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A Força dos Pontos Riscados

O legado dos sigilos


Todo Ponto-Riscado é um símbolo, porém, antes de os abordarmos
devemos nos atentar a algumas definições teóricas sobre o
significado e a grandeza dos símbolos ao longo do desenvolvimento
do homem e das sociedades.
Significados da palavra ‘símbolo’:
“O termo símbolo, com origem no grego (sýmbolon), designa um
elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de
algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objeto como um
conceito ou ideia, determinada quantidade ou qualidade. O símbolo
é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-
se difundido pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber
humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos
internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um
determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). Ele
intensifica a relação com o transcendente. ” (Fonte:
dicionarioinformal.com.br)
Considera-se geralmente como origem etimológica da palavra
símbolo o grego syn-bállein, que significa "colocar junto", o que dá
uma ideia de aproximação, de ajuntamento ou de encaixamento,
como também de comparação de senha e contra-senha. (ASLAN,
Nicola. Estudos Maçônicos sobre Simbolismo. Editora Grande Oriente do
Brasil. RJ- 1969).
Um sigilo (/ˈsɪdʒəl/; pl. sigilla or sigils) é um tipo de símbolo usado na
magia. O termo geralmente se refere a um tipo de assinatura
pictórica de um anjo ou outra entidade. O termo sigilo deriva do
latim sigillum, que significa "selo".
"O Simbolismo transforma os fenômenos visíveis em uma ideia, e a
ideia em imagem, mas de tal forma que a ideia continua a agir na
imagem, e permanece, contudo, inacessível; e mesmo se for expressa
em todas as línguas, ela permanece inexprimível. Já a Alegoria,
transforma os fenômenos visíveis em conceito, o conceito em
imagem, mas de tal maneira, que esse conceito continua sempre
limitado pela imagem, capaz de ser inteiramente apreendido e
possuído por ela, e inteiramente exprimido por essa imagem."
(Goethe)
A representação especifica para cada símbolo pode surgir como
resultado de um processo natural ou ser convencionada de maneira
que o receptor (uma pessoa ou um grupo especifico de pessoas)
consiga fazer a interpretação do seu significado implícito e atribuir-
lhe determinada conotação. Também está relacionada fisicamente
com um objeto ou ideia que representa; podendo extrapolar a
representação gráfica ou tridimensional e assumir força sonora ou
até mesmo gestual.
O princípio do pensamento simbólico está fincado em uma época
anterior à história, nos fins do período paleolítico. Os mestres da
humanidade primitiva, podem ser facilmente localizados através de
estudos sobre gravações epigráficas. Símbolos gravados há mais de
60 mil anos em cascas de ovo de avestruz podem evidenciar o mais
antigo sistema de representação simbólica usado por humanos
modernos. Os sinais repetitivos e padronizados foram encontrados
em Howlesons Poort, na África do Sul e foram destacados pela
revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences
( Pnas ).

Gravuras encontradas na Pedra do Inga

A arte rupestre são as representações artísticas pré-históricas


realizadas nas paredes, tetos e outras superfícies rochosas. Divide-se
em dois tipos:
 Pintura rupestre: composições realizadas com pigmentos
 Gravura rupestre: imagens gravadas em incisões na própria rocha.
Em geral, trazem representações de animais, plantas, pessoas e
sinais gráficos abstratos, as vezes usados em combinação. A
interpretação é difícil e repleta de controvérsias, porém, acredita-se
que possam ilustrar cenas de caça, rituais, atos cotidiano, a natureza
mágica, além de exercer a função de linguagem visual.
A Evolução dos Símbolos dentro do Contexto Religioso
O homem é o único animal capaz de criar um símbolo. Os símbolos
marcam o passado, o presente e apontam o futuro. Dentro do
conceito religioso, um símbolo é uma expressão, uma forma de
representação ou um código que possibilita a comunicação dos
humanos com suas deidades.
Os códigos que se tornaram sigilos foram se transformando,
recebendo influências culturais advindas do intercâmbio entre os
povos. Podemos perceber isso ao estudarmos a influência do
paganismo nos símbolos cristãos. Religiosamente os símbolos dão
sentido às buscas espirituais e são pontos-de-força capazes de
expressar histórias, lendas, tradições, ancestralidade e todas as
características de um credo. Símbolos religiosos são pontes para o
Sagrado.
O objetivo central desse texto, além de fornecer o conceito de que os
símbolos são objetos, ideias, emoções ou marcos usados para
representar algo concreto e deseja esclarecer a inserção dos sinais
gráficos dentro do contexto do Culto a Exu e Pombagira segundo a
Quimbanda Brasileira. Entendemos que todo grupo de símbolos
forma um sigilo que popularmente é conhecido como “Ponto” e esse
possui forma e significado próprio. A forma é seu componente
objetivo, material e perceptivo; já o significado está conectado ao
fator inconsciente, conceptual e emocional. Forma e significado
exercem em um Ponto-Riscado a força e energia para agir externa e
internamente (corpo e alma, consciência e subconsciência, vivos e
mortos).
Na cerimônia mágica medieval, o termo sigilo era comumente usado
para se referir a sinais ocultos que representavam
vários anjos e demônios que o mago poderia convocar. Os livros de
treinamento mágico chamados grimórios geralmente listam páginas
desses sigilos. Uma lista particularmente bem conhecida está na A
Chave Menor de Salomão, na qual os sigilos dos 72 príncipes da
hierarquia do inferno são dados para uso do mago. Tais sigilos
foram considerados equivalentes ao verdadeiro nome do espírito e,
assim, garantiram ao mago uma medida de controle sobre os seres.

Para a Quimbanda Brasileira os Pontos Riscados são ferramentas


magísticas de extrema importância. Sem esses seria impossível a
plena comunicação espiritual entre os adeptos (as) e seus Mestres
(as) Ancestrais, afinal, os símbolos são lidos em ambos os planos.
Nossa Tradição visa integrar diversos conhecimentos para o
esclarecimento de um ‘Ponto Riscado’, pois dessa forma não limita
ou restringe a amplitude energética do mesmo. Os “Pontos de Exu
ou Pombagira” são complexas assinaturas que objetivam a criação
de uma intensa vibração capaz de agir no subconsciente dos adeptos
e na própria estrutura astral. Cada vez que um Ponto de
Exu/Pombagira é riscado, abre-se um portal entre os diversos
planos permitindo a manifestação (no plano material) desse espírito.
Dentro da ritualística de incorporação abre determinadas “portas
subconscientes” (também conhecidas como portas “corta-fogo”) que
facilitam a “simbiose espiritual” entre os espíritos e os adeptos.
Cada linha, círculo, garfo/tridente, estrela, etc. que encontramos nos
Pontos Riscados de Exu e Pombagira tem uma explicação, um
‘porquê’, uma finalidade especifica. Quando os primeiros espíritos
se manifestaram na Terra material foram deixando esse legado para
que os verdadeiros decodificadores pudessem compreender a
natureza e a forma de manifestação desses Mestres (as).
 Ponto Riscado da Tradição:

Ocorre quando os adeptos ou dirigentes fazem uso de “Pontos


Riscados” que já são parte da Tradição do culto da Quimbanda.
 Ponto Riscado Inspirado:

Ocorre quando o dirigente ou adepto recebe a grafia do “Ponto


Riscado” através uma inspiração emanada pelos planos
espirituais ou em estado de incorporação.
 Ponto Riscado Montado:

Ocorre quando o dirigente ou adepto usa de seus conhecimentos


exotéricos e esotéricos para produzir um campo de manifestação
de forças. Como a Quimbanda é uma vertente espiritual que
“engole e absorve” outras formas de desenvolvimento gnóstico,
os “Pontos de Exu” podem apresentar símbolos gráficos contidos
em Sigilos Esotéricos de outras Tradições, tais como relações
planetárias, elementais, alquímicas além de um forte apelo
numerológico.
“Sigilos são representações não-óbvias de um desejo, que podem ser
usadas magicamente para fazer com que esses desejos se realizem. Mas
por que essa representação não deve ser óbvia? Por que não
simplesmente expressar o desejo com palavras ou símbolos claros?
A resposta é simples: é da natureza do ser humano ter um desejo
subconsciente de fracasso. Em muitos casos, nós mesmos somos nossos
maiores obstáculos para conseguir aquilo que desejamos. E se o desejo
está claramente expresso, durante a operação mágica, existe um risco
grande de que nosso subconsciente jogue contra a concretização desse
desejo.
Ou seja: mesmo aplicando toda a concentração e força de vontade sobre
a expressão do desejo, é possível que uma força contrária atue em iguais
(ou até maiores) proporções. Isso pode fazer com que seu desejo nunca se
concretize. Ou, pior ainda, que o tiro saia pela culatra.
Ao trabalhar com sigilos, prepara-se uma representação não óbvia para
seu desejo, e o trabalho mágico é feito com essa representação, não com o
desejo em si. Você pode não lembrar com exatidão o significado de um
símbolo aparentemente arbitrário, mas seu subconsciente lembra.
Afinal, foi você quem fez aquele símbolo, certo? Ao se concentrar nos
sigilos, e não nos desejos em si, você faz com que o seu subconsciente
trabalhe a favor, e não contra a realização dos seus desejos.”
(https://penumbralivros.com.br)
Quando o Ponto Riscado é motivado ritualisticamente é aberto um
poderoso vórtice que flui em forma de coluna. Para que a energia
seja canalizada corretamente, o Ponto Riscado deve ter um círculo
externo. Esse círculo delimita o espaço energético de manifestação
garantindo que a energia não se expanda ou dissipe de forma
aleatória.
Analisando um Ponto Riscado
Para que o adepto compreenda a ação de um Exu/Pombagira deve
observar atentamente seu Ponto identificando a ação nos planos
materiais e espirituais. Exemplificaremos a interpretação dos sinais
gráficos através do “Ponto Riscado da Tradição” do Mestre Exu
Caveira.

Ao observarmos esse Ponto Riscado, a primeira situação que


analisamos é o eixo central e o eixo lateral que formam
simetricamente um sinal de equilíbrio.
Esse sinal significa:
1- Os quatro pontos cardeais;
2- Os quatro elementos;
3- Masculino e feminino;
4- O espiritual e o físico.

Portanto, temos como referência todos esses aspectos para


determinarmos a amplitude dos poderes desse Mestre.
Seguindo a linha de raciocínio, abordaremos as diferenças entre os
garfos (tridentes) e suas localizações. Antes, porém, faremos uma
explanação sobre o sincretismo que agregou o tridente aos poderes
de Exu.
Tridentes de Exu e Pombagira
Porque Exu/Pombagira usa garfo?
O que gostaríamos de deixar claro nesse estudo é que o uso do
‘Tridente/Garfo’ não tem relação alguma com o Culto Africano ao
Orixá Èsú. Essa deidade portava em sua mão um cajado nodoso e
um cetro fálico (Ogó) que demonstravam sua força, dinamismo,
virilidade e jovialidade. Èsú recebe o tridente das mãos dos
missionários cristãos europeus após adentrarem em territórios
africanos e, assustados com certas características do culto e do povo,
entenderam que esse orixá era a personificação/face do diabo na
África. No Brasil colônia, o Culto ao Orixá Èsú foi difundido sob
essa visão deturbada. O diabo africano moldado pelo cristianismo
também recebeu outras características de deuses pagãos. Essa foi a
estratégia para associação consciente e inconsciente onde Èsú era
comparado ao “Opositor de Deus”. O tridente, chifres, enxofre, as
cores vermelha e preta e traços zoomórficos são nítidas associações
com o Satanás bíblico e suas hostes.
Os Exus e Pombagiras que se manifestam na Quimbanda Brasileira
costumam ostentar os tridentes como poderosas armas mágicas
capazes de emanar e atrair as correntes necessárias. Sabemos que o
Tridente é uma arma tipicamente solar encontrada nas mãos de
deuses antigos como Poseidon/Netuno, Shiva, Agni, , dentre outros,
entretanto, no rico universo da Quimbanda, essa arma se desdobrou
e recebeu características lunares e femininas. A tríade inércia,
movimento e equilíbrio (que simbolizam cada ponta do tridente) foi
separada em duas armas muito similares, mas com polaridades
opostas.

1- Formas de garfo (tridente)


As duas principais formas são:

Arredondado: Os garfos arredondados são vistos como as armas


empunhadas pelas Senhoras Pombagiras. Essa afirmativa não está
errada, mas incompleta. Os espíritos possuem suas polaridades
naturais (masculino +, feminino -), mas atuam em conjunto nos
campos energéticos que desenvolvem suas funções. Existem Exus
que trabalham em Reinos receptivos e usam essas armas por
dominarem a essência da mesma. Suas formas arredondadas
mostram-nos o poder uterino, negativo, feminino, lunar e receptivo.
Portanto, os garfos arredondados são usados por Exus e Pombagiras
de natureza negativa para a criação de poderosos vórtices atrativos.
Quando um Exu ou uma Pombagira aponta um garfo dessa
qualidade para algo, a força é de esgotamento através da drenagem.
São instrumentos vampíricos e sua manipulação é perigosa, pois os
efeitos de drenagem podem ampliar de acordo com a intensão do
portador. Possui fortes ligações com os elementos terra e água.
Quadrados: Esses garfos são a expressão do dinamismo e do
movimento. São fálicos, positivos, masculinos, solares e dinâmicos.
Esse garfo (tridente) destrói, cria e equilibra quando necessário. De
suas pontas são emanados poderosos feixes energéticos que agem
nos campos carnal, material e espiritual. É uma arma de disparo
incisivo que pode abrir ou obstruir um caminho, dizimar uma
barreira ou perfurar uma armadura. Não é costume as Pombagiras
ostentarem garfos quadrados como arma, mas da mesma forma que
um Exu usa o garfo arredondado por dominar as correntes
negativas, as Pombagiras também podem fazê-lo com relação às
correntes positivas. Possui fortes ligações com os elementos fogo e
ar. Assim como era na antiguidade, o tridente continua sendo um
meio de manipular os quatro elementos, a diferença é que pela
natureza de Exu ser dividida (macho e fêmea) a polaridade também
o é. Exu e Pombagira agem individualmente e como ‘casais’. Em
conjunto ocorre a necessidade de equilíbrio elementar justamente
pelas descargas advindas de suas naturezas.

Garfo em “V”: Esses garfos quase não são mais vistos dentro do
Culto de Exu, todavia, sua simbologia é muito forte. Exus e
Pombagiras podem usar esse garfo para imobilizar fortes oponentes.
Geralmente o Exu imobiliza enquanto a Pombagira drena. Nos
ataques mentais são muito incisivos e causam a completa destruição
de parâmetros.
Simbologia dos Complementos usados nos garfos.

Nos “Pontos Riscados” encontramos símbolos que complementam


os garfos de Exu e Pombagira. Esses símbolos são muito
importantes para que os adeptos compreendam a plenitude de ação
do espírito, bem como suas limitações.

Fig. 01 Fig.02

Em ambos os garfos existe a força dos quatro elementos (fig.01),


porém, nos garfos quadrados destacam-se os elementos positivos
(Fogo e Ar) e nos garfos arredondados os elementos negativos
(Água e Terra).
Sendo assim, existem alguns elementos agregados aos garfos para
direcionar, harmonizar e ampliar seus raios de ação. Descreveremos
alguns exemplos:

Fig.03 Fig.04 Fig.05 Fig.06

Na figura 03 encontramos pequenos círculos na base do tridente.


Segundo alguns armeiros, esses círculos eram contrapesos
necessários para dar equilíbrio no manuseio dessas armas.
Esotericamente o círculo (ou esfera) representa o ciclo vital, a vida,
morte e a própria Terra. É uma marcação de começo e fim
energético. Os Exus e Pombagiras que demonstram em seus ‘Pontos
Riscados’ garfos portando círculos em suas bases agem de maneira
muito enérgica nas intervenções no plano material.
Na figura 04 encontramos pequenas linhas que cruzam o corpo dos
garfos. Essas linhas demonstram que as intervenções enérgicas
também são executadas no plano astral. Apesar de não ser uma
regra, quando existem essas duas marcações nos ‘Pontos Riscados’
de Exus e Pombagiras certamente governam Legiões, ou seja, no
mínimo são ‘Mestres’.
Na figura 05 encontramos uma marcação que nossa Tradição chama
de “Chave”. Essa marcação é muito mais esotérica do que a grande
maioria dos seguidores e adeptos possam imaginar, pois demonstra
a plenitude da força e a polaridade da ação. A posição da chave
indica se o garfo age de forma horária (força centrífuga, polo
irradiador, força de proteção que fecha o corpo astral) e de forma
anti-horária (força centrípeta que mantém aberto o corpo astral,
extremamente sensível e intuitiva, poder de captação). Isso é
extremamente importante e fundamental para todos que trabalham
com as forças de Exu, pois necessitamos reconhecer as intensões das
grafias sagradas. Um espírito mal-intencionado pode ser
‘desmascarado’ com tal conhecimento. Um suposto ‘zelador’,
formado com fragmentos de ensinamentos corrompidos e que não
buscou a ‘tabatinga’ do conhecimento para tapar as rachaduras de
sua formação também pode submeter ao erro centenas ou milhares
de pessoas.
Figura 06. A ‘Chave Anti-horária’ não costuma aparecer nos garfos
quadrados, sendo mais usual nos garfos arredondados, entretanto,
os mesmos (Arredondados) podem aparecer com ‘Chaves Horárias’,
principalmente se manipulados por Exus.

Como o Garfo demonstra a tensão energética


Em inúmeros ‘Pontos Riscados’ podemos ver o eixo do
garfo/tridente curvado ou em casos mais extremos portando ‘nós’.
Para entendermos a mensagem desses símbolos devemos ter uma
noção básica sobre o que é tensão energética.
“Tensão energética é a carga/corrente emanada ou absorvida pelo
Garfo de Exu/Pombagira que gera deformidades na estrutura
retilínea. Essa deformidade é medida e analisada através do Ponto
Riscado. Para que não exista a ruptura dessa arma/ferramenta, são
adicionados outros elementos atenuadores. A tensão energética é
causada por bruscas oscilações (em campo estável) em virtude de
instabilidades nas correntes de força (energia).” (Coppini, Danilo.
Artigo Interno sobre a Quimbanda Prática- 2014).
Entendemos que a tensão de certas correntes energéticas é tão
intensa que alguns Exus ou Pombagiras demonstram em seus
‘Pontos Riscados’ se dentre suas funções encontra-se algum trabalho
que necessite ou transforme-se em curvas longitudinais. Quando um
garfo aparece dessa maneira o espírito está assinalando que sua
força de ação emana ou absorve grandes e “pesadas” descargas
energéticas. Esses espíritos são preparados para guerrear e submeter
todo tipo de energia.

O Ponto Riscado do Exu do Lodo demonstra que o mesmo absorve


‘pesadas’ cargas espirituais.
O Ponto Riscado da Pombagira Maria Mulambo demonstra que
dentro de suas ações existe a absorção de tensão e o esgotamento
energético.
Formas de amenizar a tensão
Quando o Exu ou Pombagira trabalha no limite energético costuma
demonstrar em seus Pontos símbolos que localizam-se na base ou
em outro ponto transversal. Dessa forma podemos encontrar
círculos na base desses garfos (simbolizam o aterro, a morte ou o
Ponto de emanação: a energia primitiva), chaves, duplas linhas
(bloqueadores energéticos), espirais (o início progredindo ou o fim
repelindo) dentre outros. Dessa forma entendemos que uma ação
desenvolvida através desses Pontos poderia inverter completamente
o fluxo de uma circunstância ou mesmo promove-la com extrema
velocidade.
Voltando ao “Ponto Riscado”
A linha vertical simboliza o mundo físico, coagulado e repleto de
formas materiais. O garfo que ascende é de formas retilíneas (garfo
quadrado).
O tridente retilíneo quadrado pode ser entendido como um forte
símbolo centralizador que aponta maior solidez e estabilidade. As
energias emanadas pelo mesmo são mais difíceis de serem
revertidas, afinal, a estabilidade da figura emite forças mais
permanentes. Os tridentes quadrados são figuras de poder dinâmico
e direto, cuja energia não possui interrupções. Nas mãos de um Exu
representa um poder direcionador constante, dissolvendo todas as
formas necessárias para a evolução.
A forma do tridente não tem relação com sexo (macho ou fêmea),
apenas com a polaridade. O tridente quadrado é emissor de
polaridade positiva (+) e está intimamente ligado aos elementos
fogo e ar. Quando voltado para cima, está dissolvendo todas as
barreiras evolutivas, abrindo o campo da percepção, dando energias
necessárias para a realização de determinadas situações, retirando a
inércia, conduzindo, esgotando, destruindo ou reconstruindo. É o
tridente da execução. Quando voltado para baixo simboliza a
movimentação necessária para a dissolução de sentimentos
aprisionadores, paixões viciantes e cegueira sentimental.
No “Ponto Riscado” apresentado, o tridente quadrado está
apontado para cima na linha horizontal. Como a linha representa o
mundo físico, esse tridente quadrado demonstra que o Exu Caveira
carrega o poder de evolução no campo material, porém, incinera e
destrói quando a jornada não objetiva a evolução. A energia do Exu
Caveira é tão bruta que no símbolo encontramos elementos
necessários para conter o intenso fluxo.

Dois pequenos círculos unidos por uma linha são um símbolo


equilibrador sugerindo que a força/tensão deverá ser controlada. É
um claro aviso que o Exu Caveira não hesitará em destruir um
império material, relações de grosso interesse e a cegueira
consumista. O círculo é um símbolo delimitador, pois, como figura
de movimento harmonioso contínuo tem a capacidade de centralizar
energias e definir espaços é perfeito.
O pequeno círculo que está aos pés da linha vertical é o dínamo que
produz e centraliza as energias. Sequencialmente, uma “chave” está
mostrando que energias elementares estão sob controle e domínio.
Garfos que possuem essa “Chave” são portados por Exus
poderosos, afinal, demonstram alta sabedoria nas artes ocultas e,
consequentemente, o domínio sob Legiões.
A linha horizontal representa o plano espiritual. Nos estudos
avançados sobre “Teoria das Formas”, linhas horizontais não
necessitam de tanta descarga energética para existirem, além de
representarem o descanso e a própria morte física. Garfos de forma
arredondados estão nas duas pontas, marcando um início e o fim.
Os tridentes (garfos) arredondados estão intimamente ligados aos
mistérios uterinos. O útero é um local de geração, todavia, é um
local escuro e sombrio, receptivo, intuitivo e esotericamente ligado
às forças ctônicas (submundo). São armas de esgotamento,
aprisionamento e de polaridade negativa (-). Apesar de emitirem
energias, sua principal função é a drenagem como uma espécie de
“buraco negro”. Por tal motivo são amplamente usados pelos Reinos
da Kalunga, Cruzeiro e Almas. Confunde-se o garfo arredondado
com “Tridente de Pombagira” pela forma uterina (taça) que o
mesmo possui, mas essa relação não está completa : Exus e
Pombagiras usam garfos arredondados. No ponto do Exu Caveira, a
linha horizontal com garfos arredondados em suas pontas
demonstra que a força desse Exu no plano espiritual está ligada ao
processo de esgotamento, drenagem e aprisionamento. Também
retrata que seu ponto de força está nos planos ctônicos, mortuários,
na decomposição física e no direcionamento. Esse mesmo
direcionamento aparece nas duas linhas curvas que cortam a linha
horizontal. Linhas curvas são a expressão da união de duas
energias, ou seja, as energias dinâmicas e receptivas.
Alguns Símbolos formadores dos Pontos Riscados
Materiais usados para traçar um ponto riscado
Quimbandeiras (os) limítrofes alegam que não existe outra forma de
se fazer um ‘Ponto Riscado’ a não ser com a tradicional pemba/ giz,
mas, quando somos instruídos pelos espíritos essa definição amplia-
se. Muitas outras formas de traçar e montar os Pontos Riscados com
extremo poder dinamizador pode ser realizado sem fugir da Magia
que compõem os ritos de Exu e Pombagira dentro da Quimbanda.
As variadas formas:
Pólvora:
Quando contornamos o ponto riscado com o pó de pólvora, durante
a queima obtemos a purificação do ambiente através do banimento
de energias nocivas. O desenho ficará queimado na superfície e
poderá ser ativado em seguida.
Farofa/Padê:
A Quimbanda, assim como outras religiões afro-brasileiras, acredita
na energia contida no Padê/Ipadê, sendo assim, porque não a utilizar
para montagem dos ‘Pontos Riscados’? O Padê é composto de
farinha de mandioca ou de milho misturada com epô (óleo-de-
dendê) ou melaço de cana. Após feito, o adepto polvilhará o Ponto
com essa mistura.
Terra:
Sabendo o Reino da entidade/espírito que será evocada/invocada,
pode-se usar a terra pertencente ao Reino que o mesmo está
conectado. Assim como o Padê, acondicionamos por cima do Ponto
Riscado.
Carvão:
Seu uso mais frequente é em ‘Pontos Riscados’ destinados à limpeza
e drenagem energética. O carvão pode ser usado na forma de “lápis
carvão” (para traçar – semelhante a pemba) ou como pó (contornar
o Ponto).
Tinta:
Uma tinta devidamente consagrada se torna uma poderosa arma
para fazer pontos riscados - geralmente usada em pedras, madeira,
tecidos, cartolina ou couro de animal.
Pemba/Efun:
O uso da pemba é o mais disseminado e frequente dentro dos
templos/ terreiros por todo Brasil. Usada para desenhar/traçar
‘Pontos Riscados’ para todas as finalidades, a pemba está implícita
na Tradição das Religiões afro-brasileiras (Quimbanda, Candomblé
e na Umbanda). No Brasil, “pemba” é o nome de um bastão cuja
composição é sulfato de cálcio hidratado usado para riscar os
pontos. Possui muitas cores relacionadas ao uso das mesmas com os
espíritos da umbanda e por vezes do candomblé. A “pemba”
original é feita de um pó extraído dos montes brancos Kabanda e da
água de um rio que os africanos acreditam ser divina. Dentro dos
ritos africanos, a Pemba era usada para tudo que necessitasse de
bênçãos e muitas lendas deram início a santidade dos pós feitos a
partir da mesma.
O “Efun” (na língua Iorubá é cal, giz), apesar de ser semelhante a
“Pemba” e por vezes desempenhar as mesmas funções, não é o
mesmo objeto. “Efun” é uma massa de argila branca extraída de rios
e está relacionada aos pós mágicos e suas ritualísticas.
Tanto a Pemba quanto o Efun são considerados formas de sangue
branco e estão diretamente ligados ao ar, aos pulmões e todo
processo vital.
A Quimbanda Brasileira ao invés de usar a popular “Pemba”,
facilmente encontrada nas lojas de artigos religiosos, adota o
tradicional “Giz escolar” para a marcação dos pontos. A composição
é a mesma e o giz facilita e aprimora o desenho do ponto riscado.
A Ativação dos Pontos Riscados
O “Ponto Riscado”, como dito anteriormente, são sinais gráficos
carregados de simbologia e poderes, cuja função primordial é a
abertura de um portal que conecta os planos físico e astral. Os sinais
gráficos só emitem energia plena quando são devidamente ativados,
ou seja, podemos comparar a ação de um Ponto como chaves que só
abrem ou fecham as portas quando existe um movimento circular e
se encontram dentro da fechadura.
Como nossa Tradição é composta por adeptos que vieram de
“escolas” diferentes, muitas formas de ativação antes não usadas
foram sendo agregadas ao culto de Exu. Isso permitiu uma enorme
expansão dentro da Corrente 49, pois, novos elementos e práticas
potencializaram a abertura desses portais.
Entendemos que todo universo se movimenta circularmente em
dois sentidos: horário e anti-horário. Quando traçamos um ponto
(de qualquer natureza) o primeiro marco fundamental é
determinarmos o movimento que desejamos. Esse movimento é
determinado pelo círculo que delimitará o Ponto-Riscado. Os
círculos horários costumam ser traçados quando desejamos que esse
ponto se manifeste no plano material, vibre de forma dinâmica e
positiva nas relações presentes e futuras. Exemplo: Ao solicitarmos
os préstimos de um espírito/Legião para “abrir um caminho”
traçamos o círculo de forma horária. Isso garantirá que sua ação
esteja limitada ao caminho material. Os círculos anti-horários
costumam ser traçados quando a energia desejada deve se
manifestar em mundos adjacentes ao material (astral, mental,
sentimental, onírico, psíquico) com força receptiva e negativa.
Exemplo: Ao solicitarmos os préstimos de uma Legião para “adoçar
um parceiro” traçamos o círculo de forma anti-horária. Essa
associação não tem relação com o movimento solar, senão teríamos
de inverter os direcionamentos, haja vista que estamos no
hemisfério Sul. Existem alguns praticantes da arte mágica de Exu e
Pombagira que construíram suas engrenagens determinando que
círculos horários são para Exu e anti-horários para Pombagira. Não
está errado! Mas, a questão que levantamos é: “E se eu solicitar à
Pombagira uma promoção no emprego? Traço de maneira anti-
horária?”. Antes de traçarmos o ponto devemos analisar qual é o
objetivo, a forma de ação e a extensão da Legião evocada. REGRA:
Invocação de Legião sempre se faz através de círculos anti-
horários.
Um Ponto-Riscado mal ativado pode atrair para o local de culto
formas espirituais atrasadas e repletas de energias de vingança.
Essas formas, ao invés de corroborarem com os trabalhos, atrasam,
ludibriam e mistificam. Portanto, o uso dos pontos deve ser
cauteloso e a ativação dos mesmos é necessária para o bom
direcionamento energético.
Costuma-se riscar (desenhar) os pontos no chão. Quando a casa
possui chão de “terra batida”, risca-se com uma faca ou com um
galho de figueira, entretanto, nos dias atuais, chão de “terra batida”
é muito raro e os templos são quase todos feitos em alvenaria.
Nesses casos, a grande maioria dos terreiros usa “Pemba” ou o
“Efun” para riscar os pontos. Nesse curso ensinaremos outras
maneiras de traçar um Ponto.
Após o desenho estar pronto deve ser ativado. Para tal, algumas
formas são adotadas:
- Através do sopro e saliva
O sopro contém saliva (mesmo que em pequena quantidade) e
simboliza a substância da alma. Ao soprarmos dentro de um Ponto-
Riscado estamos carregando-o com nossa própria essência, doando
energia para que o desenho a absorva, transmute-a e retorne-a
modificada. A saliva é classificada como uma das espécies de
“Sangue Branco Animal”- aumentando ainda mais energia vital.
O sopro pode ser acrescido de bebidas alcoólicas, sementes
específicas (que preparam o hálito), fumo, mel, ervas ou raízes
mastigadas.
- Através dos pós
A arte de fazer pós é algo raro nos dias atuais. Os verdadeiros
conhecimentos foram se perdendo, sendo corrompidos e muitas
adaptações não são bem-sucedidas, entretanto, se a feiticeira souber
fazê-lo, trata-se de uma arma mágica extremamente intensa. Um pó
é tão poderoso que quando usado para abrir um Ponto-Riscado
alimenta-o completamente, por isso, deve ter:
-Energia;
-Elementos de qualidade;
-Foco direcional.
O que produz a energia para o pó é a feitura dele no pilão. Quando
se bate cria-se eletricidade através do atrito. Com a “Oração para
despertar os espíritos das ervas, sementes e animais” o pó recebe
muita força. Tudo vira pó: Restos de animais incinerados, folhas,
cascas e raízes secas, páginas de notícias, sigilos gravados, cinza de
fumo, dentre outros elementos.
Os pós estão conectados a todos os tipos de sangue, portanto,
podem ser usados para invocar ou evocar os Mestres Exus através
de seus respectivos pontos riscados. Existem duas formas de ativar
através dos pós:
- Soprando-os em cima do ponto riscado
Quando sopramos os pós, usamos a força do sopro e do pó. Para
evocar um determinado espírito o feiticeiro (a) coloca o pó na mão
direita, carrega-se com os sentimentos desejados e sopra isso dentro
do ponto riscado. Se desejar invocar as forças, o pó deve ser
colocado na mão esquerda e o sopro é procedido de uma profunda
respiração.
Contornando os traços do ponto riscado
Após riscar o ponto, o adepto contorna o ponto riscado com o pó
enquanto faz o chamado de invocação ou evocação.
- Através das Velas
A vela simboliza o fogo e a terra. A Quimbanda Brasileira entende
que a parafina é feita a partir do petróleo e possui muita energia
ígnea, polaridade dinâmica e atributos das profundezas. Em tese,
cor da vela não influencia a ativação, entretanto, o uso de velas
coloridas pode ocorrer de acordo com o objetivo do trabalho.
Ativa-se o “Ponto Riscado” através do uso das velas de três
maneiras:
- Iluminando os pontos de cruzamento entre os tridentes/garfos.
O círculo central aponta o cruzamento onde a vela deve ser acesa.
- Iluminando os ponteiros/pontas do “Ponto Riscado”.

Os círculos nas pontas demonstram onde as velas devem ser acesas.


- Iluminando através de sete chamas que representam o grau de
“Mestre” ou “Mestre Sete”

Os círculos no entorno demonstram onde as velas devem ser acesas.


Esse tipo de ativação é recomendado para Exus e Pombagiras que
sejam “Mestres/Mestras ou Mestre/Mestra 7”, entretanto, pode ser
usada para todos os espíritos.
- Através do Fogo
Após o desenho do “Ponto Riscado”, circula-se o mesmo com
alguma substancia volátil e ateia fogo. Enquanto a chama estiver
acesa, efetuam-se as orações invocatórias e evocatórias.
- Através do Enxofre.
O enxofre (do latím sulphur, -ŭris) tem muitas propriedades físicas e
mágicas. Na temperatura ambiente encontra-se em estado sólido e é
usado para a confecção de uma série de elementos, dentre os quais,
destaca-se a pólvora. Quando manipulado junto ao fogo, produz um
gás tóxico chamado dióxido de carbono, portanto, ao manipulá-lo
devemos fazê-lo em segurança. Na ativação dos “Pontos Riscados”
efetua um papel ígneo e ao mesmo tempo filtra as energias nocivas
mantendo o bom equilíbrio ao longo dos trabalhos.
O enxofre pode ser salpicado ou soprado aleatoriamente dentro do
Ponto.
-Através dos Sete Metais
Alguns metais são considerados formas de sangue. São fontes
energéticas muito intensas quando aplicadas nos Pontos-Riscados.
Mistura-se os pós de Ouro, Prata, Bronze, Cobre, Ferro, Chumbo e
Estanho e esse pó é soprado dentro do Ponto. Os metais possuem
relações com planetas, órgãos do corpo humano, comportamentos,
abertura de determinados portais energéticos, dentre outros
atributos. Os adeptos podem eleger um ou mais metais focando-se
nos atributos individuais, mas a ativação está atrelada à incitação
advinda de orações invocatórias ou evocatórias.
- Ativação através do Sangue
O sangue é a substancia mais rica em poder. Não recomendamos a
ativação de “Pontos Riscados” através desse meio se o adepto (a)
não tiver embasamento para tal, pois é a via mais radical de
ativação. O procedimento é feito de duas maneiras distintas:
- Imolando um animal
Após riscar o ponto e ativá-lo através do sopro e das velas, imola-se
um animal e o sangue é derramado em cima desse desenho. As
orações devem ser firmes, diretas e repletas de energia.
- Através do Sangue menstrual: Vamos abordar nos capítulos
seguites

Síntese

O “Ponto Riscado da Tradição” possui grande força dinâmica e


receptiva tanto nos planos carnais, quanto nos espirituais e mentais.
Recebemos diversos ensinamentos através dessas marcas
físicas/astrais para entendermos que a escalada evolutiva nos exige
muito equilíbrio, discernimento, compreensão, dedicação e o uso
correto de nossas faculdades sob pena de sermos drenados e
esgotados. Isso faz parte da lapidação do Ego altruísta.

Os Pontos-Riscados são importantes meios de conhecermos os


espíritos, seus domínios e as respostas esotéricas que os envolvem.

“A suprema condenação não é a morte, símbolo e princípio da


errância infinita, mas a sua impossibilidade. ” (Casimiro Brito.
Poeta, ensaísta e ficcionista português).

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