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Uma contribuição do Programa de Extensão Diálogos de Saberes da UFSJ
5) A ideia básica é que olhar dessa forma, a partir dessa perspectiva, permite que nos
organizemos melhor, enxergando com maior nitidez, os desafios que o movimento
pela SAN tem pela frente, para promover o Direito Humano à Alimentação Adequada e
a Soberania Alimentar.
6) A seguir, apresentamos uma análise mais pormenorizada de cada uma dessas
tendências.
A Lei 11.346, de 15 de setembro de 2006, que criou o SISAN, “com vistas em assegurar o
direito humano à alimentação adequada (...)”, traz, no seu Artigo 3º, a definição brasileira de
SAN:
Perceba-se que a definição acima aponta para um futuro melhor, que induz, incita, conduz (a)
ações políticas e a proposição de políticas públicas no presente, de modo a interferir com os
processos em curso, para transformá-los em processos de desenvolvimento territorial.
Vendo sob essa perspectiva, a “localização” de aspectos ambientais que refletem, impactam
e/ou condicionam a situação de SAN das populações nos territórios, deve fazer parte do rol de
situações que descrevem nossa realidade.
• Se por um lado tais aspectos podem estar – como de fato geralmente estão – se
manifestando numa dimensão territorial, na perspectiva escalar, inclusive acima do
âmbito municipal, como uma bacia hidrográfica, por exemplo, um bioma específico ou
a qualidade das terras,
• Por outro lado, esses aspectos estão relacionados com as condições em que se dá a
forma como os recursos naturais são apropriados e utilizados, levando à necessidade
de avaliação da estrutura fundiária e as condições de acesso à terra urbana, condições
que se formam ao longo da história dos territórios, em face, inclusive,
o da apropriação e utilização desses recursos por atividades concorrentes com a
produção agroalimentar, a exemplo da mineração e florestas plantadas de
eucaliptos para produção de celulose e carvão;
o ou ainda os serviços de incorporação imobiliária nos centros urbanos, em
face do fato de que o DHAA pressupõe também o direito à moradia e à cidade.
Aqui ainda fica em questão o tipo de tecnologia prevalecente no uso dos recursos naturais, e
seus impactos:
• na configuração da paisagem,
• a biodiversidade remanescente,
• o acesso à água de qualidade,
• impactando a qualidade de vida da população não apenas rural, a exemplo da
prevalência – ou não – de monoculturas, sobretudo no caso da produção
agroalimentar.
A diferenciação da agricultura familiar (como conceito amplo, cuja principal característica é
abrigar a diversidade cultural que se expressa no campo brasileiro, associando pluriatividade e
produção para o autoconsumo) é muito importante nesse contexto.
Além disso, os agricultores familiares tendem a ser mais respeitosos tanto em relação ao meio
ambiente, quanto às tradições culturais locais e regionais.
Nesse caso, precisamos, em termos de ação política e política pública, é levar para o campo,
para o meio rural:
• as tecnologias apropriadas,
• as infraestruturas adequadas e
• segurança jurídica (a exemplo da regularização fundiária).
• Ações que permitam às pessoas terem mais comodidade na forma de vida que
escolheram, e que permitam à jovem rural, ao jovem rural fortalecerem suas
respectivas identidades territoriais, para verem possibilidades de seguirem com o
modo de vida no qual foram criados, com menos incertezas e mais esperança.
Além disso, a análise da forma como os recursos naturais são apropriados e utilizados está
relacionada:
Em suma, a consideração dos aspectos ambientais joga luz, do ponto de vista do enfoque da
SAN, nos processos em curso no tempo da natureza, na fronteira entre os meios antrópico,
biótico e físico. Ficam assim em evidência “grandes” processos em curso, como:
Além dos aspectos de cunho ambiental, a literatura também aponta para a relação entre
saúde e nutrição, o que envolve a evolução de hábitos alimentares saudáveis, com impactos
significativos sobre:
A tendência dominante nesse contexto, de acordo com a literatura, aponta para a evolução de
hábitos alimentares não saudáveis, com impactos significativos (e negativos) sobre:
Um ponto a ser destacado no que respeita à relação entre saúde e nutrição é seu impacto nos
processos de desenvolvimento, tendo em conta a perspectiva da participação social.
Recorre-se aqui a formulações que tratam de dois tipos de incertezas prevalecentes, desde o
tempo em que os estados nacionais se foram:
• a fome (e a desnutrição) e
• os processos violentos inerentes.
Se assim é:
• o que dizer de territórios, seja qual for a escala, onde fome e desnutrição permanecem
junto com a incerteza permanente do alimento na mesa por gerações a fio?
• O que se pode esperar da participação social em contextos territoriais onde prevalece
a incerteza em relação ao alimento no dia seguinte?
As condições de acesso aos alimentos também têm sido apontadas pela literatura como um
dos determinantes da condição de SAN das populações nos territórios.
• inflação,
• desemprego,
• concentração de mercados e
• mercados informais,
• como também as condições de acesso aos recursos naturais;
• da produção para o autoconsumo e
• da pluriatividade (da agricultura) familiar em face da produção destinada aos
mercados; e
• do fortalecimento e consolidação de redes sociais que ligam práticas sociais de
garantia da sobrevivência da maior parte das famílias rurais e urbanas, que se
confrontam dia-a-dia com a necessidade de “matar a fome”,
• movimentos sociais que propõem a transformação social e
• o aprimoramento da proposição de políticas públicas viabilizadoras dessa
transformação nos territórios.
• a universalização de direitos,
• a soberania e desenvolvimento autônomo, seja nacional, seja em territórios
subnacionais,
• para acesso à possibilidade de ação através do Estado e
• também o respeito à construção, implementação e monitoramento democrático de
políticas públicas de uma forma geral.
Nesses termos, a estrutura institucional do Estado surge então como objeto de disputa por
parte de distintos projetos políticos em torno de propostas de ações (políticas) amparadas no
monopólio da violência e no monopólio da tributação.
De um lado, essa forma de colocar a questão leva a uma discussão sobre os determinantes a
longo-prazo da construção dessas estruturas institucionais em diferentes escalas territoriais,
incluindo espaços nacionais, subnacionais (estados e municípios) e supranacionais.
É importante que nos desloquemos da percepção setorial da realidade para uma percepção
territorial dos processos em curso.
Por fim, a presença de redes públicas de solidariedade, que se expressam na assistência social
de uma forma geral, é também uma condição de prevalência da condição de SAN nos
territórios, envolvendo aspectos como:
Nos termos da definição brasileira de SAN, todo cidadão deve estar seguro em relação aos
alimentos e à alimentação nos aspectos:
Por essa razão, o DHAA é um dos princípios ao qual se subordina o objetivo da SAN.
No entanto, é dever do Estado proteger e promover o DHAA, o que está diretamente
relacionado com a formulação de políticas, programas e ações, no âmbito nacional,
subnacional e internacional, para a promoção do desenvolvimento econômico e social.
Isto é, está em curso, em nível mundial inclusive, um processo de enfraquecimento das redes
públicas de solidariedade, agravada pelo desmonte de políticas públicas em curso e a
ampliação da vulnerabilidade social, que impacta negativamente as condições de acesso aos
alimentos, não apenas por expor cada vez mais um número crescente de pessoas à condição
de fome e má nutrição, mas também por circunscrever ainda mais o acesso aos alimentos à
esfera da violência, nas suas diferentes formas de manifestação;
Políticas de assistência social, nesse sentido, devem ser fortalecidas, mas também a noção de
que:
O espaço público não é uma opção: considerá-lo como tal amplia as possibilidades de atuação
de grupos políticos (conservadores, neoliberais, fundamentalistas, fascistas), que não estão
interessados nas transformações sociais que necessitamos para construir uma sociedade mais
justa, igualitária, democrática, que respeita a diversidade cultural e que é responsável, do
ponto de vista ambiental.
Ocupá-lo por meio do fortalecimento das instituições dos trabalhadores, dos camponeses,
agricultores familiares, nos espaços institucionais no legislativo, no judiciário, no executivo, nas
periferias das cidades, nas academias, instituições de ensino de forma geral ... enfim ocupa-los
... é primordial para nós!!
Olhar para os processos em curso, a partir do olhar da SAN – uma conquista do povo brasileiro
– é uma contribuição que podemos dar para o processo de democratização do nosso país e
para a construção de condições objetivas que irão impactar, de várias formas positivas, o bem-
viver da nossa população.