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DOI: 10.1590/1413-81232021263.

21462020 775

Rede Cegonha e desafios metodológicos de implementação

artigo article
de redes no SUS

Rede Cegonha network and the methodological challenges of


implementing networks in the SUS

Serafim Barbosa dos Santos Filho (https://orcid.org/0000-0001-8397-6575) 1


Kleyde Ventura de Souza (https://orcid.org/0000-0002-0971-1701) 1

Abstract This paper addresses strategies em- Resumo O artigo aborda estratégias usadas na
ployed in the implementation of the Rede Ceg- implementação da Rede Cegonha (RC), conside-
onha (“Stork Network”) (RC), considering its rando sua finalidade de contribuir para uma mu-
contribution to change the delivery and birth care dança de modelo de atenção ao parto e nascimen-
model in the Brazilian Unified Health System to nos serviços do SUS. Contextualiza a RC como
(SUS). It contextualizes RC as a project signed by projeto firmado interinstâncias gestoras do SUS
the SUS management interagency bodies and the e a importância de estratégias de sua execução
importance of implementing the services’ strate- junto aos serviços. Nesse sentido aponta dois ei-
gies. In this sense, it points out two essential axes xos essenciais na sustentação da RC, considerados
supporting the RC, which are strategic to promote estratégicos para promover a análise-intervenção
the intervention-analysis in obstetric-neonatal na atenção obstétrico-neonatal: o apoio insti-
care, namely, institutional support (IS) and team- tucional (AI) e a formação para o trabalho em
work training. The IS enables the RC to become a equipe. O AI possibilita que a RC se efetive como
collective construction assumed by teams in their uma construção coletiva assumida pelas equipes
action spaces and is pointed out as an innovative nos seus espaços de ação; é apontado como inova-
way of implementing health-related projects. The ção no modo de implementar projetos de saúde.
intervention-training methodology innovates A metodologia da formação-intervenção inova no
training to intervene in work. These experiences modo de formar para intervir no trabalho. Essas
are affirmed as potentiators of the RC in creating experiências são afirmadas como potencializado-
the conditions to change the technocratic ratio- ras da RC na criação de condições para mudar a
nale of management and care throughout labor lógica tecnocrática de gestão e atenção ao parto e
and birth. nascimento.
Key words Rede Cegonha network, Health sys- Palavras-chave Rede Cegonha, Sistemas de saú-
1
Núcleo de Pesquisas tems, Professional training, Institutional support de, Formação profissional, Apoio institucional
e Estudos em Saúde
da Mulher e Gênero,
Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de
Minas Gerais. Av. Prof.
Alfredo Balena 190/438,
Santa Efigênia. 30130-100
Belo Horizonte MG Brasil.
serafimsantosfilho@
gmail.com
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Rede Cegonha como dispositivo subjetivos de cuidado. Além dessas diretrizes,


de mudança de modelo de cuidado outras têm foco na gestão, organização e quali-
ficação dos processos de trabalho, destacando: a
A Rede Cegonha (RC) ampliou os investimentos cogestão como incentivo à participação ativa de
que o Ministério da Saúde (MS) vinha fazendo gestores, trabalhadores e usuários, ampliando
na melhoria da atenção ao parto e nascimento. graus de autonomia e corresponsabilização; o
Surgiu em 2011, uma das redes temáticas do SUS, trabalho integrado em equipe multiprofissional
para garantir atenção humanizada no pré-natal, como referência para o cuidado; a mobilização
parto, puerpério e atenção infantil até 24 meses, social, voltando-se aos temas da sexualidade e
além da atenção ao planejamento sexual, repro- da reprodução; e a integração ensino-serviço,
dutivo e ao abortamento. O seu conjunto de re- fomentando a qualificação do trabalho/equipes
cursos é direcionado para mudança de modelo da rede.
de atenção obstetriconeonatal, desafio assumido Com esses horizontes constata-se o desafio
pelo MS, fazendo coro com vozes que vêm aler- instituinte da RC, dispondo-se ao tensionamento
tando sobre as lacunas do modelo predominante, dos modos estabelecidos de operacionalização da
hospitalocêntrico e medicocentrado, com práti- gestão, dos processos e das práticas de atenção.
cas invasivas e não humanizadas e altas taxas de Portanto, dispositivo de intervenção no trabalho.
morbimortalidade materna e neonatal1,2. Estudos avaliativos das redes temáticas no
Nesse artigo, a RC é abordada como um dis- SUS mostram os rumos de implementação e as
positivo, partindo dos referenciais utilizados na limitações em suas configurações e impactos4.
Política Nacional de Humanização da Atenção São contribuições essenciais para avançar nos
e Gestão no SUS/PNH3, em que se reconhece as ajustes necessários ao alcance da população em
potencialidades de intervenção nos sistemas e suas demandas de integralidade e na organização
processos instituídos para gerar mudanças ins- e funcionamento das redes. No contexto atual de
titucionais. É nesse sentido que compreendemos várias mudanças estruturais do SUS, incluindo as
a RC à luz de nossos estudos e apoio aos servi- restrições de recursos, ampliam-se esses desafios.
ços de saúde, observando-se que ela passou a ser Em termos da RC, as avaliações trazidas neste
operada no contexto do SUS sem se restringir aos suplemento da Ciência e Saúde Coletiva (C&SC)
instrumentos típicos de execução de projetos por apontam impactos inquestionáveis, mas também
meio de prescrições e metas a cumprir. Para além lacunas ainda a serem superadas. Em meio a essas
disso, a RC incorporou uma metodologia de lida perspectivas analíticas, nosso foco de abordagem
com seu objeto/serviços, buscando o que a PNH da RC centra-se em dois eixos que dizem de seu
valoriza como um modo de fazer, nele contem- modo de implementação, demarcando nosso in-
pladas estratégias de integração interfederativa teresse em certas aprendizagens institucionais, va-
e envolvimento efetivo das equipes de saúde na lorizando caminhos que se mostraram potentes
corresponsabilização com mudanças. nos modos de fazer – eixo do apoio institucional5-7
Suas diretrizes2 portam os atributos deseja- e estratégias essenciais para a sustentação do ob-
dos de um novo modelo de cuidado: vinculação jetivo de transformação de modelo – eixo da for-
territorial da gestante para atendimento em rede, mação para o trabalho em equipe8.
evitando a peregrinação da mulher e da criança;
mecanismos de acolhimento, com classificação Humanização como método
de risco e vulnerabilidade; direito a acompa- na implementação da RC
nhante nos momentos de internação e procedi-
mentos; adoção do conjunto de boas práticas a A RC incorporou a Política Nacional de Hu-
partir de evidências científicas; incorporação de manização (PNH) como uma de suas bases es-
enfermeiros obstétricos na atenção ao parto de truturantes, adotando seu marco teórico-político
risco habitual, fomentando o seu protagonismo num aporte sistemático de princípios e modos
no cuidado e na autonomia de agir em equipe; de operar. Essas aproximações referenciais foram
atenção humanizada às situações de abortamen- demarcadas em documentos institucionais do
to e acesso ao aborto legal; oferta de ações de pla- Ministério da Saúde e num Caderno especial do
nejamento reprodutivo pós-abortamento; aten- HumanizaSUS focando a humanização do parto
ção às situações de violência sexual, com garantia e nascimento2. Em publicação recente, Pasche9,
de todos os critérios de privacidade e acolhida; e um dos atores-chave na articulação da PNH e da
adequação dos espaços físicos de trabalho, crian- RC nos seus momentos de estruturação no MS,
do condições favoráveis aos vínculos sociais e afirma que uma das investidas mais relevantes
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da PNH ocorreu no campo da RC. Pasche9 refere nossas experiências em tais campos de saberes
essa aproximação da RC à PNH, alertando que a e práticas. É preciso salientar que a RC abre ca-
RC não só vinha com a pretensão de organização minho para, como propõe a PNH, afirmar como
em busca de eficácia na atenção e gestão, visan- indissociáveis três campos de trabalho: atenção,
do mudar seus rumos, mas instaurando certo gestão e formação. Esse princípio orienta a reor-
modo de fazer política e intervenção no campo, ganização dos serviços indicando que a transfor-
tomando a PNH como bastião ético e referência mação do cuidado ao parto e nascimento exige
metodológica para o processo de mudança que alteração, simultânea, dos modelos de atenção,
passa a patrocinar. Tal referencial teria especial de gestão e de formação para o trabalho. Se isso
relevância na RC, pelas suas potencialidades em é uma premissa, aqui focamos o AI como cami-
colocar em análise o complexo cenário da aten- nho para subsidiar transformações nos modos de
ção obstetriconeonatal, extrapolando seu âmbito gestão nos serviços do SUS12 e a formação-inter-
técnico e trazendo à tona os elementos eticopo- venção8,13 como perspectiva formativa que traz o
líticos que o perpassam. Assim a humanização trabalho e seus desafios ao centro dos processos
comparece como base para análise e intervenção, educativos para o agir em equipe.
como princípio e método, cujo pilar principal é a
busca de inclusão dos diferentes atores, o respeito Apoio Institucional como inovação na RC
e a valorização do contraditório e, como enfatiza
Pasche9, operando com a confrontação generosa Campos12 propõe o AI como um modo de fa-
entre sujeitos e suas diferenças para a reinvenção zer perseguindo a criação de grupalidade, mon-
protagonista e corresponsável de novos fazeres. tando redes de coletivos organizados para a pro-
Esse é o cenário que nos interessa explorar na dução de saúde. Com o AI almeja-se reformular
RC, tomando como foco o trabalho em sua con- o modo tradicional de fazer gestão, ampliando a
cepção de atividade concreta10, isto é, os modos participação de gestores, trabalhadores e usuá-
que os coletivos se articulam e se reinventam no rios na tomada de decisões.
cotidiano para garantirem o real das instituições Na RC, a função apoio passa pela mediação
e suas metas. do projeto pactuado intergestores, possibilitando
É nesse espaço concreto de relações que vigo- que ele se torne um objeto-pauta dos trabalhado-
ram as práticas tradicionais de atenção, gestão e res, efetivando-se como uma construção coletiva
formação, mas é também onde se operam as (re) assumida pelos sujeitos que fazem o serviço fun-
invenções de tais práticas, sempre na tensão ins- cionar. Nesse rumo, institui-se superando a tra-
tituído-instituinte, tensionamento que cria con- dição do MS do papel centrado na formulação de
dições para transformações. Ainda valendo-se de projetos e fornecimento de recursos para serem
um caro princípio da PNH, tomamos a RC como apenas executados pelas outras instâncias. O AI é
um caso emblemático no qual se demonstra a pre- essencialmente um suporte metodológico a ocu-
missa de que política pública é aquela que se faz par o espaço entre a portaria firmada entre as ins-
nos coletivos11, isto é, que não se viabiliza apenas tâncias gestoras (macroesfera da gestão) e a ação
pela prescrição oriunda da máquina pública, mas propriamente dos serviços, ajudando a colocar o
que opera com a movimentação de atores, dispu- projeto em funcionamento6. O principal vetor de
tando e misturando seus (diferentes) interesses e finalidade do AI na RC é a criação de condições
rearticulando-os na produção de um comum. As- para ajudar a mudar a lógica tecnocrática de ges-
sim é que se deslancha a RC e seus complexos de- tão e atenção na saúde materno-infantil.
safios associados a suas frentes de ações e metas. Partindo das normativas para o seu desen-
volvimento6, o MS encomendou uma pesquisa
Destacando eixos estruturantes da RC avaliativa do AI na RC7, que atestou sinais pre-
dominantemente positivos nos campos de in-
É nesse cenário – de desafio de novos faze- terferência dos apoiadores: gestão colaborativa,
res – que compreendemos dois eixos como es- qualificação da atenção e gestão e na articulação
senciais na sustentação da RC. Trata-se do apoio de planejamento, monitoramento e avaliação.
institucional (AI), como estratégia essencial no Nesses âmbitos destacam-se: fortalecimento da
modo de implementação, e da formação para integração interfederativa, desenho da RC e ar-
o trabalho em equipe, como estratégia de sus- ticulação com as demais redes-SUS, constituição
tentação das mudanças desejadas. Enfatizamos de dispositivos de cogestão, alinhamentos consi-
as perspectivas metodológicas do apoio insti- derando os atores e suas relações de poder, ofer-
tucional5,6 e dos processos formativos8, à luz de ta de tecnologias e metodologias para análise e
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revisão dos processos de trabalho, implantação plexidade do campo mais amplo do cuidado ao
das boas práticas e protocolos, atividades de for- parto e nascimento8. Campo onde se cruzam
mação-intervenção e qualificação das equipes, e múltiplos sujeitos de interesse e múltiplos valores
ampliação da capacidade institucional de plane- perpassando o âmbito científico: envolve mulhe-
jamento, monitoramento e avaliação. res, família, categorias profissionais, os serviços,
Não obstante a potência do AI e seu reconhe- os movimentos sociais, de gênero, a igreja e seus
cimento pelos apoiados, trata-se de uma prática dogmas, o estado e seus princípios e outros. Por
em permanente conflito em meio à disputa de outro lado, como em todo o setor saúde, a prática
modelos de atenção (entre o instituído e o que obstetriconeonatal acontece em meio à intensi-
se deseja instituir). Nesse sentido deve ser valori- ficação de tecnologias, medicalização e padro-
zado como inovação num modo de implementar nizações procedimentais, enrijecendo a relação
projetos, especialmente por se estar na interme- assistencial, com perda de autonomia dos traba-
diação de uma política pública, no desafio de fa- lhadores e isolamento na tarefa. Isso exige cada
zê-la efetivamente pública porque construída nos vez mais o aumento da capacidade de análise e
coletivos, como indica a PNH11. Isso faz convergir de intervenção dos coletivos para se correspon-
os objetivos da RC e do AI na defesa radical de sabilizarem no enfrentamento dessas tendências.
uma atenção humanizada ao parto e nascimen- O cuidado ao parto passa por articulações de
to, para isso expondo-se às disputas de interesses saberes e histórias diversas, inclusive da própria
que se cruzam no trabalho. mulher, e pelo desafio de se fazer como um en-
Em meio às disputas, o apoio ajuda a supe- contro na ética de defesa da vida e da alteridade.
rar situações antes consideradas imutáveis, sendo Se as necessidades dos sujeitos da produção da
um desafio permanente e uma prática instigante saúde extrapolam as dimensões objetivas e tec-
que seguramente contribui para os resultados al- nopráticas, isso requer a articulação de saberes
cançados com a RC. não como um somatório de profissionais, mas
especialmente no sentido de uma interlocução
Formação para o trabalho em equipe de disciplinas para se dar conta da complexidade
e mudança de modelo de atenção do cuidado. Em contrapartida, a interlocução de
saberes e profissionais está associada à tradição
A formação profissional é um dos compo- de como se estabelecem as relações nos serviços
nentes da RC, entendido como agenda estraté- de saúde, na divisão técnica e social do trabalho.
gica para a mudança de paradigmas. Em nossas Nessa tradição observa-se acentuada assimetria
experiências partimos da premissa de trazer o de poderes entre as diferentes categorias, entre os
trabalho ao centro dos processos educativos e to- profissionais e suas chefias e entre todos esses e
mamos o trabalho na acepção de espaços onde os usuários. Para sua superação não basta a jus-
diferentes sujeitos encontram-se em permanente taposição profissional e qualificação para o agir
debate de normas, regras, transitando entre prá- individualizado; há que equilibrar autonomias
ticas tradicionais e o desafio de suas reinvenções. individual e coletiva15. Assim contextualizado,
Essa é a concepção de trabalho como atividade e não é pelo campo da assistência isoladamente
como encontro10, que no SUS se materializa es- (esfera das habilidades e competências técnicas)
pecialmente nas conexões ou encontros entre as que serão transformados os serviços; é pelo cam-
situações e os sujeitos da produção: trabalhado- po da gestão que se pode colocar em análise tanto
res, gestores e usuários. Seguindo a humanização os modos de cuidar como os de gerir, em interre-
como política3,11 a proposta é ampliar a interação lação com os de formar. Isso é base importante
entre tais sujeitos, para isso tomando por base o do trabalho em equipe, superando-se a hierar-
conceito de transversalidade14, em busca de uma quização vertical das relações de saberes-poderes
maior abertura na relação comunicacional entre e avançando para uma organização lateralizada,
eles. Essa concepção põe a necessidade de partici- na ótica da transversalidade.
pação ativa e inventiva dos sujeitos, em compar- A concepção de formação-intervenção vem no
tilhamento, corresponsabilização e construção de sentido de aumentar a potência de agir no tra-
projetos comuns. Na medida em que se aumenta balho. Valoriza a formação para o trabalho em
o grau de transversalidade, com tensionamento equipe pela construção de projetos comuns que
das fronteiras dos saberes e atitudes, aumenta-se atendam aos interesses dos usuários, dos (dife-
o poder de agir dos coletivos de trabalhadores6,14. rentes) trabalhadores e da instituição. Forma-se
Ao provocar a reflexão sobre o trabalho na para ampliar a qualificação para análise-intervenção
obstetrícia e neonatologia, destacamos a com- na organização e gestão dos processos de trabalho,
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condição necessária para dar conta do objetivo de contexto os eixos destacados como estratégicos
mudança de modelo. Nossas experiências em pro- em sua implementação trazem a marca desafia-
jetos de qualificação no campo obstetriconeonatal8 dora de novos modos de qualificação do trabalho
estão orientadas nesses princípios, alinhando-se em sua organização e relações institucionais e
aos horizontes ético-estético-políticos da huma- subjetivas, junto com o desafio de uma formação
nização à luz da transversalidade e pontes inter- para sustentar mudanças. Esses desafios esten-
profissionais. Tal formação para lidar com as rea- dem-se na perspectiva mais ampliada de redes
lidades do SUS exige que o real da organização do em produção de articulações em vários âmbitos,
trabalho seja tomado como pauta. Entretanto, na passando pelos recursos e conexões que assegu-
tradição da educação em geral, isso é negligencia- ram integralidade como também pela quebra de
do ou subestimado, centrando-se em competên- tradicionais fronteiras de saberes e poderes que
cias restritas que só garantem uma qualificação obstaculizam o agir em conjunto e corresponsá-
pontual. As realidades singulares trazem neces- vel, âmbito que instigamos ser enfrentado com a
sidades que não se resolveriam somente com as noção de transversalidade.
prescrições ou normas antecedentes para o tra- Defendemos que AI e formação-intervenção
balho se fazer. O princípio de formação como in- se interpenetram como eixos estruturantes na RC
tervenção propõe interferência no trabalho, nele e por serem canais de desenvolvimento da Rede, no
com ele articulando produção de conhecimento, sentido de um fazer coletivo e em um caminho
práticas de atenção e gestão, produção de saúde e de permanente compartilhamento entre os atores
de sujeitos de modo indissociável. É a experiência envolvidos, e assim direcionando a formação de
concreta de trabalho e sua análise que apontam profissionais em novas bases eticopolíticas para
as necessidades de qualificação, de recriação da novos modos de agir em saúde. São eixos estrutu-
prática e do conhecimento, possibilitando a apli- rantes porque conseguem manter atualizados os
cabilidade dos saberes e tecnologias. Isso se faz modos de discutir o trabalho (e formando para
com (re)invenção permanente de normas e num o trabalho), pela via de sua análise coletiva, fa-
debate coletivo de valores em direção a um fazer zendo emergir o que nele existe de tradição e de
comum. potencial transformativo. Assim acreditamos que
contribuem para a sustentabilidade das práticas
que se vão transformando ou que a produção de
Concluindo autonomia dos coletivos contribui para a susten-
tabilidade da RC como política pública. Por tudo
A RC compõe as estratégias do MS, trazendo a isso, afirmamos: o AI e a formação para o traba-
marca desafiadora de mudar um modelo de prá- lho em equipe ajudam a produzir os resultados
ticas, com isso reverberando no SUS como um almejados na RC, disso decorrendo a importância
todo, especialmente no campo da gestão2. Nesse de inovações em redes de cuidado e formativas.

Colaboradores

SB Santos Filho e KV Souza participaram da con-


cepção, redação e revisão do conteúdo até a ver-
são final do manuscrito.
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Santos Filho SB, Souza KV

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