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Em mais de um século, a radioterapia tem seguido uma trajetória evolutiva surpreendente.

A
utilização da radiação no combate às células neoplásicas remonta a tempos antigos, porém os avanços e
descobertas na área de diagnóstico por imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância
magnética, têm impulsionado progressos significativos na radioterapia. Graças a esses avanços, é possível
definir com clareza a área a ser tratada e os órgãos a serem protegidos, tornando a terapia por radiação
cada vez mais precisa e eficaz, sendo hoje um dos pilares da oncologia.

Nos anos 60, as imagens de raios-X eram utilizadas para localizar a região de tratamento. Embora
fosse um dos melhores métodos de imagem da época, algumas áreas de tratamento não eram delimitadas
com tanta precisão, o que exigia margens significativamente maiores para garantir o sucesso do
tratamento, resultando em taxas mais altas de complicações. Para ilustrar essa realidade, podemos fazer
uma analogia com peças de vestuário, como uma camisa ou um vestido: era como se fosse necessário usar
uma roupa em um tamanho maior para que servisse na pessoa, longe de ser a solução ideal.

Atualmente, com a tecnologia disponível tanto em modalidades de imagem quanto em


tratamento por radiação, podemos ajustar precisamente o "tamanho" da "roupa" com uma ordem de
grandeza submilimétrica. Isso nos permite reduzir as margens de erro, aumentar as doses administradas,
realizar tratamentos mais breves e alcançar maiores taxas de sucesso.

Figura 1: Evolução dos tratamentos em Radioterapia: Na imagem da esquerda: Tratamento 2D


comum nos anos 1960. Tratamento em IMRT/VMAT na imagem da direita, mostrando maior conformação
da radiação.

O equipamento utilizado no tratamento de radioterapia é conhecido como acelerador linear,


nomeado assim porque acelera partículas que produzem fótons. Esses fótons são direcionados às células
neoplásicas em um mecanismo complexo e, ao interagir com essas células, geram uma destruição celular
intencional e controlada. Esse direcionamento e controle da radiação são resultados de um trabalho
interdisciplinar que envolve uma equipe técnica formada por diversos profissionais. Por isso, a radioterapia
não é um processo instantâneo, pois envolve etapas importantes que devem ser cumpridas.

Em 2008, a Radioterapia São Sebastião inovou ao adquirir um sistema conhecido como


Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT). Esse sistema, acoplado ao acelerador linear, permite a realização
de imagens antes e durante o tratamento, aumentando não só a precisão, mas também a segurança dos
tratamentos. Poucos centros na época e ainda hoje oferecem essa tecnologia, que trabalha em conjunto
com o acelerador linear. Tratamentos que exigem alta precisão, como radiocirurgia intracraniana e
extracraniana, podem ser realizados graças à IGRT.

A cada ano, novos softwares são desenvolvidos e novas tecnologias são criadas com o objetivo de
melhorar a vida das pessoas. Em meados de 2023, a instituição fez outro investimento: a aquisição de um
novo acelerador linear TrueBeam STx, da fabricante americana Varian. Este novo equipamento tem a
intenção de somar tecnologia em comparação ao atual equipamento. Dependendo da modalidade, o
TrueBeam STx consegue realizar tratamentos que levam 4X menos tempo do que os demais. Se um
tratamento leva cerca de 12 minutos para ser realizado, nesta nova versão pode levar apenas 3 minutos,
dependendo da região a ser tratada.

Figura 2: Acelerador Linear TrueBeam STx com Exactrac Dynamic que realiza rastreamento térmico, por
superfície e por raios-X estereoscópico.

Além disso, o equipamento conta com uma tecnologia conhecida como Radioterapia Guiada por
Superfície (SGRT) integrada ao Exactrac Dynamic. Este sistema é constituído por uma câmera térmica e
um projetor de luz estruturada de alta resolução, sendo o primeiro equipamento do Brasil a utilizar essa
tecnologia. Uma vez na posição de tratamento, o paciente é detectado por uma das câmeras, e a
informação de superfície é combinada com a assinatura térmica detectada pela outra câmera. Este novo
sistema traz diversas vantagens, como a eliminação da necessidade de realizar marcações na pele dos
pacientes e a capacidade de monitorar o tratamento para evitar erros, podendo detectar variações de
ordem submilimétrica. Grandes centros nos EUA, Europa e Ásia utilizam este sistema, sendo a Radioterapia
São Sebastião a pioneira no Brasil e segunda na América Latina.
Outro grande diferencial é que o equipamento possui duas modalidades de radioterapia guiada
por imagem (IGRT) chamadas Exactrac Dynamic e CBCT. Dependendo da região a ser tratada, é necessário
realizar a avaliação dos órgãos internos, o que é feito alguns segundos antes do tratamento. O
equipamento então realiza o CBCT, uma tomografia computadorizada de feixe cônico que permite essa
avaliação. Outros tratamentos necessitam realizar uma rotação na mesa de tratamento, impossibilitando
a realização do CBCT.

Figura 3: Controle de qualidade pré tratamento de radiocirurgia para neurinoma do acústico.

O sistema Exactrac Dynamic entra em ação com o rastreamento por superfície e térmico,
realizando imagens estereoscópicas em diferentes posições de mesa, complementando a limitação do
CBCT. Os dois sistemas, Exactrac Dynamic e CBCT, trabalham de maneira conjunta e acrescentam ainda
mais tecnologia ao parque tecnológico da Radioterapia São Sebastião. Também foram realizados
investimentos em dispositivos para controle de qualidade, que servem para garantir o bom funcionamento
de todos os equipamentos, além de contar com uma equipe altamente qualificada para implementar e
validar essas tecnologias, proporcionando segurança nos tratamentos dos pacientes.

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