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CAPÍTULO XIII
Eletroquímica
A energia liberada em uma reação redox espontânea pode ser usada para realizar
trabalho elétrico. Essa tarefa é efetuada por uma célula voltaica (ou galvânica),
dispositivo no qual a transferência de elétrons ocorre pelo caminho externo em vez de
diretamente entre os reagentes.
I – INTRODUÇÃO
Nicholson e Carlisle foram os primeiros a observar, em 1800, que, quando dois fios inertes,
por exemplo, de platina ligada aos pólos de uma célula voltaica ou a uma bateria, eram imersos numa
solução aquosa diluída de ácido sulfúrico, uma corrente elétrica atravessava o circuito (Fig. 1).
Bateria
anodo - catodo
+ Dois fios inertes de platina,
ligados aos pólos de uma
bateria.
Célula eletrolítica
• Evolução de gases;
• Deposição de material sobre os fios imersos na solução, ou mesmo dissolução dos próprios
fios;
Para explicar a passagem da corrente elétrica através do eletrólito, Faraday supôs que a
corrente de eletricidade devia-se ao movimento de partículas dotadas de cargas, que ele chamou de íons.
Os íons que se dirigem para o ânodo são chamados anions, e os que se dirigem para o cátodo são
chamados cátions.
Com essas definições, verifica-se que, se o cátodo for o eletrodo no qual a carga negativa
entra na solução, ele deve estar ligado a uma fonte de eletricidade negativa. Isso que equivale a dizer que
ele deve estar ligado ao pólo negativo de uma bateria e terá, ele próprio, carga negativa. Os cátions que
se movem em direção ao cátodo devem apresentar, portanto, cargas positivas, tal como as cargas
fornecidas pela bateria que atrai os íons aos eletrodos. Reciprocamente, os ânions possuem cargas
Eletroquímica Capítulo XIII
negativas. Ao alcançarem os eletrodos, admite-se que os íons neutralizam suas cargas, formando átomos
ou moléculas comuns.
a) Condutores eletrônicos:
São condutores nos quais não ocorre transferência de matéria quando percorridos por uma
corrente elétrica. Os fios que ligam os eletrodos à bateria pertencem a esta classe e interpretamos agora
uma corrente elétrica como sendo um fluxo de elétrons ao longo do fio.
b) Condutores eletrolíticos.
São condutores nos quais ocorre uma transferência de massa associada à passagem da
corrente elétrica. A solução que sofre eletrólise constitui um exemplo disso. A corrente é transportada pelos
íons que percorrem a solução em direção aos eletrodos, e, em conseqüência resulta numa variação de
concentração em todas as partes da solução.
1) Substâncias puras, por exemplo, hidróxido de potássio fundido, ou cloreto de sódio fundido.
2) Soluções, por exemplo, de ácidos, bases ou sais em água, ou outros solventes.
Essa última categoria é a que foi mais extensamente estudada, e que constituirá a assunto
principal desse capítulo.
+→ Movimento do íon
- condução eletrolítica
➔ No eletrodo positivo (deficiência de elétrons) os íons negativos depositam elétrons e são, portanto
oxidados;
➔ No eletrodo negativo (que tem excesso de elétrons), os íons positivos retiram elétrons e são reduzidos.
Escoamento de elétrons
Anodo (+) Catodo (-)
+→
-
Os elétrons que são depositados durante a reação de oxidação são retirados do eletrodo
pela fonte de energia e transferido para o eletrodo negativo.
Mesmo uma pequena fração do líquido, sempre que um íon negativo é retirado da solução,
o mesmo deve acontecer a um íon positivo ou então, outro íon negativo deve ser substituído imediatamente
(Fig. 3b). Ou seja, a neutralidade elétrica é sempre mantida na solução e nos eletrodos.
As reações são:
Eletrodo positivo 2Cl- → Cl2 + 2e- Oxidação
Eletrodo negativo Na+ + e- → Na redução
Nesta célula eletrolítica particular tornam-se então: sódio (s) no catodo e cloro gasoso no
anodo.
Esta é uma das maiores fontes de sódio metálico puro e de cloro gasoso.
3) Na+(aq) + e- → Na(s)
4) 2H2O(l) + 2e- → H2(g) + 2OH-(aq)
Podemos determinar experimentalmente o resultado desta eletrólise por um simples
exame dos produtos formados nos eletrodos.
Nesse caso o Na+ é mais difícil de reduzir do que a H2O, e o Cl- é mais facilmente oxidado
que a H2O. Resulta, portanto, a redução da água e a oxidação do Cl-.
Como anteriormente, temos também, duas reações possíveis para a oxidação e duas para
a redução, ou seja:
Oxidação
Já vimos uma das aplicações na produção de sódio metálico puro por meio da eletrólise
do NaCl fundido.
A) Alumínio:
Charles Hall (1886) inventou um processo para produzir alumínio; usando Al 2O3 fundido.
Ele preparou uma mistura de Al2O3 com criolita, NaAlF6, e a eletrolisou no estado de Fusão. Descobriu que
a criolita reduz a temperatura de fusão do Al2O3 de 2000oC para 1000oC na mistura.
Bastão de carbono
servem como
anodo e são
Alumina CO2 mergulhados na
+ mistura fundida
Criolita
Grafite →
Ferro revestido de
carbono que serve
como catodo
Alumínio líquido
Eletroquímica Capítulo XIII
Anodo 3
3 O2− (l) → O2 (g) + 6e−
2
Eletroquímica Capítulo XIII
b) Cobre:
No processo de refinação, o cobre impuro é usado como anodo em uma célula eletrolítica
contendo solução aquosa de sulfato de cobre como eletrólito.
O cobre puro se
deposita
Lama anódica (prata, ouro,
platina).
CuSO4 solução
Fe2+, Zn2+
Eletrodeposição
Durante a eletrólise, a voltagem da célula é ajustada, de modo que apenas o cobre e outros
metais ativos, como ferro ou zinco, sejam capazes de se dissolverem no anodo.
No catodo, o Cu2+, que é a espécie mais facilmente reduzida, é que recebe os elétrons,
assim, apenas ele é depositado.
Resultado final cobre transferido de Anodo para Catodo, enquanto que as impurezas
ficam em solução ou como lama anódica.
Eletroquímica Capítulo XIII
IV - SISTEMAS DE UNIDADES
Vimos anteriormente que a extensão de uma reação de eletrólise está ligada ao número
de elétrons perdidos ou ganhos nas reações de oxirredução.
Quando 107,87 g de prata são depositados no catodo, sabemos que um mol de elétrons
deve ter passado na célula.
Quantidade de eletricidade que deve ser fornecida à célula, a fim de depositar um mol de
elétrons denomina-se um Faraday (F)
1) A quantidade de produto primário formado num eletrodo pela eletrólise é diretamente proporcional
à quantidade de eletricidade que passa pela solução;
2) As quantidades de diferentes produtos primários formados num eletrodo pela mesma quantidade
de eletricidade são proporcionais as suas massas moleculares relativas, ou massas atômicas
relativas, divididas pela variação de seu número de oxidação durante o processo eletrolítico.
A quantidade de substância depositada ou dissolvida num eletrodo pela ação de uma dada
quantidade de eletricidade é proporcional a
Mr A (13.1)
(ou r )
Z Z
Onde: Mr = massa molecular relativa e
Ar = massa atômica relativa
Z = variação do número de oxidação associado ao processo eletrolítico.
Logo, para a formação de 1/Z mol de qualquer substância é necessário uma mesma
quantidade de eletricidade. Essa quantidade é igual a 96487 C/equiv. Percebe-se que a carga elétrica
existente em um mol de um íon é igual ao produto do seu número de oxidação pela constante de Faraday
(F), que tem o valor de 96487 C/mol.
Eletroquímica Capítulo XIII
Ex.:
Na eletrólise de sulfeto de cobre (II) entre eletrodos de cobre, ocorre no catodo uma
deposição de cobre:
Cu2+ + 2e- → Cu
A variação do número de oxidação do cobre no processo é 2 e, portanto, 96487 C de
eletricidade depositarão ½ mol de cobre.
Ex.:
Na eletrólise, entre eletrodos de platina, de ferrocianeto de potássio, ocorre no ânodo a
oxidação dos íons ferrocianeto a ferricianeto:
Fe(CN)64− → Fe(CN)36− + e -
Aqui, a variação do número de oxidação é 1 e, portanto, 96487 C de eletricidade levarão
Ex.:
Numa célula eletrolítica como visto anteriormente, quantos gramas de Cu serão
depositados de uma solução de CuSO4 por uma corrente de 1,5 A, fluindo durante 2,0 horas?
Solução:
Inicialmente escreve-se a equação que representa a reação que está ocorrendo: Para o
cobre escreve-se:
+ −
Cu(2aq ) + 2e → Cu(s)
A equação representa uma redução, pois o Cu está sendo depositado de uma solução que
contém Cu2+. A equação fornece:
1mol de Cu ~ 2 moles de elétrons
Ou simplesmente
1 mol de Cu ~2F
Agora se usa a corrente e o tempo para calcular o número de Coulomb fornecidos à
solução. Com isso calcula-se o número de Faradays. Finalmente computa-se o número de moles de Cu e,
a seguir, o número de gramas de Cu.
Q = I.t
Q = A.s
3600s
1,5 Ax2,0h x = 10800 A.s
1h
1 A.s → 1 Coulomb
10800 A.s → x
Eletroquímica Capítulo XIII
10800 A.s x 1 C
x= = 10800 Coulombs
1 A.s
1F → 96500 Coulomb
x →10800 Coulomb
1F x 10800 Coulombs
x= = 0,11F
96500 Coulombs
1mol de Cu → 2 F
x → 0,11 F
1mol de Cu x 0,11F 63,55 g Cu
x= x = 3,5 g de Cu
2F 1mol de Cu
VII - COULÔMETROS
O coulômetro de cobre consiste num ânodo de cobre e cátodo de cobre imersos numa
solução de sulfato de cobre contendo ácido sulfúrico e álcool.
Durante a passagem da corrente, o cobre passa para a solução, e cobre metálico passa a
ser depositado sobre o cátodo. O álcool existente na solução inibe a oxidação do cobre recém-depositado
no cátodo.
(-) (+)
CC
Ag+
NO3- Coulômetro em
série de prata
Figura 7 - Coulômetro de Prata
A mesma corrente e assim o mesmo número de Faraday atravessa as duas células. Assim
é possível utilizar uma reação de oxirredução conhecida numa das células e decidir a substância
desconhecida da outra célula.
Um Faraday atravessa esta célula quando 107,87g de Ag ( 1 mol de Ag) são depositados
na outra célula.
A mesma corrente é passada através das duas células durante determinado tempo.
Verificam-se após interromper a corrente depois de um mesmo período de tempo que 3,5
g de prata foram depositados durante o mesmo período de tempo e que foram obtidos 2,5 g do elemento
desconhecido X. Qual o peso equivalente do elemento X?
Solução:
Corrente e o tempo são os mesmos nas duas células associadas em série igual número
de Faradays passam através de ambas.
Pode-se calcular o número de Faradays fornecidos usando a informação da célula com
íons Ag+.
Sabe-se que:
Eletroquímica Capítulo XIII
Ag(+aq) + e− → Ag(s)
Portanto:
1 mol Ag ~1 F
Ou
107,87 Ag ~1F
1 F → 107,87 Ag
x → 3,5 g Ag
1F x 3,5 g
x= = 0,0324 F
107,87 g
Isto significa que 0,0324 F passaram em ambas as células.
Lembrar que, peso equivalente de uma substância que participa de uma reação de
oxirredução é igual ao peso da substância que ganha ou perde um mol de elétrons (isto é, 1 F).
L (13.3)
R=
a
Onde = constante de proporcionalidade conhecida como resistividade do condutor.
Ex.:
Um pedaço de cobre de 0,2 m de comprimento e secção transversal com área de 10-4 m2
apresenta uma resistência de 3,45 x 10-5 . Qual é a resistividade?
L
R=
a
Ra
=
L
3,45 x10 −5 x10 −4 m 2 0,2 m
=
L
= 1,725 x 10−8 m
Na condução eletrolítica temos mais interesse na condutância do que na resistência.
Quanto melhor condutor for o material, mais baixa será sua resistência, e, portanto, a
condutância é inversamente proporcional à resistência.
I = corrente por unidade de área da seção transversal. Conhecida como densidade de corrente e
a
representada pelo símbolo j.
U = é a queda de potencial por unidade de comprimento e é conhecida como gradiente de potencial, ou
L
intensidade de campo elétrico (E). Portanto:
j (13.9)
K=
E
Assim, a condutividade pode ser considerada como a corrente que passa através de uma
seção transversal unitária sob ação de gradiente de potencial unitário.
X - CONSTANTE DA CÉLULA
Pode ser medida diretamente, mas é mais comum deduzir seu valor, medindo-se na célula
a resistência de um eletrólito de resistividade conhecida com certa precisão. Soluções mais empregadas
para isso são de cloreto de potássio.
Suponha uma solução de cloreto de potássio de condutividade, K o, e que apresenta uma
resistência Ro numa dada célula. Então, da Eq. (13.10) vem
Eletroquímica Capítulo XIII
L (13.11)
Ko =
Roa
L (13.12)
= K oRo
a
Se R for a resistência de uma outra solução na mesma célula, então, sua condutividade
(K) é dada por:
L KR (13.12)
K= = o o
Ra R
XI - CONDUTIVIDADE MOLAR
Ex: Condutividade de uma solução de cloreto de potássio de concentração 102 mol m-3 é igual a 1,29 -
1m-1 a 250C.
1,29 −1 m −1
=
10 2 mol m − 3
= 1,29 x 10 −2 −1 m 2 mol −1
= − k c , (13.15)
Onde k é uma constante. Essa é a equação de uma reta de inclinação –k e interseção , determinada
pela extrapolação à concentração zero (nos casos nos quais a equação é aplicável).
Outros, como o ácido acético (CH3COOH), possuem condutividade molar baixa até
atingirmos diluições muito grandes, nas quais a condutividade molar cresce enormemente. Estes são
chamados eletrólitos fracos; essa classe é constituída principalmente por ácidos e bases orgânicas.
Nem sempre é possível estabelecer-se uma distinção clara entre eletrólitos fortes e
fracos, pois o comportamento de algumas soluções, como sulfato de zinco situa-se entre estes dois
extremos. Estes eletrólitos são chamados eletrólitos intermediários. Os mais importantes são alguns sais
dos metais de transição.
Embora tenha havido, durante o século XIX, duas ou três tentativas de explicar a origem
dos íons existentes em soluções eletrolíticas, só em 1887, quando Arrhenius propôs sua teoria da
ionização, chegou-se à explicação razoavelmente bem sucedida.
BA B+ + A-
À medida que a diluição aumenta, o equilíbrio é deslocado para a direita, ocorrendo maior
ionização, até que, com diluição infinita, a ionização seja total.
, que é a condutividade molar limitante em diluição infinita, deveria ser uma medida do
número total de íons que podem ser formados e, , em qualquer outra concentração c, deveria ser uma
indicação do número de íons presentes nesta solução particular.
Se as velocidades dos íons não variarem com a concentração, então a relação entre. .
e . . será igual ao grau de ionização ()
(13.16)
=
Ostwald (1888) aplicou a lei do equilíbrio à ionização de um eletrólito. Considere um
eletrólito binário BA, que forma os íons B+ e A-, em uma solução na qual a concentração de BA é c. Suponha
que uma fração de BA se ionize, de modo que a concentração de BA não-ionizada é c(1-), e a
concentração de cada íon formado, B+ e A-, é . c:
BA B+ + A-
c(1-) c c
Eletroquímica Capítulo XIII
[ B+ ][ A − ]
=k
[BA]
Onde k é uma constante e os termos entre colchetes representam as concentrações.
−1 −1
Tabela 4 – Dados para ácido acético a 25oC ( = 390,7 cm mol )
2
Dados para eletrólitos fortes, como os de cloreto de potássio na tabela 4 mostram que a
teoria não é aplicável neste caso. A única conclusão que se pode tirar é que, para eletrólitos fortes, /
não é igual ao grau de ionização.
−1 −1
Tabela 4 – Dados para KCl a 25oC ( = 149,86 cm mol )
2
Por que os íons são separados tão facilmente quando colocados em água??
Pode ser evidenciado pelo alto ponto de fusão de tais cristais. (Ex: NaCl funde a 8010C)
A resposta pode ser encontrada na lei de Coulomb do inverso do quadrado da distância
que governa a força de atração existente entre partículas com cargas opostas.
O valor de para o ar é apenas cerca de 1/80 do valor para a água. Portanto, na água a
força entre íons é muito menor trabalho menor para afasta-los.
Cristal colocado na água, os íons tornam-se hidratados e o sistema perde alguma energia
livre, suficiente para realizar o trabalho de separar os íons.