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Nível 1: Pré-silábico

Esse nível é dividido em três fases:


•Fase pictórica: tem como característica as garatujas, ou rabiscos e desenhos. Para
crianças que vivem em ambientes com muita exposição à escrita, como nas cidades repletas de
propagandas, placas e etc., e com fácil acesso ao material gráfico, como lápis e papel, começam
a desenvolver símbolos mais rapidamente.
•Fase gráfica primitiva: a criança registra símbolos e pseudoletras, misturadas com letras
e números e ela questiona muito o adulto sobre o meio que a cerca. Demonstra linearidade e
representa o meio que a cerca para escrever (bolinhas, riscos, pedaços de letras).
•Fase pré-silábica: nessa fase a criança diferencia letras e números, desenhos de escritas
e percebe que as letras são para escrever, embora não saiba como acontece.
A criança nessa fase apresenta as seguintes concepções:
 Não corresponde ainda o pensamento e a palavra escrita;
 Não há correspondência entre som e grafia, não fazendo ligação do som e da letra;
 Não se importa muito com a ordem das letras, podendo essa mudar de significado em
lugar diferente, pois está relacionado ao que a criança quis escrever;
 As crianças acreditam que se escreve apenas os nomes das coisas (substantivos), pois
tem mais significados, geralmente não escrevendo verbos e artigos;
 Acredita que a leitura e a escrita apenas são possíveis com certa quantidade de
caracteres, mais de três ou quatro e, para elas, não podem repetir letras ou sílabas;
 As crianças não separam números de letras, já que ambos os caracteres envolvem linhas
retas ou curvas;
 A leitura é global;
 A letra inicial é suficiente para identificar uma palavra ou nome;
 As categorias linguísticas – letra, palavra, frase, texto – não são claramente definidas;
 Acreditam que para poder ler não podem haver duas letras iguais, uma ao lado da outra.
 A vinculação com a pronúncia ainda não é percebida.
 A ordem e a qualidade das letras não são ainda fundamentais para a distinção de uma
palavra de outra. Duas palavras podem ser pensadas como sendo a mesma, porque
possuem certas letras iguais.
 Já entendem que coisas diferentes têm nomes diferentes e passam para a escrita, muitas
vezes mudando apenas a ordem das letras, principalmente quando possuem poucos
recursos gráficos (usam poucas letras).
 Fazem sempre uma correspondência global quando leem palavras ou frases; não
percebem ainda as partes. Também não fazem a correspondência, termo a termo, entre o
que é falado e o que está escrito. A ordem das letras na palavra não é importante.
 Categorias linguísticas (letra, palavra, frase, texto) não são bem definidas.

Dicas: usar, na escrita, a letra de imprensa maiúscula (de forma ou bastão) favorece a
percepção das unidades sonoras e diminui o esforço e as dificuldades psicomotoras. A letra
manuscrita (cursiva) só deve ser introduzida quando a criança adquire a base alfabética. A
alfabetização deve ser iniciada com palavras de significado para a criança, como seu próprio
nome, e não com palavras pequenas (pá, pé, nó) ou com sílabas repetidas (babá, Lili).

Sugestões de atividades para o nível pré-silábico:


 Iniciar pelos nomes dos alunos escritos em crachás, listados no quadro ou em cartazes;
 Identificar o próprio nome e depois o de cada colega, percebendo que nomes maiores
podem pertencer às crianças menores e vice-versa;
 Classificar os nomes pelo som inicial ou por outros critérios;
 Organizar os nomes em ordem alfabética, ou em “listas” ilustradas com retratos ou
desenhos;
 Trabalho intenso com os nomes das crianças, destacando as letras iniciais – atividades
variadas com fichas, crachás e alfabeto móvel;
 Contato com muitos e variados materiais escritos – revistas, jornais, cartazes, livros, jogos,
rótulos, embalagens, textos do professor e dos alunos, músicas, poesias, parlendas, entre
outros;
 Muita leitura e escrita coletiva; leitura com e sem imagem – notícias, propagandas,
histórias, cartas, bilhetes etc.
 Hora de leitura – livros, revistas e jornais à escolha da criança.
 Fazer contagem das letras e confronto dos nomes;
 Confeccionar gráficos de colunas com os nomes seriados em ordem de tamanho (número
de letras).
 Fazer estas mesmas atividades utilizando palavras do universo dos alunos: rótulos de
produtos conhecidos ou recortes de revistas (propagandas, títulos, palavras conhecidas).
 Atividades de escrita espontânea: listas, relatórios, auto-ditado, ditado animado,
 Atividades para distinção de letras e numerais;
 Manipulação intensa do alfabeto móvel;
 Reescrita de história- coletiva;
 Desenho livre, pintura, modelagem, recorte, dobradura;
 Caixa com palavras ou nomes significativos;
 Classificação de palavras ou nomes que se parecem – as que começam com a mesma
letra, as que possuem o mesmo número de letras, palavras grandes e pequenas etc.

 Jogos diversos:
-Bingo de letras, de iniciais de nomes, de nomes e outros,
-Memória de letras, nomes, desenhos;
-Dominós associando nomes e iniciais, desenhos, letras;
-Baralho de nomes, figuras;
-Quebra-cabeças variados com gravuras, nomes, letras;
-Pescaria de nomes, letras iniciais ou de letras do alfabeto.
 Jogos com cartões:
-Comparar cartões com nomes iguais;
-Comparar cartões com desenhos;
-Comparar cartões com letras e palavras.
 Jogos com o alfabeto móvel:
-Formar o próprio nome e os dos colegas;
-Separar e agrupar letras iguais;
-Escrever palavras sugeridas;
 Cartazes Gráficos e Tabelas:
-Rótulos e embalagens;
-Nomes, figuras, palavras;
-História, cores, brinquedos, filmes, livros da preferencia;
-Etiquetar objetos;
 Jogos e brincadeiras orais:
-Com rimas;
-Adivinhações;
-Telefone sem fio;
-Músicas;
-Trava-língua;
-Recados orais;
-Jornal falado.
-Leitura coletiva;
-Teatro- pequenas representações;
-Leitura de poesias e quadrinhos, parlendas, músicas etc.
-Produção de texto oral – coletivo;
-Conversa informal
-Jogos de atenção e repetição;
-Reconto de histórias;
É necessária muita imaginação pedagógica para dar às crianças oportunidades ricas e variadas
de interagir com a linguagem escrita.
Nível 2: Silábico sem valor
Essa fase é caracterizada pelo conflito e precisa ser encorajada pelo professor para não
desistir. A criança ainda não entende a organização do sistema linguístico, mas passa a pensar a
certeza do nível pré-silábico. Já conhece o valor sonoro convencional de algumas letras, tendo
conhecimento da ligação difusa entre a pronúncia e a escrita e reconhece que as palavras são
estavelmente construídas. As palavras passam a ter certa estabilidade externa, pois as crianças
passam a ter dependência de outra pessoa que lhe especifica as letras e a posição que devem
ser escritas.
Nível 3: Silábico com valor
A criança sabe que pode escrever com lógica, o que lhe deixa mais confiante. Representa
cada sílaba que fala com uma letra, pode ter ou não relação com valor sonoro convencional. Já
aceita uma quantidade mínima de caracteres na escrita, mas ainda tem chance de usar mais
letras na palavra e pode usar uma letra para cada palavra em uma frase. Embora a criança
acredite que aqui resolveu seu problema da escrita, o adulto ainda não consegue ler o que ela
escreve o que também é um problema.

Dicas: a hipótese silábica é uma construção da criança e o treino descontextualizado e


mecânico das sílabas não a favorece. O professor provocará o conflito que a possibilita com
intervenções e atividades que ajudem a perceber a estabilidade da escrita convencional, no
confronto com palavras já conhecidas (nomes dos colegas, produtos). Quando a criança lê o que
escreveu percorrendo a palavra com o dedo percebe que sobram letras (hipótese pré-silábica) ou
faltam (hipótese silábica), facilitando a construção da hipótese alfabética.
Quando a criança sai do nível pré-silábico e entra no nível silábico, ela deixa de apoiar-se
em ideias de “aspectos figurativos” do referente à palavra que o representa, ou seja, cada palavra
é sempre escrita com as mesmas letras; começa a ver que tudo que se diz se escreve.

Neste nível, a criança encontra um no jeito para entrar no mundo da escrita, descobrindo
que pode escrever uma letra para cada sílaba da palavra e uma letra por palavra na frase.

CARACTERÍSTICA DA ESCRITA E DA LEITURA


-A criança trabalha com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala.
-Correspondência quantitativa de sílabas orais – uma letra para cada sílaba na palavra,
uma letra para cada palavra na frase ou uma letra por sílaba oral também na frase. Há crianças
que não escrevem nada para verbos.
-Compreensão da estabilidade da escrita das palavras. Tudo que se diz se escreve (não só
os substantivos).
-Tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita.
-Essa hipótese silábica pode parecer com grafias distantes das formas das letras ou com
grafias já bem diferenciadas – às vezes pode parecer com sinais e não com letras.
-Conflito cognitivo entre as exigências de quantidade mínima e a escrita silábica de
palavras dissílabas e monossílabas. Importância da sondagem bem elaboradas: palavras:
Polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba, seguida da frase.
-A criança busca sempre as unidades menores que compõem a totalidade que tenta
representar por escrito.
-Faz uso da leitura e escrita como duas ações com certo tipo de interligação coerente.
-As crianças podem estar num nível na escrita e em outro na leitura.
-Quando se tornam silábicas, associam uma letra para cada sílaba.

HORA DE TRABALHAR COM MUITOS TEXTOS

É muito importante o trabalho com leitura de histórias infantis, mas as leituras não podem
contemplar somente este gênero, o trabalho com diferentes textos, parlendas, músicas, poesias,
entre outros, proporciona no nível silábico um trabalho rico e muito eficaz com rimas, análises
sonoras de palavras, remontagem de texto com frases fatiadas ou fatiadas em palavras, o reconto
e a reescrita também devem fazer parte das atividades desenvolvidas neste nível.

Sugestões de atividades para o nível silábico:


-Escrita de cartas, recados, sugestões, avisos e outros;
-Elaboração de textos coletivos;
-Transcrição de contos e brincadeiras, histórias inventadas pelas crianças, acontecimentos
atuais, ocorrências;
-Reconto e reescrita de histórias;
-Leitura de poesias, músicas, parlendas, histórias e outros textos significativos e
previamente memorizados;
- Identificação de frases pelo seu correspondente oral.
-Análise sonora sobre as iniciais dos nomes próprios e palavras significativas;
-Desmembramento oral dos nomes e das palavras em sílabas (pedacinhos); pronúncia
pausada das palavras, solicitando-se aos alunos que contem os pedacinhos.
-Classificação de palavras com o mesmo número de sílabas (pedacinhos) que iniciam com
a mesma letra;
-Completar lacunas em textos e palavras;
-Jogos variados com gravuras e letras iniciais, com gravuras e palavras;
-Dicionário ilustrado com desenhos ou gravuras e escrita dos respectivos nomes do jeito de
criança;
-Auto-ditado, listas, escritas espontâneas diversas;
-Atividades para trabalhar com rimas, sons iniciais, finais e medianos das palavras (meio
das palavras);
-Fazer listas e ditados variados (de alunos ausentes/ presentes, livros de histórias,
ingredientes para uma receita, nomes de animais, questões para um projeto);
-Ditado de palavras e frases para diagnóstico do nível conceitual dos alunos;
-Ditado feito pelos próprios alunos, cada um falando uma palavra;
-Ditado com gravuras para os alunos escreverem apenas a letra inicial;
-Ditado para si mesmo; cada alunos pensa o seu próprio ditado e após a atividade o
professor ouve o que cada alunos quis escrever;
-Ditado para o professor; os alunos ditam palavras ou frases para o professor escrever no
quadro negro e ainda ditam como deve escrevê-las, depois de escrever nas versões dos alunos o
professor mostra como é escrito nos livros;
-Colocar letras em ordem alfabética;
-Montar o alfabeto móvel nomes e palavras livremente;
-Construir conjuntos de nomes e palavras para cada letra do alfabeto; expor na sala;
-Completar palavras com a primeira letra (usar o alfabeto móvel);
-Contar o número de palavras de cada frase;
-Usar jogos e brincadeiras (forca, cruzadinhas, caça-palavras);
-Organizar supermercados e feiras;
-Fazer “dicionário” ilustrado com as palavras aprendidas, diário da turma, relatórios de
atividades ou projetos com ilustrações e legendas;
-Propor atividades em dupla (um dita e outro escreve), para reescrita de notícias, histórias,
pesquisas, canções, parlendas e trava-línguas.

Nível 4: Silábico-alfabético
Período conflitante, pois tem que negar a lógica do nível silábico. O aluno entende que a
escrita e a fala estão ligadas, muitas vezes ainda não conseguimos ler o que escrevem. O
professor deve incentivar a criança a comparar sua escrita com a escrita convencional para
perceber o valor sonoro. Percebe, então, que precisa de mais de uma letra para representar uma
sílaba e passa a reconhecer o som das letras. A criança pode utilizar mais das vogais para
escrever as sílabas, o que aumenta o conflito, já que, em algumas palavras pode usar as mesmas
vogais, como nas palavras gato e sapo. Nessa fase a criança está muito próxima da escrita
alfabética e precisa ser incentivada a pensar sobre o sistema linguístico partindo da observação
da escrita alfabética e da reconstrução do código.
As crianças neste nível aumentam o número de letras em suas escritas de duas formas:
-Ou voltam a escrever com muitas letras e com quaisquer letras abandonando a hipótese
silábica;
-Ou continuam escrevendo silabicamente, acrescentando no final da palavra que escrevem
mais letras aleatoriamente, conservando em parte a hipótese do nível silábico, podendo haver
conflito entre a escrita silábica e a quantidade mínima de letras.
A criança escreve então, nas palavras, algumas sílabas só com uma letra e outras sílabas
com duas letras.

CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA E DA LEITURA

-Conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de caracteres.


-A criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como unidade, mas que ela é
composta de elementos menores – as letras.
Enfrenta novos problemas:
-Eixo quantitativo, percebe que uma letra apenas não pode ser considerada sílaba porque
existem sílabas com mais de uma letra. Assim, sem nenhum critério, vai aumentando o número
de letras por sílabas.
-Eixo quantitativo, a criança percebe que a identidade do som não garante a identidade das
letras, nem a identidade das letras, a do som. Existem letras com a mesma grafia e vários sons.
Descobre que existem sons iguais com grafias diferentes e que, na maioria das vezes, não se fala
o que se escreve e não se escreve o que se fala.
-A criança procura acrescentar letras à escrita;
-Grafa algumas sílabas completas e outras incompletas (com uma só letra por sílaba). Usa
as hipóteses dos níveis silábico e silábico-alfabético ao mesmo tempo.
-A criança silábico-alfabética inicia a leitura independente de textos, palavras, dos livrinhos
de literatura, entre outros portadores de textos. Algumas crianças utilizam-se da soletração para
ler, unindo consoante e vogal. Outras já percebem as sílabas simples na sua totalidade.
-Na leitura, a criança faz antecipações do significado das palavras.
-As crianças tem conflito na leitura e escrita de palavras que são iniciadas por vogais.
Como saída, elas podem fazer a inversão das letras tanto na leitura como na escrita.
Exemplo:
amora – lêem e escrevem maora.
então – lêem e escrevem netão.
esporte – lêem e escrevem seporte.
É muito importante que o professor/alfabetizador saiba que tipos de atividades ou
situações pedagógicas deverão ser desenvolvidas e propostas para que as crianças avancem
nos níveis conceituais da escrita e da leitura e nos seus estágios de desenvolvimento cognitivo.

Sugestões de atividades

-jogos e atividades variadas com alfabeto móvel;


-caça-palavras;
-cruzadinhas;
-jogos de memória, bingo, dominós diversos;
-leitura e interpretação oral de diferentes textos, poesias, músicas, parlendas, textos do
aluno e do professor, notícias, reportagens, bulas de remédio etc.;
-produção de textos coletivos;
-montagem e escrita de pequenas estruturas linguísticas;
-adivinhações, trava-línguas, quadrinhas, anedotas;
-jornal falado;
-hora de surpresa;
-planejamento e avaliação do dia;
-relatório oral e escrito de experiências vivenciadas;
-escrita de cartas, bilhetes, listas, anúncios, propagandas;
-análise e síntese de palavras significativas;
-escritas espontâneas, auto ditado; e leitura de livrinhos de literatura, jornais e revistas (em
grupo ou individual);
-classificação e seriação de palavras;
– jogos e atividades orais que permitam à criança brincar e recriar com a linguagem (rimas,
acrósticos, entre outros); trabalhos manuais – recortes, dobraduras, pinturas, encaixes –
propiciam às crianças novas formas de expressão e o uso, em sua linguagem, de novas palavras;
-oficina de histórias, reconto, reescrita;
-construção de relatos e descrições;
-diálogos, entrevistas e reportagens surgidos nas situações cotidianas; e transcrição de
receitas, brincadeiras, piadas; e recorte de figuras ou palavras para montagem de gráficos,
tabelas ou dicionários;
-recontar vídeos, passeios, experiências; e reestruturar frases de poesias, parlendas ou
músicas que os alunos já sabem de cor; e localizar palavras num texto;
Nesse nível, as crianças apresentam um desenvolvimento acelerado, já iniciando a leitura
e a escrita de forma mais independente.
Nível 5: Alfabético
Nessa fase a criança reconstrói o sistema linguístico e entende a função da escrita,
consegue se comunicar, se expressar pela leitura e escrita. Conhece o valor sonoro de todas, ou
quase todas as letras e entende a lógica de unir as letras para formar sílabas. Distingue letras,
sílabas e frases, porém não as escreve convencionalmente, pois a criança escreve
foneticamente.
O aluno começa a escrever alfabeticamente algumas sílabas e, outras, permanece
escrevendo na hipótese silábica. São escritas silábico-alfabéticas, mas já fazem parte do nível
alfabético, mesmo se tratando do uso de dois tipos de concepção.
O nível alfabético se caracteriza pelo reconhecimento do som da letra.
Entretanto, a criança ainda não consegue, nesse nível, a solução de todos os problemas
no que se refere à leitura e escrita, entre eles:
O primeiro problema que a criança enfrenta se refere aos tipos de sílabas. As crianças,
de modo geral, generalizam que todas as sílabas têm sempre duas letras (isso se dá pela
frequência de sílaba com duas letras na nossa escrita) e dificilmente aceitam que existem silabas
de uma, duas, três, quatro ou cinco letras. Acreditam que as sílabas são constituídas de
consoante e vogal, os alunos acreditam que todas as sílabas são assim. Quando deparam com
palavras ou sílabas iniciadas por vogais, fazem a inversão na escrita e também na leitura.
Exemplo:
ARMÁRIO > RAMÁRIO.
O segundo problema que as crianças vivenciam é a separação das palavras na produção
de textos. Durante a escrita de textos espontâneos, as crianças ora emendam palavras, ora
dividem palavras em duas ou três partes. Isso acontece porque, quando a criança escreve,
concentra-se na sílaba; Aparecem as segmentações: hipersegmentação (quando escreve
separando, indevidamente, as palavras) e hiposegmentação ( quando escreve palavras juntas).
O terceiro problema refere-se à importância que a criança dá sobre a escrita fonética. A
criança faz uso da fonética na escrita, o que leva a enfrentar questões ortográficas. Embora já
alfabetizada, escreve ainda foneticamente (como se pronuncia), registrando os sons da fala, sem
considerar as normas ortográficas da escrita padrão e da segmentação das palavras na frase.
Descobre que uma mesma letra pode ter som de outras letras, como, por exemplo, X com som de
CH, S com som de z etc., chegando a constatar que isso acontece em muitas palavras. Exemplo:
chave, chaveiro, chácara, xícara, xale, Elisabete, roseira etc.
Por último, a criança enfrenta dificuldades na escrita e na leitura de sílabas complexas. A
compreensão de grupos consonantais é fruto de muito esforço lógico de raciocínio e não de
memorização ou fixação mecânica.
A partir desse ponto é caminhar para a escrita convencional, seguindo as normas
ortográficas e gramaticais.
Segundo Ferreiro e Teberosky (1991), "aqui a criança já compreendeu que cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores menores que a sílaba. Isto não quer dizer que todas
as barreiras tenham sido superadas: a partir deste momento, a criança se defrontará com as
dificuldades da ortografia, mas não terá mais problemas de escrita, no sentido estrito.”

Dicas: o tempo necessário para avançar de um nível para outro varia muito. A evolução
pode ser facilitada pela atuação significativa do professor, sempre atento às necessidades
observadas no desempenho de cada aluno, organizando atividades adequadas e colocando,
oportunamente, os conflitos que conduzirão ao nível seguinte.
Uma sugestão é o uso da metodologia contrastiva, permitindo que a criança confronte sua
hipótese de escrita com a forma padrão (nos diversos materiais de leitura já conhecidos) são um
importante recurso para a estabilização da escrita ortográfica.
A sistematização do processo de alfabetização se dará ao longo dos anos. Na medida em
que o aluno adquire segurança com a língua escrita, sua leitura torna-se mais fluente e
compreensiva. Por meio da leitura, o aluno assimila, aos poucos, as convenções ortográficas e
gramaticais, adquirindo competência escritora. Desenvolve-se, assim, o gosto e o interesse pela
leitura e a habilidade de inferir, interpretar sobre os textos trabalhados.
Entender o som e a escrita não quer dizer que a criança saiba realmente ler, ela estará
apenas repetindo o que foi memorizado, mas ainda não será capaz de interpretar o que está
escrito ou, mesmo, expressar suas ideias e sentimentos por meio da escrita. O professor nesta
fase precisa entender que ler e escrever não são apenas um ato de codificar e decodificar, mas
um fenômeno social e coletivo.
A preocupação não é mais em como se ensina, mas em como a criança aprende, torná-la
capaz de desenvolver a leitura e escrita no seu cotidiano.

Sugestões de atividades

As atividades devem ser elaboradas e/ou selecionadas pelo professor visando aos alunos
em situações desiguais dentro da psicogênese. Dificilmente todos os alunos de uma classe
estarão ao mesmo tempo num mesmo nível conceitual.
Uma mesma atividade pode ser trabalhada com crianças em vários níveis no processo de
aquisição da escrita e da leitura, contanto que ela englobe um espaço amplo de problemas e que
o professor provoque, diferentemente, com questões e desafios adaptados aos alunos em
situações desiguais, reconhecendo e valorizando as suas respostas e comportamentos frente ao
que foi proposto.

Assim, as atividades aqui sugeridas podem atender também a outros níveis, que não
apenas ao alfabético; o que muda é o foco de interesse didático.
 Produção de texto a partir do desenho do aluno.
 Exploração dos textos individuais com toda a classe.
 Sugerir a escrita de textos a partir de outros textos já conhecidos pelos alunos: letras de
música, poesias, histórias memorizadas, descrição de brincadeiras, regras de jogos etc.
(também podem ser utilizados para leitura e análise).
 Produção de textos coletivos sobre acontecimentos ou interesses dos alunos naquele
momento.
 Atividades a partir de um texto:
Leituras globais ou parciais;
Reconhecimento de palavras, frases ou letras no texto;
Análise de palavras do texto quanto ao número de sílabas e de letras, quanto à letra
inicial ou final etc.;
Ditado de palavras e frases relativas ao texto trabalhado;
Copiar palavras do texto com uma, duas, três sílabas etc.;
Marcar, no texto, nomes próprios e comuns, rimas, palavras no singular e no plural etc.;
Remontagem do texto com fichas de frases ou palavras.
Ditar palavras do texto para um colega e vice-versa;
Registrar, à frente das frases, o número de palavras que a compõem;
Produções de histórias em quadrinhos.
o Análise de palavras numa frase ou texto (separação em palavras a partir da análise
oral). Contar número de palavras numa frase ou texto a partir de suas
palavras (texto ou frase fatiadas em palavras).
 Atividades que reforcem a compreensão da relação grafema-fonema (letra-som) para que
entendam a construção da sílaba como, por exemplo, alfabetos cantados, bingos de letras,
de rótulos, atividades com alfabeto vivo, atividade com fichário dos nomes dos alunos.
 Atividades que visem descolar a escrita da fala, como no caso das palavras. CADIADO e
KAVALU – as vogais E e O no final de sílabas átonas assumem o valor sonoro de /i/ e /u/,
por isso que se fala /cadiado/ e se escreve CADEADO, fala-se /cavalu/ e escreve
CAVALO, fala-se /leiti/ e escreve-se LEITE.
 Atividades para trabalhar as convenções ortográficas, como: dígrafos orais (ch, lh, nh, qu,
gu, rr, ss, sc, xc) e nasais (am, an, em, en, im, in, om, on, um, un) como na escrita da
palavras “aranha” e “campo” e usos de letras que representam o som /s/
 Atividade para evitar a hipercorreção (no afã de acertar erra), como na escrita da palavra
CUECA escreve COECA.
 Trabalho intenso de leitura de diferentes gêneros: leitura compartilhada, silenciosa, em
capítulos, em diferentes ambientes, por diferentes motivos, com dramatização, com
interpretação oral, sugerindo mudanças, criando versões, recriando finais, introduzindo
elementos, comparando narrativas, notícias, enredos, propagandas, explorando rimas.
 Produzir textos: coletivamente, em grupos, em duplas, sozinho, a partir de imagens, de
leituras, de situações, de questionamentos, de necessidades de informar, divulgar,
pesquisar, discordar, concordar, divertir, recontar, anunciar, convidar.
 Montar e explorar bancos de palavras e construir coletivamente as regras ortográficas
regulares, usar jogos de raciocínio para fixação destas regras.
 Montar e explorar bancos de palavras com dificuldades ortográficas irregulares.
 Organizar jogos com regras para memorização das mesmas.
 Trabalhar revisão de textos produzidos coletivamente (grupos, duplas) ou individualmente.
 Trabalhar com a análise linguística de textos bem escritos.
 Atividades de desenvolvimento da oralidade com posterior produção escrita.
 Leitura de histórias e demais narrativas com posterior reconto oral e escrito.
 Caderno de produções de textos individual (para registro de histórias com ou sem
desenho, relatos de acontecimentos, notícias, listas de palavras etc.). Esse caderno pode
ser trabalhado em casa ou em sala de aula.
 Leitura de diferentes textos: livros, revistas, partes de jornais, cartas, bilhetes, convites,
propagandas, anúncios, músicas, poesias, parlendas, adivinhações, trava-línguas etc.
 Leitura e narração de histórias pelo professor (permite a observação do texto escrito com o
discurso oral).

“A criança necessita conviver com a norma ortográfica, por meio de contatos constantes
com materiais impressos, tais como livros, jornais, revistas e outros suportes de textos. O
professor, ao promover situações de ensino-aprendizagem, leva as crianças ao entendimento de
diferentes aspectos da ortografia, assumindo a tarefa de “semear a dúvida” entre os alunos e,
dessa maneira, facilitar a tomada de consciência sobre as regularidades e irregularidades da
norma ortográfica.” Guimarães (2005)
... Ao tomar decisões didáticas na alfabetização, considere o seguinte:

1. O nível de desafio: as atividades devem ser, ao mesmo tempo, possíveis e difíceis, ou seja
situações-problema que obriguem a pensar e a tomar decisões.

2. As intervenções mais adequadas: as perguntas, sugestões e informações que você, educador,


oferece às crianças devem favorecer a reflexão sobre as características e o funcionamento da escrita,
para que os alunos possam avançar em seus conhecimentos.

3. Os agrupamentos: devem ser produtivos para a aprendizagem de todos. Para defini-los, você
deve se basear no conhecimento que tem sobre as crianças e no objetivo da proposta. É importante que a
distância entre os saberes dos alunos (sobre a escrita)

não seja muito grande, para que um represente desafio para o outro. Se não, há o risco daquele
que já escreve fluentemente de forma alfabética atropelar o que está descobrindo as letras.

4. A criança não é hipótese de escrita: ela tem hipóteses provisórias, que não devem se
transformar em adjetivos ou rótulos, tampouco em critérios para formação de classes pretensamente
homogêneas.

5. As hipóteses de escrita revelam o conhecimento da criança num determinado momento: não são
perenes e transformam-se à medida que a criança reflete sobre as características e o funcionamento da
escrita convencional, o que só acontece a partir do universo de informações, intervenções e situações
didáticas que o professor oferece para a turma.

FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1986.


FERREIRO, E; TEBEROSKY, A. Psicogênese da escrita. Capítulo 6: Evolução da Escrita. Porto
Alegre: Artmed, 1999.
GUIMARÃES, Maria Rosa. Um estudo sobre a aquisição da ortografia nas séries iniciais.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de educação, Universidade Federal de Pelotas, 2005.
MORAIS, Artur Gomes de. O diagnóstico como instrumento para o planejamento do ensino de
ortografia.
MELO Kátia Leal Reis de. (Orgs.). Ortografia na sala de aula. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
MORAIS, Artur Gomes de; MELO Kátia Leal Reis de.(Orgs.). Ortografia na sala de aula. 1.ed., 1.
reimp. Belo Horizonte: Autêntica,2007.

VÍDEOS PCN’s na Escola – Língua Portuguesa - MECPrograma 13 – Por que ensinar ortografia na
escolaPrograma 14 – Para que aprender ortografiaPrograma 15 – Atividades para o trabalho com
ortografia

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