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RESUMO
Este artigo científico tem como objetivo analisar a contribuição do teólogo Romano
Guardini para a Teologia Espiritual Católica, com ênfase na prática contemplativa da
meditação. A metodologia utilizada envolve uma revisão bibliográfica sistemática a
partir de obras do próprio Guardini e de outros autores que abordam sua influência
na teologia espiritual. A partir da análise crítica dos textos selecionados, buscamos
identificar as principais contribuições e limitações da abordagem de Guardini em
relação à meditação contemplativa.
1. Introdução
2. Metodologia
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A metodologia utilizada neste artigo científico envolveu uma pesquisa
bibliográfica e documental a partir de obras de Romano Guardini e de outros autores que
abordam sua influência na Teologia Espiritual Católica. Foram selecionadas obras do
próprio Guardini e de outros autores que abordam sua contribuição para a compreensão
da meditação contemplativa e da espiritualidade na vida cristã. A pesquisa bibliográfica
foi realizada em fontes confiáveis, como bases de dados acadêmicas e bibliotecas virtuais.
Além disso, a pesquisa documental foi realizada a partir da análise de
documentos oficiais da Igreja Católica, como encíclicas, documentos do Concílio Vaticano
II e outros documentos relevantes para a compreensão da teologia espiritual. A análise
dos documentos foi feita com base em uma perspectiva histórica e teológica, buscando
identificar a relação entre a meditação contemplativa e a vivência da fé católica.
Com base na pesquisa bibliográfica e documental, foram identificadas as
principais contribuições e limitações da abordagem de Romano Guardini em relação à
meditação contemplativa e à espiritualidade na vida cristã. A metodologia utilizada
permitiu uma análise crítica e aprofundada das obras selecionadas, contribuindo para a
reflexão sobre a importância da espiritualidade na vida cristã e para o desenvolvimento
da Teologia Espiritual Católica.
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com o Senhor, incentivando a reflexão, a oração e a meditação sobre a vida e os
ensinamentos de Jesus. Exemplificando isto, vemos a fala de Guardini ao tocar na
temática da filiação divina:
“Ser nascido de Deus é também um ponto de partida que terá de ser
explicitado durante toda a vida. Somos filhos de Deus quando ‘nascemos da
água e do Espírito’; devemos assim, em primeiro lugar, tornarmo-nos filhos
de Deus. Mas talvez disséssemos melhor estas palavras: Enquanto crianças
de Deus, somos aqueles que nascemos do santo banho do batismo, mas
temos depois de nos tornar filhos, filhos do Pai. Foi -nos dado força para isso
(João 1, 2). Como podemos contribuir para isso? De várias maneiras:
assimilando a doutrina pela reflexão e pela meditação, combatendo os
nossos defeitos, para nos tornamos puros e virtuosos, ajudar o próximo,
realizar verdadeiramente o nosso trabalho e tudo o mais” (Guardini, 1964,
p.150)
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Ao vivenciar a liturgia de forma ativa e consciente, os fiéis têm a oportunidade
de cultivar a presença mental e emocional no momento presente, abandonando as
preocupações do mundo exterior e entrando em um estado de concentração e
serenidade. Através dos ritos, símbolos e gestos litúrgicos, a liturgia cria um ambiente
propício para a meditação, convidando os participantes a mergulharem em uma
experiência profunda de conexão espiritual.
Além disso, Guardini destaca a importância da liturgia como uma prática que
vai além do momento ritual, influenciando a forma como os fiéis se relacionam com o
mundo e com os outros. Essa relação se estende à prática da meditação, na qual os
insights e as percepções adquiridas durante a contemplação podem ser aplicados no
cotidiano, promovendo uma maior consciência, compaixão e equilíbrio emocional nas
interações diárias.
“O que fica em pé, ora, oferta e atua no comportamento litúrgico não é ‘a
alma’, não é ‘a interioridade’, mas ‘a pessoa’. O ser humano por inteiro se
incumbe do agir litúrgico. A alma também, sim, mas na medida em que
anima o corpo. A interioridade, sim, mas na medida em que se manifesta no
corpo”. (GUARDINI, 2023, 59)
O livro "O Espírito da Liturgia", mais uma obra clássica bem conhecida de
Guardini, explora a importância da liturgia como uma fonte de espiritualidade
profunda. Embora não seja especificamente focado no tema da meditação, suas
reflexões e insights oferecem uma base sólida para compreender a relação entre a
liturgia e a prática da meditação.
O autor argumenta que a liturgia é mais do que apenas um conjunto de rituais
e cerimônias externas; é um encontro com o divino que desperta o espírito humano
para a presença transcendental. Nesse sentido, a liturgia pode ser vista como um
convite à meditação, à contemplação e ao mergulho interior. Nas palavras do autor,
vemos um sentido mais amplo e meditativo da liturgia:
“Nela Deus é cultuado através a unidade coletiva espiritual como tal, e esta,
por sua vez, se estrutura nesse culto. É importante compreender essa
essência objetiva da liturgia. (...) É precisamente na integração de seu ser no
seio de uma unidade mais alta que o crente encontrará a libertação e a
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formação interior. É o que decorre logicamente da natureza profunda do
homem, ao mesmo tempo individual.” (Guardini, 2014, p.11-12)
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compreendida por Guardini, influencia a relação do indivíduo com o mundo e com os
outros, promovendo uma vivência mais autêntica e transformadora.
Ao revisar e analisar as ideias de Romano Guardini sobre a meditação,
contribui para a compreensão da importância dessa prática na espiritualidade
contemporânea. Ele destaca como a meditação, de acordo com a abordagem de
Guardini, pode ser uma ferramenta valiosa para enfrentar os desafios da vida
moderna, cultivar uma vida espiritual mais profunda e desenvolver uma consciência
renovada diante do divino e do mundo.
“Ao enfatizar a importância do silêncio interior, da atenção plena e do
encontro pessoal com o divino, Guardini oferece uma abordagem que
convida os fiéis a se desconectar do ruído do mundo e a cultivar um espaço
interior para a presença de Deus. Sua visão da meditação contemplativa
como um caminho de união com o sagrado permite que os indivíduos se
reconectem com sua essência espiritual e encontrem um refúgio de
serenidade e inspiração em meio às demandas e distrações cotidianas.
Assim, a abordagem de Guardini sobre a meditação contemplativa não
apenas resgata uma prática ancestral da tradição espiritual católica, mas a
atualiza para dialogar com as inquietações e anseios da vida contemporânea.
Sua visão da meditação como um instrumento transformador oferece uma
resposta espiritual relevante para aqueles que buscam um caminho de
conexão mais profunda com o divino, de equilíbrio interior e de sentido em
meio às complexidades do mundo moderno" (BORGES, 2014, p. 112).
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Ao longo do livro, ele compartilha suas próprias experiências como monge e
eremita, destacando a importância de cultivar um espaço interior de silêncio e
quietude, mesmo em meio à agitação e às demandas externas. Também explora o
conceito de "contemplação ativa", enfatizando que a prática da contemplação não é
separada da vida cotidiana, mas deve informar e influenciar todas as nossas ações.
“Afastando qualquer ideia de instituição, ou mesmo de organização
religiosa, estou me referindo a uma dimensão especial de disciplina e de
experiência interior, a uma certa integridade e plenitude de
desenvolvimento pessoal, que não são compatíveis com uma existência
unicamente exteriorizada, alienada, de corre-corre. Isto não quer dizer que
sejam incompatíveis com a ação, o trabalho criativo, o amor dedicado. Pelo
contrário, tudo isto combina. Uma certa profundidade de experiência
disciplinada é basicamente para que a ação seja frutuosa.” (MERTON, 2019,
p. 212)
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marca gerações. Para o autor, especificamente falando de meditação, pode-se notar
que:
“Meditar é exercer o espírito em séria reflexão. É esse o sentido mais largo
que se possa dar a palavra ‘meditação’. O termo, então, não está confinado
ao âmbito das reflexões religiosas, mas implica atividades mentais e certa
absorção ou concentração que não permitem às nossas faculdades
vaguearem ao leu ou permanecerem preguiçosas e sem orientação.”
(MERTON, 2022, p. 95)
Ao longo do livro, Nouwen mostra como a meditação pode ser uma porta
para a transformação espiritual e um caminho para a descoberta de nossa verdadeira
identidade. O livro oferece uma abordagem perspicaz e inspiradora sobre a
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meditação como um meio de se conectar com o divino e buscar uma vida espiritual
mais profunda no contexto da espiritualidade dos Padres e Madres do Deserto. Na
obra "História da Filosofia Antiga, vol. 2", Giovanni Reale apresenta um panorama da
filosofia antiga, destacando a importância da contemplação e da busca pela verdade
para os filósofos gregos e romanos.
Claudio de Oliveira Ribeiro, em "Mística e Espiritualidade: Contribuições para
uma Teologia Espiritual", apresenta uma profunda reflexão sobre a dimensão mística
da vida cristã e sua relevância para a espiritualidade contemporânea. Ele destaca a
importância de uma abordagem integral da espiritualidade, que transcende o mero
cumprimento de rituais e práticas religiosas, e busca integrar a experiência mística à
vida cotidiana.
O autor ressalta que a mística não é reservada apenas a uma elite espiritual,
mas é uma chamada universal para todos os cristãos. Ribeiro explora a ideia de que a
espiritualidade verdadeira se manifesta no contexto da vida cotidiana, permeando
todas as dimensões da existência, desde as atividades mais simples até os momentos
de tomada de decisões significativas. Ele desafia os leitores a enxergarem a
espiritualidade como um caminho de transformação interior que se reflete nas
relações interpessoais, nas escolhas éticas e na busca pela justiça social.
Ao longo do livro, Ribeiro oferece uma análise aprofundada de textos e
ensinamentos de místicos cristãos ao longo da história, buscando elucidar a natureza
da experiência mística e sua aplicação prática na vida diária. Sua obra estimula os
leitores a cultivarem uma espiritualidade mais profunda e autêntica, que transcende
as limitações de uma prática religiosa meramente superficial, e os convida a
mergulharem nas profundezas do relacionamento com Deus em todos os aspectos
da vida.
“A espiritualidade autêntica se revela na vida cotidiana, na simplicidade dos
gestos e na busca constante pela união com o Divino. [...] Essa perspectiva
nos desafia a viver uma espiritualidade integral, onde a mística se entrelaça
com nossa realidade diária, transformando nossas relações, escolhas e visão
de mundo." (RIBEIRO, 2016, p. 44)
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Assim, além de esclarecer os principais elementos da espiritualidade católica e
observar como esta é vivenciada na contemporaneidade, esta obra lhe oferece a
oportunidade de conhecer suas várias expressões em diferentes contextos
socioculturais e de compreender a fundo sua relação com o Deus Trindade – Pai, Filho
e Espírito Santo.
Outro autor que traz uma perspectiva histórica da Teologia Espiritual católica –
e com ela, pontos importantes sobre a meditação e a contemplação – é Luiz Balsan,
no livro “Teologia Espiritual”.
O livro ressalta que, embora tenha sido criada no início do século XX – sendo
uma das disciplinas teológicas mais recentes nos estudos católicos – a Teologia
Espiritual investiga aspectos fundamentais para que possamos refletir criticamente
sobre a espiritualidade nas nossas vidas.
O autor reforça que a espiritualidade é um dos grandes temas da atualidade,
gerando grande interesse na sociedade contemporânea, recebendo assim atenção
nos mais diferentes campos nos quais se desenvolve a vida humana. Saindo da
esfera religiosa, esta passa a ser estudada na Academia, apropriada por grupos de
negócios, pelos meios de comunicação social.
A obra buscou integrar história e reflexão teológica, para fazer o leitor refletir
claramente sobre a importância da espiritualidade.
“[...] a Teologia Espiritual toma por base os princípios da revelação e,
baseando-se neles, deduz o que seja a plenitude da vida espiritual e define o
modo como alcançá-la. O ponto de referência de toda reflexão, portanto, é a
revelação e a tarefa do teólogo e entendê-la e aplica-la a realidade concreta
das pessoas para que possam, a partir disto, viver sua vida de fé.” (BALSAN,
2019, p.24)
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Ele defende a ideia de que a espiritualidade autêntica não se restringe apenas
à busca individual pela transcendência, mas deve estar intrinsecamente ligada ao
engajamento ativo na busca por justiça e solidariedade.
Ramos de Souza destaca a meditação e outras práticas contemplativas como
instrumentos que podem fortalecer o compromisso social e promover uma mudança
significativa na sociedade. Enfatiza a necessidade de uma espiritualidade que
transcenda as limitações do individualismo e se manifeste no cuidado pelos mais
vulneráveis e na luta por uma sociedade mais igualitária.
Ao abordar a relação entre espiritualidade e transformação social, o autor
desafia os leitores a repensarem sua compreensão da espiritualidade e a colocarem
em prática uma espiritualidade que seja transformadora e impactante, capaz de gerar
mudanças concretas e significativas no mundo ao nosso redor.
Esta obra oferece uma perspectiva instigante sobre a relação entre
espiritualidade e transformação social, encorajando os leitores a unir sua busca
interior por significado e transcendência com uma prática ativa de justiça e
solidariedade na construção de um mundo melhor.
"A espiritualidade transformadora é a espiritualidade da vida, a
espiritualidade da encarnação. É a espiritualidade que se faz presente nas
ações cotidianas, nas relações interpessoais, nas escolhas políticas, nas lutas
por justiça e direitos humanos. É a espiritualidade que se conecta com as
dores e as esperanças da humanidade, que abraça a causa do próximo, que
busca construir um mundo mais justo e solidário. Não se trata de uma
espiritualidade desencarnada, que se isola da realidade e busca apenas a
própria satisfação espiritual, mas de uma espiritualidade que transcende o
eu e se compromete com o nós." (Souza, 2018, p. 82)
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e filósofo alemão que se dedicou intensamente ao estudo da espiritualidade e da
relação entre Deus e o ser humano.
Ao longo de sua obra, Guardini explorou a prática contemplativa da meditação
como um caminho para aprofundar a intimidade com Deus e fortalecer a vida
espiritual. Em seu livro "O Senhor", ele destaca a importância da meditação como um
meio de encontro com Deus, afirmando que "A meditação é a escola do encontro
com Deus" (GUARDINI, 2013, p. 45). Guardini enfatiza a necessidade de cultivar o
silêncio interior e a atenção plena como fundamentos para a prática contemplativa
da meditação. Segundo ele:
"A meditação é um mergulho na própria alma, é um silêncio interior que nos
permite ouvir a voz de Deus. Por meio dela, encontramos um refúgio de paz
em meio à agitação do mundo e abrimos espaço para a presença divina em
nosso ser. Na quietude da meditação, nossos pensamentos se aquietam e
nos tornamos receptivos à sabedoria e à orientação que vêm de cima. É
nesse encontro profundo e íntimo que encontramos fortaleza e
discernimento para enfrentar os desafios da vida. A meditação nos conecta
com o divino, revela-nos verdades profundas e desperta em nós uma
consciência renovada. É um convite para transcendermos o efêmero e nos
sintonizarmos com a essência eterna do Criador" (Guardini, 2013, p. 72).
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Assim, a visão de Guardini sobre a meditação como um mergulho na alma e um
encontro com Deus reflete sua compreensão da espiritualidade como uma jornada
dinâmica e transformadora. Por meio da meditação, os fiéis são convidados a
explorar as profundezas de si mesmos e a se abrir para a presença e a orientação
divina, buscando um relacionamento mais íntimo e significativo com o Sagrado.
A meditação tem sua importância como um meio de conexão profunda com
Deus e de transformação pessoal. É o caminho para o coração, o lugar onde Deus
habita e onde podemos encontrar nossa verdadeira identidade.
Para compreender a contribuição de Romano Guardini no contexto da
teologia espiritual católica, é relevante situar suas ideias dentro do panorama mais
amplo da tradição filosófica e teológica. O ator de meditar tem sido relevante ao
espírito ocidental, desde a filosofia antiga, passando pelos primeiros mestres da
espiritualidade cristã até o momento, porém com nuances diferentes ao longo dos
séculos.
Na filosofia antiga, a meditação era vista como um meio de busca pela
sabedoria e pela verdade. Filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles praticavam a
meditação como uma forma de reflexão profunda e contemplação das questões
filosóficas fundamentais. Já na tradição cristã primitiva, a meditação era associada à
busca de Deus e à experiência mística. Os primeiros mestres espirituais, como os
Padres do Deserto, enfatizavam a importância da meditação como um caminho para
a união com Deus e o crescimento espiritual.
Ao longo dos séculos, a meditação assumiu diferentes formas e significados na
tradição cristã. Desde as práticas contemplativas dos monges medievais até a
popularização da Lectio Divina na Idade Média, a meditação era vista como uma
forma de interiorização e comunhão com o divino. Guardini, em seu contexto
contemporâneo, trouxe uma abordagem renovada à meditação, enfatizando a
importância da meditação como um meio de encontro pessoal com Deus em meio à
agitação do mundo moderno.
O mundo contemporâneo apresenta, no entanto, uma visão dicotômica da
meditação. Enquanto reconhece sua importância, a dinâmica sociedade da conexão
atual atua, em grande parte, como uma força contrária a meditação.
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“Em primeiro lugar toda a questão do mundo, do mundo secular, tornou-se
extremamente ambígua. Torna-se ainda mais ambígua quando é situada em
oposição a outra entidade, o mundo do sagrado. A velha dualidade tempo
eternidade, matéria-espírito, natural-sobrenatural e assim por diante (que
tem sentido num determinado contexto, muito limitado) é subitamente
transposta para um contexto inteiramente diferente em que cria apenas
confusão. Esta confusão é certamente um problema. Quer seja ‘o mundo’
um problema ou não, uma ideia confusa do que o mundo possivelmente é
tornar-se definitivamente um problema. É sobre esta confusão que quero
falar. Quero deixar bem claro que não estou falando como autor de A
montanha dos sete patamares que foi lido, ao que parece, por muitas
pessoas, mas como autor de ensaios e poemas mais recentes que foram
lidos, creio eu, por muito poucos. Esta não é a voz oficial do silêncio trapista,
o monge de capuz levantado e de costas para a câmera, meditando à beira
das águas de um lago artificial. Este não é o moderno Jerônimo, petulante e
incanonizável que nunca se refez do fato de ter conseguido renunciar à
cerveja. [Bebo cerveja sempre que posso. Gosto de cerveja e, por isso
mesmo, amo o mundo.]” (MERTON, 2019, p. 197)
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Isto, esta carência de proximidade e intimidade com Deus, entretanto, não é
algo de novo. Há relevante importância da mística e da espiritualidade na busca por
uma relação mais profunda com Deus.
"A meditação contemplativa, como prática central da espiritualidade mística,
é um convite para mergulharmos na experiência direta e pessoal de Deus,
transcendendo as limitações do intelecto e entrando em comunhão
profunda com o divino. Nesse estado de contemplação, somos convidados a
deixar de lado as construções mentais e os conceitos prévios, abrindo-nos
para a presença viva e pulsante do Mistério Divino. É um encontro além das
palavras, onde as barreiras entre o eu e o divino se dissolvem, permitindo-
nos experimentar a unidade e a plenitude da existência" (RIBEIRO, 2016, p.
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de ensinamentos e práticas como a Lectio Divina, a oração contemplativa e a busca
pela santidade no cotidiano, a teologia espiritual católica oferece orientação e
sustento espiritual para os fiéis em sua busca por uma maior intimidade com Deus,
independente da época em que se encontram.
“A história nos mostra que a espiritualidade cristã é profundamente
encarnada. Os grandes mestres sempre dialogaram com o seu tempo,
demonstraram sensibilidade diante dos problemas e desafios e, acima de
tudo, souberam, com base em sua experiência de fé, propor formas de vida
que ajudaram a humanidade a se reencontrar e reinventar sua história.”
(BALSAN, 2019, p. 167)
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compromisso com a justiça, a solidariedade e a transformação social. Guardini
destaca que a meditação e outras práticas contemplativas podem ser instrumentos
poderosos para despertar uma consciência renovada, inspirando os fiéis a se
engajarem ativamente na construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Dessa forma, a teologia espiritual na contemporaneidade, influenciada pelo
pensamento de Romano Guardini, busca oferecer respostas espirituais relevantes
para os desafios e anseios da vida moderna. Ela convida os fiéis a mergulhar em uma
experiência direta e pessoal de Deus, a cultivar a interioridade, a buscar a
transformação interior e a se engajar na construção de um mundo mais justo e
compassivo. Nessa abordagem, a teologia espiritual católica encontra uma forma de
se renovar e responder às necessidades espirituais dos indivíduos, oferecendo um
caminho de profundidade, significado e conexão com o divino na
contemporaneidade. "Minha compreensão da meditação contemplativa está
enraizada na longa tradição espiritual da Igreja, que valoriza a busca pela união com
Deus por meio da contemplação silenciosa" (GUARDINI, 2013, p. 91).
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podemos ouvir a voz de Deus e estabelecer uma profunda comunhão com Ele. Ao
desligar as distrações externas e voltar-se para o nosso interior, criamos um espaço
sagrado onde podemos encontrar descanso e renovação espiritual. Tal ação é
também levada pelo autor à celebração liturgia – local comum de encontro e
expressão da fé católica. Nela, segundo Guardini, encontra-se a possibilidade,
também, de uma interiorização para o encontro com o Senhor, sem nos perdermos
do que e de quem somos.
“Ora, é certo que há atitudes religiosas que enfatizam o ‘espiritual’, a
‘interioridade’, como a oração silenciosa, em que o homem aspira
tacitamente a Deus, fica diante dele ou permanece apenas aberto e à espera.
Por outro lado, a liturgia, do princípio ao fim, dispõe todo o ser humano
como portador de suas ações e de sua atitude. Ela será perfeita se não levar
o orante a perder sua corporalidade – nesse sentido último – cada vez mais
humano. Quer dizer que no ato litúrgico, sua corporalidade se internaliza, se
espiritualiza cada vez mais; e que sua alma expressa sempre mais
plenamente, se encarna.” (GUARDINI, 2023, p. 70)
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3.2.4. Diálogo com Outras Correntes Espirituais
A abordagem de Romano Guardini na prática contemplativa da meditação
também pode ser contextualizada em diálogo com outras correntes espirituais.
Alexandre Gonçalves da Rosa destaca a importância desse diálogo, afirmando:
"A meditação contemplativa, conforme apresentada por Guardini, encontra
ressonância em outras tradições espirituais, como o budismo e o hinduísmo,
que também valorizam a busca pela conexão profunda com o divino por
meio da contemplação e do silêncio interior" (ROSA, 2015, p. 108).
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Ribeiro (2016), ao abordar a relação entre mística e espiritualidade, destaca a
importância de um diálogo inter-religioso na compreensão da meditação
contemplativa. Ele afirma: "A meditação contemplativa transcende as fronteiras
religiosas e pode ser uma prática compartilhada por pessoas de diferentes tradições
espirituais, pois é um meio de encontro direto com o mistério divino" (RIBEIRO, 2016,
p. 121).
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Guardini propõe uma forma de meditação que vai além de uma mera técnica,
mas busca uma conexão profunda com Deus e uma transformação interior. Essa
abordagem ressoa com a busca contemporânea por uma espiritualidade mais
autêntica e personalizada, que vá além de rituais vazios e responda às aspirações
mais profundas do ser humano.
“"Orar não significa dirigir a Deus um monólogo, mas entrar num diálogo
com Ele. Não somos apenas aquele que reza, mas também aquele que é
rezado. Deus nos chama, entra em nosso coração e nos concede a graça de
ouvir Sua voz. A oração é um encontro de amor, onde nos abrimos para
receber o amor de Deus e responder a Ele com amor e confiança."
(GUARDINI, 2018, p. 70)
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com outras tradições espirituais e respondendo aos desafios da espiritualidade
contemporânea, oferece insights e orientações valiosas para aqueles que buscam
uma vivência mais profunda da fé católica por meio da meditação contemplativa. No
próximo capítulo, aprofundaremos a compreensão da prática contemplativa da
meditação, explorando suas bases teológicas e suas dimensões espirituais, à luz das
contribuições de Romano Guardini.
4. Considerações finais
Este artigo buscou apresentar a contribuição de Romano Guardini para a
Teologia Espiritual Católica, em especial a prática contemplativa da meditação. A
partir da revisão bibliográfica, foi possível compreender a importância do
pensamento de Guardini para a renovação da espiritualidade católica no século XX,
com sua abordagem integral que valoriza a dimensão litúrgica, bíblica, pessoal e
social da fé.
Destacou-se a centralidade da meditação na espiritualidade de Guardini, que a
concebe como um caminho de encontro pessoal com Deus e uma forma de
integração entre a fé e a vida cotidiana. Nesse sentido, a prática meditativa pode
ajudar os fiéis a cultivar a interioridade, a escuta da Palavra de Deus e o
discernimento da vontade divina.
Ao analisar as obras de Guardini, juntamente com a de outros autores, foi
possível perceber a atualidade e relevância de sua reflexão para a vida espiritual
contemporânea. A meditação é uma prática que pode ajudar a superar os desafios e
as angústias da vida moderna, que muitas vezes nos afastam do encontro com Deus
e com nós mesmos.
A contribuição de Romano Guardini para a Teologia Espiritual Católica, em
especial a prática contemplativa da meditação, pode ser uma inspiração para todos
aqueles que buscam uma espiritualidade mais profunda e autêntica. Sua abordagem
integral, que valoriza a dimensão humana e divina da fé, pode ajudar a superar as
dicotomias e fragmentações que muitas vezes marcam a vida religiosa e a
redescobrir a riqueza da tradição cristã.
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Portanto, tanto para o estudante de Teologia, quanto para os que buscam uma
vida de fé mais próxima de Deus, alicerçada na experiência humana, ler e por em prática
aquilo que este grande teólogo propôs tende a ser não apenas algo a mais mas, sim, um
meio de compreender o que se acredita, rezar com o que se compreendeu e viver
plenamente uma vida no Senhor.
Referências
BALSAN, Luiz. Teologia Espiritual. Curitiba: InterSaberes, 2019.
BORGES, Paulo Sérgio de Vasconcelos. Romano Guardini: Uma Teologia na
Contemporaneidade. São Paulo: Paulinas, 2014.
GUARDINI, Romano. O Senhor. São Paulo: Ecclesiae, 2013.
O Espírito da Liturgia. São Paulo: Cultor de Livros, 2018
Formação Litúrgica. Curitiba: Editora Carpintaria, 2023
Introdução a vida de oração. São Paulo: Cultor de Livros, 2018
MERTON, Thomas. Contemplação num mundo de Ação. Petrópolis: Vozes, 2019.
Direção Espiritual e Meditação. Petrópolis: Vozes, 2022.
NOUWEN, H. J. M. Caminho do coração: A espiritualidade dos padres e madres do
deserto. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2016
RIBEIRO, Claudio de Oliveira. Mística e Espiritualidade: Contribuições para uma Teologia
Espiritual. São Paulo: Paulus, 2016.
SOUZA, Ariovaldo Ramos de. Espiritualidade Transformadora: Aprendendo a viver com
alegria e propósito. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2015.
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