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Atualmente, o sistema endócrino é definido como uma rede integrada de múltiplos órgãos,
de diferentes origens embriológicas, que liberam hormônios, sendo que esses exercem seus
efeitos em células-alvo próximas ou distantes. O sistema endócrino é constituído essencialmente
por três componentes básicos, a seguir:
O tecido adiposo é dividido em dois tipos, que são classificados em função da estrutura de
suas células, localização, coloração, vascularização e funções: o tecido adiposo marrom (TAM) e
o tecido adiposo branco (TAB). O TAM apresenta como principal característica ser termogênico
(gerar calor), regulando a produção de calor e consequentemente a temperatura corporal. Os
adipócitos marrons são menores que os adipócitos brancos e possuem várias gotículas de
triglicerídeos de diferentes tamanhos, citoplasma relativamente abundante e numerosas
mitocôndrias. A sua capacidade de produzir calor é pelo fato de que suas mitocôndrias não
possuirem o complexo enzimático necessário para a síntese de ATP e utilizam a energia liberada,
principalmente dos ácidos graxos, para a termogênese. Esse processo ocorre através da proteína
desacopladora-1 (UCP-1, também conhecida como termogenina), localizada na membrana
mitocondrial interna. A coloração escurecida (origem do nome “adipócito marrom”) é devido à alta
concentração de citocromo oxidase dessas mitocôndrias. Por sua vez, o TAB tem como principal
função armazenar lipídeos na forma de triacilgliceróis, tendo capacidade de armazenar 200.000 a
300.000 kcal em indivíduos adultos não obesos. Ele possui uma distribuição generalizada pelo
organismo, envolvendo ou mesmo se infiltrando por quase toda a região subcutânea, por órgãos
e vísceras ocas da cavidade abdominal ou do mediastino e por diversos grupamentos
musculares. A função do TAB é fornecer proteção mecânica, amenizando o impacto de choques
e permitindo um adequado deslizamento de feixes musculares, uns sobre os outros, sem
comprometer a sua integridade funcional. Além disso, por possuir distribuição mais abrangente,
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incluindo derme e tecido subcutâneo, também é considerado um excelente isolante
térmico. Pesquisas realizadas nas últimas décadas evidenciam, igualmente, a capacidade do TAB
de secretar hormônios, mostrando, portanto, o seu papel endócrino. Esses hormônios são
denominados de adipocinas e revolucionaram os conceitos sobre a função biológica do tecido
adiposo branco, demonstrado que sua função não é apenas de fornecer e armazenar energia,
mas também de ser um órgão dinâmico e central da regulação metabólica. Além disso, o TAB
pode ser classificado segundo sua distribuição em: tecido adiposo subcutâneo (TAS) e tecido
adiposo visceral (TAV). O TAS se concentra no abdômen, abaixo da pele e regiões femoral e
glútea, enquanto o TAV situa-se junto às vísceras, compondo a gordura visceral. O TAV e o TAS
mostram certas diferenças e especificidades no que tange à função e até ao metabolismo, por
exemplo, os adipócitos viscerais respondem melhor ao efeito lipolítico induzido pelas
catecolaminas e são mais resistentes ao efeito antilipolítico induzido pela insulina. Isso explica por
que a remoção de lipídeos é mais resistente nas porções femoral e glútea (tecido adiposo
subcutâneo). Ao que parece o TAV é mais sensível às catecolaminas por apresentar maior
quantidade de beta adrenoreceptores.
Os adipócitos, por muitos anos, foram considerados células inertes que armazenavam
gordura quando o indivíduo estava saciado e a liberava em momentos de jejum. Entretanto,
evidências demonstram que o tecido adiposo é um ativo e dinâmico órgão endócrino, que tem
papel central no controle do metabolismo, além de interagir com outros órgãos e sistemas. Sua
interação com o organismo pode ser comprovada através da grande gama de substâncias que
atuam sobre esse tecido, estimulando ações tais como: adipogênese, secreção de substâncias,
sítio de metabolização de hormônios esteroides sexuais e resposta frente à estimulação de
hormônios e secreção de substâncias bioativas, denominadas adipocitocinas (ou adipocinas).
Estas adipocinas, em sua grande maioria, estão relacionadas, direta ou indiretamente, a
processos que contribuem para o desenvolvimento de: aterosclerose, hipertensão arterial,
resistência insulínica (RI), diabetes tipo 2 (DM2) e dislipidemias e representam um elo entre
adiposidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. As adipocinas mais comumente
estudadas compreendem: a) proteínas relacionadas à resposta imunológica - interleucina 6 (IL-6);
b) fatores de crescimento - fator transformador de crescimento β (TGF-β); proteínas da via
alternativa do sistema complemento (adipsina). Existem ainda adipocinas envolvidas no controle
da pressão arterial (angiotensionogênio); da coagulação sanguínea 1 (inibidor do ativador de
plasminogênio (PAI-1); controladores da homeostase glicêmica (adiponectina, resistina, visfatina,
leptina – sendo essa a primeira adipocina descoberta, no ano de 1994); substâncias envolvidas
com a angiogênese - fator de 3 crescimento endotelial vascular (VEGF). A adiponectina, leptina,
resistina e visfatina são consideradas as principais adipocinas relacionadas com a obesidade e a
resistência à insulina, sendo que os adipócitos produzem em maior quantidade a leptina e a
adiponectina.
- Adiponectina: Em contraste à maioria das proteínas secretada pelos adipócitos, sua expressão
diminui à medida que o tecido adiposo aumenta. Indivíduos com concentrações circulantes
elevadas de adiponectina estão menos sujeitos ao desenvolvimento de diabetes tipo II, quando
comparados àqueles com concentrações reduzidas (aumenta a sensibilidade periférica à
insulina). Também apresenta efeito antiaterogênico e anti-inflamatório, além de proporcionar
aumento no gasto energético.
- Visfatina: É uma adipocina recentemente descrita, que parece reduzir a resistência periférica à
insulina, cujos mecanismos envolvidos em tal condição ainda não foram esclarecidos.
- Fator de Necrose Tumoral (TNF-alfa): Seu efeito biológico é lipolítico, promovendo aumento
do consumo energético e redução da sensibilidade à insulina.
- Apelina: Suas ações biológicas no controle dos estoques energéticos corporais ainda não estão
muito bem esclarecidas.
O hormônio leptina é uma proteína produzida no tecido adiposo, sendo que quanto maior
a massa adiposa corporal, maior será a quantidade de leptina produzida. Sua liberação ocorre
durante a noite, principalmente nas primeiras horas da manhã. Tal hormônio reduz o apetite e
aumenta o gasto energético, além de estar relacionada ao metabolismo de glicose. Altos níveis
de leptina reduzem a ingestão alimentar enquanto baixos níveis induzem a hiperfagia (ingestão
Neste sentido, outro hormônio que também está relacionado com o controle do apetite é
a grelina. Trata-se de um hormônio proteico, estimulador da liberação do hormônio
do crescimento (GH), porém, sua principal função é orexígeno, ou seja, induz o apetite, além de
controlar o balaço energético. Portanto, apresenta efeitos contrários à leptina. Esse hormônio é
encontrado e produzido no estômago, na mucosa oxíntica, e também possui outras funções
importantes como estimular a secreção ácida, promover a motilidade estomacal e atuar no
metabolismo da glicose. Sobre sua ação no controle do apetite, a grelina parece estar ligada ao
estimulo no inicio de uma refeição, ou seja, ao apetite, aumentando a ingestão alimentar.
Figura 5: os hormônios leptina e grelina e sua relação com a fome e a saciedade. Disponível em:
https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/hormones-regulating-appetite-leptin-satiety-
hormone-316922606?src=e19-_oTDdJ8OSIPq8NqPWA-1-2. Acesso em: 03/11/2017.
Outro hormônio que também está envolvido no controle do apetite é a insulina. Além de
promover a captação da glicose e controle da glicemia, atua no metabolismo das gorduras, pois
quando ocorre uma hiperglicemia os níveis de insulina são aumentados e, consequentemente, há
captação da glicose sérica para o interior do tecido adiposo, gerando maior acúmulo de gorduras.
Por outro lado, estudos experimentais demonstraram que a insulina tem uma função essencial no
sistema nervoso central para incitar a saciedade, aumentar o gasto energético e regular a ação
da leptina. A insulina ainda interfere na secreção de entero-hormônios como glucagon-like-
peptide (GLP 1), que atua inibindo o esvaziamento gástrico e, assim, promovendo uma sensação
de saciedade prolongada, lembrando que indivíduos obesos têm elevadas concentrações de
insulina e leptina. Ainda, ressalta-se que a insulina tem o efeito periférico de aumentar a captação
de glicose e lipídeos, levando à queda da glicemia e à consequente fome rebote, além de
favorecer o aumento dos estoques de gordura, respectivamente.
Existe também o mecanismo metabólico de regulação do apetite, que irá depender das
necessidades energéticas de cada indivíduo, sendo tal mecanismo regulado pelo sistema nervoso
Referente à síndrome metabólica (SM), o estudo relacionado a essa condição tem sido
dificultado pela ausência de consenso na sua definição e nos pontos de corte dos seus
componentes, que repercutem diretamente na prática clínica e nas políticas públicas de saúde.
Neste contexto, são considerados fatores de risco metabólicos: dislipidemia aterogênica
(hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteína B, partículas de LDL-colesterol pequenas
e densas e níveis baixos de HDL-colesterol), hipertensão arterial, hiperglicemia e um estado pró-
inflamatório e pró-trombótico. Ainda não está estabelecido se há uma causa única ou múltiplas
causas para o desenvolvimento da SM, entretanto, sabe-se que a obesidade abdominal e a
resistência à insulina parecem ter um papel fundamental na origem desta síndrome.
Mesmo com tais atualizações, a medida de circunferência abdominal acima dos valores
propostos é a condição fundamental para o diagnóstico de SM, associado a mais dois critérios.
Ou seja, a presença de adiposidade central (ou visceral) é o ponto chave para a definição de SM,
justamente por ser esse o tipo de distribuição de gordura corporal que representa fator de risco
cardiometabólico.
Outro aspecto importante a ser considerado é a alteração dos níveis dos lipídios
sanguíneos. O acúmulo de gordura no fígado, oriunda do excesso de ácidos graxos circulantes,
proporciona o desenvolvimento da dislipidemia aterogênica (que também pode estar presente na
SM).
Nos dias atuais, a obesidade é uma enfermidade caracterizada por um baixo grau de
inflamação crônica no TAB, detectada, especialmente, por duas evidências científicas: a)
elevação de marcadores e citocinas inflamatórias e b) presença de macrófagos infiltrados no
TAB. Mesmo assim, apesar de nem todos os mecanismos estarem esclarecidos, há evidências
que esse estado inflamatório (local ou sistêmico) esteja relacionado, como causa ou
consequência, a desordens como resistência insulínica, diabetes mellitus, hiperlipidemia,
hipertensão arterial, aterogênese e, consequentemente, à síndrome metabólica.
Finalmente, conforme já foi citado, o tecido adiposo secreta diversas substâncias, entre as
quais merecem destaque as pró-inflamatórias. O principal hormônio anti-inflamatório produzido
pelo tecido adiposo é a adiponectina, que se encontra reduzido em indivíduos obesos. Por outro
lado, dentre os principais fatores pró-inflamatórios produzidos pelo tecido adiposo e que
aparecem aumentados em obesos, são: a resistina, a interleucina 6 (IL-6), o fator de necrose
tumoral alfa (TNF-alfa), e o PAI-1 (antígeno inibidor do plasminogênio). Tudo indica que o
excesso de tecido adiposo induz uma desregulação na produção de adipocinas, substâncias
metabolicamente ativas produzidas pelo adipócito. Assim, ocorre um excesso na produção de
adipocinas inflamatórias, como IL-6 e TNF-alfa, resultando em um estado inflamatório crônico do
organismo, bem como a resistência à insulina e disfunção endotelial.
FIQUE ATENTO:
Apesar de já estar comprovado que o excesso de peso/obesidade é um fator de risco isolado
para o desenvolvimento de outras enfermidades, inúmeros estudos têm demonstrado a
importância das formas de distribuição da gordura corporal. Dentre os diferentes compartimentos
do tecido adiposo, o tecido visceral parece ser o mais ativo, liberando maiores quantidades de
ácidos graxos livres e secretando maiores concentrações de adipocitocinas, quando comparado à
adiposidade periférica. Assim, a obesidade central (ou visceral, ou abdominal), que é um dos um
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dos componentes da síndrome metabólica, representa um importante fator de risco
cardiometabólico.
SAIBA MAIS:
Apesar de não fazerem parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, diversas
condições clínicas e fisiopatológicas estão frequentemente a ela associadas, como por exemplo:
síndrome de ovários policísticos (SOP), acanthosis nigricans, doença hepática gordurosa não
alcoólica, microalbuminúria, estados pró-trombóticos, estados pró-inflamatórios e de disfunção
endotelial e hiperuricemia. Isso ratifica o quanto a SM provoca alterações importantes na
homeostase do organismo e pode desencadear inúmeros agravos à condição de saúde e,
portanto, deve ser prevenida.
Obesidade
A maioria dos indivíduos com obesidade acredita ser possível controlar o peso corporal e
moldar o corpo, desconsiderando sua fisiologia ou genética. Apesar de ser difícil motivar os
pacientes obesos a abandonar o foco de redução ponderal por motivos estéticos, os profissionais
devem dar ênfase na melhora da condição de saúde através da perda de peso, que seja factível e
possível de ser sustentada. Neste contexto, o tratamento da obesidade objetiva a interrupção do
ganho de peso, a obtenção e a estabilização do peso que seja capaz de trazer benefícios à saúde
de maneira geral, além do controle e da prevenção das comorbidades. Para isso, torna-se
necessário fazer modificações no estilo de vida que sejam toleráveis, agradáveis e permanentes.
Pelo caráter multifatorial da etiologia da obesidade, o seu tratamento também deve englobar
diferentes áreas de atuação. Embora os exercícios físicos não contribuam de maneira significativa
para a redução de peso na fase inicial da abordagem, quando associados à alimentação
hipocalórica eles são essenciais para manter a perda de peso em longo prazo. Da mesma forma,
o acompanhamento psicológico desses pacientes é fundamental, a fim de permitir o sucesso
terapêutico. Conforme a International Obesity Task Force (IOTF), a seleção das estratégias para
a abordagem no tratamento da obesidade devem considerar os pontos de corte do Índice de
Massa Corporal (IMC) e a presença ou não de fatores de risco associados, conforme segue:
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Tabela 1 – Critérios para seleção das estratégias de tratamento da obesidade conforme o IMC e a
presença ou não de fatores de risco associados:
Fonte: Adaptado de The Internacional Obesity Task Force. Disponível em: http://www.ioft.org,
2006.
Ainda, existe o tratamento cirúrgico da obesidade. Indivíduos com IMC igual ou superior a 45
kg/m² apresentam uma diminuição da expectativa de vida e um aumento da mortalidade por
causa cardiovascular, que pode chegar a 190%. Nesse contexto, a cirurgia bariátrica é um
recurso consistente nos casos de obesidade grave com falha documentada de tratamento clínico,
proporcionando aos pacientes uma redução nos índices de mortalidade e melhora de
comorbidades clínicas.
No período pré-operatório, é fundamental que o paciente seja orientado sobre o programa a que
ele será submetido. Durante o preparo, quando será assistido por equipe multiprofissional, devem
ser avaliados aspectos clínicos, psicológicos e nutricionais relacionados à condição de obesidade
e que atendem aos critérios da cirurgia já mencionados. Nesta fase, é comum a oferta de plano
de restrição calórica moderada visando ao emagrecimento, cuja adesão pode ser apoiada pelo
uso de terapia medicamentosa. É importante que o candidato à cirurgia demonstre interesse pela
sua alimentação, aprimorando suas atitudes em relação à disciplina alimentar e à seleção de
alimentos, práticas que precisam ser mantidas após a cirurgia. Assim, representam os objetivos
deste período: • Orientar o candidato à cirurgia. • Reduzir o risco cirúrgico induzindo a perda
ponderal. • Estimular uma atitude adequada do obeso com a sua alimentação.
Normalmente, inicia-se a dieta oral líquida 24 horas após o procedimento cirúrgico, mas pode ser
necessária a introdução de nutrição parenteral em pacientes de alto risco. O protocolo de
progressão da dieta alimentar depende do tipo de cirurgia realizada, mas, como regra geral, o
paciente deve realizar pequenas refeições balanceadas, diversas vezes ao dia, sem a ingestão
simultânea de líquidos. A presença de fibras é obrigatória e o consumo de proteínas, em torno de
60 a 120 g por dia. A perda ponderal estabiliza-se em média 18 meses após a cirurgia, época em
que geralmente ocorre perda máxima do peso (podendo chegar a mais de 80% do excesso
deste). Considera-se o tratamento cirúrgico da obesidade bem sucedido se houver perda de, no
mínimo, 50% do excesso de peso e o paciente deixar de ser obeso mórbido, sendo necessária a
manutenção dessas condições pelo período de cinco anos. Só se pode efetuar avaliação de
sucesso, no mínimo, após 24 meses do pós-operatório, pois pode haver reganho ponderal entre
dois e cinco anos após a cirurgia.
Comumente, o seguinte padrão dietético no pós-operatório tem sido adotado por diversos
serviços de saúde e/ou profissionais.
Síndrome Metabólica
A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são
considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome
metabólica. A adoção de um plano alimentar saudável é fundamental no tratamento da síndrome
metabólica.
- Proteína: É recomendada uma ingestão diária de proteínas de 0,8g a 1g/kg de peso atual ou
15% do VET. Embora dietas hiperproteicas e baixa em carboidratos possam promover a redução
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de peso e melhorar a glicemia em curto prazo, não está bem estabelecida a sua efetividade em
longo prazo.
- Vitaminas e minerais O plano alimentar deve prover a recomendação para o consumo diário de
duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas) e de
três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Recomenda-se, sempre que possível, dar
preferência aos alimentos integrais.
- Sal de cozinha: Deve ser limitado a 5 ou 6g/dia. Devem ser evitados os alimentos processados
como embutidos, conservas, enlatados, defumados e salgados de pacotes tipo snacks. Ao
contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em
vez de condimentos industrializados.
Ressalta-se que o plano alimentar deve ser fracionado em cinco refeições, sendo três principais e
dois lanches. Quanto à forma de preparo dos alimentos, preferir os grelhados, assados, cozidos
no vapor ou até mesmo crus. Os alimentos diet e light podem ser indicados no contexto do plano
alimentar e não utilizados de forma exclusiva. Igualmente, devem ser respeitadas as preferências
individuais e o poder aquisitivo do paciente e da família.
EXEMPLOS:
Para conseguir controlar o consumo de gorduras, deve-se limitar o consumo de carnes gordas,
embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco, molhos, cremes e doces ricos em
gordura e alimentos refogados e temperados com excesso de óleo ou gordura. Peixes da costa
brasileira, como por exemplo, a Sardinha, a Pescada, a Truta e o Cherne apresentam boas
quantidades de gorduras insaturadas e são ótimas opções de consumo.
Os nutracêuticos são alimentos ou partes deles que proporcionam bem-estar e qualidade de vida.
Tais alimentos podem abranger nutrientes isolados, suplementos dietéticos em cápsulas e dietas
até produtos beneficamente projetados, herbais e alimentos processados, tais como cereais,
sopas e bebidas. Vários nutracêuticos podem ser produzidos com o uso de microrganismos
chamados GRAS (Generally Recognized as Safe) e classificados genericamente como fibras
dietéticas, ácidos graxos poliinsaturados, proteínas, peptídios, aminoácidos (ou cetoácidos),
minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio).
Nutracêutico significa a junção das palavras nutrient (nutriente) e pharmaceutics, ou seja, a forma
de apresentação similar aos medicamentos, como cápsulas, cápsulas gelatinosas ou até mesmo
soluções prontas para o consumo. Eles incorporam frequentemente extratos produzidos a partir
de alimentos, de substâncias sintetizadas ou de vegetais, como a cafeína extraída do guaraná,
por exemplo.
Diversas pesquisas têm procurado apresentar soluções promissoras para auxiliar no controle da
obesidade, sendo que uma das alternativas eficazes seria a suplementação com princípios ativos,
com efeito de antiobesidade originado dos metabólitos secundários das plantas medicinais,
também conhecido como nutracêuticos, podendo gerar impactos bem mais eficazes. Os
compostos bioativos por si só atuam como forte coadjuvante para o tratamento da obesidade,
devido aos valiosos agentes hipolipemiantes e hipocolesterolêmicos. Neste sentido, existem
evidências de que muitos produtos naturais podem auxiliar no tratamento da obesidade, atuando
em cinco diferentes mecanismos diferentes, como substâncias que: (1) diminuem a absorção de
lipídios, (2) reduzem a absorção de carboidratos, (3) aumentam o gasto energético, (4) diminuem
a diferenciação e proliferação de pré adipócitos, (5) reduzem a lipogênese e aumentam a lipólise.
Dentre os produtos utilizados estão inúmeras plantas medicinais, fitoterápicos e/ou nutracêuticos,
utilizados como coadjuvantes no tratamento da obesidade por possuírem componentes químicos
como flavonoides, alcaloides, terpenoides, dentre outros que favorecem o emagrecimento.
- Fibras alimentares: Exercem efeito sobre a saciedade e a ingestão de alimentos, pois o seu
consumo requer maior mastigação e isso aumenta os estímulos salivares e a liberação de ácidos
estomacais, além de retardar o esvaziamento gástrico fazendo com que aumente a sensação de
saciedade. As fibras solúveis (por exemplo: goma guar e pectina), parecem apresentar melhor
efeito sobre a sensação de fome e a redução ponderal quando comparadas às fibras insolúveis,
justamente pela sua alta capacidade de absorver água/líquidos. Entretanto, os mecanismos de
ação das fibras na homeostase energética ainda não estão totalmente esclarecidos. Estudos
sugerem a ingestão 700 a 1.200mg/dia, antes das principais refeições (almoço e jantar).
-Capsaicina: Composto bioativo presente nas pimentas vermelhas, também classificado como
um potente termogênico e saciador. O mecanismo de ação ocorre pela secreção de
catecolaminas ativadas pelo sistema nervoso central (SNC), através de estimulação adrenérgica.
Dose recomendada pelos fabricantes: 6mg/dia de capsaicina.
Tais produtos apresentam como estratégia de marketing o slogan de que “nutrem de dentro para
fora”. Entretanto, não há o registro destes produtos no Brasil (segundo a Anvisa), sendo que os
mesmos possuem registros incorporados como alimento funcional ou suplemento alimentar, pois
são de uso por via oral.
Dentre muitos destes produtos, aqueles que são usados para a redução de peso ficam entre os
suplementos à base de cafeína e outros compostos que estimulam o metabolismo lipídico, o
aumento do gasto energético por termogênese, a termogênese e redução da ansiedade com
diminuição da ingestão calórica.
Neste sentido, há um produto lançado no mercado, composto por uma emulsão lipídica vegetal
fracionada com água (água, óleo de palma, revestidos com galactopeptídeos de óleo de aveia),
aromas de baunilha com caramelo e de creme, adicionado dos edulcorantes artificiais
acessulfame K e sucralose, que tem por finalidade atuar na saciedade e auxiliar na redução e
manutenção de peso, gordura corporal e circunferência da cintura após o uso de alimentação
hipocalórica. Conforme informações do fabricante, tais partículas revestidas conseguem atingir de
maneira intacta o íleo, agindo no controle do apetite e gerando sensação de saciedade. Conforme
informações no rótulo do produto, a posologia indicada é de 7,5mL 4 horas antes das principais
refeições (almoço e janta).
Quanto aos fitoterápicos, estes são os mais utilizados como adjuvantes no tratamento da
obesidade:
- Camellia sinensis(L.) Kuntze (Theaceae). O Chá verde é a fonte de diferentes tipos de chá,
uma das bebidas mais consumidas no mundo. Os chás de Camellia sinensis recebem diferentes
nomes populares, como chá-verde, chá-preto, chá-branco, chá-vermelho. Dos quatro tipos de
chás, o chá verde é o mais rico em compostos com atividades termogênicas e lipolíticas.
Apresenta várias atividades biológicas, incluindo a antioxidação e a antiobesidade devido seu
efeito termogênico. São os polifenois os principais compostos com atividade termogênica, assim
como a presença de catequinas e cafeína. Estudos apontam que a ação antiobesidade do
fitoterápico, principalmente através da promoção oxidação das gorduras e a termogênese,
podendo contribuir positivamente no tratamento da obesidade. Relativo à dose, alguns estudos
apontam que o consumo de 3 a 5 gramas de folhas/dia teriam efeito benéfico sobre o gasto
energético.
- Crocus sativus, stygma: Supressor da fome: exerce um efeito sobre a saciedade diminuindo a
compulsividade por refeições desnecessárias.
- Undaria pinnatifida, algae: Atua diretamente nos adipócitos, induzindo a lipólise através da
oxidação preferencial de ácidos graxos como fonte de energia para o organismo. Com isso o
tecido adiposo reduz sua capacidade de estocar gorduras.
A síndrome metabólica (SM) constitui uma série de fatores de risco de gênese metabólica, que
proporcionam o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de diabetes melito tipo 2 (DM2).
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Independentemente do grupo ou entidade que define a SM, os fatores de risco, ou seja, os
componentes adotados para sua definição são praticamente os mesmos e incluem: obesidade
(especialmente a do tipo abdominal), elevação dos níveis pressóricos, distúrbios no metabolismo
da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos níveis de HDL colesterol, fazendo com a prevenção e
o tratamento dessa enfermidade seja amplo e possa atingir todos aqueles fatores que estejam
presentes na definição do seu diagnóstico. Neste sentido, mudanças no estilo de vida, que
passam fundamentalmente pela adoção de hábitos alimentares saudáveis, representam a base
das medidas preventivas e de tratamento da SM.
A restrição calórica, que possa promover a redução ponderal moderada e sustentada tem efeitos
benéficos no perfil lipídico, nos níveis pressóricos e na glicemia, representando uma importante
recomendação na abordagem nutricional de indivíduos com SM. Associado a tal recomendação,
muito se tem investigado quanto ao efeito da inclusão de alimentos funcionais e/ou nutracêuticos
como adjuvantes no tratamento dietoterápico desta síndrome.
- Ácido graxo Ômega-3: Favorece a manutenção e/ou aumento das concentrações de HDL-c,
representando importante papel nas dislipidemias. Além disso, estimula a oxidação lipídica,
diminui as concentrações de triacilglicerois e LDL-c. Também possui ação benéfica no controle da
hipertensão arterial, uma vez que diminui as concentrações de insulina e leptina, o que reduz a
atividade do sistema nervoso simpático, além de favorecer os níveis pressóricos pela redução do
volume plasmático. Igualmente, o Ômega-3 colabora no controle do peso corporal e na
obesidade, pois modula enzimas lipogênicas e aumenta a oxidação lipídica, diminuindo o
acúmulo de gordura nos compartimentos corpóreos. Ainda, o Ômega-3 aumenta a sensibilidade à
insulina e favorece o controle/reestabelecimento da glicemia em níveis adequados. Estudos
sugerem a ingestão de 4 a 8g/dia.
- Ácido graxo Ômega-6: Ação positiva na hipercolesterolemia, por estimular a oxidação lipídica,
diminuir as concentrações de triacilglicerois e de LDL-c circulantes, além de favorecer a
manutenção e/ou o aumento das concentrações de HDL-c.
-Fibras solúveis e insolúveis (prebióticos): São compostos que apresentam atuação favorável
na hipercolesterolemia, uma vez que reduzem a absorção de colesterol e aumentam sua
excreção fecal, diminuindo as concentrações de colesterol total e de LDL-c e mantendo ou
aumentando os valores de HDL-c. Também possuem efeito benéfico na obesidade, pois retardam
o esvaziamento gástrico, aumentam o poder de saciedade e melhoram a adesão à dieta,
favorecendo a redução ponderal. Além disso, as fibras insolúveis e os carboidratos complexos
diminuem a glicemia pós-prandial, melhorando o controle glicêmico e reduzindo o risco de
desenvolvimento de DM2 (diminuem a resistência à insulina). Exemplos: betaglucana, psyllium,
quitosana. Estudos sugerem a ingestão de 20 a 30g/dia, sendo 6g de fibras solúveis.
- Cálcio e peptídeos: Também atuam favoravelmente no controle dos níveis pressóricos, pois
controlam a dilatação das artérias e diminuem a vasoconstrição arterial, reduzindo a pressão
arterial.
- Produtos light: Contribuem no controle do peso corporal e da obesidade, uma vez que
favorecem a restrição calórica.
Entende-se por sistema endócrino o conjunto de glândulas que secretam, cada uma, diferentes
tipos de hormônios que regulam e influenciam todo o funcionamento corpóreo, desde o
crescimento e desenvolvimento, o sono, a reprodução, o humor, a circulação, os níveis
pressóricos, a função sexual, entre outras tantas. Destaca-se que o sistema endócrino também é
responsável por promover, através de hormônios específicos, a produção de energia a partir das
calorias contidas nos alimentos consumidos.
A palavra endócrino deriva das palavras gregas "endo", que significa dentro, e "crinis", que
significa secretar. O sistema endócrino é composto por oito glândulas principais, que são grupos
de células que produzem e secretam substâncias químicas. Cada glândula do sistema endócrino
produz hormônios específicos, que serão lançados na corrente sanguínea e utilizados em
determinados compartimentos corporais.
Praticamente todos os órgãos e células do corpo são afetados pelo sistema endócrino. Essa
interação ocorre através de eixos: um grupo de glândulas que sinalizam o outro em sequência
são geralmente referidos como um eixo. Um exemplo é o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que
coordena as interações entre o hipotálamo, a hipófise e as suprarrenais, que são pequenos
órgãos cônicos localizados sobre os rins. Vale ressaltar que o sistema endócrino envia sinais ao
longo do corpo, tal como o sistema nervoso, mas ao contrário das respostas imediatas
desencadeadas por este, os efeitos gerados pelo sistema endócrino podem demorar algumas
horas ou semanas para serem percebidos.
- Hipotálamo: Fator inibidor da prolactina (PIF) – Inibe a produção de prolactina pela hipófise;
Hormônio liberador da corticotrofina (CRH) – Estimula a liberação do hormônio
adrenocorticotrófico; Hormônio liberador da tireotrofina (TRH) – Estimula a secreção do hormônio
tireoestimulante; Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) – Estimula a liberação dos
hormônios folículo estimulante e luteinizante; Hormônio liberador do hormônio do crescimento
(GHRH) – Estimula a secreção do hormônio do crescimento;
Ocitocina ou oxitocina – Estimula a contração do útero e a expulsão do leite. Esse hormônio,
apesar de ser sintetizado no hipotálamo, é armazenado na porção da hipófise denominada de
neuro-hipófise; Vasopressina ou hormônio antidiurético (ADH) – Promove a reabsorção de água
- Glândula pineal: Melatonina – Atua, principalmente, regulando o sono, mas possui funções
imuno moduladoras, anti-inflamatórias, antitumorais e antioxidantes.
Neste sentido, os distúrbios endócrinos podem resultar de disfunções originadas nas glândulas
endócrinas periféricas (doenças primárias) ou de estimulação abaixo ou acima do normal pela
hipófise (doenças secundárias). As doenças podem causar a produção excessiva (hiperfunção)
ou a falta de produção (hipofunção) de hormônios. Raramente, distúrbios endócrinos
(habitualmente hipofunção) ocorrem em razão de respostas anormais dos tecidos a hormônios. A
apresentação clínica de doenças com hipofunção em geral é insidiosa e não específica. Vários
hormônios precisam ser convertidos em uma forma ativa após a secreção de uma glândula
endócrina periférica. Certas doenças podem bloquear essa etapa (as doenças renais, por
exemplo, podem inibir a produção de calcitriol – forma ativa da vitamina D). Anticorpos contra
hormônios circulantes também podem bloquear o funcionamento desses hormônios. Doenças ou
drogas podem causar aumento da depuração dos hormônios. Substâncias circulantes também
podem bloquear a função dos hormônios. Anormalidades do receptor ou de qualquer outro local
no tecido endócrino periférico também podem causar hipofunção das glândulas endócrinas.
Por sua vez, a doença metabólica ocorre quando há um desequilíbrio nos hormônios circulantes,
que podem estar aumentados ou diminuídos, provocando alterações na homeostasia do
organismo. Assim, a desordem metabólica dá-se quando alguns órgãos, como o fígado ou
pâncreas, são afetados e passam a não funcionar adequadamente, iniciando s processos
patológicos. O surgimento do diabetes é um exemplo disso.
Hiperfunção
A função aumentada de uma glândula endócrina pode resultar de estímulo excessivo pela
hipófise, mas é mais comum ser originada por hiperplasia ou neoplasia da própria glândula.
Alguns tipos de câncer em outros órgãos/tecidos podem produzir hormônios (produção ectópica
de hormônios), como o câncer de pulmão e o câncer de pele. O excesso de hormônios também
pode ser resultado de administração exógena, tanto com indicação e prescrição médica, até
quando indivíduos usam hormônios (por via oral, ou injetável), por iniciativa própria. Outra
situação que pode acontecer é a hipersensibilidade tecidual aos hormônios. Os anticorpos podem
estimular as glândulas endócrinas periféricas, como ocorre no hipertireoidismo da doença de
Graves. A destruição de uma glândula endócrina periférica pode liberar rapidamente os
hormônios armazenados, por exemplo, os hormônios tireoidianos nas tireoidites. Igualmente,
defeitos enzimáticos na síntese dos hormônios endócrinos periféricos podem provocar produção
excessiva de hormônios nas regiões proximais ao bloqueio. Por fim, a superprodução de um
hormônio pode ocorrer como reação apropriada a uma doença.
- Diabetes: O pâncreas é uma glândula digestiva que fica na parte posterior do abdômen, em
frente à coluna vertebral, e é responsável pela produção de enzimas fundamentais ao processo
de digestão das proteínas e dos carboidratos. Um dos hormônios mais importantes secretados
pelo pâncreas é a insulina, responsável pela absorção da glicose pelas células do nosso corpo,
visto que sem glicose as células não sobrevivem. A falta de ação da insulina, ou sua produção
insuficiente geram alterações na glicemia, característica básica do diabetes. Vale salientar que
esta enfermidade será bastante detalhada mais adiante.
- Tireoide: Trata-se de uma das maiores glândulas endócrinas do corpo, localizada no pescoço e
protegida por meio de uma cartilagem, que nos homens é mais acentuada e denominada “pomo
de adão”. A função básica dos hormônios da tireoide é regular a velocidade do metabolismo,
sendo esta regulação feita em conjunto com a atuação da hipófise. Com o envelhecimento, os
hormônios tireoidianos têm sua função reduzida, principalmente nas mulheres. A redução da
função da tireoide (hipotireoidismo), trás alguns sintomas como: inchaço nas pernas, ganho ou
perda de cabelo, anemia, unhas quebradiças e cansaço. Ao contrário, seu aumento
(hipertireoidismo), provoca quadro de calores, palpitações, insônia, muitas vezes confundido com
os sinais de menopausa e ansiedade.
- Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): Primariamente, é uma síndrome caracterizada por
disfunção ovulatória e hiperandrogenismo. Sabe-se que a irregularidade menstrual e as
características decorrentes do excesso de hormônios masculinos (como aumento de pelos e
acne), que acompanham a SOP, são estreitamente associadas à obesidade e ao
desenvolvimento de diabetes e de todas as suas complicações. Além disso, mulheres com SOP
apresentam maior prevalência de distúrbios metabólicos e fatores de risco cardiovasculares.
O Diabetes mellitus (DM) não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios
metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, resultante de defeitos na ação da insulina,
na secreção de insulina ou em ambas. Trata-se de um grupo de doenças metabólicas, de
etiologias múltiplas, caracterizado por hiperglicemia crônica com alteração do metabolismo dos
carboidratos, proteínas e lipídios, resultante de defeitos na secreção de insulina, na sua ação, ou
em ambos.
Por sua vez, o glucagon exerce um efeito oposto ao da insulina. Sua secreção aumenta em
resposta a uma baixa concentração de glicose no sangue, também por atividade do sistema
simpático. Junto com o cortisol ele estimula a glicogênese no fígado.
a) Diabetes mellitus tipo 1: O DM tipo 1 é caracterizado por destruição das células beta que
levam a uma deficiência de insulina, sendo subdivido em tipos 1A e 1B. O DM tipo 1 autoimune
(DM tipo 1 A) encontra-se em 5 a 10% dos casos de DM, sendo o resultado da destruição
imunomediada de células beta pancreáticas com consequente deficiência de insulina. Os
marcadores de autoimunidade são os autoanticorpos anti-ilhota ou antígenos específicos da ilhota
e incluem os anticorpos anti-insulina, antidescarboxilase do ácido glutâmico (Anti GAD),
antitirosina-fosfatases (IA2 e IA2B) e antitransportador de zinco (Znt) (1A). Esses anticorpos
podem ser verificados meses ou anos antes do diagnóstico clínico, ou seja, na fase pré-clínica da
doença, e em até 90% dos indivíduos quando se detecta hiperglicemia. A fisiopatologia do DM
tipo 1A envolve fatores genéticos e ambientais, onde os fatores ambientais englobam certas
infecções virais, fatores nutricionais (p. ex., introdução precoce de leite bovino) e deficiência de
vitamina D. A taxa de destruição das células beta é variável, sendo, em geral, mais rápida entre
as crianças. A forma lentamente progressiva ocorre em adultos, a qual se refere como diabetes
autoimune latente do adulto (LADA, acrônimo em inglês de latent autoimmune diabetes in adults).
Por sua vez, o Diabetes mellitus tipo 1 Idiopático (ou DM tipo 1B), como sugere o nome, não há
uma etiologia conhecida para essa forma de DM. Corresponde à minoria dos casos de DM1 e
caracteriza-se pela ausência de marcadores de autoimunidade contra as células beta. Os
indivíduos com esse tipo de DM podem desenvolver cetoacidose e apresentam graus variáveis de
deficiência de insulina. Devido à avaliação dos autoanticorpos não se encontrar disponível em
todos os centros, a classificação etiológica do DM1 nas subcategorias autoimune e idiopática
pode não ser sempre possível. Destaca-se que os sintomas clássicos do DM1 incluem:
polifagia, polidipsia, poliúria, perda de peso. Muitos pacientes desenvolvem quadro de
cetoacidose e aí recebem o diagnóstico.
b) Diabetes mellitus tipo 2: O DM2 é a forma verificada em 90 a 95% dos casos e caracteriza-se
por defeitos na ação e secreção da insulina e na regulação da produção hepática de glicose. A
resistência à insulina e o defeito na função das células beta estão presentes precocemente na
fase pré-clínica da doença. É causada por uma interação de fatores genéticos e ambientais. Entre
os fatores ambientais associados estão sedentarismo, dietas ricas em gorduras e
envelhecimento. A maioria dos pacientes com esse tipo de DM apresenta sobrepeso ou
obesidade, e cetoacidose raramente se desenvolve de modo espontâneo, ocorrendo quando
Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia
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associada a outras condições, como infecções. O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas é
geralmente diagnosticado após os 40 anos. Os pacientes não dependem de insulina exógena
para sobreviver, porém podem necessitar de tratamento com insulina para obter controle
metabólico adequado. Diferentemente do DM1 autoimune, não há indicadores específicos para o
DM2. Há, provavelmente, diferentes formas de DM2, e com a identificação futura de processos
patogênicos específicos ou defeitos genéticos, o número de pessoas com esse tipo de DM irá
diminuir à custa de mudanças para uma classificação mais definitiva em outros tipos específicos
de DM.
Atualmente são três os critérios aceitos para o diagnóstico do DM com utilização da glicemia,
conforme segue:
- Sintomas de poliúria, polidipsia e perda ponderal acrescidos de glicemia casual ≥ 200 mg/dL.
Compreende-se por glicemia casual aquela realizada a qualquer hora do dia, independentemente
do horário das refeições.
- Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL. Em caso de pequenas elevações da glicemia, o diagnóstico
deve ser confirmado pela repetição do teste em outro dia.
- Glicemia de 2 h pós-sobrecarga de 75 g de glicose ≥ 200 mg/dL
Confira, a seguir, um resumo com os critérios de diagnóstico para o DM, conforme a glicemia:
Quadro 1 – Valores de glicose plasmática (em mg/dL) para o diagnóstico de diabetes mellitus e
seus estágios pré-clínicos
Categoria Jejum* 2 h após 75 g de Casual**
glicose
Os pacientes com DM1 devem realizar no mínimo 3 testes de glicemia capilar ao dia (antes do
café da manhã, antes do almoço e antes do jantar). Também sempre irão necessitar de 2 tipos de
insulina (uma basal, que mantém a glicemia independente do consumo alimentar, e a insulina
bolus, que é aplicada para metabolizar a glicose proveniente dos alimentos). Já os pacientes com
DM2, é aconselhável que realizem um teste de glicemia capilar ao dia (em horários alternados) e,
basicamente, necessitam de ADO. Porém, muitos pacientes com DM2 também irão precisar de
insulinas (somente a basal ou a basal e a bolus) para melhorar o controle glicêmico, além do
ADO.
FIQUE ATENTO:
Na prática clínica, a avaliação do controle glicêmico é feita mediante a utilização de dois recursos
laboratoriais: os testes de glicemia capilar (ou teste de “ponta de dedo”) e os de hemoglobina
glicada (coleta de sangue venoso, sem necessitar de jejum), cada um com seu significado clínico
específico e ambos considerados recursos complementares para a correta avaliação do estado
de controle glicêmico em pacientes diabéticos. Os testes de glicemia refletem o nível glicêmico
atual e instantâneo no momento exato em que foram realizados, enquanto os testes de HbA1c
revelam a glicemia média pregressa dos últimos 4 meses.
Manter os níveis de glicose dentro dos valores preconizados é muito importante para a prevenção
das complicações do DM, que podem ser agudas ou crônicas. Justamente em função disso, que
a principal meta do tratamento do DM é manter o bom controle da doença, pois representa a
melhor maneira de reduzir os riscos de tais complicações.
- Cetoacidose diabética (CAD): Trata-se de uma complicação que pode ser desencadeada por
fatores como omissão de doses de insulina ou situações de estresse agudo como infecções,
traumas ou emergências cardiovasculares. Em alguns casos, pode ser a manifestação inicial do
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DM1. A CAD é decorrente da deficiência absoluta ou relativa de insulina com consequente
hiperglicemia, associada ao aumento de hormônios contrarreguladores como glucagon,
catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento. Como consequência, ocorre aumento da
lipólise, com liberação de ácidos graxos livres que, no fígado, são oxidados em corpos cetônicos.
Clinicamente, caracteriza-se por desidratação, hiperglicemia (glicose >200-250mg/dL), acidose
metabólica (pH sanguíneo < 7,3 e bicarbonato < 15 mEq/L) e cetonúria/cetonemia . A CAD
ocorre, raramente, em pacientes com DM2 e nestes está geralmente associada a quadros
infecciosos graves. O tratamento da CAD é direcionado para os três problemas principais:
desidratação, perda de eletrólitos e acidose e, desta forma, a conduta geralmente escolhida é: a
reidratação do paciente por meio de infusões intravenosas; a reposição de potássio diluído em
solução fisiológica e a administração intravenosa de insulina.Trata-se de um quadro clínico
potencialmente grave que requer internação hospitalar e monitorização permanente.
As complicações crônicas macrovasculares do DM, como o próprio nome diz, são resultantes de
alterações nos grandes vasos e também são chamadas de doenças cardiovasculares, atingindo o
coração (infarto agudo do miocárdio), o cérebro (acidente vascular encefálico) e os membros
inferiores (doença vascular periférica). As complicações crônicas acometem tanto o paciente com
DM2 como aquele com DM1 e a maior causa de óbito decorrente de tais complicações é a
doença cardiovascular. Existem diversos mecanismos que participam do aumento do risco de
doença macrovascular no diabético. A hiperglicemia é apenas um deles, como também estão
envolvidos a hipertensão arterial, a dislipidemia e o fumo. Com relação ao Pé Diabético, este
aparece como consequência de alterações vasculares nos membros inferiores (doença vascular
periférica) e/ou complicações neuropáticas (polineuropatia periférica sensitivo-motora). Diversos
estudos nacionais e internacionais sobre o Pé Diabético mostram que 40% a 60% de todas as
amputações não traumáticas de membros inferiores são realizadas em pacientes com diabetes e
que, destas, 85% são precedidas por úlceras nos pés.
SAIBA MAIS:
O risco relativo de morte devido a complicações vasculares é três vezes maior nos pacientes com
DM do que na população restante com as doenças cardiovasculares (DCV), sendo responsáveis
por até 80% dos óbitos em portadores de DM. Nesses pacientes o risco de infarto agudo do
miocárdio (IAM) é semelhante àquele observado em pessoas sem DM que já tiveram um IAM
prévio.
A importância da terapia nutricional (TN) no tratamento do diabetes mellitus tem sido ressaltada
desde a sua descoberta, bem como sua função desafiadora na prevenção, no manejo da doença
existente e na prevenção do desenvolvimento das complicações decorrentes. Evidências
científicas têm mostrado que a intervenção nutricional apresenta impacto importante na redução
da hemoglobina glicada (HbA1c) em pessoas com diabetes tipos 1 e 2 e que, quando associado a
outros componentes do cuidado em diabetes, o acompanhamento nutricional pode melhorar
ainda mais os parâmetros clínicos e metabólicos, em virtude da melhor adesão ao plano alimentar
prescrito. Embora o surgimento do DM1 não seja evitável, o DM2 pode ser retardado ou
prevenido, por meio de modificações de estilo de vida, que incluem alimentação e atividade física.
Apesar de a suscetibilidade genética parecer desempenhar um papel importante na ocorrência do
DM2, a atual epidemia provavelmente reflete mudanças no estilo de vida, caracterizadas pelo
aumento da ingestão energética e redução da atividade física que, em conjunto com sobrepeso e
obesidade, parecem exercer papel preponderante no aparecimento do diabetes.
A avaliação nutricional do paciente com DM deve basear-se na história familiar, nas condições
socioeconômicas, nos hábitos alimentares, na prática de atividade física, nos dados
antropométricos e bioquímicos e nas doenças associadas. Os parâmetros a serem utilizados nas
avaliações são aqueles mesmos usados para a população não diabética, destacando-se a
necessidade de acompanhar as curvas de crescimento das crianças e adolescentes, visto que o
DM mal controlado exerce importante influência no crescimento e desenvolvimento desta
população.
- Necessidades de energia: Para o cálculo do valor energético total (VET) diário, utilizam-se os
valores recomendados para a população em geral, adaptado aos estágios da vida, ao diagnóstico
nutricional, ao estado fisiológico e metabólico, à atividade física, às condições clínicas e de
estresse. Para crianças e adolescentes um método bastante utilizado é o da ADA, 1997: 1.000
kcal para o primeiro ano de vida e adicionar 100 kcal/ano até os 11 anos. Após, para o sexo
feminino entre 11-15 anos, adicionar 100 kcal/ano e acima de 15 anos, calcular o VET conforme
preconizado para adultos. Para o sexo masculino, dos 11 aos 15 anos, adicionar 200 kcal/ano e
acima de 15 anos 10 kcal/kg (atividade intensa); 8 kcal/kg (atividade moderada); 7 kcal/kg
(atividade leve a sedentária). Já para indivíduos adultos, pode-se utilizar o método simplificado:
25 a 30 kcal/kg para manutenção de peso; 20 a 25 kcal/kg para redução de peso e 30 a 35
kcal/kg para o ganho de peso (sempre utilizando o peso atual para o cálculo). Vale destacar que
muitos outros métodos preditivos podem ser utilizados para o cálculo das necessidades de
energia para pessoas com diabetes, sendo que os métodos aqui citados são comumente usados
na prática clínica.
- Sódio: O consumo de sódio deve ser limitado a 2.000 mg/dia, o que equivale a 5 g de sal de
cozinha, ou seja, no máximo 3 colheres de café rasas de sal (3 g de sal + 2 g de sal dos próprios
alimentos). As recomendações da American Diabetes Association (ADA) ressaltam que
portadores de DM apresentam risco aumentado para hipertensão e doenças cardiovasculares e
podem ter benefícios com a adoção da dieta DASH, isto é, uma dieta rica em frutas, legumes e
produtos lácteos pobres em gorduras com um conteúdo reduzido de gordura saturada e total, que
inclui, nas suas recomendações, a redução no consumo de sódio.
EXEMPLOS:
Confira, a seguir, como pode ser composto o plano alimentar para pessoas com diabetes:
Quadro 2 - Composição nutricional do plano alimentar indicado para pessoas com diabetes
mellitus.
Por sua vez, os alimentos funcionais fazem parte de uma nova concepção de alimentos, lançada
pelo Japão na década de 80, por intermédio de um programa governamental que possuía como
principal objetivo desenvolver alimentos saudáveis para uma população que envelhecia e
apresentava uma grande expectativa de vida. Os alimentos funcionais devem conter
propriedades benéficas além das nutricionais básicas, sendo apresentados na forma de alimentos
comuns. São consumidos em dietas convencionais, mas demonstram capacidade de regular
funções corporais de forma a auxiliar na proteção contra doenças, tais como: hipertensão arterial
sistêmica (HAS), diabetes, dislipidemias, câncer, osteoporose, entre outras. Assim, percebe-se
que os alimentos funcionais se caracterizam por oferecer vários benefícios à saúde, além do valor
nutritivo inerente à sua composição química, podendo desempenhar um papel potencialmente
benéfico na redução do risco de doenças crônico degenerativas.
Apesar de possuírem conceitos um tanto semelhantes, não se deve confundir nutracêuticos com
alimentos funcionais. O alvo dos nutracêuticos é significativamente diferente dos alimentos
funcionais, por várias razões: a) enquanto que a prevenção e o tratamento de doenças (apelo
médico) são relevantes aos nutracêuticos, apenas a redução do risco da doença, e não a
prevenção e tratamento da doença estão envolvidos com os alimentos funcionais; b) enquanto
que os nutracêuticos incluem suplementos dietéticos e outros tipos de alimentos, os alimentos
funcionais devem estar na forma de um alimento comum e fazerem parte da alimentação habitual
dos indivíduos.
Desta forma, sob o ponto de vista legal, constata-se que os alimentos funcionais e nutracêuticos
possuem conceituações semelhantes em muitas partes do mundo, entendendo-se que persiste a
dificuldade de regulamentação dos termos, pois deve ser mantida a diferença fundamental, que
faz com que os alimentos funcionais se relacionem à venda e consumo dos mesmos como
alimentos in natura e fazendo parte da alimentação habitual do indivíduo, ao passo que os
nutracêuticos são ingredientes funcionais isolados, sendo consumidos sob diferentes formas
farmacêuticas.
Um dos pilares do tratamento do diabetes mellitus é representado pela Terapia Nutricional (TN),
bem como sua função desafiadora na prevenção, no gerenciamento da doença existente e na
prevenção do desenvolvimento das complicações decorrentes. Estudos mostram que a
intervenção nutricional apresenta impacto importante na redução da hemoglobina glicada (HbA1c)
em pessoas com diabetes tipos 1 e 2, independentemente do tempo de diagnóstico da doença.
Igualmente, sabe-se que, quando associado a outros componentes do cuidado em diabetes, o
acompanhamento nutricional pode melhorar ainda mais os parâmetros clínicos e metabólicos,
decorrentes da melhor aderência ao plano alimentar prescrito.
Assim, muitas estratégias podem e devem ser utilizadas para melhorar a resposta ao tratamento
dietoterápico e o uso de compostos bioativos, neste sentido, merece atenção. A tendência de
aumento na prevalência de complicações do diabetes sugere que o uso de tratamentos
complementares, incluindo alimentos funcionais e seus nutracêuticos, poderia aumentar a eficácia
do controle do diabetes e suas complicações.
- Ácidos Graxos Ômega-3 (ω-3): O consumo deste tipo de gordura está associado a menor
incidência de DM2. A suplementação com ácidos graxos poli-insaturados ω-3 pode reduzir as
concentrações de triacilgliceróis em pessoas com diabetes, bem como modular a resposta
inflamatória nesses indivíduos, além de reduzir a resistência à insulina. O consumo de ácido
graxo ω-3 de fontes como peixes ou por meio de suplementos aponta redução nos riscos
cardiovasculares. O consumo de duas ou mais porções de peixes por semana, com exceção dos
fritos, pode ser recomendado. Em altas doses (4 a 10 g ao dia), os ácidos graxos ω-3 reduzem os
triacilgliceróis e aumentam discretamente o HDL-c, podendo, entretanto, elevar o LDL-c. Quanto
ao uso de ácidos graxos Ômega-6 (ω-6) e ácidos graxos ômega-9 (ω-9) e seu possíveis efeitos
benéficos, as evidências ainda são limitadas em indivíduos com diabetes.
- Fibras: Alimentos ricos em fibras, ou aqueles modificados e enriquecidos com fibras (ou
mesmos nutracêuticos) costumam ser recomendados para pessoas com diabetes, em virtude de
sua provável ação benéfica na redução da resposta glicêmica e, consequentemente, na
necessidade de insulina. O principal mecanismo pelo qual as fibras melhoram o controle
glicêmico deve-se ao fato de que retardam o esvaziamento gástrico e permitem uma ação mais
prolongada das enzimas digestivas, favorecendo a absorção dos nutrientes (especialmente os
carboidratos). Também as fibras alimentares melhoram a sensibilidade à insulina, visto que os
ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) são uma fonte alternativa de energia para os enterócitos
para substituir a glicose, sem requerer o uso de insulina. A betaglucana e a goma guar são
exemplos de fibras que apresentam alta viscosidade e influenciam positivamente na absorção de
glicose. O psílio é conhecido por reduzir a glicemia, sendo sugerido como adjuvante no
tratamento de pacientes com DM2. O mecanismo de ação desta fibra atua na glicemia pós-
prandial, na insulinemia e na trigliceridemia, justamente por aumentar o tempo para absorção
intestinal. A dose sugerida de consumo é de 10 a 14g/dia de fibra solúvel à base de psílio.
- Vitaminas: O efeito benéfico de várias vitaminas sobre o diabetes tem sido alvo de muitos
estudos epidemiológicos e também com animais. Os principais efeitos estariam relacionados com
o poder antioxidante de algumas vitaminas, incluindo as vitaminas A, C e E, além dos
carotenoides. Pelo fato do diabetes estar associado ao aumento do estresse oxidativo e ao
processo inflamatório crônico, o consumo de vitaminas e compostos antioxidantes pode atuar de
modo benéfico no curso da enfermidade. Os carotenoides parecem proporcionar benefícios no
controle da glicemia, sendo que estudos sugerem uma relação inversa entre os níveis
plasmáticos de carotenoides e desenvolvimento de DM. A vitamina C é um potente agente
antioxidante e pode prevenir possíveis complicações do DM, exemplos da microangiopatia e
formação de placa aterosclerótica, além de melhorar a integridade vascular, favorecer a
cicatrização de feridas e prevenir a formação de catarata. Em relação à dose segura, pode-se
usar de 100 a 200mg/dia. A vitamina E está relacionada com a diminuição de incidência de
doença cardiovascular (DCV), que representa uma das principais complicações do diabetes. A
dose recomendada para pessoas com DM é de 15mg/dia, uma vez que valores superiores não
mostraram benefícios. Também o uso de vitamina D estaria relacionado a redução dos níveis de
glicemia de jejum e da resistência à insulina, em dose diária de 17,5mg/dia em forma de
suplementação. Ainda quanto ao uso de vitaminas no DM, mais estudos precisam ser realizados
para esclarecer os possíveis efeitos e reais benefícios.
- Curcumina: Estudos têm demonstrado que este composto bioativo possui a capacidade de
reduzir a glicemia, além de efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, que podem diminuir o risco
de doenças cardíacas e outras complicações do diabetes. A dose utilizada em estudos é de
300mg/dia.
Na linha dos nutracêuticos, há um produto no mercado, derivado de algas marrons que, segundo
informações do fabricante, apresenta um duplo mecanismo de ação às duas enzimas digestivas
envolvidas na digestão e assimilação do açúcar e dos carboidratos ingeridos durante uma
refeição. O produto agiria inibindo a ação de duas enzimas: a alfa-glucosidase e a alfa-amilase.
Uma vez inibidas ambas as enzimas, não haverá degradação dos carboidratos, fazendo com que
os mesmos não sejam absorvidos em sua maioria. Portanto, os carboidratos não conseguem ser
digeridos e são enviados diretamente ao intestino para sua eliminação através das fezes. Esse
mecanismo apresenta uma alternativa segura para auxiliar as dietas de emagrecimento e para
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diabéticos que precisam diminuir a quantidade de glicose circulante na corrente sanguínea. O
fabricante, ainda, sugere que o nutracêutico é indicado para auxílio no gerenciamento de peso,
pois bloqueia as enzimas alfa-amilase e alfa-glucosidase, como redutor do nível de glicose no
sangue e de secreção de insulina, e aperfeiçoa a sensibilidade à insulina. A dosagem
recomendada é de 250mg a 500mg por dia, sempre 30 minutos antes das refeições.
Dentro da linha dos fitoterápicos, as seguintes plantas apresentam possíveis efeitos no diabetes:
- Annona squamosa, Linn: Conhecida como pinha, ata, ou fruta-do-conde. O uso de seu extrato
também estaria relacionado à redução da glicemia de jejum, além do aumento dos níveis
plasmáticos de insulina, pela presença de fitoquímicos em sua composição. Segundo estudos em
animais, os efeitos benéficos podem ser observados a curto prazo e com ausência de sinais de
toxicidade, sugerindo uma boa opção como adjuvante no tratamento do DM.
- Bidens pilosa, Linn: Popularmente conhecida como picão ou picão-preto. Seu efeito
antidiabético está associado aos poliacetilenos, os flavonoides e os polifenois, proporcionando
redução da glicose sérica, aumento da insulinemia e redução do peso corporal. Não há estudos
em humanos sobre estes possíveis benefícios.
a) Dislipidemias:
- Ácido graxo Ômega-3: Favorece a manutenção e/ou aumento das concentrações de HDL-c,
representando importante papel nas dislipidemias. Além disso, estimula a oxidação lipídica,
diminui as concentrações de triacilglicerois e LDL-c.
- Ácido graxo Ômega-6: Ação positiva na hipercolesterolemia, por estimular a oxidação lipídica,
diminuir as concentrações de triacilglicerois e de LDL-c circulantes, além de favorecer a
manutenção e/ou o aumento das concentrações de HDL-c.
-Ácido graxo Ômega-9: Outro componente bioativo que oportuniza a manutenção e/ou aumento
das concentrações de HDL-c, colaborando no tratamento das dislipidemias. Também contribui
para diminuir as concentrações de colesterol e da fração de LDL-c, pois aumenta a excreção fecal
destes.
-Fibras solúveis e insolúveis (prebióticos): São compostos que apresentam atuação favorável
na hipercolesterolemia, uma vez que reduzem a absorção de colesterol e aumentam sua
excreção fecal, diminuindo as concentrações de colesterol total e de LDL-c e mantendo ou
aumentando os valores de HDL-c.
b) Distúrbios da tireoide:
- Selênio: Representa um dos compostos mais estudados e que poderia servir de terapia
adjuvante nos distúrbios da tireoide. A deficiência de selênio facilita a destruição dos tecidos
tireoidianos. Porém, o excesso pode exercer influência negativa no metabolismo dos hormônios
da tireoide. Desta forma, deve-se buscar sempre o consumo adequado (alguns autores
preconizam um consumo máximo de 500mcg/dia).
Diante do exposto, o consumo de alimentos funcionais e/ou o uso de nutracêuticos possui poucas
evidências para serem utilizados como tratamento complementar aos distúrbios da tireoide, sendo
que algumas entidades internacionais, inclusive, desaconselham o seu uso. Muitos estudos ainda
precisam ser realizados, especialmente em humanos, para que os possíveis benefícios de
compostos bioativos possam ser comprovados e, a partir de então, usados como terapia
adjuvante. Destaca-se, ainda que tal estratégia sempre deverá ser acompanhada de hábitos de
vida saudáveis, dentre os quais se destacam a alimentação nutricionalmente adequada e a
prática regular de atividade física.
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