15.871 votos dos eleitores,
portanto uma minoria não conseguiu ver a sua vontade eleitoral respeitada.

30
Tabela 5: Círculo eleitoral Cabinda
Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de
mandatos
MPLA 43.669 21.834 14.556 10.917 8.733 1
UNITA 114.300 57.150 38.100 28.575 22.860 4
PRS 1.817 0
FNLA 1.662 0
PHA 1.541 0
CASA-CE 1.880 0
APN 947 0
P-NJANGO 624 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A Província de Cabinda somou um total de 166.440 votos válidos, sendo


utilizado 157.969 votos válidos, tendo sobrado um total de 8.471 votos dos eleitores,
tendo por conseguinte uma minoria cujo os votos não foram levados em conta,
privilegiando os grandes partidos, como sejam: o MPLA e a UNITA.

Tabela 6: Círculo eleitoral do Cuando Cubango


Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de
mandatos
MPLA 81.399 40.699 27.133 20.349 16.279 4
UNITA 31.832 15.916 10.610 7.958 6.366 1
PRS 1.013 0
FNLA 833 0
PHA 1.084 0
CASA-CE 794 0
APN 375 0
P-NJANGO 849 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

O círculo eleitoral do Cuando Cubango teve um total de 118.179 votos válidos,


tendo utilizado 113.231 votos, sobrando cerca de 4.948 votos válidos dos eleitores,
tendo um grupo de eleitores visto o seu votos “desperdiçados”.

31
Tabela 7: Círculo eleitoral do Cuanza Norte

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 71.145 35.572 23.715 17.786 14.229 3
UNITA 38.026 19.013 12.675 9.506 7.605 2
PRS 1.013 0
FNLA 833 0
PHA 1084 0
CASA-CE 794 0
APN 375 0
P-NJANGO 849 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela cne (2022).
No círculo eleitoral do Cuanza Norte teve um total de 117.204 votos válidos,
sendo utilizado para a conversão de votos um total de 109.171, sobrando cerca de
8.033 votos válidos.

Tabela 8: Círculo eleitoral do Cuanza Sul

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 233.835 116.917 77.945 58.458 46.767 4
UNITA 93.253 46.626 31.084 23.313 18.650 1
PRS 3.201 0
FNLA 3.383 0
PHA 4.806 0
CASA-CE 2.394 0
APN 1.047 0
P-NJANGO 1995 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A província do Cuanza Sul teve um total de 343.914 votos válidos, tendo sido
utilizados 327.088 votos válidos, tendo sobrado cerca de 16.826 votos válidos de
cidadãos eleitores.

32
Tabela 9: Círculo eleitoral do Cunene

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 121.327 60.663 40.442 30.331 24.265 5
UNITA 20.974 10.487 6.991 5.243 4.194 0
PRS 818 0
FNLA 760 0
PHA 977 0
CASA-CE 844 0
APN 355 0
P-NJANGO 308 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A província do Cunene teve um total de 146.363 votos válidos, foram


utilizados para a conversão de votos um total de 121.327 votos válidos, restando um
total de 25.036 votos válidos.

Tabela 10: Círculo eleitoral da Huíla

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 329.751 164.875 109.917 82.437 65.950 4
UNITA 128.501 64.250 42.833 32.125 25.700 1
PRS 3.843 0
FNLA 3.069 0
PHA 4.376 0
CASA-CE 2.672 0
APN 1731 0
P- 1664 0
NJANGO
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela cne (2022).

A província da Huíla obteve um total de 475.607 votos válidos, tendo


utilizado cerca de 458 252 votos válidos, restando um total de 17.355 votos válidos
dos eleitores.

33
Tabela 11: Círculo eleitoral do Huambo

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 308.731 154.365 102.910 77.182 61.746 3
UNITA 212.465 106.232 70.821 53.116 42.493 2
PRS 4.704 0
FNLA 3.948 0
PHA 4.833 0
CASA-CE 2.101 0
APN 3.132 0
P-NJANGO 3.313 0

Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela cne (2022).
O círculo eleitoral do Huambo obteve um total de 543.227 votos válidos,
tendo utilizado um total de 521.196 votos válidos, sobrando cerca de 22.031 votos
válidos dos eleitores.

Tabela 12: Círculo eleitoral de Luanda

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 671.861 335.930 223.953 167.965 134.372 2
UNITA 1.243.894 621.947 414.631 310.973 248.778 3
PRS 10.543 0
FNLA 17.699 0
PHA 20.089 0
CASA-CE 19.646 0
APN 8.499 0
P-NJANGO 5.683 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).
A província de Luanda, a capital do país, é o maior círculo eleitoral provincial
no que ao número de habitantes e eleitores diz respeito. A oposição política angolana
(UNITA) teve uma maioria absoluta dos votos dos eleitores. O círculo eleitoral de
Luanda obteve um total de 1.997.914 votos válidos, tendo sido utilizado cerca de
1.915.755 votos válidos, tendo sobrado um total de 82.159 votos válidos (quase o
34
total de votos do círculo eleitoral do Bengo). Luanda, na nossa perspectiva, é o
espelho fiel da desproporcionalidade do nosso sistema eleitoral na medida em que o
número de eleitores de Luanda representa a soma do círculo eleitoral de Cuanza
Norte, Cuanza Sul, Cunene, Huambo e Huíla juntos. O mais agravante é o facto de
apesar da dimensão de eleitores de Luanda ( Cima de um milhão e duzentos
eleitores) elege o mesmo número de mandatos (5 deputados) de províncias como o
Bengo ( com apenas 115.944), Cuanza Norte ( cerca de 117.204 eleitores).

Tabela 13: Círculo eleitoral da Lunda-Norte

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 102.232 51.116 34.077 25.558 20.446 3
UNITA 60.374 30.187 20.124 15.093 12.074 2
PRS 9.910 0
FNLA 2.384 0
PHA 1.693 0
CASA-CE 1.591 0
APN 1.483 0
P-NJANGO 1.106 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

O círculo eleitoral da Lunda-Norte obteve um total de 180.773 votos válidos,


tendo sido utilizado cerca de 162.606 votos válidos, restando um total de 18.167
votos válidos dos eleitores.

Tabela 14: Círculo eleitoral da Lunda-Sul

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 64.898 32.449 21.632 16.224 12.979 3
UNITA 42.611 21.305 14.203 10.652 8.522 2
PRS 13.060 0
FNLA 711 0
PHA 685 0
CASA-CE 605 0

35
APN 642 0
P-NJANGO 370 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).
A província da Lunda-Sul teve um total de 123.582 votos válidos, tendo
utilizado para a conversão de votos em mandatos, cerca de 107.509, tendo restado
um total de 16.073 votos válidos dos eleitores.

Tabela 15: Círculo eleitoral de Malange

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 119.669 59.834 39.889 29.917 23.933 3
UNITA 64.093 32.046 21.364 16.023 12.818 2
PRS 2.830 0
FNLA 1.983 0
PHA 2.485 0
CASA-CE 1.916 0
APN 1.509 0
P-NJANGO 736 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

O círculo eleitoral de Malange obteve um total de 195.221 votos válidos,


tendo utilizado para a conversão de votos cerca de 183.762 votos, tendo sobrado um
total de 11 459 votos válidos.

Tabela 16: Círculo eleitoral do Moxico

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 118.694 59.347 39.564 29.673 23.738 4
UNITA 48.275 24.137 16.091 12.068 9.655 1
PRS 3.411 0
FNLA 1.683 0
PHA 1.442 0
CASA-CE 1.318 0
36
APN 775 0
P-NJANGO 816 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

O círculo eleitoral do Moxico obteve um total de 176.414 votos, tendo


utilizado um total de 166.969 votos válidos, tendo sobrado um total de 9.445 votos
dos eleitores.

Tabela 17: Círculo eleitoral do Namibe

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 80.881 40.440 26.960 20.220 16.176 4
UNITA 37.744 18.872 12.581 9.436 7.548 1
PRS 845 0
FNLA 721 0
PHA 885 0
CASA-CE 844 0
APN 770 0
P-NJANGO 553 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A província do Namibe obteve um total de 123.243 votos válidos, tendo sido


utilizado para a conversão de votos em mandatos um total de 118.625 votos válidos,
tendo restado cerca de 4.618 votos dos eleitores.

Tabela 18: Círculo eleitoral do Uíge

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 197.029 98.514 65.676 49.257 39.405 3
UNITA 119.825 59.912 39.941 29.956 23.965 2
PRS 4.740 0
FNLA 6.471 0
PHA 4.433 0

37
CASA-CE 3.599 0
APN 3.258 0
P-NJANGO 1793 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

A província do Uíge obteve um total de 341.148 votos válidos, tendo


utilizado para a conversão de votos um total de 316.854 votos válidos, sobrando um
total de 24.294 votos válidos.

Tabela 19: Círculo eleitoral do Zaire

Partidos Divisor 1 Divisor 2 Divisor 3 Divisor 4 Divisor 5 Total de


mandatos
MPLA 51.241 25.620 17.880 12.810 10.248 2
UNITA 73.665 36.832 24.555 18.416 14.733 3
PRS 1.182 0
FNLA 10.274 0
PHA 1.460 0
CASA-CE 1.784 0
APN 988 0
P-NJANGO 717 0
Fonte: eleborado pelo autor com base aos dados fornecidos pela CNE (2022).

O círculo eleitoral do Zaire, onde a oposição política venceu, teve um total de


141.311 votos válidos, sendo utilizado um total de 124.906 votos, tendo restado um
total de 16.405 votos válidos.
Portanto, e de acordo com os dados expostos acima, um total de 57 mandatos
foram para o Partido MPLA, ao passo que a UNITA ficou com 33 mandatos dos
círculos provinciais. Posto isto, o MPLA com os 67 mandatos no círculo eleitoral
nacional totaliza 124 mandatos ( deputados). Por outro lado, o Partido UNITA com
os 57 mandatos do círculo nacional totaliza 90 mandatos ( deputados), o PRS com 2
mandatos, FNLA com 2 mandatos, PHA com 2 mandatos.

Nota: Escusa-se fazer a divisão dos termos de outros partidos que não tiveram votos
suficientes para eleger qualquer deputado nos círculos provinciais.
38
3.3. Cláusula de barreira
O outro factor que influencia na relação entre votos e mandatos, é a chamada
cláusula de barreira. A cláusula de barreira é a existência de limitações à
representação política decorrentes de imposição de barreiras mínimas à conversão de
votos em mandatos; tal como afirma Martins (2008) a barreira legal tem efeitos
diferenciados na proporcionalidade consoante a magnitude dos círculos.
Bonavides (1997) considera que um dos objectivos da cláusula de barreira seria
embargar as possibilidades representativas das minorias políticas. Transforma-se
assim a representação proporcional o privilégio irremediável das organizações
partidárias mais fortes e em melhor harmonia com os interesses da ordem
estabelecida.
O sistema eleitoral angolano consagra no artigo 33º, número 4, alínea I da lei
dos partidos políticos, a cláusula de barreira, ou seja, os partidos políticos podem ser
extintos se não atingirem 0,5% do total dos votos expressos nas eleições gerais, ou
melhor, esta cláusula é um mecanismo de impedir uma certa fragmentação partidária
como também, dificulta as minorias de chegarem um dia ao poder. Os partidos:
Aliança Patriótica Nacional (APN) e o Partido Nacionalista para a Justiça em Angola
(P-NJANGO) foram extintos por estarem a baixo da cláusula de barreira.
As cláusulas de barreiras criam desequilíbrios na representação política na
medida em que é um grande limite ao pluralismo político e partidário, ademais, as
cláusulas de barreiras limitam a proporcionalidade e as oportunidades de
representação política dos pequenos partidos.

3.4. Análise de proporcionalidade dos resultados das eleições de 2022


A análise dos efeitos dos sistemas eleitorais sobre a representatividade remete
para a proporcionalidade dos resultados, que, de forma simplista, se refere ao grau
em que a percentagem de votos corresponde à percentagem de mandatos.

39
Tabela 20: Relação votos e mandatos por %

Partidos Votos por cada lista Mandatos % dos % dos


Políticos votos por mandatos
cada lista
MPLA 3.209.429 124 51,17% 56,36%
UNITA 2.756.786 90 43,95% 40,91%
PRS 71.351 2 1,14% 0,91%
FNLA 66.337 2 1,06% 0,91%
PHA 63.749 2 1,02% 0,91%
CASA-CE 47.446 0 0,76%
APN 30.139 0 0,48%
P-Njango 26.867 0 0,42%
Total 6.272.104 220 100 100
Fonte: elaborado pelo autor com base aos dados da CNE (2022).

A nível nacional nas eleições de 2022 teve um total de 6.272.104 votos válidos,
o MPLA obteve um total de 3.209.429 de votos; Tendo a UNITA obtido 2.759.786
votos. Nesta senda, o MPLA conseguiu 51,17% dos votos, ao passo que a UNITA
obteve 43,95% dos votos. Na Assembleia Nacional, o MPLA obteve 124 mandatos,
correspondendo a 56,36 % dos lugares, a UNITA, por seu turno, conseguiu 90
mandatos, correspondendo a 40, 90% dos mandatos. Como se verifica há uma certa
desproporcionalidade entre a percentagem dos votos obtidos em cada candidatura e a
percentagem dos mandatos obtidos.
Com tudo, fica clara que a nível dos círculos eleitorais há uma
desproporcionalidade na relação de votos e cadeiras, ademais, nos círculos
provinciais há um grande número de votos sobrantes, sem puder eleger qualquer
representante. Assim, é quase um absurdo ter um círculo eleitoral de Luanda com
quase 2 milhões de eleitores elegendo 5 deputados (Mandatos) e o círculo eleitoral
de menos de 200.000 eleitores eleger o mesmo número de deputados (mandatos).

40
CONCLUSÕES

A partir da fundamentação teórica, procurou-se no decorrer do trabalho


analisar a relação entre votos e mandatos no sistema eleitoral angolano.
Confirmamos as hipóteses segundo as quais, a relação entre votos e mandatos cria
desequilíbrio na representação política e que a relação entre votos e mandatos é
tendencialmente influenciado pela fórmula eleitoral e a magnitude dos círculos
eleitorais. O sistema eleitoral angolano é um sistema misto de combinação, pois
numa mesma operação eleitoral, é eleito o presidente e vice-presidente por uma
maioria simples ou relativa, ao passo que, os deputados à Assembleia Nacional são
eleitos por um sistema proporcional. Ao longo do trabalho verificamos que no ponto
de vista da realidade política, o sistema não é tão proporcional assim, ou seja, existe
uma desproporcionalidade entre a percentagem de votos obtidos pelos principais
partidos e a percentagem de mandatos que eles obtiveram. As eleições de 2022 e os
seus respectivos resultados confirmam que existe uma grande desproporcionalidade
no nosso sistema eleitoral que resulta no desequilíbrio da representação política,
sobretudo, por parte das minorias políticas.
Verificou-se também que o método D ́Hondt privilegia os grandes partidos do
nosso sistema eleitoral, os partidos UNITA e MPLA. No entanto, nenhum outro
partido conseguiu eleger mandatos nos círculos provinciais. A magnitude dos
círculos eleitorais (220 mandatos) é um grande factor de desproporcionalidade, pois,
a nossa determinação dos círculos eleitorais e de sua magnitude não leva em conta o
número de habitantes, nem tão pouco o número de cidadãos eleitores, o exemplo
paradigmático é o círculo provincial de Luanda que contém cerca de 9 milhões de
habitantes e cerca de 2 milhões de eleitores, e mesmo assim elege no seu círculo
eleitoral apenas 5 mandatos, tal como os círculos tão pequenos como o do Bengo, do
Cuanza Norte, Namibe, que não passam dos 200.000 eleitores.
Ademais, concluímos que outro factor influente tem sido a cláusula de barreira,
caso um partido não atinja a quota de 0,5% do total dos votos, será extinto, sendo
todos os seus votos considerados "desconsiderados".

41
SUGESTÕES

Com base a pesquisa feita, temos as seguintes sugestões:


 Que se faça uma revisão constitucional a fim de se rever a magnitude
dos círculos eleitorais, levando em conta o número de habitantes e seu
respectivo número de eleitores como se faz em várias partes do globo;
 Que se limite a chamada cláusula de barreira para concretizar de facto
uma representação política e representatividade das minorias;
 Que se respeite a igualdade de votos, que é a base fundamental da
democracia representativa;
 Que as autoridades competentes, nomeadamente Comissão Nacional
Eleitoral, detalhe mais as informações sobre as eleições gerais de
2022, existe uma certa opacidade das informações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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