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BRUNA CORSANI SEIDE

PSICÓLOGA
CRP/SC 188771-12ª

A espontaneidade

Uma das frases mais conhecidas de Jean-Paul Sartre é de que a “existência


precede a essência”. E o que isso quer dizer? Quer dizer que primeiro
nascemos enquanto um corpo e consciência, ou seja, um corpo biológico que
tem algumas características específicas como a capacidade de estabelecer
relações com os outros, e que, posteriormente, constituímos nossa
personalidade.

Então, se por um lado nascemos com traços físicos definidos, em termos de


personalidade o mesmo não acontece. Nossa dinâmica psicológica vai se
constituindo nas relações que estabelecemos com o mundo, com as coisas e
com os outros.

Essas relações se dão de forma espontânea, quando mergulhadas nas


situações, mas também de modo reflexivo, quando tomamos nossas vivências
como objeto de consciência. Nesse momento de reflexão, avaliamos nossas
experiências e nos apropriamos de como agimos e de quem nos tornamos por
meio de nossas ações.

Reflexões e relações espontâneas

Assim, existem dois modos de nos relacionarmos com a realidade: de forma


espontânea, ou de forma reflexiva. No espontâneo, estamos mergulhados nas
situações. Na consciência reflexiva, estamos situados de quem somos quando
agimos – nosso “eu” está presente em nossos pensamentos e ações.

Vamos a um exemplo: quando aprendemos a dirigir, muitas vezes ficamos


tensos e preocupados. Precisamos pensar a cada movimento realizado: onde
vamos colocar nossos pés, em que momento vamos trocar a marcha, como
vamos sincronizar essas ações com o olhar para o trânsito e tomar decisões.

Então, no início do aprendizado, estamos o tempo todo situados. Nosso “eu”


está presente em nossa relação com o agir no mundo. Nos perguntamos: “o
que faço agora?”, “qual é a melhor marcha para essa velocidade?”, “será que é
o momento certo de ultrapassar outro carro?”, “onde coloco meu pé nesse
momento?”, “qual a sequência de atos é a adequada para reduzir a marcha?”.

Essas ações são realizadas a partir de uma consciência reflexiva, que nos
indica que somos nós (talvez inexperientes, inseguros) tentando dirigir da
melhor maneira possível.
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Na medida em que vamos aprendendo com a prática, nos tornamos cada vez
mais confiantes para dirigir. Passamos a realizar os movimentos de forma
espontânea, sem precisar pensar em cada atitude tomada para fazer o carro ir
pela direção correta, na velocidade adequada, com a marcha certa.

Isso não significa que nosso “eu” não esteja mais lá. Significa que não estamos
mais o tempo todo situados das ações, refletindo e planejando cada uma das
escolhas. Podemos agora dirigir e pensar no que vamos fazer quando chegar
ao destino, podemos lembrar de algo que acabou de acontecer antes de sair
de casa ou planejar nosso dia.

Depois de ter aprendido, na maior parte das vezes, dirigimos estando nesse
modo de consciência espontânea. Inclusive, por vezes, se algo inesperado
acontece – alguém atravessa nosso caminho subitamente, algum carro à nossa
frente freia bruscamente – saímos da espontaneidade e nos situamos do modo
como estávamos até então: distraídos, pensando em outras coisas, com
pensamentos distantes da ação de dirigir – e assumimos uma consciência
reflexiva, para nos reorganizarmos na nossa trajetória.

A espontaneidade e o “eu” reflexivo

Esse modo espontâneo de estar em relação com o mundo não é um problema.


Nem irá, necessariamente, gerar complicações em nossa personalidade. Pelo
contrário, em muitas situações ele será fundamental para a realização de
nossos desejos e projetos.

Por exemplo: se estamos em uma relação amorosa, será importante estar


entregue a um encontro com o outro, mergulhado na experiência de sentir sua
presença, receber seu carinho, permitir que as emoções surjam e nos
envolvam. É isso que viabiliza um encontro amoroso agradável – estarmos
envolvidos e entregues ao momento.

Se, pelo contrário, estamos o tempo todo pensando “será que estou fazendo a
coisa certa?”, “será que estou agradando”?, “por que o outro está falando isso
agora? Por que está me olhando assim?”, ou seja, se nosso “eu” aparece em
nossas reflexões, entraremos em uma tensão que não possibilitará um
encontro genuíno com o outro, nem uma conexão efetiva, uma entrega à
ocasião.

É, assim, nessa espontaneidade que saboreamos a vida. É nela que as


emoções acontecem com intensidade e é nelas que podemos usufruir de
sensações que nos dão as certezas de estarmos no caminho certo para a
realização de nosso ser.
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Por outro lado, é nela também que ao nos sentirmos desconfortáveis (inclusive
fisicamente), com impressões de angústia ou de não estarmos no lugar certo,
podemos desconfiar que talvez aquelas situações indiquem que, ali, não
estamos realizando nossos desejos.

A espontaneidade e o desejo de ser

A espontaneidade é, portanto, necessária. Porém, os momentos de reflexão


serão importantes para que, ao ir para o espontâneo, possamos agir de acordo
com nossos desejos. Ou seja, realizando ações que se vinculem a outras já
realizadas e que contribuam para o alcance de nossos projetos.

Dessa forma, a reflexão nos oportuniza que nossos atos não sejam uma mera
sucessão de momentos presentes, desconectados a outras ações de nosso
passado e sem nos direcionar ao futuro que desejamos.

Portanto, a reflexão é um momento importante e “preparatório” para que os


mergulhos na espontaneidade nos permitam viver de modo leve. Usufruindo
das situações, mas sem nos fazer perder a direção de nosso projeto.
Poderemos estar imersos nas vivências, mas com a segurança de que nossas
escolhas estão nos aproximando de quem desejamos ser e do o que
desejamos viver.

Experiência de tensão

Por outro lado, é importante não nos aprisionarmos na reflexão. Algumas


pessoas passam muito tempo de suas horas e dias avaliando reflexivamente
cada uma das situações que vão enfrentar.

Como no exemplo do encontro amoroso, não se permitem relaxar e usufruir do


momento. Permanecem o tempo todo posicionados em relação a si mesmos,
avaliando cada ação e escolha, não indo para a espontaneidade.

Esse movimento é gerador de tensão e pode levar ao sofrimento. Além disso,


pode fazer com que as pessoas não experimentem sentimentos de prazer,
bem-estar e de ligação profunda com os outros e com as vivências.

Pessoas que permanecem na reflexão na maior parte do tempo podem passar


a vida agindo do modo como acreditam que, socialmente, seja o melhor a
fazer. Por isso, muitas vezes não se permitem fazer escolhas conforme seus
próprios desejos, não permitem demonstrar aos outros emoções que surgem
no momento em que acontecem.

Essas pessoas usam muito de sua energia pra pensar, antecipar e controlar
seus sentimentos e suas expressões, desgastando-se e colocando-se em uma
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experiência de solidão, visto que pouco do seu mundo é compartilhado com os


outros.

Equilíbrio entre espontaneidade e reflexão

Por essa razão, lembre-se: a vida acontece no espontâneo. Os sabores da


existência são experimentados quando estamos envolvidos e entregues às
situações. Por isso, permita-se.

VOCÊ TEM UM PROJETO OU DESEJO QUE NÃO SEJA RELACIONADO


NEM AO TRABALHO NEM À FAMÍLIA?

As vezes ajuda pensar em nós mesmos, ter projetos que visam nossa
satisfação pessoal, algo que nos anome e possamos nos dedicar.

HÁ ALGO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS FAZER MAS TEVE MEDO DE


TENTAR?

Identificar nossos objetivos, identificar o que nos bloqueia pode ajudar a


participar de forma espontânea em atividades que tenham a ver com estes
objetivos.

QUE ATIVIDADES ATÉ HOJE LHE DERAM MAIOR GRAU DE


GRATIFICAÇÃO, AUTO-ESTIMA, SENTIMENTO DE IMPORTÂNCIA,
REALIZAÇÃO?

Identificar o que nos agrada pode ajudar a repetir ou procurar atividades


similares.

VOCÊ ESTÁ SENDO FIEL A SEUS PRÓPRIOS VALORES?

Se não estiver o que poderia fazer para começar a ser? Perceba o que está te
impedindo de, por exemplo, defender publicamente uma ideia mesmo que
polemica. Ao se calar você pode estar bloqueando sua espontaneidade. Será
que você tem medo de ser criticado? Porque seria tão ruim receber criticas?
Será que você foi punido severamente através de criticas ao longo de sua
vida?

VOCÊ SE DÁ O DIREITO DE FAZER COISAS SIMPLESMENTE POR QUE


ADORA FAZER?

Tem passatempos? Consegue olhar para o mundo, para o que as outras


pessoas estão fazendo e sentir aquele "friozinho na barriga" de vontade de
fazer coisas legais? Vai atrás do que te motiva sem se incomodar na
possibilidade de realizar a tal coisa forma perfeita? Tem alguma atividade a
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qual outras pessoas diriam que é ridícula mas ainda assim você não se
incomoda e vai em frente?

QUE COISAS VOCÊ GOSTARIA DE FAZER OU REALIZAR?

Pense em tudo sem se deixar limitar pela "realidade". Quer ser piloto de avião?
Dançar no meio da rua? Cantar no karaokê? Imagine-se realizando estas
coisas. Feche os olhos e divirta-se com sua própria imagem. Agora pense no
que poderia fazer para realizar. São dicas que podem incentivar um
comportamento espontâneo.

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