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Com conhecimento
Ao Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas Frei Bartolomeu dos Mártires
À Comissão Administrativa Provisória do Agrupamento de Escolas Frei Bartolomeu dos
Mártires
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- enquanto profissionais com décadas de trabalho reconhecido por alunos, pais e encarregados de
educação e pela comunidade, move-nos a defesa de uma escola de exigência e de rigor, pois não
aceitamos ser co-responsáveis por um erro político de consequências a curto, médio e longo
prazos insanáveis; não aceitamos mais adiar as verdadeiras e necessárias reformas na educação
em Portugal, as que promovam a verdadeira integração dos jovens na sociedade e no mundo do
trabalho;
- porque não aceitamos a ofensa à dignidade e à honra profissional de que estamos a ser alvo,
relevamos os nossos direitos e lutamos por condições de trabalho que dignifiquem
verdadeiramente a qualidade e a educação, contra a burocracia;
Decorre do exposto, o presente manifesto:
Numa altura em que o modelo de avaliação de desempenho do pessoal docente está a ser posto
em prática à revelia de toda uma classe, não porque os profissionais rejeitem ser avaliados, mas porque
exigem uma avaliação construtiva e com sentido de melhoramento da acção educativa, não burocrática,
que não perca de vista o objectivo principal da acção da escola – os alunos e as suas aprendizagens - e
que não transfira para os profissionais do sistema o ónus das fraquezas desse mesmo sistema, os
docentes deste agrupamento não têm quaisquer condições práticas de continuar a trabalhar num sistema
avaliativo construído sobre o desrespeito, a anulação e a exploração dos professores.
O regime de quotas impõe uma manipulação dos resultados da avaliação, gerando nas escolas
situações de profunda injustiça, excluindo cegamente a excelência plausível e potencial existente entre os
docentes do agrupamento. Este regime de quotas persegue a parcialidade, devido aos "acertos" impostos
pela existência de percentagens máximas para atribuição das menções qualitativas de Excelente e Muito
Bom, estipuladas pelo Despacho n.º 20131/2008, e que reflectem claramente o objectivo economicista que
subjaz a este Modelo de Avaliação.
É óbvio para qualquer pessoa informada e, principalmente, para aqueles que vivem, por dentro, a
realidade de uma escola ou tutelam essa realidade, que o combate ao insucesso e ao abandono escolares
não são da responsabilidade dos docentes, enquanto indivíduos, mas da escola e da comunidade escolar,
como um todo, e do sistema educativo em que se alicerça.
Também o professor não está no terreno a defender pontos de vista ou posicionamentos
individuais, pelo contrário, faz parte do todo e a sua autonomia esgota-se no cumprimento dos programas
e dos curricula delineados pelo Ministério da Educação. Logo, não lhe cabe a ele definir objectivos. Os
objectivos de todos os docentes estão definidos, à partida, são comuns a todos os professores e passam,
indiscutivelmente, pelo sucesso dos seus alunos no plano de uma acção conjunta concertada. Porém, não
está na sua mão garantir resultados. Há todo um conjunto de factores e variáveis que o docente não
controla e pelos quais não pode ser responsabilizado - como o meio onde a escola está inserida, a
situação sócio-económica dos agregados familiares, a cultura de hábitos de trabalho ou a ausência dela, a
falta de expectativas de alunos e encarregados de educação no quadro da conjuntura social existente, o
papel atribuído à escola na formação dos jovens, vista por alguns como um espaço natural de aquisição
de competências e saberes e por muitos como o local onde deixar as crianças e os jovens durante as
horas de expediente - que não dependem do professor mas são resultado de anteriores políticas
educativas e económicas e de que todos, professores, alunos e a sociedade em geral, sofremos os
efeitos.
Estes factores suscitam, igualmente, outras tantas questões.
- Nunca antes houve, em Portugal, uma avaliação respeitante à implementação das várias
políticas educativas de sucessivos governos. Porquê, agora, imputar aos professores a responsabilidade
dos erros dessas mesmas políticas?
- Por que motivo a “culpa”, nas palavras da Senhora Ministra, do insucesso dos alunos tem de ser,
necessária e exclusivamente, atribuída aos professores?
- Que responsabilidade têm os professores na decisão de algumas famílias de retirarem os jovens
da escola para, assim, poderem fazer face a uma situação económica desfavorável?
- Por que razão os professores têm de se comprometer, no início de cada ano lectivo, com metas
que, desde logo, não dependem só de si, como a melhoria dos resultados dos alunos e a diminuição da
taxa de abandono escolar?
- É legítimo avaliar o resultado de um processo cheio de variáveis cujo avaliado não controla?
- Numa lógica empresarial de desempenho por objectivos, como se depreende dos diplomas
emanados do Ministério da Educação, estando envolvidas no processo três entidades distintas –
professores, alunos e encarregados de educação – por que motivo só aos primeiros se exige deveres e se
cobra resultados?
- Qual a justiça de um modelo de avaliação de desempenho que obriga o trabalhador, neste caso
os professores, a despenderem inúmeras horas, para além das 35 consagradas nos seus horários, em
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tarefas burocráticas ou extra curriculares, umas de formação e investigação, outras que, não são
contabilizadas ou sequer pagas, contribuem, perversamente, para a sua avaliação?
Qual a lógica de um modelo de avaliação docente que:
avalia do mesmo modo professores em início, meio e final de carreira;
não respeita a especificidade da área de especialização de cada docente;
não melhora a qualidade de ensino e não valoriza profissionalmente os professores;
não contempla a actualização pedagógico-científica dos docentes – preparação de aulas,
formação profissional , auto-estudo, etc. – ou o seu investimento em formação pós-
licenciatura;
não dá formação, ou fá-lo tardiamente, e apenas a alguns, dos intervenientes no processo;
é criado num quadro regulamentar mas, de tão absurdo, por conveniência da tutela, já
pode ser aplicado com inúmeras simplificações e aligeirar de procedimentos, favorecendo
ainda mais a diversidade sem unidade, não obstante a carreira docente ser única (cf.
Recomendação nº 2 do Cons. Cient. para Aval. de Professores);
é manifesta a incapacidade de colocar em prática a teoria do sistema de avaliação do
desempenho docente;
impõe quotas quanto à atribuição das menções qualitativas, de acordo com o despacho
20131/2008, condicionando, à partida, os resultados da avaliação e comprometendo a sua
imparcialidade, questionamos.
Num processo normal, bem pensado, bem planeado e minimamente credível, deveria ter havido
um tempo previamente estabelecido para reflexão e debate dos objectivos da avaliação, dos diplomas que
lhe conferem enquadramento legal bem como dos instrumentos que a servem. Tal não aconteceu e o
processo foi imposto unilateralmente.
É evidente que as medidas de política educativa, com reflexos nas condições laborais e de
desenvolvimento profissional e da carreira, prosseguem fins de contenção orçamental, jamais um plano de
mobilização dos profissionais de educação para a superação dos desafios que a escola moderna
diariamente enfrenta e coloca. Pensar a educação é incompatível com demagogias e fitos políticos
populistas; cogitar o ensino reclama uma nova organização dos curricula e do trabalho dos docentes com
os alunos, libertando-os da clausura administrativa e burocrática, através de metodologias promotoras de
práticas persecutórias de aprendizagem através de epistemologia sócio-construtivista; melhorar a
aprendizagem é assumir que a vida hodierna rompeu com o paradigma em que decorria, esbatendo os
papéis de professor e de aluno, determinando um novo conceito de aula, em presença e a distância,
síncrona ou assíncrona, favorecendo a criação colaborativa de conhecimento, a formação continuada dos
professores e a inovação nas escolas.
Pelo exposto, os signatários do presente manifesto reiteram que o horário de trabalho dos
professores imposto pelo Ministério da Educação é demasiado escasso para responder às inúmeras
tarefas e funções que lhe são atribuídas ou solicitadas e inibidor da reclamada inovação na prática
pedagógica; que o “edifício” legislativo e normativo plasmado e consequente do Decreto-Lei nº 15/2007,
de 19 de Janeiro, nomeadamente a divisão da carreira entre professores titulares e professores, o sistema
de avaliação de desempenho do pessoal docente da educação pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário, incorpora limitações, arbitrariedades, incoerências e injustiças que, se não forem corrigidas, e
ainda que no presente ano lectivo o modelo se encontre apenas em regime de experimentação, na prática,
e não obstante o empenho e esforço dedicados, não se apresentam exequíveis nem se lhes reconhece
qualquer efeito positivo sobre a qualidade da educação e do seu desempenho profissional; que é
necessário reformular este modelo de avaliação, dando-lhe sentido, credibilidade e eficácia e reparando as
injustiças que os diplomas legais impostos pelo Ministério da Educação consagram.
Assim, e enquanto essa reformulação não tiver lugar, os abaixo assinados, professores
signatários, solicitam a imediata suspensão do processo de avaliação de desempenho do docentes,
declaram não ter condições técnicas nem laborais para prosseguir o processo e que se dê conhecimento à
Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento, a todas as bancadas com assento na
Assembleia da República, à Senhora Ministra da Educação e a Sua Excelência o Senhor Presidente da
República, pois os signatários consideram não só viciado o actual sistema de avaliação de desempenho
dos professores mas também incoerente, injusto e limitado, confuso e complexo, sem que se vislumbre,
nestes moldes, quaisquer viabilidade de aplicação, prática, segundo os mais elementares princípios
constitucionais.
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Viana do Castelo, 27 de Outubro de 2008
SIGNATÁRIOS
Nome Cargo
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SIGNATÁRIOS
Nome Cargo