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Com conhecimento:

Conselho Geral Transitório


DREC
Ministério da Educação
Presidente da República
Presidente da Assembleia da República
Grupos Parlamentares
Provedor de Justiça
Câmara Municipal de Ansião

Exm.º Sr. Presidente dos Conselhos Executivo e


Pedagógico do Agrupamento de Escolas de Avelar,
Professor Salazar Manuel Afonso Pinheiro

Os mais de 90% de professores e educadores do Agrupamento de Escolas de


Avelar, abaixo-assinados, reunidos no dia doze de Novembro de dois mil e oito, pelas
dezanove horas, na Sociedade Filarmónica Avelarense, declaram o seu mais frontal e
veemente desacordo perante o Novo Modelo de Avaliação de Desempenho Docente
introduzido pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro.

Os professores e educadores do Agrupamento de Escolas de Avelar, subscritores


deste documento, consideram, em primeiro lugar, que a avaliação de desempenho é um
processo indispensável à actividade docente e, por essa razão, jamais poderiam escusar-
se a uma avaliação séria, capaz de valorizar a sua profissão, quer elogiando as
virtualidades dos docentes, quer apontando caminhos para a melhoria das suas práticas
pedagógicas.
Repita-se que os docentes subscritores deste documento não questionam a
avaliação de desempenho como instrumento conducente à valorização das suas
práticas docentes, com resultados positivos nas aprendizagens dos alunos e no
desenvolvimento profissional dos professores.

Pensam, porém, estes professores e educadores que a Avaliação de Desempenho


constitui assunto demasiado sério que deve resultar de uma abrangente e séria
discussão, não devendo, por isso, estar sustentada num modelo como é o caso deste que
pode conduzir a arbitrariedades, desconfiança e complexidade de conteúdo.

Os professores e educadores deste Agrupamento de Escolas apologizam um


modelo de avaliação resultante de um amplo e consistente debate nacional entre os
professores, seus legítimos representantes, e responsáveis pelo Ministério de Educação,
que motive efectivamente os docentes e fomente a qualidade e o prestígio da escola
pública.

Infelizmente, consideram estes professores e educadores que o presente modelo


de avaliação regulamentado pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008 não assegura a
justiça, a imparcialidade e o rigor, não valoriza o desempenho dos docentes, nem
tão pouco garante a melhoria do processo educativo em Portugal.

Por outro lado, e mais importante do que todas as razões apresentadas, este
modelo, excessivamente complexo, impede os professores de se centrarem
exclusivamente naquela que é a sua função essencial, ensinar, e de canalizarem as suas
energias na resolução das dificuldades daqueles que deveriam estar acima de todas as
preocupações, os alunos.

Desta maneira, os subscritores deste documento vêm informar V.ª Ex.ª e os


órgãos a que preside, Conselhos Pedagógico e Executivo que suspendem a aplicação
do actual modelo de avaliação do desempenho docente que se encontrava em curso,
acrescentando às razões já explanadas os fundamentos que a seguir se apresentam:

1. A aplicação deste modelo obriga os professores a desdobrarem-se em múltiplas


tarefas, seja a organizarem e a participarem em múltiplas e intermináveis reuniões
(de departamento, pedagógicos e gerais) que decorrem desde meados do ano lectivo
anterior e que se intensificaram neste início de ano lectivo, ocupando várias dezenas
de horas, seja na concepção e elaboração de grelhas de natureza diversa;
2. A implementação deste modelo retira aos professores e educadores o tempo
necessário para o desenvolvimento do trabalho pedagógico e acompanhamento dos
alunos, subvertendo, assim, a essência do trabalho dos professores;
3. A aplicação deste modelo impede os professores de prepararem e conceberem as
suas aulas com o tempo necessário para ir ao encontro das necessidades dos alunos;
4. Este modelo não possibilita aos professores o tempo necessário para pensar em
estratégias de diferenciação pedagógica, nem tão pouco para elaborar materiais
pedagógicos direccionados sobretudo para os alunos com maiores dificuldades de
aprendizagem;
5. Este modelo obriga a que os professores demorem mais tempo a corrigir e a entregar
trabalhos e fichas de avaliação elaborados pelos alunos;
6. Este modelo, excessivamente burocrático e muito complexo, obriga ao
preenchimento de um grande número de fichas com um elevado número de
indicadores. Torna-se, por isso, inexequível, sendo inviável praticá-lo segundo
critérios de rigor, imparcialidade e justiça;
7. A maioria dos itens constantes das fichas não são passíveis de ser universalizados.
Alguns só se aplicam com um número reduzido de professores. Outros, pelo seu
grau de subjectividade, ressentem-se de um problema estrutural – não existem
quadros de referência em função dos quais seja possível promover a objectividade
da avaliação do desempenho;
8. A implementação deste modelo é estrangulador de um ambiente de trabalho
colaborativo, de partilha e, por isso mesmo, sem qualquer mais-valia pessoal e/ou
profissional;
9. Este modelo de avaliação do desempenho destina-se, sobretudo, a institucionalizar
uma cadeia hierárquica dentro das escolas e a dificultar ou mesmo impedir a
progressão dos professores na sua carreira;
10. Este modelo de avaliação ao contemplar o estabelecimento de quotas na avaliação e
a criação de duas categorias que, só por si, determinam que a maioria dos docentes
não chegará ao topo da carreira, sobretudo os mais jovens, completa a orientação
exclusivamente economicista em que se enquadra o actual estatuto de carreira
docente;

Sem esquecer que:


- não consideramos ser legítimo subordinar, mesmo que em parte, a nossa avaliação
ao sucesso dos alunos e ao abandono escolar, uma vez que há todo um conjunto de
factores, como o meio no qual a escola está inserida, a realidade social, económica e
cultural dos alunos, que escapam ao controlo, responsabilidade e vontade dos
professores e que são fortemente condicionantes do sucesso educativo;

- este modelo estabelece ainda desigualdades entre os professores e educadores,


fundamentalmente no Ensino Básico, porque só algumas disciplinas são sujeitas a
avaliação externa que é tida em conta na avaliação de desempenho;

- o próprio Conselho Científico da Avaliação dos Professores (estrutura criada pelo


ME) nas suas recomendações, critica aspectos centrais do modelo de avaliação do
desempenho como a utilização feita pelas escolas dos instrumentos de registo, a
utilização dos resultados dos alunos, o abandono escolar ou a observação de aulas,
como itens de avaliação;

acreditamos que suspender o processo de avaliação permitirá:

1. recentrar a atenção dos professores naquela que é a sua primeira e fundamental


missão – ensinar;
2. que os professores se preocupem prioritariamente com quem devem – os seus
alunos;
3. antecipar em alguns meses a negociação de um outro modelo de avaliação do
desempenho docente.

Em suma, certos que ao suspender o processo de aplicação do modelo de avaliação


de desempenho docente se está a contribuir para a melhoria do trabalho dos docentes,
das aprendizagens dos alunos e da qualidade do serviço público de educação, os
signatários deste documento tomam a iniciativa de não entregar os seus objectivos
individuais, preferindo continuar a investir nos alunos, de forma a atingir com qualidade
os objectivos/metas definidos no Projecto Educativo do Agrupamento.

Com o maior sentido de responsabilidade e dignidade profissional, os


professores/educadores signatários:

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Avelar, 12 de Novembro de 2008

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