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NADERE REFORMATIE PUBLICAÇÕES

____________________________________________
Título:
A EXCELÊNCIA DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Por
Robert Shaw
2020
_______________________________________

Editor: Christopher Vicente


Tradutor: Mateus Guerra
Revisor: Christopher Vicente

SHAW, Robert. A Excelência da Confissão de Fé de Westminster. Natal:


Nadere Reformatie Publicações, 2020.
MINHA BIBLIOTECA WESTMINSTER

Esse e-book é um oferecimento em parceria entre a Nadere Reformatie


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Westminster.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO
PREFÁCIO À EDIÇÃO PORTUGUESA
PREFÁCIO ORIGINAL
I – A NECESSIDADE DE CREDOS E CONFISSÕES
II – A EXCELÊNCIA DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
III – UM BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA CONFISSÃO DE FÉ
DE WESTMINSTER
IV – UM CHAMADO A CONSIDERAÇÃO E UTILIDADE PARA
UNIDADE DA IGREJAS, HOJE, POR MEIO DA CONFISSÃO DE
FÉ DE WESTMINSTER
MAIS E-BOOKS E RECURSOS
PREFÁCIO À EDIÇÃO PORTUGUESA

Robert Shaw (1795-1863) foi um presbiteriano escocês do final do século


XVIII e início do XIX. Ele, também, foi o líder da chamada Igreja da
Secessão Original - que, posteriormente, parte dela uniu-se a Igreja Livre da
[1]
Escócia. Apesar de pouco conhecido no Brasil, ele é o autor de um
excelente comentário da Confissão de Fé de Westminster sob o título “A Fé
Reformada: uma exposição da Confissão de Fé de Westminster” [An
Exposition Of The Westminster Confession Of Faith].

O presente e-book é um recorte dessa obra – o prefácio e a introdução.


Nele, Shaw faz uma fantástica defesa da excelência da Confissão de Fé de
Westminster. No primeiro capítulo, ele argumenta em favor da necessidade
e indispensabilidade dos Credos e Confissões; no segundo, sobre a
excelência da Confissão de Westminster; no terceiro, um breve contexto
histórico da Assembleia de Westminster; e, por último, uma convocação às
Igrejas genuinamente evangélicas a considerarem os Padrões de
Westminster para uma unidade evangélica.

Como foi dito, o presente e-book é um trecho de uma obra. Porém, o


comentário completo será, progressivamente, disponibilizado (esse e outros
comentários de outros autores) na Plataforma de Estudos Minha Biblioteca
Westminster. Para ter acesso a esse material completo, faça seu cadastro e
login na Minha Plataforma Westminster. Que isso seja instrumento para
impulsionar a fé reformada conforme expressa nos Padrões de Westminster,
para a Glória de Deus e bem da Igreja.
Rev. Christopher Vicente, Editor.

21 de setembro de 2020, Natal-RN.


PREFÁCIO ORIGINAL

Ao preparar a seguinte Exposição da Confissão de Fé produzida pela


Assembleia dos Teólogos de Westminster, foi o objetivo do autor declarar
as verdades incorporadas em cada seção, explicar os termos empregados
(onde quer que fosse necessário), bem como ilustrar e confirmar as
doutrinas.

Para evitar aumentar o volume a um tamanho indevido, os argumentos


foram declarados com a maior brevidade possível. Nas ilustrações, se
buscou concisão e perspicácia; e numerosas passagens das Escrituras que
elucidam os assuntos tratados foram, meramente, mencionadas, sem serem
citadas completamente. Espera-se que o leitor atento encontre, aqui, a
substância de obras maiores comprimidas em um espaço pequeno. Materiais
para reflexão serão sugeridos, e um exame dos textos marcados das
Escrituras lançará muita luz sobre os pontos a que se referem.

A Confissão de Fé de Westminster contém uma simples exibição da


verdade, baseada na Palavra de Deus; suas várias proposições são colocadas
em oposição às heresias e erros que foram disseminados em várias eras.
Portanto, foi objetivo proeminente do autor da exposição apontar os
inúmeros erros contra os quais as declarações da Confissão são
direcionadas. O leitor encontrará, assim, as proposições dos santos de
Westminster sobre os vários erros pelos quais a verdade foi corrompida nos
tempos antigos, e será protegido contra os erros modernos que, geralmente,
são apenas um reavivamento daqueles que anteriormente haviam perturbado
a Igreja, que haviam sido refutados há muito tempo.
Para tornar o trabalho mais acessível para referência, dois índices foram
adicionados, que mostrarão de relance os vários assuntos discutidos e os
diversos erros que foram observados no decorrer do trabalho.

Ter transcrito as provas das Escrituras anexadas a cada proposição da


Assembleia dos Teólogos de Westminster teriam estendido esse volume a
um tamanho inconveniente. Todavia, os textos foram inseridos após cada
seção. O trabalho adicional daqueles que recorrerem a essas provas, em
suas Bíblias, será, amplamente, compensado. Seu conhecimento das
Escrituras será ampliado e eles ficarão satisfeitos com o fato de que toda
verdade estabelecida na Confissão é “muito agradável à Palavra de Deus”.
Sobre isso, o autor da Exposição está tão completamente convencido que
não achou necessário diferir dos compiladores da Confissão em nenhum
ponto da doutrina. A linguagem, em alguns casos, pode precisar de
melhora. Mas, quanto à “verdade da questão”, ele concorda, cordialmente,
com o julgamento da Assembleia Geral da Igreja da Escócia em 1647, que é
“majoritariamente ortodoxa e fundamentada na Palavra de Deus”. E se a
Confissão, duzentos anos atrás, continha uma exibição fiel da verdade, deve
fazê-lo ainda; pois a verdade bíblica é, como seu Autor divino, “o mesmo
ontem, hoje e eternamente”.

Whitburn, 12 de maio de 1845.


I

[A NECESSIDADE DE CREDOS E CONFISSÕES]

Têm existido muitas objeções contra o uso de Credos e Confissões de Fé,


em diferentes períodos e com vários graus de habilidade ou plausibilidade.
Não é necessário enumerar todas essas objeções ou responder a todas, pois
muitas delas caíram no esquecimento e outras já encontraram uma refutação
suficiente. A única objeção que, agora, é levantada, com algum grau de
confiança, é a que acusa as Confissões de usurparem uma posição e
autoridade devido apenas à verdade divina.

Essa objeção tem sua origem em uma visão errônea do que, realmente, é
uma Confissão de Fé e qual a necessidade de uma Confissão ser concebida.
A necessidade para a formação de Confissões de Fé não tem sua natureza
na verdade sagrada revelada ao homem; mas na própria mente humana.
Uma Confissão de Fé não é uma revelação da verdade divina; “nem mesmo
[é] uma regra de fé e prática, mas uma ajuda em ambas”. Para usar as
próprias palavras de nossa Confissão: uma confissão é uma declaração da
maneira pela qual qualquer homem ou número de homens (qualquer
cristão ou qualquer igreja) entende a verdade que foi revelada. Seu
objetivo é, portanto, não ensinar a verdade divina; mas exibir uma
declaração clara, sistemática e inteligível de nossos próprios sentimentos; e
fornecer os meios de apurar as opiniões de outros, especialmente, em
controvérsias religiosas.

A verdade dessa visão e a explicação que ela oferece da necessidade da


existência de Credos e Confissões podem ser, facilmente, demostradas. A
mente humana é tão propensa a erros e, com uma capacidade, tão
diversificada em todos os aspectos, que mesmo quando uma simples
verdade é apresentada para sua recepção, essa verdade pode ser reproduzida
em quase tantos aspectos diferentes quanto havia nas mentes diferentes para
as quais ela foi apresentada.

Suponha que seja uma frase única, pronunciada em uma voz ou escrita em
uma linguagem compreendida por todos, cada homem pode entender à sua
maneira, colocando sobre ela a construção que, para ele, parece a mais
clara. Seria impossível determinar se todos eles entenderam no mesmo
sentido ou não, apenas repetindo as próprias palavras que ouviram ou
leram, a menos que todos declarassem, cada um com suas próprias palavras,
o que entendem que isso significa. Então, cada homem poderia dizer:
“Acredito que seu significado tenha esse efeito”. Este seria, realmente, seu
Credo ou Confissão de Fé, respeitando essa verdade; e quando todos assim
declarassem sua crença, se algo como um consentimento harmonioso da
mente entre eles pudesse ser obtido, seria sua Confissão de Fé Comum, com
relação àquela verdade específica revelada e compreendida.

Entretanto, seria mais do que isso! Seria, ao mesmo tempo, um vínculo de


união entre si, nesse ponto, e, também, um testemunho conjunto para todos
os outros homens; não tão absoluta e certamente ensinando essa verdade,
mas tão absoluta e certamente transmitindo o sentido em que esses homens
a entendiam, na medida em que a afirmação deles era distinta e inteligível; e
pode provar o termo de admissão ao corpo daqueles que assim emitiram
uma declaração conjunta do que eles acreditavam ser o significado dessa
verdade.

Nesta medida, pensamos, todas as pessoas inteligentes e sinceras


concordam prontamente. Até agora, deve ser evidente que não há violação
da liberdade natural de qualquer homem, nem qualquer tentativa de
controlar ou ouvir suas convicções conscienciosas, respeitando o que ele
acredita ser verdade em qualquer caso dado ou suposto. Se alguém não
puder concordar com o testemunho conjunto prestado por quem concorda,
isso pode ser motivo de arrependimento mútuo; mas não pode conceder-
lhes qualquer direito de obrigá-lo a se juntar a eles, ao contrário de suas
convicções, nem lhe permitir reclamar por ter sido excluído de um corpo de
homens cujas opiniões ele não concordava. Na verdade, nenhum homem de
integridade estrita poderia desejar tornar-se membro de um corpo de
homens com quem não concordava com aquele ponto peculiar que
[2]
constituía a base de sua associação.

Agora, que essa visão seja aplicada ao assunto da verdade religiosa,


tomando o cuidado de marcar os pontos especiais que a ideia de verdade
religiosa, necessariamente, introduz. A verdade religiosa é a revelação da
vontade de Deus para o homem – seja essa revelação veiculada oralmente
ou em um registro escrito. Agora, ela chega até nós em um registro escrito.
Acreditamos que isso é a Palavra do próprio Deus da verdade. Nesse
sentido, é para toda alma a única e suficiente regra de fé, no que diz respeito
“ao que o homem deve acreditar em relação a Deus e ao dever Deus exige
do homem”. Porém, surge, imediatamente, a questão, como sugerido acima:
todos a quem essa revelação da vontade de Deus foi feita a compreendem
no mesmo sentido? Se alguém disser que sua única regra de fé é a Bíblia,
todo homem que acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus concordará com
esse sentimento. Mas, ainda assim, a pergunta retorna: “O que você entende
que a Bíblia ensina?”.

Não seria resposta para essa pergunta, apenas, repetir uma série de textos;
pois isso não daria informações em que sentido esses textos foram
entendidos. Isso deve se manifestar a todos que refletem por um momento.
Todos que se professam como cristãos, por mais discordantes que sejam
suas opiniões, pelo menos, assumem que acreditam na Bíblia. Mas, cada
sectário conflitante dá sua própria construção à linguagem daquele livro
sagrado; e é, apenas em consequência da afirmação, em suas próprias
palavras, do que é essa construção, que se pode saber se seus sentimentos
concordam ou diferem daqueles da maioria dos cristãos professos.

Isso, como observado, anteriormente, surge não da natureza da verdade


revelada, mas da natureza das mentes a quem essa verdade é apresentada.
Portanto, a questão não a respeito da verdade de Deus, mas a respeito da
verdade do homem – não a respeito da verdade da Bíblia, mas a apreensão
do homem por essa verdade.

Outro elemento aparece agora: A Bíblia não apenas contém uma revelação
da verdade eterna, que é dever do homem receber e manter; mas também,
indica um corpo de homens para serem os depositários e professores dessa
verdade (uma Igreja), que não é uma associação voluntária de homens que
constatou que há uma harmonia de sentimentos suficiente para uma base de
união. Porém, [ela é] uma instituição divina, sujeita, diretamente, a Deus e
não tem autoridade sobre a consciência.

E, para completar essa ideia, observe-se, ainda mais, que Deus, ao instituir a
Igreja, prometeu conceder a ela o Espírito Santo, levando-a ao
conhecimento da verdade. Essa promessa, além disso, não é, para a Igreja,
somente em uma capacidade agregada, mas também, para cada membro
individual dela, a fim de preservar inviolável sua própria responsabilidade e
garantir sua união pessoal com Deus.

A realização dessa grande promessa fornece o que, em nenhum outro caso,


existe ou pode existir – um árbitro infalível para a decisão de todas as
questões que possam surgir, respeitando a fé cristã. Pois, pode-se afirmar,
com confiança, que sempre que as Igrejas dissonantes ou os cristãos
individuais foram capacitados a buscar a luz e a orientação do Espírito
Santo, em um espírito sincero, humilde e sério, eles obtiveram uma decisão
sobre o ponto em disputa, puseram um fim à contenda e garantiram a
unidade do Espírito nos laços da paz. Além disso, apesar de todos os vários
aspectos nos quais o cristianismo, ao longo de muitos séculos, foi
disfarçado, externamente, ainda há uma quantidade de verdadeira harmonia
das crenças, como nenhum mestre ou árbitro infalível poderia ter garantido.

A Igreja Cristã, como uma instituição divina, toma somente a Palavra de


Deus, e toda a Palavra de Deus, como sua única regra de fé. Mas, ela
também deve formular e promulgar uma declaração do que ela entende que
a Palavra de Deus deve ensinar. É o que ela faz, não arrogando qualquer
autoridade para suprimir, alterar ou modificar qualquer coisa que a Palavra
de Deus ensine, mas, apenas, no cumprimento dos vários deveres que ela
deve a Deus, ao mundo e aos de sua própria comunhão.

Desde que ela foi constituída a depositária da verdade de Deus, é seu dever
declarar, nos termos mais distintos e explícitos, o que ela entende que essa
verdade significa. Dessa maneira, ela não apenas proclama o que Deus
disse, mas também, acrescenta seu selo de que Deus é verdadeiro. Assim,
uma Confissão de Fé não é a própria voz da verdade divina, mas o eco
dessa voz das almas que ouviram seu pronunciamento, sentiram seu poder e
estão atendendo ao seu chamado. E, desde que ela foi instituída com o
objetivo de ensinar a verdade de Deus a um mundo que erra, seu dever, para
com o mundo, exige que ela faça isso sem [nenhuma dúvida] dúvida,
respeitando a maneira pela qual entende a mensagem que deve transmitir.
Sem isso, a Igreja não seria mestra e o mundo poderia permanecer sem
instrução, no que diz respeito a ela. Pois, quando a mensagem foi declarada
nas próprias palavras de Deus, todo ouvinte deve tentar, de acordo com a
constituição de sua própria mente, formar alguma concepção do que essas
palavras significam; e suas concepções podem ser muito vagas e obscuras,
ou mesmo muito errôneas, a menos que seja feita alguma tentativa para
defini-las, elucida-las e corrigi-las.

De fato, os ouvintes ou os professores também não podiam saber se


entendiam a verdade da mesma maneira, sem declarações e explicações
mútuas com relação ao significado o qual eles acreditam que ela transmite.
Ainda mais, a Igreja tem o dever de cumprir com os de sua própria
comunhão. Para eles, ela deve produzir uma forma de palavras sonoras, a
fim de promover e confirmar seus conhecimentos e protegê-los contra o
risco de serem levados a erros. E, como devem ser considerados como todos
concordam, com respeito ao esboço principal das verdades em que eles
acreditam, eles estão, profundamente, interessados em obter alguma
segurança de que aqueles que se tornarão seus professores, nas gerações
futuras, continuarão a ensinar as mesmas verdades divinas e salvadoras. Os
membros de qualquer Igreja devem conhecer os sentimentos um do outro;
devem combinar-se para sustentá-los de maneira constante e consistente, à
atenção de todos os que os rodeiam, como testemunhas das mesmas
verdades; e devem fazer o máximo para garantir que as mesmas verdades
sejam ensinadas por todos os seus ministros e todos os candidatos à
admissão.

Para todos esses propósitos, a formação de um Credo ou Confissão de Fé é,


imperativamente, necessária. Portanto, parece que uma Igreja não pode
cumprir, adequadamente, seu dever para com Deus, com o mundo e com
seus próprios membros, sem uma Confissão de Fé.
Nunca houve um período em que a Igreja Cristã tenha estado sem uma
Confissão de Fé, embora essas Confissões tenham variado tanto em caráter
quanto em extensão. A primeira e mais simples confissão é a de Pedro: “Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. A do tesoureiro etíope é semelhante e
quase idêntica: “Eu acredito que Jesus Cristo é o Filho de Deus”. Esta
Confissão garantiu a admissão na Igreja. Mas, sem isso, a admissão não
poderia ter sido obtida.

Não demorou muito para que essa simples e breve confissão primitiva fosse
ampliada; a princípio, a fim de encontrar as noções perversas dos
professores judaizantes e, a seguir, excluir aqueles que estavam começando
a ser contaminados pelas heresias gnósticas. Tornou-se, então, necessário,
não apenas confessar que Jesus Cristo era o Filho de Deus, mas também,
que Jesus Cristo veio em carne para impedir a admissão e verificar o ensino
daqueles que sustentavam que a natureza humana de Cristo era um mero
fantasma ou aparência.

Do mesmo modo, o surgimento de qualquer heresia tornou necessário,


primeiro, testar o novo princípio pela Palavra de Deus e pela decisão do
Espírito Santo; e, depois, adicionar à Confissão de Fé existente um novo
artigo, relativos à libertação da Igreja a respeito de cada heresia sucessiva.
Assim, no cumprimento de seu dever para com Deus, com o mundo e com
ela mesma, a Igreja foi forçada a ampliar a Confissão de sua fé. Porém, esse
alargamento inevitável não deve ser censurado como desnecessariamente
prolongado e minucioso; pois, observe-se que isso levou a uma clareza e
precisão, continuamente, crescentes no testemunho daquilo que a Igreja
acredita e tendia ao desenvolvimento progressivo da verdade sagrada.

Além disso, quando a necessidade de uma Confissão surge da natureza da


mente humana; e o aumento da Confissão foi causado pelo aparecimento e
refutação sucessivos de erros; e como a mente humana ainda é a mesma e
propensa as mesmas noções errôneas, a Confissão de Fé, que contém uma
refutação de heresias passadas, fornece, a qualquer momento, a todos que a
entendem, uma arma pronta com a qual se deparar com qualquer heresia
ressuscitada. A verdade dessa visão será mais notória para aqueles que
estudaram, com mais cuidado, as várias Confissões de Fé formuladas pela
Igreja Cristã. E ela sempre será considerada de pouca importância por
aqueles que buscam admissão, em qualquer Igreja, que, em sua Confissão,
possam obter uma exibição completa dos termos de comunhão com os quais
devem consentir.

A existência de uma Confissão de Fé é sempre uma defesa permanente


contra o perigo de qualquer Igreja cair de surpresa na heresia. Pois, embora
nenhuma Igreja deva considerar sua Confissão como um padrão de fé, em
qualquer outro sentido que não seja subordinado [à Escritura], ainda é um
padrão da fé admitida, que a Igreja não pode abandonar, ligeiramente; e um
termo de comunhão com seus próprios membros, até que seus artigos sejam
acusados de serem errôneos; e, novamente, levados ao padrão final e
supremo, a Palavra de Deus e o ensino do Espírito Santo, sincera, humilde e
seriamente buscados em fé e oração.
II

[A EXCELÊNCIA DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER]

Abandonando o assunto das Confissões de Fé, em geral, direcionamos


nossa atenção para a Confissão de Fé emoldurada pela Assembleia dos
Teólogos de Westminster. A primeira coisa que deve impressionar qualquer
leitor atento, depois de examinar, atenta e cuidadosamente, a Confissão de
Fé da Assembleia de Westminster, é a notável abrangência e precisão de seu
caráter, visto como uma exibição sistemática da verdade divina ou o que é
chamado de sistema de teologia. Nesse ponto, pode ser considerada quase
que perfeita, tanto em seu arranjo quanto em sua totalidade. Mesmo um
único olhar sobre seu índice mostrará com que habilidade requintada de seu
arranjo procede da declaração dos primeiros princípios para o
desenvolvimento regular e a consumação final de todo o esquema da
verdade revelada. Nada essencial é omitido; e nada é estendido a um
comprimento desproporcional à sua devida importância.

Também não pensamos que um estudo sistemático da teologia possa ser


processado com um plano melhor do que o da Confissão de Fé. Pouca
atenção, talvez, tenha sido demonstrada à Confissão neste aspecto; e
estamos, fortemente, convencidos de que ela pode ser usada mais
proveitosamente em nossos salões teológicos como um livro didático. Isso,
pelo menos, pode ser afirmado: que nenhum cristão poderia deixar de se
beneficiar amplamente da leitura e releitura deliberada e estudiosa da
Confissão de Fé, com o objetivo expresso de obter uma concepção clara e
sistemática da verdade sagrada, tanto como um todo, quanto com todas as
suas partes dispostas de maneira a exibir sua respectiva importância, relação
mútua e ilustração entre si. Essa leitura deliberada, também, tenderia muito
a fortalecer a mente contra o perigo de ser desviada por noções grosseiras,
ou induzida a atribuir importância indevida a alguma doutrina favorita, à
depreciação de outras não menos essenciais e com ferimentos graves à
analogia harmoniosa da fé.

Há outra característica da Confissão de Westminster, à qual, geralmente,


menos atenção tem sido direcionada, mas que não é menos notável.
Elaborada, por assim dizer, por homens de conhecimento e habilidade
distintos, que estavam, completamente, familiarizados com a História da
Igreja, desde os primeiros tempos até o período em que viveram, a
Confissão de Westminster contém o julgamento calmo e determinado desses
grandes teólogos sobre todas as heresias previsíveis e assuntos de
controvérsia que, em qualquer Era ou país, agitaram a Igreja. Isso acontece
sem nomear, expressamente, uma dessas heresias sequer ou entrar em mera
controvérsia. Cada erro é condenado, não por uma declaração direta e
refutação, mas por uma declaração clara, definida e forte da verdade
inversa. Havia, nesse modo de exibir a verdade, uma sabedoria singular que
se comunicava com modéstia, igualmente, singular. Tudo de natureza
irritante é suprimido, e somente a pura e simples verdade é exibida.

Enquanto, não apenas, não há um desfile ostensivo de aprendizado superior,


também, não há uma ocultação de um aprendizado mais preciso e profundo.
Um leitor apressado ou superficial da Confissão de Fé, dificilmente,
perceberá que, em algumas de suas proposições, aparentemente, simples,
ele está examinando uma refutação aguda e conclusiva das várias heresias e
controvérsias que corromperam e perturbaram a Igreja. No entanto, se ele se
voltar para a História da Igreja, se familiarizar com os detalhes e retomar o
estudo da Confissão, ficará surpreso ao descobrir, em um só lugar, as teorias
selvagens dos gnósticos dissipadas; em outro, as heresias ariana e sociniana
deixadas de lado; em outro, a própria essência do sistema papista
aniquilado; e em outro, a base de todos os erros pelagianos e arminianos
removidos.

Assim vista, a Confissão de Fé pode estar tão ligada a um aspecto da


História da Igreja que fornece, se não um livro de acordo com o
cronograma, estudando a ascensão e refutação das heresias, mas também,
um arranjo valioso de sua importância relativa, doutrinariamente
considerado. E, quando anunciamos o fato de que, devido à semelhança da
mente humana, há uma tendência, perpetuamente recorrente, de reproduzir
um erro antigo e que já foi refutado, como se fosse uma nova descoberta de
alguma verdade, até então, desconhecida ou negligenciada, deve ser óbvia
que era a excelência peculiar de nossa Confissão, como libertação de todas
as heresias existentes, mais conhecidas e mais atendidas. Haveria grandes
razões para esperar que o reaparecimento dessas heresias se tornasse quase
impossível ou, pelo menos, que seu crescimento seria percebido com muita
rapidez e eficácia.

Estreitamente ligada a esta excelência da Confissão de Fé está sua


surpreendente precisão de pensamento e linguagem. Todo o treinamento
mental dos eminentes teólogos daquele período levou a esse resultado. Eles
estavam acostumados a lançar todos os argumentos na forma silogística e a
ajustar todos os seus termos com o máximo cuidado e precisão.

Todo aquele que estudou as proposições da Confissão deve ter observado


sua extrema precisão; mas, sem atenção especial, ele pode não perceber o
espantoso cuidado que esses teólogos dedicaram a essa parte de sua grande
obra. Isso pode ser mais bem exposto por um exemplo. Vamos selecionar
um do capítulo III, “Do Decreto Eterno de Deus”, seções 3 e 4: “Pelo
decreto de Deus, para a manifestação de Sua glória, alguns homens e anjos
são predestinados para a vida eterna, e outros preordenados para a morte
eterna. Esses anjos e homens, assim predestinados e preordenados [...]”.

As expressões para as quais desejamos chamar a atenção do leitor são as


palavras “predestinados” e “preordenados”. Um leitor apressado ou
superficial pode não perceber diferença entre essas palavras. Mas, se forem
iguais, por que as duas são usadas? Pois, não há exemplo de mera repetição
tautológica na linguagem concisa da Confissão. Mas, além disso, seja bem
observado que a palavra “predestinado” é usada apenas em conexão com
“vida eterna” e a palavra “preordenado” com “morte eterna”. E, quando a
forma composta da proposição é assumida, ambos os termos são usados
para representar cada um de seus respectivos membros na afirmação geral.

Por que isso acontece? Porque os Teólogos de Westminster não entendiam o


significado dos termos predestinação e preordenação como idênticos e,
portanto, nunca usaram essas palavras como sinônimos. Por predestinação,
eles queriam dizer um decreto positivo que determinava conferir vida
eterna; e isso eles consideravam a base de todas as doutrinas da livre
graça, surgidas do nada no homem, mas tendo por sua origem divisória o
caráter e a soberania de Deus. Por preordenação, por outro lado,
significavam um decreto de ordem ou arranjo, determinando que os
culpados deveriam ser condenados à morte eterna; e isso eles consideravam
a base do processo judicial, segundo o qual Deus “e ordena-os à desonra e
ira, por seus pecados”, e dizendo respeito ao próprio caráter e conduta do
homem.

Observe-se, ainda, que, embora, de acordo com essas opiniões, o termo


predestinação nunca possa ser aplicado com propriedade aos perdidos, o
termo preordenação pode ser aplicado aos salvos, uma vez que eles,
também, são sujeitos, em certo sentido, aos processos judiciais.
Consequentemente, não há nenhum caso, na Confissão de Fé, em que o
termo predestinação seja aplicado aos perdidos, embora existam vários
casos em que o termo preordenação, ou um termo semelhante, seja aplicado
aos salvos. E deixemos também destacado que o termo reprovação, o qual é
tão suscetível a ser mal interpretado e aplicado em sentido ofensivo à
doutrina da predestinação, nem sequer é usado uma vez na Confissão de Fé
e nos Catecismos Maior e Breve.

Os escritores posteriores dessa doutrina, de fato, empregaram essa palavra,


como os escritores mais antigos haviam feito, e assim proporcionaram
ocasião aos oponentes da doutrina para deturpá-la. Mas, os teólogos de
Westminster evitaram, cautelosamente, o uso de um termo ofensivo;
selecionaram, cuidadosamente, as palavras mais adequadas para transmitir
seu significado; e, em todos os casos, usaram-nas com a mais estrita e
definitiva precisão.

Muitos outros exemplos podem ser dados sobre a notável precisão do


pensamento e da linguagem, que constitui uma característica distinta da
Confissão de Fé. Porém, devemos nos contentar em sugerir a linha de
investigação, deixando para todo leitor processá-la por si mesmo.

Na Exposição, considerou-se necessário o uso do termo reprovação, em


consequência de sua ocorrência frequente nos escritos dos autores
modernos mais eminentes que, no entanto, tiveram o cuidado de explicá-lo,
de modo a se proteger contra a dura má interpretação de seu significado por
oponentes preconceituosos. Quando assim explicado, é inofensivo. Mas,
poderia ter sido também, se um termo tão suscetível de ser pervertido nunca
tivesse sido empregado.
Outro grande mérito da Confissão consiste na afirmação clara e bem
definida que ela faz dos princípios sobre os quais somente ela pode repousar
com segurança a grande ideia da coordenação, e ainda apoio mútuo, das
jurisdições civil e eclesiástica. É muito comum as pessoas entenderem mal
as partes da Confissão que tratam dessas jurisdições – algumas acusando
aquelas passagens de conter concessões erastianas e outras acusando-as de
serem ilegais ou intolerantes. A verdade é que eles não favorecem nenhum
extremo. Prosseguindo com a regra sagrada, para prestar a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus, eles atribuem de bom grado ao magistrado
civil um poder supremo no Estado – tudo o que pertence à sua província,
não apenas no que diz respeito à sua devida autoridade sobre as pessoas e
propriedades dos homens, mas também, no que diz respeito ao seu modo
oficial de prestar homenagem ao rei dos reis.

É neste último departamento do dever magisterial, em que consiste o que é


chamado de poder do magistrado civil circa sacra (sobre assuntos
religiosos). Mas, aí termina sua província, e ele não tem poder in sacris (em
assuntos religiosos). Isso é, cuidadosamente, guardado na proposição
principal do capítulo XXX: “O Senhor Jesus Cristo, como rei e chefe de
Sua igreja, designou um governo nas mãos dos oficiais da igreja, distinto do
magistrado civil”.

Os principais erastianos daquele período, instruídos e sutis como eram,


sentiram ser impossível escapar à força dessa proposição e só podiam se
recusar a conceder a ela a sanção do legislativo. Eles não podiam, no
entanto, prevalecer sobre a Assembleia, para modificá-la ou suprimi-la; e ali
permanece, e deve permanecer, como a refutação sem resposta e
irrespondível da heresia erastiana pela Assembleia dos Teólogos de
Westminster. Nos tempos modernos, é costume demais dos oponentes do
erastianismo conceder tacitamente o argumento erastiano – ou, pelo menos,
o princípio sobre o qual repousa, admitindo, ou mesmo afirmando, que, se
uma Igreja for estabelecida, ela deve cessar de ter uma jurisdição separada e
independente e deve obedecer às leis do Estado, mesmo em questões
espirituais. Mas, depois, declarando que, como isso é, evidentemente,
errado, não deveria haver Igreja Estabelecida.

Há mais perigo para a liberdade civil e religiosa nesse modo de fugir do


erastianismo do que é comumente percebido; pois, se fosse, geralmente,
admitido que uma Igreja Estabelecida deveria estar sujeita, mesmo em
questões espirituais, à jurisdição civil do Estado. Então, os governantes
civis teriam um interesse direto e admitido em estabelecer uma Igreja, não
para promover Cristianismo, nem com o objetivo de prestar homenagem ao
rei dos reis da terra, mas com o objetivo de empregar a Igreja como um
poderoso motor da política do Estado. Que eles se beneficiariam dessa
admissão é certo; e isso tenderia, necessariamente, a produzir uma disputa
perigosa entre os defensores da liberdade religiosa e os defensores do poder
arbitrário; e se a questão fosse o triunfo do erastianismo, ela,
inevitavelmente, envolveria a perda da liberdade civil e religiosa na mistura
das duas jurisdições – que é a própria essência do despotismo absoluto.

Disso, os autores de nossa Confissão estavam bem cientes; e, portanto,


esforçaram-se por obter a contrapartida e a cooperação mútua e bem
ajustada das duas jurisdições, como as melhores salvaguardas da liberdade
civil e religiosa como fundamentadas na autoridade expressa da Palavra de
Deus. Nunca foi provado, nem pelas Escrituras nem pela razão, que eles
estavam errados, embora seus pontos de vista tenham sido muito mal
compreendidos e gravemente deturpados. Mas, em vez de abordar este
tópico, nos referimos ao comentário sobre os capítulos que tratam do
magistrado civil, dos sínodos e das censuras da Igreja, como uma
explicação muito precisa e inteligível da doutrina da Confissão sobre esses
assuntos.

A Confissão de Fé tem sido, frequentemente, acusada de defender


princípios intolerantes e perseguidores. É, no entanto, na verdade,
igualmente livre da frouxidão latitudinariana, por um lado, e da
intolerância, por outro. Uma leitura inteligente e sincera do capítulo XX,
“Sobre a liberdade cristã e a liberdade de consciência”, deve, por si mesma,
refutar todas essas calúnias. A mente do homem nunca produziu uma
proposição mais verdadeira ou mais nobre do que a seguinte: “Somente
Deus é o Senhor da consciência, e a deixou livre das doutrinas e
mandamentos dos homens, que são algo contrário à sua Palavra, ou que se
colocam como iguais a ela, em questões de fé ou adoração”. O homem que
pode compreender, manter e agir de acordo com esse princípio, nunca pode
arrogar uma autoridade autoritária e intolerante sobre a consciência de seu
próximo, e, muito menos, usar contra ele as armas da perseguição
implacável.

Todavia, existe um método predominante e muito falso: ou de pensar ou


fingir pensar, respeitando a tolerância e a liberdade de consciência. Muitos
parecem ser de opinião que a tolerância consiste em não fazer distinção
entre verdade e erro, mas considerá-los com o mesmo favor. Se analisado,
cuidadosamente, essa opinião seria, essencialmente, de caráter infiel.
Muitos parecem pensar que, por liberdade de consciência, se entende que
todo homem deve ter liberdade para agir, em tudo, de acordo com sua
própria inclinação, sem levar em consideração os sentimentos, convicções e
direitos de outros homens. Isso seria, de fato, converter liberdade em
ilegalidade e conscientizar a licenciosidade.
Mas, a Confissão prossegue com o princípio de que a verdade pode ser
distinguida do erro, o certo do errado; que, embora a consciência não possa
ser obrigada, ela pode ser iluminada; e que, quando pecadores, corruptos e
propensos à licenciosidade, os homens podem ser, legalmente, impedidos
de cometer excessos ofensivos ao sentimento do público e prejudiciais ao
bem-estar moral da comunidade. Se isso é intolerância, é um tipo de
intolerância da qual ninguém se queixará, exceto aqueles que desejam se
libertar de toda restrição da lei humana ou divina.

Nada, em nossa opinião (apenas uma determinação deliberada de deturpar


os sentimentos expressos na Confissão de Fé ou um grau culposo de
ignorância voluntária respeitando o verdadeiro significado desses
sentimentos), poderia induzir qualquer homem a acusá-la de favorecer
princípios intolerantes e perseguidores. Certamente, a conduta daqueles que
a delinearam não aceitou tal acusação, embora essa calúnia tenha sido,
frequentemente e mais pertinentemente, afirmada.

Nesse ponto, também, seria bom que as pessoas se dessem ao trabalho de


determinar qual significado preciso os autores da Confissão deram às
palavras que empregavam; pois, não estão fazendo justiça a eles e ao seu
trabalho, ao adotar alguma aceitação moderna de um termo usado por eles,
em um sentido diferente, e depois acusá-los de manter o sentimento
transmitido pelo uso moderno ou mau uso desse termo. No entanto, esse é o
método quase, invariavelmente, empregado pelos agressores da Confissão
de Fé.
III

[UM BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA CONFISSÃO DE FÉ DE


WESTMINSTER]

Para formar uma concepção correta acerca Confissão de Fé, é,


absolutamente, necessário conhecer a história do período em que foi
composta. Um breve resumo, no entanto, é tudo o que nosso espaço atual
permite.

Havia, desde o início, uma diferença muito forte e essencial entre as igrejas
reformadas da Inglaterra e da Escócia, surgindo, em grande parte, dos
elementos peculiares vigentes, na época, nos respectivos reinos. Na
Inglaterra, a Reforma foi iniciada, conduzida e interrompida, quase
inteiramente, de acordo com a vontade de um soberano reinante. Na
Escócia, foi iniciada, levada adiante e concluída, apesar da determinada
oposição do soberano. Na Inglaterra, portanto, a vontade do monarca foi um
elemento essencial desde o início, e continuou a sê-lo durante o curso da
Reforma, e a Igreja da Inglaterra foi, consequentemente, baseada e
permeada pela má influência do princípio erastiano, o soberano sendo
reconhecido como o juiz supremo tanto em causas eclesiásticas quanto
civis. A Igreja da Escócia assumiu uma base muito diferente e deu sua
lealdade total a um outro rei: ela assumiu como única regra a Palavra de
Deus somente, e toda a Palavra de Deus, em todas as questões de doutrina,
adoração, governo, e a disciplina, e prestou sua lealdade ao Senhor Jesus
Cristo, e somente a ele, como o único Cabeça e Rei da Igreja. Havia,
portanto, na Igreja da Escócia, desde o início, um grau de independência
espiritual—de verdadeira liberdade religiosa, que a Igreja da Inglaterra
nunca poderia atingir.

Essa independência espiritual desfrutada pela Igreja da Escócia não era de


modo algum agradável para Tiago VI, que se propôs a subvertê-la por todos
os meios que a fraude (por ele chamada de “arte do rei”) pudesse inventar
ou forçar a realizar. Ele não foi, totalmente, bem-sucedido, porém, ao banir
os fiéis e os destemidos e intimidar os tímidos, ele conseguiu moldá-la um
pouco em conformidade com sua vontade arbitrária; e impôs a ela um
conjunto de prelados sicofânticos e tirânicos.

Seu filho mais severo, mas não menos enganoso, Charles I, instigado por
William Laud (cuja mente era estreita e cruel), procurando completar o que
seu pai havia começado, levou a Escócia à necessidade de se levantar em
defesa de suas liberdades civis e sagradas. Isso deu origem ao grande Pacto
Nacional de 1638, pelo qual o povo de quase todo o reino estava unido a
Deus e uns aos outros, em um vínculo solene, para a manutenção e defesa
da sagrada verdade e liberdade. Prosseguindo o concurso, uma Assembleia
Geral foi realizada em Glasgow no final do mesmo ano, na qual o sistema
de prelado foi abolido e a Igreja Presbiteriana da Escócia restaurada. Em
vão, o rei tentou derrubar esta segunda reforma, mesmo pela extrema
medida de uma tentativa de invasão. A maré da guerra recuou das fronteiras
da Escócia; e a Igreja e o reino continuaram sob um pacto nacional e livres.

Mas, uma tempestade havia se acumulado na Inglaterra, há muito tempo; e


estava pronta para explodir com força incontrolável. Embora, o progresso
da Reforma na Inglaterra tenha sido paralisado, em todos os seus elementos,
e tenha parado pouco antes de atingir uma completude, ainda havia muitos
que desejavam, ardentemente, promover a maior pureza da Igreja Inglesa
através de reformas adicionais na doutrina, adoração e disciplina. Isso não
pôde ser obtido, mas os esforços perseverantes desses verdadeiros
reformadores deram origem ao partido puritano (conforme foram
designados); e preparados para uma luta mais intensa e formidável.

Por outro lado, enquanto os puritanos se esforçavam por mais reformas, o


que pode ser denominado de partido da Corte estava se afastando cada vez
mais dos princípios da Reforma e, gradualmente, se aproximando dos de
Roma. O gênio maligno do infeliz William Laud levou a situação a uma
crise. Sua influência exortou o infeliz rei a adotar medidas terríveis tanto
para a liberdade civil e quanto religiosa. O espírito livre da Inglaterra foi,
finalmente, despertado, e a disputa entre o monarca despótico e seus súditos
de coração livre começou a assumir o aspecto de uma guerra civil.

O Parlamento declarou, permanente, suas próprias sessões e (considerando


os princípios despóticos e a conduta dos bispos como a causa direta da
opressão sob a qual eles tinham, por tanto tempo, gemido) aprovou um
projeto de lei para a abolição do prelado. O rei desembainhou a espada da
guerra civil; e o Parlamento inglês buscou a ajuda da Escócia, conforme
necessário para preservar as liberdades de ambos os reinos.

Os principais estadistas escoceses estavam bem cientes de que se o rei


tivesse sucesso em sua tentativa de dominar o Parlamento Inglês, ele,
imediatamente, atacaria a Escócia com maior poder e determinação. Mas,
ao mesmo tempo, como toda a sua disputa fora em terreno sagrado, eles não
podiam entrar em uma aliança ofensiva e defensiva com o Parlamento
Inglês por nenhuma causa menos sagrada, ou com um objetivo menos
importante em vista. Se o rei não tivesse ido além de sua própria província e
invadido a religião, eles teriam deixado sua jurisdição e autoridade
inquestionáveis e intocadas.
Por tais razões, eles não formariam com a Inglaterra uma liga civil, exceto
se fosse baseada e permeada por um pacto religioso. Para esses pontos de
vista, a Inglaterra consentiu; e a consequência foi a formação da Solene
Liga e Aliança — um documento que não podemos deixar de considerar o
mais nobre e o melhor, em sua natureza e princípios essenciais, de tudo o
que é registrado nas transações internacionais do mundo.

Um tempo considerável antes que esse importante evento acontecesse,


havia sido adotada, na Inglaterra, a ideia de que seria, extremamente,
desejável chamar um “sínodo geral dos teólogos mais sérios, piedosos,
instruídos e judiciosos”, com o objetivo de deliberar a respeito de todos
coisas necessárias para a paz e o bom governo da Igreja. Esse desejo foi
sugerido já em 1641, embora não tenha sido aplicado até 12 de junho de
1643 – quando o Parlamento emitiu o decreto convocando a Assembleia.

Embora a Solene Liga e Aliança não exercesse pouca influência nas


deliberações daquela Assembleia, não foi a causa dessa Assembleia. Na
época em que a Assembleia foi convocada, não havia Igreja organizada na
Inglaterra. A prelacia havia sido abolida e não havia outra forma de governo
da Igreja. Não se reuniu como um tribunal da Igreja, no sentido exato dessa
expressão, mas, na realidade, era apenas uma Assembleia de teólogos,
reunidos em um caso de extrema emergência, para consultar, deliberar e
aconselhar. Mas não para exercer, diretamente, qualquer ação judicial ou
funções eclesiásticas.

É necessário ter isso em mente, não com o objetivo de menosprezar seu


caráter e procedimentos, mas com o objetivo de mostrar quão
absolutamente infundadas são as afirmações daqueles que acusam dela
constituir um princípio erastiano. Não poderia ter se reunido exceto sob a
proteção do Parlamento. Não era um tribunal eclesiástico, pois não tinha
conformidade com os sistemas episcopal, presbiteriano ou congregacional
de governo da Igreja; não governou o Parlamento, nem foi governado pelo
Parlamento; deliberou, fundamentou, votou, formou o seu próprio
julgamento livre sobre as questões importantes que lhe eram submetidas e
deu o resultado sob a forma de conselho ao Parlamento, a ser seguido ou
rejeitado por aquele órgão sob a sua própria responsabilidade.

Quando os membros do Parlamento, que formaram um elemento


constituinte dele como avaliadores leigos, se esforçaram para introduzir os
princípios erastianos em suas decisões, ela enfrentou essas tentativas com
oposição forte, perseverante e invencível — preferindo que todos os seus
trabalhos prolongados fossem rejeitados, a que a adoção do erastianismo,
por qualquer compromisso fraco e pecaminoso; ou o consentimento na
admissão de um princípio mau.

A maior parte dos teólogos de que a Assembleia de Westminster era


composta por puritanos. Todavia, quase todos eles eram, originalmente,
episcopais, pelo menos até agora, como considerados em sua ordenação e
por terem ocupado o cargo ministerial em conexão com o Establishment do
prelado. Os Independentes eram, inicialmente, apenas cinco em número —
Goodwin, Nye, Burroughs, Bridge e Simpson. Mas, depois, aumentaram
para cerca de uma dúzia. Havia apenas dois dos teólogos que alimentavam
os princípios erastianos — Lightfoot e Coleman. Os comissários escoceses,
nomeados para consultar e deliberar, mas não para votar, eram seis em
número, quatro dos quais ministros — Henderson, Baillie, Rutherford e
Gillespie; e dois presbíteros — lorde Maitland e Johnston de Warriston. O
número total da Assembleia era de cento e quarenta e dois teólogos e trinta
e dois assessores leigos, mas desse número raramente mais do que sessenta
a oitenta davam assistência regularmente.
A Assembleia foi convocada, pela primeira vez no sábado, 1º de julho de
1643, e continuou a realizar reuniões regulares até 22 de fevereiro de 1649,
quando, em vez de ser, formalmente, dissolvida, foi formada em uma
comissão para o julgamento dos ministros. Nesse caráter, continuou a
reunir-se, ocasionalmente, até 25 de março de 1652, quando Cromwell
dissolveu à força o Longo Parlamento e pôs fim a tudo o que ele havia dado
existência. O número de sessões realizadas pela Assembleia de Westminster
foi de mil cento e sessenta e três [1.163], e o período de sua duração cinco
anos, seis meses e vinte e um dias [5 anos, 6 meses e 21 dias].

O resultado geral das deliberações da Assembleia de Westminster foi a


formulação da Confissão de Fé, do Diretório de Culto Público, de uma
Forma de Governo e Disciplina da Igreja e dos Catecismos Maior e Breve.
Quando estes foram concluídos, os comissários escoceses voltaram ao seu
próprio país e colheram os frutos daqueles trabalhos nos quais tinham, tão
longa e arduamente, se empenhado perante a Assembleia Geral da Igreja da
Escócia; e obtiveram a ratificação dessas importantes produções.

Tão cuidadosa, no entanto, foi a Igreja da Escócia para se proteger contra a


possível admissão de qualquer coisa que se suspeitasse ter a menor mancha
do erastianismo, que a Assembleia, em sua Lei que aprova a Confissão de
Fé, de 27 de agosto de 1647, inseriu uma explicação do capítulo XXXI,
relativa à autoridade do magistrado civil para chamar um sínodo —
restringindo essa autoridade ao caso de “Igrejas não estabelecidas ou
constituídas no ponto de governo” e protegendo o direito da Igreja de
manter assembleias sob sua própria autoridade, “pelo poder intrínseco
derivado de Cristo”, mesmo que o magistrado civil possa negar seu
consentimento. Para isso, o Parlamento escocês não ofereceu oposição. Mas
o parlamento inglês recusou, ou pelo menos declinou, ratificá-lo ou
sancioná-lo, e recomendou certos detalhes na disciplina. Esses detalhes
foram a seção 4, capítulo XX “Da liberdade cristã e da liberdade da
consciência”; capítulo XXX, “Das censuras da igreja”; e capítulo XXXI,
“Dos Sínodos e dos Concílios”. Se o leitor inteligente e sincero ler
atentamente as passagens acima mencionadas, ele não pode deixar de
perceber a loucura, o absurdo ou a malevolência perversa daqueles que
acusam a Confissão de Fé de estar manchada de intolerância e erastianismo,
já que as próprias passagens em que essas pessoas pretendem fundar suas
acusações foram aquelas que o decididamente erastiano, e não o
particularmente tolerante Parlamento da Inglaterra, se recusou a sancionar.

É doloroso ser constrangido, até mesmo, a aludir à fabricação contínua de


tais acusações caluniosas, por alguns que sabem, ou deveriam saber, que
são totalmente falsas. “O que devo fazer para me tornar famoso?” disse um
jovem ambicioso a um sofista antigo. “Mate um homem que já é famoso, e
seu nome sempre será mencionado junto com o dele”, foi a resposta do
sofista. Parece que os homens que acusam a Confissão de Fé de intolerante
partilham desse princípio, como se essa fosse uma maneira pronta de obter
fama. Mas, os sofistas deixaram de fazer a distinção entre fama e infâmia; e
parece que aqueles que procuram fama tentando matar a reputação dos
teólogos de Westminster cometeram um erro semelhante.

Entretanto, não é necessário, aqui, julgar a vindicação da Assembleia de


Westminster e a Confissão de Fé. Isso foi, efetiva e recentemente, feito por
várias publicações, às quais o leitor é encaminhado. Apenas declararemos,
com relação a tais acusações, que os presbiterianos, em geral, e os
presbiterianos escoceses, em particular, há muito tempo são culpados da
mais ingrata negligência e desrespeito pelas memórias dos homens,
verdadeiramente, grandes e bons, por quem os admiráveis padrões de sua
Igreja foram, reverentemente, formulados.

Seria absurdo atribuir perfeição aos homens ou às suas obras. Porém, é mais
do que absurdo permitir que sejam difamados por assaltantes de todos os
tipos que, certamente, não são, em nenhum aspecto, iguais a esses homens,
sem pronunciar uma palavra em sua defesa. O melhor modo de defendê-los,
no entanto, é atrair para eles a atenção da mente do público. Que eles sejam
lidos e estudados, profundamente; que sejam expostos ao mais minucioso e
cuidadoso exame; que toda proposição seja severamente testada pelas mais
estritas leis de raciocínio e pelo padrão supremo da Palavra de Deus. Tudo o
que não puder suportar esta investigação, deixe de lado, como algo pesado
numa balança e achado em falta. Pois apenas isso é consistente com sua
própria admissão franca de que “todos os sínodos e concílios, desde os
tempos dos apóstolos, sejam gerais ou particulares, podem errar, e muitos
erraram. Portanto, eles não devem ser feitos a regra de fé ou prática, mas
para ser usado como uma ajuda em ambos”. Mas, na medida em que
aguarda um exame tão minucioso — e disso não temos medo —, deixe de
ser exposta a agressões arbitrárias de ignorância grosseira, calúnia ardilosa
ou amarga malevolência. Isso, e nada menos do que isso, é devido à
memória dos ilustres mortos e à confissão viva de sua fé, e ao nosso próprio
apego reverencial às sagradas doutrinas ali declaradas e mantidas.
IV

[UM CHAMADO A CONSIDERAÇÃO E UTILIDADE PARA


UNIDADE DA IGREJAS, HOJE, POR MEIO DA CONFISSÃO DE
FÉ DE WESTMINSTER]

Nossas observações preliminares foram iniciadas direcionando a atenção


para a necessidade da existência de Credos e Confissões e para os
importantes objetivos servidos por esses padrões subordinados [à Escritura];
e retomamos essa visão com o objetivo de declarar a inferência à qual ela
deve levar.

Visto que uma Igreja não pode existir sem alguma confissão, ou modo de
verificar se seus membros concordam em sua concepção geral do que eles
entendem que a verdade divina significa; e desde o surgimento sucessivo de
opiniões heréticas e sua sucessiva refutação, necessariamente, tende a uma
ampliação da Confissão e, ao mesmo tempo, a um desenvolvimento
crescente do conhecimento da verdade divina, não se deve seguir que as
várias confissões de igrejas separadas teriam uma tendência constante de se
aproximar, até que todas deveriam se fundir em uma confissão harmoniosa
de uma Igreja Geral?

Ninguém que tenha estudado uma harmonia das Confissões Protestantes


pode hesitar em admitir que este é um resultado muito possível, pois é
muito desejável. Quando, além disso, nos elevamos para aquele elemento
espiritual ao qual, também, nossa atenção foi dirigida, podemos antecipar
um grau crescente de iluminação na Igreja Cristã, concedida pelo Espírito
Santo, em resposta às fervorosas orações de fé sincera e humilde, que muito
tenderá a apressar e assegurar uma quantidade de unidade cristã na fé e no
amor muito além do que existia desde os tempos dos apóstolos.

Alimentando essa ideia agradável, podemos esperar que a mais recente


Confissão de Fé, emoldurada por uma Igreja Protestante, seja a mais
perfeita, e que possa formar uma base de união evangélica para toda a
Igreja. Para alguns, isso pode parecer uma ideia surpreendente ou mesmo
extravagante. Mas, que seja lembrado, que, devido a uma série peculiar de
circunstâncias desfavoráveis, a Confissão de Fé da Assembleia de
Westminster nunca foi adequadamente conhecida pelas Igrejas Cristãs.
Somente pela Igreja Escocesa ela foi, totalmente, recebida. E, em
consequência dos vários eventos que ocorreram, desde então, na Igreja,
comparativamente, pouca atenção foi prestada à Confissão de Fé até os
últimos tempos.

Agora, está, acreditamos, em um processo de se tornar mais conhecida e


mais bem compreendida do que antes. E temos a certeza de que o quanto
ela é mais conhecida e mais bem compreendida, mais sua grandeza e
excelência será estimada. Isso tenderá, ao mesmo tempo, a chamar a
atenção de outras Igrejas; e não podemos deixar de antecipar o grau de
surpresa que será sentido por muitas mentes ingênuas, por terem
permanecido por tanto tempo desconhecidas de uma produção de tão
notável valor.

Se for esse o caso, como nos aventuramos a esperar, e se quaisquer objeções


sérias forem nutridas por mentes justas e sinceras com relação a algumas
expressões na Confissão, não poderia haver grande dificuldade em anexar a
essas algumas explicações verbais leves, mostrando o que elas pretendiam
significar e como nós as entendemos. Pois estamos, totalmente, persuadidos
de que, de longe, a maior proporção de objeções que poderiam ser
sustentadas por qualquer cristão ou Igreja evangélica se relacionariam,
meramente, com termos peculiares e seriam fundadas quase, inteiramente,
em uma concepção errônea do significado que essas lacunas pretendiam
transmitir. Por nossa parte, não desejamos alteração, nem mesmo de uma
única palavra. Mas também, não achamos necessário permitir que a
interpretação errônea de uma palavra funcione como um obstáculo à
recepção por outras Igrejas de nossa Confissão de Fé, se, pela explicação
dessa palavra, o obstáculo puder ser removido.

Tal resultado seria a realização da grande ideia apresentada pelos principais


membros da Assembleia de Westminster, e, especialmente, pelos
comissários escoceses — com quem, de fato, se originou. Nenhum objeto
estreito e limitado poderia satisfazer os desejos e expectativas de homens
iluminados e de grande coração. Com um olhar abrangente, eles
examinaram a condição da cristandade e do mundo — marcaram suas
necessidades e contemplaram o remédio. Assim, eles formaram a grande e
sublime ideia de uma união protestante em toda a cristandade; não apenas
com o propósito de contrabalançar o papado, mas a fim de purificar,
fortalecer e unir todas as verdadeiras Igrejas Cristãs, de modo que, com
energia e zelo combinados, possam ir adiante, em alegre conformidade com
os mandamentos do Redentor, ensinando todas as nações, e pregando o
evangelho eterno a toda criatura debaixo do céu. Tal era a magnífica
concepção de homens a quem tem sido moda estigmatizar de fanáticos com
mentes estreitas. Não é no coração de um fanático que um amor capaz de
abraçar a cristandade possa ser acalentado — não é na mente de um
fanático que uma ideia de tal sublimidade moral possa ser concebida.

Pode-se dizer, sem dúvida, que essa ideia era um tanto ingênua, em certo
sentido – pois isso não poderia ser realizado. Mas, a declaração disso não,
pois foi a declaração do grande resultado que deveria ter sido produzido
pela Reforma. Em outro sentido, também, não era ingênua, pois é como
plantar sementes na primavera, que esperamos colher no outono. A semente
deve ser semeada antes que a colheita possa ser produzida — e a ideia deve
ser declarada, antes que possa ser realizada. Deve-se, então, deixar que ela
penetre na mente dos homens. Crescer, fortalecer e expandir, até que, no
devido tempo, produza frutos em sua devida estação.

Não se pode esperar que a estação frutífera esteja próxima? Todas as coisas
parecem precipitar-se para alguma mudança ou desenvolvimento poderoso.
Por todos os lados, os elementos do mal estão se reunindo com rapidez e
poder quase sobrenaturais. O papado se recuperou, em um grau inesperado,
de sua ferida mortal e de sua debilidade exaurida, e está aplicando suas
energias destrutivas em todos os quadrantes do mundo. Na Inglaterra, o
aspecto terrível da Prelazia Laudeana reapareceu — chamado, na verdade,
por um novo nome, mas exibindo todas as características formidáveis de
seu predecessor; o mesmo em suas pretensões elevadas, em suas tendências
papistas, em seu desprezo arrogante por todas as outras igrejas, e em seu
espírito perseguidor. O governo civil parece ser impelido por algo como
paixão, e está introduzindo, ou dando apoio às medidas que são,
sombriamente, nefastas para a liberdade civil e religiosa, como se estivesse
apressando-se para uma crise que todos podem estremecer ao contemplar.
As massas da comunidade estão em um estado propenso a qualquer
convulsão, por mais terrível que seja deixada por gerações sem educação e
sem instrução na verdade religiosa. O estabelecimento eclesiástico escocês
foi dividido; sua constituição foi alterada, ou melhor, subvertida; aqueles
que, firmemente, mantiveram os princípios da Igreja da Escócia foram
obrigados a se separar do Estado, a fim de preservar esses princípios
intactos. A Igreja da Escócia é, novamente, desativada, como no passado;
mas ela é livre. Livre para manter todos aqueles princípios sagrados legados
a ela por reformadores, teólogos e mártires. Livre para oferecer a todas as
outras igrejas evangélicas a mão direita do amor fraterno e da comunhão.
Livre para se envolver com elas na formação de uma grande união
evangélica, na base firme da verdade sagrada e eterna. Certamente, esses
eventos concorrentes são suficientes para restringir todos os que são
capazes de compreendê-los, almejando um certo terreno de reunião em que
os defensores da verdade e da liberdade religiosas possam plantar seus
padrões.

Pensamos no que tal base de junção nos proporcionaria se seus princípios


fossem, cuidadosamente, considerados e, totalmente, compreendidos. E
confiaríamos com carinho que poderíamos nutrir a esperança de finalmente
realizar o empreendimento cristão pelo qual a Assembleia de Westminster
se reuniu e de realizar a grande ideia que encheu a mente de seus mais
eminentes patriotas cristãos.

“Os erros que impediram o sucesso da Assembleia de Westminster podem


ser, para nós, balizas, tanto alertando para o perigo quanto orientando para a
segurança. No caso deles, influência política e intrigas formaram um
elemento desagradável de poder mortal. Que toda a influência política seja
desconfiada e evitada, e que a intriga política seja, totalmente, desconhecida
em todas as nossas deliberações religiosas. Em tempos de angústia e
alarme, ‘não confie nos príncipes, nem nos filhos dos homens’, com sua
contrapartida divina, ‘confie no Senhor e mantenha-se em seu Deus’ deve
ser a palavra de ordem e a resposta de todas as verdadeiras igrejas cristãs.
Dissensões entre irmãos, ciúmes infundados, interpretações errôneas e falta
de abertura e franqueza eram, gravemente, perniciosos para a Assembleia
de Westminster. Se os presbiterianos e os independentes pudessem
despender o espírito de dissensão, expulsar todo ciúme mesquinho e abrir
seus corações uns para os outros com simplicidade e sinceridade piedosas,
toda a uniformidade, realmente, necessária poderia ter sido, facilmente,
obtida. E se todos os cristãos, verdadeiramente evangélicos, sejam
Presbiterianos, Independentes, Batistas, Metodistas ou Episcopalistas, como
alguns que poderiam ser nomeados, dessem total alcance a seus princípios e
sentimentos de fé e esperança já existentes e fortes em amor, poderia haver
pouca dificuldade em estruturar uma união cristã — denominada
presbiteriana ou evangélica, para que seja verdadeiramente bíblica —,
podendo, pela bênção e ajuda de Deus, conter e suportar a crescente e
portentosa maré de papismo e infidelidade que ameaça, com seus produtos
orgulhosos, mais uma vez dominar o mundo”.

Não chegou a hora dessa grande união evangélica e bíblica? É impossível


para alguém olhar para o aspecto geral do mundo e mesmo com um olhar
apressado não perceber indicações de uma preparação quase universal para
algum grande evento. As nações da terra ainda não estão em paz, mas estão
como combatentes cansados, descansando em seus braços, em um breve
espaço de tempo, para respirar, para que, com as forças recuperadas e a
animosidade acelerada, eles possam voltar à luta mortal.

Durante esse repouso falacioso, houve e há um mais intenso e inquieto


esforço, pelos princípios mais ferozmente hostis, para a aquisição de
partidários. Despotismo e Democracia, Superstição e Infidelidade, têm
reunido seus poderes e despertado suas energias, aparentemente menos para
destruição mútua, conforme seus costumes e natureza, do que para formar
uma coalizão contra a própria existência do livre, puro e espiritual
cristianismo. Tampouco, em um ponto de vista, o cristianismo esteve
recentemente indolente e inativo. Muitos empreendimentos nobres para a
extensão do evangelho no país e no exterior foram planejados e executados,
e as grandes doutrinas da verdade salvadora foram, claramente, explicadas
e, corajosamente, proclamadas, com fervoroso calor e intransigente
fidelidade.

Chegou, também, um tempo de renovação da presença do Senhor. Um


espírito de avivamento foi derramado sobre a sede da Igreja, e os corações
dos irmãos cristãos aprenderam a derreter e se misturar com uma simpatia
generosa e regozijadora, pela qual eles tinham há muito tempo sido
estranhos.

Todas essas coisas podem ser vistas e ignoradas, levianamente, como


levando a nada e a nada pressagiando? Isso é quase cegueira. O que eles,
realmente, pressagiam, seria presunçoso dizer. Mas, não é difícil dizer que
eles constituem uma preparação sem precedentes. O que, agora, impede
uma união evangélica e bíblica mundial? “Vinde, porque tudo já está
preparado” (Lucas 14:17). “Assim, como eu vos amei, que também vós
ameis uns aos outros” (João 13.34). “Cristo deu a sua vida por nós; e
devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3.16). Se esses fossem os
princípios e regras de conduta da Assembleia de Westminster, sua grande
ideia poderia ter se concretizado.

Que eles sejam os que animam e guiam todas as Igrejas Cristãs agora. Eles
foram sentidos em nossas grandes uniões de oração. Eles devem ser
sentidos por todos os que veneram e podem compreender os Padrões da
Assembleia de Westminster. E, se assim for, então, podemos não apenas
cumprir o objetivo de sua Solene Liga e Aliança, concordar em sua
Confissão de Fé, e realizar sua grande ideia de uma união evangélica geral.
Mas também, podemos, se tal for a vontade de nosso Divino Cabeça e Rei,
ser um instrumento poderoso na promoção da propagação universal do
evangelho, e atrair de cima a resposta cumprida daquela oração sagrada em
que todos nos unimos. “Venha o Teu reino; faça-se a Tua vontade, assim na
terra como no céu” (Mateus 6:10).
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[1]
“A Igreja da Secessão Original ou Igreja da Secessão Original Unida era uma denominação
Presbiteriana Escocesa formada em 1822 a partir da parte do Antigo Lichts Anti-Burgher que se
recusou a se fundir com a Igreja da Escócia. Em 1852, alguns de seus membros se fundiram com a
Igreja Livre da Escócia, formada pela Ruptura de 1843. Em 1956, o restante da Igreja da Secessão
Original se fundiu com a Igreja da Escócia” [N. do Editor]. Disponível em: <
https://en.wikipedia.org/wiki/Original_Secession_Church >. Acesso em: 21 de setembro de 2020.
[2]
Eis o grande pecado dos não confessionais ou dos que prestam falso juramento em uma igreja
confessional. [N. do Editor].
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