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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Programa Médicos pelo Brasil


EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE

MÓDULO 24

Abordagem a
problemas
de olhos e
visão

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Programa Médicos pelo Brasil


EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE

MÓDULO 24

Abordagem a
problemas de
olhos e visão

Ministério da Saúde
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
2021
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Instituições patrocinadoras:

Ministério da Saúde

Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)

Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Diretoria de Tecnologias na Educação (DTED/UFMA)

Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal do Maranhão (UNA-SUS/UFMA)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B823a

Brasil. Ministério da Saúde.

Abordagem a problemas de olhos e visão [módulo 24] / Ministério da Saúde, Universidade


Federal do Maranhão. Brasília : Fundação Oswaldo Cruz, 2021.

Inclui referências.

68 p. : il., organogs. (Programa Médicos pelo Brasil. Atenção à saúde ; 4).

ISBN: 978-65-88309-14-8

1. Atenção básica. 2. Oftalmopatias. 3.Sistema Único de Saúde. 4. UNA-SUS. I. Título II.


Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. III. Universidade Federal de São Paulo. IV. Série.

CDU 610

Bibliotecária: Juliana Araujo Gomes de Sousa | CRB1 3349

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Ficha Técnica
©2021. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo
Cruz. Universidade Federal do Maranhão.

Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa


obra, em parte ou em sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser citada a fonte
e é vedada sua utilização comercial.

Referência Bibliográfica
MINISTÉRIO DA SAÚDE. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Abordagem a problemas
de olhos e visão [módulo 24]. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Médicos pelo Brasil.
Eixo 4: Atenção à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 68 p.

Ministério da Saúde
Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes | Ministro

Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)


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Coordenação Geral de Provisão de Profissionais para Atenção Primária(CGPROP)


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Secretaria-executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)


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Revisão Técnico-Científica UNA-SUS


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Rodrigo Pastor Alves Pereira
Rodrigo Luciano Bandeira de Lima
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Universidade Federal do Maranhão (UFMA)


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Diretoria de Tecnologias na Educação (DTED/UFMA)


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Coordenação da UNA-SUS/UFMA
Ana Emília Figueiredo de Oliveira | Coordenadora

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)


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Créditos
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Ana Paula Borges Carrijo
Paula Zeni Miessa Lawall
Rodrigo Luciano Bandeira de Lima
Rodrigo Pastor Alves Pereira

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Apoio Técnico UNA-SUS


Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) – UNA-SUS
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Coordenador Acadêmico (relacionado à temática)


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Elza Bernardes Monier

Conteudista
Carlos Frederico Confort Campos
Mannasses Araujo Costa

Edição Textual
Talita Guimarães Santos Sousa
Camila Cantanhede Vieira
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Priscila Penha Coelho
Lindomar Dantas Conrado Filho
Carlos Haide Sousa Santos

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Luís Gustavo Sodré Sousa
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Samira Vasconcelos Gomes
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Engenheira de Software UNA-SUS/UFMA


Rayanne Silveira

Administrador AVA/Moodle UNA-SUS/UFMA


Jefferson de Almeida Paixão

Apoio técnico UNA-SUS/UFMA


Catarina Barbosa Azevedo
Paulo Anderson Câmara Ribeiro
Thálya Maciel de Alencar

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Sumário
Apresentação 10

1. Olhos vermelhos 11
Introdução da unidade 11
1.1 Avaliação dos olhos e visão 12
1.2 Olho vermelho 18
1.3 Conjuntivites 18
1.4 Glaucoma agudo 22
1.5 Iridociclite 23
1.6 Queimaduras: física e química 24
1.7 Corpo estranho 26
1.8 Erosão da córnea 28
1.9 Blefarite 29
1.10 Hemorragia subconjuntival 31
Fechamento da unidade 33

2. Perda de acuidade visual 34


Introdução da unidade 34
2.1 Acuidade visual 35
2.1.1 Causas de perda da acuidade visual 39
2.2 Miopia 39
2.3 Hipermetropia 41
2.4 Astigmatismo 42
2.5 Presbiopia 43
2.6 Catarata 44
2.7 Glaucoma crônico e congênito 45
2.8 Doenças retinianas 48
Fechamento da unidade 52

3. Condições oculares mais comuns 53


Introdução da unidade 53
3.1 Olho seco 54
3.2 Pterígio 55
3.3 Ptose palpebral 57
3.4 Hordéolo e calázio 59
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3.5 Estrabismo 60
3.6 Fotofobia 62
Fechamento da unidade 63
Encerramento 64
Referências 65
Biografia dos conteudistas 67
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Apresentação
Caro profissional estudante,
Seja bem-vindo ao módulo de Abordagem a Problemas de Olhos e Visão.
A visão é um dos principais sentidos do ser humano. Por consequência, demanda
atendimento de qualidade, cuidado e atenção desde o primeiro contato com os
serviços de saúde. Este livro aborda o tema dos problemas de olhos e visão.
A compreensão e o manejo das principais causas de perda da acuidade visual, pro-
cessos inflamatórios e infecciosos e o manejo das principais urgências oftalmoló-
gicas configuram-se como uma estratégia de promoção de saúde pública, uma vez
que pode proporcionar um melhor preparo da formação médica no primeiro nível
de atenção à saúde.
Dessa forma, esperamos que você tenha um bom estudo e que este livro contri-
bua para que você consiga prestar um cuidado cada vez melhor para a população
pela qual é responsável, ao lidar com os motivos de consulta relacionados aos olhos
e à visão.
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
• Diagnosticar e tratar na APS as doenças que afetam a córnea, a conjuntiva, a
íris ou o corpo ciliar, principais causas de hiperemia da conjuntiva que se ex-
pressam por olho vermelho, além de identificar os casos agudos (de urgência
ou emergência) ou crônicos que necessitam de referência ao especialista focal;
• Avaliar a acuidade visual com a escala de Snellen e com o teste do reflexo ver-
melho através do oftalmoscópio, identificando as causas de limitação da visão
aguda e progressiva, com foco nos defeitos refrativos e nas patologias do
globo ocular ou das vias ópticas e os casos agudos (de urgência ou emergên-
cia) ou crônicos que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista;
• Tratar as doenças oculares comuns na APS, como as que cursam com resse-
camento ocular, infecções e posicionamento anormal das pálpebras, cresci-
mento fibrovascular da conjuntiva, identificando os casos de urgência ou
emergência que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista.
Para estudar e apreender as informações e os conceitos abordados, bem como
trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, está prevista uma carga horária de
15 horas para este módulo.

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UNIDADE 01

Olhos vermelhos

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
A queixa de olho vermelho é uma das mais comuns que você encontrará em
consultas sobre problemas oculares na APS. Isto porque ela compreende uma
grande variedade de diagnósticos. E estes diagnósticos variam de afecções simples
como conjuntivites e blefarites a quadros graves, com risco de perda de função
visual como o glaucoma agudo e as queimaduras físicas e químicas.
Sua atuação como médico na APS permitirá a identificação precoce dos problemas
relacionados ao olho vermelho. Com isso, você poderá realizar o diagnóstico
diferencial e instituir o tratamento necessário, realizando o encaminhamento
precoce aos serviços de urgência, quando for importante.
Com a finalidade de preparar você para essa atuação, esta unidade abordará os
tópicos necessários para que, ao final, você seja capaz de:

Identificar as principais morbidades que cursam com o sinal oftalmológico de


olho vermelho;

Realizar a abordagem diagnóstica da queixa de olho vermelho na APS;

Estabelecer o plano terapêutico para as principais patologias que cursam com


o olho vermelho.

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Aproveite a oportunidade para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto,


de modo que, ao receber indivíduos com queixa de olho vermelho na APS, você se
sinta preparado para avaliar e conduzir cada caso oportunamente.

1.1 AVALIAÇÃO DOS OLHOS E DA VISÃO


Antes de iniciarmos com a discussão sobre olho vermelho, vamos retomar alguns
princípios básicos da avaliação de olhos e visão. É importante que você se lembre
da anatomia básica da região dos olhos. As partes do olho e da região periocular
podem ser vistas nas duas imagens a seguir:

Figura 01: Anatomia externa do olho.


Fonte: Centro de Tecnologia em Saúde-CETES, Núcleo de Telessaúde da
Faculdade de Medicina da UFMG.

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Figura 02: Globo ocular.


Fonte: Rhcastilhos e Jmarchn. Wikimedia Commons. ©

Para que você possa visualizar melhor as partes importantes da


anatomia do olho, indicamos o vídeo “Anatomia do olho”, produzido pela
parceria UNA-SUS/UFMG e o Centro de Tecnologia em Saúde-CETES.
Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/1957>.

Na avaliação de um paciente com queixas oftalmológicas, você deve seguir normalmente


o formato SOAP (Subjetivo-Objetivo-Avaliação-Plano) do registro clínico orientado por
problemas, porém não esqueça de investigar os antecedentes oculares (cirurgias,
traumas, doenças oculares prévias).

Ao realizar o exame físico, além do exame físico geral, que deve ser realizado em
algumas situações (a serem discutidas adiante), lembre-se das etapas específicas do
exame de olhos e visão, que são: inspeção de olhos e anexos (ectoscopia), palpação,
motilidade ocular, reflexos pupilares, campimetria de confrontação, acuidade visual e
fundoscopia. A seguir, leia sobre cada uma dessas etapas.

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Inspeção de olhos e anexos (ectoscopia)

Na inspeção, também chamada de ectoscopia, você deve ter a atenção voltada para alterações
visíveis nas regiões de órbitas, pálpebras, cílios, supercílios, olhos; você poderá utilizar com
iluminação ambiente ou o auxílio de luzes auxiliares, como lanternas. É importante que você
observe a posição dos olhos em relação à órbita e entre si, bem como seu alinhamento. Além
disso, deve ser observada a conjuntiva, a esclera, a córnea e a íris. É importante observar a presença
de hiperemia, sangramentos, corpos estranhos, perfurações (somente as mais grosseiras vão ser
visíveis à ectoscopia), ou mesmo pus e herniação de elementos internos como a íris.

Palpação

Você deve palpar a região periorbitária, buscando alterações físicas, como massas, crepitações,
enfisema de subcutâneo; esta etapa é mais significativa em traumas.

Motilidade ocular extrínseca

Você deve avaliar a capacidade de movimentação dos olhos, sem o paciente movimentar a cabeça.
Peça que o paciente fixe a visão em um objeto, que pode ser uma caneta ou o seu dedo e diga
para ele seguir o objeto com os olhos, sem mover a cabeça. Mova o objeto em todas as direções,
em geral em forma de H, para testar a função da musculatura extrínseca dos olhos. Além disso, é
importante que você avalie se os olhos se movem coordenada e simetricamente.

Motilidade ocular intrínseca ou reflexos pupilares

Aqui você deve avaliar a função dos músculos internos dos olhos através dos reflexos pupilares.
Inicialmente, verifique se as duas pupilas são simétricas em tamanho (pode haver uma pequena
diferença fisiológica entre elas, mas em geral, possuem tamanhos semelhantes). A seguir, em um
ambiente idealmente mais escuro, ilumine um dos olhos com uma lanterna e observe a reação
de ambas as pupilas. O reflexo fotomotor direto normal se dá com a contração da pupila iluminada,
e o reflexo fotomotor consensual normal, com a contração da outra pupila. Ao remover a fonte
de luz, ambas as pupilas devem se dilatar.

Campimetria de confrontação

Esta avaliação serve para que você verifique qual é a amplitude a qual chega a visão do paciente.
Neste exame, estando distante um metro do paciente, peça que ele tampe um dos olhos com as
mãos em cuia (para não pressionar o olho) e fique na frente dele, com o olho “invertido” tampado
(por exemplo, se o paciente tampar seu olho esquerdo, tampe seu olho direito). Vocês devem estar
com os olhos na mesma altura, em geral, sentados. Com a outra mão em uma distância média
entre ambos, movimente a mão ou os dedos nos quatro quadrantes, buscando identificar algum
local em que você enxergue e o paciente não. O paciente deve identificar o movimento da sua
mão em cada quadrante.

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Acuidade visual

Essa medida é utilizada para avaliar a capacidade do paciente diferenciar detalhes espaciais. Você
deve buscar por indícios de perda desta capacidade, por meio da Escala de Snellen. Será discutida
com detalhes adiante neste livro.

Fundoscopia

Este exame serve para avaliar o nervo óptico e a mácula. Para ser realizado, você precisará de um
oftalmoscópio direto. Você deve estar com os olhos na mesma altura dos olhos do paciente e
deverá utilizar o olho do mesmo lado ao qual vai avaliar o paciente (por exemplo, para examinar
o olho esquerdo do paciente, use seu olho esquerdo). Para buscar o nervo óptico, você deve se
lembrar que este fica em posição medial. Para avaliar a mácula, peça que o paciente olhe para a
luz, pois é com a mácula que o paciente “enxerga”. Além destes, avalie os vasos e possíveis alterações
nestes, como exsudatos e tortuosidade.

Observe nos vídeos abaixo mais detalhes sobre como realizar alguns
desses exames.
- Veja como executar a campimetria de confrontação no vídeo
“Campimetria por confrontação”. Disponível em: <https://ares.unasus.gov.
br/acervo/handle/ARES/1952>.
- Veja como executar a fundoscopia no vídeo “Oftalmoscopia direta”.
Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/2039>.

Para que você consiga executar esses exames e outros procedimentos na Atenção
Primária à Saúde (APS), é importante, ao chegar na sua unidade de saúde, que você
se certifique se estão disponíveis os materiais e insumos mínimos para realizar um
bom trabalho quando se deparar com condições oculares e visuais. Os materiais
encontram-se no quadro a seguir:

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Quadro 1 – Materiais para atendimento oftalmológico na Unidade


Básica de Saúde

Tipos Materiais Indicação


Geral Cotonete; Limpeza local; eversão de pálpebra
superior; remoção de corpo estranho.

Pinças delicadas; Remoção de corpo estranho, como cílios


soltos nos fórnices conjuntivais, ou que
atritam a córnea por implantação
defeituosa (triquíase), corpo estranho etc.

Seringas com cânulas acopladas; Irrigação ocular com solução adequada


(solução fisiológica).

Concha protetora ou escudo plástico; Proteção ocular, quando indicada; pode


ser substituída, por exemplo, por um
copo plástico de café ou algo similar.

Objetos Brinquedos pequenos para testar Teste de acuidade visual.


para teste fixação ocular de bebês menores
de acuidade (medindo em torno de 2cm), sem
ruído); brinquedos maiores e com
contrastes de cores, sem ruído, para
crianças;

Tabelas de Tabela de Snellen (letras, “E” ou Teste de acuidade visual.


optótipos figuras).

Iluminação Oftalmoscópio monocular direto; Exame básico de fundo de olho; reflexo


vermelho.

Lanterna. Reflexo pupilar; localização e remoção de


corpo estranho; reflexo vermelho.

Curativo Oclusores de gaze e algodão; Em compressas geladas na conjuntivite


ocular compressas; lenço limpo etc. viral ou alérgica; oclusão ocular para
encaminhamento à referência
secundária/terciária, bloqueando o
piscamento.

Fonte: Adaptado de Molinari e Boteon (2016).

Além desses materiais, é fundamental que você tenha acesso a um “kit básico” de
medicamentos que possa utilizar, conforme disposto no quadro a seguir:

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Quadro 2 - Medicamentos para atendimento oftalmológico na Unidade


Básica de Saúde

Tipos Medicação Indicação


Lágrima Carboximetilcelulose sódica 0,5%: Dependendo da causa: tratamento
artificial (*) pingar uma ou duas gotas no olho principal ou coadjuvante nas
afetado sempre que necessário manifestações de olho seco.

Pomada Várias formulações Promoção e proteção da epitelização


epitelizante (renovação da pele) e regeneração dos
Epitezan®: 1g contém: 10.000UI de tecidos oculares lesados.
acetato de retinol, 25mg de
aminoácidos, 5mg de metionina e
5mg de cloranfenicol.

Redução Acetazolamida 250mg. Glaucoma crônico: 250mg, VO, 1-4x/dia


da pressão (até 1000mg/dia).
intraocular
(PIO)

Anestesia Colírio de proximetacaína a 1%: para Anestesia local para procedimentos,


local retirada de corpo estranho, aplica-se como a retirada de corpos estranhos.
uma a duas gotas no fundo do saco
conjuntival; pede-se ao paciente que
mantenha os olhos fechados por
alguns minutos.

Colírio Colírio de atropina 1%. Em quadros de iridociclite e queimaduras.


midriático

Colírio Colírio de pilocarpina 2%. Agente miótico para primeiro


miótico atendimento de glaucoma agudo,
enquanto aguarda o encaminhamento à
Unidade Especializada.

Antibiótico Quinolonas (ciprofloxacina, ofloxacina Aplicação de uma gota em cada olho, de


tópico etc.), tobramicina, cloranfenicol, 2/2 horas, nos dois primeiros dias; e de
(colírio) gentamicina. 4/4 horas por mais 5 a 7 dias.

Irrigação Soro fisiológico. Irrigação frequente na queimadura


ocular química.

Colírio com Dexametasona a 0,1%. Em quadros de queimaduras e pterígio.


corticoide
(**)

Corante Colírio de fluoresceína sódica a 1% ou Evidenciação de lesões do epitélio


a 2%. ceratoconjuntival.

*Há outras lágrimas artificiais à base de carboximetilcelulose, álcool polivinílico, hidroxipropilmetilcelulose,


ácido hialurônico, carmelose e hipromelose.
**As reações adversas incluem, em ordem decrescente de frequência: elevação da pressão intraocular (PIO)
com possível desenvolvimento de glaucoma e dano não frequente ao nervo óptico, formação de catarata
subcapsular posterior e atraso na cicatrização.

Fonte: Adaptado de Molinari e Boteon (2016).

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Caso você não disponha de algum desses itens, entre em contato com a gestão da
unidade de saúde, bem como com a secretária local de saúde, para solicitá-los.

1.2 OLHO VERMELHO


Olho vermelho é a hiperemia da conjuntiva bulbar secundária à dilatação de
vasos sanguíneos subesclerais. Pode ser manifestação de lesões em qualquer
parte do bulbo ocular, desde as mais comuns e simples a problemas graves e com
risco de perda da função visual (DUNCAN et al., 2013).
É uma das queixas oculares que você mais encontrará na Atenção Primária à Saúde
e demanda que você realize uma anamnese e um exame físico apropriados, de
modo a se identificar causas que requerem encaminhamento urgente ao
Oftalmologista. Em geral, estas situações cursam com algumas das seguintes
características: redução da acuidade visual, dor intensa e “dentro” do olho
(diferentemente das superficiais, como em uma conjuntivite), reflexo pupilar reduzido
ou ausente, história de trauma, bem como a presença de sangue ou pus visíveis
na câmara anterior, manter o olho aberto em ambiente claro (DUNCAN, 2022).

1.3 CONJUNTIVITES
Conjuntivite é o processo inflamatório da conjuntiva. Você deve avaliar se é
secundário a um quadro infeccioso, seja ele viral ou bacteriano; ou a uma reação
alérgica, localizada nos olhos.
As conjuntivites costumam cursar com hiperemia conjuntival, sensação de corpo
estranho ocular, edema palpebral, lacrimejamento, prurido e, menos frequentemente,
fotofobia e embaçamento visual. Atente-se à secreção ocular, pois ela costuma
denotar o tipo de agente causador:
• Hialina (alérgica);
• Serosa (viral);
• Mucopurulenta (bacteriana).
Os quadros virais costumam vir acompanhados de linfadenomegalia pré-auricular
e folículos subpalpebrais. Não realize investigação com qualquer tipo de exame,
dado que esta condição é pouco grave e habitualmente autolimitada. Assim, você
deve realizar o diagnóstico de forma clínica, observando as características como
as das imagens abaixo.

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Figura 03: Aspecto clínico de conjuntivite


bacteriana causada por Neisseria gonorrhoeae Figura 04: Aspecto clínico de conjuntivite viral.
Fonte: Tanalai. Wikimedia Commons. © Fonte: Microrao. Wikimedia Commons. ©

Figura 05: Aspecto clínico de conjuntivite alérgica.


Fonte: James Heilman. Wikimedia Commons. ©

Não se preocupe excessivamente com o diagnóstico etiológico, já que ele é habitualmente


difícil de fazer com médicos acertando entre 50 a 75% das vezes, quando comparado
com diagnósticos laboratoriais (DUNCAN et al., 2013; SIMON et al., 2020). O tipo de
secreção é uma das características que mais colabora para você realizar o
diagnóstico diferencial e, mesmo com ausência de terapia especifica, a grande
maioria das conjuntivites tem uma história natural autolimitada e de pouca
morbidade (DUNCAN et al., 2022).

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Bacteriana Viral Alérgica

Os quadros bacterianos Os virais cursam com A etiologia alérgica


apresentam secreção secreção serosa, com costuma ser caracterizada
mucopurulenta, com folículos subpalpebrais e por prurido,
conjuntivas lisas e com linfadenopatia lacrimejamento, histórico
inflamadas e sem pré-auricular. de contato com alérgeno
linfadenomegalia. ou aspecto sazonal, bem
como a presença de
alergia ativa em outro
sítio, como na rinite
alérgica.

No caso dos quadros infecciosos, é importante que você oriente e a família sobre a
higiene das mãos, dos olhos e dos produtos de uso pessoal. O uso de lente de
contato deve ser interrompido até a resolução de sintomas/sinais de doença
infecciosa ocular (DUNCAN et al., 2022).

Figura 06: Higienização das mãos.


Fonte: Ededchechine. Freepik.

Oriente que os olhos devem ser lavados com água limpa com o uso de um pano limpo
e que não deixe fragmentos à limpeza, como panos de algodão; explique que pode
ser utilizada uma gaze para a limpeza também. Indique o uso de água mais fria, pois
ela pode aliviar os quadros que cursam com prurido e sensação de corpo estranho.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Oriente que os olhos devem ser lavados com água limpa com o uso de um pano limpo
e que não deixe fragmentos à limpeza, como panos de algodão; explique que pode
ser utilizada uma gaze para a limpeza também. Indique o uso de água mais fria, pois
ela pode aliviar os quadros que cursam com prurido e sensação de corpo estranho.

O uso de antibióticos tópicos é controverso, já que mesmo os quadros infecciosos


costumam ser autolimitados na ausência de tratamento específico. Indique antibióticos
nos casos de conjuntivite bacteriana com quadro mais pronunciado, quando os sintomas
não apresentarem melhora em 3 a 5 dias ou quando o paciente preferir usar (após
ser orientado). Nessas situações, você deve utilizar colírios antibióticos tópicos associados
ou não de cloranfenicol, gentamicina, neomicina com polimixina B, tobramicina,
ofloxacina ou ciprofloxacina, com melhora em 2 a 3 dias, em geral (GUSSO; LOPES;
DIAS, 2019).

Lembre-se!
Considerando o aumento da prevalência de bactérias resistentes
a antibióticos, é importante ser muito criterioso ao se indicar
antibioticoterapia para quadros de conjuntivite infecciosa.

Nos quadros alérgicos, além das medidas já explicitadas, é importante que você afaste
o alérgeno (caso identi icado). Quanto ao tratamento medicamentoso, considere
vasoconstritores tópicos, como a nafazolina por no máximo dois dias, anti-histamínicos
orais ou tópicos, como a olopatadina ou o cromoglicato de sódio (lembrando que
estes medicamentos são contra indicados em pacientes com glaucoma de ângulo
fechado) (DUNCAN et al., 2022).

Nos quadros infecciosos, é importante que você afaste a pessoa acometida de


conjuntivite por aproximadamente sete dias, de forma a evitar contágio nos ambientes
de trabalho ou de estudos, no caso de crianças e jovens em idade escolar.

É importante que você reavalie o paciente após sete dias do início do tratamento, para
identificar se houve resolução dos sintomas.

Com relação aos critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção, está
indicado que você encaminhe ao Oftalmologista quando não houver melhora do
quadro após uma semana ou se houver perda de acuidade visual (SIMON et al., 2020).

Além disso, você deve encaminhar com urgência ao serviço de referência, em caso de
suspeita de conjuntivite infecciosa em pacientes menores de um mês de vida
(TELESSAÚDERS-UFRGS, 2020).

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1.4 GLAUCOMA AGUDO


O glaucoma agudo é raro, porém, de gravidade intensa, que ocorre pelo aumento
agudo da pressão intraocular, sendo considerado uma urgência oftalmológica.
Este quadro é mais frequente em pessoas portadoras de glaucoma de ângulo
fechado, geralmente idosos. Destacamos aqui a importância de se questionar os
antecedentes oftalmológicos na consulta de acompanhamento ao idoso.
Os sintomas mais frequentes são dor ocular intensa, que pode ser percebida como
cefaleia, hiperemia ocular pericorneal, endurecimento do bulbo ocular à palpação,
pupila fixa e midriática, visão drasticamente reduzida, fotofobia e edema de córnea.
Como o diagnóstico desse quadro de urgência é iminentemente clínico, não há
necessidade de que você realize qualquer exame complementar na APS.

Figura 07: Glaucoma agudo de ângulo fechado do olho direito.


Fonte: James Heilman. Wikimedia Commons. ©

Você deve encaminhar o paciente com glaucoma agudo ao serviço de urgência


oftalmológica o mais rápido possível. No entanto, na ausência desse serviço você pode
iniciar tratamento de emergência com agentes mióticos, como a pilocarpina (colírio a
2%) a cada 15 minutos associados com diuréticos, como a acetazolamida 250mg 6/6
horas, por via oral, ou manitol a 20%, 250ml, 70 gotas/minuto, por via intravenosa
(GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Acetazolamida e manitol podem ser utilizados em
associação caso estejam disponíveis no seu serviço.

Com relação aos critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção,


considerando a gravidade clínica, reiteramos a importância de, neste quadro, você
encaminhar o paciente ao serviço oftalmológico de urgência assim que fizer o
diagnóstico. Quando o paciente sair do quadro agudo ou na ausência de resposta
satisfatória, mesmo com a instituição do tratamento adequado, você deve reavaliá-lo
e ele deve ser referenciado ao Oftalmologista para correção cirúrgica e controle da
pressão intraocular (SIMON et al., 2020).

22
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

1.5 IRIDOCICLITE
A iridociclite é um quadro pouco frequente que se caracteriza pela inflamação da
íris e do corpo ciliar. Tem associação com traumas contusos ou doenças sistêmicas
como espondilite anquilosante e doença de Behçet.
O quadro clínico é composto por dor ocular aguda intensa que piora com a palpação
e a convergência dos olhos, visão embaçada, fotofobia e lacrimejamento. Ao examinar
o paciente, você observará hiperemia pericorneal violácea e miose fixa e irregular.
Você pode identificar hipópio, que é a presença de pus na câmara anterior (vista
como “nível líquido”) (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como pode ser observado na
imagem abaixo.

Figura 08: Olho apresentando hipópio - exsudato


leucocitário na câmara anterior do olho.
Fonte: Rakesh Ahuja. Wikimedia Commons. ©

Não realize qualquer investigação com exames complementares, pois o diagnóstico


vai ser realizado especialmente pelo aspecto que pode ser observado durante o exame
físico, que é como o da imagem.
Como abordagem terapêutica, você pode utilizar 1 gota de atropina a 1% a cada 6
horas para alívio da dor. Quanto ao encaminhamento a outros níveis de atenção,
o recomendado é que o paciente seja prontamente encaminhado ao Oftalmologista
(DUNCAN et al., 2013), pois a iridociclite é mais um dos quadros de olho vermelho que
precisam ser referenciados a esse profissional com urgência.

É recomendado que após retorno da avaliação de urgência, o paciente


seja investigado para doenças infecciosas ou reumatológicas por se tratar de
pacientes de maior risco para essas patologias (DUNCAN, 2022).

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

1.6 QUEIMADURAS: FÍSICA E QUÍMICA


As queimaduras físicas são infrequentes, costumam ocorrer após exposição à
irradiação ultravioleta (solda elétrica) sem o devido uso de Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs). Também pouco comuns, as queimaduras químicas quando ocorrem
por contato com agentes alcalinos podem prejudicar a visão do paciente
definitivamente. Já os agentes ácidos produzem quadros oculares menos graves
(DUNCAN et al., 2013).
Os sintomas das queimaduras físicas surgem de 10 a 12 horas após a exposição,
com intensa dor e vermelhidão ocular, blefaroespasmo (piscar demais devido à
contração involuntária da pálpebra) e fotofobia (DUNCAN et al., 2013). Os sintomas
relacionados com o contato dos olhos com substâncias alcalinas e ácidas aparecem
logo após o contato, exigindo tratamento imediato, devendo-se referenciar
urgentemente ao serviço de oftalmologia (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
Em geral, a pessoa que sofreu uma queimadura física nos olhos, quando busca
atendimento, não associa seus sintomas (dor ocular intensa com fotofobia) à sua
causa (DUNCAN et al., 2013), o que pode retardar a condução adequada e o
encaminhamento ao especialista focal (Oftalmologista). Durante a consulta, você
pode identificar na anamnese a causa (física ou química da queimadura) e, na
inspeção dos olhos, com um foco de luz ou uma pequena lanterna, as alterações
de posição, aspecto e coloração das pálpebras e cílios; da conjuntiva, se há
lacrimejamento excessivo, vermelhidão e/ou secreção.
Se disponível, aplica-se uma gota de fluoresceína (colírio) e, com o auxílio de uma
lanterna, procura-se por áreas que se coram de amarelo ou, com luz azul do
oftalmoscópio, se coram de verde (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
Na Atenção Primária, somente a anamnese e o exame físico são necessários para
o diagnóstico. O aspecto que pode ser observado no exame, no caso das queimaduras
químicas, pode ser semelhante ao da imagem abaixo.

Figura 09: Lesão por queimadura química.


Fonte: Secker e Daniels. Wikimedia Commons. ©

24
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

O tratamento das queimaduras físicas consiste em instilar uma gota de colírio


anestésico e, em seguida, fazer a oclusão ocular binocular após aplicação de pomada
antibiótica (por exemplo, associação de acetato de retinol, 10.000UI, aminoácidos,
25mg, metionina, 5mg, cloranfenicol, 5mg), sedação e repouso por 24 horas e
orientações sobre prevenção de futuros eventos. Se a dor for muito intensa, pode-se
instilar uma gota de atropina a 1% (colírio) antes da oclusão do olho afetado.
Normalmente, o epitélio corneano se regenera em 48 a 60 horas (GUSSO; LOPES;
DIAS, 2019).
No trajeto até unidade oftalmologia de referência, pode-se irrigar
abundantemente com soro fisiológico (DUNCAN et al., 2022).
Após o contato com substâncias químicas deve-se realizar a lavagem imediata e
demorada do olho atingido com qualquer fonte de água fria disponível, utilizar
analgésicos sistêmicos, uma gota de colírio de atropina a 1% (se a dor for muito
intensa) e corticosteroide (dexametasona 0,1%, 1 a 2 gotas até 4 a 6 vezes/dia se
necessário), além de oclusão com pomada de antibiótico, a mesma citada nas
queimaduras físicas, por exemplo (DUNCAN et al., 2013).
Você deve emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) caso a lesão tenha
sido consequente às funções laborais do paciente e orientar em relação ao uso de
EPIs no trabalho, caso tenha atividades laborais de risco para acidentes com os
olhos.
Quanto aos critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção, a
indicação é que todos os pacientes que sofreram queimaduras químicas e/ou físicas
nos olhos devem ser encaminhados com urgência para avaliação oftalmológica.

Lembre-se!
Após uma abordagem inicial cuidadosa na APS, o glaucoma
agudo, a iridociclite e as queimaduras físicas ou químicas
requerem encaminhamento aos serviços oftalmológicos de
urgência.

25
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

1.7 CORPO ESTRANHO


Este quadro ocorre quando algum corpo estranho entra em contato com o olho,
produzindo incômodo. O quadro clínico se apresenta com a sensação de corpo
estranho ocular, dor, fotofobia e lacrimejamento.
Na Atenção Primária à Saúde, somente o exame físico é necessário para que você
realize o diagnóstico deste quadro, não havendo necessidade de usar exames
complementares. Sendo assim, você deve fazer o diagnóstico por meio da
identificação do corpo estranho ao exame ocular. É importante que você realize
uma inspeção detalhada do olho acometido, com uma fonte de luz adequada
(oftalmoscópio direto ou lanterna e lupa) e a instilação prévia de uma gota de colírio
anestésico. Solicite ao paciente que olhe para todos os lados, sendo vital que você
faça a eversão da pálpebra superior a fim de identificar o corpo estranho
eventualmente nesta posição.

Observe o procedimento para eversão palpebral no vídeo “Eversão da


pálpebra superior e retirada de corpo estranho subtarsal”, disponível em:
<https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/2007/3/4629.mp4>.

Na imagem a seguir, você pode observar um exemplo de corpo estranho localizado


na córnea.

Se você não conseguir identi icar o corpo


estranho, referencie ao Oftalmologista.
Caso seja possível identificá-lo, mas
tratar-se de metal, lesão penetrante ou
tempo maior que 12 horas, também
encaminhe. Devido a possibilidade de
oxidação, corpos estranhos de ferro podem
após 2 a 4 horas deixar anel de ferrugem no
olho e, se for o caso, deve ser encaminhado
ao oftalmologista (DUNCAN et al., 2022). Nos
casos que requerem encaminhamento, é
Figura 10: Corpo estranho na córnea.
importante lubrificar a córnea, pois alivia os
Fonte: Community Eye Health. Flickr. ©
sintomas até que o Oftalmologista avalie.
Convém, se possível, encaminhar com
curativo oclusivo (DUNCAN et al., 2022).

26
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Fora destas condições, tente a remoção do corpo estranho. Irrigue a córnea com
soro fisiológico ou água destilada. Com um cotonete molhado, tente remover o
corpo estranho, com movimentos para cima. Se a manobra for bem-
sucedida, aplique colírio ou pomada antibiótica e oclua o olho acometido por 24
horas com gaze (DUNCAN et al., 2013). Após 24 horas, reavalie o paciente,
especialmente para identificar se ainda há algum sintoma após a retirada.
Lembre-se que você deve emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) caso
a lesão tenha sido consequente às funções laborais do paciente e orientar em
relação ao uso de EPIs no trabalho, caso tenha atividades laborais de risco para
acidentes com os olhos.
Você deve encaminhar o paciente a outros níveis de atenção quando:

Não for possível identificar o corpo estranho;

Tratar-se de corpo estranho de metal ou trauma penetrante;

Houver presença do corpo estranho por mais de 12 horas;

Houver falha na tentativa de remoção;

Você não estiver confiante na sua habilidade para remoção ou na ausência de


material adequado para fazê-lo;

Houver suspeitas de corpo estranho adicional, laceração da esclerótica ou


perfuração de córnea;

Após a retirada com sucesso do corpo estranho, o paciente ainda apresentar


sintomas depois de 24h de curativo oclusivo.

27
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

1.8 EROSÃO DA CÓRNEA


É uma condição que ocorre devido à desepitelização de uma parte da córnea, em
geral secundária ao agente de contato, atrito, raspão com a córnea ou condições
como a herpes ocular. Pode ser causada por objetos pequenos como pontas de
lápis, unhas, lentes de contato ou pela remoção de corpo estranho (SIMON et al.,
2020).
Na anamnese, o paciente costuma se queixar de dor ocular aguda, sensação de
corpo estranho, fotofobia e ardência. Você deve tentar elucidar o agente causador
através de uma história clínica detalhada. Não se esqueça de questionar a presença
de partículas em alta velocidade (como um cortador de grama). Na Atenção Primária
à Saúde, você não deve solicitar exames complementares já que o quadro tem
diagnóstico clínico.
Para realizá-lo, além da anamnese, você precisa realizar o exame físico dos olhos.
Identifique as lesões pela iluminação oblíqua da córnea. Utilize uma gota do colírio
de fluoresceína, que destacará a lesão (em amarelo, se usando lanterna comum,
ou em verde, se usando a luz azul cobalto do oftalmoscópio direto), como pode ser
observado na imagem abaixo. Você pode usar uma gota de colírio anestésico
previamente ao exame se o paciente apresentar dor severa. Descarte a presença
de corpo estranho; se houver, tente removê-lo (DUNCAN et al., 2013), conforme
discutido na seção anterior.

Figura 11: Erosão na córnea aparente após a coloração com


fluoresceína.
Fonte: James Heilman. Wikimedia Commons. ©

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Lembre-se que lesões pequenas costumam ter resolução espontânea entre 12 a


24 horas. Você pode prescrever analgésicos orais conforme demanda. Reavalie seu
paciente após 48 horas, para identificar se há persistência de sintomas.
Não utilize os colírios anestésicos e de corticoide. Também não há indicação de
uso de curativo oclusivo com pomada antibiótica em lesões menores que 10mm.
Nas maiores, não há evidência suficiente para justificar o uso. Apesar de ser prática
frequente, também não utilize colírios cicloplégicos já que não há evidência apoiando
o seu uso.
Você deve emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) caso a lesão tenha
sido consequente às funções laborais do paciente e orientar em relação ao uso de
EPIs no trabalho, caso tenha atividades laborais de risco para acidentes com os
olhos.
Quanto à decisão de encaminhamento a outros níveis de atenção, você deve
referenciar seu paciente ao Oftalmologista caso se trate de lesão penetrante ou
lesão que não melhora em 48 horas.

1.9 BLEFARITE
A blefarite se refere à inflamação crônica, de baixo grau das glândulas de Meibomius
e margens palpebrais. Apresenta-se com longa história de irritação, ardência, secura
e olhos vermelhos (SIMON et al., 2020).
Pode estar associada à disfunção seborreica ou contaminação por Staphylococcus
aureus (blefarite anterior) mais frequente em jovens e mulheres na meia idade ou
à disfunção das glândulas de Meibomius (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Ambos os
casos podem levar a um quadro de olho seco e irritação ocular crônica, bem como
predispor ao surgimento de hordéolos e calázios (DUNCAN et al., 2013). A blefarite
seborreica é a mais frequente em idosos (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
Apenas o exame físico é necessário para o quadro. Contudo, a blefarite é também
um achado comum nos pacientes com rosácea, assim como em outras doenças
sistêmicas (DUNCAN et al., 2013), cabendo a investigação de outras condições
clínicas associadas.
O diagnóstico é sugerido por sintomas de prurido, queimação e fincadas na pálpebra
em ambos os olhos, piores pela manhã. Os sintomas são frequentemente
intermitentes, com exacerbações e remissões ocorrendo durante longos períodos.
Ao exame, as laterais das pálpebras estão inflamadas e vermelhas e podem
apresentar crostas, como no exemplo na imagem abaixo (DUNCAN et al., 2013).

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Figura 12: Crostas na base dos cílios com blefarite seborreica.


Fonte: Imrankabirhossain. Wikimedia Commons. ©

A pessoa deve ser alertada sobre a necessidade de tratamento por toda a vida e
que a cura é improvável, sendo possível apenas o controle dos sintomas, na grande
maioria dos casos (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
A base do tratamento está intimamente ligada com a higiene palpebral. Sendo
assim, indica-se:
• Aplicação de compressas mornas sobre as pálpebras por alguns minutos;
• Em seguida, massagem das pálpebras no sentido da margem;
• Limpeza da margem palpebral com lenço sem álcool ou cotonete umedecido;
• Limpeza com uma mistura de água e xampu neutro (no início duas vezes ao
dia e depois diariamente).
Você deve considerar em caso de infecção o uso de colírio ou pomada de antibiótico
associado a corticoide (ex.: sulfato de neomicina, sulfato de polimixina B e
dexametasona, 1,5cm de pomada ou 1 a 2 gotas de colírio até 4 vezes ao dia) por
até 7 a 14 dias, se necessário (DUNCAN et al., 2013). Além disso, para o olho seco
o uso de lágrimas artificiais (1 ou 2 gotas nos olhos afetados sempre que necessário)
(SIMON et al., 2020), e o tratamento das alterações sistêmicas relacionadas devem
ser consideradas.
Aconselhe os pacientes a evitarem o uso de produtos para maquiagem dos olhos.
Estudos sugerem que, com base no tratamento da rosácea ocular, a utilização de
tetraciclinas por via oral traz benefícios para pacientes com blefarite crônica, porém
a dose ideal e a duração do tratamento ainda não estão bem estabelecidas (DUNCAN
et al., 2013).

30
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Encaminhe ao Oftalmologista os casos em que haja incerteza do diagnóstico,


evidência de doença corneana (visão borrada, dor) ou piora da acuidade visual.
Pacientes que apresentem resistência ao tratamento ou assimetria palpebral
significativa também devem ser encaminhados para excluir a presença de neoplasia
da margem palpebral.

1.10 HEMORRAGIA SUBCONJUNTIVAL


Apesar de habitualmente assustar os pacientes, é um quadro benigno, que se
caracteriza pelo acúmulo de sangue sob a conjuntiva. Costuma acontecer em idosos.
Pode ocorrer espontaneamente ou após manobra de Valsalva em situações como
espirros, tosse, vômitos. Está fracamente associado a picos hipertensivos. Em geral,
não cursa com qualquer sintoma e o paciente só percebe quando vê no espelho
ou quando alertado por outra pessoa (GUSSO; LOPES; DIAS 2019).
Você deve fazer o diagnóstico de forma exclusivamente clínica, através da anamnese
e do aspecto observado no exame físico, que costuma ser semelhante ao do exemplo
na imagem abaixo.

Figura 13: Olho com hemorragia subconjuntival.


Fonte: Therealbs2002. Wikimedia Commons. ©

31
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Você não precisa fazer qualquer tipo de investigação com exames complementares,
exceto se o quadro for recorrente, se a hemorragia for extensa ou associada a
outros quadros hemorrágicos sistêmicos, nos quais você deve investigar as provas
de coagulação. Você pode realizar a medida da pressão arterial, para rastrear
quadros hipertensivos.
A sua conduta deve ser expectante, pois costuma ter resolução espontânea entre
uma a duas semanas. É importante que você tranquilize o paciente quanto à
mudança da coloração da hemorragia, decorrente da sua absorção, e sobre a
benignidade do quadro (SIMON et al., 2020). A reavaliação não é obrigatória, mas
pode ajudar a tranquilizar o paciente com as mudanças de coloração da hemorragia
em absorção.
Considere encaminhar se você identificar defeitos de coagulação ou se você não
conseguir visualizar a borda posterior da hemorragia, pois pode estar associada a
hematoma orbitário, trauma penetrante ou fratura de órbita.

Para o esclarecimento e a discussão de casos clínicos, queixas ou altera-


ções de exame físico, uma possibilidade importante e acessível é a Pla-
taforma de Telessaúde RS, que provê um serviço nacional gratuito de
discussão de casos, por meio do telefone 0800 644 6543 e por meio do
link: <https://www.ufrgs.br/telessauders/>. Vale destacar também o
Portal Saúde Baseada em Evidências, uma importante base de informa-
ções para os profissionais da APS: <https://psbe.ufrn.br>.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

FECHAMENTO DA UNIDADE
Encerramos aqui a unidade sobre olho vermelho. Os quadros que levam a essa
condição são bastante frequentes na Atenção Primária à Saúde. Você deve saber
reconhecer e realizar o diagnóstico diferencial, a fim de distinguir essas situações
de modo a identificar os quadros que requerem encaminhamento imediato a
serviços oftalmológicos de urgência, como o glaucoma agudo, as queimaduras e a
iridociclite, dos quadros de manejo local, como a maioria das conjuntivites e os
corpos estranhos.
Sempre que tiver dúvidas em qualquer passo da consulta, é importante discutir
com os pares e buscar informações que possam auxiliar no diagnóstico e na
indicação da abordagem terapêutica. Consulte o Telessaúde RS quando
necessário para esclarecimentos de casos clínicos.
Esperamos que, com esta unidade, você se sinta mais preparado para atender a
sua população adscrita, sentindo que tem mais ferramentas para dar um cuidado
de saúde ocular qualificado para seus pacientes.

33
UNIDADE 02

Perda de acuidade
visual

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Nesta unidade, abordaremos as causas de limitação visual e de perda da visão de
acordo com o tempo de evolução dos sintomas e a importância do exame de fundo
de olho em pacientes sintomáticos e pacientes considerados de risco para perda
da acuidade visual.
Você verá que a Acuidade Visual (AV) pode ser medida mostrando-se objetos de
tamanhos e formas diferentes que se encontram a uma mesma distância do olho
do observador. A forma mais correta para medir a acuidade é utilizando a tabela
de Snellen ou de optótipos nas quais cada linha corresponde a uma fração, que
representa a acuidade visual (DUNCAN et al., 2013).
Essas e outras orientações importantes serão abordadas com a finalidade de
preparar você para atuar diante desses casos na Atenção Primária à Saúde (APS),
de modo que você seja capaz de:

Aplicar a escala de Snellen para medir a acuidade visual e identificar pacientes


com limitação visual;

Classificar as causas de limitação visual e as principais causas de perda da visão


de acordo com o tempo de evolução dos sintomas;

Realizar exame de fundo de olho em pacientes sintomáticos e avaliar pacientes


considerados de risco para perda da acuidade visual.

34
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

A maioria das patologias (ou dos diagnósticos) estudados nesta unidade são quadros
crônicos que demandarão o seguimento conjunto com o especialista focal em
oftalmologia. Lembre-se de incluir o resultado do exame de Snellen no
encaminhamento (folha de referência à atenção secundária).
Aproveite a oportunidade para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto,
de modo que, ao receber indivíduos com limitação visual ou perda da visão, você
se sinta preparado para conduzir de maneira mais oportuna a avaliação de cada
caso. O cuidado desses pacientes necessita que você compartilhe com outros
profissionais o acompanhamento ao longo do tempo, fortalecendo vínculos e
arranjos centrados no usuário.

2.1 ACUIDADE VISUAL


A Acuidade Visual (AV) é o grau de aptidão do olho para distinguir detalhes espaciais
(a forma e o contorno dos objetos). Diversas condições podem causar uma baixa
na acuidade visual que ocorre quando o nível de visão, mesmo com a melhor
correção visual disponível, permanece inferior aos critérios de normalidade
(OTTAIANO et al., 2019).
A forma mais simples de diagnosticar a
limitação da visão é medir a acuidade
visual com a escala de Snellen - um con-
junto de linhas com figuras, letras,
números ou símbolos de forma padro-
nizada, de tamanhos progressivamente
menores, chamados optótipos (DUNCAN
et al., 2013). A tabela com a escala de
Snellen, para alfabetizados e não alfabe-
tizados, pode ser observada na figura
abaixo.

Fonte: Clément Falize. Unsplash.

35
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Figura 14: À esquerda, tabela de Snellen para alfabetizados, à direita, tabela de Snellen para não
alfabetizados (optótipos).
Fonte: NESCON, 2010a e 2010b.

Um paciente apresenta visão normal quando, ao ser colocado frente a uma escala
de Snellen consegue identificar os menores números, letras, figuras ou símbolos
que nela se encontram. Um paciente apresenta limitação da visão quando não
identifica um ou mais números, letras, figuras ou símbolos da escala, sendo tanto
mais acentuada a limitação quanto maiores forem os símbolos percebidos da escala
(DUNCAN et al., 2013). Na figura abaixo, você pode observar uma simulação de
exame de acuidade visual com uso da Tabela de Snellen adaptada.

36
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

3m

Figura 15: Exame da acuidade visual com Tabela de Snellen


adaptada para 3m.
Fonte: Adaptado de Corrêa et al. (2015).

Quanto ao rastreamento em pacientes adultos assintomáticos, embora o uso da


escala de Snellen seja recomendado, ainda não há consenso a respeito da
periodicidade mais adequada para o exame (DUNCAN et al., 2013). O Programa
Saúde na Escola recomenda que os estudantes do ensino fundamental, a partir dos
cinco anos e um mês, e os estudantes do ensino médio, até os dezesseis anos,
realizem a avaliação da saúde ocular pelo menos uma vez por ano (BRASIL, 2016).
A recomendação da USPSTF é de rastreamento em todas crianças de três a cinco
anos (USPSTF, 2017).

Lembre-se!
A tabela de Snellen não é apenas para ser usada em avaliação
de acuidade visual em escolares, deve ser usada em qualquer
consulta em serviços de Atenção Primária à Saúde em que o
médico suspeita de diminuição de acuidade visual (BRASIL, 2012).
O exame pode ser feito também por outros profissionais da
saúde treinados para isso, que serão citados a seguir.

As avaliações devem ser realizadas com maior frequência nos pacientes considerados
de risco: diabéticos, hipertensos, com história familiar de doença ocular (glaucoma,
degeneração macular) ou aqueles que trabalham em ocupações que representam
risco para os olhos (trabalhadores da construção civil, operadores de máquinas da
metalurgia, funcionários da indústria química, mineradores, entre outros) e que
utilizam lentes de contato ou medicamentos com efeitos colaterais oftalmológicos
(DUNCAN et al., 2013).

37
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a avaliação da acuidade


visual pode ser realizada por agentes comunitários de saúde, enfermeiros, auxiliares
de enfermagem, professores, alfabetizadores ou por qualquer outra pessoa, desde
que adequadamente qualificada (CORRÊA et al, 2015). Por isso, capacite sua equipe
e seus professores/alfabetizadores para a aplicação do teste de acuidade visual,
uma forma simples, rápida e com baixo custo para descobrir anomalias da visão.

Para adequada aplicação da técnica, sugerimos a leitura do “Anexo I -


Avaliação da Acuidade Visual a partir da utilização do Teste de Snellen”
da Série Cadernos temáticos do PSE – Saúde Ocular do Ministério da
Saúde, 2016, páginas 19 a 23, disponível em: <http://189.28.128.100/dab/
docs/portaldab/documentos/caderno_saude_ocular.pdf>.

A acuidade visual é medida em formato de fração: o numerador refere-se à distância


que o olho testado consegue enxergar; e o denominador, trata da distância que
um olho normal saudável enxerga. Por exemplo, uma acuidade visual de 20/60
significa que o olho testado vê a 20 pés (6 metros) de distância aquilo que um olho
normal pode ver a 60 pés (18 metros). Assim, quanto maior a diferença entre o
numerador e o denominador, menor a acuidade visual do olho testado.
A partir dos três/quatro anos de idade, a expectativa é que a criança alcance a visão
“normal” do adulto (20/20 ou 6/6). Sendo assim, após a aplicação do teste de Snellen,
de acordo com a classificação internacional para a acuidade visual, considera-se
visão subnormal a partir de 20/60, cegueira legal a partir de 20/200 e cegueira a
partir de 20/400 (CORRÊA et al., 2015). É muito importante que você realize a
descrição do exame desta forma (de acordo com a classificação internacional) para
fins de encaminhamentos à perícia médica/previdenciária, principalmente em locais
com menor disponibilidade de recursos.
Se o paciente não consegue ler a linha correspondente ao maior optótipo, procede-
se de outra forma, pedindo ao paciente para contar os dedos mostrados pelo
examinador a uma distância conhecida e determinada (ex.: quatro metros, três
metros e assim por diante). Caso o paciente não enxergue a mão do examinador,
este deve aproximá-la até a distância em que o paciente consiga ver corretamente
o número de dedos mostrado (CORRÊA et al., 2015).

Para que você possa visualizar melhor como executar a medida da acui-
dade visual, assista ao vídeo “Avaliação da acuidade visual pelo Teste de
Snellen”, disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/
ARES/10608>.

38
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

2.1.1 CAUSAS DE PERDA DA ACUIDADE VISUAL


As causas de limitação de visão podem ser divididas, a princípio, em dois grandes
grupos:

Patologias do globo ocular


Defeitos ópticos
ou das vias ópticas

Geram necessidade de
óculos ou lentes de contato.
Os principais são miopia, Catarata e glaucoma.
hipermetropia,
astigmatismo e presbiopia.

O déficit da visão pode ser dividido em agudo e progressivo, o primeiro sendo uma
urgência oftalmológica. Veja no esquema abaixo as causas mais frequentes:

Causas de perda aguda Causas de perda visual


da acuidade visual progressiva

Perda visual aguda transitória: Ametropia: presença de erros


acomete um ou ambos os olhos, refrativos, que são herdados,
com duração de até 24 horas. envolvem muitas variáveis e não
Tem como causa oclusão vascular necessariamente estão presentes
temporária na circulação nos nascimentos.
intraocular ou córtex visual, Catarata: opacificação do
depressão neuronal cristalino.
pós-enxaqueca ou acidente Glaucoma: dano progressivo do
vascular cerebral. nervo óptico.

Perda visual aguda persistente: Degeneração retiniana:


tem como etiologia distúrbios nos alteração patológica retrogressiva
meios ópticos (córnea, humor da retina.
aquoso, cristalino, humor vítreo),
na retina e nas vias ópticas. Tem Retinopatia hipertensiva e
duração superior a 24 horas e diabética: microangiopatia dos
não é causada por isquemia vasos retinianos.
transitória.

2.2 MIOPIA
Condição de início na infância, desenvolvendo-se de modo gradual até os 30 anos
de idade. Tem importante traço hereditário (DUNCAN et al., 2013). Na miopia, os
olhos são capazes de focar objetos que se encontram perto, mas não conseguem

39
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

visualizar com clareza objetos mais distantes. A imagem forma-se antes do ponto
focal da retina (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como explicitado na imagem abaixo.

Figura 16: Olho míope - acima, formação da imagem “antes” da retina no olho míope e, abaixo,
correção da miopia com uso de lentes côncavas (negativas).
Fonte: Gumenyuk I.S. Wikimedia Commons. ©

Não há necessidade, a princípio, de exame complementar na APS, como os indivíduos


têm dificuldade para enxergar à distância, ler placas de trânsito e dirigir à noite é
comum aproximarem-se dos objetos para vê-los melhor. Franzir a testa e apertar
os olhos também são sinais comuns em pessoas com miopia não corrigida (BRASIL,
2016).
O diagnóstico é baseado na história clínica, avaliação da acuidade visual e refração
(determinação do erro de refração) com o Oftalmologista. A miopia pode ser corrigida
com óculos, lentes de contato e por cirurgia refrativa. Você deve referenciar todos
os pacientes com ametropia a fim de realizarem o teste de refração e receberem
a conduta com o Oftalmologista.

40
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

2.3 HIPERMETROPIA
Condição fisiológica ao nascimento que diminui progressivamente durante a infância.
Graus elevados podem causar limitação e desconforto visuais, e se não puder ser
corrigida pela acomodação (hipertrofia manifesta), será uma das causas de ambliopia
(visão fraca) de privação em crianças, podendo ser bilateral (DUNCAN et al., 2013).
Na hipermetropia olhos são capazes de focar no que se encontra longe, mas não
conseguem visualizar com clareza objetos próximos. A imagem se forma depois
do ponto focal da retina (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como explicitado na figura
abaixo.

Figura 17: Hipermetropia – acima, formação da imagem “atrás” da retina no olho hipermétrope,
abaixo, correção da hipermetropia com uso de lentes convexas (positivas). Imagem formada no
ponto focal na retina.
Fonte: Gumenyuk I.S. Wikimedia Commons. ©

41
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

A hipermetropia é uma causa frequente de esotropia (estrabismo) e ambliopia


monocular. Esotropia é fisiológica quando o bebê e a criança pequena tentam focar
um objeto. Necessita da diferenciação do estrabismo patológico.
Na hipermetropia, a pessoa faz um esforço visual maior para poder enxergar bem
de perto, o que faz com que ela tenha resistência às atividades que exijam visão
para perto (leitura e artesanato, por exemplo), mesmo em crianças e jovens (BRASIL,
2016).
O diagnóstico é baseado na história clínica, avaliação da acuidade visual e refração
(determinação do erro de refração) com o Oftalmologista. A hipermetropia pode
ser corrigida com óculos, lentes de contato e por cirurgia refrativa. Você deve
referenciar todos os pacientes com ametropia a fim de realizarem o teste de refração
e receberem a conduta com o Oftalmologista.

2.4 ASTIGMATISMO
O astigmatismo é a deficiência de acuidade visual provocada em pessoas que
apresentam um formato irregular da córnea ou do cristalino, como pode ser
observado na figura abaixo, o que gera, no olho, vários focos em diferentes eixos,
resultando em graus variáveis de refração e distorção dos objetos.

Figura 18: Olho astigmata: dois focos diferentes de formação de imagem.


Fonte: Gumenyuk I.S. Wikimedia Commons. ©

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Pode causar dificuldade visual tanto para perto quanto para longe, podendo gerar
dificuldades para dirigir em período noturno (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). É a
condição mais frequente em consultórios de oftalmologia, grande parte das pessoas
é portadora de desconfortáveis sintomas, como cefaleia, decorrentes desse vício
de refração não corrigido (DUNCAN et al., 2013).

Lembre-se!
Por apresentar alta frequência, as pessoas com queixas de visão
borrada e cefaleia devem ser investigadas. A identificação
precoce de possíveis alterações da visão é otimizada com
apoio das equipes de APS e de educadores no cotidiano da
escola e é vital para promover a saúde ocular, evitando o
comprometimento visual (BRASIL, 2016).

O diagnóstico é baseado na história clínica, avaliação da acuidade visual e refração


(determinação do erro de refração) com o Oftalmologista. O astigmatismo pode
ser corrigido com óculos, lentes de contato e por cirurgia refrativa. Você deve
referenciar todos os pacientes com ametropia a fim de realizarem o teste de refração
e receberem a conduta com o Oftalmologista.

2.5 PRESBIOPIA
A presbiopia não é considerada um erro de refração, trata-se de uma situação
fisiológica que surge de modo gradual por volta dos 40 anos de idade, independente
do sexo, da profissão ou utilização excessiva dos olhos (DUNCAN et al., 2013; GUSSO;
LOPES; DIAS, 2019).
Ela decorre da perda do poder acomodativo, ou seja, da mudança na forma do
cristalino, através de alteração na sua curvatura e espessura central, modificando
a capacidade de focalizar a imagem no plano retiniano. O paciente se queixa de
dificuldade visual para perto, sobretudo em atividades como ler, escrever ou costurar.
Assim como na hipermetropia ocorre uma dificuldade para enxergar objetos de
perto, contudo essa condição ocorre em pessoas a partir dos 40 anos, devido ao
envelhecimento natural do cristalino do olho. Por ser prevalente, as pessoas
com queixas de visão borrada e cefaleia devem ser investigadas.
O diagnóstico é baseado na história clínica, avaliação da acuidade visual e refração
(determinação do erro de refração) com o Oftalmologista. A correção é feita com
o uso de lentes de óculos (bifocais ou multifocais), ou mesmo com lentes de contato.
Referencie ao Oftalmologista os pacientes que, por volta dos 40 anos de idade ou
mais, relatam dificuldade ou esforço para enxergar para perto.

43
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

2.6 CATARATA
A opacidade do cristalino (lente) é encontrada em 75% das pessoas acima de 65
anos. Na maioria das vezes, não requer tratamento. A catarata resulta da opacificação
da lente associada à perda visual (SIMON et al., 2020). Os sintomas típicos da catarata
incluem visão turva (dificuldade para ler e reconhecer faces), dificuldade para
enxergar à noite, aumento da sensibilidade ocular à luz e presença de halo claro
ao redor de focos de luz (DUNCAN et al., 2013).
Para as pessoas entre 18 e 60 anos e que não fazem parte de nenhum grupo de
risco para doenças oculares, o ideal é ser submetido a uma avaliação com
Oftalmologista a cada dois anos. Enquanto para os idosos (catarata senil), pessoas
com problemas metabólicos (DM, galactosemia, doença de Wilson, hipocalcemia),
usuários de fármacos (corticoide e clorpromazina), fumantes, pessoas com exposição
prolongada à radiação solar (trabalhadores rurais, pescadores e vendedores
ambulantes), vítimas de trauma ocular e as que apresentam afecções oculares
como uveíte, a avaliação deve ser anual (DUNCAN et al., 2013).
O exame dos olhos e da visão pode demonstrar uma diminuição da capacidade
visual pelo teste de acuidade visual (tabela de Snellen ou de optótipos), pupila
branca e teste do reflexo vermelho diminuído na inspeção dos olhos com um foco
de luz, uma pequena lanterna ou mesmo a luz do oftalmoscópio. O aspecto
observado pode ser semelhante ao da figura abaixo.

Figura 19: Olho humano com catarata.


Fonte: Rakesh Ahuja. Wikimedia Commons. ©

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Os únicos tratamentos efetivos para catarata são a remoção do cristalino opaco


por intermédio de técnica cirúrgica e a possibilidade de implante de lentes
intraoculares. A cirurgia é eletiva e sua indicação depende do grau de incapacidade
visual do paciente. O pós-operatório envolve a necessidade do reforço de alguns
conselhos ao paciente, como evitar inclinar-se para frente por algumas semanas e
evitar a realização de exercícios vigorosos (DUNCAN et al., 2013).
Existe também uma forma congênita de catarata que deve ser precocemente
identificada através do teste do reflexo vermelho na primeira consulta de
puericultura ou antes da alta da maternidade e corrigida cirurgicamente, para que
a visão possa desenvolver-se na criança (DUNCAN et al., 2013).
O encaminhamento de pessoas com catarata para o Oftalmologista se justifica
quando há diminuição da acuidade visual (em vistas ao procedimento cirúrgico ou
revisão de grau após procedimento). O acompanhamento da acuidade visual pode
ser realizado na APS por meio da tabela de acuidade visual. Recomenda-se
encaminhamento para oftalmologia (cirúrgica): paciente com diagnóstico de catarata
e com queixa de diminuição da capacidade visual funcional (queixa de diminuição
visual que interfere nas suas atividades da vida diária); ou diminuição da acuidade
visual medida com a tabela de acuidade visual (REGULASUS, 2017a).
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para oftalmologia
geral (REGULASUS, 2017a):
• Paciente com diagnóstico de catarata, previamente operado, com necessidade
de revisão por queixa de diminuição de acuidade visual;
• Paciente com suspeita de catarata (idade acima de 60 anos; queixa de turvação
não-dolorosa e progressiva da visão, em um ou ambos os olhos);
• Perda de reflexo vermelho através da pupila ou obscurecimento dos detalhes
do fundo de olho).

Lembre-se!
A catarata pode ocorrer em adultos não-idosos quando outros
fatores de risco estão presentes, principalmente diabetes, uso
de corticoide sistêmico prolongado ou trauma ocular prévio.

2.7 GLAUCOMA CRÔNICO E CONGÊNITO


Glaucoma é a primeira causa de cegueira irreversível no mundo, correspondendo
a 2% de todos os casos. Trata-se de uma neuropatia óptica, em que a lesão do
nervo resulta em dano progressivo com perda dos axônios das células ganglionares
levando à disfunção da visão e perda do campo visual (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).

45
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Na Atenção Primária, é importante identificar as formas clínicas de apresentação


do glaucoma agudo, crônico e congênito (DUNCAN et al., 2013), deixando para o
Oftalmologista a classificação: glaucoma primário de ângulo aberto, glaucoma de
pressão normal, glaucoma primário de ângulo fechado, glaucoma congênito e
glaucoma secundário.
• O glaucoma agudo que cursa com limitação da visão, olho intensamente
vermelho e dolorido e com pressão intraocular muito elevada já foi abordado
na unidade que tratou sobre olho vermelho.
• No glaucoma crônico, o paciente é assintomático e a limitação da visão inicia-
se por uma restrição do seu campo visual, sendo que a visão central só é
atingida nas etapas mais finais da doença, e é sempre irreversível (DUNCAN
et al., 2013).
• O glaucoma congênito apresenta-se em 1 a cada 10.000 nascidos vivos, mais
frequentemente no sexo masculino, na maior parte das vezes de acometimento
bilateral (SIMON et al., 2020). Caracteriza-se por globos oculares de tamanho
aumentado (buftalmia), fotofobia, blefaroespasmo e lacrimejamento. As
córneas também têm diâmetro aumentado e são pouco transparentes. O
tratamento cirúrgico deve ser instituído imediatamente para normalizar as
cifras tensionais ao nascimento/ao diagnóstico (DUNCAN et al., 2013).
A triagem populacional para glaucoma não se mostrou custo-efetiva nos Estados
Unidos. Ela parece ser mais útil quando focada em populações de risco, como
idosos, pacientes com familiares glaucomatosos e indivíduos latinos e
afrodescendentes. No Brasil, há carência de estudos de custo-efetividade da triagem
para glaucoma (BRASIL, 2019).
A identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o
encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção
Primária um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico
dos casos (BRASIL, 2019).
O diagnóstico do glaucoma é baseado na história familiar do indivíduo, nos sinais
clínicos e nos exames oftalmológicos (PERNAMBUCO, 2013):

Trinometria (Tonometria Exame para medição da pressão intraocular;


de aplanação)

Oftalmoscopia (Fundo Exame para avaliar o fundo do olho, para


de olho) comprovar se existe algum dano no nervo óptico;

Gonioscopia Exame realizado para análise do ângulo entre a


córnea e a íris, útil para detectar e diferenciar os
vários tipos de glaucoma;

46
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Campimetria ou Exame para avaliar se há perda do campo visual.


exploração do campo Esta prova não se realiza rotineiramente, mas é
visual imprescindível para confirmar o diagnóstico e
estabelecer o tratamento adequado. Por isso, deve
ser realizada quando a trinometria ou a
oftalmoscopia dão resultados que levam o
Oftalmologista a suspeitar que a doença está na
sua fase inicial e necessita de confirmar o
diagnóstico.

O objetivo primário do tratamento de glaucoma é a redução da Pressão Intraocular


(PIO). Nos últimos anos, diversos estudos evidenciaram a eficácia dessa conduta
na redução das taxas de progressão da doença (BRASIL, 2019). Os fármacos
antiglaucomatosos mais usados na redução da PIO são tópicos, na forma de colírios,
e subdividem-se em grupos, de acordo com sua estrutura química ou seu mecanismo
de ação (BRASIL, 2019). Todos os medicamentos abaixo constam na Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais - Rename 2020 no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS) (BRASIL, 2020):

Antagonistas beta-bloqueadores adrenérgicos (Maleato de Timolol a 0,25%


e 0,5%, posologia recomendada é 1 gota, 2 vezes ao dia por olho afetado);

Parassimpaticomiméticos (Pilocarpina a 1%, 2% e 4%, a posologia ideal é 1


gota a cada quatro horas);

Agonistas adrenérgicos (Tartarato de Brimonidina a 0,2%, a posologia


recomendada é 1 gota, 3 vezes ao dia por olho afetado);

Inibidores da anidrase carbônica (São fármacos diuréticos, porém utilizados


no tratamento do Glaucoma por reduzirem a formação do humor aquoso do
olho pelo mesmo mecanismo. Acetozolamida 250mg, a posologia diária
recomendada é de 250 a 1000mg por via oral ao dia. Brinzolamida a 1%, a
posologia recomendada é de 1 a 2 gotas, 2 a 3 vezes ao dia por olho afetado.
Dorzolamida a 2%, a posologia recomendada é de 1 a 2 gotas, 3 vezes ao dia por
olho afetado);

Análogos das prostaglandinas (Travoprosta a 0,004%, a posologia recomendada


é 1 gota, 1 vez ao dia por olho afetado, à noite);

47
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Derivados docosanoides: O mecanismo de ação é semelhante ao da Latanoprosta,


aumentando o fluxo de humor aquoso sem alterar sua produção, entretanto,
seu efeito hipotensor ocular é inferior ao observado com essa outra medicação.
Seu efeito redutor de pressão intraocular inicia-se entre 1 e 5 dias e no máximo,
pode ser observado após 3 semanas de uso, devendo ser administrada 1 gota
2 vezes ao dia (pela manhã e à noite) no saco conjuntival do olho afetado;

Agentes hiperosmóticos: São muito úteis quando há uma elevação repentina


na pressão intraocular. As drogas usadas costumeiramente são o Manitol, droga
de uso endovenoso, o Glicerol e a Isossorbida, de uso oral. O isossorbida pode
ser usada em pacientes diabéticos, enquanto Glicerol não, pois sua metabolização
final resulta em glicose. Esses medicamentos são utilizados para o controle
agudo da PIO e raramente usados além de poucos dias.

Os hipotensores oculares são a única opção farmacológica disponível para o


tratamento efetivo do glaucoma e suas complicações. Nas últimas décadas os
avanços no desenvolvimento dessas medicações bem como as opções para a
terapia combinada aumentaram. Essa combinação de antiglaucomatosos tem a
conveniência de trazer a eficácia de dois agentes hipotensores oculares
simultaneamente e aumentar a adesão do paciente ao tratamento.
Como o glaucoma é uma doença incurável e as lesões prévias são irreversíveis, o
tratamento é contínuo, sem duração pré-determinada, o que exige um adequado
acompanhamento oftalmológico e um investimento importante na compreensão
e na adesão do paciente. Quando o tratamento clínico é ineficaz, intolerável ou não
conta com a adesão do paciente, a cirurgia antiglaucomatosa deve ser considerada
para fins de controle da doença.
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para emergência
oftalmológica: suspeita de glaucoma agudo (olho vermelho geralmente unilateral,
dor ocular grave de início abrupto, náuseas e vômitos, olho tenso à palpação)
(REGULASUS, 2017a).
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para
oftalmologia: suspeita (por exemplo, por aumento da pressão intraocular ou
aumento da escavação do disco óptico) ou diagnóstico de glaucoma (REGULASUS,
2017a).

2.8 DOENÇAS RETINIANAS


As doenças que comprometem a retina podem ser próprias deste sítio anatômico
(descolamento de retina, maculopatia senil, retinite pigmentar) ou secundárias a
uma doença sistêmica, na Atenção Primária, destacam-se a retinopatia diabética
e hipertensiva (DUNCAN et al., 2013).

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Na retinopatia diabética as pessoas referem visão embaçada, pontos ou manchas


escuras flutuando na visão; piora da capacidade visual à noite e perda de visão
central ou periférica. Os sintomas da retinopatia hipertensiva, geralmente, só se
desenvolvem no final da doença e incluem visão turva ou defeitos do campo visual.
A retinopatia diabética é uma microangiopatia progressiva, caracterizada por oclusão
e danos aos pequenos vasos sanguíneos. Assim como na retinopatia hipertensiva
sua evolução depende da rapidez de sua instalação, da duração da doença de base
e da idade do indivíduo. Cerca de 80% dos diabéticos com 25 anos de doença vão
ter retinopatia e cerca de 5% das pessoas com 30 anos de doença vão desenvolver
cegueira. É recomendado que pessoas com DM1 sejam avaliadas ou referenciadas
para avaliação oftalmológica (fundoscopia) dentro de 3 anos após o início da doença
e, a partir daí, façam avaliação anual. Aquelas com HAS ou DM2 devem ser
referenciadas para avaliação oftalmológica no momento do diagnóstico e
reexaminadas pelo menos uma vez ao ano (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
O diagnóstico é baseado no histórico do paciente e em sintomas e achados à
oftalmoscopia sob dilatação pupilar. Em pessoas portadoras de diabetes, o exame
de fundo de olho pode apresentar:

Sem retinopatia aparente: Sem alterações;

Retinopatia diabética não proliferativa leve: Microaneurismas


apenas;

Retinopatia diabética não proliferativa moderada: Achados mais


abundantes que na retinopatia não proliferativa leve, e menos
abundantes que na retinopatia não proliferativa grave;

Retinopatia diabética não proliferativa grave: Presença de um dos


seguintes achados: mais de 20 hemorragias retinianas em cada um dos
quatro quadrantes retinianos, ensalsichamento venoso em dois
quadrantes ou microanormalidades vasculares intrarretinianas em um
quadrante;

Retinopatia diabética proliferativa: Presença de neovasos e/ou


hemorragia vítrea ou pré-retiniana.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Na hipertensão, a extensão e a gravidade da retinopatia são geralmente


representadas em uma escala de 1 a 4. A escala é chamada de Sistema de
Classificação Keith – Wagener – Barker. Os quatro graus aumentam em gravidade,
como você pode observar no esquema a seguir:

Pessoas com retinopatia de grau 4 têm um risco maior de acidente vascular cerebral
e podem ter doença renal ou cardíaca associadas.
O tratamento deve ser dirigido à patologia de base e também à microangiopatia
da circulação retiniana.
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para
emergência oftalmológica: diminuição de acuidade visual aguda ou associada à
percepção súbita de sombra ou cortina sobre parte do campo de visão, fotopsia
(flashes luminosos), moscas volantes ou metamorfopsia (percepção irreal de
tortuosidade ou deformação da imagem) (REGULASUS, 2017a).
Condições clínicas que indicam a necessidade de solicitar retinografia na Atenção
Primária à Saúde (seguimento anual após primeira avaliação presencial com
Oftalmologista), considerando a frequência já explanada ou o surgimento de sinais
ou sintomas anormais antes do período em que ocorreria a próxima avaliação
REGULASUS, 2017a):
a) Diagnóstico de retinopatia diabética não proliferativa leve; ou
b) Rastreamento de retinopatia em pacientes com diabetes (DM1 ou DM2).
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para
oftalmologia (REGULASUS, 2017a):

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Rastreamento de retinopatia diabética: rastreamento de retinopatia diabética


em gestantes com DM1 ou DM2, preferencialmente no primeiro trimestre
gestacional (não é necessário encaminhar para rastreamento gestantes com
diabetes gestacional); ou a avaliação inicial de pacientes com DM2 (no momento
do diagnóstico) ou DM1 (em até três anos após o diagnóstico); ou rastreamento
anual de retinopatia diabética em pacientes com DM1 ou DM2 (na impossibilidade
de solicitar retinografia na APS); ou surgimento de sinais ou sintomas anormais
antes do período em que deveria ocorrer a próxima avaliação com o Oftalmologista.

Diagnóstico de retinopatia diabética identificado por retinografia: edema macular


diabético; ou retinopatia proliferativa; ou retinopatia não proliferativa moderada/
grave; ou retinopatia não proliferativa leve na impossibilidade de acompanhar
por retinografia na APS.

Rastreamento de maculopatia em pacientes que utilizam cloroquina/


hidroxicloroquina;

Outras doenças de retina estabelecidas (degeneração macular, descolamento


de retina, oclusão de veia central da retina, entre outros).

Lembre-se!
Todo paciente diabético ou pacientes em uso crônico
de hidroxicloroquina/cloroquina necessitam de rastreamento
para retinopatia, independente de diminuição na acuidade
visual (REGULASUS, 2017a). Caso o paciente não tenha doenças
maculares prévias, sem fatores de risco maiores (doença renal
com taxa de filtração glomerular subnormal ou uso
concomitante de tamoxifeno) e com uma dose de
hidroxicloroquina/cloroquina apropriada, pode ser feito
rastreamento anual até os primeiros cinco anos de uso. O
rastreamento deve ser mais frequente se o paciente usa
doses superiores a 5mg/kg/dia e/ou tem fatores de risco
maiores (MARMOR et al., 2016).
O rastreamento de retinopatia deve ser feito a cada um a dois
anos em pacientes diabéticos (DUNCAN et al., 2022).

51
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

FECHAMENTO DA UNIDADE
A maioria dos pacientes que buscam atendimento por causas oftalmológicas
apresentam uma queixa de piora da capacidade visual ou olho inflamado (olho
vermelho). Por vezes, pode haver associação entre essas duas queixas.
Por essa razão, um correto diagnóstico diferencial, baseado na anamnese, que
caracteriza a instalação e cronologia do quadro, além da existência de fatores de
melhora e piora e fatores desencadeantes são muito importantes para condução
do caso e para oferta de serviços disponíveis na rede de saúde. Os erros de refração
são prevalentes e o acompanhamento e o tratamento por meio do uso de óculos
e lentes de correção têm efeitos importantes na qualidade de vida dos pacientes.
Na próxima unidade você aprenderá sobre as morbidades oftalmológicas mais
frequentes na consulta na Atenção Primária à Saúde.

52
UNIDADE 03

Condições oculares
mais comuns

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Além das queixas de olho vermelho e de acuidade visual, você encontrará pacientes
trazendo demandas sobre algumas outras afecções oculares e visuais bastante
frequentes na APS. Nessas consultas, seu trabalho, como médico na APS é importante,
pois, apesar de, em geral, não serem quadros graves, eles causam desconforto
significativo e sua abordagem terapêutica pode ajudar esses pacientes.
Com a finalidade de preparar você para atuar diante desses casos, esta unidade
abordará os tópicos necessários para que, ao final, você seja capaz de:

Compreender as morbidades oftalmológicas mais frequentes na APS;

Realizar a abordagem diagnóstica e estabelecer o plano terapêutico para as


condições oculares mais comuns;

Identificar os casos que necessitam de referência ao especialista focal


(Oftalmologista).

Aproveite a oportunidade para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto,


de modo que, ao receber indivíduos com condições oculares comuns, como
estrabismo, olho seco, pterígio etc., você se sinta preparado para conduzir cada
caso na APS e realizar os encaminhamentos a outros níveis de atenção, quando
necessário.

53
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

3.1 OLHO SECO


Os sintomas de olho seco atingem uma parcela significativa da população, estando
entre as queixas oculares mais frequentes na Atenção Primária à Saúde. Esses
sintomas atingem principalmente (SIMON et al., 2020):

A população idosa (embora também ocorram em jovens);

Tabagistas;

Pessoas em uso de alguns medicamentos como anti-hipertensivos,


antidepressivos, anticoncepcional oral, diuréticos, anti-histamínicos;

Portadores de doenças sistêmicas, em especial a síndrome de Sjögren;

Exposição a fatores como poluição, ar seco, ar-condicionado, uso de


computador e televisão excessivos;

Pós-operatórios de cirurgias como ceratomileuse local assistida por


laser (LASIK) para correção de erros refrativos (miopia, astigmatismo,
hipermetropia) em virtude de lesão das terminações nervosas
sensoriais da córnea e cirurgias faciais, bem como usuários de lentes de
contato.

É causado por uma disfunção do filme lacrimal, seja pela pouca produção de lágrimas,
seja pelo aumento da evaporação. Seus principais achados são hiperemia conjuntival
leve a moderada, sensação de olho seco, olho “grudando” ou de corpo estranho
ocular, ardência ocular, embaçamento visual ou oscilação na qualidade da visão e
lacrimejamento. Você deve realizar o diagnóstico desta condição de forma clínica,
associando a história clínica com achados típicos de exame físico citados.

54
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Exceto quando você identificar ou suspeitar de olho seco por alguma patologia de
base, como as doenças do tecido conectivo, não solicite qualquer tipo de exame
complementar. Nos casos em que você identificar alguma patologia de base, como
a síndrome de Sjögren, referencie o paciente ao Reumatologista ou ao Oftalmologista
que acompanha a condição para investigação do quadro. Se você tiver familiaridade
com a condição de base, faça a investigação específica necessária.
Utilize lubrificantes oculares tópicos, conhecidos como “lágrimas artificiais” como
tratamento de escolha para esta condição. Estes lubrificantes são soluções que
contém eletrólitos, surfactantes e agentes de diferentes viscosidades, que permitem
recuperar temporariamente a homeostase do filme lacrimal. As diferentes
apresentações existentes no mercado variam entre as substâncias e suas
concentrações, não havendo evidência de superioridade entre elas.
Os dois tipos principais de lubrificantes oculares tópicos são os em gel (mais viscosos)
e os mais líquidos. Os primeiros duram mais tempo em atuação e requerem
reaplicações menos frequentes, porém trazem um borramento visual, temporário
e de resolução rápida e espontânea, logo da aplicação, maior que o outro tipo.
O uso de soluções com vasoconstritores alivia a sintomatologia, porém não as
prescreva de forma crônica devido aos efeitos colaterais locais e sistêmicos que
costumam ocorrer (DUNCAN et al., 2013), como aumento de pressão arterial,
alterações de ritmo cardíaco bem como tolerância em seu uso.
Reavalie o paciente após cerca de quatro semanas, para identificar se houve melhora
do quadro com as medidas terapêuticas tomadas.
Você deve encaminhar os pacientes com esta condição quando suspeitar de
doença subjacente que esteja causando a condição ou quando não apresentarem
qualquer melhora de sintomas após quatro semanas de medidas terapêuticas
(DUNCAN et al., 2013).

3.2 PTERÍGIO
O pterígio é um crescimento fibrovascular da conjuntiva por cima da córnea, em
direção ao seu ápice. Está associado à exposição a climas quentes e com poeira,
através de hiperresponsividade da conjuntiva à radiação ultravioleta e ao
ressecamento. Ocorre mais no lado nasal da córnea, embora possa ocorrer no lado
temporal também (SIMON et al., 2020). Observe nas imagens a seguir aspectos
dessa condição:

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Figura 20: Olho com pterígio. Figura 21: Olho com pterígio invadindo a pupila.
Fonte: Sciencia58. Wikimedia Commons. © Fonte: Jmvaras. Wikimedia Commons. ©

Embora, sejam frequentemente assintomáticos, os principais sintomas do pterígio


se devem à instabilidade no filme lacrimal, como ardência, sensação de corpo
estranho ocular e hiperemia conjuntival, bem como dor ocular, inflamação ou
fotossensibilidade. Ele pode levar ao astigmatismo se ultrapassar a córnea em mais
de 4mm e reduzir acuidade visual, caso acometa o eixo visual.
Esta é mais uma condição em que você realizará o diagnóstico de forma clínica,
associando a história clínica com achados típicos de exame físico. Sendo assim,
você não deve fazer qualquer investigação complementar, exceto quando o pterígio
apresentar características atípicas (aparência gelatinosa ou semitransparente, rápida
alteração da sua configuração), pois é importante que você faça o diagnóstico
diferencial de carcinoma in situ.
A principal medida terapêutica que você deve tomar é sintomática, com o uso de
colírios lubrificantes. Você pode precisar usar corticoides ou Anti-inflamatórios Não
Esteroidais (AINES) tópicos na presença de inflamação. No entanto, você deve utilizá-
los de forma parcimoniosa, pois os corticoides podem causar catarata, aumento
da pressão ocular e os AINES, ceratite, respectivamente. Oriente o uso de óculos
de sol, pois ajuda a prevenir aumento da lesão (DUNCAN et al., 2013). Também
pode ser removida cirurgicamente em lesões maiores que 4mm, quando cobrir a
pupila, quando houver perda visual (SIMON et al., 2020; GUSSO; LOPES; DIAS, 2019)
ou por decisão estética do paciente. Nestes casos, você deverá encaminhar ao
Oftalmologista. Reavalie o paciente pelo menos um mês após o tratamento
sintomático para avaliar melhora ou resolução dos sintomas.
Você deve encaminhar o paciente com pterígio quando associado a diminuição de
acuidade visual (REGULASUS, 2017a), ele apresentar lesão maior que 4 mm ou
quando não há melhora sintomática com o tratamento clínico. A remoção
cirúrgica simples, no entanto, está associada à alta taxa de recidiva.
Alternativas como radioterapia adjuvante pós-cirúrgica, uso de agentes
quimioterápicos como a mitomicina C, têm menores taxas de recidiva, porém com
riscos significativos como o desenvolvimento de esclerite necrotizante,
endoftalmite, escleroceratite, esclerite e escleromalácias.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

3.3 PTOSE PALPEBRAL


Também chamada de blefaroptose, este quadro se caracteriza quando uma ou
ambas as pálpebras superiores assumem uma posição anomalamente baixa, como
na figura abaixo (habitualmente, ficam 2mm acima do limbo, que é uma zona de
transição em forma de anel, de aproximadamente 1mm de largura, entre a córnea,
a conjuntiva bulbar e a esclera).

Figura 22: Olho com ptose palpebral congênita.


Fonte: Andrewya. Wikimedia Commons.

Frequentemente, a ptose palpebral é somente um problema estético, mas pode


causar problemas visuais importantes, quando cobre o eixo visual. Além da própria
ptose, os outros sintomas vão depender do tipo e da causa da ptose (SIMON et al.,
2020).
Você pode classificá-las em quatro tipos (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019):

Miogênica, como na malformação Aponeurótica, como na ptose


do músculo elevador da pálpebra senil ou no uso prolongado de
superior e na miastenia grave. lentes de contato.

Neurogênica, na lesão do nervo Mecânica, como na presença de


oculomotor ou na síndrome de neoplasia ou cicatriz ou nervos
Horner. não neoplásicos volumosos.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Você deve fazer o diagnóstico da condição de forma clínica e o diagnóstico etiológico


é corroborado pelos dados da anamnese e do exame físico.

Lembre-se!
Na anamnese, é importante que você questione se a condição
está presente desde o nascimento ou se surgiu aguda ou
cronicamente. Outros dados importantes que você deve
perguntar são: o fato de piorar com o passar do dia ou com o
cansaço (podendo indicar miastenia grave), associação com
diplopia ou cefaleia, antecedente pessoal de trauma ou cirurgia
ocular, uso de lentes de contato e história familiar de ptose.

Ao exame físico, é importante que você verifique a presença da ptose: peça para
o paciente olhar para baixo o máximo que puder, sem movimentar a cabeça, em
seguida, para cima, o máximo que puder. A margem inferior da pálpebra superior
deve mover-se mais que 8mm. Em casos de ptose grave, a pálpebra superior move-se
menos que 4mm. Outro dado importante é o reflexo pupilar: se dilatada, pode ser
devido à paralisia do nervo oculomotor (de causa central ou periférica) e você deve
referenciar ao Oftalmologista com urgência para descartar presença de hemorragia,
aneurisma ou neoplasia. Se a pupila estiver miótica, investigue a síndrome de Horner
(DENNISTON; MURRAY, 2018).
O tratamento vai depender da causa subjacente à ptose. A miastenia grave tem
tratamento clínico indicado. Na maioria das situações, o tratamento é cirúrgico.
Idealmente este deve ser adiado o máximo possível (especialmente em crianças)
para melhor resultado estético. No entanto, não demore em encaminhar quando
a ptose palpebral levar à obstrução do eixo visual, que pode levar à ambliopia.
A toxina botulínica, bem como o preenchimento com ácido hialurônico são utilizados
na dermatologia para suspensão do olhar cansado, no caso de alguns tipos de
ptoses palpebrais por flacidez, arqueando-se a sobrancelha, através da aplicação,
para que as pálpebras sejam tracionadas para cima. No entanto, a toxina botulínica
pode causar ptose palpebral como efeito adverso de uma aplicação incorreta,
devendo o procedimento ser realizado com cautela.
A maior parte dos casos de ptose palpebral vão necessitar de sua referência
ao Oftalmologista, já que são de correção cirúrgica, como na malformação do
músculo elevador da pálpebra superior, na ptose senil, no uso prolongado de lentes
de contato e nas causas mecânicas. A miastenia grave é de tratamento clínico, em
geral em regime de internação hospitalar. No caso de suspeita de paralisia do nervo
oculomotor, deve ocorrer com urgência. No entanto, em todos os casos o seu
acompanhamento conjunto na APS é fundamental para realizar a coordenação do
cuidado.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

3.4 HORDÉOLO E CALÁZIO


O hordéolo, popularmente conhecido como terçol, é a infecção aguda das
glândulas palpebrais (tanto as internas – glândulas de Meibomius –, quanto as
externas – glândulas de Zeis ou de Moll). Você encontrará como principais achados
eritema, dor e edema da pálpebra acometida.
O calázio é um cisto retido nas glândulas de Meibomius formado após um
hordéolo interno. Costuma ser composto de material sebáceo e não apresenta
mais sinais de inflamação aguda. Seus sintomas dependem do tamanho e da
localização (DENNISTON; MURRAY, 2018).
Essas são condições de diagnóstico clínico, que você deve associar à história com
achados típicos de exame físico, sendo assim não deve solicitar qualquer investigação
complementar para hordéolo ou calázio na APS. O aspecto observado pode ser
semelhante ao das imagens abaixo.

Figura 23: Olho com hordéolo. Figura 24: Olho com calázio.
Fonte: Imrankabirhossain. Wikimedia Fonte: Jordan M. Graff. Wikimedia Commons. ©
Commons. ©

Para o tratamento do hordéolo, tanto interno quanto externo, oriente o uso de


compressas mornas. O uso de antibióticos tópicos é frequente, porém, sua eficácia
é controversa, sendo assim, não os utilize. O quadro pode demorar de um a três
semanas para a resolução completa. Prescreva o uso de xampu infantil em associação
com água morna para a desobstrução e resolução do quadro.
Para o tratamento do calázio, pode haver resolução espontânea, porém é pouco
frequente. Na ausência de sinais inflamatórios, a orientação de uso de compressa
quente costuma ser pouco efetiva, e o tratamento deve ser cirúrgico, caso o quadro
não se resolva espontaneamente. Caso o cisto se cronifique, referencie ao
Oftalmologista para tratamento cirúrgico ou com injeção de corticoide intralesional
(DUNCAN et al., 2013).

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Encaminhe o paciente ao Oftalmologista quando estiver indicado o tratamento


cirúrgico ou a injeção de corticoide intralesional para resolução do calázio. Também
considere encaminhamento na suspeita de celulite pré-septal ou orbital ou na
presença de movimento ocular reduzido e redução da acuidade visual. A suspeita
de neoplasia, com alteração das glândulas com aparência atípica deve ser
referenciada. A recorrência de calázio no mesmo lugar também pode gerar
encaminhamento (DUNCAN et al., 2013; SIMON et al., 2020). No entanto, a recorrência
no mesmo lugar é um fato comum e o paciente que você instruir adequadamente
e com boa capacidade cognitiva deve ser estimulado a gerir seu autocuidado nas
recorrências e retornar para avaliação, caso alguma situação diferente dos episódios
anteriores se apresente, podendo evitar encaminhamentos desnecessários.

3.5 ESTRABISMO
Trata-se de uma anormalidade do alinhamento coordenado dos dois olhos. Está
associado à falha da coordenação da movimentação ocular. Costuma acometer
crianças, mas também pode acometer adultos. Quanto mais jovem na identificação,
mais benigna costuma ser a causa de base (SIMON et al., 2020). Os principais fatores
de risco são (DENNISTON; MURRAY, 2018):

História familiar de estrabismo. Doenças neurológicas.

Hipermetropia. Catarata.

Síndromes genéticas como Down e Retinoblastoma e anormalidades


Turner. craniofaciais.

Pode ocorrer por falha de alinhamento de um ou de ambos os olhos, como pode


ser observado na imagem abaixo, podendo ser classificado como esotropia, quando
a direção dos olhos converge e como exotropia, quando a direção dos olhos é
divergente.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Figura 25: Estrabismo divergente ou exotropia.


Fonte: KLN55. Wikimedia Commons. ©

É mais uma condição que você deve realizar diagnóstico clínico na APS. Para isto, é
importante que você faça uma história clínica e completa, buscando identificar
possíveis causas e fatores associados, como o histórico familiar: tempo de início,
mudança de padrão, diminuição da acuidade visual, a presença de erros refrativos,
sinais de alterações de sistema nervoso central (que possam justificar a presença de
neoplasia). Você deve realizar o exame físico completo e não só focado nos olhos e na
visão. Verifique alterações de dismorfismo corporal, especialmente na região de cabeça
e olhos. No exame ocular, avalie a acuidade visual, a motilidade ocular e descarte a
presença de diplopia (DENNISTON; MURRAY, 2018).
Em crianças a partir de seis meses, você deve investigar clinicamente o estrabismo na
APS e encaminhar ao serviço de referência oftalmológica para diagnóstico etiológico
e tratamento. Antes desta idade, é comum haver um estrabismo fisiológico na criança.
Você deve realizar rastreamento de estrabismo durante toda a puericultura (DUNCAN et
al., 2013), pois pode cursar com perda irreversível de acuidade visual se não
abordado em tempo oportuno e pode trazer questões psicossociais ao paciente
ligadas à estética.
Para isso, você deve realizar o teste de Hirshberg para diferenciar estrabismo
patológico do pseudoestrabismo, comum em crianças devido epicanto (REGULASUS,
2017b).
Você não precisará de exames complementares para o diagnóstico, no entanto, estes
podem ser úteis para investigar caso suspeite de uma etiologia específica.
O tratamento de qualquer causa de estrabismo deve ser feito pelo Oftalmologista,
sendo imprescindível que você encaminhe o paciente para outro nível de atenção. No
entanto, a discussão com o paciente e a família sobre as consequências do quadro,
especialmente as psicossociais é um papel fundamental que você deve cumprir.
Em crianças menores de seis meses de idade, o estrabismo pode ocorrer de forma
fisiológica. No entanto, deve se resolver espontaneamente até que a criança complete seis
meses de idade (DUNCAN et al., 2013). A partir dos seis meses, encaminhe todo paciente
ao Oftalmologista.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

3.6 FOTOFOBIA

Fotofobia é a sensibilidade exagerada ou


intolerância à luz. Pode ocorrer devido à luz
natural ou artificial. Trata-se de um sintoma, e
não de uma doença.
Embora algumas pessoas possam apresentar
fotofobia de forma espontânea, em geral, está
associada a uma série de problemas oculares
como: olhos secos, doenças da córnea, uveíte,
blefarite, conjuntivite, inflamação da íris, doenças
da retina, glaucoma (SIMON et al., 2020); bem
como ao pós-operatório de cirurgias refrativas.
Além disso, pode estar associada a causas
extraoculares, como enxaqueca, meningite,
albinismo, rinite alérgica (DUNCAN et al.,
2013).
Outro fator mais recente que pode desenvolver fotofobia é a condição denominada
síndrome da visão do computador (do inglês, computer vision syndrome). Definida
pela Associação Americana de Optometria, a síndrome se caracteriza por problemas
extraoculares, como rigidez e dor cervical, problemas da superfície ocular como
lacrimejamento e secura ocular, e problemas de acomodação visual como visão
borrada e fotofobia. Esta síndrome está associada ao uso prolongado de telas como
computador, tablets e celulares (AMERICAN OPTOMETRIC ASSOCIATION, [s.d]).
Para realizar o diagnóstico dessa condição você deve utilizar a história clínica trazida
pelo paciente. Questione e investigue os diagnósticos diferenciais através da história
e do exame físico. Você deve usar exames complementares para a investigação
dos diagnósticos diferenciais que podem causar a fotofobia.
Além do tratamento da causa de base, o único tratamento possível é que você
oriente a proteção ocular com o uso de óculos escuros ou redução de iluminação,
nos locais onde isso for possível, incluindo em telas de televisão e computador, ou
mesmo em uso de celulares. Nestes, oriente a existência da opção de usar aplicativos
que filtram a luz azul e permitem o uso das telas em modo noturno. Além disso,
sempre que possível restrinja ou diminua o tempo de exposição às telas, em especial
para crianças (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019).
O sintoma em si não requer encaminhamento ao Oftalmologista. No entanto, para
a investigação das causas etiológicas, bem como para o tratamento delas, você
pode precisar encaminhar o paciente para outros níveis de atenção da rede.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

FECHAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade discutimos diversos problemas de olhos e visão que são bastante
prevalentes na Atenção Primária à Saúde: a queixa de olho vermelho, a perda de
acuidade visual e outros problemas oculares, como a ptose palpebral, o hordéolo
e calázio, a fotofobia, o estrabismo, o pterígio e o olho seco. Essas condições
habitualmente não trazem riscos significativos à saúde, porém podem causar
desconfortos importantes à vida das pessoas acometidas por elas. No entanto,
especialmente na queixa de olho vermelho, você deve ser capaz de identificar
aquelas que podem trazer risco à saúde visual do paciente.
Com esta unidade, esperamos que você se sinta mais preparado para conseguir
identificar, conduzir e referenciar, quando necessário, os quadros visuais e oculares,
provendo, assim, um cuidado mais qualificado aos seus pacientes.
É importante lembrar que, quando houver a necessidade de encaminhamento para
outro nível de atenção, seja oftalmologia de urgência ou ambulatorial, o médico
de família e comunidade deve realizar um relatório adequado da situação clínica,
com um relato sucinto, porém completo, da anamnese, os dados de exame físico,
geral e específico de olhos e visão que colheu e que serão importantes ao médico
que avaliará o paciente, incluindo avaliação de acuidade visual por Snellen ou
fundoscopia, quando forem importantes. Uma ficha de encaminhamento completa
e adequadamente preenchida coopera significativamente com a coordenação do
cuidado do paciente, facilitando seu cuidado no outro nível de atenção.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Encerramento
Caro profissional estudante,
Chegamos ao final do módulo de Abordagem a Problemas de Olhos e Visão!
Nesse módulo, você pôde reconhecer os problemas mais frequentes e relevantes
ligados aos olhos e à visão no contexto da Atenção Primária à Saúde, de modo que
agora deve estar mais bem preparado para analisar essas situações e determinar
os procedimentos adequados para cada caso.
Você percebeu que é possível diagnosticar e tratar na APS as doenças que afetam
os olhos e a visão, reconhecer as principais causas de olho vermelho e identificar
os casos que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista.
A correta avaliação pelo médico do serviço de Atenção Primária evita
encaminhamentos desnecessários e agiliza casos urgentes. E é aí que reside a
importância do estudo continuado e da vontade de ser cada vez mais resolutivo
em suas ações assistenciais.
Assim, esperamos que você continue se aprofundando nos temas aqui abordados
para que tenha cada vez mais capacidade e segurança na abordagem aos problemas
de olhos e visão.
Como resultado, esperamos que essa etapa do curso possa contribuir para
disponibilização de um cuidado mais efetivo à população do seu território.
Continue seus estudos nos próximos módulos a fim de aprimorar suas competências
para lidar com as condições mais prevalentes na APS.
Agradecemos a sua participação.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na
Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Cadernos
temáticos do PSE – Saúde Ocular. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde
(CONITEC). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Glaucoma. Brasília, DF:
2019. Disponível em: <http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2018/Relatorio_PCDT_
Glaucoma.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2020.
CORRÊA, Edison José; BOTEON, Joel Edmur; MOLINARI, Luiz Carlos; MOREIRA, Angela;
OLIVEIRA, Bruno de Morais. Avaliação ocular de crianças e adolescentes na atenção
básica à saúde. In: GUSMAO, C. M. G. et al. II Relato de experiências em tecnologias
educacionais do Sistema UNA-SUS 2015. 22. ed. Recife, PE: Editora Universitária
UFPE, p.196 - 211, 2015. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/
biblioteca/imagem/avalia%C3%A7ao_ocular_crian%C3%A7a.pdf>. Acesso em: 01
nov. 2020.
DENNISTON, Alastair K. O.; MURRAY, Philip I. Oxford Handbook of Ophtalmology.
3 ed. Oxford: Oxford University Press, 2018.
DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I,; GIUGLIANI, E. R. J.; DUNCAN, M. S.; GIUGLIANI, C.
(Orgs.). Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em
Evidências. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I,; GIUGLIANI, E. R. J.; DUNCAN, M. S.; GIUGLIANI, C.
(Orgs.). Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em
Evidências. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. 2 v.
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M. C.; DIAS, Lêda C. (Orgs.). Tratado de Medicina de
Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2019,
2388 p.
NESCON - Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. Tabela para avaliação da
acuidade visual - 3, 2010a. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.
br/arquivos/teste-snellen3.png>. Acesso em: 01 nov. 2020.
NESCON - Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. Tabela para avaliação da
acuidade visual - 2, 2010b. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.
br/biblioteca/imagem/teste-snellen_2.pdf. Acesso em: 01 nov. 2020.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

OTTAIANO, José Augusto Alves; de ÁVILA, Marcos Pereira; UMBELINO, Cristiano


Caixeta; TALEB, Alexandre Chater. As Condições de Saúde Ocular no Brasil. 1a ed. São
Paulo: Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2019, 102p.
PERNAMBUCO. Secretaria Executiva de Assistência à Saúde. Gerência de Assistência
Farmacêutica. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Glaucoma, 2013.
Disponível em: <https://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340495619PCDT%
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PERNAMBUCO. Secretaria Executiva de Assistência à Saúde. Gerência de
Assistência Farmacêutica. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Glaucoma, 2013.
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REGULASUS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Protocolos
de Encaminhamento para Oftalmologia Adulto, 2017a. Disponível em:
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REGULASUS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Protocolos
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https://www.ufrgs.br/telessauders/documentos/protocolos_resumos/
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SECKER, G. A.; DANIELS, J. T. Limbal epithelial stem cells of the cornea. StemBook,
ed. The Stem Cell Research Community, StemBook,
2009.doi/10.3824/stembook.1.48.1. Disponível em: <https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Chemical_ burn_injury.jpg>.
SIMON, Chantel; EVERITT, Hazel; VAN DORP, Francoise; HUSSAIN,
Nazia; NASH, Emma; PEET, Danielle. Oxford Handbook of General Practice. 5 ed.
Oxford: Oxford University Press, 2020.
TELESSAÚDE-RS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul. Quais as causas
e como tratar a conjuntivite neonatal? 2020. Disponível em:
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US Preventive Services Task Force (USPSTF). Vision Screening in Children Aged
6 Months to 5 Years: US Preventive Services Task Force Recommendation
Statement. JAMA, 318 (9): 836–844, 2017. Disponível em: https://
doi.org/10.1001/jama.2017.11260. Acesso em: 04 abr. 2023.

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EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão

Biografia dos
conteudistas
Carlos Frederico Confort Campos

Médico de família e comunidade formado pela USP-SP, doutorando em Ciências


Médicas – Educação e Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, fellow de pesquisa no Clinical Skills Centre da Universidade de Auckland,
Nova Zelândia.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0797220905549025

Mannasses Araujo Costa

Médico de família e comunidade e especialista em Medicina de Tráfego, mestre


em Saúde da Família pela ABRASCO e Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Maranhão.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9681393156046742

67
Programa Médicos pelo Brasil
EIXO 4 |ATENÇÃO À SAÚDE

MÓDULO 24

Abordagem a problemas de
olhos e visão

REALIZAÇÃO
Ministério da Saúde.Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
2021

68

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