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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Disciplina: História da América III


Professor: Rafael Alonso
Discente: Marcelli Bertulino de Almeida

Resumo

ROMERO, Luis Alberto. Os governos radicais, 1916-1930. In: História contemporânea da


Argentina. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Este texto é um resumo do capítulo II, intitulado “Os governos radicais, 1916-1930”,
do livro “História Contemporânea da Argentina”, escrito por Luis Alberto Romero,
historiador e professor argentino. Além da obra mencionada, o autor também possui como
outros trabalhos acadêmicos publicados: História da Argentina no século XX (2002),
Sociedade democrática e política democrática na Argentina no século XX (2004), Breve
História Contemporânea da Argentina (2012) e entre outras produções.
Em “Os governos radicais, 1916-1930”, Romero apresenta ao leitor um panorama
político, social e econômico da Argentina durante os anos correspondentes aos governos de
Hipólito Yrigoyen (1916-1922 e 1928-1930), líder da União Cívica Radical (UCR), e de
Marcelo Alvear (1922-1928), opositor de Yrigoyen no partido. Esse período da história da
Argentina significou o momento de ascensão do movimento radical ao poder, o qual foi
criado com o objetivo de desestruturar o sistema oligárquico dominante no país através de um
discurso reformista que incidiu, contudo, mais sobre o campo eleitoral do que sobre o campo
social e econômico.
Para abordar o intrincado contexto que envolvia a Argentina nesse período, o autor
estruturou o capítulo em quatro tópicos distintos. Inicialmente, no primeiro segmento
intitulado “Crise social e nova estabilidade”, são analisados os aspectos contextuais da crise,
destacando-se o surgimento dos movimentos grevistas que impactaram profundamente o país,
assim como as medidas adotadas pelo governo de Yrigoyen em resposta à crescente
insatisfação popular. Em seguida, no segundo tópico, intitulado “A economia em um mundo
triangular”, o autor explana sobre os fatores determinantes para a instauração da crise
econômica. No terceiro tópico, denominado “A difícil construção da democracia”, o texto
concentra-se em apresentar a dimensão política do período, destacando as características do
partido radical e do partido socialista, além de descrever o processo pelo qual Marcelo Alvear
foi eleito em 1922 e as consequências dessa eleição. No quarto e último tópico, intitulado “A
volta de Yrigoyen”, o autor aborda o retorno de Yrigoyen ao poder e os eventos que
culminaram em sua deposição pelos militares em 1930.
Considerando o conteúdo do primeiro tópico, percebe-se que o primeiro mandato do
governo de Hipólito Yrigoyen foi marcado por desafios significativos. A Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), um conflito entre potências europeias, teve um impacto devastador na
estrutura econômica argentina, resultando em graves consequências sociais. O setor agrário
foi um dos primeiros a ser atingidos; a exportação de produtos agrícolas para países europeus
ficou estagnada devido à redução na demanda por alimentos durante o período. Além disso, a
crise elevou os preços dos bens e serviços e aumentou a taxa de desemprego no país. Diante
dessa conjuntura desafiadora, os trabalhadores rurais e urbanos se mobilizaram para
reivindicar por melhorias nas condições de vida e de trabalho.
Durante os anos de 1916 a 1921, a Argentina foi palco de intensas ondas de greves.
Segundo o texto, os principais atores envolvidos foram os sindicatos dos transportes, a
Federação Operária Marítima, a Federação Operária Ferroviária e os membros da Federação
Operária Regional Argentina (FORA) - uma organização anarquista composta por uma
coalizão de sindicatos operários. Inicialmente, o governo de Yrigoyen buscou adotar medidas
conciliatórias para estabelecer acordos com os grevistas; no entanto, essa abordagem não
perdurou por muito tempo. Na greve dos frigoríficos em 1918, assim como na greve dos
metalúrgicos em 1919, houve relatos de violência policial e repressão militar contra os
revoltosos. Ademais, o autor observa que, além dos trabalhadores urbanos, os agricultores
também possuíam demandas a serem atendidas pelo governo, especialmente no que se referia
ao estabelecimento de garantias e termos mais favoráveis nos acordos feitos com
compradores. No entanto, apesar das promessas reformistas do governo, quase nenhum
aparato institucional foi implementado para atender às reivindicações da classe trabalhadora.
No contexto dessas agitações sociais, várias manifestações políticas de setores
contrários à luta dos trabalhadores surgiram. Em 1919, os nacionalistas conservadores e os
proprietários de terras fundaram a Liga Patriótica Argentina com o objetivo de conter as
mobilizações trabalhistas. Essa organização política e paramilitar advogava pelos valores
patrióticos e nacionalistas argentinos, empregando um discurso persuasivo e recorrendo à
violência contra movimentos sociais e sindicais. Além disso, outro grupo que se opunha aos
grevistas, socialistas e, principalmente, ao pensamento liberal, foi o dos católicos. No mesmo
ano da criação da Liga Patriótica Argentina, os católicos fundaram a União Popular Católica
Argentina, organização conhecida por defender princípios e ideais católicos em questões
como a justiça social, a moralidade pública e a ordem social.
O texto destaca que, ao contrário do que pensavam os setores opositores, as
mobilizações grevistas não tinham o propósito de desencadear uma ruptura na ordem social
estabelecida. Embora algumas de suas ações tenham sido violentas, o movimento era guiado
por vias sindicalistas e socialistas, as quais desejavam resolver os conflitos a partir de
negociações e acordos com o governo e o Congresso. Através dessa abordagem conciliadora,
os sindicalistas conseguiram expandir suas conquistas. O autor explicita, por exemplo, que a
União Ferroviária, um dos principais sindicatos argentinos, suspendeu a tática grevista e
buscou estabelecer acordos com o governo. Durante o mandato de Marcelo Alvear, o
sindicato dos ferroviários conseguiu negociar a criação de uma legislação que garantia ao
setor um sistema de pensões. Somado a essa medida, o governo também regulamentou o
trabalho de mulheres e crianças e instituiu o Dia Nacional do Trabalho.
Além de abordar os aspectos relacionados aos conflitos internos, o texto também
discute a questão da Reforma Universitária de 1918 e da consolidação da cultura de massa.
Conforme argumenta o autor, a população argentina estava cada vez mais instruída e ávida
por promover uma maior mobilidade social e implementar um conjunto de reformas
importantes. Assim, em 1918, impulsionada por esses anseios, as camadas populares se
mobilizaram em prol da implementação da reforma universitária, amplamente apoiada pelo
movimento estudantil de Córdoba, que lutava pela democratização do ensino superior e pela
modernização do sistema educacional. Paralelamente, no âmbito cultural, a sociedade
argentina estava passando por mudanças significativas, com o surgimento de teatros,
cinemas, clubes esportivos e o crescimento dos meios de comunicação. Tais transformações
acabaram por refletir na vida cotidiana e nas percepções sociais, influenciando
profundamente a sociedade argentina da época.
No segundo tópico do texto, o autor delineia a crise econômica que afligiu o setor
agroexportador argentino durante a Primeira Guerra Mundial. Ele esclarece que a fragilização
do mercado externo, derivada do conflito de proporções globais, impactou negativamente a
exportação dos produtos agrícolas argentinos. A Grã Bretanha, que até então era o principal
comprador de gado e de outros produtos argentinos, não conseguiu manter o mesmo nível de
consumo, o que resultou em uma diminuição substancial das importações. Diante dessa crise,
a Argentina buscou apoio do capital dos Estados Unidos, que, no entanto, se concentrou
principalmente em investimentos industriais e de serviços, sem promover significativamente
as exportações agrícolas. Como consequência, os produtores rurais argentinos ficaram
revoltados com a falta de incentivo às importações e resolveram protestar contra os
investidores norte-americanos, pedindo que os ingleses fossem privilegiados nas relações
comerciais com o país.
Após traçar esse panorama da economia, o autor direciona a discussão para o terceiro
tópico, abordando a insatisfação popular com as medidas adotadas por Yrigoyen e o processo
de transição de governo para Marcelo Alvear. Eleito em 1916, Hipólito Yrigoyen, membro da
União Cívica Radical (UCR), partido político argentino que obteve um importante alcance
nacional, liderou o país com uma agenda progressista e reformista. No entanto, suas políticas
populistas e intervencionistas desagradaram setores conservadores, oligárquicos e militares.
De acordo com o autor, essa insatisfação culminou em um clima de agitação política e social,
que pavimentou o caminho para a transição de poder para Marcelo Alvear, também membro
da UCR. Quando chegou ao poder em 1922, Alvear procurou se distanciar ao máximo da
imagem deixada pelo governo de Yrigoyen, buscando implementar uma política mais
conciliatória e pragmática, visando restaurar a estabilidade. No entanto, apesar dos esforços
de Alvear, a instabilidade política prevaleceu, visto que, nesse período, o confronto entre os
defensores de Yrigoyen e seus opositores se acirrou, o que provocou a divisão do partido.
Nesse período tumultuado, em 1928, Hipólito Yrigoyen foi reeleito como presidente
da Argentina, o que descontentou as alas conservadoras, oligárquicas e militares. O autor
explicita, no último tópico do texto, o qual se intitula “A volta de Yrigoyen”, que, durante seu
segundo mandato, Yrigoyen concentrou-se em resolver a questão da nacionalização do
petróleo para tentar reconquistar o apoio dos militares, além de estabelecer importantes laços
comerciais com a Grã-Bretanha, garantindo um mercado consumidor para a carne vendida
pelo país e, com isso, satisfazendo as reivindicações da classe proprietária argentina. Quanto
a sua atitude frente ao Senado, Yrigoyen buscou distribuir cargos políticos, na tentativa de
ganhar ainda mais apoio. Contudo, uma nova crise econômica, a Grande Depressão de 1929,
atingiu o país, afetando todos os setores e aumentando o descontentamento popular devido ao
desemprego e à pobreza crescentes. Sob esse clima de insatisfação, em 1930, um golpe
militar foi deflagrado para retirar Yrigoyen do poder.
Em suma, a discussão apresentada pelo capítulo “Os governos radicais, 1916-1930”
nos revela um período de intensa agitação política, social e econômica na Argentina durante
as primeiras décadas do século XX. Observa-se que tanto o governo de Yrigoyen quanto o de
Alvear não conseguiram dar conta de consolidar instituições democráticas que pudessem
fazer com que a sociedade argentina alcançasse uma estabilidade política e social duradoura.
As tentativas de reformas, os conflitos sociais e a interferência dos interesses oligárquicos
criaram um ambiente de fragilidade institucional, deixando um legado de instabilidade na
história política do país.

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