Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MÓDULO 24
Abordagem a
problemas
de olhos e
visão
1
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
MÓDULO 24
Abordagem a
problemas de
olhos e visão
Ministério da Saúde
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
2021
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Instituições patrocinadoras:
Ministério da Saúde
B823a
Inclui referências.
ISBN: 978-65-88309-14-8
CDU 610
3
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Ficha Técnica
©2021. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo
Cruz. Universidade Federal do Maranhão.
Referência Bibliográfica
MINISTÉRIO DA SAÚDE. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Abordagem a problemas
de olhos e visão [módulo 24]. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Médicos pelo Brasil.
Eixo 4: Atenção à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 68 p.
Ministério da Saúde
Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes | Ministro
Coordenação da UNA-SUS/UFMA
Ana Emília Figueiredo de Oliveira | Coordenadora
5
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Créditos
Revisor Técnico-Científico UNA-SUS
Ana Paula Borges Carrijo
Paula Zeni Miessa Lawall
Rodrigo Luciano Bandeira de Lima
Rodrigo Pastor Alves Pereira
Conteudista
Carlos Frederico Confort Campos
Mannasses Araujo Costa
Edição Textual
Talita Guimarães Santos Sousa
Camila Cantanhede Vieira
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
7
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Sumário
Apresentação 10
1. Olhos vermelhos 11
Introdução da unidade 11
1.1 Avaliação dos olhos e visão 12
1.2 Olho vermelho 18
1.3 Conjuntivites 18
1.4 Glaucoma agudo 22
1.5 Iridociclite 23
1.6 Queimaduras: física e química 24
1.7 Corpo estranho 26
1.8 Erosão da córnea 28
1.9 Blefarite 29
1.10 Hemorragia subconjuntival 31
Fechamento da unidade 33
3.5 Estrabismo 60
3.6 Fotofobia 62
Fechamento da unidade 63
Encerramento 64
Referências 65
Biografia dos conteudistas 67
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Apresentação
Caro profissional estudante,
Seja bem-vindo ao módulo de Abordagem a Problemas de Olhos e Visão.
A visão é um dos principais sentidos do ser humano. Por consequência, demanda
atendimento de qualidade, cuidado e atenção desde o primeiro contato com os
serviços de saúde. Este livro aborda o tema dos problemas de olhos e visão.
A compreensão e o manejo das principais causas de perda da acuidade visual, pro-
cessos inflamatórios e infecciosos e o manejo das principais urgências oftalmoló-
gicas configuram-se como uma estratégia de promoção de saúde pública, uma vez
que pode proporcionar um melhor preparo da formação médica no primeiro nível
de atenção à saúde.
Dessa forma, esperamos que você tenha um bom estudo e que este livro contri-
bua para que você consiga prestar um cuidado cada vez melhor para a população
pela qual é responsável, ao lidar com os motivos de consulta relacionados aos olhos
e à visão.
Ao final do módulo, você deverá ser capaz de:
• Diagnosticar e tratar na APS as doenças que afetam a córnea, a conjuntiva, a
íris ou o corpo ciliar, principais causas de hiperemia da conjuntiva que se ex-
pressam por olho vermelho, além de identificar os casos agudos (de urgência
ou emergência) ou crônicos que necessitam de referência ao especialista focal;
• Avaliar a acuidade visual com a escala de Snellen e com o teste do reflexo ver-
melho através do oftalmoscópio, identificando as causas de limitação da visão
aguda e progressiva, com foco nos defeitos refrativos e nas patologias do
globo ocular ou das vias ópticas e os casos agudos (de urgência ou emergên-
cia) ou crônicos que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista;
• Tratar as doenças oculares comuns na APS, como as que cursam com resse-
camento ocular, infecções e posicionamento anormal das pálpebras, cresci-
mento fibrovascular da conjuntiva, identificando os casos de urgência ou
emergência que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista.
Para estudar e apreender as informações e os conceitos abordados, bem como
trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, está prevista uma carga horária de
15 horas para este módulo.
10
UNIDADE 01
Olhos vermelhos
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
A queixa de olho vermelho é uma das mais comuns que você encontrará em
consultas sobre problemas oculares na APS. Isto porque ela compreende uma
grande variedade de diagnósticos. E estes diagnósticos variam de afecções simples
como conjuntivites e blefarites a quadros graves, com risco de perda de função
visual como o glaucoma agudo e as queimaduras físicas e químicas.
Sua atuação como médico na APS permitirá a identificação precoce dos problemas
relacionados ao olho vermelho. Com isso, você poderá realizar o diagnóstico
diferencial e instituir o tratamento necessário, realizando o encaminhamento
precoce aos serviços de urgência, quando for importante.
Com a finalidade de preparar você para essa atuação, esta unidade abordará os
tópicos necessários para que, ao final, você seja capaz de:
11
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
12
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Ao realizar o exame físico, além do exame físico geral, que deve ser realizado em
algumas situações (a serem discutidas adiante), lembre-se das etapas específicas do
exame de olhos e visão, que são: inspeção de olhos e anexos (ectoscopia), palpação,
motilidade ocular, reflexos pupilares, campimetria de confrontação, acuidade visual e
fundoscopia. A seguir, leia sobre cada uma dessas etapas.
13
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Na inspeção, também chamada de ectoscopia, você deve ter a atenção voltada para alterações
visíveis nas regiões de órbitas, pálpebras, cílios, supercílios, olhos; você poderá utilizar com
iluminação ambiente ou o auxílio de luzes auxiliares, como lanternas. É importante que você
observe a posição dos olhos em relação à órbita e entre si, bem como seu alinhamento. Além
disso, deve ser observada a conjuntiva, a esclera, a córnea e a íris. É importante observar a presença
de hiperemia, sangramentos, corpos estranhos, perfurações (somente as mais grosseiras vão ser
visíveis à ectoscopia), ou mesmo pus e herniação de elementos internos como a íris.
Palpação
Você deve palpar a região periorbitária, buscando alterações físicas, como massas, crepitações,
enfisema de subcutâneo; esta etapa é mais significativa em traumas.
Você deve avaliar a capacidade de movimentação dos olhos, sem o paciente movimentar a cabeça.
Peça que o paciente fixe a visão em um objeto, que pode ser uma caneta ou o seu dedo e diga
para ele seguir o objeto com os olhos, sem mover a cabeça. Mova o objeto em todas as direções,
em geral em forma de H, para testar a função da musculatura extrínseca dos olhos. Além disso, é
importante que você avalie se os olhos se movem coordenada e simetricamente.
Aqui você deve avaliar a função dos músculos internos dos olhos através dos reflexos pupilares.
Inicialmente, verifique se as duas pupilas são simétricas em tamanho (pode haver uma pequena
diferença fisiológica entre elas, mas em geral, possuem tamanhos semelhantes). A seguir, em um
ambiente idealmente mais escuro, ilumine um dos olhos com uma lanterna e observe a reação
de ambas as pupilas. O reflexo fotomotor direto normal se dá com a contração da pupila iluminada,
e o reflexo fotomotor consensual normal, com a contração da outra pupila. Ao remover a fonte
de luz, ambas as pupilas devem se dilatar.
Campimetria de confrontação
Esta avaliação serve para que você verifique qual é a amplitude a qual chega a visão do paciente.
Neste exame, estando distante um metro do paciente, peça que ele tampe um dos olhos com as
mãos em cuia (para não pressionar o olho) e fique na frente dele, com o olho “invertido” tampado
(por exemplo, se o paciente tampar seu olho esquerdo, tampe seu olho direito). Vocês devem estar
com os olhos na mesma altura, em geral, sentados. Com a outra mão em uma distância média
entre ambos, movimente a mão ou os dedos nos quatro quadrantes, buscando identificar algum
local em que você enxergue e o paciente não. O paciente deve identificar o movimento da sua
mão em cada quadrante.
14
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Acuidade visual
Essa medida é utilizada para avaliar a capacidade do paciente diferenciar detalhes espaciais. Você
deve buscar por indícios de perda desta capacidade, por meio da Escala de Snellen. Será discutida
com detalhes adiante neste livro.
Fundoscopia
Este exame serve para avaliar o nervo óptico e a mácula. Para ser realizado, você precisará de um
oftalmoscópio direto. Você deve estar com os olhos na mesma altura dos olhos do paciente e
deverá utilizar o olho do mesmo lado ao qual vai avaliar o paciente (por exemplo, para examinar
o olho esquerdo do paciente, use seu olho esquerdo). Para buscar o nervo óptico, você deve se
lembrar que este fica em posição medial. Para avaliar a mácula, peça que o paciente olhe para a
luz, pois é com a mácula que o paciente “enxerga”. Além destes, avalie os vasos e possíveis alterações
nestes, como exsudatos e tortuosidade.
Observe nos vídeos abaixo mais detalhes sobre como realizar alguns
desses exames.
- Veja como executar a campimetria de confrontação no vídeo
“Campimetria por confrontação”. Disponível em: <https://ares.unasus.gov.
br/acervo/handle/ARES/1952>.
- Veja como executar a fundoscopia no vídeo “Oftalmoscopia direta”.
Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/2039>.
Para que você consiga executar esses exames e outros procedimentos na Atenção
Primária à Saúde (APS), é importante, ao chegar na sua unidade de saúde, que você
se certifique se estão disponíveis os materiais e insumos mínimos para realizar um
bom trabalho quando se deparar com condições oculares e visuais. Os materiais
encontram-se no quadro a seguir:
15
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Além desses materiais, é fundamental que você tenha acesso a um “kit básico” de
medicamentos que possa utilizar, conforme disposto no quadro a seguir:
16
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
17
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Caso você não disponha de algum desses itens, entre em contato com a gestão da
unidade de saúde, bem como com a secretária local de saúde, para solicitá-los.
1.3 CONJUNTIVITES
Conjuntivite é o processo inflamatório da conjuntiva. Você deve avaliar se é
secundário a um quadro infeccioso, seja ele viral ou bacteriano; ou a uma reação
alérgica, localizada nos olhos.
As conjuntivites costumam cursar com hiperemia conjuntival, sensação de corpo
estranho ocular, edema palpebral, lacrimejamento, prurido e, menos frequentemente,
fotofobia e embaçamento visual. Atente-se à secreção ocular, pois ela costuma
denotar o tipo de agente causador:
• Hialina (alérgica);
• Serosa (viral);
• Mucopurulenta (bacteriana).
Os quadros virais costumam vir acompanhados de linfadenomegalia pré-auricular
e folículos subpalpebrais. Não realize investigação com qualquer tipo de exame,
dado que esta condição é pouco grave e habitualmente autolimitada. Assim, você
deve realizar o diagnóstico de forma clínica, observando as características como
as das imagens abaixo.
18
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
19
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
No caso dos quadros infecciosos, é importante que você oriente e a família sobre a
higiene das mãos, dos olhos e dos produtos de uso pessoal. O uso de lente de
contato deve ser interrompido até a resolução de sintomas/sinais de doença
infecciosa ocular (DUNCAN et al., 2022).
Oriente que os olhos devem ser lavados com água limpa com o uso de um pano limpo
e que não deixe fragmentos à limpeza, como panos de algodão; explique que pode
ser utilizada uma gaze para a limpeza também. Indique o uso de água mais fria, pois
ela pode aliviar os quadros que cursam com prurido e sensação de corpo estranho.
20
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Oriente que os olhos devem ser lavados com água limpa com o uso de um pano limpo
e que não deixe fragmentos à limpeza, como panos de algodão; explique que pode
ser utilizada uma gaze para a limpeza também. Indique o uso de água mais fria, pois
ela pode aliviar os quadros que cursam com prurido e sensação de corpo estranho.
Lembre-se!
Considerando o aumento da prevalência de bactérias resistentes
a antibióticos, é importante ser muito criterioso ao se indicar
antibioticoterapia para quadros de conjuntivite infecciosa.
Nos quadros alérgicos, além das medidas já explicitadas, é importante que você afaste
o alérgeno (caso identi icado). Quanto ao tratamento medicamentoso, considere
vasoconstritores tópicos, como a nafazolina por no máximo dois dias, anti-histamínicos
orais ou tópicos, como a olopatadina ou o cromoglicato de sódio (lembrando que
estes medicamentos são contra indicados em pacientes com glaucoma de ângulo
fechado) (DUNCAN et al., 2022).
É importante que você reavalie o paciente após sete dias do início do tratamento, para
identificar se houve resolução dos sintomas.
Com relação aos critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção, está
indicado que você encaminhe ao Oftalmologista quando não houver melhora do
quadro após uma semana ou se houver perda de acuidade visual (SIMON et al., 2020).
Além disso, você deve encaminhar com urgência ao serviço de referência, em caso de
suspeita de conjuntivite infecciosa em pacientes menores de um mês de vida
(TELESSAÚDERS-UFRGS, 2020).
21
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
22
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
1.5 IRIDOCICLITE
A iridociclite é um quadro pouco frequente que se caracteriza pela inflamação da
íris e do corpo ciliar. Tem associação com traumas contusos ou doenças sistêmicas
como espondilite anquilosante e doença de Behçet.
O quadro clínico é composto por dor ocular aguda intensa que piora com a palpação
e a convergência dos olhos, visão embaçada, fotofobia e lacrimejamento. Ao examinar
o paciente, você observará hiperemia pericorneal violácea e miose fixa e irregular.
Você pode identificar hipópio, que é a presença de pus na câmara anterior (vista
como “nível líquido”) (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como pode ser observado na
imagem abaixo.
23
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
24
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Lembre-se!
Após uma abordagem inicial cuidadosa na APS, o glaucoma
agudo, a iridociclite e as queimaduras físicas ou químicas
requerem encaminhamento aos serviços oftalmológicos de
urgência.
25
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
26
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Fora destas condições, tente a remoção do corpo estranho. Irrigue a córnea com
soro fisiológico ou água destilada. Com um cotonete molhado, tente remover o
corpo estranho, com movimentos para cima. Se a manobra for bem-
sucedida, aplique colírio ou pomada antibiótica e oclua o olho acometido por 24
horas com gaze (DUNCAN et al., 2013). Após 24 horas, reavalie o paciente,
especialmente para identificar se ainda há algum sintoma após a retirada.
Lembre-se que você deve emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) caso
a lesão tenha sido consequente às funções laborais do paciente e orientar em
relação ao uso de EPIs no trabalho, caso tenha atividades laborais de risco para
acidentes com os olhos.
Você deve encaminhar o paciente a outros níveis de atenção quando:
27
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
28
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
1.9 BLEFARITE
A blefarite se refere à inflamação crônica, de baixo grau das glândulas de Meibomius
e margens palpebrais. Apresenta-se com longa história de irritação, ardência, secura
e olhos vermelhos (SIMON et al., 2020).
Pode estar associada à disfunção seborreica ou contaminação por Staphylococcus
aureus (blefarite anterior) mais frequente em jovens e mulheres na meia idade ou
à disfunção das glândulas de Meibomius (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Ambos os
casos podem levar a um quadro de olho seco e irritação ocular crônica, bem como
predispor ao surgimento de hordéolos e calázios (DUNCAN et al., 2013). A blefarite
seborreica é a mais frequente em idosos (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
Apenas o exame físico é necessário para o quadro. Contudo, a blefarite é também
um achado comum nos pacientes com rosácea, assim como em outras doenças
sistêmicas (DUNCAN et al., 2013), cabendo a investigação de outras condições
clínicas associadas.
O diagnóstico é sugerido por sintomas de prurido, queimação e fincadas na pálpebra
em ambos os olhos, piores pela manhã. Os sintomas são frequentemente
intermitentes, com exacerbações e remissões ocorrendo durante longos períodos.
Ao exame, as laterais das pálpebras estão inflamadas e vermelhas e podem
apresentar crostas, como no exemplo na imagem abaixo (DUNCAN et al., 2013).
29
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
A pessoa deve ser alertada sobre a necessidade de tratamento por toda a vida e
que a cura é improvável, sendo possível apenas o controle dos sintomas, na grande
maioria dos casos (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
A base do tratamento está intimamente ligada com a higiene palpebral. Sendo
assim, indica-se:
• Aplicação de compressas mornas sobre as pálpebras por alguns minutos;
• Em seguida, massagem das pálpebras no sentido da margem;
• Limpeza da margem palpebral com lenço sem álcool ou cotonete umedecido;
• Limpeza com uma mistura de água e xampu neutro (no início duas vezes ao
dia e depois diariamente).
Você deve considerar em caso de infecção o uso de colírio ou pomada de antibiótico
associado a corticoide (ex.: sulfato de neomicina, sulfato de polimixina B e
dexametasona, 1,5cm de pomada ou 1 a 2 gotas de colírio até 4 vezes ao dia) por
até 7 a 14 dias, se necessário (DUNCAN et al., 2013). Além disso, para o olho seco
o uso de lágrimas artificiais (1 ou 2 gotas nos olhos afetados sempre que necessário)
(SIMON et al., 2020), e o tratamento das alterações sistêmicas relacionadas devem
ser consideradas.
Aconselhe os pacientes a evitarem o uso de produtos para maquiagem dos olhos.
Estudos sugerem que, com base no tratamento da rosácea ocular, a utilização de
tetraciclinas por via oral traz benefícios para pacientes com blefarite crônica, porém
a dose ideal e a duração do tratamento ainda não estão bem estabelecidas (DUNCAN
et al., 2013).
30
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
31
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Você não precisa fazer qualquer tipo de investigação com exames complementares,
exceto se o quadro for recorrente, se a hemorragia for extensa ou associada a
outros quadros hemorrágicos sistêmicos, nos quais você deve investigar as provas
de coagulação. Você pode realizar a medida da pressão arterial, para rastrear
quadros hipertensivos.
A sua conduta deve ser expectante, pois costuma ter resolução espontânea entre
uma a duas semanas. É importante que você tranquilize o paciente quanto à
mudança da coloração da hemorragia, decorrente da sua absorção, e sobre a
benignidade do quadro (SIMON et al., 2020). A reavaliação não é obrigatória, mas
pode ajudar a tranquilizar o paciente com as mudanças de coloração da hemorragia
em absorção.
Considere encaminhar se você identificar defeitos de coagulação ou se você não
conseguir visualizar a borda posterior da hemorragia, pois pode estar associada a
hematoma orbitário, trauma penetrante ou fratura de órbita.
32
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
FECHAMENTO DA UNIDADE
Encerramos aqui a unidade sobre olho vermelho. Os quadros que levam a essa
condição são bastante frequentes na Atenção Primária à Saúde. Você deve saber
reconhecer e realizar o diagnóstico diferencial, a fim de distinguir essas situações
de modo a identificar os quadros que requerem encaminhamento imediato a
serviços oftalmológicos de urgência, como o glaucoma agudo, as queimaduras e a
iridociclite, dos quadros de manejo local, como a maioria das conjuntivites e os
corpos estranhos.
Sempre que tiver dúvidas em qualquer passo da consulta, é importante discutir
com os pares e buscar informações que possam auxiliar no diagnóstico e na
indicação da abordagem terapêutica. Consulte o Telessaúde RS quando
necessário para esclarecimentos de casos clínicos.
Esperamos que, com esta unidade, você se sinta mais preparado para atender a
sua população adscrita, sentindo que tem mais ferramentas para dar um cuidado
de saúde ocular qualificado para seus pacientes.
33
UNIDADE 02
Perda de acuidade
visual
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Nesta unidade, abordaremos as causas de limitação visual e de perda da visão de
acordo com o tempo de evolução dos sintomas e a importância do exame de fundo
de olho em pacientes sintomáticos e pacientes considerados de risco para perda
da acuidade visual.
Você verá que a Acuidade Visual (AV) pode ser medida mostrando-se objetos de
tamanhos e formas diferentes que se encontram a uma mesma distância do olho
do observador. A forma mais correta para medir a acuidade é utilizando a tabela
de Snellen ou de optótipos nas quais cada linha corresponde a uma fração, que
representa a acuidade visual (DUNCAN et al., 2013).
Essas e outras orientações importantes serão abordadas com a finalidade de
preparar você para atuar diante desses casos na Atenção Primária à Saúde (APS),
de modo que você seja capaz de:
34
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
A maioria das patologias (ou dos diagnósticos) estudados nesta unidade são quadros
crônicos que demandarão o seguimento conjunto com o especialista focal em
oftalmologia. Lembre-se de incluir o resultado do exame de Snellen no
encaminhamento (folha de referência à atenção secundária).
Aproveite a oportunidade para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto,
de modo que, ao receber indivíduos com limitação visual ou perda da visão, você
se sinta preparado para conduzir de maneira mais oportuna a avaliação de cada
caso. O cuidado desses pacientes necessita que você compartilhe com outros
profissionais o acompanhamento ao longo do tempo, fortalecendo vínculos e
arranjos centrados no usuário.
35
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Figura 14: À esquerda, tabela de Snellen para alfabetizados, à direita, tabela de Snellen para não
alfabetizados (optótipos).
Fonte: NESCON, 2010a e 2010b.
Um paciente apresenta visão normal quando, ao ser colocado frente a uma escala
de Snellen consegue identificar os menores números, letras, figuras ou símbolos
que nela se encontram. Um paciente apresenta limitação da visão quando não
identifica um ou mais números, letras, figuras ou símbolos da escala, sendo tanto
mais acentuada a limitação quanto maiores forem os símbolos percebidos da escala
(DUNCAN et al., 2013). Na figura abaixo, você pode observar uma simulação de
exame de acuidade visual com uso da Tabela de Snellen adaptada.
36
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
3m
Lembre-se!
A tabela de Snellen não é apenas para ser usada em avaliação
de acuidade visual em escolares, deve ser usada em qualquer
consulta em serviços de Atenção Primária à Saúde em que o
médico suspeita de diminuição de acuidade visual (BRASIL, 2012).
O exame pode ser feito também por outros profissionais da
saúde treinados para isso, que serão citados a seguir.
As avaliações devem ser realizadas com maior frequência nos pacientes considerados
de risco: diabéticos, hipertensos, com história familiar de doença ocular (glaucoma,
degeneração macular) ou aqueles que trabalham em ocupações que representam
risco para os olhos (trabalhadores da construção civil, operadores de máquinas da
metalurgia, funcionários da indústria química, mineradores, entre outros) e que
utilizam lentes de contato ou medicamentos com efeitos colaterais oftalmológicos
(DUNCAN et al., 2013).
37
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Para que você possa visualizar melhor como executar a medida da acui-
dade visual, assista ao vídeo “Avaliação da acuidade visual pelo Teste de
Snellen”, disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/
ARES/10608>.
38
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Geram necessidade de
óculos ou lentes de contato.
Os principais são miopia, Catarata e glaucoma.
hipermetropia,
astigmatismo e presbiopia.
O déficit da visão pode ser dividido em agudo e progressivo, o primeiro sendo uma
urgência oftalmológica. Veja no esquema abaixo as causas mais frequentes:
2.2 MIOPIA
Condição de início na infância, desenvolvendo-se de modo gradual até os 30 anos
de idade. Tem importante traço hereditário (DUNCAN et al., 2013). Na miopia, os
olhos são capazes de focar objetos que se encontram perto, mas não conseguem
39
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
visualizar com clareza objetos mais distantes. A imagem forma-se antes do ponto
focal da retina (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como explicitado na imagem abaixo.
Figura 16: Olho míope - acima, formação da imagem “antes” da retina no olho míope e, abaixo,
correção da miopia com uso de lentes côncavas (negativas).
Fonte: Gumenyuk I.S. Wikimedia Commons. ©
40
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
2.3 HIPERMETROPIA
Condição fisiológica ao nascimento que diminui progressivamente durante a infância.
Graus elevados podem causar limitação e desconforto visuais, e se não puder ser
corrigida pela acomodação (hipertrofia manifesta), será uma das causas de ambliopia
(visão fraca) de privação em crianças, podendo ser bilateral (DUNCAN et al., 2013).
Na hipermetropia olhos são capazes de focar no que se encontra longe, mas não
conseguem visualizar com clareza objetos próximos. A imagem se forma depois
do ponto focal da retina (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), como explicitado na figura
abaixo.
Figura 17: Hipermetropia – acima, formação da imagem “atrás” da retina no olho hipermétrope,
abaixo, correção da hipermetropia com uso de lentes convexas (positivas). Imagem formada no
ponto focal na retina.
Fonte: Gumenyuk I.S. Wikimedia Commons. ©
41
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
2.4 ASTIGMATISMO
O astigmatismo é a deficiência de acuidade visual provocada em pessoas que
apresentam um formato irregular da córnea ou do cristalino, como pode ser
observado na figura abaixo, o que gera, no olho, vários focos em diferentes eixos,
resultando em graus variáveis de refração e distorção dos objetos.
42
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Pode causar dificuldade visual tanto para perto quanto para longe, podendo gerar
dificuldades para dirigir em período noturno (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). É a
condição mais frequente em consultórios de oftalmologia, grande parte das pessoas
é portadora de desconfortáveis sintomas, como cefaleia, decorrentes desse vício
de refração não corrigido (DUNCAN et al., 2013).
Lembre-se!
Por apresentar alta frequência, as pessoas com queixas de visão
borrada e cefaleia devem ser investigadas. A identificação
precoce de possíveis alterações da visão é otimizada com
apoio das equipes de APS e de educadores no cotidiano da
escola e é vital para promover a saúde ocular, evitando o
comprometimento visual (BRASIL, 2016).
2.5 PRESBIOPIA
A presbiopia não é considerada um erro de refração, trata-se de uma situação
fisiológica que surge de modo gradual por volta dos 40 anos de idade, independente
do sexo, da profissão ou utilização excessiva dos olhos (DUNCAN et al., 2013; GUSSO;
LOPES; DIAS, 2019).
Ela decorre da perda do poder acomodativo, ou seja, da mudança na forma do
cristalino, através de alteração na sua curvatura e espessura central, modificando
a capacidade de focalizar a imagem no plano retiniano. O paciente se queixa de
dificuldade visual para perto, sobretudo em atividades como ler, escrever ou costurar.
Assim como na hipermetropia ocorre uma dificuldade para enxergar objetos de
perto, contudo essa condição ocorre em pessoas a partir dos 40 anos, devido ao
envelhecimento natural do cristalino do olho. Por ser prevalente, as pessoas
com queixas de visão borrada e cefaleia devem ser investigadas.
O diagnóstico é baseado na história clínica, avaliação da acuidade visual e refração
(determinação do erro de refração) com o Oftalmologista. A correção é feita com
o uso de lentes de óculos (bifocais ou multifocais), ou mesmo com lentes de contato.
Referencie ao Oftalmologista os pacientes que, por volta dos 40 anos de idade ou
mais, relatam dificuldade ou esforço para enxergar para perto.
43
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
2.6 CATARATA
A opacidade do cristalino (lente) é encontrada em 75% das pessoas acima de 65
anos. Na maioria das vezes, não requer tratamento. A catarata resulta da opacificação
da lente associada à perda visual (SIMON et al., 2020). Os sintomas típicos da catarata
incluem visão turva (dificuldade para ler e reconhecer faces), dificuldade para
enxergar à noite, aumento da sensibilidade ocular à luz e presença de halo claro
ao redor de focos de luz (DUNCAN et al., 2013).
Para as pessoas entre 18 e 60 anos e que não fazem parte de nenhum grupo de
risco para doenças oculares, o ideal é ser submetido a uma avaliação com
Oftalmologista a cada dois anos. Enquanto para os idosos (catarata senil), pessoas
com problemas metabólicos (DM, galactosemia, doença de Wilson, hipocalcemia),
usuários de fármacos (corticoide e clorpromazina), fumantes, pessoas com exposição
prolongada à radiação solar (trabalhadores rurais, pescadores e vendedores
ambulantes), vítimas de trauma ocular e as que apresentam afecções oculares
como uveíte, a avaliação deve ser anual (DUNCAN et al., 2013).
O exame dos olhos e da visão pode demonstrar uma diminuição da capacidade
visual pelo teste de acuidade visual (tabela de Snellen ou de optótipos), pupila
branca e teste do reflexo vermelho diminuído na inspeção dos olhos com um foco
de luz, uma pequena lanterna ou mesmo a luz do oftalmoscópio. O aspecto
observado pode ser semelhante ao da figura abaixo.
44
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Lembre-se!
A catarata pode ocorrer em adultos não-idosos quando outros
fatores de risco estão presentes, principalmente diabetes, uso
de corticoide sistêmico prolongado ou trauma ocular prévio.
45
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
46
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
47
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
48
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
49
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Pessoas com retinopatia de grau 4 têm um risco maior de acidente vascular cerebral
e podem ter doença renal ou cardíaca associadas.
O tratamento deve ser dirigido à patologia de base e também à microangiopatia
da circulação retiniana.
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para
emergência oftalmológica: diminuição de acuidade visual aguda ou associada à
percepção súbita de sombra ou cortina sobre parte do campo de visão, fotopsia
(flashes luminosos), moscas volantes ou metamorfopsia (percepção irreal de
tortuosidade ou deformação da imagem) (REGULASUS, 2017a).
Condições clínicas que indicam a necessidade de solicitar retinografia na Atenção
Primária à Saúde (seguimento anual após primeira avaliação presencial com
Oftalmologista), considerando a frequência já explanada ou o surgimento de sinais
ou sintomas anormais antes do período em que ocorreria a próxima avaliação
REGULASUS, 2017a):
a) Diagnóstico de retinopatia diabética não proliferativa leve; ou
b) Rastreamento de retinopatia em pacientes com diabetes (DM1 ou DM2).
Condições clínicas que indicam a necessidade de encaminhamento para
oftalmologia (REGULASUS, 2017a):
50
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Lembre-se!
Todo paciente diabético ou pacientes em uso crônico
de hidroxicloroquina/cloroquina necessitam de rastreamento
para retinopatia, independente de diminuição na acuidade
visual (REGULASUS, 2017a). Caso o paciente não tenha doenças
maculares prévias, sem fatores de risco maiores (doença renal
com taxa de filtração glomerular subnormal ou uso
concomitante de tamoxifeno) e com uma dose de
hidroxicloroquina/cloroquina apropriada, pode ser feito
rastreamento anual até os primeiros cinco anos de uso. O
rastreamento deve ser mais frequente se o paciente usa
doses superiores a 5mg/kg/dia e/ou tem fatores de risco
maiores (MARMOR et al., 2016).
O rastreamento de retinopatia deve ser feito a cada um a dois
anos em pacientes diabéticos (DUNCAN et al., 2022).
51
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
FECHAMENTO DA UNIDADE
A maioria dos pacientes que buscam atendimento por causas oftalmológicas
apresentam uma queixa de piora da capacidade visual ou olho inflamado (olho
vermelho). Por vezes, pode haver associação entre essas duas queixas.
Por essa razão, um correto diagnóstico diferencial, baseado na anamnese, que
caracteriza a instalação e cronologia do quadro, além da existência de fatores de
melhora e piora e fatores desencadeantes são muito importantes para condução
do caso e para oferta de serviços disponíveis na rede de saúde. Os erros de refração
são prevalentes e o acompanhamento e o tratamento por meio do uso de óculos
e lentes de correção têm efeitos importantes na qualidade de vida dos pacientes.
Na próxima unidade você aprenderá sobre as morbidades oftalmológicas mais
frequentes na consulta na Atenção Primária à Saúde.
52
UNIDADE 03
Condições oculares
mais comuns
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Além das queixas de olho vermelho e de acuidade visual, você encontrará pacientes
trazendo demandas sobre algumas outras afecções oculares e visuais bastante
frequentes na APS. Nessas consultas, seu trabalho, como médico na APS é importante,
pois, apesar de, em geral, não serem quadros graves, eles causam desconforto
significativo e sua abordagem terapêutica pode ajudar esses pacientes.
Com a finalidade de preparar você para atuar diante desses casos, esta unidade
abordará os tópicos necessários para que, ao final, você seja capaz de:
53
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Tabagistas;
É causado por uma disfunção do filme lacrimal, seja pela pouca produção de lágrimas,
seja pelo aumento da evaporação. Seus principais achados são hiperemia conjuntival
leve a moderada, sensação de olho seco, olho “grudando” ou de corpo estranho
ocular, ardência ocular, embaçamento visual ou oscilação na qualidade da visão e
lacrimejamento. Você deve realizar o diagnóstico desta condição de forma clínica,
associando a história clínica com achados típicos de exame físico citados.
54
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Exceto quando você identificar ou suspeitar de olho seco por alguma patologia de
base, como as doenças do tecido conectivo, não solicite qualquer tipo de exame
complementar. Nos casos em que você identificar alguma patologia de base, como
a síndrome de Sjögren, referencie o paciente ao Reumatologista ou ao Oftalmologista
que acompanha a condição para investigação do quadro. Se você tiver familiaridade
com a condição de base, faça a investigação específica necessária.
Utilize lubrificantes oculares tópicos, conhecidos como “lágrimas artificiais” como
tratamento de escolha para esta condição. Estes lubrificantes são soluções que
contém eletrólitos, surfactantes e agentes de diferentes viscosidades, que permitem
recuperar temporariamente a homeostase do filme lacrimal. As diferentes
apresentações existentes no mercado variam entre as substâncias e suas
concentrações, não havendo evidência de superioridade entre elas.
Os dois tipos principais de lubrificantes oculares tópicos são os em gel (mais viscosos)
e os mais líquidos. Os primeiros duram mais tempo em atuação e requerem
reaplicações menos frequentes, porém trazem um borramento visual, temporário
e de resolução rápida e espontânea, logo da aplicação, maior que o outro tipo.
O uso de soluções com vasoconstritores alivia a sintomatologia, porém não as
prescreva de forma crônica devido aos efeitos colaterais locais e sistêmicos que
costumam ocorrer (DUNCAN et al., 2013), como aumento de pressão arterial,
alterações de ritmo cardíaco bem como tolerância em seu uso.
Reavalie o paciente após cerca de quatro semanas, para identificar se houve melhora
do quadro com as medidas terapêuticas tomadas.
Você deve encaminhar os pacientes com esta condição quando suspeitar de
doença subjacente que esteja causando a condição ou quando não apresentarem
qualquer melhora de sintomas após quatro semanas de medidas terapêuticas
(DUNCAN et al., 2013).
3.2 PTERÍGIO
O pterígio é um crescimento fibrovascular da conjuntiva por cima da córnea, em
direção ao seu ápice. Está associado à exposição a climas quentes e com poeira,
através de hiperresponsividade da conjuntiva à radiação ultravioleta e ao
ressecamento. Ocorre mais no lado nasal da córnea, embora possa ocorrer no lado
temporal também (SIMON et al., 2020). Observe nas imagens a seguir aspectos
dessa condição:
55
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Figura 20: Olho com pterígio. Figura 21: Olho com pterígio invadindo a pupila.
Fonte: Sciencia58. Wikimedia Commons. © Fonte: Jmvaras. Wikimedia Commons. ©
56
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
57
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Lembre-se!
Na anamnese, é importante que você questione se a condição
está presente desde o nascimento ou se surgiu aguda ou
cronicamente. Outros dados importantes que você deve
perguntar são: o fato de piorar com o passar do dia ou com o
cansaço (podendo indicar miastenia grave), associação com
diplopia ou cefaleia, antecedente pessoal de trauma ou cirurgia
ocular, uso de lentes de contato e história familiar de ptose.
Ao exame físico, é importante que você verifique a presença da ptose: peça para
o paciente olhar para baixo o máximo que puder, sem movimentar a cabeça, em
seguida, para cima, o máximo que puder. A margem inferior da pálpebra superior
deve mover-se mais que 8mm. Em casos de ptose grave, a pálpebra superior move-se
menos que 4mm. Outro dado importante é o reflexo pupilar: se dilatada, pode ser
devido à paralisia do nervo oculomotor (de causa central ou periférica) e você deve
referenciar ao Oftalmologista com urgência para descartar presença de hemorragia,
aneurisma ou neoplasia. Se a pupila estiver miótica, investigue a síndrome de Horner
(DENNISTON; MURRAY, 2018).
O tratamento vai depender da causa subjacente à ptose. A miastenia grave tem
tratamento clínico indicado. Na maioria das situações, o tratamento é cirúrgico.
Idealmente este deve ser adiado o máximo possível (especialmente em crianças)
para melhor resultado estético. No entanto, não demore em encaminhar quando
a ptose palpebral levar à obstrução do eixo visual, que pode levar à ambliopia.
A toxina botulínica, bem como o preenchimento com ácido hialurônico são utilizados
na dermatologia para suspensão do olhar cansado, no caso de alguns tipos de
ptoses palpebrais por flacidez, arqueando-se a sobrancelha, através da aplicação,
para que as pálpebras sejam tracionadas para cima. No entanto, a toxina botulínica
pode causar ptose palpebral como efeito adverso de uma aplicação incorreta,
devendo o procedimento ser realizado com cautela.
A maior parte dos casos de ptose palpebral vão necessitar de sua referência
ao Oftalmologista, já que são de correção cirúrgica, como na malformação do
músculo elevador da pálpebra superior, na ptose senil, no uso prolongado de lentes
de contato e nas causas mecânicas. A miastenia grave é de tratamento clínico, em
geral em regime de internação hospitalar. No caso de suspeita de paralisia do nervo
oculomotor, deve ocorrer com urgência. No entanto, em todos os casos o seu
acompanhamento conjunto na APS é fundamental para realizar a coordenação do
cuidado.
58
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Figura 23: Olho com hordéolo. Figura 24: Olho com calázio.
Fonte: Imrankabirhossain. Wikimedia Fonte: Jordan M. Graff. Wikimedia Commons. ©
Commons. ©
59
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
3.5 ESTRABISMO
Trata-se de uma anormalidade do alinhamento coordenado dos dois olhos. Está
associado à falha da coordenação da movimentação ocular. Costuma acometer
crianças, mas também pode acometer adultos. Quanto mais jovem na identificação,
mais benigna costuma ser a causa de base (SIMON et al., 2020). Os principais fatores
de risco são (DENNISTON; MURRAY, 2018):
Hipermetropia. Catarata.
60
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
É mais uma condição que você deve realizar diagnóstico clínico na APS. Para isto, é
importante que você faça uma história clínica e completa, buscando identificar
possíveis causas e fatores associados, como o histórico familiar: tempo de início,
mudança de padrão, diminuição da acuidade visual, a presença de erros refrativos,
sinais de alterações de sistema nervoso central (que possam justificar a presença de
neoplasia). Você deve realizar o exame físico completo e não só focado nos olhos e na
visão. Verifique alterações de dismorfismo corporal, especialmente na região de cabeça
e olhos. No exame ocular, avalie a acuidade visual, a motilidade ocular e descarte a
presença de diplopia (DENNISTON; MURRAY, 2018).
Em crianças a partir de seis meses, você deve investigar clinicamente o estrabismo na
APS e encaminhar ao serviço de referência oftalmológica para diagnóstico etiológico
e tratamento. Antes desta idade, é comum haver um estrabismo fisiológico na criança.
Você deve realizar rastreamento de estrabismo durante toda a puericultura (DUNCAN et
al., 2013), pois pode cursar com perda irreversível de acuidade visual se não
abordado em tempo oportuno e pode trazer questões psicossociais ao paciente
ligadas à estética.
Para isso, você deve realizar o teste de Hirshberg para diferenciar estrabismo
patológico do pseudoestrabismo, comum em crianças devido epicanto (REGULASUS,
2017b).
Você não precisará de exames complementares para o diagnóstico, no entanto, estes
podem ser úteis para investigar caso suspeite de uma etiologia específica.
O tratamento de qualquer causa de estrabismo deve ser feito pelo Oftalmologista,
sendo imprescindível que você encaminhe o paciente para outro nível de atenção. No
entanto, a discussão com o paciente e a família sobre as consequências do quadro,
especialmente as psicossociais é um papel fundamental que você deve cumprir.
Em crianças menores de seis meses de idade, o estrabismo pode ocorrer de forma
fisiológica. No entanto, deve se resolver espontaneamente até que a criança complete seis
meses de idade (DUNCAN et al., 2013). A partir dos seis meses, encaminhe todo paciente
ao Oftalmologista.
61
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
3.6 FOTOFOBIA
62
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
FECHAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade discutimos diversos problemas de olhos e visão que são bastante
prevalentes na Atenção Primária à Saúde: a queixa de olho vermelho, a perda de
acuidade visual e outros problemas oculares, como a ptose palpebral, o hordéolo
e calázio, a fotofobia, o estrabismo, o pterígio e o olho seco. Essas condições
habitualmente não trazem riscos significativos à saúde, porém podem causar
desconfortos importantes à vida das pessoas acometidas por elas. No entanto,
especialmente na queixa de olho vermelho, você deve ser capaz de identificar
aquelas que podem trazer risco à saúde visual do paciente.
Com esta unidade, esperamos que você se sinta mais preparado para conseguir
identificar, conduzir e referenciar, quando necessário, os quadros visuais e oculares,
provendo, assim, um cuidado mais qualificado aos seus pacientes.
É importante lembrar que, quando houver a necessidade de encaminhamento para
outro nível de atenção, seja oftalmologia de urgência ou ambulatorial, o médico
de família e comunidade deve realizar um relatório adequado da situação clínica,
com um relato sucinto, porém completo, da anamnese, os dados de exame físico,
geral e específico de olhos e visão que colheu e que serão importantes ao médico
que avaliará o paciente, incluindo avaliação de acuidade visual por Snellen ou
fundoscopia, quando forem importantes. Uma ficha de encaminhamento completa
e adequadamente preenchida coopera significativamente com a coordenação do
cuidado do paciente, facilitando seu cuidado no outro nível de atenção.
63
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Encerramento
Caro profissional estudante,
Chegamos ao final do módulo de Abordagem a Problemas de Olhos e Visão!
Nesse módulo, você pôde reconhecer os problemas mais frequentes e relevantes
ligados aos olhos e à visão no contexto da Atenção Primária à Saúde, de modo que
agora deve estar mais bem preparado para analisar essas situações e determinar
os procedimentos adequados para cada caso.
Você percebeu que é possível diagnosticar e tratar na APS as doenças que afetam
os olhos e a visão, reconhecer as principais causas de olho vermelho e identificar
os casos que necessitam de encaminhamento ao Oftalmologista.
A correta avaliação pelo médico do serviço de Atenção Primária evita
encaminhamentos desnecessários e agiliza casos urgentes. E é aí que reside a
importância do estudo continuado e da vontade de ser cada vez mais resolutivo
em suas ações assistenciais.
Assim, esperamos que você continue se aprofundando nos temas aqui abordados
para que tenha cada vez mais capacidade e segurança na abordagem aos problemas
de olhos e visão.
Como resultado, esperamos que essa etapa do curso possa contribuir para
disponibilização de um cuidado mais efetivo à população do seu território.
Continue seus estudos nos próximos módulos a fim de aprimorar suas competências
para lidar com as condições mais prevalentes na APS.
Agradecemos a sua participação.
64
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na
Atenção Básica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Cadernos
temáticos do PSE – Saúde Ocular. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde
(CONITEC). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Glaucoma. Brasília, DF:
2019. Disponível em: <http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2018/Relatorio_PCDT_
Glaucoma.pdf>. Acesso em: 01 nov. 2020.
CORRÊA, Edison José; BOTEON, Joel Edmur; MOLINARI, Luiz Carlos; MOREIRA, Angela;
OLIVEIRA, Bruno de Morais. Avaliação ocular de crianças e adolescentes na atenção
básica à saúde. In: GUSMAO, C. M. G. et al. II Relato de experiências em tecnologias
educacionais do Sistema UNA-SUS 2015. 22. ed. Recife, PE: Editora Universitária
UFPE, p.196 - 211, 2015. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/
biblioteca/imagem/avalia%C3%A7ao_ocular_crian%C3%A7a.pdf>. Acesso em: 01
nov. 2020.
DENNISTON, Alastair K. O.; MURRAY, Philip I. Oxford Handbook of Ophtalmology.
3 ed. Oxford: Oxford University Press, 2018.
DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I,; GIUGLIANI, E. R. J.; DUNCAN, M. S.; GIUGLIANI, C.
(Orgs.). Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em
Evidências. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I,; GIUGLIANI, E. R. J.; DUNCAN, M. S.; GIUGLIANI, C.
(Orgs.). Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em
Evidências. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. 2 v.
GUSSO, Gustavo; LOPES, José M. C.; DIAS, Lêda C. (Orgs.). Tratado de Medicina de
Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2019,
2388 p.
NESCON - Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. Tabela para avaliação da
acuidade visual - 3, 2010a. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.
br/arquivos/teste-snellen3.png>. Acesso em: 01 nov. 2020.
NESCON - Núcleo de Educação em Saúde Coletiva. Tabela para avaliação da
acuidade visual - 2, 2010b. Disponível em: <https://www.nescon.medicina.ufmg.
br/biblioteca/imagem/teste-snellen_2.pdf. Acesso em: 01 nov. 2020.
65
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
66
EIXO 04 | MÓDULO 24 Abordagem a problemas de olhos e visão
Biografia dos
conteudistas
Carlos Frederico Confort Campos
67
Programa Médicos pelo Brasil
EIXO 4 |ATENÇÃO À SAÚDE
MÓDULO 24
Abordagem a problemas de
olhos e visão
REALIZAÇÃO
Ministério da Saúde.Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
2021
68