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TÉCNICAS DE NECROPSIA

Aula 5

PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE NECROPSIA

Na aula passada aprendemos como executar as técnicas gerais de necropsia, que


consistem na abertura do crânio, tórax e abdômen.

Na aula de hoje vamos aprender sobre os procedimentos específicos de necropsia,


que são aqueles utilizados em determinados casos, cuja natureza ou circunstância do
crime exija procedimentos diferentes de análise, como as necropsias de afogados,
carbonizados, os feminicídios, enforcamentos, dentre outros.

Iremos inicialmente tratar das perícias em cadáveres do sexo feminino, cuja


circunstância do crime leve a equipe pericial a entender que se trata de um feminicídio.

Essa natureza de crime, quando praticada contra companheira ou ex-


companheira costuma ocorrer com uso de arma branca ou com as próprias mãos, como
o estrangulamento mecânico. Sendo assim, é comum verificar as características de
asfixias, mas nada impede que o crime tenha ocorrido através da utilização de arma de
fogo ou de outros meios de agressão.

Além disso a diferença de força física entre o homem e a mulher faz com que a
maior parte dos crimes sejam precedidos de momentos de tortura e de violência física,
que deixam marcas normalmente nas mãos e punhos, formadas por apertões e
empurrões.

A equipe pericial deve então verificar inicialmente se há marcas que indiquem


lesões de defesa ou de luta corporal em mãos, punhos e pernas, bem como outras
formas de tortura.

Feito isso, a perícia passará então para a abertura das cavidades, conforme
aprendemos na aula passada sobre os procedimentos gerais.

No caso do feminicídio a lei prevê que caso a mulher esteja grávida ou tenha
recentemente, dado à luz o feminicida terá um aumento em sua pena de até um terço,
por conta dessa condição que qualifica o feminicídio. Portanto, é papel do médico
legista constatar essa condição na mulher.

O procedimento, nesses casos, ocorrerá pela vistoria necroscópica do útero, que


deverá ser seccionado, afim de verificar se há embrião em sua cavidade.
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Com o abdômen da vítima aberto, após analisar os órgãos viscerais deve-se então
localizar o útero, que estará na altura do quadril, na parte anterior da cavidade pélvica,
ligeiramente acima da bexiga.

O útero pode ser retirado em bloco, seccionando ambas as trompas, ou pode ser
vistoriado através da técnica de Rokitansky, sem retirá-lo de dentro da cavidade
abdominal.

Com uma das mãos deve ser segurado o útero e com o auxílio do bisturi, corte-
o sagitalmente.

A seguir será exibida algumas imagens de uma necropsia de uma mulher que foi
vítima de estrangulamento seguida de esgorjamento pelo seu ex-companheiro. É
possível verificar anormalidades compatíveis com a falta de oxigenação nos pulmões
e cérebro, em forma de petéquias nas conjuntivas, coração e pulmões.

O procedimento de abertura de útero foi realizado afim de verificar se a vítima


estava grávida. O resultado foi negativo para gravidez. A foto então ilustra um útero
não gravídico.
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Nesse caso o registro fotográfico foi fundamental para demonstrar a arma do


crime utilizada, bem como o modus operandi do agressor.

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Um outro procedimento específico que deve ser adotado em 100% dos casos de
suposto feminicídio são os suábes, pois caso a investigação policial entenda que antes
da violência física ocorreu violência sexual, haverá material coletado que poderá ser
confrontado com o código genético de possíveis agressores.

Falaremos agora de uma outra situação que exige uma dinâmica diferente por
parte da equipe envolvida na perícia, que é o caso das vítimas de asfixias, seja através
de esganaduras, enforcamentos, independente da causa jurídica ser suicida ou homicida.

Independente do sexo, quando a equipe pericial se deparar com um caso de morte


por asfixia onde houver alguma dúvida de que aquele indivíduo foi quem atentou
contra a própria vida, deverá ser adotado alguns procedimentos específicos de
dissecação do pescoço para análise. Isso ocorre por cautela, pois é muito comum
homicídios disfarçados de suicídios, como nos casos dos custodiados em presídios,
casa de detenção ou hospitais psiquiátricos, dentre outros.

Nesses casos em que for necessária a dissecação do pescoço recomenda-se abrir


o tórax utilizando a técnica em Y, pois ela permite o rebatimento da pele do pescoço
com melhor eficiência, como será demonstrado na foto a seguir.

A incisão é feita da seguinte forma:

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Após a análise do tórax, abdômen e crânio, com o coração e os vasos da base


devidamente esvaziados de sangue será realizada uma incisão que vai do começo do
osso do esterno até o mento, dividindo as faces Ântero-laterais do pescoço em direita
e esquerda. É realizada uma incisão do mento até a apófise, acompanhando o osso
maxilar.

Feito isso deverá ser rebatido ambos os retalhos, expondo os feixes musculares
que formam o músculo esterno cleido mastoideo.

Nesse momento é importante fotografar o pescoço, em busca de infiltrados


hemorrágicos e sinais vitais. É importante também analisar a integridade do osso hioide,
que costuma ser fraturado no caso dos estrangulamentos e esganaduras, e raramente
nos enforcamentos por corda ou tecido.

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