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Fichamento 1

Livro: Economia Internacional - 10° Edição - Krugman

Resumo
O modelo ricardiano. As possibilidades de produção são determinadas pela alocação de um
único recurso, mão de obra, entre setores. Este modelo transmite a ideia essencial da vantagem
comparativa, mas não nos permite falar sobre a distribuição de renda.
O modelo ricardiano de comércio internacional, desenvolvido no Capítulo 3 ilustra os benefícios potenciais do
comércio. Nesse modelo, o comércio leva à especialização internacional, com cada país mudando sua força de
trabalho de indústrias em que a mão de obra é relativamente ineficiente para indústrias em que ela é relativamente
mais eficiente. Como a mão de obra é o único fator de produção naquele modelo, e presume-se que ela possa
mover livremente de uma indústria para outra, não há nenhuma possibilidade de que os indivíduos serão
prejudicados com o comércio. O modelo ricardiano, assim, não sugere só que todos os países ganham com o comércio,
mas também que cada indivíduo vive melhor como resultado do comércio internacional, uma vez que este não afeta a
distribuição de renda. No entanto, no mundo real, o comércio tem efeitos substanciais sobre a distribuição de renda
dentro de cada nação que comercializa, então na prática os benefícios do comércio são muitas vezes distribuídos de
forma muito desigual.

1. Nós examinamos o modelo ricardiano, o modelo mais simples que mostra como as diferenças entre
países dão origem ao comércio e aos ganhos de comércio. Nesse modelo, a mão de obra é o único fator de
produção, e os países diferem apenas na produtividade do trabalho em diferentes indústrias.
2. No modelo ricardiano, os países exportarão mercadorias que sua mão de obra produz de modo
relativamente eficiente e importarão as que sua mão de obra produz de modo relativamente ineficiente.
Em outras palavras, o padrão de produção de um país é determinado pela vantagem comparativa.
3. Podemos mostrar que o comércio beneficia um país de duas maneiras. Primeiro, podemos pensar no
comércio como um método indireto de produção. Em vez de produzir um bem por si só, um país pode
produzir outro bem e trocá-lo pelo bem desejado. O modelo simples mostra que sempre que um bem é
importado, deve ser verdade que essa “produção” indireta requer menos trabalho do que a direta.
Segundo, podemos demonstrar que o comércio amplia as possibilidades de consumo do país, o que implica
ganhos a partir do comércio.
4. A distribuição dos ganhos do comércio depende dos preços relativos das mercadorias que os países
produzem. Para determinar esses preços relativos, é necessário olhar para a oferta mundial relativa e a
demanda de mercadorias. O preço relativo implica também uma taxa salarial relativa.
5. A proposição de que o comércio é benéfico é desqualificada. Ou seja, não há nenhuma exigência de que
um país seja “competitivo” ou que o comércio seja “justo”. Em particular, podemos demonstrar que três
crenças comumente presentes sobre o comércio estão erradas. Primeiro, um país ganha com o comércio,
mesmo que tenha menor produtividade do que seu parceiro comercial em todas as indústrias. Segundo, o
comércio é benéfico, mesmo que as indústrias estrangeiras sejam competitivas apenas por causa de baixos
salários. Terceiro, o comércio é benéfico, mesmo que as exportações de um país exijam mais mão de obra
do que suas importações.
6. Estender o modelo de um fator, duas mercadorias para um mundo de muitas commodities não altera
essas conclusões. A única diferença é que se torna necessário focar diretamente da demanda relativa por
mão de obra para determinar os salários relativos em vez de trabalhar por meio de demanda relativa por
bens. Além disso, um modelo de muitas commodities pode ser usado para ilustrar o ponto importante que
os custos de transporte podem dar origem a uma situação em que alguns bens são não comercializáveis.
7. Embora algumas das previsões do modelo ricardiano sejam claramente irrealistas, sua previsão básica —
os países tendem a exportar bens nos quais eles têm produtividade relativamente alta — foi confirmada
por vários estudos.

Cap 3: Produtividade da mão de obra e a vantagem comparativa: o modelo


ricardiano

Os motivos básicos para o comércio internacional são:(1) as diferenças (relativas/comparativas -


geográficas, históricas, sociais, culturais etc.) entre os países ; e economias de escalas na produção (dado
capital instalado, o aumento da quantidade produzida, reduz os custos fixos de produção, a vantagem
operacional gera eficiência).
Os padrões do comércio internacional refletem a interação entre estes dois motivos. Modelos
simplificados (observação individual), permitem a compreensão das causas e efeitos do comércio,
enquanto as diferenças entre os países dão origem ao comércio mutuamente benéfico, pois lhes conferem
vantagem comparativa (modelo ricardiano de comércio internacional em que o comércio internacional é
unicamente decorrente das diferenças internacionais na produtividade da mão de obra), vantagens
operacionais garantem maior desenvolvimento econômico.
O conceito de vantagem comparativa
Um país tem uma vantagem comparativa na produção de um bem se o custo de
oportunidade(trade-off) de produzir esse bem, em termos de outros bens, for menor nesse país do que é
em outros países. Portanto, a conclusão essencial sobre a vantagem comparativa e o comércio
internacional: o comércio entre os dois países pode beneficiar ambos, se (houver a possibilidade) de cada
um exportar mercadorias nas quais tem uma vantagem comparativa.
Economia de um só Fator
Supondo uma economia chamada Doméstica, que possui apenas um fator de produção com apenas dois
bens produzidos: vinho e queijo. A tecnologia dessa economia pode ser resumida pela produtividade da
mão de obra em cada setor, expressa em termos de :
• aLC : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir queijo;
• aLW : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir vinho; e

• L: suprimento de mão de obra total .


Definimos os requisitos de mão de obra unitária como o inverso da produtividade — quanto mais
queijo ou vinho um trabalhador puder produzir em uma hora, menores os requisitos de mão de obra
unitária. PMgL??
Possibilidades de produção : Como os recursos são limitados, há limites sobre o que se pode produzir, e
sempre há trade-offs básicos, ou seja, para produzir mais de um bem, a economia deve sacrificar a
produção de algum outro bem.
A Fronteira de possibilidades de produção (FPP - linha PF na Figura 3.1): mostra a quantidade
máxima de vinho que pode ser produzida uma vez que a decisão de produzir qualquer quantidade de
queijo tenha sido tomada, e vice-versa.
Quando há somente um fator de produção, a fronteira de possibilidades de produção é uma
linha reta. Se:
• QW economia da produção de vinho (eixo das ordenadas-y)

• QC produção de queijo (eixo das abscissas - x)

• aLWQW mão de obra utilizada na produção de vinho


• aLCQC mão de obra utilizada na produção de queijo
Determina-se a fronteira de possibilidades de produção pelos limites dos recursos da
economia (nesse caso, o trabalho - L ), que são definidos pela inequação: aLCQC + aLWQW ≤ L. Suponha,
por exemplo, que:
• L = 1.000 o fornecimento de mão de obra total da economia

• aLC =1
• aLW =2
Então: (1 × quilos de queijo produzido) + (2 × galões de vinho produzido), que não deve ser
superior às 1.000 horas de trabalho disponível. Se a economia dedicou toda a sua mão de obra para a
produção de queijo, ela poderia, como mostrado na Figura 3.1, produzir:
• L/aLC = 1000/1 = 1.000kg de queijo
Se ela dedicou toda sua mão de obra para a produção de vinho em vez disso, poderia produzir :
• L/aLW = 1.000/2 = 500 galões de vinho.
E pode produzir qualquer proporção de vinho e queijo que se encontre em linha reta conectando os dois
extremos.
Quando a fronteira de possibilidades de produção é uma linha reta, o custo de oportunidade
(aLC/aLW) de um quilo de queijo em termos de vinho é constante, esse custo de oportunidade é definido
pelo número de galões de vinho que a economia teria que desistir de fazer para produzir um quilo extra de
queijo. Produzir mais um quilo exigiria aLC de homens-hora(adicionais). Cada um desses homens-hora, por
sua vez, poderia ter sido utilizado para produzir 1/ aLW galões de vinho. Por exemplo, se precisamos de um
homem-hora para fazer um quilo de queijo ( aLC = 1) e duas horas para produzir um galão de vinho ( aLW
=2), o custo de oportunidade(aLC/aLW), que também é igual ao valor absoluto da inclinação da fronteira de
possibilidade de produção, de cada quilo de queijo é meio galão de vinho(1/2=500ml) .
Oferta e preços relativos : A fronteira de possibilidade de produção ilustra diferentes
proporções de bens que a economia pode produzir. Para determinar o que a economia de fato produzirá
precisa-se conhecer o preço relativo(preço de um bem em termos - relação - do outro) dos dois bens da
economia.
Como não há lucro nesse modelo de um só fator, o salário por hora em um setor será igual ao
valor daquilo que um trabalhador poder produzir em uma hora (em economias competitivas, as decisões de
fornecimento são determinadas pelas tentativas dos indivíduos maximizarem seus ganhos). Desse modo, o
fornecimento de qualquer dos dois bens será determinado pelo movimento de mão de obra para qualquer
que seja o setor que pagar o salário mais alto (os trabalhadores podem ganhar mais , e a economia se
desloca e especializa nesse setor).
Considere que:
PC : preços de queijo
PW : preços vinho
É preciso aLC de homens-hora para produzir um quilo de queijo, o salário por hora no setor de
queijo será igual ao valor que um trabalhador pode produzir em uma hora . Do mesmo modo, uma vez que
leva aLW homens-hora para produzir um galão de vinho, a taxa horária de salários no setor do vinho será
igual ao valor que um trabalhador pode produzir em uma hora.
Os salários no setor de queijo serão maiores se PC/PW > aLC/aLW (a economia se
especializará na produção, se o preço relativo do queijo exceder o seu custo de oportunidade em termos de
vinho); e os salários no setor do vinho serão maiores se PC/PW < aLC/aLW (a economia se especializará na
produção, se o preço relativo do queijo for menor do que seu custo de oportunidade em termos de vinho).
Apenas quando PC/PW = aLC/aLW os dois bens serão produzidos (a economia produzirá os dois bens,
somente, se o preço relativo do queijo for igual ao seu custo de oportunidade), ausência do comércio
internacional.
O custo de oportunidade é igual à relação entre os requisitos de mão de obra unitária
(aLC/aLW) no queijo e vinho, podemos resumir a determinação dos preços, na ausência do comércio
internacional, com uma simples teoria do valor da mão de obra, ou seja, na ausência do comércio
internacional, os preços relativos das mercadorias são iguais aos seus requisitos relativos de mão de obra
unitária.
Comércio em um mundo de um só fator
É simples descrever o padrão e os efeitos do comércio entre dois países quando cada país tem
apenas um fator de produção, esse modelo pode oferecer orientação sobre questões reais, como por
exemplo a concorrência e o intercâmbio (ambos internacional), justos.
Supondo dois países, um país Doméstica e um Estrangeiro. Cada qual possui um fator de
produção(mão de obra) e pode produzir dois bens (vinho e queijo). Como antes, quando nos referimos a
algum aspecto de Doméstica, usaremos:
• aLC : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir queijo
• aLW : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir vinho

• L: suprimento de mão de obra total


Quando nos referimos a algum aspecto de Estrangeira, usaremos:
• aLC* : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir queijo
• aLW* : requisitos de mão de obra unitária necessárias para produzir vinho

• L*: força de trabalho de Estrangeira (suprimento de mão de obra total)


Os requisitos de mão de obra unitária podem acompanhar qualquer padrão, Doméstica poderia ser menos
produtiva do que Estrangeira em vinho, porém mais produtiva em queijo, ou vice -versa.
* *
Supondo, no momento, que aLC/aLW < aLC /aLW* , equivalentemente, aLC/aLC < aLW/aLW* (a
relação entre a mão de obra necessária para produzir um quilo de queijo e a exigida para produzir um galão
de vinho) é menor em Doméstica do que em Estrangeira, demonstra que Doméstica tem uma vantagem
comparativa em queijo, possuí-la envolve todas as quatro necessidades unitárias de trabalho, e não
somente duas.
*
Se fossemos comparar apenas aLC < aLC (as necessidades unitárias de trabalho dos dois países
para a produção de queijo), Doméstica teria uma vantagem absoluta (produzir uma unidade de um bem
com menos trabalho do que outro país) na produção de queijo. Não podemos determinar o padrão do
comércio apenas pela vantagem absoluta, pois seria uma importante fonte de erro ao discutir o comércio
internacional.
Como a inclinação da FPP = aLC/aLW (inclinação da fronteira de possibilidades de produção é igual
ao custo de oportunidade do queijo em termos de vinho), a fronteira do Estrangeiro(P*F*) é mais inclinada
que a de Doméstica(PF). Levando em conta as forças de trabalho e os requisitos de mão de obra unitária
nos dois países, podemos traçar a fronteira de possibilidade de produção de cada país.
Não havendo comércio internacional, os preços relativos de queijo e vinho, em cada país,
seriam determinados pelos requisitos relativos de mão de obra unitária, ou seja, em Doméstica o preço
*
relativo do queijo seria aLC/aLW; e em Estrangeira seria aLC /aLW*.
Ocorrendo comércio internacional, se o preço relativo do queijo for maior no Estrangeiro do
que em Doméstica, será lucrativo levar queijo de Doméstica para o Estrangeiro e vinho do Estrangeiro para
Doméstica. Isso vai ocorrer até que Doméstica e o Estrangeiro exportem as quantidades suficientes para
igualar os preços relativos.
Determinação do preço relativo após comércio: Ao discutir a vantagem comparativa, no
entanto, temos de aplicar a análise de oferta e demanda com cuidado. Em alguns contextos, como algumas
das análises de política de comércio, é aceitável se concentrar apenas na oferta e na demanda em um
mercado único(a análise de equilíbrio parcial-estudo de um mercado por vez), utiliza-se não apenas as
quantidades de queijo e vinho ofertadas e demandadas, mas também a oferta e a demanda relativa( o
número de quilos de queijo ofertados ou demandados, divididos pelo número de litros de vinho ofertados
ou demandados).
Para determinar como ocorre essa equiparação de preços relativos é necessário realizar uma
análise de equilíbrio geral, os vínculos entre os dois mercados são cruciais para controlar as relações entre
esses mercados, neste caso, é enganoso olhar para os mercados de queijo e/ou vinho isoladamente, uma
vez que Doméstica exporta queijo apenas em troca de importações de vinho, e Estrangeira exporta vinho
em troca de queijo.
A Figura 3.3 mostra oferta e demanda mundial de queijo em relação ao vinho como funções do
preço do queijo em relação ao do vinho. A curva da demanda relativa é indicada por RD; a curva de oferta
relativa é indicada pelo RS. O equilíbrio geral mundial exige que a oferta relativa seja igual à demanda
relativa e, portanto, o preço relativo no mundo é determinado pela interseção de RD e RS(“degrau” com
seções planas ligadas por uma seção vertical).
Se o preço mundial caísse abaixo de aLC/aLW a curva RS mostra que não haveria nenhuma oferta de
queijo(traçado no gráfico).
PC/PW < aLC/aLW ,
Lembrando que Doméstica se especializará na produção de vinho sempre que
* *
da mesma forma Estrageira se especializará na produção de vinho sempre que PC/PW < aLC /aLW , de
*
acordo com a suposição que aLC/aLW < aLC /aLW*.

Quando PC/PW = aLC/aLW , os trabalhadores em Doméstica podem ganhar exatamente a mesma


quantidade ao fazer vinho ou queijo, assim estará disposta a fornecer qualquer quantidade relativa das
duas mercadorias, produzindo uma seção plana para a curva de oferta.
Se PC/PW > aLC/aLW , Doméstica se especializará na produção de queijo, desde que PC/PW <
* *
aLC /a LW , Estrangeira continuará a se especializar na produção de vinho.

Quando Doméstica se especializa na produção de queijo, ela produz L/aLC quilos. Da mesma forma,
quando Estrangeira se especializa em vinhos, ela produz L*/aLW* galões. Assim, para qualquer preço
* * *
relativo de queijo entre aLC/aLW e aLC /a LW , a oferta relativa de queijo é: (L/aLC )/ ( L /aLC *).
Em PC/PW = aLC/aLW os trabalhadores de Estrangeira são indiferentes quanto a produzir queijo
ou vinho (seção plana da curva de oferta).
*
Quando PC/PW > aLC /aLW*, Doméstica e Estrangeira se especializarão na produção de queijo. Não
haverá nenhuma produção de vinho (a oferta relativa de queijo se tornará infinita).
Conclusão: o resultado normal do comércio é que o preço de um bem-negociado (por exemplo, queijo) em
relação ao de outro bem (vinho) acaba em algum lugar entre seus níveis pré-comercialização nos dois
países. O efeito dessa convergência dos preços relativos é que cada país se especializa na produção
daquele bem que tem a exigência de requisitos de mão de obra unitária relativamente mais baixa . O
aumento no preço relativo de queijo em Doméstica levará Doméstica a se especializar na produção de
queijo, produzindo no ponto F na Figura 3.4a. A queda no preço relativo de queijo em Estrangeira vai levar
Estrangeira a se especializar na produção de vinho, produzindo o ponto F* na Figura 3.4b.
Os ganhos do comércio
Existem dois modos de demonstrar o ganho mútuo com o comércio internacional.
O primeiro modo é considerando o comércio como um método indireto de produção. O local
poderia produzir vinho diretamente, mas o comércio com o estrangeiro lhe permite produzir vinho
produzindo queijo e, depois, trocar o queijo por vinho. Esse método de produzir um litro de vinho é mais
eficiente que a produção direta.
De um lado, Doméstica poderia usar a hora diretamente para produzir 1/aLW galões de vinho.
Alternativamente, Doméstica pode usar a hora para produzir 1/aLC quilos de queijo. Esse queijo pode então
ser trocado por vinho, com cada quilo comercializado por PC/PW galões, então nossa hora original de
trabalho rende (L/aLC )/ (PC/PW ). Teremos mais vinho do que a hora poderia ter produzido diretamente,
enquanto:
(1/aLC ) / (PC/PW) > 1/aLW ou PC/PW > aLC /aLW .
Mas vimos que, no equilíbrio internacional, se nenhum país produz ambas as mercadorias,
teremos PC/PW > aLC /aLW . Isso mostra que Doméstica pode “produzir” vinho mais eficientemente ao
fazer queijo e negociá-lo do que mediante a produção de vinho diretamente por si mesma. Da mesma
forma, Estrangeira pode “produzir” queijo mais eficientemente ao fazer vinho e negociá -lo. Essa é uma
maneira de ver que ambos os países ganham.
O segundo modo de visualizar os ganhos mútuos é através da análise das possibilidades de
produção de cada país após o comércio internacional. Na ausência dele, as possibilidades de consumo são
iguais às de produção (retas pretas PF e P*F* da última figura). Uma vez que o comércio é permitido,
contudo, cada economia pode consumir uma combinação de queijo e vinho diferente da combinação que
produz. As possibilidades de consumo do Local são indicadas pela reta cinza TF no local e T*F* no
estrangeiro. Nos dois casos, o comércio aumentou a gama de escolhas e, portanto, deve proporcionar uma
situação melhora aos residentes de cada país .

Na ausência de comércio, as possibilidades de consumo são as mesmas possibilidades de produção


(as linhas contínuas PF e P*F* na Figura 3.4). No entanto, uma vez que o comércio é permitido, cada economia pode
consumir uma mistura diferente de queijo e vinho da mistura que produz. As possibilidades de consumo de Doméstica
são indicadas pela linha colorida TF na Figura 3.4a, enquanto as possibilidades de consumo de Estrangeira são indicadas
por T*F* na Figura 3.4b. Em cada caso, o comércio ampliou o leque de opções, e, portanto, deve fazer com que os
moradores de cada país prosperem.
Uma nota sobre os salários relativos
Nossa discussão sobre o comércio internacional até este ponto não tem comparado
explicitamente os salários nos dois países, mas é possível, no contexto de nosso exemplo numérico,
determinar como se comparam as taxas de salário nos dois países. A relação entre salários e produtividade
relativa da mão de obra na análise das vantagens comparativas e dos ganhos do comércio internacional, o
que demonstra que o modelo de um fator é uma ferramenta valiosa para esclarecer equívocos comuns em
discussões políticas do comércio internacional.
Por exemplo, os trabalhadores do país Doméstica se especializam na produção de queijo,
enquanto os trabalhadores do país Estrangeira se especializam na produção de vinho. Dado que leva uma
hora de trabalho para produzir um quilo de queijo em Doméstica( aLC = 1) e três horas para produzir um
galão de vinho em Estrangeira( aLW = 3 ), os trabalhadores em Doméstica recebem o equivalente ao valor
de um quilo de queijo por hora de trabalho, enquanto os trabalhadores em Estrangeira recebem o
equivalente a 1/3 de um galão de vinho por hora de trabalho.
Para converter esses valores em dólares, tanto o queijo quanto o vinho são vendidos por US$
12 por unidade. Assim, os trabalhadores em Doméstica ganham US$ 12 por hora, enquanto os
trabalhadores em Estrangeira ganham US$ 4 por hora. O salário relativo ( a quantidade que recebem por
hora, em comparação com a quantidade que os trabalhadores em outro país recebem por hora) dos
trabalhadores de Doméstica é então calculado como 3, ou seja, eles ganham três vezes mais do que os
trabalhadores em Estrangeira(PC/PW = 12/4 = 3).
O salário relativo não depende do preço absoluto do queijo, desde que o preço relativo do
queijo em relação ao vinho seja mantido constante, ou seja, esse salário relativo não depende de o preço
de um quilo de queijo ser US$ 12 ou US$ 20, desde que um galão de vinho seja vendido pelo mesmo preço.
Isso ocorre porque os salários relativos são determinados pela produtividade relativa da mão de obra em
diferentes setores. Mesmo que Doméstica seja seis vezes mais produtiva do que Estrangeira na produção
de queijo e apenas uma e meia vez mais produtiva na produção de vinho, o salário relativo ainda fica em 3.
Observe que essa taxa salarial situa-se entre as proporções de produtividade dos dois países nas duas
produções, cada país acaba com uma vantagem de custo em uma mercadoria.
Por causa de sua baixa taxa salarial, Estrangeira tem uma vantagem de custo em vinho, mesmo
que tenha menor produtividade. Doméstica tem uma vantagem de custo em queijo, apesar de sua maior
taxa salarial, porque o salário mais alto é mais do que compensado por sua maior produtividade. Isso
mostra que a relação entre salários e produtividade relativa é crucial na determinação das vantagens
comparativas e do comércio internacional.
Embora reconhecido como um modelo simplificado, a utilidade do modelo de um fator (como
o modelo ricardiano) é uma boa maneira de lidar com vários equívocos comuns sobre o significado da
vantagem comparativa e sua natureza relacionada aos ganhos do livre comércio, pois ajuda a abordar de
forma clara e concisa esses conceitos. Contribuindo para eviatr equívocos encontrados frequentemente no
debate público sobre política econômica internacional (até mesmo entre especialistas).

Equívocos sobre a vantagem comparativa


A prevalência de ideias confusas e equívocos na economia internacional, mesmo entre
políticos, empresários e economistas, com declarações feitas por esses atores, não resistem a uma análise
econômica mais aprofundada, esse fenômeno parece ser especialmente comum na economia
internacional. Três equívocos específicos são persistentes e serão analisados com base no modelo simples
de vantagem comparativa. São eles: a produtividade e competitividade; o argumento da mão de obra
pobre; e a exploração.
Produtividade e competitividade - Mito 1: o livre comércio é benéfico somente se seu país for
forte o suficiente para enfrentar a concorrência estrangeira. Em nosso modelo de um fator, a razão pela
qual uma vantagem absoluta de produtividade em uma indústria não é necessária nem suficiente para
gerar vantagem competitiva é clara: a vantagem competitiva de uma indústria depende não só da sua
produtividade em relação à indústria estrangeira, mas também da taxa salarial doméstica em relação à taxa
salarial estrangeira.
O problema com o ponto de vista desse analista é que ele não conseguiu entender o ponto
essencial do modelo ricardiano — que os ganhos do comércio dependem de vantagem comparativa, ao
invés de vantagem absoluta. Ele está preocupado que seu país possa acabar
não tendo nada para produzir mais eficientemente do que qualquer outro — ou seja, que você pode não
ter vantagem absoluta em nada.

Argumento da mão de obra pobre - Mito 2: a concorrência estrangeira é injusta e fere outros
países quando é baseada em baixos salários. As pessoas que aderem a essa crença argumentam que as
indústrias não devem lidar com indústrias estrangeiras que sejam menos eficientes, mas pagam salários
mais baixos (argumento, particularmente, favorito dos sindicatos, buscando proteção contra a concorrência
estrangeira). O exemplo simples revela a falácia desse argumento. No exemplo, Doméstica é mais
produtiva do que Estrangeira em ambas as indústrias, e a redução do custo de Estrangeira na produção de
vinho é inteiramente decorrente de sua taxa salarial muito menor. Que é irrelevante para a questão de
Doméstica ganhar com o comércio. Não importa se o menor custo do vinho produzido em Estrangeira for
pela alta produtividade ou pelos salários baixos. Tudo o que importa para Doméstica é que seja mais barato
em termos de sua própria mão de obra , continuar produzindo queijo e trocá-lo por vinho do que para
produzir vinho por si só.
Exploração - Mito 3: O comércio explora um país e o torna pior se os seus colaboradores
receberem salários muito mais baixos do que os trabalhadores em outras nações. Se estamos perguntando
sobre a conveniência do livre comércio, no entanto, o ponto não é perguntar se os trabalhadores de baixos
salários merecem ganhar mais, mas perguntar se eles e seu país são piores ao exportar bens com base em
salários baixos do que seriam se se recusassem a entrar em tal comércio degradante. E ao fazer esta
pergunta, também devemos perguntar, qual é a alternativa? Por mais abstrato que seja, nosso exemplo
numérico defende que não podemos declarar que um salário baixo representa exploração, a menos que se
saiba qual é a alternativa, negar-lhes a oportunidade de exportação e comércio, pode ser condená-los à
pobreza ainda mais profunda.
Vantagens comparativas com diversos bens
Para se aproximar da realidade é necessário compreender as funções da vantagem
comparativa em um modelo com um número maior de mercadorias (modelo de vantagem comparativa
para incluir múltiplos bens). Numa reclassificação dos bens de modo que aqueles com menor relação de
requisitos de mão de obra entre os países apareçam primeiro na lista
aL1 /aL1* < aL2 /aL2* < aL3 /aL3* < ... < aLN /aLN* . (3.6)
Isso simplifica a análise do comércio, destacando os bens em que cada país possui uma
vantagem comparativa mais clara em termos de custo de mão de obra.
Configurando o modelo
Novamente, imagine um mundo de dois países, Doméstica e Estrangeira. Como antes, cada
país tem apenas um fator de produção, a mão de obra, produzindo e consumindo uma variedade de bens,
representados aqui como N mercadorias distintas, ou seja, ocorre a extensão do modelo simples de
vantagem comparativa para incluir um número maior de bens.
A tecnologia de cada país pode ser descrita por seus requisitos de mão de obra unitária de
cada bem, ou seja, o número de horas de trabalho necessário para produzir uma unidade de cada bem
(Domética = aLi , onde i é o número atribuído àquela mercadoria e os requisitos de mão de obra unitária,
*
também correspondentes à Estrangeira = aLi ).
Para qualquer mercadoria, podemos calcular aLi/aLi*, a relação de requisitos de mão de obra
unitária de Doméstica para Estrangeira. Por exemplo, se o bem 1 requer menos mão de obra em Doméstica
*
em comparação com Estrangeira (ou seja, se aLi/aLi , é menor), então ele será classificado em primeiro
lugar na lista. Seguindo essa lógica, a lista é ordenada de tal forma que os bens nos quais Doméstica possui
uma vantagem comparativa em termos de mão de obra ocupem as primeiras posições, enquanto os bens
nos quais Estrangeira possui essa vantagem ocupem as últimas posições.
aL1 /aL1* < aL2 /aL2* < aL3 /aL3* < ... < aLN /aLN* . (3.6)
Essa reorganização simplifica a análise do comércio, concentrando-se nos bens em que cada
país possui uma vantagem comparativa mais significativa, tornando mais clara a compreensão das
implicações do comércio internacional.
Salários relativos e especialização
Estamos preparados para olhar para o padrão de comércio. Esse padrão depende apenas de
uma coisa: a relação dos salários de Doméstica para Estrangeira. Uma vez que conhecemos essa relação,
podemos determinar quem produz o quê. Se:
• w = taxa salarial por hora em Doméstica
• w* = taxa salarial por hora em Estrangeira
• w/w* = relação de salários

A regra de atribuição de produção , é simplesmente isto: os bens serão sempre produzidos


onde é mais barato fazê-los. O custo de fazer alguma mercadoria, digamos a mercadoria i, é: os
requisitos de mão de obra unitária vezes a taxa salarial. Produzir a mercadoria i em Doméstica vai custar
waLi. Para produzir a mesma mercadoria em Estrangeira custará w*aLi*.
As regras de alocação são:
* * * *
• waLi < w aLi ou aLi /aLi > w/w : é mais barato produzir o bem em Doméstica
• waLi > w*aLi* ou aLi*/aLi < w/w*: é mais barato produzir o bem em Estrangeira

Já alinhamos as mercadorias em ordem crescente de aLi*/aLi [Equação (3.6)]. Esse critério para
especialização nos mostra que há um “corte” na linha determinado pela proporção das taxas salariais
dos dois países, w/w*. Todos os bens à esquerda desse ponto acabam sendo produzidos em Doméstica;
todos os bens à direita acabam sendo produzidos em Estrangeira. É possível, que a relação de salários
seja exatamente igual à relação entre os requisitos de mão de obra unitária para uma mercadoria. Nesse
caso, essa mercadoria limite pode ser produzida em ambos os países. (aLi*/aLi = w/w*). A Tabela 3.2
oferece um exemplo numérico no qual tanto Doméstica quanto Estrangeira consomem e são capazes de
produzir cinco bens: maçãs, bananas, caviar, tâmaras e enchiladas.

As duas primeiras colunas da tabela são autoexplicativas. A terceira é a relação entre os


requisitos de mão de obra unitária de Estrangeira e de Doméstica para cada mercadoria — ou, dito de
forma diferente, a vantagem de produtividade relativa de Doméstica em cada produto (produção mais
barata). Nós rotulamos as mercadorias por ordem de vantagem de produtividade em Doméstica, sendo a
vantagem de Doméstica maior para maçãs e menor para enchiladas.
Que país produz quais mercadorias depende da relação das taxas salariais entre Doméstica e
Estrangeira. Doméstica terá uma vantagem de custo em qualquer produto para o qual sua produtividade
relativa for maior que seu salário relativo, e Estrangeira terá a vantagem nos outros. Se, por exemplo, uma
relação de salário de Doméstica para salário de Estrangeira de cinco para um, maçãs e bananas serão
produzidas em Doméstica, caviar, tâmaras e enchiladas em Estrangeira. Se a taxa salarial de Doméstica for
apenas três vezes a de Estrangeira, Doméstica produzirá maçãs, bananas e caviar, enquanto Estrangeira
produzirá apenas tâmaras e enchiladas.
Determinação do salário relativo no modelo multimercadorias
A oferta relativa de trabalho é determinada pelo tamanho relativo das forças de trabalho de
Doméstica e Estrangeiro. Supondo que o n° de homens-horas disponíveis não varia com o salário, o salário
relativo não tem efeito sobre a oferta relativa de trabalho, e RS é simplesmente uma reta vertical.
Quando aumentamos o salário dos trabalhadores de Doméstica em relação ao daqueles de
Estrangeiro, a demanda relativa por bens produzidos em Doméstica declina, e a demanda pelo trabalho
nesse país declina com ela. Além disso, a demanda relativa pelo trabalho de Doméstica cairá abruptamente
quando um aumento no seu salário relativo tornar um bem mais barato de produzir em Estrangeiro. Logo,
a curva alterna-se entre seções levemente inclinadas para baixo, em que o padrão de especialização não
muda, e planos, em que a demanda relativa muda abruptamente por causa de mudanças no padrão de
especialização. Um cálculo semelhante mostrará que para todas as importações de mercadorias de
Estrangeira, parece ser mais barato em termos de mão de obra de Doméstica de comercializar a
mercadoria, em vez de produzir o bem.
Determinação do salário relativo no modelo multimercadorias
No caso de muitos bens, quem produz o quê pode ser determinado somente depois que
sabemos a taxa salarial relativa, precisaremos de um novo procedimento. Para determinar os salários
relativos em uma economia multimercadorias, devemos olhar para a demanda implícita relativa da mão de
obra. Essa não é uma demanda direta por parte dos consumidores. Pelo contrário, é uma demanda
derivada que resulta da demanda por bens produzidos com mão de obra de cada país.
A demanda derivada relativa pelo trabalho de Doméstica diminuirá quando a razão entre o
salário de Doméstica e de Estrangeiro aumentar, e isso ocorre por dois motivos.
1. Conforme o trabalho de Doméstica se torna mais caro em relação ao trabalho do
Estrangeiro, os bens produzidos no primeiro também se tornam relativamente mais caros, e a demanda
mundial por eles cai.
2. À medida que os salários de Doméstica aumentam, menos bens são produzidos nesse país e
mais em Estrangeiro, reduzindo ainda mais a demanda pelo trabalho de Doméstica.
Podemos ilustrar esses dois efeitos usando nosso exemplo numérico, conforme ilustrado na
Tabela 3.2. Vamos começar com a seguinte situação: o salário de Doméstica é inicialmente 3,5 vezes o
salário de Estrangeiro. Nesse nível, Doméstica produziria maçãs, bananas e caviar, enquanto Estrangeiro
produziria tâmaras e enchiladas. Se o salário relativo de Doméstica aumentasse de 3,5 para 3,99, o padrão
de especialização não mudaria. No entanto, como os bens produzidos em Doméstica ficariam relativamente
mais caros, a demanda relativa por esses bens cairia e a demanda relativa pela mão de obra de Doméstica
cairia junto.
Podemos ilustrar a determinação dos salários relativos como um diagrama, que mostra a
quantidade relativa de mão de obra e a taxa salarial relativa.
Suponha agora que o salário relativo aumentou ligeiramente de 3,99 para 4.01. Esse pequeno
crescimento no salário relativo de Doméstica traria uma mudança no padrão de especialização. Como agora
é mais barato produzir caviar em Estrangeira do que em Doméstica, a produção de caviar se desloca de
Doméstica (demanda relativa para a mão de obra aos poucos vai declinar, então cairá abruptamente em
um salário relativo de 8, ponto em que a produção de bananas se desloca) para Estrangeira (que adquire
uma nova indústria).
O resultado depende do tamanho relativo dos países (oferta mundial de mão de obra de
Doméstica em relação à de Estrangeiro é mostrada pela linha RS que determinam a posição) e da demanda
relativa pelos bens (demanda mundial para mão de obra de Doméstica em relação à demanda por mão de
obra de Estrangeiro é mostrada pela curva RD que determina seu formato e a posição). Se a interseção de
RD e RS recai em um dos planos, ambos os países produzem o bem ao qual o plano se aplica (caso o
número de homens-hora disponíveis não varie com o salário, o salário relativo não tem efeito sobre o
fornecimento de mão de obra relativa e RS é uma linha vertical).
O salário relativo de equilíbrio é determinado pela interseção entre RD e RS. No gráfico ele
será de 3. A esse salário, Doméstica produz maçãs, bananas e caviar, enquanto o Estrangeiro produz
tâmaras e enchiladas.
Adicionando os custos de transporte e as mercadorias não comercializáveis
A economia mundial descrita no último modelo é marcada por uma especialização
internacional extrema. Há, no máximo, um bem que os dois países produzem, todos os outros são
produzidos ou em Doméstica ou Estrangeiro , mas não em ambos.
Há três motivos principais pelos quais a especialização na economia internacional do mundo
real não chega a esse extremo:
• A existência de mais de um fator de produção reduz a tendência à especialização
• Os países às vezes protegem suas indústrias da concorrência estrangeira
• É caro transportar bens e serviços, por isso, em alguns casos, o custo do transporte é
suficiente para levar os países à autossuficiência em alguns setores
Se no exemplo anterior adicionássemos um custo de transporte de 100%, uma unidade de tâmara,
por exemplo, que custava 6 horas de trabalho em Doméstica ou 12h de trabalho em Estrangeiro e com um
salário relativo de 3, as 12h de trabalho Estrangeiro custam o equivalente a apenas 4h do trabalho em
Doméstica. Com o custo de transporte, esse caviar passa a custar o equivalente a 18h de trabalho de
Estrangeiro, e, portanto, passaria a ser produzido internamente.
Resumindo: Na ausência de custos de transporte, Doméstica exportará as três primeiras
mercadorias e importará as duas últimas,e como resultado da introdução dos custos de transporte neste
exemplo, Doméstica ainda exportará maçãs e bananas e importará enchiladas, mas tâmaras e caviar se
tornarão bens não comercializáveis, que cada país produzirá por si.
Em alguns casos os custos de transporte são praticamente impossíveis, como serviço de corte
de cabelo, conserto de automóveis. Bens com razão peso-valor elevadas, como o cimento, também são
poucos frequentes no comércio internacional. Muitos bens acabam sendo não comercializáveis por causa
da ausência de fortes vantagens de custo nacional ou pelos custos elevados de transporte. O ponto
importante é que as nações gastam uma grande parte de sua renda em bens não comercializáveis. Essa
observação é de importância surpreendente em nossa discussão posterior sobre economia monetária
internacional.
Evidências empíricas sobre o modelo ricardiano
Talvez a demonstração mais impressionante da utilidade contínua da teoria ricardiana da
vantagem comparativa seja a maneira como ela explica o surgimento de países de produtividade global
muito baixa como potências de exportação em algumas indústrias.
O modelo ricardiano de comércio internacional vem explicar e prever os padrões reais de
comércio entre países, apesar de suas simplificações, faz previsões precisas sobre os fluxos reais de
comércio internacional, o que sugere que os países tendem a exportar bens nos quais possuem vantagem
comparativa na produtividade.
Embora o modelo seja útil, também tem limitações. Por exemplo, assume um alto grau de
especialização que nem sempre é observado no mundo real. Além disso, não considera os efeitos do
comércio internacional na distribuição de renda dentro dos países, o que pode afetar o bem-estar nacional.
Também não leva em conta diferenças de recursos entre os países como causa de comércio, nem o papel
das economias de escala.
Testes clássicos do modelo ricardiano foram realizados no período pós-Segunda Guerra
Mundial, comparando o comércio e a produtividade britânica com a americana. Esses testes mostraram
que, apesar de a produtividade britânica ser inferior à americana em quase todos os setores, o volume de
exportações britânicas era comparável ao das exportações americanas. Isso sugere que a vantagem
comparativa, não a absoluta, influencia o comércio.
A Figura 3.7 mostra uma correlação entre a produtividade relativa e a proporção de
exportações dos EUA e do Reino Unido. Isso confirma que países tendem a exportar bens nos quais têm
vantagem comparativa, mesmo que não tenham vantagem absoluta em todos os setores.
Também destaca o caso de Bangladesh, um país com baixa produtividade geral, mas que se
tornou uma potência de exportação na indústria de vestuário devido à sua vantagem comparativa nesse
setor. Isso ilustra como a vantagem comparativa pode impulsionar o comércio internacional, mesmo em
países com produtividade geral baixa.

Em resumo,embora alguns economistas acreditem que o modelo ricardiano seja uma


descrição totalmente adequada das causas e consequências do comércio mundial, suas duas implicações
principais — que as diferenças de produtividade desempenham um papel importante no comércio
internacional e que é a vantagem comparativa ao invés da absoluta que importa — parecem ser suportadas
pelas evidências.
Palavras-Chave:
análise de equilíbrio geral
análise de equilíbrio parcial
argumento da mão de obra pobre
bens não comercializáveis
curva de demanda relativa
curva de oferta relativa
custo de oportunidade
demanda derivada
fronteira de possibilidade de produção
ganhos do comércio
modelo ricardiano
requisitos de mão de obra unitária
salários relativos
vantagem absoluta
vantagem comparativa
Projeções equivocadas do modelo ricardiano
1) Modelo ricardiano simples prevê um grau extremo de especialização que não é observado
no mundo real.
2) Modelo supõe que não há efeitos indiretos do comércio internacional sobre a distribuição
de renda dentro dos países e, portanto, prevê que os países como um todo sempre terão ganhos do
comércio; na prática, o comércio internacional exerce efeitos fortes sobre a distribuição de renda
3) Modelo não reconhece que as diferenças de recursos entre países são uma das causas do
comércio e, dessa forma, desconsidera um aspecto importante do sistema comercial.
4) Modelo ignora o possível papel das economias de escala no estímulo ao comércio, o que o
impossibilita de explicar os grandes fluxos comerciais entre nações aparentemente semelhantes.

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