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INSTALAÇÃO DE GRANDES EMPREENDIMENTOS EM PORTO ALEGRE

Gevaci Perroni

1 Resumo
Utilizando-se da Lei Municipal nº 8.267, de 29 de dezembro de 1998, a Prefeitura
Municipal de Porto Alegre busca medidas mitigadoras ou compensatórias quando da
instalação de um grande empreendimento na cidade.
A referida lei está sendo utilizada ao extremo de seus limites, à medida que são
levados em conta todos os aspectos visando ao desenvolvimento sustentável: o
aspecto de infra-estrutura, o ambiente natural e o desenvolvimento econômico e sócio-
cultural.
Quando da solicitação de instalação de um grande empreendimento é
constituído um comitê composto por representantes de Secretarias da Prefeitura o qual
possui a função de detalhar, avaliar e quantificar o impacto da instalação do
empreendimento.

2 Contexto
Seguindo a tendência da globalização, as grandes cidades têm sido alvo da
instalação de grandes empreendimentos, fato este que, normalmente, mexe com toda a
estrutura da cidade, que, na maioria das vezes, não tem organização para suportar tal
empreendimento, e, muito provavelmente, necessitará de investimento público para
reorganizar a estrutura urbana e sócio-econômica da cidade.
Quando um empreendimento escolhe determinado local para se instalar leva em
conta, principalmente, a capacidade de obtenção de lucro. Entretanto estes lucros são
obtidos às custas de uma estrutura pública instalada e anteriormente planejada.
Um “forte” argumento utilizado por estes empreendimentos é o de que eles são
geradores de postos de trabalho; fato que, na prática, não se comprova, uma vez que
com a implantação ocorre a tendência de fechamento das empresas de menor porte, as
quais, via de regra, são intensivas em mão-de-obra.
A Lei Municipal 8.267 define que: “ao Município compete buscar a
compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da
qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, visando ao desenvolvimento
sustentável.” Para tanto utiliza-se o procedimento do licenciamento ambiental como
instrumento de gestão ambiental.
Ainda segundo a Lei 8.267, entende-se licenciamento ambiental como o
procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental licencia a localização,
instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas
que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
Para avaliação da degradação ambiental e do impacto das atividades no meio
urbano serão considerados os reflexos do empreendimento no ambiente natural, no
ambiente social, no desenvolvimento econômico e sócio-cultural e na infra-estrutura da
cidade. Sendo que neste último aspecto também é destacada a questão da mais valia.
Para fins de licenciamento ambiental, a critério do órgão ambiental, poderá ser
exigido Estudo de Impacto Ambiental ou Relatório de Impacto Ambiental como forma
de orientar a decisão administrativa.
Esses estudos deverão apontar os impactos causados pela localização,
instalação, ampliação e operação de um determinado empreendimentos em uma
determinada região em um dado período de tempo. Neste contexto, se o estudo
apontar impactos negativos oriundos da localização, instalação, ampliação e operação
é obrigação constar no relatório também as medidas cabíveis, que correrão por conta
do empreendedor, para mitigar ou compensar os impactos negativos verificados.
Como uma das ferramentas de execução das decisões do comitê intra-
secretarias de governo constitui-se o Programa de Apoio a Economia Local – PAEL,
que é uma medida apresentada a um grande empreendimento como forma de mitigar
os impactos negativos apurados em uma determinada região do município, bem como
“cobrar” os investimentos públicos que são revertidos a maior ao empreendimento. Ou
seja, por exemplo, o poder público investiu, e, muitas vezes, tem que continuar
investindo em infra-estrutura e este empreendimento tem vantagens (lucros
exorbitantes) com isso.

3 Descrição do tipo de instrumento implementado


O instrumento está amparado na Lei Municipal 8.267, de 29 de dezembro de
1998, a qual busca medidas mitigadoras ou compensatórias quando da instalação de
um grande empreendimento na cidade. Ele tem como objetivo principal amenizar os
impactos quando da instalação desses empreendimentos; sempre com um olhar
urbano, econômico e social.
Além dos estudos que apontam as medidas necessárias a serem tomados, eles
podem concluir pela não viabilidade da instalação dos empreendimentos, sendo
plenamente justificável, por exemplo, pela falta de infra-estrutura local.

4 Tipo de intervenção
Este instrumento mobiliza recursos a partir da estimativa do impacto gerado e do
benefício público auferido. Exemplificando, um grande empreendimento se instalou na
região norte do município de Porto Alegre e após a conclusão do estudo solicitou-se um
montante em dinheiro que seria aplicado em cursos de capacitação com vistas a
amenizar a possível diminuição dos postos de trabalho. Solicitou-se também a
estruturação das vias públicas ao redor do empreendimento, bem como o alargamento
dos corredores viários que ligavam ao local.

5 Estimação do montante de recursos


Um caso bem interessante é a implantação do Hipermercado Carrefour no bairro
Passo D’Areia em Porto Alegre. Este, que foi um dos pioneiros, teve como resultado
final da análise e negociação a estruturação do entorno do local de implantação, bem
como o depósito de R$ 450.000,00 que deveriam ser utilizados em benefício da
comunidade local. A utilização deste recurso ficava atrelada ao aceite de um comitê
consultivo formado por moradores e empresários da região.

6 Êxitos e fracassos
Como em todo processo que mexe com grandes empresas de poder econômico
considerável, ocorreram diversas formas de pressões que acabaram por dificultar uma
atuação mais precisa por parte do poder público.
O instrumento peca em alguns aspectos por falta de ferramentas mais precisas,
uma vez que as ações reparadoras pegam carona numa lei que foi concebida com o
intuito de abarcar a questão ambiental.
Cabe destacar o papel pioneiro que cumpriu este instrumento, principalmente no
início do processo de instalação, quando o poder público, de certa forma, se impunha
com mais atitude. Até porque para os empresários era novidade e possuíam um certo
temor quanto a não autorização da implantação do empreendimento.
Diversas experiências de sucesso merecem ser citadas, entre elas, ambas na
zona norte da capital, o Shopping Total e o Hipermercado Carrefour Passo D’Areia.
Comparando as duas pode-se dizer que as tratativas e os resultados obtidos com o
Hipermercado foram mais palpáveis; talvez seja pela diferença de tempo, 1999 para
2003, na medida em que se consegue “enxergar” ou negociar melhor, ou pelo fato do
Shopping ter sido instalado em uma fábrica que acabara de fechar, o que acarretou
efeitos em toda a estrutura local.

7 Evolução e perspectivas
A construção do instrumento surgiu a partir da Lei Municipal 8.267, que permitiu
a busca por parte da sociedade de formas de compensação por ocasião da instalação
de grandes empreendimentos.
No período inicial da utilização do instrumento, deparou-se com empreendedores
menos resistentes ao diálogo e à aceitação das medidas. Com o passar do tempo, a
resistência foi aumentando por parte dos empreendedores, o que, por muitas vezes,
esbarrou em leis mais específicas com objetivos menos amplos.
Diante do histórico chega-se à conclusão de que o aprimoramento da ferramenta
passa por criar lei mais específica que possua como objeto a captura de mais valia
quando da instalação de empreendimentos. Para tanto basta seguir a lei federal
conhecida como Estatuto das Cidades, que aponta instrumentos a serem criados.

8 Perguntas
o ¿Cuál fue la motivación inicial?
A idéia inicial da lei foi dar uma resposta à degradação ambiental cada vez maior,
mas a idéia do instrumento, que pegou carona na lei, foi promover a compensação
entre as partes envolvidas nos projetos, utilizando para isso os diversos olhares
estratégicos: o ambiental, o social, o econômico e o de infra-estrutura.
o ¿Acto aislado o estrategia amplia?
O instrumento foi concebido numa estratégia ampla, que tinha como objeto a
organização urbana sob um sócio-econômico. Com o passar do tempo foi perdendo um
pouco o foco e passou a ter um enfoque mais financeiro e menos estratégico.
o ¿Cómo está concebido? :
o ¿Cual es el hecho generador de las plusvalías?
O fato gerador de mais valia é a solicitação de instalação de empreendimento em
área que conta com infra-estrutura aportada pelo poder público (sociedade).
o ¿Cómo se recuperan las plusvalías?
Através de medidas pré-acordadas com os empreendedores que visam à
recuperação da mais valia a ser gerada. Umas das medidas mais freqüentes são a
construção ou alargamento de vias de acesso ao empreendimento, bem como
construção de praças públicas.
o ¿Cuánta plusvalía es recuperada?
O potencial de mais valia a ser recuperado está diretamente ligado ao local em
que o empreendimento será implantado, variando de região para região.
o ¿Cómo se estiman las plusvalías?
Não se tem uma forma padrão de cálculo, dependia dos estudos de cada caso;
que podiam apontar medidas mitigadoras ou compensatórias.
o ¿En qué período se integran las plusvalías?
No momento em que o grande empreendimento se instala e passa a usufruir, por
exemplo, de toda infra-estrutura ofertada.
o ¿Forma del monto recuperado?
Quando o estudo indica a realização de obras, a maneira de recuperação é
efetiva a partir da concretização da obra, momento este em que se autoriza a
implantação no que tange ao comitê dos grandes empreendimentos.
Quando a negociação aponta para depósito, este, normalmente, é realizado de
forma programada, de modo que ao final seja fornecida a liberação para a
implantação no que tange ao comitê dos grandes empreendimentos.
o ¿Cuál es el destino del ingreso?
O destino por vezes são obras públicas, mas em algumas oportunidades os
recursos são direcionados para a capacitação da população do entorno do local de
implantação do empreendimento.
Na maioria das vezes acontece o estabelecimento de medida única consensuada
pelo comitê, o que gera um destino único para a verba.
o ¿Qué innovaciones aporta?
A tendência da globalização traz consigo a ampliação das empresas que cada vez
mais procuram novos mercados para conquistar; para tanto, por exemplo, buscam
locais que possuem infra-estrutura e que não necessitarão de muitos investimentos.
Diante disso este mecanismo aporta inovações à medida que se consegue inibir a
entrada desenfreada de grandes empreendimentos na cidade, fazendo com que
ofereçam o mínimo de retorno à sociedade que disponibilizou toda a estrutura.
Outra inovação importante do instrumento é a organização conjunta de diversos
setores da prefeitura, onde cada um colabora com um olhar diferente na questão da
avaliação da implantação do empreendimento.
o ¿Qué abría pasado si no se introduce?
A falta deste instrumento, muito provavelmente, traria uma entrada muito maior de
empreendimentos na cidade, o que causaria, no mínimo, uma desorganização urbana
maior do que a atual.
Outro sintoma da falta do instrumento seria o aumento do investimento público com
vistas a suprir a necessidade criada pela implantação do empreendimento.
o ¿Cuál es el debate prevaleciente?
O que se discute é uma maneira mais precisa de se especificar cada tema, na qual
se trabalhe a necessidade e a maior precisão quando da delimitação das medidas a
serem tomadas; uma vez que existe a necessidade de encarar a dificuldade crescente
nas negociações, pois os empreendimentos cada vez mais estão se especializando
neste tipo de negociação.
Outra questão levantada é a democratização do instrumento, ou seja, após as
medidas serem sugeridas pelo comitê elas são debatidas com os empreendimentos, o
que muitas vezes faz com que não se alcance o resultado esperado. Será que a
medida escolhida não tem que ser impositiva (unilateral)?
o ¿Éxito? ¿Fracaso?
O maior êxito foi a introdução de exigências para o “mínimo” ordenamento urbano
(espacial, econômico e social) quando da instalação de grandes empreendimentos.
Com o passar dos anos as negociações com os empresários ficaram mais difíceis, o
que tornaram as ações menos exitosas.

o ¿Es replicable?
Como todo processo novo, este instrumento passa por um período de
aprendizagem; espera-se que após o tempo de maturação seja altamente replicável.
Mesmo neste período de ajustes, várias cidades do Brasil vêm acompanhando a
experiência e começam a replicar o modelo de instrumento, o que nos faz crer que o
instrumento já é replicável.

9 Conclusões
A instituição de medida que “dificulta” a entrada desenfreada de grandes
empreendimentos na cidade trouxe enormes avanços para a sociedade porto-
alegrense, visto que tal medida serviu, principalmente, para despertar o interesse dos
governantes, empresários e população a respeito da necessidade de se pensar a
estrutura urbana (espacial, econômica e social). Pensando em termos de organização,
pode-se dizer que a experiência servirá como multiplicador entre os entes federados.
A ferramenta carece de ajustes para que consiga atender às expectativas e
necessidades para os quais foi criada, mas sem sombra de dúvida esta representa um
avanço em termo de organização do espaço urbano, seja capturando mais valia, seja
atuando como “reparador” do desemprego, ou seja como reestruturador da infra-
estrutura; o mais importante é ter uma ferramenta de construção.

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