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FINANÇAS E FISCALIDADE
M
2020
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro
emitidos em Portugal nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Flávio Artur Martins Ventura
Dissertação
Mestrado em Finanças e Fiscalidade
Orientado por
Professor Doutor Samuel Cruz Alves Pereira (orientador)
Professor Doutor Elísio Fernando Moreira Brandão (coorientador)
2020
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Dedicatória
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Agradecimentos
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Resumo
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Abstract
This investigation supports the importance of the insurance industry for economic and
social state equilibrium. Overall, we have two main goals. The first goal aims to find if the
premium tax and contributions negatively affects insurers growth, that operate in property-
casualty business segment. The second goal focus on the incidence problem of premium
taxation and your contributions. The literature refers that the consumers or policyholders,
may share the tax incidence, or burden, with shareholders, employees, agents or brokers.
The data of the insurers operating in property-casualty business segment was collect for the
period from 2007 to 2018. To achieve the main goals, we defined six dependent variables
and six hypotheses, respectively.
We observed that premium tax and contributions negatively affects the insurers growth.
Relativity the incidence problem, we find inconclusive evidences that consumers or
policyholders share the tax and contributions burden with shareholders or capital holders.
Our investigation further allowed find a negative association with total debt or total
liabilities. Furthermore, this work allowed to examine the impact of others important
insurance industry determinants, like the investment assets performance, reserves, and the
Solvency II directive.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Índice
Agradecimentos ................................................................................................................................ iv
Resumo ............................................................................................................................................... v
Abstract .............................................................................................................................................. vi
Índice .................................................................................................................................................vii
Lista de Abreviaturas......................................................................................................................... x
Glossário ............................................................................................................................................ xi
2.4 Taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal dos prémios de seguro brutos .......................... 8
2.5 Problema de incidência da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios de seguro
brutos .............................................................................................................................................. 9
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
5.3 Resumo dos principais resultados obtidos para as hipóteses formuladas ....................45
Apêndices..........................................................................................................................................49
Anexos...............................................................................................................................................54
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Índice de Tabelas
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Lista de Abreviaturas
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos emitidos de seguro em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Glossário
Prémio – o prémio bruto acrescido das cargas fiscais e parafiscais, que corresponde ao
preço pago pelo tomador de seguro à empresa de seguros pela contratação do seguro.
Corresponde ao prémio total;
Prémio Comercial – custo teórico médio das coberturas do contrato, acrescido de outros
custos, nomeadamente de aquisição e de administração do contrato, bem como gestão e
cobrança;
Tomador de seguro – pessoa singular ou coletiva que, por sua conta ou por conta de uma
ou várias pessoas, celebra o contrato de seguro com a empresa de seguros, sendo
responsável pelo pagamento do prémio.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Capítulo 1: Introdução
Uma publicação intitulada de “Ambitions for Europe” (2020) da federação europeia de seguro
e resseguro, Insurance Europe, refere que a indústria de seguros europeia faz grandes
contribuições para o crescimento e desenvolvimento económico da União Europeia, na
qual Portugal se insere. Uma forte e regulada indústria seguradora, facilita as transações
económicas, fornecendo transferência de risco e compensação por perdas; incentiva a
gestão de riscos e promove práticas prudentes; incentiva economias estáveis e sustentáveis
e provisão de pensões; e promove estabilidade financeira, fornecendo investimento a longo
prazo na economia. A mesma publicação enaltece também que o setor segurador é o maior
investidor institucional na Europa, com €10 200 biliões em títulos, ações e outros
investimentos.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
A escolha pelo estudo da fiscalidade e parafiscalidade associada aos prémios de seguro, teve
em conta o facto de o imposto de selo ter sido nos últimos anos, de acordo com os
relatórios da APS, o imposto que mais receita fiscal gerou ao Estado, proveniente do setor
segurador. O imposto de selo, assim como as várias contribuições parafiscais, incidem
objetivamente sobre o prémio bruto de seguro. Acreditamos que o imposto de selo
conjuntamente com as contribuições parafiscais, perfazem quase 50% da receita entregue
ao Estado e a organizações sociais ou governamentais, que prestam serviços fundamentais
à sociedade. Como o segmento de negócio ‘vida’ está isento de imposto de selo e tem uma
carga parafiscal menor nos termos da lei, apenas nos focamos no segmento de negócio ‘não
vida’, de forma a não enviesar os resultados das estimações.
F. Grace and L. Sjoquist (2019) afirmam que pouco se tem escrito sobre os efeitos
económicos dos impostos especialmente relacionados com a indústria seguradora. Além
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Esta investigação vem confirmar as principais evidências de F. Grace and Yuan (2011) e
Wheaton (1986), pois confirmamos que os impostos e as demais ‘taxas’ parafiscais que
incidem sobre os prémios brutos emitidos em território nacional, afetam negativamente o
crescimento das seguradoras a operar no segmento de negócio ‘não vida’. Relativamente ao
segundo objetivo principal desta investigação, observamos resultados diferentes do estudo
de F. Grace and Yuan (2011), pois as nossas conclusões sugerem que os consumidores ou
tomadores de apólices partilham a incidência fiscal e parafiscal com os acionistas ou sócios.
No estudo de F. Grace and Yuan (2011), os autores apenas evidenciam que os
colaboradores e agentes ou mediadores, entre si, partilham a incidência da carga fiscal
associada aos prémios de seguro. Na nossa investigação, não observamos resultados
significativos para essa esfera económica da indústria seguradora. Contudo, é importante
analisar os nossos resultados com cuidado, tendo em mente todas as limitações
encontradas na definição da amostra e das variáveis utilizadas.
Portanto, este trabalho está organizado em seis capítulos. O capítulo seguinte expõe as
problemáticas associadas aos prémios de seguro, com o objetivo de enquadrar e
desenvolver o tema desta investigação. No capítulo três, são desenvolvidas as hipóteses
com base na literatura principal precedente, e é exposta a literatura que consideramos
importante relacionada com a tributação dos prémios de seguro. No capítulo quatro é
apresentado o desenvolvimento do desenho econométrico. No capítulo cinco são
explicados os principais resultados e outros resultados de relevo. Por último, o capítulo seis
refere todas as conclusões, e perspetivas para investigações futuras.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Este capítulo é importante para entender o objetivo e a importância do nosso estudo, pelo
que aborda numa primeira estância a problemática do sistema fiscal associado aos impostos
e ‘taxas’ incidentes sobre os prémios de seguro, e depois centra-se na dificuldade em
apurar a real incidência da carga fiscal e parafiscal que bonificam os prémios de seguro.
O sistema tributário de um Estado tem como objetivos principais gerar receita para
sustentar serviços públicos essenciais para a sociedade; promover certos comportamentos
económicos, como por exemplo benefícios fiscais que promovam a investigação e
desenvolvimento de novos produtos ou sistemas; e pode ser usado para promover certos
comportamentos sociais, tais como por exemplo o desencorajamento do consumo de
álcool ou tabaco por parte de uma sociedade, através da tributação específica desses
produtos.
Um sistema de tributação baseado na receita dos prémios de seguro é uma simples via
tributária. A sua regulação pelos seguradores como pelas autoridades tributárias é fácil,
enquanto que o cálculo do rendimento do exercício é particularmente difícil para as
empresas de seguros (Skipper, 1987).
Por sua vez, este sistema tributário, no caso dos seguros de vida, incide diretamente nas
poupanças pessoais, o que não apenas desencoraja a poupança via seguros de ‘vida’, como
coloca esse tipo de seguradoras em desvantagem relativamente a outras instituições de
poupança (Skipper, 1987). Os impostos sobre os prémios de seguros são uma percentagem
fixa do prémio, logo penalizam quem trabalha em situações atípicas ou perigosas, ou
mesmo quem se encontra com a saúde débil, isto porque o prémio irá ser necessariamente
mais alto, tendo em conta um risco para a seguradora também ele mais elevado.
No caso dos seguros ‘não vida’, quem vive em zonas “menos protegidas” ou com maiores
níveis de sinistralidade, irão pagar mais pelo seu seguro de incêndio ou automóvel, por
exemplo. Indiretamente é requerido às pessoas que vivam nessas zonas, maior capacidade
tributária, pelo simples facto do local de residência (Skipper, 1987).
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tendo em conta que um dos objetivos deste estudo é apurar o efeito da tributação dos
prémios de seguros no crescimento das seguradoras, Skipper (1987), refere que este sistema
tributário é “insensível” ao surgimento de novas empresas de seguros – logo numa fase
precoce o crescimento dessas seguradoras é condicionado pela via tributária – e para
aquelas que apresentam lucros baixos ou nenhuns.
Claramente as desvantagens deste sistema tributário excedem as suas vantagens , pelo que o
nosso estudo desempenha um papel fundamental no escrutínio à fiscalidade e
parafiscalidade associada aos prémios de seguro emitidos em território nacional. Fruto da
globalização, do aumento da esperança média de vida e das alterações climáticas, existe
mais riscos sociais e económicos, pelo que o mercado segurador desempenha um papel
fundamental no equilíbrio natural dos acontecimentos. A estrutura de um sistema fiscal
agressivo irá ser sempre um entrave a esse papel do mercado segurador e de todos os seus
participantes.
Segundo a APS para o ano de 2018, não considerando o valor correspondente a IVA e
‘taxas’ parafiscais, a contribuição da atividade seguradora para o total de receitas fiscais do
Estado português (impostos diretos e indiretos) foi de 1,7%. Tendo em conta que para
2018, o setor segurador era constituído por 76 empresas 1em regime de estabelecimento
(ASF 2018), classificamos esta percentagem de valor significativo.
O relatório da fiscalidade suportada pelo setor segurador elaborado pela APS, refere que
dentro das três principais rúbricas (“Imposto do selo”, “Retenções na fonte de IRS” e
“IRC liquidado”), para o ano de 2018, o imposto do selo que é o imposto que incide sobre
os prémios, representa 47,7% do total da receita fiscal gerada pelo setor. Isto constitui um
fator motivador para o tema desta investigação, principalmente para o primeiro objetivo
principal a cumprir.
1 Segundo dados da Pordata em Portugal, para o ano de 2018, existiam 1.295.299 empresas .
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
VARIAÇÃO
VALOR (milhares de €) VARIAÇÃO %
RÚBRICA ABSOLUTA
2016.12 2017.12 2018.12 2016/2017 2017/2018 2016/2017 2017/2018
IRC Liquidado (1) 156 591,3 177 456,9 112 196,6 20 865,6 -65 260,3 13,3% -36,8%
Derrama 8 628,3 10 186,3 6 300,0 1 557,9 -3 886,3 18,1% -38,2%
Retenção na fonte de IRS 306 615,4 236 245,1 233 153,6 -70 370,3 -3 091,5 -23,0% -1,3%
Imposto do selo 314 511,6 335 532,9 357 824,3 21 021,3 22 291,4 6,7% 6,6%
IVA 86,4 513,9 207,4 427,5 -306,5 494,8% -59,6%
Imposto Municipal sobre Veículos 96,4 145,0 161,9 48,6 16,9 50,4% 11,7%
Taxa para a ASF 13 265,0 14 648,4 15 528,0 1 383,4 879,6 10,4% 6,0%
Fundo Acidentes de Trabalho 10 199,9 11 276,3 10 013,0 1 076,4 -1 263,4 10,6% -11,2%
Fundo de Garantia Automóvel 140,2 150,2 157,6 10,0 7,4 7,1% 4,9%
IFAP 1 130,9 860,3 411,9 -270,6 -448,3 -23,9% -52,1%
Outros impostos e taxas 13 616,5 12 685,2 14 542,8 -931,3 1 857,6 -6,8% 14,6%
TOTAL 824 882,0 799 700,5 750 497,1 -25 181,5 -49 203,3 -0,03 -0,06
(Fonte: relatório da fiscalidade suportada pelo setor segurador elaborado pela APS)
(1) O cálculo do IRC liquidado inclui a derrama estadual
Pela análise da tabela 1, se nos focarmos apenas na parte da fiscalidade (“IRC Liquidado” a
“Imposto Municipal sobre Veículos”), verificamos que o imposto do selo a par do imposto
municipal sobre veículos, são os únicos impostos que durante o triénio 2016-2018
constataram uma variação relativa positiva. Posteriormente, o aumento da produção ‘não
vida’ é fundamental nestas variações, e como já foi referido em cima, o processo tributário
deste imposto é simples, já que apenas é aplicado ao prémio bruto emitido uma taxa fixa, o
que facilita a constante obtenção de receita fiscal, isenta de divergências de harmonização
contabilística e fiscal, ao contrário do que acontece por exemplo, no IRC.
A taxa do imposto de selo, embora seja fixa, varia entre 3% a 9% consoante o ramo
segurador2, estando esta isenta para o segmento de negócio ‘vida’ e ainda para os prémios
recebidos por resseguros tomados a empresas a operar legalmente em Portugal. Até 1991 a
taxa máxima era de 5% e os seguros ‘vida’ eram tributados a uma taxa de 2% (Decreto-Lei
nº 21/916 de 28 de novembro; Decreto-Lei nº 223/91 de 18 de junho). Ou seja, há 29 anos
que o imposto do selo que tributa a atividade seguradora não sofre alterações, logo
confirma-se o que temos vindo a constatar até este ponto do capítulo: o imposto de selo (e
também as demais contribuições parafiscais), que incidem sobre os prémios brutos
emitidos em território nacional, são uma via simples e objetiva de receita tributária.
A título de exemplo, para o ano de 2018, a ASF refere que que o ramo ‘automóvel’ obteve
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
a quota máxima de mercado de 29,7% no segmento de negócio ‘não vida’. Por sua vez,
neste consta a modalidade “Responsabilidade civil de veículos terrestres a motor” que
constitui sob base legal um seguro obrigatório, em que o mesmo é tributado à taxa máxima
de 9% (considerando o imposto de selo apenas), o que reflete um facto paradoxal do
sistema tributário dos prémios de seguros, confirmando o que o estudo de Skipper (1987)
aponta como uma imoralidade. Portanto, a via simples e objetiva com que se tributa o
consumo de seguros, a imoralidade tributária associada a alguns ramos com modalidades de
subscrição obrigatória, e riscos não controláveis que aumentam o preço total dos seguros,
constituem factos importantes para o tema desenvolvido neste estudo.
Tabela 2 - ‘taxas’ parafiscais que bonificas os prémios de seguros para o horizonte temporal da
amostra
Como podemos reparar, na tabela 2 não consta a taxa a favor do Fundo de Acidentes de
Trabalho (FAT), pois esta não incide sobre os prémios de seguro (modalidade: “Acidentes
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de Trabalho”), mas sim nos salários (0,15%) e no capital de remissão das pensões em
pagamento (0,85%), (Decreto-lei nº 142/99 de 30 de abril). O preenchimento desta tabela
foi elaborado de acordo com a base legal aplicada, artigos e livros relativos à parafiscalidade
3
associado ao setor segurador, constituindo para nós a aproximação possível à realidade.
A única taxa que teve uma variação negativa foi a taxa a favor do Instituto de
Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), as restantes mantiveram-se ou aumentaram,
com destaque para a ‘taxa’ a favor do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)
que na totalidade aumentou 1,5% no período horizontal da amostra do nosso estudo. Um
dado curioso é que as únicas ‘taxas’ que sofreram uma variação positiva (ASF e INEM), são
também as únicas ‘taxas’ transversais ao ramo ‘vida’. Entendemos nós que talvez se deva ao
aumento ultimamente, da subscrição de seguros do ramo ‘vida’, o que pudemos
subentender um certo abuso de poder governamental por parte do Estado (Skipper, 1987),
não “premiando” as empresas de seguros pelo aumento da produção nesse segmento
fundamental para o equilíbrio social, e por sua vez, prejudica monetariamente os
beneficiários desses seguros que podem transferir riscos de uma possível doença, a título de
exemplo.
Além do mais, coloca-se o problema da utilidade e dos beneficiários das receitas geradas
pela parafiscalidade associada aos seguros, correndo o risco de algumas contribuições
serem classificadas de verdadeiros impostos. É o caso daquela a favor do Instituto
Nacional de Emergência Médica (INEM), suportada diretamente pelos tomadores de
seguro, mas contribuído para o financiamento dos serviços de urgência ou emergência
prestados e acedidos por todos (Ferreira & Mesquita, 2012).
2.4 Taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal dos prémios de seguro brutos
Como também será explicado doravante, por limitação da base de dados utilizada no nosso
estudo, não conseguimos a informação desagregada sobre a carga fiscal e parafiscal, pelo
que para calcular o imposto de selo e contribuições liquidadas sobre os prémios de seguro,
aplicamos o produto do somatório das ‘taxas’ parafiscais e ficais aos prémios brutos das
respetivas modalidades ou submodalidades. Em anexo a este documento pode ser
consultado todos os somatórios das taxas do imposto de selo e contribuições por
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tabela 3 - Comparação da taxa efetiva apurada da amostra com as ‘taxas’ fiscais e parafiscais
nominais do ramo ‘não vida’
Como normalmente acontece nos estudos relacionados com a taxa efetiva de IRC (p.e.
Dias 2016), a taxa efetiva é superior à taxa nominal, o que acaba por acontecer de igual
forma para a nossa taxa efetiva (diferença de médias em 1,84%). A diferença substancial
entre a taxa efetiva de IRC e a taxa efetiva fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro
brutos, é que a primeira resulta principalmente da não conformidade entre o resultado
contabilístico e fiscal e das demais tributações sobre o rendimento e despesas, enquanto
que a segunda, surge da panóplia de produtos de seguro oferecidos e por isso da diferente
sujeição de taxas fiscais e parafiscais, como já vimos anteriormente.
O Código do Imposto de Selo (CIS) refere que o imposto de selo incide sobre os contratos
de seguro (incidência objetiva), ou seja sobre o valor do prémio bruto emitido,
perfazendo o total do prémio que é pago à seguradora pelo tomador do seguro.
Quanto à incidência subjetiva o CIS apenas refere as empresas seguradoras como sujeitos
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Embora o estudo de F. Grace and Yuan (2011) se debruce sobre uma amostra de
seguradoras a operar no EUA, estas também são meros mecanismos de coleta do imposto
que incide sobre os prémios. Portanto, estes autores referem que a incidência dos impostos
sobre os prémios de seguro pode recair sobre os consumidores (tomadores dos seguros),
funcionários, agentes ou mediadores e acionistas. Os consumidores podem evitar pagar o
imposto, se comprarem outros produtos com o mesmo objetivo, como fundos mútuos ou
produtos bancários (no caso dos seguros ramo ‘vida’), pelo que as seguradoras de forma a
evitar esse comportamento, podem partilhar a incidência do imposto com os seus
funcionários, agentes ou mediadores e acionistas, através de baixos salários, comissões ou
rentabilidades dos investimentos, respetivamente (F. Grace & Yuan 2011). Na hipótese de
estes três últimos cenários não se confirmarem, o consumidor é o principal afetado através
do aumento do valor dos prémios, não sendo de todo um cenário anormal pois não
existem alternativa direta ao produtos de seguro ‘não vida’, e muitas modalidades são de
subscrição obrigatória. Isto pode levar à diminuição do consumo de produtos de seguro,
que consequentemente desequilibra o papel social e económico importante que este setor
desempenha na sociedade. Este paradigma agrava-se no caso da parafiscalidade, pois
muitos dos serviços financiados pelas receitas parafiscais são em benefício da sociedade
como um todo, como já exemplificamos anteriormente.
Em suma, o nosso estudo compromete-se não só a apurar se a carga fiscal e parafiscal tem
impacto no crescimento das seguradoras (F. Grace & Yuan 2011; Wheaton, 1986), como
tenta explicar quem é que suporta essa carga (F. Grace & Yuan 2011) – problema de
incidência – embora este último objetivo possa ser cumprido dentro de algumas limitações
de dados que explicaremos adiante.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Por sua vez, os seguros ‘vida’ estão isentos de imposto de selo desde 1991, e têm uma
reduzida carga parafiscal associada, como já foi descrito no capítulo anterior, logo o seu
tratamento fiscal aliado ao volume de produção predominante no setor segurador6,
classificam este segmento como o segmento mais importante no plano social em Portugal.
De certa forma os seguros comercializados neste segmento também aliviam o Estado em
termos de gastos públicos, o que confere um certo equilíbrio à balança social e económica,
não se verificando imoralidades decorrentes da sua tributação (Skipper, 1987), ao contrário
4 Patient Protection and Affordable Care Act of 2010 ou Obamacare, teve como objetivo principal atribuir
maior acessibilidade à população em geral serviços de cuidados de saúde indispensáveis. Um dos meios para
atingir esse fim, foi a atribuição de subsídios a pessoas necessitadas de forma a que estas pudessem adquirir
um seguro de cuidados de saúde.
5 São seguros que pertencem ao ramo doença do segmento de negócio ‘não vida’.
6 Em anexo encontra-se uma tabela retirada do site https://www.insuranceeurope.eu/ que mostra a produção
para o período temporal 2013-2018, do segmento ‘vida’, dos seguros ‘não vida’ e dos seguros de saúde.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
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nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
calculando uma dívida fiscal combinada devida no estado de domicílio, para empresas com
caraterísticas semelhantes7. Como já foi referido anteriormente a nossa investigação apenas
se centra nos efeitos dos impostos e contribuições que incidem sobre os prémios.
Portanto, tanto F. Grace and Yuan (2011), como Wheaton (1986) concluem que os
impostos sobre os prémios e os impostos estatais associados ao setor segurador reduzem a
taxa de crescimento dos ativos das seguradoras, ou seja a sua dimensão. Esta
concordância leva-nos a definir a primeira hipótese a testar neste estudo:
H1: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta negativamente a dimensão das seguradoras a operar no segmento ‘não
vida’.
F. Grace and Yuan (2011), afirmam que um aumento de 1% na taxa efetiva de impostos
sobre os prémios, para as seguradoras ‘vida’ dos EUA, diminuiu em -0,0083% o
crescimento total dos seus ativos, que quantitativamente se traduz em uma redução do total
dos ativos da indústria de aproximadamente $39,7 mil milhões, em 2006. Hipoteticamente
Wheaton (1986), refere que para uma dívida fiscal combinada estadual de $30 milhões por
seguradora, isto em termos relativos apenas daria uma redução de 5% no rendimento
líquido nacional, mas ainda assim provoca uma redução de 23% na taxa de crescimento das
seguradoras.
Devido a limitações de dados, F. Grace and Yuan (2011) não determinam se também os
consumidores suportam os impostos inerentes aos prémios, mas logicamente referem que
isso acontece a partir do aumento dos preços dos seguros. Na generalidade, os
consumidores de seguros podem ser insensíveis à variação dos preços, principalmente os
consumidores de seguros individuais (F. Grace & Yuan 2011). Na compra de produtos de
seguros, os consumidores pagam por algo intangível, o que é designado de mitigação de
riscos na terminologia de seguros, portanto, no ponto de vista do consumidor torna-se
bastante difícil avaliar o produto (Kiyak & Pranckviciute, 2014). Por outras palavras, na
escolha de um produto de seguros, não é apropriado prestar atenção significativa ao preço,
porque a essência do produto consiste no número de riscos cobertos e no valor segurado
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
(Kiyak & Pranckviciute, 2014). Isto complementa o raciocínio lógico de F. Grace and Yuan
(2011). Portanto, assumindo a preposição que os consumidores ou tomadores de apólices,
na generalidade, são insensíveis ao aumento dos preços dos seguros, foi nossa intenção
testar essa mesma preposição através da análise do crescimento da produção. Este último
dado será a nossa proxy do valor de um contrato de seguros ou apólice (preço8). Por isso, a
pergunta subjacente à hipótese H2, é a seguinte: os impostos e ‘taxas parafiscais’ associadas
aos prémios provocam um aumento generalizado dos preços dos seguros?
H2: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta positivamente o valor total de um contrato de seguros ou apólice
emitida pelas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Relativamente aos efeitos dos impostos e ‘taxas’ no crescimento do capital próprio das
seguradoras, F. Grace and Yuan (2011), para o grupo de análise que é compatível ao nosso
estudo,9 evidência uma relação negativa e significativa entre a taxa de crescimento do
excedente (capital próprio) e a taxa efetiva de impostos sobre os prémios. Em termos
absolutos, em 2006 para a indústria dos EUA, o aumento em 1% da taxa efetiva de
impostos sobre os prémios provocaria uma redução de $940 milhões do excedente total.
Estas evidências suportam a terceira hipótese do nosso estudo:
H3: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta negativamente o crescimento do excedente (capital próprio) das
seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
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nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
têm um efeito pequeno mas significativo no emprego, tanto a longo prazo como a curto
prazo (F. Grace, L. Sjoquist & Wheeler 2008, 2014). Tanto para a taxa de crescimento dos
salários (colaboradores) como para a taxa de crescimento das comissões (agentes ou
mediadores), F. Grace and Yuan (2011), evidenciam uma relação negativa com a taxa
efetiva de impostos sobre os prémios. Ao contrário destes últimos autores, devido a
limitações de dados, não analisamos separadamente a incidência da carga fiscal e parafiscal
associada aos prémios nos salários dos colaboradores e nas comissões dos agentes ou
mediadores. De uma forma agregada construímos uma proxy desse crescimento, o que nos
permitiu formular a hipótese H4. A mensuração dessa proxy é explicita no próximo
capítulo.
H4: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta negativamente o crescimento dos salários e comissões das seguradoras a
operar no segmento ‘não vida’.
Além do problema de incidência fiscal tratado por F. Grace and Yuan (2011), estes autores
analisaram o impacto dos impostos que incidem sobre os prémios no crescimento da
reserva e da dívida das seguradoras ‘vida’.
15
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
H5: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta negativamente o crescimento das reservas técnicas das seguradoras a
operar no segmento ‘não vida’.
No que respeita à dívida (total do passivo), que são as obrigações perante os colaboradores,
credores, detentores de apólices, acionistas, agentes ou mediadores, F. Grace and Yuan
(2011) também encontraram uma relação negativa entre o seu crescimento e a carga fiscal
associada aos prémios de seguro. Considerando a consistência encontrada na perspetiva
contabilística analisada ao nível do ativo e do excedente (capital próprio), formulamos a
seguinte e última hipótese do nosso estudo:
H6: A taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de seguro brutos emitidos
em Portugal, afeta negativamente o crescimento da dívida das seguradoras a operar no
segmento ‘não vida’.
Tendo em conta que as reservas técnicas ou provisões técnicas constituem a maior parte do
passivo de uma seguradora, os efeitos no crescimento da dívida serão complementares e
nos dará uma perspetiva diferente, ainda mais importante, caso os resultados não sejam
significativos ou de relação oposta ao estudo de F. Grace and Yuan (2011) para alguma das
hipóteses H5 ou H6.
16
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tabela 4 - Sinal esperado da variável “Carga fiscal e parafiscal sobre os Prémios brutos de Seguro”,
EPT
Esta subsecção tem como objetivo primordial realçar outros contributos económicos
literários relacionados essencialmente com a tributação dos prémios, que são igualmente
importantes e relevantes para o tema por nós tratado.
F. Grace and L. Sjoquist (2019), exploram se as empresas ‘não vida’ dos EUA estão
sediadas nos estados que minimizam os impostos sobre os prémios de seguro, e se pagam
mais impostos por não o fazerem. Na mesma ótica das diferenças tributárias estatais dos
EUA, F. Grace, L. Sjoquist, and Wheeler (2014, 2008), estimam os efeitos da tributação
dos prémios de seguros no tamanho da indústria de seguros ‘não vida’. A principal medida
utilizada para medir o tamanho dessa indústria foi o emprego estatal. A diferença
substancial entre o estudo de 2008 e 2014 é que o segundo faz uso de uma medida mais
adequada e precisa da taxa efetiva de impostos sobre os prémios10, o que conduziu a
resultados mais robustos e significativos. McNamara, Pruitt and Kuipers (2006),
analisam se as alterações das sedes das seguradoras11 entre os estados dos EUA, são
motivadas pelas diferenças das taxas de impostos sobre os prémios entre estados, pelas
diferenças de rigor regulatório de estado para estado, e por alguns fatores específicos
10 O primeiro estudo utilizou a medida de Petroni & Shackelford (1995) que consiste apenas na divisão do
total dos impostos pagos por seguradoras estrangeiras num dado estado, pelos prémios emitidos pelas
seguradoras estrangeiras nesse mesmo estado. (O termo estrangeiro é utilizado para diferenciar as seguradoras
que apenas não emitem prémios no estado de domicílio). Já o segundo estudo, além de utilizar a medida de
Petroni & Shackelford (1995), faz uso do diferencial entre as taxas domésticas e estrangeiras, evitando um
Mix da taxa estrangeira dos estados com as próprias taxas estrangeiras do estado de domicílio (F. Grace, L.
Sjoquist & Wheeler 2014).
11 Para os dois segmentos de negócio: ‘vida’ e ‘não vida’.
17
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
endógenos. De forma a testar as diferenças entre as seguradoras que deslocaram a sua sede
e as que não o fizeram, os autores fizeram correspondências desses dois tipos de
seguradoras, com caraterísticas semelhantes e que estão sediadas no mesmo estado. Ke,
Petroni, and Shackelford (2000), procuram determinar se os impostos estaduais reduzem
a compra da cobertura dos seguros ‘não vida’. Os autores testam a proposição de que o self-
insurance (seguro que cobre o risco de potenciais e infrequentes perdas não específicas, com
uma modalidade de pagamento diferente dos seguros tradicionais) aumenta nos estados
como maior carga fiscal estadual. Para isso utilizam como variável principal (dependente), o
total de perdas ou indeminizações pagas pelas seguradoras, em alternativa ao total dos
prémios, de forma a evitar problemas de endogeneidade tais como a manipulação da
informação de prémios emitidos pelas seguradoras em cada estado com o objetivo de
reduzir a dívida fiscal associada. Também para o segmento de negócio ‘não vida’, Petroni,
Douglas and Shackelford (1995) testam os efeitos dos impostos estatais e dos incentivos
regulatórios na definição das estruturas organizacionais das seguradoras (subsidiárias versus
licenciamento), pela análise da distribuição das seguradoras com licenças de exploração em
vários estados. Ou seja, os autores exploram se os impostos estatais e/ou os fatores
regulatórios têm influência na escolha do modo organizacional estratégico das seguradoras
nos vários estados dos EUA. Esta escolha remete-se à constituição de subsidiárias ou ao
licenciamento.
Como podemos constatar a literatura precedente apresenta alguns dos efeitos económicos
dos impostos relativamente à indústria seguradora. Os efeitos económicos dos impostos
sobre os prémios de seguro que queremos apurar, revelam maior importância na medida
em que os impostos não são necessariamente a razão primária ou crucial para a decisão de
localização das seguradoras, tal como é referido no estudo de F. Grace and L. Sjoquist
(2019). Ou seja, esta conclusão poderá articular mais interesse junto das sucursais a operar
no mercado segurador português, relativamente aos nossos resultados. F. Grace and L.
Sjoquist (2019), refere que em média as seguradoras pagam 38,61% a mais de impostos no
estado de domicílio, do que se estivessem localizadas no estado que minimizasse os seus
impostos. Algumas decisões de localização resultam de operações de fusões ou aquisições,
ou simplesmente relacionadas com questões de eficiência (McNamara, Pruitt, & Kuipers
2006). A tributação dos prémios de seguros relaciona-se amplamente, significativamente e
negativamente com o emprego da indústria seguradora (F. Grace et al. 2014), o que confere
18
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
12Petroni et al. (1995) utilizam como variável representante dos fatores regulatórios, o orçamento anual do
departamento de seguros, para cada estado. Quanto maior for esse orçamento, maior será as restrições ou
imposições regulatórias.
19
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Capítulo 4: Metodologia
Segundo Greene (2002), dados em falta num conjunto de dados em painel é comum, pelo
que o nosso estudo não foge à regra. Para o ano de 2018, a nossa amostra corresponde a
36% da população do total de empresas seguradoras ‘não vida’ e ‘mistas’.
Os critérios de filtração e exclusão de dados permite-nos evitar que os resultados deste
estudo sejam distorcidos por crescimentos abruptos, já que por exemplo, as seguradoras
crescem mais rápido que os ativos dos bancos, através principalmente de fusões e
aquisições (Davies & Podpiera 2003).
Para a construção da única variável explicativa de interesse, uma proxy da taxa efetiva da
carga fiscal e parafiscal sobre os prémios brutos emitidos de seguro direto (EPT),
que irá ser descrita doravante, consultamos o Portal das Finanças, os decretos-lei e leis
publicados no Diário da República Portuguesa, a fim de obter a taxa nominal de imposto
20
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
O modelo econométrico adotado que melhor explica os efeitos da carga fiscal e parafiscal
sobre os prémios nas empresas seguradoras é o mesmo que F. Grace and Yuan (2011) e
Wheaton (1986) estimaram nas suas investigações:
Yt,j e Yt-1,j correspondem à variável dependente para uma seguradora j para os anos t e t-1,
respetivamente, ou seja a taxa de crescimento efetivo. EPTt-1, j representa a nossa variável de
interesse correspondente à taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios brutos
emitidos de seguro direto14, para uma dada seguradora j e período t-1. X corresponde a k
variáveis de controlo que variam ao longo de t e j. αt, βt, δt representam os coeficientes
estimados. εt representa o termo de perturbação. Através da estrutura da equação
percebemos que a nossa única variável de interesse é a EPT. No entanto, no capítulo
seguinte explicaremos os resultados das variáveis de controlo que suscitem mais
curiosidade, sem esquecer o principal problemática do nosso estudo.
Estudos relacionados com o setor segurador, como os de F. Grace and Yuan (2011), Ke et
al. (2000), Collins Geiseler & Shackelford (1997), Petroni & Shackelford (1995) e Wheaton
(1986), utilizaram o método OLS tradicional. Os estudos de referência para o nosso
trabalho, F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986), além do método OLS tradicional,
ambos fizeram uso do método GLS pelo procedimento de Battese-Fuller, e
adicionalmente, tendo em conta possíveis cenários de autocorrelação dos modelos fizeram
uso do método GLS pelo procedimento de Prais-Winsten e estimaram uma regressão
autorregressiva AR(1), respetivamente.
No nosso estudo foram utilizados dados em painel, que nos traz muitas vantagens para a
13 A soma conjunta da taxa nominal apurada para cada ramo, modalidade e submodalidade, poderá ser
consultado no anexo a este trabalho.
14 Consultar glossário.
21
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Estas são algumas das vantagens substanciais que os dados organizados em painel
oferecem concretamente ao nosso estudo. Além disso, a vantagem fundamental de um
conjunto de dados em painel sobre uma secção transversal é que ele permitirá ao
investigador uma grande flexibilidade na modelagem de diferenças de comportamento
entre indivíduos (estados, empresas, etc.), (Greene, 2002).
No entanto, segundo Guajarati and Porter (2011) a utilização em dados em painel também
nos traz algumas desvantagens ao nível de estimação dos modelos e inferência. Uma vez
que esses dados envolvem tanto dimensões temporais quanto de corte transversal, os
problemas inerentes aos dados de corte transversal 15(por exemplo, heteroscedasticidade) e
de séries temporais (por exemplo, autocorrelação) precisam ser tratados. Há também
alguns problemas adicionais, como de correlação cruzada de unidades individuais no
mesmo ponto no tempo. Estes problemas foram contabilizados nas especificações dos
modelos aplicados.
As duas técnicas de estimação mais destacadas para tratar de um ou mais desses problemas
15 Problemas de hesterocedasticidade com as secções transversais estão certamente presentes, pois a nossa
amostra é constituída por seguradoras ‘não vida’ e ‘mistas’, e além disso, algumas seguradoras pertencem a
grupos económicos do setor. Isto certamente afetara a alocação dos recursos ao negócio do segmento ‘não
vida’, pelo que pode trazer realidades indesejáveis aos resultados do problema aqui estudado.
22
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
é o modelo de efeitos fixos e o modelo de efeitos aleatórios. O teste de Hausman pode ser
usado para decidir entre a utilização desses dois modelos. A hipótese nula (H0) subjacente
ao teste de Hausman é que os estimadores do modelo de efeito fixo e do modelo de efeitos
aleatórios não diferem substancialmente. Se a hipótese nula for rejeitada, a conclusão é que
o modelo de efeitos aleatórios não é adequado, porque os efeitos aleatórios provavelmente
estão correlacionados com um ou mais regressores. Nesse caso, o modelo de efeitos fixos é
preferível aos de efeitos aleatórios – hipótese alternativa (H1). Neste estudo só aceitaremos
H0, ou seja a utilização do modelo de efeitos aleatórios no método OLS, quando o valor da
probabilidade obtida a partir deste teste seja superior a 1%, tendo em conta que F. Grace
and Yuan (2011) fizeram uso do modelo de efeitos aleatórios.
No seguimento dos estudos de referência para o nosso trabalho, como foi mencionado em
cima, estes também estimaram as equações regressivas pelo método GLS, de forma a
contabilizar problemas de heteroscedasticidade e de autocorrelação dos dados. Para
escolher o melhor procedimento a adotar no método GLS, fizemos uso do teste LR
(Likelihood Ratio) em que a hipótese nula (H0), refere que os termos de perturbação, que
aparecem na função de regressão populacional são homocedásticos, ou seja todos têm a
mesma variância. Este tipo de teste é aplicado ao nível dos cortes transversais e das séries
temporais. À semelhança do critério adotado no teste de Hausman só aceitaremos H0, ou
seja, a não aplicação do método GLS pelo respetivo procedimento, se a probabilidade do
teste for superior a 1%.
Para além da aplicação do método GLS que também corrige problemas de autocorrelação,
dada a relevante preocupação de F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986) com
possíveis suposições de autocorrelação dos modelos, suplementarmente fizemos uso do
correlograma e do teste Q-stastistics aos resíduos de cada equação regressiva estimada (OLS
e GLS), 16para averiguar se os mesmos não continham informação adicional. Este último
procedimento revelou-se importante na determinação e escolha dos modelos que melhor
minimizam uma possível correlação das séries temporais, acrescentando qualidade
explicativa aos regressores. É com base nesses modelos que serão explicados os resultados,
no próximo capítulo.
16 Os resultados do correlograma e do teste Q-stastistics poderão ser consultados no apêndice deste trabalho.
23
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Variáveis Dependentes
Um dos objetivos deste trabalho empírico é estudar a incidência da carga fiscal e parafiscal
sobre os prémios de seguros, por isso além de determinarmos o seu efeito no crescimento
das seguradoras (Wheaton 1986), focamo-nos também nos efeitos sobre o valor dos
contratos de seguros ou apólices, no total do excedente, e no total dos salários e comissões.
24
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Adicionalmente, tal como F. Grace and Yuan (2011), apuramos os efeitos da carga fiscal e
parafiscal dos prémios no total das reservas e no total da dívida, por norma a conseguirmos
uma maior amplitude e consistência das evidências. Portanto foram constituídas as
seguintes seis variáveis dependentes.
Tanto F. Grace and Yuan (2011) como Wheaton (1986), concordam que a taxa de
crescimento do total dos ativos (TXATIVO), é a melhor medida que representa a
dimensão de uma empresa e reflete o crescimento atual da mesma (proxy). Segundo Davies
and Podpiera (2003), um dos riscos que uma companhia de seguros enfrenta é o risco de
investimento (ativos). Estes autores afirmam que o risco dos ativos afetam o valor,
performance, rentabilidade, liquidez, e a estrutura do portefólio de investimentos das
seguradoras e devedores. Segundo F. Grace and Yuan (2011), na literatura existente, devido
à falta de dados nem todos os impostos são analisados cuidadosamente quanto à sua
incidência. O estudo destes autores não foi exceção, pelo que não apuraram a magnitude
real da carga fiscal incidente sobre os prémios que os consumidores ou tomadores dos
seguros suportam. Como já foi referido na formulação da segunda hipótese, apesar de a
nossa base de dados não disponibilizar todos os dados necessários para determinarmos o
preço final não enviesado de um contrato de seguro ou de uma apólice, depois de
assumirmos certos pressupostos17, construímos uma proxy da taxa de crescimento do
total do valor dos contratos de seguros (TXPROD), que consideramos refletir as
alterações dos preços dos seguros, não considerando os impostos e ‘taxas’ inerentes no
valor final. A taxa de crescimento do excedente total (TXEXCE), tem por base o total
do capital próprio das seguradoras que é o património que pertence aos detentores de
capitais. F. Grace and Yuan (2011) afirmam que esta definição de património é
conservadora no sentido que não contém reservas especificas listadas como passivo, mas
são de facto, reservas líquidas utilizadas para pagar sinistros em caso de dificuldades
financeiras. Esta taxa de crescimento permite aferir se os acionistas suportam os impostos e
17 Pressupostos assumidos: a produção, que corresponde aos prémios brutos emitidos constitui a medida
possível que mais se aproxima ao valor total dos contratos de seguros emitidos pelas seguradoras analisadas,
sem considerar os impostos ou taxas associadas; prazo de cobertura do contrato igual ou semelhante;
contratos de tipo individual já que seriam estes os mais insensíveis a uma variação do preço; variação
inexistente dos custos inerentes a um contrato de seguros ao longo do período da amostra; a seguradora faria
aumentar ou diminuir o preço de um seguro através do cálculo do prémio comercial (custo teórico das
coberturas).
25
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
‘taxas’ associados aos prémios. Por sua vez, os acionistas podem transferir parte da carga
tributária para os colaboradores, através de cortes nos salários, ou na redução das
comissões dos agentes ou mediadores (F. Grace & Yuan 2011). Apesar de a nossa base de
dados não fornecer os salários e comissões por seguradora, através da rúbrica custos e
gastos de exploração líquidos evidenciados nas demostrações financeiras, consideramos
65%18 desses encargos na construção da proxy da taxa de crescimento dos salários e
comissões totais (TXSALCOM). Por limitações de dados, ao contrário do estudo de F.
Grace and Yuan (2011), não analisamos o crescimento dos salários e das comissões,
separadamente, como já foi referido anteriormente.
Variável Explicativa
Para o cálculo da proxy da taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal sobre os prémios de
seguro (EPT), seguimos as abordagens de F. Grace, L. Sjoquist and Wheeler (2014), de F.
Grace and Yuan (2011), de Ke et al. (2000) – estes últimos autores usaram dados de três
anos anteriores ao período de análise, de forna a contornar possíveis problemas de
endogeneidade entre os impostos correntes e as outras variáveis – e de Petroni and
Shackelford (1995, 1999). “Prémios de seguros” referem-se aos prémios brutos emitidos
18Esta percentagem média foi definida em função da análise de alguns relatórios e contas de empresas de
seguros presentes na nossa amostra. Os restantes 35% são considerados gastos com fornecimento de serviços
externos, e outros.
26
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Variáveis de controlo
Tanto F. Grace and Yuan (2011) como Wheaton (1986), utilizaram o logaritmo natural do
total dos ativos como proxy da dimensão das seguradoras (LNATIVO). Este último
autor tem em conta a hipótese que as companhias de maior dimensão normalmente
crescem mais, perante o cenário de ‘taxas’ de crescimento mais baixas. Petroni and
Shackelford (1999), também incluiu esta variável para controlar a maior capacidade de
amortização dos custos fixos, e maior facilidade de diversificação do risco, por parte das
seguradoras de maior dimensão.
27
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Segundo F. Grace and Yuan (2011), tem sido demostrado teoricamente e empiricamente
que a tributação sobre o rendimento influência a operação e crescimento de uma empresa.
Além disso, Wheaton (1986), na constituição da dívida fiscal estadual combinada, incluiu
naturalmente a tributação sobre o rendimento. Assim como Wheaton (1986), outros
estudos consideraram a taxa efetiva de IRC (ETR), como uma variável do total dos
impostos liquidados às empresas seguradoras (Ke et al. 2000; Petroni & Shackelford 1995,
1999).
Os estudos de referência ao nosso trabalho, F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986),
não utilizaram as provisões ou reservas técnicas como variável de controlo. As provisões
técnicas são das rúbricas mais importantes do passivo das empresas seguradoras e são parte
integrante da sua estabilidade financeira, e consequentemente, o seu cálculo atuarial
inevitavelmente influência o crescimento dos ativos, uma vez que uma parte significativa
dos mesmos são representativos dessas mesmas provisões técnicas (Costa 2016; Pereira
2016; Correia 2015). Nesse sentido incluímos a taxa de crescimento das provisões
técnicas não vida (PTNV) como variável de controlo. Esta variável terá uma função
acrescida de controlo no modelo de análise ao crescimento do total das reservas, tendo em
conta que as seguradoras ‘mistas’ também constituem reservas para os seguros do
segmento ‘vida’. Ou seja, consideramos que se a nossa análise se remete ao segmento ‘não
vida’, ao contrário dos estudos base de F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986) que
analisam o segmento ‘vida’, maiores reservas ou provisões técnicas ‘não vida’ em relação às
‘vida’ conferem maior capacidade de crescimento às seguradoras pelas razões em cima
descritas.
28
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
variável desta natureza como explicativa, enquanto que os estudos de F. Grace et al. (2008,
2014), de Ke, Petroni and Shackelford (2000) e de Petroni and Shackelford (1999), a
classificaram como variável de controlo dos resultados das estimações. A partir do dia 1 de
janeiro de 2016, entrou em vigor o novo regime de solvência do setor segurador (Solvência
II), que provocou alterações ao nível do cálculo atuarial das provisões técnicas, e foram
implementados novos requisitos de capital mais sensíveis ao risco (Dias 2019; Lages 2010).
Por isso, a implementação deste novo regime de solvência também alterou a forma como
as seguradoras eram reguladas pelos serviços competentes. Posto isto, introduzimos nos
esquemas regressivos uma variável dummy que irá ter em conta o período em que o
regime Solvência II é predominante (DUMREG) no horizonte temporal da análise.
Além da sua função de identificação de um período regulatório diferente e mais exigente
para as seguradoras, esta variável categórica, poderá nos evidenciar a reação ou evolução
das seguradoras perante o novo paradigma regulatório. Acreditamos que a partir do
período de implementação do regime Solvência II, que também coincide com o período
pós-crise financeira e económica de 2008, as seguradoras ao depararem-se com uma
conjuntura económica mais favorável, que permitiu a estas mais estabilidade financeira, de
processos, e recursos, logo consequentemente esperamos um crescimento das seguradoras
mais significativo a partir desse marco.
29
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Capítulo 5: Resultados
Neste capítulo serão apresentadas as principais estatísticas descritivas para a amostra não
balanceada constituída; serão feitos testes à existência de problemas de multicolinearidade
através da observação das correlações de Pearson; e serão apresentados os principais
resultados da análise multivariada através da exposição e explicação dos seis diferentes
modelos regressivos estimados.
30
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
A média do HHI21 indica-nos que para amostra analisada, a indústria seguradora encontra-
se moderadamente concentrada, embora existam valores que atingem o patamar de
indústria altamente concentrada (valor máximo: 0,1846) e nenhum valor alcança o patamar
de indústria não concentrada (valor mínimo: 0,1391).
As PTNV que são reservas fundamentais para a proteção dos tomadores de seguro e
19 No projeto Solvência II, nos requisitos de capital de uma empresa de seguros, devem existir
dois níveis de risco: o mais baixo, que correspondente aos requisitos de capital mínimos,
designado por Minimum Capital Requirement (MCR) e o nível ideal relativo aos requisitos de capital
económico - capital necessário do ponto de vista da solvência, conhecido por Solvency
Capital Requirement (SCR) (Lages, 2010).
20 Por exemplo, o incentivo ao consumo de seguros de transportes de mercadorias aéreo, promovendo o
aumento das exportações ou o incentivo ao consumo de seguros de doença, promovendo o uso de serviços
privados de saúde de forma a diminuir a procura por serviços públicos de saúde.
21 A classificação por nós utilizada seguiu a classificação de mercado adotada pela Divisão Anti-truste do
31
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
beneficiários de seguros ‘não vida’ cresceram em média 7,9% (1,0791) ao ano. No entanto,
o desvio padrão de aproximadamente 36%, pode refletir a adoção das novas bases para o
cálculo das provisões técnicas resultantes do Projeto de Solvência II que teve início em 1
de janeiro de 201622.
Tabela 7 - Matriz das correlações de Pearson para a variável explicativa e variáveis de controlo
A maior parte das correlações são muito baixas, algumas negativas. Apenas existe uma
correlação baixa (0,3157) entre as variáveis EPT e LNATIVO (Pestana & Gageiro 2008),
logo não há necessidade de excluir nenhuma variável dos modelos explicativos. A
LNATIVO tem uma relação positiva estatisticamente significativa a 1% com a EPT, logo à
medida que a dimensão de uma seguradora aumenta, esta ganha mais capacidade tributária
e contributiva (parafiscalidade), em consequência do aumento da produção, logicamente. A
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
maior capacidade contributiva das seguradoras de maior dimensão alarga-se à ETR, já que
esta apresenta uma relação positiva e estatisticamente significativa a 5% com a LNATIVO.
Isto confirma a importância dada na utilização desta variável, pela literatura precedente,
como foi referido no último capítulo.
A variável originalmente introduzida por nós, a PTNV, apresenta uma relação negativa
estatisticamente significativa a 10%, com a EPT. Uma das interpretações possíveis, é que
do ponto de vista financeiro, quando a EPT aumenta, isso retira às seguradoras capacidade
de constituição de reservas para seguros ‘não vida’, o que reduz a proteção aos tomadores
de seguros ou consumidores, ou seja, a cobertura de eventuais perdas com sinistros.
Tabela 8 - Matriz de correlações de Pearson para as seis variáveis dependentes e variável explicativa
A última linha desta tabela mostra-nos que à exceção da proxy da taxa de crescimento do
valor dos prémios (TXPROD), todas as restantes variáveis dependentes revelam uma
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
relação negativa, algumas estatisticamente significativas, com a EPT. Estes resultados vão
ao encontro do sinal esperado 23para a única variável de interesse, a EPT.
Nesta subsecção explicamos os principais resultados dos seis modelos desenvolvidos que
foram estimados pelos métodos OLS e GLS. No entanto, como já foi referido no último
capítulo, com o objetivo de escolher o output estimado mais adequado, no qual os resíduos
não contenham informação adicional (F. Grace & Yuan 2011; Wheaton 1986) fizemos uso
do correlograma e do teste Q-stastistics como critério de definição da qualidade explicativa
de cada output. Portanto, só iremos apresentar o modelo escolhido nesses critérios.
Relembramos que as hipóteses desenvolvidas neste estudo nos remetem para única variável
explicativa de interesse, a EPT (taxa efetiva da carga fiscal e parafiscal associada aos
prémios de seguros brutos emitidos). Oportunamente, alguns resultados das variáveis de
controlo foram explicados devido ao seu interesse explicativo.
23Para mais detalhes ver a formulação das hipóteses no capítulo 2 deste estudo.
24A elasticidade média foi calculada pelo produto do coeficiente estimado para a EPT, com a divisão da
média da EPT pela média da TXATIVO. Foram consideradas as médias apuradas nas estatísticas descritivas
da amostra balanceada.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
efeitos a longo prazo, apurados anualmente, poderão ser bastante mais largos ou
significativos, como referem F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986).
Por último, pela análise das evidências da variável dummy DUMREG, verificamos que desde
que foi implementado o novo regime de solvência da indústria, o Solvência II, o
crescimento dos ativos sofreu um aumento de aproximadamente 3,6 pontos percentuais
(nível de significância estatística de 1%), em relação ao período do regime de Solvência I.
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tabela 9 - Modelo da taxa de crescimento dos ativos estimado pelo método EGLS
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
estatística de 1%, verificamos uma relação positiva entre a EPT e a proxy do crescimento do
valor de um contrato de seguros ou apólice 25(preço). A elasticidade média calculada nos
mesmos termos do ponto anterior foi de 0,040101. Ou seja, o aumento de 1 ponto
percentual da EPT, levaria ao aumento de 0,040101% do crescimento da produção, pelo
que em termos absolutos resultaria num esforço produtivo do total da indústria de
aproximadamente €125 milhões em prémios brutos, para o ano de 2018. Perante estes
resultados subentende-se um aumento generalizado do valor dos contratos ou apólices
(preço) de €125 milhões de forma a que os consumidores suportem a carga fiscal e
parafiscal associada, ceteris paribus.
No entanto, estas evidências também apresentam uma fraca magnitude26 a curto prazo, tal
como os efeitos no crescimento das seguradoras. Na nossa análise não fizemos distinção
entre seguros individuais e seguros de grupo, já que estes últimos são mais sensíveis às
variações dos preços dos seguros (F. Grace & Yuan 2011). Outra distinção importante seria
a distinção entre seguros não obrigatórios e seguros obrigatórios, pois estes últimos pela
sua natureza, tornam a procura pelos seguros inelástica como é referido nos estudos de F.
Grace, L. Sjoquist & Wheeler (2008) e de Ke et al. (2000). Se a procura é inelástica em
alguns ramos de seguros, os efeitos da EPT no aumento dos preços serão menores e até
mesmo não significativos. Além disso, não consideramos no nosso modelo a taxa de
inflação e o rendimento per capita como variáveis de controlo macroeconómicas, estas
relacionadas com a procura de produtos de seguro.
O período do projeto de solvência II que teve início em 2016 coincide com o início do
período pós crise financeira e económica de 2008, pelo que pela análise da nossa variável
dummy DUMREG é evidenciado um aumento de aproximadamente 7 pontos percentuais
da taxa de crescimento do valor total dos contratos ou apólices de seguro (estatisticamente
significativa ao nível de 1%) em relação ao período significativo da crise financeira e
económica (2008-2015).
25 Sem impostos e ‘taxas’ parafiscais. Obviamente que a carga fiscal e parafiscal faz aumentar o preço de um
seguro. No entanto o objetivo é saber se existe um esforço ao nível do preço, que tem percussões no
consumidor, para suportar essa mesma carga fiscal e parafiscal.
26 Para a nossa amostra apuramos uma produção de aproximadamente €3,1 mil milhões para o ano de 2018, o
37
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
27 Parao grupo de análise de seguradoras detidas por acionistas (F. Grace & Yuan 2011), que é o caso do
nosso estudo. Na nossa amostra apenas uma seguradora é mútua, ou seja não são acionistas ou sócios que a
detêm, mas sim os próprios detentores das apólices de seguro.
38
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
TXEXCE
Variáveis Sinal Esperado Coeficiente
1,618014
C
(6,195129)***
-1,494015
EPT -
(-4,354247)***
-3,663788
HHI ?
(-3,195549)***
0,010185
LNATIVO ?
(0,988373)
0,007278
INVYIELD ?
(0,132029)
-0,085627
ETR ?
(-0,903914)
0,035097
PTNV ?
(1,142516)
0,047374
DUMREG ?
(1,492028)
R-squared (Weighted Statistics) 0,09478
Adjusted R-squared (Weighted Statistics) 0,062117
R-squared (Unweighted Statistics) 0,095358
F-statistic (2,901782)***
Observações (unbalanced) 202
Nº Empresas 20
39
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
28A medida de mensuração desta variável estão explicados na tabela 5, e os critérios estão explicados em nota
de rodapé na página 26.
40
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tabela 12 - Modelo da taxa de crescimento dos salários e comissões estimado pelo método OLS
TXSALCOM
Variáveis Sinal Esperado Coeficiente
0,934126
C
(3,983578)***
-0,622415
EPT -
(-0,74865)
-0,631267
HHI ?
(-0,696209)
-0,005685
LNATIVO ?
(-0,558461)
0,02962
INVYIELD ?
(1,54882)
0,192559
ETR ?
(2,607381)***
0,35229
PTNV ?
(5,751693)***
0,013652
DUMREG ?
(0,644501)
R-squared (Weighted Statistics) 0,232946
Adjusted R-squared (Weighted Statistics) 0,2063650
R-squared (Unweighted Statistics) 0,241001
F-statistic (8,763613)***
Observações (unbalanced) 210
Nº Empresas 21
41
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Na indústria seguradora a maior parte dos ativos servem de representação das provisões
técnicas. Logo, faz sentido que a performance do investimento total (INVYIELD) se
relacione positivamente (relação estatisticamente significativa ao nível de 5%), com o
crescimento das provisões técnicas ou reservas. Isto porque quanto maior o desempenho
dos ativos, melhores condições se proporcionam para que se constituam mais provisões
técnicas. Contudo o coeficiente é pequeno. A dimensão do coeficiente pode ser explicado
pelo facto de algumas observações da INVYIELD serem negativas.
Tabela 13 - Modelo da taxa de crescimento da reserva ou provisões técnicas estimado pelo método
OLS
42
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Por fim, com o objetivo de obtermos um estudo mais completo dos efeitos da EPT, foi
também nossa intenção observar qual era o comportamento das obrigações totais das
seguradoras. Tal como é evidenciado no estudo de F. Grace and Yuan (2011), nós também
observamos que o crescimento da dívida (total do passivo) é influenciado negativamente
pela EPT (hipótese H6). Esta relação é estatisticamente significativa ao nível de 10%,
como podemos verificar na tabela 14. A elasticidade média calculada nos mesmos termos
para os modelos de crescimento do total dos ativo, valor dos contratos e capital próprio, é
de -0,062247 para as duas variáveis. Ou seja, o aumento de 1 ponto percentual da EPT,
levaria a uma redução de 0,062247% do crescimento total da dívida, para o ano de 2018.
Em termos absolutos seria sinónimo de uma redução de quase €1,2 mil milhões do total da
dívida da indústria seguradora, para o ano de 2018. Em investigações futuras seria
interessante observar o comportamento em específico da dívida financeira. Talvez uma
maior EPT possa significar um entrave ao recurso do financiamento alheio por parte da
indústria seguradora.
Pela análise do output deste modelo podemos observar que a performance média do total
do investimento das seguradoras (INVYIELD) que comercializam seguros ‘não vida’,
influência positivamente o crescimento do total do passivo em aproximadamente 6 pontos
percentuais, para um nível de significância estatística de 1%. Logo, para este modelo a
INVYIELD revelou ter uma importância estatística acrescida, o que poderá trazer insights
para investigações futuras.
43
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Tabela 14 - Modelo da taxa de crescimento da dívida (total do passivo) estimado pelo método OLS
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Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Na tabela 15, podemos verificar que o sinal encontrado nos seis modelos selecionados
para a variável explicativa de interesse EPT, está de acordo com o sinal esperado e
formulado para as hipóteses apresentadas no capítulo 3 desta investigação. Apenas as
hipóteses H4 e H5 não foram validadas por não termos observado qualquer relação
significativa entre a variável explicativa de interesse e as respetivas variáveis dependentes.
No entanto, o tipo de relação observada coincide com o estudo de F. Grace and Yuan
(2011). Particularmente, a não confirmação da hipótese H4, leva-nos a ter outras
conclusões diferentes das apesentadas no estudo de F. Grace and Yuan (2011), quanto ao
problema de incidência subjetiva da EPT.
45
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Capítulo 6: Conclusões
Até prova em contrário, este estudo é o primeiro a observar os efeitos dos impostos e
‘taxas’ parafiscais que incidem sobre os prémios de seguros brutos emitidos em Portugal,
na indústria seguradora. Os prémios brutos emitidos de seguros ‘não vida’ não estão
isentos de imposto de selo, ao contrário do segmento ‘vida’. Adicionalmente o segmento
‘não vida’ está sujeito a uma carga parafiscal média claramente mais elevada que o
segmento ‘vida’. Uma elevada carga fiscal e parafiscal que incide sobre os prémios de
seguro, pode ser contraproducente ao desenvolvimento do importante papel social e
económico que o setor segurador exerce sobre qualquer sociedade desenvolvida.
Este trabalho confirma as evidências de F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986) ao
mostrar que os impostos e ‘taxas’ parafiscais associadas aos prémios de seguro afetam
negativamente o crescimento das seguradoras, particularmente as que comercializam
produtos ‘não vida’, no caso do nosso estudo. Além disso, exploramos a problemática da
incidência dessa carga fiscal e parafiscal, pois apesar de as seguradoras serem apenas meros
mecanismos de recolha e entrega desses impostos e contribuições, estas podem reduzir esse
encargo fiscal e parafiscal aos consumidores ou tomadores de apólices, pela redução de
salários e comissões dos colaboradores e agentes ou mediadores, ou pela redução de
distribuição de dividendos ou lucros (baixas rentabilidades) aos acionistas ou sócios, com o
objetivo de não prejudicar o consumo de produtos de seguro.
46
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
apesar da relação negativa observada com a EPT, esta não é estatisticamente significativa,
ao contrário do que o estudo de F. Grace and Yuan (2011) sugere. F. Grace and Yuan
(2011), por limitação de dados, não analisaram os efeitos da EPT no preço ou valor dos
contratos ou apólices de seguros. Hipoteticamente, segundo estes autores, devido à
natureza tributária do imposto e das contribuições parafiscais, as seguradoras podem
aumentar o preço dos seguros de forma a que a incidência do imposto se limite apenas ao
consumidor ou tomador da apólice, não afetando indiretamente os restantes stakeholders.
Apesar das limitações encontradas na definição da variável dependente representativa do
crescimento do valor dos contratos ou apólices de seguro, observamos uma relação
positiva e estatisticamente significativa entre esta, e a EPT. No entanto, todas estas
conclusões relativas ao problema de incidência, devem ser analisadas com cautela, pois não
dispusemos de informação precisa na definição da maioria das variáveis utilizadas.
Portanto, existe a forte possibilidade de incidência total subjetiva nos consumidores, pois,
não só depende da natureza do encargo do imposto, como há maior suscetibilidade por
parte das seguradoras em aumentar os preços dos seguros ‘não vida’, já que não existem
outras soluções financeiras não sujeitas a este tipo de impostos e contribuições parafiscais,
ao contrário do que acontece para o ramo ‘vida’. Não obstante, a maior parte dos produtos
de seguro da nossa amostra, têm uma procura inelástica (F. Grace, L. Sjoquist & Wheeler
2008; Ke et al. 2000), em consequência do cariz obrigatório de subscrição desses seguros.
Além disso, os tomadores de seguros, principalmente os individuais, são insensíveis ao
preço (F. Grace & Yuan 2011), pois as caraterísticas diferenciadoras destes produtos são as
suas coberturas de certos riscos (Kiyak & Pranckviciute 2014). No entanto, a nossa
investigação, para o problema de incidência dos impostos sobres os prémios de seguro
apresentado no estudo de F. Grace and Yuan (2011), mostra que para o segmento de
negócio ‘não vida’ a operar em Portugal, existem possibilidades embora não conclusivas,
que a carga fiscal e parafiscal seja partilhada entre os consumidores ou tomadores de
apólices, e acionistas ou detentores de capitais. Já no estudo de F. Grace and Yuan (2011),
apenas é evidenciado que os colaboradores e agentes ou mediadores, entre si partilham
alguma carga fiscal que incide sobre os prémios de seguro.
De forma a termos uma maior amplitude dos efeitos da EPT, analisamos o seu impacto no
crescimento das reservas ou provisões técnicas, e no crescimento do total da dívida ou total
do passivo. Relativamente às reservas ou provisões técnicas, ao contrário do que é
47
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
evidenciado no estudo de F. Grace and Yuan (2011), embora também observamos uma
relação negativa com a EPT, esta não é estatisticamente significativa. Quanto ao impacto
da EPT no crescimento do total da dívida ou passivo observamos uma relação negativa e
estatisticamente significativa, o que vai ao encontro do estudo de F. Grace and Yuan
(2011). Pensamos que em investigações futuras seria interessante isolar a dívida financeira
do passivo total, para o mesmo tipo de análise.
Uma análise ao setor segurador dos países da união europeia ou da zona euro, não só
poderá permitir uma maior recolha amostral e mais significativa, como provavelmente
seriam definidas variáveis com maior precisão. Por conseguinte, estes fatores podem
conferir aos modelos maior capacidade regressiva, assim como maior termo de
comparabilidade amostral com os estudos de F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986)
relativamente à dimensão da amostra.
48
Os efeitos da carga fiscal e parafiscal associada aos prémios brutos de seguro emitidos em Portugal
nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Apêndices
Esta tabela descreve os resultados dos modelos não selecionados através de uma segunda análise do
correlograma e do teste Q-statistics, de modo a minimizar possíveis problemas de autocorrelação dos
modelos. No modelo do crescimento dos ativos (TXATIVO), foram considerados efeitos fixos, no
modelo da proxy do crescimento do valor dos contratos de seguro (TXPROD) foram considerados efeitos
aleatórios. Nos modelos EGLS do crescimento do capital próprio, do crescimento dos salários e
comissões, do crescimento das provisões técnicas, e do crescimento do passivo foram considerados cross-
section weights. Em todos os modelos as variâncias e covariâncias foram estimadas pelo método de white.
O período analisado foi 2008-2018. A EPT é a única variável explicativa de interesse. As restantes variáveis
são variáveis de controlo. Entre parênteses encontram-se as t-statistics. Os símbolos, *, **, e ***,
representam a significância estatística das variáveis aos níveis de 10%, 5% e 1%, respetivamente.
Método econométrico/Variáveis Dependentes
Variáveis OLS OLS EGLS EGLS EGLS EGLS
TXATIVO TXPROD TEXCE TXSALCOM TXRESER TXDIVID
3,820373 0,546918 1,377835 0,766412 0,698336 0,500932
C
(4,863481)*** (1,520978) (9,70429)*** (6,374747)*** (4,345581)*** (6,475864)***
-0,422868 0,576283 -0,964518 0,033821 -0,054379 -0,15672
EPT
(-1,623538) (1,81121)* (-5,677677)*** (0,132181) (-0,646605) (-2,153931)**
-0,338339 -0,291535 -1,541682 -0,384981 0,391581 0,345146
HHI
(-0,768369) (-0,415616) (-3,573481)*** (-0,89283) (3,383611)*** (1,408453)
-0,145588 0,011994 0,001694 -0,002441 -0,006323 -0,000288
LNATIVO
(-3,638165)*** (0,676744) (0,231327) (-0,714932) (-3,25185)*** (-0,093403)
0,042115 0,03008 0,019344 0,052791 0,027661 0,046769
INVYIELD
(1,907835)* (2,350131)** (0,469581) (4,253806)*** (2,329537)** (2,88144)***
-0,001825 0,0626 0,057843 0,16395 0,009523 0,032112
ETR
(-0,043306) (1,223171) (0,852529) (6,913447)*** (0,665201) (1,918812)*
0,024383 0,232052 -0,009392 0,318416 0,361977 0,460556
PTNV
(1,237799) (3,255292)*** (-1,263864) (4,158369)*** (2,482233)** (8,588055)***
0,043795 0,025228 0,0000255 0,026178 0,030784 0,008041
DUMREG
(7,666641)*** (-1,03436) (0,000965) (1,987444)** (2,904683)*** (0,815029)
R-squared (Weighted Statistics) 0,308364 0,1451 0,07169 0,251403 0,496324 0,51019
Adjusted R-squared (Weighted Statistics) 0,208502 0,114568 0,038195 0,225461 0,479126 0,492697
R-squared (Unweighted Statistics) NA 0,155251 0,050518 0,21615 -0,154811 -0,543972
F-statistic (3,087906)*** (4,752372)*** (2,140285)** (9,691152)*** (28,85829)*** (29,16506)***
Observações (unbalanced) 215 204 202 210 213 204
Nº Empresas 21 21 20 21 21 20
49
Tabela 17 - Correlograma e teste Ljung-Box Q-statistics para todos os modelos estimados nesta investigação
Esta tabela apresenta os resultados do método por nós utilizado, para analisar possíveis correlações dos resíduos dos modelos estimados, de forma a selecionar o melhor modelo em que
os resíduos contenham o mínimo de informação adicional. Esta prática surge das preocupações de F. Grace and Yuan (2011) e Wheaton (1986), com possíveis autocorrelações dos seus
modelos. Para que não haja ‘serial correlation’ nos resíduos, as autocorrelações e as autocorrelações parciais devem estar perto de zero, todas as Q-statistics deverão ser insignificantes
com largos ou grandes p-values.
Modelo OLS - TXATIVO Modelo EGLS - TXATIVO Modelo OLS - TXPROD Modelo EGLS - TXPROD
Modelo OLS - TXEXCE Modelo EGLS - TXEXCE Modelo OLS - TXSALCOM Modelo EGLS - TXSALCOM
Modelo OLS - TXRESER Modelo EGLS - TXRESER Modelo OLS - TXDIVID Modelo EGLS - TXDIVID
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nas seguradoras a operar no segmento ‘não vida’.
Anexos
Total da soma das taxas nominais fiscais e parafiscais dos prémios de seguro
Ramo/Modalidade/Submodalidade 2007-2008 2009-2014 2015-2018
Acidentes e Doença 6,230% 7,242% 7,742%
Aéreo 5,230% 5,242% 5,242%
Automóvel
Merca. Transp. 9,440% 9,452% 9,452%
Pes. Transportadas 9,440% 9,452% 9,452%
RC Veíc. terrestres a motor 12,940% 13,952% 14,452%
Veículos Terrestres 10,440% 11,452% 11,952%
Diversos
Caução 3,230% 3,242% 3,242%
Perdas pecuniárias diversas 9,230% 9,242% 9,242%
Assistência 9,230% 9,242% 9,242%
Protecção jurídica 9,230% 9,242% 9,242%
Seguros diversos 9,230% 9,242% 9,242%
Crédito 5,230% 5,242% 5,242%
Incêndios e Outros Danos
Incêndio e Elem. Natureza 22,230% 22,242% 22,242%
Outros danos em coisas
Agrícola - Colheitas 19,930% 19,942% 18,242%
Agrícola - Incêndio 11,230% 11,242% 11,242%
Avaria de máquinas 22,230% 22,242% 22,242%
Cristais 22,230% 22,242% 22,242%
Deterioração de Bens Refrigerados 22,230% 22,242% 22,242%
Outros 22,230% 22,242% 22,242%
Pecuário 11,230% 11,242% 11,242%
Riscos Múltiplos Comerciantes 22,230% 22,242% 22,242%
Riscos Múltiplos Habitação 22,230% 22,242% 22,242%
Riscos Múltiplos Industrial 22,230% 22,242% 22,242%
Riscos Múltiplos Outros 22,230% 22,242% 22,242%
Roubo 22,230% 22,242% 22,242%
Marítimo e Transportes
Emb. marít., lac. e fluviais 5,230% 5,242% 5,242%
Mercadorias transportadas 9,230% 9,242% 9,242%
Pessoas transportadas 9,230% 9,242% 9,242%
RC Emb. marít., lac. e fluviais 5,230% 5,242% 5,242%
Mercadorias Transportadas 18,230% 18,242% 18,242%
Responsabilidade Cívil Geral 9,230% 9,242% 9,242%
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FACULDADE DE ECONOMIA