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Livro: Escravismo no Brasil

Capítulo: Pessoas livres de cor em uma sociedade escravista.


Autor: Francisco Vidal Luna e Herbert S Klein

Introdução
A partir do século 18 o Brasil começou a distinguir-se dos outros regimes
escravistas, exibindo uma mudança de atitude em relação ao processo da
manumissão, o que acabou causando grandes mudanças no número de pessoas
alforriadas em suas respectivas sociedades.
- A minoria liberta nas sociedades escravistas enfrentavam hostilidades, o racismo
sempre foi presente.
- Pessoas livres de cor eram comparadas a cristãos novos.
- Sociedade essencialmente racista, negros e mulatos livres eram vistos como uma
“casta” inferior.
- Era negado às pessoas livres de cor o acesso à riqueza, limitando sua mobilidade
social e geográfica. Essas práticas vistas como ideais seriam colocadas abaixo
conforme se notava a importância econômica das pessoas livres de cor.
- Século 18: eram um elemento importante da população em todas as partes, mas
não excediam numericamente a população escravizada.
- Século 19: a crescente entrada de escravizados africanos não desacelerou o
crescimento da população livre de cor, que na primeira metade do século 19, com o
fim do tráfico atlântico, já superará numericamente a população escravizada.
- Pessoas livres de cor: eram mais numerosas que os 3,8 milhões de brancos,
representavam 42% dos 10 milhões de brasileiros da época, porém, existiam
variações regionais.

Alforrias
- Manumissão: alforria legal de um escravizado
- A manumissão era um processo complexo que envolvia a alforria voluntária e
involuntária por parte da classe dos senhores e a intervenção passiva e ativa por
parte dos escravizados
- De modo geral alforriados eram em maior parte: jovens, crioulas e majoritariamente
do sexo feminino, havia uma porcentagem muito maior de mulheres entre os libertos
- O subconjunto que mais comprava suas próprias alforrias eram em maior parte:
escravizados homens nascidos no Brasil e escravizados nascidos na África
- Alta incidência de crianças e adultos jovens alforriados, baixa incidência de idosos,
idosos alforriados no Brasil foram relativamente poucos
- Escravizados nascidos no Brasil tinham maior probabilidade de obter a liberdade
em relação aos escravizados nascidos na África, apesar de haver grande variação
por época e região
- Alforrias eram mais frequentes nas áreas urbanas do que no meio rural, pois os
escravizados do meio urbano tinham mais oportunidades de ganhar dinheiro e
estavam mais a par dos seus direitos do que os escravizados que estavam isolados
nas fazendas. Eram mais frequentes porém não excluíam as situações em que
escravizados do meio rural compravam suas alforrias, graças ao dinheiro acumulado
proveniente da venda de gêneros alimentícios produzidos em suas próprias roças e
trabalho extra feito em domingos ou em dias de descanso.
- Escravizados com ofício tinham mais facilidade para comprar a própria liberdade
em relação aos que não possuíam ofícios
- Uma vez alforriados, os ex-escravizados ingressavam no mais baixo estrato
da sociedade. Até os escravizados com ofícios entravam na população livre com
suas economias esgotadas pela transação da auto compra.

Formas de obter alforria


- Voluntariamente e sem imposição de condições, gratuita: quando o cativo era
libertado de imediato e sem nenhum tipo de obrigação para com o senhor.
- Voluntariamente porém com imposição de condições: poderia ser a
continuidade do serviço, trabalho especial ou até mesmo atos formais de respeito e
devoção para com o senhor.
- Auto Compra: o escravizado tinha que pagar pela sua liberdade, o único dos três
tipos de alforria que dependia da iniciativa do escravo e depois da concordância do
senhor (que poderia recusar) e dos tribunais, o processo da auto compra era
normalmente interessante para o proprietário, pois o preço da alforria era
determinado pelo quanto valia aquele escravizado no mercado de venda de
escravizados, preço corrente de mercado, e não o preço de compra original, o que
muitas vezes gerava embates entre escravizados e senhores para definir um valor
justo.
- Auto Compra por coartação: Na auto compra entra também a coartação, que era
quando o escravizado pagava sua liberdade em prestações, que poderiam ser
quitadas ao longo de meses ou anos. Não era permitido vender escravizados
coartados sem sua autorização a outros senhores, todos os documentos oficiais
reconheciam sua condição especial e protegiam seus direitos, como a Carta de
Corte, que lhe permitia uma certa mobilidade física longe de seu senhor para assim
firmar contratos com o objetivo de obter dinheiro para a sua auto compra. O senhor
por sua vez continuava a receber os pagamentos do escravizado coartado e a
prover o sustento deste até o pagamento da última prestação.
- Auto Compra por terceiros: o pagamento da alforria poderia ser feito por
terceiros, sejam estes terceiros familiares, cônjuges e padrinhos. Esse processo de
compra por terceiros era mais comum entre os escravizados nascidos no Brasil.
- Alforriados por batismo: além de libertar seus escravizados em atos públicos
autenticados por notários, a classe dos senhores brasileiros também alforriava
escravizados por ocasião do batismo, isso se aplicava somente as crianças e bebês,
recebiam a alforria na pia batismal, independentemente de sua cor. Geralmente as
famílias de escravizados buscavam padrinhos negros alforriados , era raro pessoas
brancas da elite realizar o apadrinhamento de escravizados ou pessoas livres
pobres. Com a alta incidência de nascimento de meninas, a alforria pelo batismo
aumentou ainda mais a incidência do sexo feminino entre os forros.
- De modo geral, as alforrias voluntárias predominavam na maioria das regiões, e só
em algumas regiões a auto compra foi majoritária.

Ocupações das pessoas livres de cor


Não era pessoas livres de cor e forros organizarem pequenos estabelecimentos
comerciais, a ocupação mais comum para escravizados recém-alforriados era a de
vendedor ambulante, e eles atuavam em toda a cidade
- Homens: os homens nessa condição apareciam entre os trabalhadores
especializados (que possuíam ofícios, artesãos, sapateiros, alfaiates etc),
jornaleiros (trabalhavam e recebiam uma diária), serviço braçal no campo, pequenos
comerciantes, milícias coloniais ( como se fossem policiais, um serviço militar
obrigatório, dificilmente ocupavam altos cargos) em proporção bem maior do que a
população escravizada em geral.
- Mulheres: as mulheres alforriadas tinham maior probabilidade de trabalhar em
serviços domésticos do que a população feminina escravizada em geral,podendo
também obter renda através da prostituição.

Irmandades
A igreja incentivava as pessoas livres de cor a fundar suas próprias irmandades
especialmente porque muitas irmandades de brancos não os admitiam como
membros. As irmandades tornaram se assim importantes recursos para manter
cultos religiosos afro-americanos, atuando como associações de auxílio mútuo
(redes de sociabilidade) e estruturação de amizades baseadas na cor. Embora
criadas por motivos raciais e apoiadas por uma sociedade branca empenhada em
manter uma ordem social separatista, as irmandades tornaram-se pilares da
comunidade e deram às pessoas livres de cor um sentimento de valor e identidade,
sendo crucial no enfrentamento de uma sociedade extremamente racista.
- Existiam irmandades que admitiam tanto pessoas livres de cor quanto
escravizados, servindo para a construção de fortes laços entre essas duas classes.
- Membros pagavam taxas para participar, assim conseguiam arrecadar fundos para
dar uma boa morte aos membros (funeral, sepultamento etc), realizar festividades e
até mesmo comprar alforrias.
- Procuravam atender as necessidades espirituais e materiais dos seus membros
- Algumas eram abertas a todos e em outras existiam divisões por cor e condição
social, existindo até mesmo irmandades exclusivas para pessoas de determinada
origem étnica.
- Irmandades podiam eleger seus oficiais, mas existiam vetos em relação à
escravizados e analfabetos em cargos de alto nível (secretário, presidente,
tesoureiro etc)
- A igreja realizava controle das irmandades, a todas elas eram designados clérigos
brancos como guardiões, e em alguns casos o governo chegou a forçar irmandades
a aceitar brancos no controle de suas finanças.

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