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Faculdade Evangélica de São Paulo - FAESP

Bacharel em Teologia

Shalon Oliveira de Miranda Brito

(20240067)

Fichamento de Citações

Introdução a Teologia

São Paulo

2024
Alister E. McGrath

Fichamento de Citação

Uma Introdução à Teologia Cristã

Trabalho apresentado no

curso de graduação de

teologia da faculdade

FAESP de São Paulo

Orientadora: Dra. Danjone R. Meira

São Paulo

2024
O PERÍODO PATRÍSTICO

c. 10 0 - 4 5 1

Esclarecimento dos termos

O termo “patrístico” vem da palavra latina pater, “pai”, e tanto designa o


período referente aos pais da igreja quanto as idéias características que se
desenvolveram ao longo desse período. O termo é não inclusivo; ainda não havia
surgido na literatura algum termo inclusivo que fosse aceitável por todos. Os
termos a seguir relacionados são encontrados com frequência e devem ser
registrados.

• Período patrístico: Esse termo representa algo definido de forma vaga


que frequentemente é considerado como o período a partir do término dos
documentos do Novo Testamento (c. 100) até o decisivo Concilio da Calcedônia
(451).

• Patrístico: Normalmente, esse termo significa o ramo do estudo teológico


que trata do estudo dos “pais” (patres) da igreja.

• Patrologia: Esse termo já significou literalmente “o estudo dos pais da


igreja”, mais ou menos, da mesma forma que “teologia” significava “o estudo de
Deus” (Theos). Entretanto, em anos recentes, a palavra sofreu uma alteração em
seu significado. Agora, ela se refere a manuais de literatura patrística, como
aquele do célebre acadêmico alemão Johannes Quasten, que fornece a seus
leitores fácil acesso às principais idéias dos escritores patrísticos e a alguns dos
problemas de interpretação associados a elas (P.36)

Uma visão geral do período patrístico

O período patrístico representa um dos mais empolgantes e criativos da


história do pensamento cristão. Somente essa característica é suficiente para
assegurar que, (principais marcos) ainda por muitos anos, ele continuará a ser
tema de estudo. Esse período também é importante por motivos teológicos. Todos
os principais ramos da igreja cristã - incluindo as igrejas anglicana, ortodoxa
oriental, luterana, reformada e católica romana - consideram o período patrístico
como um marco decisivo na evolução da doutrina crista. Cada uma dessas igrejas
se considera como uma continuação, uma extensão e, naquilo que for necessário,
uma crítica às visões dos escritores da igreja primitiva. Por exemplo, Lancelot
Andrewes (1555-1626), importante escritor anglicano do século XVII, afirmou que
o cristianismo ortodoxo se baseava em dois testamentos, três credos, quatro
evangelhos e nos cinco primeiros séculos de história cristã.

O período foi da maior importância para o esclarecimento de uma série de


questões. A tarefa fundamental era delimitar a relação existente entre cristianismo
e judaísmo. As cartas de Paulo, no Novo Testamento, são uma prova da
importância desse ponto no primeiro século da história cristã, à medida que várias
questões práticas e doutrinárias passaram a ser consideradas. Os cristãos gentios
(isto é, os não judeus) eram obrigados a circuncidar-se? Como o Antigo
Testamento deveria ser corretamente interpretado? (P.42).

Justino Mártir (c. 100- c. 165)

Justino talvez seja o maior dos Apologistas — escritores cristãos do século


II, que se dedicavam à defesa do cristianismo diante das intensas críticas de
origem pagã. Justino, em sua obra, Primeira apologia, defendeu que podem ser
encontrados sinais da verdade cristã em grandes escritores pagãos. Sua doutrina
do logos spermãtikos (“palavra geradora”) permitiu-lhe afirmar que Deus havia
preparado o caminho para sua revelação final em Cristo por intermédio dos
indícios de sua verdade, que estavam presentes na filosofia clássica. Justino, nos
fornece um importante exemplo inicial da tentativa de um teólogo em relacionar o
evangelho à perspectiva da filosofia grega, tendência particularmente associada à
igreja oriental. (P.44 e 45).
Orígenes (c. 185 - c. 254)

Orígenes, um dos mais importantes defensores do cristianismo do século


III, forneceu uma base importante para o desenvolvimento do pensamento cristão
oriental. Suas contribuições mais relevantes para o desenvolvimento da teologia
cristã podem ser vistas em duas áreas principais. Orígenes, no campo da
interpretação bíblica, desenvolveu a noção de interpretação alegórica,
argumentando que se deveria fazer uma distinção entre o sentido superficial das
escrituras e seu sentido espiritual mais profundo. No campo da cristologia,
Orígenes consolidou a tradição de se distinguir entre a divindade plena do Pai e
uma divindade limitada do Filho. Alguns estudiosos veem o arianismo como
consequência natural dessa abordagem. Orígenes também adotou, com algum
entusiasmo, a idéia de apocatástase, segundo a qual toda criatura — incluindo
tanto o ser humano quanto Satanás — será salva. (P.45)

Tertuliano (c. 160 — c. 225)

A princípio, Tertuliano foi um pagão originário da cidade de Cartago, no


norte da África, que se converteu ao cristianismo quando tinha cerca de trinta
anos. Ele, com frequência, é considerado o pai da teologia latina em razão do
tremendo impacto que teve sobre a igreja ocidental. Ele defendeu a unidade do
Antigo e do Novo Testamentos contra Marcião, que argumentava que ambos se
relacionavam a deuses distintos e, não, a um mesmo e único Deus. Ao fazer isso,
Tertuliano lançou as bases para a doutrina da Trindade. Ele se opunha
intensamente ao fato de a teologia ou a apologética cristãs tornar-se dependentes
de fontes estranhas às Escrituras. Ele está entre os primeiros representantes mais
influentes que defenderam o princípio da suficiência das Escrituras, o qual
condenava aqueles que recorriam às filosofias seculares para alcançar um
conhecimento verdadeiro de Deus (como os que pertenciam à Academia de
Atenas). (P.45)
Agostinho de Hipona (c. 354 — c. 430)

Ao falar de Aurelius Augustinus, conhecido normalmente como Agostinho


de Hipona - ou simplesmente por Agostinho - deparamo-nos talvez com a mente
mais brilhante e influente da igreja cristã por toda sua longa história. Agostinho,
atraído ao cristianismo pela pregação do Bispo Ambrósio de Milão, vivenciou uma
dramática experiência de conversão. Agostinho, que aos 32 anos não havia ainda
satisfeito seu ardente desejo de conhecer a verdade, encontrava-se em um jardim
de Milão, debatendo-se com as importantes questões sobre a natureza e o destino
humanos, quando teve a impressão de ouvir, próximo dali algumas crianças
cantando Tolle, lege [“Tome e leia”]. Interpretou esse fato como orientação divina
e tendo à mão o Novo Testamento — na verdade, a carta de Paulo aos Romanos
— leu as proféticas palavras: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13.14).
Para Agostinho, cujo paganismo havia se tornado cada vez mais difícil de ser
mantido, essa foi a gota d’água. Posteriormente, como ele mesmo relembrou,
“uma luz de convicção invadiu meu coração e dissipou toda sombra de dúvida”. A
partir desse momento, Agostinho dedicou sua imensa capacidade intelectual à
defesa e à consolidação da fé cristã, escrevendo em um estilo que era, ao mesmo
tempo, apaixonado e inteligente, o qual apelava tanto à mente quanto ao coração.
(P.46).

Não é de surpreender o fato de que Agostinho elaborasse a resposta que


afinal seria aceita que talvez possa ser mais bem descrita como a “apropriação
crítica da cultura clássica”. Para Agostinho, a situação era comparável à fuga de
Israel do cativeiro no Egito, à época do Êxodo. Embora tenham deixado para trás
os ídolos do Egito, levaram consigo o ouro e a prata do Egito para que pudessem
fazer um uso melhor e mais apropriado dessas riquezas, que assim estavam
disponíveis para servir a um propósito mais nobre que o anterior. De forma
bastante semelhante, a filosofia e a cultura do mundo antigo poderiam ser
apropriadas pelos cristãos, naquilo em que fossem corretas e, assim, poderiam
servir à causa da fé cristã.
Agostinho arrematou seu argumento com a observação de que vários
cristãos, que recentemente tinham se tornado famosos, haviam lançado mão da
sabedoria clássica para o avanço do evangelho. (P.52 e 53)

Se aqueles que são chamados de filósofos, em especial os platônicos,


disserem qualquer coisa que seja verdadeira e consistente com nossa fé, não
devemos rejeitá-la, mas antes reivindicá-la para nosso uso, conscientes de que
eles a possuem injustamente. Os egípcios possuíam ídolos e fardos pesados que
os filhos de Israel odiavam e dos quais eles fugiram; entretanto, eles também
possuíam vasos de ouro e de prata e roupas que os nossos antepassados, ao
deixar o Egito, levaram consigo, em segredo, com a intenção de fazer melhor
proveito deles (Êxodo 3.21- 2; 12.35-6) ... Da mesma forma, o conhecimento
pagão não é inteiramente feito de falsos ensinamentos e superstições... Ele
também possui alguns ensinamentos excelentes e adequados ao uso da verdade,
assim como excelentes valores morais.

De fato, entre eles encontram-se algumas verdades relativas à adoração do


Deus único. Elas são, por assim dizer, o ouro e a prata que possuem, os quais
eles mesmos não produziram, mas retiraram das minas da providência divina que
se encontram espalhadas por todo o mundo, mas que são, contudo, corrompidas
de forma imprópria e ilícita, para a adoração de demônios. Portanto, o cristão é
capaz de separar essas verdades de suas infelizes associações, separando-as e
utilizando essas verdades de maneira adequada à proclamação do evangelho...
(P.53)

A definição dos credos ecumênicos

A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e


cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do credo apostólico - provavelmente,
o mais conhecido de todos os credos: “Creio em Deus Pai todo-poderoso...”. Esta
expressão veio a significar uma referência à declaração de fé, que sintetiza os
principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos.

Por esse motivo, o termo “credo” jamais é empregado em relação a


declarações de fé que sejam associadas a denominações específicas. Estas são
geralmente chamadas de “confissões” (como a Confissão luterana de Augsburg ou
a Confissão da Fé Reformada de Westminster). A “confissão” pertence a uma
denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o
“credo” pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma
declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e
observar. O “credo” veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal,
universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã.

O período patrístico presenciou o surgimento de dois credos, que


alcançaram paulatinamente autoridade e respeito por toda a igreja. O estímulo
para seu desenvolvimento parece ter sido a necessidade de proporcionar uma
síntese adequada da fé cristã, apropriada para ser utilizada em ocasiões públicas,
dentre as quais, talvez, a mais importante fosse o batismo. A igreja primitiva
costumava batizar seus convertidos no dia de Páscoa, usando o período de
quaresma como um tempo de preparação e instrução voltado para esse momento
de profissão pública de fé e de compromisso. Um requisito essencial era que cada
convertido, que desejasse se batizar, deveria declarar publicamente sua fé.
Parece que os credos começaram a se sobressair como uma declaração de fé
homogênea, que os convertidos podiam utilizar nessas ocasiões. (P.54)

O Credo Niceno

Cremos em um só Deus, Pai onipotente (pantocrator), criador do céu


e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus,


gerado do Pai desde toda a eternidade, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai ao Pai (hom
oousion to patri); por Ele todas as coisas foram feiras. Por nós e para nossa
salvação, desceu dos céus; encarnou por obra do Espírito Santo, no seio da
Virgem Maria, e fez-se verdadeiro homem. Por nós foi crucificado sob Pônei o
Pilatos; sofreu a morte e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as
Escrituras; subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai. De novo há de vir em
glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Cremos no
Espírito Santo (P. 55 e 56).

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