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Peticionários:
Audição - I
Em primeiro lugar, com esta prova, o MEC vem lançar o sentimento de suspeição sobre a
qualidade e legitimidade das avaliações emanadas das instituições de ensino superior,
instituições que são tuteladas pelo próprio estado. Facto que o Sr. Ministro da Educação
reconheceu publicamente em entrevista a um canal televisivo. É também de recordar que os
cursos tutelados pelo MEC nunca ofereceram qualquer tipo de formação à maioria dos cursos
sobre as dimensões que vêm agora examinar na PACC. Nunca promoveram nas universidades
as competências que na PACC agora consideram transversais.
Em segundo lugar, o MEC determinou inicialmente que a PACC deveria ser aplicada a todos os
professores contratados, sob a premissa de implementar qualidade e rigor no ensino público.
Incompreensivelmente, o MEC abdicou dessa premissa após uma negociação pouco
transparente com um único sindicato, acabando por rever a sua posição e determinando que a
prova seria aplicada afinal apenas aos docentes com menos de cinco anos de serviço. Na
prática, a prova passaria a visar apenas aqueles que não conseguem habitualmente, por
questões que lhes são alheias, serem colocados nas escolas públicas, deitando por terra a ideia
inicial que a prova promoveria rigor e qualidade no ensino. Questionamos como é possível
promover rigor no ensino por intermédio de um exame que é aplicado aos que não fazem
parte do ensino? Do MEC não emanou nenhuma explicação satisfatória para tal recuo,
justificando esta decisão com a negociação que efetuou com apenas um sindicato, como
contrapartida de algo que não foi clarificado. Promove-se desde logo uma clara desigualdade
dentro do universo dos professores contratados com esta decisão injustificada.
Posto tudo isto, e considerando o peso atribuído a esta versão da PACC na possibilidade de
acesso à carreira docente nas escolas tuteladas pelo estado, os peticionários aqui
representados fizeram uma análise rigorosa do conteúdo e estrutura da versão apresentada
pelo MEC, chegando à conclusão que a mesma não respeita, nem o espírito da PACC prevista
no Estatuto da Carreira Docente, nem a Constituição Portuguesa.
O MEC anunciou aos candidatos a candidatos que a prova avaliaria, segundo consta no
Estatuto da Carreira Docente, e que cito: “A prova visa verificar o domínio de conhecimentos
e capacidades fundamentais para o exercício da função docente”.
Haveria lugar a uma componente geral, que avaliaria as capacidades lógicas, matemáticas e
críticas, e resolução de problemas em âmbitos não disciplinares. Não houve porém qualquer
alusão à necessidade do domínio do português, tanto na sua vertente gramatical como
discursiva (o que acaba por se referir ao Português como como assunto não disciplinar – mas
que todavia é disciplinar para os docentes de Português).
Ao impor uma prova com esta natureza de parcialidade, o MEC está a programar a
educação segundo diretrizes filosóficas e ideológicas. Essa clara programação, onde se
insere o recrutamento de docentes, evidencia-se pelo simples facto do MEC defender
um número restrito de temáticas e matérias como fundamentais na avaliação da
competência de um professor, escrutinadas sob a forma da PACC na sua componente
exclusivamente geral.
Não existiu componente específica, pedagógica, ou até uma componente que avaliasse
a ética profissional, algo fundamental para determinar se um docente está apto ou não
a cumprir as funções que tem que desempenhar.
Considerações
Após análise atenta e contextualizada, percebe-se que a educação vem sendo programada
segundo os valores pessoais do Sr. Ministro, e levando em consideração que já foi Presidente
da Sociedade Portuguesa de Matemática, entende-se a tentação que terá em fazê-lo segundo
as suas convicções pessoais. Todavia, educar é muito mais que um raciocínio matemático ou a
pontuação de uma frase. As competências “Fundamentais” de um docente não se examinam
em apenas duas horas. A ideologia subjacente a esta forma de programar a educação revela a
ausência gritante de um pedagogo na pessoa do Sr. Ministro da Educação.
Também não se compreende por que motivo despreza o MEC toda a avaliação que se faz
anualmente nas escolas em exercício de funções. Avaliação que cobre as vertentes científicas,
pedagógicas, éticas, entre muitas outras, por comparação a uma prova mal programada,
tendenciosa e incompleta.
O Sr. Ministro da Educação demonstra não confiar em nenhuma estrutura educativa para
efetuar uma avaliação fidedigna, e decidiu tomar nas suas mãos todo um processo avaliativo,
que ao invés de ser implementado desde o ingresso na universidade, pelo estágio profissional,
por todos os graus académicos adquiridos, e passando pelo período em exercício de funções
docentes, é processado precipitadamente em meros 120 minutos, de forma irresponsável e
irrefletida. Se o motivo dessa desconfiança se localiza no ensino superior, então que se fiscalize
o mesmo, ao invés de procurar bodes expiatórios para justificar a falta de entendimento que
existe entre o MEC e as estruturas que tutela, algo que tem vindo a tornar-se cada vez mais
evidente nas últimas semanas.
Vimos aqui hoje, na esperança que este assunto seja esclarecido e se cesse de prejudicar
injusta e ilegalmente os docentes visados pela PACC. Se uma PACC que examinasse os
conhecimentos acerca da Constituição fosse aplicada no acesso a determinados cargos, talvez
não estivéssemos aqui hoje.
Audição – II
(4.) O Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e
Secundário, na alteração aprovada pelo Decreto-lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, prevê
como requisito de admissão a concurso para ingresso na carreira (artigo 22.º), a aprovação
em prova de avaliação de conhecimentos e competências.
(6.) O artigo 3.º do Decreto-Regulamentar n.º 3/2008 dispõe sobre o objetivo da prova,
estabelecendo o seguinte:
2 - A prova tem obrigatoriamente uma componente comum a todos os candidatos que visa
avaliar a sua capacidade para mobilizar o raciocínio lógico e crítico, bem como a preparação
para resolver problemas em domínios não disciplinares.
3 - A prova pode ainda integrar uma componente específica relativa ao nível de ensino, área
disciplinar ou grupo de recrutamento dos candidatos, conforme consta do anexo I ao
presente decreto regulamentar e que dele faz parte integrante.”
Algumas Considerações:
- Não é existência de uma prova, que está prevista no E.C.D., que está a ser contestada pela
petição, mas a prova tal como foi efetivamente aplicada e a desigualdade que promoveu entre
docentes na sua aplicação. O MEC considera que a prova avaliou competências básicas e
transversais a todos os docentes, porém, essa opinião do MEC, não anula a premissa que
alguns são beneficiados relativamente aos restantes.
- O que constituem âmbitos não-disciplinares para uns são âmbitos disciplinares para outros.
- Não é tudo isto uma forma clara de programar a educação segundo princípios ideológicos?
Algo que viola o nº 2 do artigo 43 da constituição?
- É este o perfil que o MEC preconiza como fundamental para a docência? Um perfil de
professor despersonalizado e sem competências pedagógicas ou científicas?