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2004, quando 9 funcionários de um Banco, filiados no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas
(maior sindicato do país) foram alvo de um despedimento coletivo conduzido pela entidade
patronal – figura cujo regime é regulado pelo 359º e ss. CT.
O acórdão sub judice discorre, no essencial, sobre três questões, todas concernentes ao
regime do despedimento coletivo, explanado nos artigos 359º e ss. CT:
• (Cont.) Há uma natural ligação entre estes motivos e a viabilização das unidades
económicas, ainda que o conceito de “viável” não seja o juridicamente mais rigoroso,
por demasiado burocrático e pouco conexo com um espírito de estratégia económica e
empresarial. Por outro lado, os motivos não podem ser invocados somente quando se
tornem solução anti insolvência da empresa, já que tal constituiria um fator de
instabilidade na gestão e um entrave às exigências da concorrência o que atentaria, em
última instância, contra os próprios pressupostos de estabilidade do emprego. O
ordenamento não pode restringir excessivamente a liberdade de gestão e a livre
iniciativa do empregador, sufocando o sistema económico em formalismos ocos. É
verdade que o despedimento coletivo conserva uma ideia de ultima ratio, mas apenas
no sentido de obrigar o empregador a ponderar outras soluções igualmente proveitosas
para a empresa mas inferiormente lesivas da segurança e estabilidade laboral. Os
despedimentos podem surgir por mera racionalidade económica (maximizar lucro) e
não somente para fazer face a uma crise. A lei não pode obrigar uma empresa com
ambições de expansão a suportar quadros excedentários ou unidades ineficientes.
Somente os desequilíbrios económico-financeiros - dentro dos motivos estruturais - são
englobáveis nas clássicas situações de crise – todos os demais motivos podem ocorrer
em situações de prosperidade. O próprio STJ (24-5-2006) admite “despedimentos
eficientes” em qualquer situação económica. Um argumento de maioria de razão face
ao regime da suspensão do contrato por facto referente ao empregador (298º e ss., que
depende de crise e é menos gravoso) não procede, pois compara indevidamente as duas
medidas, omitindo que a suspensão é acompanhada de uma transferência do risco pela
contraprestação retributiva para a Segurança Social, que suportará 70% da
comparticipação devida ao trabalhador. No despedimento coletivo todos os custos são
assumidos pelo empregador, em exclusivo. A existência destes motivos não deixa de ser
redundante, uma vez que o vero fundamento é a eliminação do posto de trabalho e não
a qualificação jurídica dos seus motivos – somente dão cobertura à racionalidade
económica na fixação a cada momento dos postos de trabalho necessários. Exige-se,
isso sim, uma relação de causalidade entre os motivos invocados e os postos extintos,
que cabe ao empregador alegar e demonstrar – ao contrário da legitimidade ou
razoabilidade da decisão de gestão, que não é sindicável. A fixação destes motivos visa
somente obstar a um encapotamento de múltiplos despedimentos individuais nas
vestes de um despedimento coletivo – situação de abuso de direito. É somente esta a
função do tribunal, nunca aferir o mérito da decisão de gestão, pois o empresário é livre
de prosseguir uma ideia ruinosa, se assim entender. Essencial: nexo consequencial entre
os concretos motivos objetivos justificativos do despedimento e a decisão de fazer
cessar um concreto posto de trabalho na empresa (Ex. pode reduzir o pessoal da seção
de produção de lãs se assim entender, mas não pode afetar a esse despedimento um
trabalhador da seção do algodão). No fundo, o despedimento coletivo consiste numa
resolução do contrato pelo empregador baseada em motivos objetivos.
• Quantitativo - relativo ao número de trabalhadores abrangidos: o 359º exige que o despedimento atinja,
pelo menos, dois ou cinco trabalhadores, conforme se trate de microempresa e de pequena empresa, por
um lado, ou de média e grande empresa (100º), por outro, computando-se esses números pelo período de
3 meses uma vez verificado o nº de trabalhadores na empresa ao final de cada mês do ano e dividindo por
12. Caso estejamos perante uma organização empresarial de estrutura complexa que possui, por exemplo,
diversos estabelecimentos, a análise deve atender à relativa autonomia de cada um, mediante a sua
atividade, quadros, personalidade jurídica, unidades de produção, e sua inserção numa ótica de
autonomização ou mera descentralização de funcionamento ou produção sem autonomia de gestão,
afetação de bens, contabilidade própria, etc. – as questões de fronteira são de risco para o empregador, já
que constituem vícios de invalidade do despedimento (384º a)). Quanto aos casos onde estejamos perante
sucursais (de empresas internacionais), deveremos atender somente aos trabalhadores da organização
localizada no nosso país. O despedimento coletivo não pode ter como objetivo a substituição dos
trabalhadores abrangidos por outros que vão ocupar os mesmos postos de trabalho, sendo ilícitos
quaisquer expedientes semânticos para tal (“vendedor” por “promotor comercial”). Estas modalidades de
despedimento não podem, assim, ser neutras quanto ao dimensionamento do emprego na empresa. O
principal fundamento do despedimento (a extinção do emprego) cai por terra. Claro que a empresa pode
voltar a contratar – mas apenas uma vez alteradas as circunstâncias objetivas que, à data, motivaram o
despedimento. Data essa que, inclusive, pode ser extraordinariamente curta (ex. aparecimento de novo
cliente), mas que se torna problemática quando os despedimentos tenham sido ditados por simples
decisões de gestão (bem intencionadas, mas que acabam por não correr bem). Seja como for, a alteração
das circunstâncias será sempre o critério, caso a caso.
• Formação interna da decisão: está em causa uma decisão de gestão, sendo que a
cessação terá de ser determinada pelo encerramento de uma ou várias secções ou
redução do pessoal determinada por motivos de mercado, estruturais ou tecnológicas.
O único vislumbre de uma consequência legal desta fase será a que resulta dos artigos
423º nº1 c), 424º nº1 i), 425º c) e 429º nº2 (direitos das comissões de trabalhadores).
• O montante global da compensação não pode ser superior a 12X a retribuição base
mensal e diuturnidades do trabalhador ou quando aplicado o limite acima referido, 240X
a retribuição mínima mensal garantida (alínea b)).
Artigo 156.º
Contestação
1 - Nas ações de impugnação de despedimento colectivo, apresentada a petição, o réu é citado para, no prazo de 15
dias, contestar.
2 - Com a contestação deve o réu juntar os documentos comprovativos do cumprimento das formalidades previstas
nas normas reguladoras do despedimento colectivo.
3 - No prazo referido no n.º 1, deve ainda o réu requerer o chamamento para intervenção dos trabalhadores que,
não sendo autores, tenham sido abrangidos pelo despedimento.
4 - A admissão do chamamento referido no número anterior é decidida sem audição da parte contrária.
• ASSIM: O pagamento da compensação e dos restantes créditos (363º nº4 e nº5, 366º)
constitui requisito da licitude do despedimento (381º e 383º)?
Isto significa que, no concernente aos efeitos da sentença de invalidade do despedimento, tal
implica a subsistência do contrato e, portanto, a reintegração do trabalhador ilicitamente
despedido, compensando-o pelo tempo em que esteve privado da sua ocupação. Assim, uma
vez declarada a ilicitude, o trabalhador tem direito a ser indemnizado por todos os danos
patrimoniais e não patrimoniais causados, recebendo no mínimo as retribuições
correspondentes ao período de tempo que vai desde a data do despedimento até à data do
trânsito em julgado da decisão final que ponha termo à ação judicial (389º nº1 al. a) e 390º).
Deve ser equiparada à data do trânsito em julgado, se anterior, a data em que o empregador
obtempere à sentença na parte em que determine a reintegração (alínea b).
Rendimentos de trabalho auferido pelo trabalhador e que não receberia se não fosse o
despedimento. Ex: ocupação iniciada posteriormente;
Montante do subsídio de desemprego auferido pelo trabalhador, que terá de ser entregue
pelo empregador à Segurança Social.
Nota: A exclusão da reintegração a pedido do empregador não é permitida nas hipóteses do nº2
do artigo 392º do CT. Uma vez pedida a substituição da reintegração caberá ao tribunal apreciar
o fundamento invocado pelo empregador (392º nº3).