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OBRIGAÇÕES
FRANCO PEREIRA
EXPEDIENTE
FICHA CATALOGRÁFICA
272 p.
“Graduação - EaD”.
1. Direito 2. Obrigação 3. EaD. I. Título.
CDD - 342.141
Impresso por:
RECURSOS DE IMERSÃO
P E N SAN DO J UNTO S
ZO O M N O CO NHEC I M ENTO
INDICAÇÃO DE FIL ME
Utilizado para desmistificar
pontos que possam gerar
confusão sobre o tema. Após o Uma dose extra de
texto trazer a explicação, essa conhecimento é sempre
interlocução pode trazer pontos bem-vinda. Aqui você terá
adicionais que contribuam para indicações de filmes que se
que o estudante não fique com conectam com o tema do
dúvidas sobre o tema. conteúdo.
E M FO CO INDICAÇÃO DE L IVRO
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CAMINHOS DE APRENDIZAGEM
7UNIDADE 1
35UNIDADE 2
105
UNIDADE 3
161
UNIDADE 4
MODALIDADES ESPECIAIS
DE PAGAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
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UNIDADE 5
EFEITOS DO INADIMPLEMENTO
DAS OBRIGAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
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UNIDADE 1
TEMA DE APRENDIZAGEM 1
INTRODUÇÃO AO DIREITO
DAS OBRIGAÇÕES
MINHAS METAS
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É nesse cenário que o estudo do direito das obrigações ganha relevo. É a área
do direito dedicada à regulamentação das obrigações de ordem patrimonial, as
quais, conforme será visto adiante, podem derivar das mais diversas formas de
manifestações de ações de um ou alguns indivíduos.
Este estudo é um importante desafio porque trata da base para a compreensão e
aplicação de quase todo o direito. Isso se dá porque o direito das obrigações contém
regras que são gerais, conceitos que são básicos e aplicáveis a todas as outras áreas.
Quer ver um exemplo? Quando se diz que os cônjuges são solidariamente
responsáveis pelas dívidas que eles contraírem com despesas domésticas, embo-
ra se trate de uma regra patrimonial estabelecida em direito de família, todo o
regime da obrigação solidária é dado pelo direito das obrigações.
O mesmo acontece quando se diz que os fornecedores são solidariamente
responsáveis pelos danos causados ao consumidor, uma regra contida no Código
de Defesa do Consumidor, mas que reporta ao conceito de obrigação solidária
do direito das obrigações, o qual ainda veremos neste tema.
Para nós, importam as obrigações que tenham caráter patrimonial, isto é,
aquelas que podem ser resolvidas em uma prestação economicamente apreciá-
vel. Assim, não estão incluídas no curso aquelas obrigações que são puramente
morais, sem consequência economicamente apreciável, como a obrigação de que
os cônjuges sejam fiéis um ao outro.
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VAMOS RECORDAR?
O Código Civil possui princípios que são próprios e o direito das obrigações tem
várias regras de aplicação que se relacionam a esses princípios. O artigo Os
princípios fundantes no direito das obrigações, de autoria do Prof. João Carlos
Bianco, resgata os princípios introdutórios do Código e aborda como eles se
aplicam ao direito das obrigações.
Definir obrigações, na acepção jurídica do termo, não é uma tarefa tão simples
como pode parecer. Isso porque, no universo do Direito, a definição de algo, ou
melhor, de um instituto, tem uma enorme relevância para que fique bem especi-
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ficado em quais situações e/ou em quais relações aquele instituto tem aplicação
e, ainda, qual a extensão dessa aplicação nessa determinada situação/relação.
Tanto assim o é que a parte do Código Civil que regulamenta o direito das obri-
gações (Livro I da Parte Especial, entre os arts. 233 e 420) já se inicia com as
classificações das obrigações, sem abordar o conceito do que seriam as obriga-
ções propriamente ditas. Dessa forma, a definição do instituto ficou a cargo dos
autores, da doutrina.
Para Diniz (2023, s. p.), as obrigações são “relações jurídicas de ordem patri-
monial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro”, defi-
nição complementada por Pereira (2017, p. 25), para o qual as referidas prestações
são economicamente apreciáveis.
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conteúdo patrimonial que até se assemelham às relações obrigacionais, mas não são
regidas pelas mesmas regras, assunto que será melhor abordado adiante.
A relação obrigacional é pessoal, pois é uma relação em que uma pessoa se
vincula a outra, e não a um objeto ou uma coisa. É uma relação de pessoa a pessoa,
em que aquele que receberá o objeto da prestação poderá, no caso de descumpri-
mento, exigir a prestação ou o equivalente a ela da pessoa que se obrigou.
É também uma relação transitória, ela nasce já com a expectativa de ter
um fim, o qual se dá, em regra, com o cumprimento. Não se admite relação
obrigacional perpétua, que não esteja sujeita ao decurso do tempo ou que
simplesmente não contenha previsão de término.
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Além disso, é uma relação prestacional, em que uma das partes ou ambas, reciproca-
mente, devem prestar algo, seja fazendo, deixando de fazer ou dando algum objeto.
Na situação anterior, por exemplo, as obrigações são recíprocas, pois se tem as pres-
tações como a execução dos serviços por parte do contratado, ou seja, é um “fazer
algo”, e o pagamento pelos serviços por parte do contratante, isto é, “um dar algo”.
Por fim, é uma relação patrimonial, tanto porque o que tem de ser pres-
tado tem um valor econômico quanto porque, no caso de descumprimento
da obrigação, a consequência será refletida no patrimônio daquele que se
obrigou. É justamente por esse motivo que não existe prisão ou castigos cor-
póreos como forma de pagamento.
Aliás, é importante mencionar que, embora seja prevista a prisão do devedor
de pensão alimentícia (art. 5º, LXVII, da Constituição Federal), tal não se dá como
forma de pagamento da obrigação, mas, sim, para estimular que o devedor o faça.
A prisão do devedor de alimentos, por exemplo, não extingue/quita o débito, já
que o conteúdo patrimonial da obrigação não pode ser considerado satisfeito
com a restrição da liberdade.
Sistematizando as características, tem-se que a relação obrigacional é uma
relação pessoal, de caráter transitório, cuja natureza é prestacional, e o conteúdo,
sempre patrimonial.
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Pereira (2017, p. 27-28) ensina ainda que, em razão dessa relação de sujeição, o
devedor estava sujeito às mais diversas formas de castigos físicos para a satisfação
da obrigação, inclusive ocorrendo situações em que a vida dele era tirada e o seu
corpo dividido em partes iguais correspondentes ao número de credores.
Somente com a edição da Lex Poetelia Papiria é que a sanção pessoal foi
substituída pela patrimonialidade. A partir de então, a obrigação passou a ser
entendida como uma prestação, de modo que a garantia do cumprimento dela
estaria inserida no patrimônio do devedor.
A P RO F UNDA NDO
A Lex Poetelia Papiria foi uma lei romana aprovada no ano 326 a.C., que aboliu a
prática de escravizar os cidadãos romanos por dívidas. Antes dessa lei, caso um
cidadão não pagasse suas dívidas, ele e sua família podiam ser vendidos como
escravos para pagá-la.
A lei estabeleceu a proibição dessa prática, determinando que os cidadãos ro-
manos endividados deveriam ser presos e suas dívidas deveriam ser perdoadas
após um período de tempo. Essa lei marcou um avanço significativo na proteção
dos direitos dos cidadãos romanos, garantindo que a liberdade não pudesse ser
tirada por questões financeiras.
Assim, a Lex Poetelia Papiria é considerada um marco histórico na luta pela
justiça social e pela proteção dos direitos humanos, pois, ao abolir a escravidão
por dívidas, ela estabeleceu um importante princípio de que a liberdade não
deve ser negada a ninguém por causa de questões financeiras.
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VAMOS RECORDAR?
Você sabia que determinados bens a lei considera inalcançáveis para o paga-
mento de dívidas?
Toda relação obrigacional possui, pelo menos em princípio, uma garantia. Isso por-
que se sabe que, caso o devedor não cumpra com a prestação, o credor poderá, na
execução forçada, atingir o patrimônio dele, sendo este a primeira e básica garantia.
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Uma relação obrigacional é composta por uma estrutura que contém os elemen-
tos subjetivo, objetivo e abstrato. O elemento subjetivo diz respeito às pessoas
envolvidas na obrigação, ao passo que o elemento objetivo é a própria prestação.
Há ainda um terceiro elemento, o abstrato, imaterial ou jurídico, que é o
que torna a obrigação exigível. Conforme será abordado adiante, há obrigações
que, apesar de existentes, não podem ser consideradas exigíveis, inaugurando
uma classificação diferente de obrigações: as naturais.
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Elemento Subjetivo
Farias e Rosenvald (2015, p. 51) pontuam, ainda, que os sujeitos da relação podem
ser pessoas naturais ou jurídicas, e a capacidade civil plena (maioridade) não é
requisito para contrair obrigação. Além disso, até os sujeitos que a lei considera
sem personalidade jurídica podem figurar em algum polo da obrigação.
Sobre as pessoas jurídicas, é importante mencionar que, atualmente, existe uma
prevalência da sua autonomia patrimonial, isto é, as obrigações contraídas por elas são
delas mesmas e não dos sócios/pessoas físicas que as compõem. Dessa forma, nem
sempre uma obrigação contraída por uma pessoa jurídica pode ser exigida do sócio.
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Por fim, é certo que os sujeitos da obrigação devem sempre ser determinados ou
determináveis. Determinado é aquele sujeito que já se sabe quem é, as suas carac-
terísticas e qualificação; determinável, aquele que, embora, inicialmente, não se
saiba de quem se trata, será possível identificá-lo quando da execução da obrigação.
Um contrato firmado entre partes especificadas é uma obrigação com sujeitos deter-
minados. Já uma promessa de recompensa publicada na internet e dirigida a quem
encontrar um objeto perdido, por exemplo, é uma obrigação que contém um sujeito
apenas determinável, pois ele, inicialmente desconhecido, passará a ser conhecido e
determinado quando da devolução do bem e do cumprimento da promessa.
Elemento Objetivo
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Imagine uma pessoa que, por necessidade financeira, resolve alugar pequenos
pedaços da própria pele para tatuadores treinarem os serviços. Caso essa pessoa
resolva não mais prosseguir com a obrigação, retirando-se do negócio, não há
como os locadores exigirem que ela continue com a locação, pois o direito proíbe
esse tipo de disposição do próprio corpo.
Elemento Abstrato
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Esse vínculo é dividido em dois vieses que podem se convergir em uma relação
obrigacional, sendo eles o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung). Assim,
uma vez que o devedor deixar de cumprir a prestação, surgirá o débito e, pela sua
responsabilidade pelo débito, os seus bens ficam sujeitos à execução forçada pelo
credor, havendo, portanto, débito e também responsabilidade.
Imagine a situação em que você, devedor em uma relação obrigacional, não cum-
priu com o objeto da prestação, ficando inadimplente. Com o seu inadimplemento,
o débito passou a existir, porém, o credor, jamais buscou a execução forçada da
obrigação e décadas se passaram, tornando a dívida prescrita.
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Se o devedor, por exemplo, cobrado por uma dívida que já está prescrita, real-
iza o pagamento desta e, posteriormente, verifica que ela já estava prescrita, ele
não terá o direito de pedir o ressarcimento do valor. Isso porque a ausência de
responsabilidade, conforme já tratado anteriormente, não significa a extinção do
débito, o qual continua a existir.
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AP RO F U NDA NDO
Além disso, os títulos de crédito também são fontes de obrigações, sendo os mais
conhecidos o cheque e a nota promissória. São documentos que estabelecem uma
prestação definida e exata, e que se diferem dos contratos porque eles podem cir-
cular na sociedade, ampliando a relação jurídica estabelecida, acrescendo novos
sujeitos aos polos da obrigação.
Um cheque, por exemplo, a cada vez que é emitido por endosso, vai passando por
uma ampliação no número de sujeitos obrigados à prestação que está descrita nele.
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Por fim, mencione-se os atos ilícitos, que são fontes muito importantes do
direito das obrigações em razão da grande relevância prática delas. Por definição,
o art. 186 do Código Civil prevê que, aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
O vínculo jurídico entre a pessoa que comete o dano e a vítima nasce no
momento da ocorrência desse dano, com o ato, mas a responsabilidade já é de-
corrente da lei. O art. 927, caput, do Código Civil, prevê que, aquele que, por ato
ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo, o que se dá, em regra, na
forma patrimonial.
Ao dirigir de forma imprudente, violando as leis de trânsito, e causar um aci-
dente, a ação do motorista e a ocorrência do dano são suficientes para o estabele-
cimento do vínculo obrigacional entre as partes envolvidas, ficando o causador do
dano obrigado à reparação de todos os danos, tanto os materiais quanto os morais.
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NOVOS DESAFIOS
A compreensão das obrigações no âmbito jurídico é de suma importância para o
desenvolvimento das relações patrimoniais entre pessoas. Como visto, as obriga-
ções são relações que estabelecem uma prestação a ser realizada por uma parte em
favor da outra, sendo caracterizadas por elementos subjetivo, objetivo e abstrato.
O elemento subjetivo diz respeito às pessoas envolvidas na relação obrigacio-
nal, enquanto o objetivo é a própria prestação. Já o elemento abstrato, imaterial
ou jurídico é o que torna a obrigação exigível, ou seja, possibilita o acionamento
do Judiciário em caso de inadimplemento.
É importante destacar que a relação obrigacional é pessoal, pois se estabelece
entre pessoas, e transitória, uma vez que tem início com a expectativa de ter um fim
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VAMOS PRATICAR
3. Embora o primeiro aspecto que surge na obrigação seja o débito, ele não pode ser visto
isoladamente, sem a responsabilidade, já que esta garante aquele. Toda obrigação,
como expresso, dá lugar a uma diminuição da liberdade do sujeito passivo e a constri-
ção que pode advir a seu patrimônio é o espelho dessa diminuição. A responsabilidade,
por seu lado, revela a garantia de execução das obrigações, pelo lado do credor, que
muitos consideram como elemento autônomo. A garantia, no entanto, deve ser vista
como o aspecto extrínseco do elemento vínculo.
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VAMOS PRATICAR
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
Diante dessa situação, assinale a alternativa que indica corretamente quem é o credor,
quem é o devedor e qual é o objeto da obrigação.
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VAMOS PRATICAR
a) Maria é um terceiro interessado, ela não é titular do débito, mas por ele possui res-
ponsabilidade em razão da fiança prestada.
b) Maria é um terceiro interessado, possui a titularidade e a responsabilidade pelo débito.
c) A relação de Maria é com Paulo, o devedor, e não com Joana, a credora.
d) A fiança não é suficiente para fazer com que o patrimônio de Maria responda pelo
débito de Paulo.
e) Maria poderia ser cobrada pelo débito mesmo se Paulo não tivesse deixado de fazer
o pagamento.
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REFERÊNCIAS
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
1. As obrigações são uma relação jurídica entre duas pessoas, em que uma delas é o credor
e outra é o devedor. O devedor fica obrigado a cumprir uma prestação em favor do cre-
dor, que pode ser uma obrigação de dar, de fazer ou de não fazer algo. A distinção entre
obrigações morais e civis é importante para o direito, uma vez que apenas as obrigações
civis são objeto de tutela jurídica, ou seja, podem ser exigidas em juízo. As obrigações
morais, por sua vez, são objeto de tutela moral, e não jurídica. Ainda assim, a distinção
entre ambas nem sempre é clara, e pode haver situações em que uma obrigação, embora
decorrente de um senso moral, acaba sendo reconhecida como obrigação jurídica em
determinado contexto, como é o caso das obrigações de natureza alimentar.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
4. Opção D. Nesse caso, o credor é João, que tem o direito de receber o valor acordado pela
venda do carro, e o devedor é Maria, que assumiu a obrigação de pagar o valor dentro
do prazo estipulado. O objeto da obrigação é o pagamento do valor acordado, e não a
entrega do carro, que já foi cumprida por João. As demais alternativas estão incorretas,
pois confundem os elementos da obrigação.
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MINHAS METAS
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VAMOS RECORDAR?
É importante que você, estudante, relembre como o direito das obrigações
regula as relações jurídicas entre pessoas, envolvendo direitos e deveres,
débitos e créditos, e tudo o que permeia as obrigações civis. Convido você a
ver o vídeo a seguir, proporcionando uma maior compreensão.
Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de
aprendizagem.
A OBRIGAÇÃO DE DAR
A obrigação de dar é uma obrigação positiva, relacionada a uma coisa, a qual pode
ser determinada ou determinável, conforme veremos melhor adiante. Dizemos que
são obrigações positivas, uma vez que elas envolvem uma ação por parte de quem
está obrigado a prestá-la, isto é, uma disposição de agir, mas envolvendo um objeto.
Assim sendo, existe uma intenção de transmitir um bem, uma propriedade,
móvel ou imóvel, pelo sujeito passivo (devedor) ao sujeito ativo (credor).
Esse bem, que a partir de agora chamaremos de coisa, pode ser certo ou incerto,
conforme melhor abordaremos adiante.
No Código Civil, as regras sobre as obrigações de dar são concentradas entre
os arts. 233 e 246, os quais detalham diversas regrinhas sobre as consequências
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Imagine você, estudante, que João deseja comprar o carro de Maria por R$
30.000,00. Ambos concordam com o negócio e assinam um contrato de compra e
venda que estabelece para Maria a obrigação de entregar o veículo para João, em
troca do pagamento do preço acordado. Nesse caso, a obrigação de dar coisa cer-
ta é a entrega do veículo pertencente a Maria, que deve estar em boas condições
e conforme as especificações acordadas entre as partes. A propriedade do carro
será transferida para João assim que ele receber o veículo e efetuar o pagamento
integral do preço.
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É exatamente o que diz o art. 313 do Código Civil, para o qual “o credor não é
obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”.
Um exemplo de impossibilidade de obrigar o credor a receber coisa diversa
pode ser uma dívida em dinheiro, na qual o credor não pode ser obrigado a re-
ceber uma casa, mesmo que mais cara.
Imagine você, estudante, que Pedro deve R$ 10.000,00 a João, mas, em paga-
mento, Pedro oferece a João uma propriedade no valor de R$ 20.000,00. Caso
não queira receber a propriedade em pagamento, Pedro não pode obrigar João a
aceitá-la, mesmo que ela seja mais valiosa do que o valor da dívida, justamente
porque a obrigação de Pedro é a de pagar a quantia certa em dinheiro, e não a de
entregar a propriedade.
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Quando falamos sobre acessórios em uma obrigação de dar coisa certa, esta-
mos nos referindo a um conjunto de elementos que se encontram anexos à coisa
principal, compondo o objeto da obrigação. Esses acessórios podem ser frutos,
produtos, benfeitorias e pertenças.
FRUTOS
Os frutos são os produtos naturais ou civis produzidos pela coisa principal. Por
exemplo, no caso de uma árvore frutífera, seus frutos são considerados acessóri-
os da árvore.
PRODUTOS
BENFEITORIAS
PERTENÇAS
As pertenças são os objetos que estão relacionados à coisa principal e que são
necessários para o seu uso adequado. Exemplificativamente, no caso de um car-
ro, os pneus e as chaves são considerados pertenças do carro.
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Suponha que uma pessoa compre um carro de outra, mas antes da entrega do
veículo, o carro é roubado sem culpa do vendedor, que, no caso, é o devedor da
obrigação de entregar o veículo. Assim, o vendedor (devedor) não pode cumprir
a obrigação de entregar o carro, já que ele não está mais em posse do vendedor.
Nesse caso, a perda do carro ocorreu sem culpa do vendedor, que não pode
ser responsabilizado pelo não recebimento do veículo. Consequentemente, a
obrigação de compra e venda do carro fica resolvida para ambas as partes, isto
é, o comprador não precisa pagar o preço do carro e o vendedor não precisa
entregar o veículo, pois a perda da coisa ocorreu antes da tradição (entrega)
e sem culpa do devedor (vendedor).
Situação diferente ocorre se houver culpa do devedor na perda da coisa, pois
a última parte do art. 234 do Código Civil prevê que “se a perda resultar de culpa
do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos”.
Suponha que uma pessoa compre um imóvel de outra, com a obrigação de efetuar o
pagamento assim que a escritura de compra e venda for registrada em cartório. No
entanto, antes que a escritura seja registrada, um incêndio de grandes proporções
ocorre na região onde está localizado o terreno e acaba destruindo toda a área, algo
que era previsto pelo vendedor do imóvel, pois ele tinha conhecimento prévio dos
riscos de incêndio na região, mas não havia sido informado ao comprador.
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A P RO F UNDA NDO
A culpa genérica é a forma mais comum de culpa, e ocorre quando uma pessoa
age com negligência, imprudência, imperícia ou dolo, causando danos a outra
pessoa. A negligência é a falta de atenção ou de cuidado com o que é esperado
de uma pessoa comum. A imprudência é a falta de prudência ou cautela na
condução de uma atividade. Já a imperícia é a falta de habilidade ou capaci-
dade técnica para realizar determinada atividade.
O dolo, por sua vez, ocorre quando a pessoa age de forma intencional, visando
causar um dano a outra pessoa. O dolo pode ser direto, quando a pessoa tem
a intenção de causar o dano, ou indireto, quando a pessoa sabe que sua ação
ou omissão pode causar um dano, mas, mesmo assim, decide agir dessa forma.
Quando falamos em perda da coisa por culpa de alguma das partes da obrigação,
nos referimos ao que se entende por culpa genérica, termo que engloba todas
essas situações descritas anteriormente.
Os danos pelos quais o devedor responde incluem tanto aqueles que chamamos
de emergentes, isto é, aquilo que o credor efetivamente perdeu, bem como os
lucros cessantes, sendo aqueles que a pessoa razoavelmente deixou de lucrar. No
caso do imóvel mencionado anteriormente, podemos citar como danos emer-
gentes os valores gastos com a documentação para regularizar o imóvel, e como
lucros cessantes os valores que o comprador ganharia caso, por exemplo, tivesse
já alugado o terreno para um terceiro e recebesse esses aluguéis.
É importante mencionar que os casos em que a culpa é ausente, em regra,
são aqueles envolvendo caso fortuito e força maior. Tanto o caso fortuito quanto
a força maior são situações excepcionais que ocorrem e que podem eximir a
responsabilidade de uma pessoa em relação a um evento danoso ou impedir que
sejam aplicadas sanções ou penalidades em decorrência de algum descumpri-
mento contratual ou legal.
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Nesse caso, uma vez que o vendedor está em mora com a sua obrigação, sendo
a de realizar a tradição, ele deverá responder pelas perdas e danos mesmo tendo
sido o evento imprevisível, já que ele está em mora com a sua obrigação de trans-
ferir o imóvel em 30 dias.
Para além da hipótese de perda, o Código Civil ainda trata da situação em que
há a deterioração da coisa. O art. 235 prevê que, “deteriorada a coisa, não sendo o
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Nesse caso, é importante lembrar que Maria não teve culpa na deterioração da
coisa, por isso, João não pode exigir que ela pague pelo conserto ou qualquer
outro valor além do abatimento acordado.
O art. 236 do Código Civil prevê a hipótese de deterioração da coisa, mas por
culpa do devedor, estabelecendo que, nesse caso, o credor terá as mesmas duas
opções anteriores (exigir o valor equivalente à coisa ou recebê-la no estado em
que se encontra, exigindo o abatimento no preço), com a diferença de que ele
também poderá pleitear indenização pelas perdas e danos.
Imagine a situação em que uma pessoa que comprou um carro usado de
outra para utilizar em seu trabalho de transporte de pequenas mercadorias tão
logo o veículo fosse entregue. Antes da entrega combinada, o vendedor deixou
o veículo em uma rua sem segurança e de conhecida periculosidade, vindo ele a
ter o para-brisa quebrado por um vândalo.
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O art. 237 do Código Civil estabelece uma importante regra em relação à transfe-
rência da propriedade de uma coisa em uma relação obrigacional. Até que a coisa
seja entregue ao credor, ela ainda pertence ao devedor, juntamente com todos os
seus acréscimos e melhoramentos que sobrevierem, podendo o devedor exigir o
aumento no preço, sob pena de resolução da obrigação.
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Suponha que João tenha vendido a Pedro uma égua, e que, após o negócio ter
sido acertado, a égua ficou prenha, valorizando ainda mais o animal que, agora,
acompanha um filhote. Nesse caso, como os acréscimos e melhoramentos pert-
encem ao devedor até o momento da entrega da coisa (lembre-se, o devedor aqui,
no caso, é quem deve entregar a coisa certa, que é a égua), João poderá exigir
o equivalente ao aumento do preço inicialmente pactuado devido à prenhez do
animal. Caso Pedro não concorde em pagar pela valorização da égua, João poderá
desfazer o negócio, devendo devolver todos os valores pagos por Pedro.
Por fim, o parágrafo único do art. 237 do Código Civil prevê que os frutos percebidos
são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. No exemplo anterior, da égua, caso
o filhote nasça antes da tradição, ele será de propriedade de João, o devedor.
Imagine ainda que João tenha vendido uma propriedade rural para Pedro, com
a condição de que a tradição ocorreria apenas depois da colheita de uma plantação
de milho. Durante esse período, João colheu todo o milho e vendeu-o para terceiros.
Conforme o mencionado art. 237, os frutos colhidos pertencem a João.
É importante destacar que, em relação aos frutos percipiendos, ou seja, aque-
les que deveriam ter sido colhidos, mas não foram até a tradição, estes passarão
a pertencer ao novo proprietário do bem, ou seja, ao credor. Isso porque a parte
que não colheu os frutos quando deveria fazê-lo não pode ser beneficiada por
essa conduta. Dessa forma, após a transferência da propriedade, cabe ao credor
o direito de colher os frutos pendentes e usufruí-los.
A obrigação de dar coisa incerta está prevista entre os arts. 243 e 246 do Código
Civil. É uma obrigação que tem por objeto coisa indeterminada, que é indicada,
inicialmente, somente pelo gênero e pela quantidade, mas que, posteriormente,
deverá ser individualizada (art. 243 do Código Civil).
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De acordo com o art. 244 do Código Civil, nesse tipo de obrigação, a escolha, ou
seja, a individualização da coisa, também chamada de concentração, é um direito,
em regra, do devedor, podendo, é claro, as partes convencionarem que a escolha
será do credor ou de um terceiro.
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Isso significa que, enquanto o vendedor ainda não escolheu e entregou o lote de
frutas, ele não pode se eximir de sua obrigação. É a antiga regra de direito pela
qual o gênero nunca perece.
A exceção à regra é nos casos em que o gênero não é ilimitado, isto é, mesmo
que se tratem de coisas indeterminadas pertencentes a um grupo, o grupo em
si é escasso. Basta pensar na hipótese da venda de um número determinado de
garrafas de vinho de uma safra determinada de uvas de um ano específico.
No caso, embora as garrafas de vinho sejam incertas, o grupo é escasso, pois se
trata de uma safra única e de um ano específico. Assim, perecendo o grupo, mesmo
não tendo sido individualizada a coisa, aplica-se a regra da perda da coisa certa.
A OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR
No caso da obrigação de restituir, caso haja a perda da coisa sem culpa do deve-
dor, quem deverá suportar o prejuízo é o credor, mas ele ainda poderá pleitear
os direitos que já tinha até a data da perda (art. 238 do Código Civil). Assim,
embora o credor sofra com a perda da coisa que era de sua propriedade, a perda
não implica no perecimento dos direitos pendentes.
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Imagine que João alugou um carro de uma locadora para viajar com a sua família e
eles utilizaram o veículo por vários dias. No último dia da locação, uma forte tem-
pestade ocorreu e acabou danificando gravemente o veículo, tornando-o inutilizável.
No exemplo citado, temos como credora da obrigação de restituir o veículo
a locadora e, como devedor, João. O objeto da obrigação de restituir é o veículo
e os aluguéis são os direitos pendentes. Assim, quem responde pelo prejuízo da
perda do veículo é o credor, a locadora, mas os direitos pendentes, os aluguéis
pelo período utilizado, deverão ser pagos por João.
A mesma regra vale para as situações que não envolvam relação de consumo,
bem como que não envolvam uma contrapartida do devedor.
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O Código detalha ainda as regras quanto à deterioração da coisa, tanto com culpa
quanto sem culpa do devedor.
Sendo o caso de deterioração da coisa sem culpa do devedor, o credor a re-
ceberá no estado em que se encontrar, sem direito a indenização; havendo culpa,
o credor poderá exigir o valor equivalente à coisa, mais as perdas e danos que
ficarem caracterizadas (art. 240 do Código Civil).
Ainda aproveitando os exemplos mencionados anteriormente, basta imaginar
que, no caso da locação do veículo e da tempestade inesperada, ao invés da inu-
tilização do bem, este tão somente sofreu avarias. A locadora, nesse caso, deverá
recebê-lo da forma como ele se encontra, sem a exigência de quaisquer valores
adicionais pelos reparos, uma vez que não houve culpa do devedor (o locatário).
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Da leitura do art. 240 do Código Civil, vemos que ele faz referência ao
art. 239 do Código Civil para tratar da situação da deterioração da coisa
com culpa do devedor. O art. 239 do Código Civil, por sua vez, tão somente
diz que, “se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente, mais perdas e danos”.
Uma leitura mais acelerada desses artigos pode levar ao entendimento de que,
mesmo no caso da deterioração, haverá uma conversão da obrigação, isto é, de que
o credor deverá sempre exigir o valor do bem em dinheiro. No entanto, o enten-
dimento majoritário é de que ele poderá não somente exigir o valor do bem em
dinheiro, mas também poderá, se assim quiser, exigir a restituição da coisa dete-
riorada e, ainda, os acréscimos pelos reparos e outras perdas e danos que houver.
“
Em suma, se o credor quiser, poderá ficar com a coisa no estado em que
se encontrar ou exigir o seu equivalente, mais perdas e danos, como
prevê o art. 236 do CC. Consigne-se que pelo art. 239 o credor somente
poderia exigir o valor equivalente à coisa, mais as perdas e danos. Reti-
rar a opção do credor de ficar com a coisa em casos tais seria totalmente
ilógico, diante do princípio da conservação negocial, que visa à manu-
tenção da autonomia privada. (TARTUCE, 2019, s .p.).
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Nesse caso, veja que houve um acréscimo na coisa pela força da natureza, o que
chamamos de acessão natural, e não houve nenhum trabalho ou despesa do loca-
dor do imóvel. Assim, João não poderá exigir nenhuma indenização do proprietário,
André, pela valorização do bem, conforme a regra do art. 241 do Código Civil.
BENFEITORIAS NECESSÁRIAS
BENFEITORIAS ÚTEIS
BENFEITORIAS VOLUPTUÁRIAS
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Imagine que João é inquilino de André e, após uma forte chuva, precisou realizar
por sua própria conta os reparos no telhado do imóvel objeto da locação. Nesse
caso, a benfeitoria realizada é considerada necessária, pois tem a finalidade de
conservar a coisa, e André deverá ressarcir os valores gastos.
Do mesmo modo, caso João tivesse construído um cômodo nos fundos do imóvel
para a guarda de equipamentos, estaríamos diante de uma benfeitoria útil, pela
qual o devedor, João, deve ser ressarcido. Se fosse a construção de uma escultura
no quintal, sendo o caso de uma benfeitoria voluptuária, João poderia, ao término
da locação, simplesmente retirá-la e levá-la consigo.
A situação é diferente no caso de má-fé do devedor, ocasião em que ele
terá tão somente o direito de ser ressarcido pelas benfeitorias necessárias, sem
poder exercer a retenção da coisa nem levantar as benfeitorias voluptuárias
(art. 1.220 do Código Civil).
A boa ou a má-fé é melhor visualizada quando se pensa no acordo existente
entre as partes. Se é o caso de um contrato de locação, como nos exemplos an-
teriores, e ele simplesmente não trata das benfeitorias e o locatário (devedor)
as realiza, presume-se que ele tenha agido de boa-fé; caso o contrato vede ex-
pressamente a realização dessas benfeitorias sem o consentimento do locador,
presume-se a má-fé do devedor.
As mesmas regras anteriores são aplicadas aos frutos percebidos, isto é, terá
direito a estes o devedor que estiver de boa-fé, devendo restituí-los ou ressarci-los
aquele que estiver de má-fé (art. 1.214 do Código Civil).
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A OBRIGAÇÃO DE FAZER
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A P RO F UNDA NDO
Segundo o art. 247 do Código Civil, incorre na obrigação de indenizar por perdas
e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exe-
quível. Em outras palavras, estando diante de uma obrigação que somente uma
pessoa específica pode cumprir e ela não o fizer, a forma de resolver a situação é
convertendo a obrigação em indenização.
Nesse caso, não cumprindo o artista com a sua obrigação de comparecer à ceri-
mônia e realizar a apresentação, os contratantes (credores) deverão buscar a so-
lução por meio de indenização, incluindo-se nestas tanto as de natureza material
(a devolução dos valores pagos, por exemplo) quanto as de natureza moral em
função da quebra da legítima expectativa.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 2
Tartuce (2019, s. p.) ensina, ainda, que a obrigação pode ser considerada
infungível tanto porque as partes assim combinaram no contrato quanto sim-
plesmente em função da natureza dela.
No caso de obras de arte, por exemplo, a própria natureza já indica que é infungív-
el, pois a arte é única do artista.
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O art. 249 do Código Civil trata da hipótese da obrigação fungível, isto é, aquela
que pode ser executada por outra pessoa. Diz o artigo que, se o fato puder ser
executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do deve-
dor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Já o
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parágrafo único estabelece que, em caso de urgência, o credor pode, mesmo sem
autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, pedindo o ressarcimento
por suas despesas posteriormente.
Suponha que uma pessoa contrata um motorista para levá-la em uma importante
viagem a negócios, combinando previamente um preço pelo serviço. No dia da viagem,
o motorista falta sem justificativa e não pode ser encontrado para realizar o serviço.
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E M FO CO
NOVOS DESAFIOS
Tivemos a oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre as clas-
sificações das obrigações quanto ao objeto, o que é essencial para o exercício
profissional no campo jurídico. As particularidades de cada tipo de obrigação e
suas consequências em caso de inadimplemento devem sempre ser consideradas
para a tomada de decisões responsáveis e justas.
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VAMOS PRATICAR
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 62-63.
a) Em regra, o credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela devida, exceto se
se tratar de coisa mais valiosa.
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VAMOS PRATICAR
b) O credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela devida, mesmo se se tratar
de coisa mais valiosa, por isso que é incorreto dizer que a obrigação de dar coisa certa
abrange os acessórios.
c) O credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela devida, nem mesmo se se tra-
tar de mais valiosa, mas é certo que os acessórios da coisa, em regra, a acompanham.
d) Em regra, o credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela devida, exceto se
se tratar de obrigação de dar coisa certa fungível.
e) O credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela devida, mesmo se se tratar
de coisa mais valiosa, por isso que é correto dizer que a obrigação de dar coisa não
abrange, em regra, os acessórios.
3. “[...] antes da entrega da coisa, tem aplicação o princípio res perit domino (a coisa pe-
rece com o dono), descrito nos arts. 234 e 235. Na obrigação de restituir, veremos que,
embora o mecanismo seja diverso, o princípio é idêntico nos arts. 238 e 240. Havendo
perda ou deterioração da coisa, sem culpa do devedor, nas obrigações de entregar ou
restituir, é sempre o dono quem arca com o prejuízo. Assim como a coisa pode per-
der-se, ou seu valor ser diminuído, pode ocorrer que, no tempo compreendido entre a
constituição da obrigação e a tradição da coisa, esta venha a receber melhoramentos
ou acrescidos. São os cômodos na obrigação. É o caso, por exemplo, da compra de um
animal que fique prenhe quando se der a tradição. Esse fenômeno, sem dúvida, altera
a situação jurídica da obrigação.”
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
13. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 64-65.
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VAMOS PRATICAR
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
EXTRA (Rio de Janeiro) (ed.). Justiça expulsa homem de condomínio após vizinhos
denunciarem comportamento antissocial. 2023. Disponível em: https://extra.globo.
com/economia/noticia/2023/04/justica-expulsa-homem-de-condominio-apos-vizi-
nhos-denunciarem-comportamento-antissocial.ghtml. Acesso em: 17 abr. 2023.
a) A situação narrada não contém nenhum exemplo de obrigação de não fazer, pois
estas somente podem derivar de contratos estabelecidos entre as partes.
b) A obrigação de não fazer pode derivar do contrato e da lei, como no caso, que narra
uma típica obrigação de não fazer do direito de vizinhança, impondo que os condô-
minos não violem o sossego dos demais.
c) O descumprimento da obrigação de não fazer pode ter como consequência tanto a
determinação para que o ato cesse quanto o dever de indenizar o credor, como no
caso exemplificado.
d) O exemplo mencionado é um caso de obrigação de não fazer transeunte/instantânea,
pois os atos de perturbação já praticados não podem ser desfeitos, embora devam
ser compensados com a indenização aos ofendidos.
e) No exemplo mencionado, não há que se falar de descumprimento da obrigação de
não fazer sem culpa do devedor, pois os atos por ele praticados foram voluntários e
conscientes.
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VAMOS PRATICAR
5. A obrigação de fazer (obligatio ad faciendum) pode ser conceituada como uma obriga-
ção positiva cuja prestação consiste no cumprimento de uma tarefa ou atribuição por
parte do devedor. Muitas vezes, a obrigação de fazer confunde-se com a obrigação de
dar, sendo certo que os seus conteúdos são completamente diferentes. Exemplifica-se
com uma obrigação cuja prestação é um quadro (obra de arte). Se o quadro já estiver
pronto, haverá obrigação de dar. Caso o quadro seja encomendado, devendo ainda ser
pintado pelo devedor, a obrigação é de fazer.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU de 11 jan. 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 31
jul. 2023.
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
RIO GRANDE DO SUL, Acórdão na Apelação Cível nº 70073371965, Porto Alegre: Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, Nona Câmara, Relator Desembargador Tasso Caubi Soares
Delabary, DJe de 26.05.2017, 2017, s .p.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2019. E-book.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
2. Opção C. O art. 313 do Código Civil diz exatamente que o credor não é obrigado a receber
prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Além disso, o art. 233 do
Código Civil diz que a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios. Assim, todas
as outras alternativas estão incorretas pois contradizem os referidos comandos legais.
3. Opção E. Isso porque o art. 241 do Código Civil prevê que, se houver melhoramento ou
acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, o credor ficará com a vantagem
e não deverá indenizar o devedor. A situação é diversa quando, para o melhoramento ou
para o aumento, o devedor empregou o seu trabalho ou os seus investimentos. Nesse
caso, diz o art. 242 do Código Civil que devem ser observadas as regras quanto às
benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Por fim, se o devedor tiver
realizado benfeitorias na coisa e agiu de boa-fé (art. 1.219 do Código Civil), ele terá direito
à indenização pelos melhoramentos e pelos acréscimos úteis ou necessários, podendo
levantar (retirar) os voluptuários, desde que a retirada não cause danos à coisa. Por isso,
todas as alternativas estão corretas.
4. Opção A. É um equívoco sustentar não haver obrigação de não fazer no exemplo men-
cionado. O dever de respeitar o sossego dos vizinhos e não praticar atos que violem a
paz no condomínio é uma obrigação de não fazer imposta pela lei, conforme o art. 1.277
do Código Civil, que, inclusive, autoriza que os vizinhos tomem providências para fazer
cessar os atos prejudiciais à segurança, ao sossego e a saúde provocados por outro. Por
esse motivo, aliás, a opção B e a C são verdadeiras. Além disso, a opção D é verdadeira,
pois os constrangimentos causados pelo vizinho antissocial são instantâneos e devem
ser compensados. Por fim, a opção E também é verdadeira, pois não é o caso de des-
cumprimento sem culpa do devedor, que é exemplificado como nas hipóteses em que a
obrigação de não fazer é descumprida por caso fortuito ou força maior.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
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TEMA DE APRENDIZAGEM 3
MINHAS METAS
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UN I C ES UMA R
VAMOS RECORDAR?
É importante que você rememore que uma das classificações das obrigações é
a obrigação positiva de dar, que pode se referir a coisa certa ou a incerta, além
de compreender a obrigação de entregar, de restituir e de pagar. Assim, convi-
do você a assistir ao vídeo para retomar tais conceitos. Recursos de mídia dis-
poníveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
As obrigações alternativas estão previstas nos arts. 252 a 256 do Código Civil. São obri-
gações que se apresentam com mais de uma prestação e somente uma delas é que deve
ser cumprida pelo devedor. Desse modo, se houver duas prestações e a obrigação for al-
ternativa, considera-se que a obrigação foi extinta com o cumprimento de alguma delas.
Nesse ponto, é interessante relembrarmos que o credor não pode ser obri-
gado ao recebimento de prestação diversa daquela acordada. Alguma das
prestações deve ser cumprida integralmente, não sendo admitido que o devedor
fracione uma delas e complemente com a outra.
“
Em decorrência da autonomia das prestações, veda o § 1º do art. 252
do Código Civil que o credor seja compelido a receber parcelada-
mente a prestação devida integralmente.Assim, não pode ser imposto
ao credor receber parte de uma prestação e outra parte de uma outra
prestação, fragmentando o adimplemento obrigacional. Prevalece,
aqui, a identidade física e imaterial das prestações. Ilustrativamente,
as seguradoras cumprem a sua obrigação quando entregam ao se-
gurado, em substituição a um automóvel furtado, outro da mesma
espécie ou o valor equivalente, mas não podem obrigá-lo a receber
um carro mais simples do que o que estava segurado, complementa-
do o valor em dinheiro (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 213/214).
Pela regra do art. 252, caput, do Código Civil, quem escolhe a presta-
ção a ser cumprida é o devedor, mas a regra pode ser alterada pelas
partes, conforme consta na última parte do artigo.
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UN I C ES UMA R
Para ilustrar a situação, imagine que Pedro e Ana celebram um contrato de pres-
tação de serviços de jardinagem, com vigência de 12 meses e valor mensal de R$
2.000,00. As partes estabelecem que Pedro terá a opção de escolher, a cada mês,
entre prestar o serviço de jardinagem contratado ou fornecer uma quantidade
de plantas e flores no valor de R$ 2.000,00.
Com isso, a cada mês, Pedro terá a opção de escolher entre prestar o ser-
viço de jardinagem acordado ou fornecer as plantas e flores no valor de R$
2.000,00. Essa opção poderá ser renovada a cada período, ou seja, a cada mês,
garantindo a Pedro a flexibilidade de escolher a forma de cumprimento da
obrigação que melhor lhe convier.
No caso de pluralidade de pessoas no mesmo polo da obrigação, como por
exemplo, mais de um devedor, e eles não chegarem a um consenso sobre qual
prestação será cumprida, o art. 252, §3º, do Código Civil, prevê que a decisão
caberá ao juiz. Do mesmo modo, caso as partes combinem que a escolha da pres-
tação será feita por um terceiro e este não puder ou não quiser escolher, também
caberá a um juiz a resolução da questão (art. 252, §4º, do Código Civil).
Os arts. 253 e 256 do Código Civil tratam das situações em que a obrigação se
impossibilita no momento posterior à celebração do acordo. Conforme veremos
adiante, as regras são importantes porque essa impossibilidade pode ocorrer com
ou sem culpa de alguma das partes, trazendo consequências distintas.
O art. 253 do Código Civil diz que, se uma das prestações não puder ser
objeto de obrigação ou se tornada inexequível, subsistirá o débito quanto à
outra. A regra é bastante simples de ser compreendida, bastando imaginar que,
no exemplo mencionado anteriormente, em que Pedro poderá cumprir com o
acordo entregando flores ou executando os serviços de jardinagem, à sua escolha,
caso ele se torne inapto para o serviço de jardinagem, ele continua obrigado à
outra opção, isto é, entregar as flores.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
No caso em que nenhuma das prestações puder ser cumprida, por culpa do de-
vedor, e o direito de escolha não for do credor, o devedor deverá pagar o valor
da prestação que foi impossibilitada por último, além de perdas e danos. É o que
diz o art. 254 do Código Civil.
Vamos retornar ao exemplo da compra e venda do veículo celebrada entre
João e Maria. Imagine que, em pagamento do veículo, ficou acordado que João
entregaria um touro reprodutor específico ou uma quantidade de sacas de soja.
Ocorre que dias antes da data do vencimento da obrigação, foi constatado
que, por negligência de João, o touro reprodutor veio a óbito e, posteriormente,
que a soja estava imprópria para a colheita porque havia passado o tempo correto.
Nessas duas situações, as prestações foram perdidas por culpa do devedor, pre-
vendo a regra que o valor a ser pago será o da que foi por último impossibilitada,
no caso, as sacas de soja, além de eventuais perdas e danos em favor do credor.
É importante ressaltar que, aqui, também vale a regra de que as perdas e danos
envolvem tudo aquilo que o credor deixou de lucrar, mais o que ele efetivamente
perdeu e, ainda, se for o caso, os danos morais.
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No caso da escolha ter sido do credor, mas alguma das prestações acabou se
perdendo por culpa do devedor, o credor poderá exigir a prestação que ainda
subsiste ou o valor daquela que foi impossibilitada, mais as perdas e danos. Se a
perda for de ambas as prestações, o credor poderá exigir o valor de qualquer uma
delas, mais as perdas e danos, tudo conforme o art. 255 do Código Civil.
Por fim, se a impossibilidade das prestações ocorrer sem culpa, a obrigação ficará
extinta. É a mesma regra quanto à perda da coisa sem culpa, hipótese em que a
obrigação fica resolvida para ambas as partes.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
A obrigação divisível é aquela que pode ser cumprida em partes O art. 257
do Código Civil prevê que, havendo mais de um devedor ou mais de um credor
em obrigação divisível, esta se presume dividida em tantas obrigações, iguais e
distintas, quanto os credores e devedores.
Imagine que três pessoas procuraram outra para a realização de um emprés-
timo, no valor de R$ 30.000,00, com a previsão de pagamento em poucos dias e
no mesmo valor. Nesse caso, temos uma dívida em dinheiro, o qual é um dos mais
clássicos exemplos de bem divisível, de modo que, caso não tenham acordado
nada específico, haverá a presunção de que cada um dos devedores é responsável
pela quantia de R$ 10.000,00.
Essa presunção de divisão igualitária ocorrerá sempre que o acordo não tratar
de forma diferente. É plenamente possível que as partes dividam a obrigação de
maneira desproporcional.
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INDIVISIBILIDADE NATURAL
Diz respeito à própria natureza do bem. São bens que não podem ser divididos
sob pena de causar a sua destruição, como, por exemplo, ocorre com os carros.
INDIVISIBILIDADE LEGAL
INDIVISIBILIDADE CONVENCIONAL
São bens que as próprias partes convencionaram que seriam indivisíveis. É uma
disposição que consta do contrato, devendo ser analisada caso a caso.
“
As obrigações de dar podem ser divisíveis ou indivisíveis, o mes-
mo ocorrendo em relação às obrigações de fazer. Por sua natureza
infungível e personalíssima, as obrigações de não fazer são quase
sempre indivisíveis.
Pela regra do art. 259, caput, do Código Civil, na obrigação indivisível, presume-se
que todos os devedores são obrigados pela dívida inteira.
Suponha que João, Maria e Renato compraram um carro, juntos, cada um
contribuindo com 33,33% do valor total. Para isso, eles pegaram um empréstimo
com um banco e assumiram a dívida conjuntamente. No entanto, eles acabaram
brigando e Maria decidiu que não quer mais pagar a dívida.
Nesse caso, conforme o artigo 259 do Código Civil, se a prestação (ou seja, o
pagamento da dívida) não for divisível, cada um dos devedores (nesse caso, João,
Maria e Renato) será responsável pela dívida inteira, não apenas pela sua parte
proporcional. Isso significa que se Maria e Renato se recusarem a pagar as suas
partes da dívida, o banco poderá exigir o pagamento integral da dívida de João.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
Assim, mesmo que João tenha cumprido com a sua parte do pagamento, ele ainda
pode ser responsabilizado pelo pagamento integral da dívida caso Maria e Renato
se recusem a pagar as partes que lhe cabem.
O parágrafo único do art. 259 do Código Civil prevê que o devedor que
paga a dívida ou cumpre a obrigação se sub-roga nos direitos do credor.
Sub-rogar é o mesmo que assumir a posição de credor.
Desse modo, no exemplo citado anteriormente, caso João pague pelas partes
de Renato e Maria, ele assumirá a posição do banco e poderá cobrar dos dois de-
vedores a parte deles. Perceba que o art. 259 do Código Civil fala em sub-rogação,
o que significa que não haverá um simples direito de reembolso.
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“
[…] essa garantia (caução de ratificação ou confirmação) deverá ser
celebrada por escrito, datada e assinada pelas partes, com firmas reco-
nhecidas. Para dar maior certeza e segurança, o documento pode até ser
registrado em cartório de títulos e documentos, tudo isso em respeito
ao princípio da eticidade e da boa-fé objetiva, que valoriza a conduta
de lealdade dos participantes obrigacionais (TARTUCE, 2019, n.p.).
Desse modo, caso apenas um credor receba a prestação por inteiro, os outros pode-
rão exigir dele, em dinheiro, as suas partes (art. 261 do Código Civil). No exemplo
anterior, João poderá exigir de Renato a sua parte no veículo, mas em dinheiro.
A remissão é efetivamente um perdão de dívida feito pelo credor e aceito pelo de-
vedor. Ela tem como finalidade extinguir a obrigação com relação ao beneficiário.
O art. 260 do Código Civil trata da hipótese em que há uma obrigação indivisível,
com mais de um credor, e um deles resolve remitir a dívida, isto é, liberar o devedor
da sua obrigação. Nesse caso, o perdão da dívida (remissão) não se estende aos
demais credores, os quais poderão exigir a obrigação do devedor, mas deverão
descontar a quota do credor remitente.
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O art. 263, caput, do Código Civil, prevê que a obrigação indivisível que se
resolver em perdas e danos perde a sua qualidade de indivisibilidade. Dessa
forma, uma vez convertida em perdas e danos, ela passa a ser divisível entre os
devedores.
A obrigação irá se resolver em perdas e danos quando houver, conforme
vimos anteriormente, o perecimento do objeto da obrigação.
Suponha que Maria e João se obrigaram a entregar um veículo a Pedro,
avaliado em R$ 40.000,00. Nesse caso, há uma obrigação indivisível e há uma
pluralidade de devedores. Caso o veículo pereça por culpa dos devedores, essa
obrigação será convertida em perdas e danos, devendo Maria e João arcarem com
a prestação em dinheiro mais os eventuais danos existentes.
Enquanto o objeto da prestação ainda era indivisível, não havia como fra-
cionar as prestações devidas pelos devedores. No entanto, após a conversão em
perdas e danos, já passa a ser possível o fracionamento, ficando, no exemplo, cada
um dos devedores obrigado ao pagamento de R$ 20.000,00.
A lógica da regra é essa, é deixar evidente que o regime jurídico, após a conversão,
passa a ser o da obrigação divisível, aplicando-se todas as regras pertinentes.
O art. 263, §1º do Código Civil diz, ainda, que a responsabilidade pelo paga-
mento das perdas e danos será de todos os devedores, em partes iguais, caso
eles tenham agido com culpa. Já o §2º do mesmo artigo prevê uma limitação,
no caso da culpa ser de apenas um ou alguns dos devedores, impondo que
somente estes respondam pelos prejuízos.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
Imagine que, por exemplo, Maria e João tenham agido com o mesmo grau de
culpa para a perda do veículo. Além de ambos responderem, em partes iguais,
pelo valor da obrigação convertida em dinheiro, também em partes iguais eles
responderão pelos prejuízos alegados e comprovados pelo credor.
Diversamente ocorreria se a culpa fosse somente de João, hipótese em
que ele arcaria, sozinho, com as perdas e danos, além do valor da sua quota
na obrigação convertida.
Por fim, Venosa (2013, p. 104) ainda lembra que a nulidade da obriga-
ção declarada com relação a um dos devedores estende-se a todos. Um ato
defeituoso com relação a uma das partes danifica o ato com relação aos
demais partícipes do negócio.
AS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
O estudo das obrigações solidárias, assim como ocorre nas obrigações divisíveis
e indivisíveis, é relevante somente quando há uma pluralidade de credores e/ou
de devedores. Elas são reguladas entre os arts. 264 e 285 do Código Civil.
Conceitualmente, uma obrigação é solidária quando todas as pessoas do
polo obrigacional concorrem ao todo do direito ou da dívida. Em outras pa-
lavras, se estivermos falando de credores solidários, significa dizer que todos os
credores em uma obrigação têm igual direito a exigir o crédito integralmente, como
se fossem únicos; do outro modo, todos os devedores em uma obrigação podem ser
obrigados ao pagamento do débito integralmente, como se fossem únicos.
A solidariedade não é um fenômeno presumível, ela deve advir ou da vontade
das partes (solidariedade contratual/negocial), por meio de um negócio, ou da
própria lei (solidariedade legal), conforme o art. 265 do Código Civil.
Por fim, o art. 266 do Código Civil diz, ainda, que a obrigação pode ser pura e
simples para um dos cocredores ou codevedores, e condicional, ou a prazo, ou pagá-
vel em lugar diferente, para o outro. Significa dizer que não necessariamente porque
a obrigação é solidária que ela será exatamente igual, no modo de ser, para todos.
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UN I C ES UMA R
É a obrigação que não se sujeita a nenhuma condição, termo ou encargo. Por ex-
emplo, uma pessoa se obriga a entregar a outra um livro, sem maiores exigências.
OBRIGAÇÃO CONDICIONAL
OBRIGAÇÃO A PRAZO
Para ilustrar a hipótese, imagine que Maria, João e Renata são devedores
solidários de André, no valor de R$ 300.000,00. No acordo, ficou acertado
que Maria efetuará o pagamento do valor à vista, ao passo que João obri-
gou-se a pagá-lo em 60 dias e, por fim, Renata fará o pagamento caso tenha
o seu financiamento aprovado pelo banco.
Veja que no exemplo a obrigação de Maria é pura e simples, pois não está
subordinada a nenhum prazo ou evento. A obrigação de João é uma obrigação
sujeita a termo (decurso do prazo) e, por fim, a de Renata é sujeita à condição
(aprovação do financiamento).
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Lembre-se que estamos falando de dívida solidária, não sendo correto dizer
que a obrigação de cada um desses três devedores é a de R$ 100.000,00, mas, sim,
eles respondem, individualmente, pelo total do débito (R$ 300.000,00). Dessa
forma, imediatamente Maria já poderá ser demandada pelo total da dívida, ao
passo que João poderá ser demandado pelo total somente após o vencimento do
prazo de 60 dias e Renata apenas caso o banco aprove o financiamento.
A SOLIDARIEDADE ATIVA
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UN I C ES UMA R
É exatamente o que diz o art. 269 do Código Civil, para o qual o pagamento feito a
um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Des-
sa forma, se Andréa realiza o pagamento de R$ 5.000,00 em proveito de Maria, a
dívida remanesce extinta, nesse valor, e o restante (R$ 25.000,00) pode continuar
sendo cobrado pelos credores, inclusive pela própria Maria.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
O art. 272 do Código Civil prevê que o credor que tiver recebido o pagamento
responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Assim, vê-se que o proveito pelo
crédito não é exclusivo, uma vez que o cocredor que receber a dívida deverá re-
passar a parte ideal aos demais cocredores.
Voltando ao exemplo anterior, caso Pedro cobre de Andréa o valor integral
da dívida, de R$ 30.000,00, ele deverá repassar a Maria e a João o valor de R$
10.000,00 para cada um. Pedro, nesse caso, passará a ser devedor de Maria e de
João, mas em razão das frações ideais que a eles são devidas.
A mesma lógica se aplica no caso de remissão da dívida, conforme também
dispõe o art. 272 do Código Civil. Assim, se um cocredor perdoar a dívida inte-
gralmente ou perdoar parte dela, ele deverá pagar aos demais credores o mon-
tante que a eles eram devidos.
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UN I C ES UMA R
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
Conforme a regra do art. 274 do Código Civil, Maria e Pedro ainda poderão
entrar com uma nova ação de cobrança para tentar provar que a dívida não foi
paga. Eles poderiam, por exemplo, alegar que a assinatura no recibo apresentado
é falsa ou que ele é relativo a outro contrato.
Para a correta compreensão dessa regra, é importante que você saiba que, no
Processo Civil, em regra, as decisões proferidas em um processo não podem
atingir as pessoas que não participaram dele. É o que chamamos de limites
da coisa julgada com relação a terceiros.
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plo anterior, já vimos que Maria e Pedro poderão exigir a mesma multa de Andréa,
mas Andréa não perderá o direito de alegar alguma defesa que ela ainda tenha com
relação a algum desses dois, como, por exemplo, que Maria a coagiu a contrair a
dívida. Lembre-se que essa exceção, por ser pessoal, somente atingirá Maria.
A SOLIDARIEDADE PASSIVA
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
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UN I C ES UMA R
A resposta está no art. 277 do Código Civil, que diz que o pagamento parcial
feito por um dos devedores não aproveita aos outros, senão até a concorrên-
cia da quantia paga. Esse pagamento não exclui a solidariedade, conforme já
vimos anteriormente, e ele deverá, sim, ser descontado da quantia a ser paga
pelos demais devedores.
A mesma lógica vale para a hipótese de remissão (perdão) da dívida feita
pelo credor com relação a um devedor. Se um devedor solidário é perdoado da
dívida, os demais devedores são somente obrigados pela quantia restante, com o
desconto relativo ao devedor perdoado.
Além disso, um devedor solidário não poderá, sem o consentimento dos ou-
tros, estabelecer acordos com o credor que agravem a posição de todos, conforme
estabelece o art. 278 do Código Civil. Isso se dá porque os negócios firmados
entre as partes somente a elas atinge, não podendo produzir efeitos com relação
às pessoas que não participaram dela, mesmo sendo elas devedoras solidárias.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 3
Imagine que Jorge, Renato e Patrícia são devedores solidários de Marcos, no valor
de R$ 30.000,00. Patrícia e Renato transferiram as suas parcelas, no valor de R$
10.000,00, cada, para a conta de Jorge, a fim de que ele complementasse o valor
com a sua parcela e pagasse a dívida na data do vencimento.
Ocorre que Jorge não realizou a transferência do valor ao credor, ficando
em mora e sendo a dívida acrescida pelos juros de atraso. Desse modo, Marcos
poderá cobrar dos três devedores o valor do acréscimo pelos juros, mesmo dos
que não foram culpados pelo atraso. Quanto a esses que não foram culpados pelo
atraso, eles poderão cobrar do devedor culpado, no caso, Jorge, o que eles tiveram
de pagar a título de juros.
Pela regra do art. 281 do Código Civil, o devedor que for cobrado pela dí-
vida pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as que forem
comuns aos demais codevedores. Como já vimos anteriormente, as exceções
pessoais, em regra, não se comunicam, isto é, uma parte não pode aproveitar
exceções de caráter pessoal que não são suas.
Suponha que Marcos tenha ajuizado uma ação de cobrança contra uma dí-
vida solidária de Jorge, Renato e Patrícia. No curso da ação, Jorge se defendeu,
argumentando que foi coagido por Marcos a contrair a dívida, ao passo que
Renato e Patrícia nada disseram. Nesse caso, quanto a Jorge, a cobrança deverá
ser julgada improcedente, e, quanto aos demais, a cobrança deverá prosseguir.
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UN I C ES UMA R
A renúncia da solidariedade
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A essa altura já está evidente que o devedor que realizou o pagamento da dívida
tem o direito de exigir dos outros a parte deles, regra materializada pelo art. 283
do Código Civil. Para materializar essa exigência, o devedor que pagou pelo todo
deverá se valer do que chamamos de ação de regresso ou ação regressiva.
O mesmo art. 283 do Código Civil prevê, ainda, que, havendo um devedor insol-
vente, isto é, sem bens suficientes para ressarcir o devedor que realizou o pag-
amento integral, a quota-parte dele deverá ser rateada, em partes iguais, entre
todos os devedores.
No nosso caso da dívida contraída por Jorge, Renato e Patrícia, suponha que Jorge rea-
lizou o pagamento integral da dívida de R$ 30.000,00. Ao demandar Renato e Patrícia
para cobrar a parte deles, R$ 10.000,00 de cada um, Renato não realizou o pagamento
da sua parte e não foi encontrado nenhum bem, constatando-se a insolvência dele.
Nesse caso, pela regra do art. 283 do Código Civil, o valor que caberia a Renato
deverá ser rateado entre Jorge e Patrícia. Esse rateio, inclusive, deve ser realizado
mesmo que algum desses dois devedores tenha sido anteriormente beneficiado
pela renúncia à solidariedade, conforme dispõe o art. 284 do Código Civil.
Por fim, o art. 285 do Código Civil
possui uma importante regra que
visa à proteção do devedor que não
tem interesse jurídico na dívida, isto
é, do devedor que é obrigado, mas
que não se beneficiou com a dívida.
Nos termos do mencionado artigo,
se a dívida solidária interessar ex-
clusivamente a um dos devedores,
responderá este por toda ela para
com aquele que pagar.
Imagine que, por exemplo, Jor-
ge contraiu um empréstimo de R$
100.000,00 em um banco, tendo sido
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UN I C ES UMA R
Renato o seu fiador. Assim, temos uma dívida em que duas pessoas são responsá-
veis, primeiro Jorge e, depois, Renato, o fiador. Jorge não realizou o pagamento da
dívida e Renato foi demandado por ela. Caso Renato realize o pagamento do débito,
ele poderá exigir o valor integral de Jorge, não sendo o caso de cobrar somente a
quota-parte dele, porque esse empréstimo somente beneficiou a Jorge.
O contrário é da mesma forma – caso Jorge pague o valor inteiro da dívida,
ele não poderá entrar com uma ação de regresso para cobrar a metade de Renato,
pois Renato, embora seja devedor pela fiança, não é devedor interessado na dívida.
NOVOS DESAFIOS
A compreensão da classificação das obrigações quanto aos elementos é funda-
mental para os profissionais do direito que atuam na área jurídica. O estudo das
obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias é essencial para serem
tomadas decisões adequadas em situações de impossibilidade de prestação do
objeto ou de inadimplemento obrigacional.
Os desafios profissionais relacionados a esse tema incluem a necessidade de
interpretar corretamente a legislação aplicável e de compreender as nuances de
cada uma das classificações, a fim de aplicá-las de forma adequada e efetiva nos
casos concretos. Além disso, os profissionais precisam estar preparados para lidar
com situações em que há uma pluralidade de sujeitos na obrigação, o que pode
exigir habilidades de negociação e conciliação para alcançar um acordo satisfa-
tório para todas as partes envolvidas.
O profissional da área jurídica deve ter o domínio dos conceitos apresentados
neste tema, uma vez que a elaboração e interpretação de contratos, de acordos
e a análise destes faz parte de sua rotina. Além disso, a correta identificação da
natureza e dos elementos de determinada obrigação é, em muitos casos, deter-
minante para o desfecho correto de um litígio.
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VAMOS PRATICAR
O julgado anterior dispõe sobre a inexistência de impedimento para que as partes cele-
brem um acordo prevendo obrigações alternativas e dispõe que o prazo de escolha se
inicia após a intimação do devedor. Nesse sentido, o Código Civil prevê que, como regra,
na obrigação alternativa, a escolha compete ao:
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
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VAMOS PRATICAR
O texto de referência trata da situação em que a prestação se torna impossível por culpa
do devedor e a escolha cabe a ele. Diferentemente, ocorre quando a impossibilidade das
duas prestações se dá com culpa do devedor e a escolha cabe ao credor. Nesse último
caso, é correto afirmar que:
I - O credor poderá exigir o valor equivalente de qualquer uma das prestações, mais
perdas e danos.
II - O credor poderá exigir somente o valor equivalente da que se perdeu por último, mais
perdas e danos.
III - O credor poderá exigir somente o valor equivalente da que se perdeu primeiro, mais
perdas e danos.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 93-94.
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VAMOS PRATICAR
a) Nada poderá exigir dos demais devedores, uma vez que a responsabilidade é extinta
com o pagamento do débito e todos eles são obrigados pelo todo separadamente.
b) Se sub-rogará nos direitos do credor, podendo cobrar os demais devedores a obri-
gação inteira, na forma solidária, deduzindo dela apenas o montante que ele era
obrigado.
c) Apenas terá o direito de ser reembolsado pelos demais devedores, na proporção da
dívida inteira.
d) Apenas terá o direito de ser reembolsado pelos demais devedores, mas desconside-
rando a parte que ele já era obrigado, devendo esta ser deduzida.
e) Se sub-rogará nos direitos do credor, mas não poderá cobrar dos demais devedores
a obrigação inteira.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU de 11/01/2002.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 7
ago. 2023.
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil: obrigações. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2015.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2017.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2019. E-book.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
1. Opção B. O Código Civil, no art. 252, caput, do Código Civil, prevê que, em regra, a escolha
compete ao devedor. É possível que as partes, de comum acordo, escolham um terceiro
(art. 252, §4º, do Código Civil).
2. Opção A. O credor poderá exigir o valor equivalente de qualquer uma das prestações, mais
perdas e danos, conforme prevê o art. 255 do Código Civil. Por esse mesmo motivo, as
outras alternativas estão incorretas.
3. Opção B. O art. 259 do Código Civil prevê que o devedor que paga a dívida ou cumpre a
obrigação se sub-roga nos direitos do credor. Assim, ele poderá cobrar os demais deve-
dores a dívida inteira, em solidariedade, mas deverá deduzir da cobrança a quota pela
qual ele é obrigado. Por esse motivo, as demais alternativas estão incorretas.
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MEU ESPAÇO
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UNIDADE 3
TEMA DE APRENDIZAGEM 4
MINHAS METAS
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UN I C ES UMA R
VAMOS RECORDAR?
As obrigações podem ser simples, cumulativas ou alternativas. Se estivermos
diante de uma pluralidade de objetos, estaremos tratando de uma obrigação
cumulativa ou alternativa, a depender da opção que é conferida a alguma das
partes. Assista ao vídeo e rememore essa classificação. Recursos de mídia dis-
poníveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem.
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
Obrigação de meio
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Infere-se daí que sua prestação não consiste em um resultado certo
e determinado a ser conseguido pelo obrigado, mas tão somente em
uma atividade prudente e diligente deste em benefício do credor.
Seu conteúdo é a própria atividade do devedor, ou seja, os meios
tendentes a produzir o escopo almejado, de maneira que a inexecu-
ção da obrigação se caracteriza pela omissão do devedor em tomar
certas precauções, sem se cogitar do resultado (DINIZ, 2023, p. 354).
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UN I C ES UMA R
A P RO F UNDA NDO
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
Obrigação de resultado
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UN I C ES UMA R
ZO O M N O CO NHEC I M ENTO
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
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UN I C ES UMA R
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AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS
MORAIS E MATERIAIS. ERRO MÉDICO. CIRURGIA PLÁSTICA
EMBELEZADORA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. SÚMULA 83/
STJ. POSSIBILIDADE DE O PROFISSIONAL DE SAÚDE ELIDIR
SUA CULPA MEDIANTE PROVA. PERÍCIA QUE COMPROVA
O NEXO DE CAUSALIDADE. REEXAME DE PROVAS. ANÁLISE
OBSTADA PELA SÚMULA 7/STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO
FIXADO COM RAZOABILIDADE. RECURSO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. De acordo com vasta doutrina e jurisprudência,
a cirurgia plástica estética é obrigação de resultado, uma vez que o
objetivo do paciente é justamente melhorar sua aparência, compro-
metendo-se o cirurgião a proporcionar-lhe o resultado pretendido.
(...). 4. No caso vertente, verifica-se que o Tribunal de origem arbitra o
quantum indenizatório em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), pelos
danos morais que a recorrida experimentou em decorrência do erro
médico produzido pelo recorrente, que além de ter contrariado as
expectativas da paciente com os resultados alcançados na cirurgia
íntima de natureza estética a que foi submetida, gerou-lhe prejuízos
em sua saúde. 5. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg nos
EDcl no AREsp: 328110 RS 2013/0110013-4, Relator: Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 19/09/2013, T4 - QUARTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 25/09/2013).
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
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Este Superior Tribunal já se manifestou acerca da relação médico-pa-
ciente, concluindo tratar-se de obrigação de meio, e não de resultado,
salvo na hipótese de cirurgias estéticas. No entanto, no caso, trata-se
de cirurgia de natureza mista – estética e reparadora – em que a res-
ponsabilidade do médico não pode ser generalizada, devendo ser
analisada de forma fracionada, conforme cada finalidade da inter-
venção. Em uma cirurgia assim, a responsabilidade do médico será
de resultado em relação à parte estética da intervenção e de meio em
relação à sua parte reparadora. A Turma, com essas e outras conside-
rações, negou provimento ao recurso” (BRASIL, 2011, n. p.).
Obrigação de garantia
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UN I C ES UMA R
Por fim, aquele que paga uma dívida em função de uma obrigação de garantia
terá o direito de demandar a pessoa que teve a garantia em seu benefício.
Para ilustrar a situação, imagine que Maria fez um empréstimo pessoal em
uma instituição financeira, no valor de R$ 50.000,00. Como garantia, João, o
seu irmão, figurou no contrato como fiador, tendo sido prevista a dispensa do
benefício de ordem.
Maria, passando por dificuldades financeiras, não adimpliu com o débito,
de modo que a instituição financeira ajuizou uma ação de cobrança. Nesse caso,
como João renunciou ao benefício de ordem, ele e Maria poderão ser, simulta-
neamente, réus na ação de cobrança.
No nosso exemplo, caso João pague pela dívida, ele assumirá a posição de
credor de Maria e poderá cobrar a dívida dela. Isso ocorre porque o garantidor da
dívida se sub-roga nos direitos do credor, assumindo a posição dele, caso pague
a dívida contraída em benefício exclusivamente do devedor principal.
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Obrigações líquidas
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AP RO F U NDA NDO
Por fim, é importante mencionar que a necessidade de cálculo da dívida não retira
dela a característica de uma obrigação líquida. No exemplo do empréstimo, em que a
obrigação foi contraída em prestações e, sem dúvidas, é acompanhada de juros, multa
e correção monetária, é evidente que haverá a necessidade de se realizar um cálculo
do montante devido, mas essa simples necessidade não torna a dívida ilíquida.
Obrigações ilíquidas
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
retomada do bem e na restituição dos valores a Jorge, pois deve ser considerado,
ainda, o período em que o devedor habitou o imóvel e este período deve ser
indenizado na forma de aluguel pela fruição do bem.
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UN I C ES UMA R
O art. 509, caput, do CPC, prevê que, quando a sentença condenar ao pagamento
de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou
do devedor. Veja que, após uma ação de conhecimento, em que foram definidas
as obrigações do devedor, mas sem a exata definição do cálculo, é a sentença que
servirá como o título que materializa esse débito e ele precisará ser liquidado.
Quando estamos diante de um título de crédito, uma nota promissória, por
exemplo, já é bem simples sabermos quem é o credor, quem é o devedor, qual é o
objeto e o valor devidos. Porém, há casos em que a obrigação não é materializada
em um título, mas, sim, em um fato jurídico, como na obrigação derivada do ato
ilícito, conforme já explicado anteriormente.
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Há obrigações que estão atreladas a outras, como na fiança, que não existirá sem
a obrigação a que ela garante. Há, contudo, obrigações que não dependem de
outra para existirem. Essa dicotomia dá origem à classificação das obrigações
em principal e em acessória.
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Obrigações principais
Obrigações acessórias
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[...] há obrigações que nascem e existem por si mesmas, indepen-
dentes. Há outras que surgem unicamente para se agregar a outras,
isto é, são obrigações acessórias. Sua existência está na razão de ser
da obrigação principal e em torno dela gravitam.
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A obrigação propter rem é aquela que está atrelada a uma coisa, relacionada a um
bem móvel ou a um bem imóvel.
Imagine o caso de uma dívida de Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana (IPTU). Esse tipo de obrigação está estritamente vinculada
à propriedade, ao bem imóvel. Assim, independentemente de quem seja o pro-
prietário desse imóvel, a dívida existirá sobre ele e a alteração dessa propriedade
não altera a responsabilidade pelo pagamento do débito.
Para exemplificar, imagine que João adquiriu um bem imóvel de Rosana, no
ano de 2021. Posteriormente, João descobriu que, sobre o imóvel, pendem dívidas
de IPTU desde o ano de 2015, as quais não foram pagas por Rosana enquanto ela
ainda era a proprietária do bem.
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Obrigações pessoais
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[…] a jurisprudência deste Superior Tribunal consolidou no enten-
dimento de que, independentemente da natureza da obrigação (se
pessoal ou propter rem), o inadimplemento é do usuário, ou seja,
de quem efetivamente obteve a prestação do serviço, pois não cabe
responsabilizar o atual usuário ou proprietário por débito pretérito
relativo ao consumo de energia de usuário anterior. […] No caso,
independentemente da natureza da obrigação (se pessoal ou propter
rem), não cabe a suspensão do fornecimento de água por se tratar
de débito consolidado. Ou seja, o novo proprietário do imóvel está
sendo privado do fornecimento em razão de dívida pretérita do an-
tigo morador, hipótese que não encontra albergue na jurisprudência
do STJ. […]. Ambas as turmas da Primeira Seção concluíram que
o art. 6º, § 3º, II, da Lei n. 8.987/95 refere-se ao inadimplemento do
usuário, ou seja, do efetivo consumidor do serviço. Inviável, portan-
to, responsabilizar o atual usuário por débito pretérito relativo ao
consumo de água do anterior (BRASIL, 2014, n. p.).
NOVOS DESAFIOS
O estudo das classificações das obrigações é de extrema importância para o en-
tendimento do direito civil na totalidade, pois permite que se compreenda as
particularidades de cada tipo de obrigação e suas implicações práticas nas re-
lações jurídicas. Saber identificar se uma obrigação é de meio, de resultado ou
de garantia, por exemplo, é fundamental para determinar as responsabilidades
de cada parte envolvida em um contrato ou acordo. Além disso, a compreensão
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T E MA D E APRE N D IZAGEM 4
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VAMOS PRATICAR
SÃO PAULO, Processo E-5.138/2018. São Paulo: Tribunal de Ética e Disciplina da OAB
São Paulo. Relator: Dr. Fábio de Souza Ramacciotti. Julgado em 18/10/2018.
Sobre a obrigação do advogado, conforme o texto base anterior, é correto afirmar que:
a) O advogado não responde civilmente perante o cliente por danos nas hipóteses de
inadimplemento ou adimplemento ruim.
b) O que caracteriza uma obrigação de meio é o emprego dos meios necessários à
obtenção do resultado, não sendo o caso do contrato de prestação de serviços ad-
vocatícios.
c) O advogado, como essencial à administração da justiça, se compromete com o seu
cliente à entrega do resultado prometido, podendo ser responsabilizado pelo insu-
cesso na demanda.
d) A obrigação de prestar contas ao cliente está inserida dentro do contexto da obrigação
de meio que esse tipo de profissional assume.
e) O advogado responde civilmente perante o cliente por danos que a ele causar nas
hipóteses de inadimplemento ou adimplemento ruim, bem como na hipótese de jul-
gamento desfavorável ao cliente.
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VAMOS PRATICAR
a) A dívida de IPTU é uma hipótese de obrigação pessoal, podendo ser transferida para
o nome do proprietário anterior do bem que deixou de pagá-la.
b) A dívida de consumo de energia é uma dívida pessoal, não cabendo responsabilizar o
atual proprietário do imóvel em que localizada a instalação de energia pelos débitos
pretéritos.
c) A dívida de IPTU é uma hipótese de obrigação propter rem, isto é, independentemente
do atual proprietário do bem, a obrigação continuará atrelada ao imóvel.
d) O novo proprietário do imóvel não pode ser privado do serviço de distribuição de
energia elétrica em razão dos débitos deixados pelo proprietário anterior.
e) Como exemplo de obrigação propter rem, tem-se o IPTU, e como exemplo de obri-
gação pessoal, tem-se a dívida de consumo de energia elétrica.
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REFERÊNCIAS
3. “A noção de acessório e principal já nos foi dada pelo art. 92: ‘Principal é a coisa que
existe sobre si, abstrata ou concretamente. Acessória, aquela cuja existência supõe
a da principal’. Completava ainda o art. 59 do Código de 1916: ‘Salvo disposição espe-
cial em contrário, a coisa acessória segue a principal’. Transporta-se o princípio para
as obrigações. Há obrigações que nascem e existem por si mesmas, independentes.
Há outras que surgem unicamente para se agregar a outras, isto é, são obrigações
acessórias. Sua existência está na razão de ser da obrigação principal e em tomo dela
gravitam. O caráter de acessório e principal pode emanar da vontade das partes ou da
lei. Pode a obrigação acessória surgir concomitantemente com a principal ou poste-
riormente. Podem estar presentes no mesmo instrumento ou em instrumento diverso.”
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
13. ed. São Paulo: Atlas, 2013. E-book.
a) I, apenas.
b) II e IV, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
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REFERÊNCIAS
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
1. Opção D. A obrigação do advogado é de meio e, dentro das suas funções, está a de pres-
tar contas ao cliente. O que caracteriza uma obrigação de meio é o emprego dos meios
necessários à obtenção do resultado, o que se aplica ao caso do advogado (por isso, o
erro na Opção B), que não se compromete com o resultado da demanda, mas com o
esforço para o bom resultado (por isso, o erro na Opção C). A Opção A e a Opção E estão
incorretas, pois o advogado somente responde civilmente perante o cliente por danos
que a ele causar nas hipóteses de inadimplemento ou adimplemento ruim.
2. Opção A. A dívida de IPTU é uma obrigação propter rem, que acompanha o imóvel e ficará
pendente independentemente da transferência da propriedade. Caso o proprietário ante-
rior não pague o débito, o novo proprietário fica por ele responsável (justifica as Opções
C e E). A dívida de consumo de energia elétrica, e também a de distribuição de água, são
exemplos de dívidas pessoais que não vinculam os novos proprietários e/ou moradores
do imóvel pelos débitos passados. Eles não podem se responsabilizar por um consumo
de água e de energia que não é deles, o que responde às Opções B e D.
3. Opção A. Principal é a coisa que existe sobre si, abstrata ou concretamente, assim, a
obrigação principal nasce e existe por si mesma, independentemente de outra obrigação.
As afirmativas II, III e IV estão incorretas, pois a II trata a obrigação acessória como se
fosse a principal, bem como a III trata a obrigação principal como se fosse a acessória. Os
conceitos estão invertidos. Ainda, a IV desconsidera que a obrigação acessória, conforme
o texto base, pode surgir concomitantemente com a principal e também posteriormente.
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TEMA DE APRENDIZAGEM 5
MINHAS METAS
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VAMOS RECORDAR?
É importante relembrar que as obrigações podem estar vinculadas ao sujeito
ou à coisa, sendo que, neste último caso, a denominamos de obrigação propter
rem. Essa modalidade de obrigação é bastante discutida e relevante na prática.
Assista ao vídeo e rememore o seu conceito e as suas características. Recursos
de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem.
CESSÃO DE CRÉDITO
Na cessão, temos, então, a figura do credor que cede o crédito, denominado ce-
dente, a do credor que recebe o crédito, denominado cessionário, e a figura do
devedor, que permanece o mesmo e pode ser chamado de cedido.
Para exemplificar, imagine que João possui uma dívida de R$ 10.000,00 com Maria,
com a data de vencimento para o ano seguinte. No entanto, João precisa do dinheiro
imediatamente e, como solução, decide ceder essa dívida para a empresa CrediCes-
são. Em troca, a CrediCessão paga a João uma quantia imediata de R$ 8.000,00.
Com a cessão, a partir desse momento, a CrediCessão se torna a nova credora,
a cessionária, e passa a poder cobrar o valor total da dívida diretamente de Maria, a
cedida. Veja que, aqui, houve a modificação do polo ativo da obrigação, com a reti-
rada de João, o credor cedente, e o ingresso da CrediCessão, a credora cessionária.
Conforme o art. 286 do Código Civil, o credor pode ceder o seu crédito desde
que não haja proibição legal ou contratual, ou, ainda, desde que a própria natu-
reza da obrigação não vede a cessão. Dessa forma, percebemos que nem sempre
a cessão será possível, como na obrigação alimentar (art. 1.707 do Código Civil)
e nos casos envolvendo os direitos de personalidade (art. 11 do Código Civil).
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A última parte do art. 286 do Código Civil chama a atenção porque estabelece
que a proibição da cessão não pode ser oposta ao cessionário de boa-fé, caso
não conste do instrumento da obrigação. Desse modo, se no instrumento da
obrigação, no objeto em que ela se materializa, como por exemplo, o contrato,
não constar a proibição da cessão de crédito, o devedor não poderá alegar que
aquele crédito não podia ser cedido em razão de um acordo realizado com o
credor primário, com o cessionário.
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Como regra, a cessão de crédito pode ser celebrada tanto verbalmente quanto por
escrito, não havendo solenidade prevista em lei para tanto. A questão que se coloca
é quanto aos efeitos da cessão celebrada a depender da forma como ela é celebrada.
Isso se dá porque o art. 288 do Código Civil prevê que, em relação a terceiros,
a transmissão de um crédito, se não for celebrada por instrumento público, ou
instrumento particular revestido das solenidades do art. 654, §1º, do Código Ci-
vil, é ineficaz. Esse art. 654, §1º do Código Civil, trata dos requisitos do mandato,
o que abordaremos mais adiante.
Perceba, estudante, que a forma exigida no art. 288 do Código Civil, por
instrumento público ou instrumento particular, é somente para que a cessão
tenha eficácia com relação a terceiros, a pessoas que não fazem parte do vínculo
obrigacional. Não quer dizer que a cessão será ineficaz perante o devedor, uma
vez que o devedor, na obrigação, não é terceiro, mas, sim, parte.
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Nesse caso, porém, caso João seja demandado em uma execução por uma dívida
dele e o credor requeira a penhora desse crédito que ele tinha com Maria, uma
vez que a cessão à CrediCessão não foi realizada por instrumento público, em
cartório, nem por instrumento particular com os requisitos do art. 654, §1º, do
Código Civil, a penhora será deferida. Assim, o credor de João, o qual é o terceiro,
poderá requerer a penhora desse crédito e até mesmo adjudicá-lo, tomar para si,
e passar a ser o novo credor de Maria, já que a cessão não formal não tem eficácia
contra terceiros.
Veja, estudante, que quando a legislação diz que algo não tem eficácia perante
terceiros, é justamente em razão da possibilidade de que outras pessoas interfi-
ram naquela obrigação.
A NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR
Anteriormente, vimos que a cessão não demanda uma forma específica, poden-
do ser celebrada até mesmo verbalmente. Tal situação ocorre porque, no direito
brasileiro, vigora a regra da atipicidade dos negócios jurídicos, de modo que as
pessoas são livres para celebrarem acordos da forma como melhor lhes aprouver,
exceto se a lei exigir uma forma específica para aquele tipo de acordo (art. 107
do Código Civil).
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A resposta da pergunta anterior está no art. 290 do Código Civil, que diz que a
cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este
notificada. Veja, estudante, que a regra não fala de celebração da cessão por forma
específica, mas de simples notificação.
Em complemento, a última parte do art. 290 do Código Civil traz ainda uma re-
gra óbvia, para a qual o devedor se dá por notificado quando ele participa da cessão,
isto é, quando no instrumento público ou particular, ele se declara da cessão feita.
É importante ressaltar ainda que essa notificação tem exclusivamente a fun-
ção de dar ciência ao devedor de quem ele deverá pagar. Não se trata de um
pedido de autorização ou de necessidade de consentimento, mas tão somente
de comunicação.
A P RO F UNDA NDO
Como se vê, a ausência da notificação não impede a cobrança, ela terá outras
consequências que veremos anteriormente. Mesmo assim, o credor cessionário
poderá promover todas as medidas para a conservação do crédito (art. 293 do
Código Civil), inclusive ajuizar a ação de cobrança ou a ação de execução de título
extrajudicial, a depender do caso.
Vejamos, abaixo, uma situação em que o devedor, em sua defesa em ação de
cobrança, alegou a inexigibilidade do crédito em razão da ausência de notifica-
ção da cessão de crédito realizada entre o credor cedente e o credor cessionário.
O Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o recurso, decidiu que a citação, na
ação de cobrança, já supre a finalidade de ciência da notificação e que, por isso,
a dívida já poderia ser cobrada pelo novo credor.
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“
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CESSÃO DE CRÉDITO.
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO AO DEVEDOR. CONSEQUÊN-
CIAS. I - A cessão de crédito não vale em relação ao devedor, senão
quando a este notificada. II - Isso não significa, porém, que a dívida
não possa ser exigida quando faltar a notificação. Não se pode ad-
mitir que o devedor, citado em ação de cobrança pelo cessionário
da dívida, oponha resistência fundada na ausência de notificação.
Afinal, com a citação, ele toma ciência da cessão de crédito e daquele
a quem deve pagar. III - O objetivo da notificação é informar ao
devedor quem é o seu novo credor, isto é, a quem deve ser dirigi-
da a prestação. A ausência da notificação traz essencialmente duas
consequências: Em primeiro lugar dispensa o devedor que tenha
prestado a obrigação diretamente ao cedente de pagá-la novamente
ao cessionário. Em segundo lugar, permite que o devedor oponha ao
cessionário as exceções de caráter pessoal que teria em relação ao ce-
dente, anteriores à transferência do crédito e também posteriores, até
o momento da cobrança (inteligência do artigo 294 do CC/02). IV
- Recurso Especial a que se nega provimento (BRASIL, 2011, s. p.).
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É comum que um mesmo crédito seja objeto de diversas cessões, uma vez que a
legislação não proíbe nem limita o número destas. Nesse caso, evidentemente, ha-
verá uma certa dificuldade pelo devedor em identificar o atual credor da obrigação.
Para solucionar a problemática, o art. 291 do Código Civil estabelece
que, ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece aquela que se
completar com a tradição do título do crédito cedido. Assim sendo, não
se perquire qual cessão foi realizada primeiro, mas, sim, qual dos credores
cessionários está na posse do título.
Para Simão (2021), o critério da posse do título só faz sentido se foram cum-
pridos os requisitos dos arts. 288 (para terceiros) e 290 (para o devedor). Se não
foram cumpridos, a cessão é ineficaz para terceiros (art. 288) ou para o devedor
(art. 290). O autor complementa, ainda, exemplificando:
“
Assim, se a primeira cessão de crédito foi verbal e o devedor não foi
dela notificado, e a segunda cumpriu as regras dos arts. 288 e 290,
mesmo estando o cessionário da primeira com o título de crédito,
a segunda cessão é que prevalece por força da eficácia que a lei lhe
confere. O devedor poderá pagar ao segundo cessionário e terá pago
bem. (SIMÃO, 2021, s. p.).
Como se vê, primeiro devem ser observadas as regras relativas à notificação. Ten-
do sido o devedor notificado da cessão, é para esse credor cessionário notificante
que a dívida deverá ser paga, independentemente de existir outro credor que,
embora esteja na posse do título, não tenha promovido a notificação.
Tendo havido diversas cessões do mesmo crédito e todas elas sido notificadas
ao devedor, o pagamento deverá ser realizado ao credor cessionário notificante
que esteja na posse do título. Caso nenhum dos credores cessionários tenha pro-
movido a notificação, prevalecerá a posse do título.
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Na cessão de crédito, o art. 290 prevê que o devedor pode opor ao cessionário
as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que teve
conhecimento, tinha contra o cedente. Trata-se de uma regra um pouco complexa
que merece uma exemplificação.
Para exemplificar, vamos relembrar a situação do início deste tema, em que João
possui um crédito de R$ 10.000,00 com Maria, com a data de vencimento para o
ano seguinte. Precisando de dinheiro imediato, João cede esse crédito para a em-
presa CrediCessão. Em troca, a CrediCessão paga a João uma quantia imediata
de R$ 8.000,00, e ela é quem passa a ser a credora de Maria (credora cessionária).
Nesse caso, a legislação prevê que, caso Maria tenha alguma exceção a ser
oposta contra João, ela deverá fazê-lo logo que tenha ciência. Suponha, portanto,
que Maria já havia pago o crédito a João e extinguido a obrigação. Assim, quando
a CrediCessão notificá-la da cessão do crédito, Maria deverá imediatamente opor
a exceção de extinção do débito, alegando o pagamento e apresentando o recibo.
O mesmo vale para outras exceções, inclusive aquelas de caráter pessoal, as
quais já estudamos. Caso o negócio entre Maria e João tenha sido realizado me-
diante coação, caberá a Maria alegar a exceção pessoal de coação, o que atingirá
o direito do cessionário, uma vez que o negócio realizado sob coação é anulável.
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não tenha havido estipulação específica em contrário, o credor cedente não será
responsabilizado caso o devedor não realize o pagamento da dívida.
Esse tipo de cessão é denominado de cessão pro soluto, na qual é o cessionário
quem assume o risco da cessão. A hipótese diversa, a cessão pro solvendo, é aquela
em que o cedente se responsabiliza pelo adimplemento, de modo que, caso o de-
vedor não cumpra com a obrigação, o cedente responderá perante o cessionário.
Quanto à existência do crédito, o art. 295 prevê que, se a cessão for por título
oneroso, como no nosso exemplo, ou gratuita, mas de má-fé, o cedente sempre
será responsável pela existência do crédito. Veja, estudante, que não se trata da
solvência, mas, sim, da existência do crédito.
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Imagine que, por exemplo, que João realizasse tal cessão, mas Maria já houvesse
pago a dívida, logo, não haveria mais crédito a receber, pois o pagamento extingue
a obrigação. Dessa forma, João ficaria responsável perante a CrediCessão, uma
vez que, independentemente de ele garantir o pagamento ou não, pela existência,
ele seria sempre responsável.
Para encerrar, o art. 298 prevê que o crédito, uma vez penhorado, não pode
mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora. O devedor
que o pagar, não tendo sido notificado dela, fica exonerado, subsistindo somente
contra o credor os direitos de terceiro.
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Em primeiro lugar, é importante que seja entendido que créditos também po-
dem ser penhorados. Voltando ao nosso exemplo, em que João tem um crédito
de R$ 10.000,00 com Maria, imagine que esse crédito seja em razão de uma
dívida contraída por instrumento público, isto é, foi registrada em cartório.
Nesse caso, todos poderão ter conhecimento da existência dessa dívida, de
modo que, caso João deva R$ 10.000,00 em uma ação de execução, por exem-
plo, o credor nessa ação poderá solicitar a penhora desse crédito, isto é, poderá
solicitar a apreensão, a afetação, desse crédito, para que ele sirva de pagamen-
to. Assim, o credor da ação, caso solicite, poderá receber a sua dívida com João
simplesmente tomando a posição dele na obrigação com Maria, hipótese em
que Maria deverá realizar o pagamento, não a João, mas ao credor dele benefi-
ciado com essa penhora.
Essa situação é muito mais comum do que se imagina. Na prática, é bastante
comum que credores tomem conhecimento de processos judiciais em que os
seus devedores saíram vitoriosos e com valores a receber, de modo que tais
credores solicitam ao juízo a penhora desses créditos, ao que damos também o
nome de “penhora no rosto dos autos”.
Dessa forma, uma vez que o crédito que um credor possui tenha sido penhorado
em um processo, esse credor não poderá ceder esse crédito, mas, caso o credor
faça uma cessão de um crédito penhorado, essa cessão não terá eficácia contra a
pessoa que solicitou a penhora. Ainda, caso o devedor realize o pagamento, es-
tando de boa-fé, isto é, sem saber da penhora, ao credor de um crédito penhorado
por um terceiro, esse devedor ficará desobrigado perante a esse terceiro, mas o
credor, contra esse terceiro, continua obrigado.
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O que o art. 298 do Código Civil prevê é que, uma vez realizada essa penhora,
João não pode mais ceder esse crédito, e se ele o fizer, essa cessão será considerada
ineficaz para o exequente, que, no caso, é a Raquel. Assim, mesmo se João fizer
a cessão à CrediCessão, Maria deverá ignorar tal cessão e pagar à Raquel, pois
Maria já foi notificada da penhora.
A última parte do art. 298 do Código Civil trata da situação em que Maria
não teria conhecimento da penhora, pois não foi notificada. Nesse caso, se ela
realizar o pagamento a João ou se ela realizar o pagamento à CrediCessão, Raquel
não deverá demandar o pagamento de Maria, pois ela não sabia da penhora, e,
sim, a João ou à CrediCessão, conforme o caso.
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ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
Anteriormente, vimos que uma pessoa pode assumir a posição de credor de outra
pessoa em uma relação obrigacional, o que conceituamos como cessão de crédito.
Há, também, a situação em que uma pessoa assume não a posição de credor de
outra pessoa, mas, sim, a posição de devedor, ao que nomeamos de assunção de
dívida ou cessão de débito.
A assunção de dívida é conceituada como um negócio jurídico bilateral, em
que o devedor transfere a sua posição a um terceiro, sempre com a anuência do
credor, seja ela expressa ou tácita. Neste ponto, estudante, já vemos uma diferença
fundamental entre o regime da assunção de dívida e o da cessão de crédito, que
é, na assunção de dívida, o consentimento do credor ser obrigatório.
Pelo art. 299 do Código Civil, é facultado a terceiro assumir a obrigação do deve-
dor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor pri-
mitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor ignorava.
Desse modo, quando um terceiro assume a dívida no lugar do devedor original,
esse devedor original, em regra, fica exonerado da obrigação e nada mais deve.
A exceção, no entanto, ocorre quando esse terceiro era insolvente, isto é, ele
possuía mais dívidas do que patrimônio suficiente para pagá-las, e o credor não
tinha conhecimento dessa informação (veja que o artigo fala " [...] e o credor
ignorava”). Nesse caso, esse terceiro assume a dívida, mas o devedor original
continuará como devedor e ficará responsável pelo pagamento caso o terceiro
não a pague.
“
No sistema brasileiro, a assunção é, em regra, liberatória, nos termos
do art. 303. Será cumulativa em duas hipóteses: por força de contra-
to ou por força da insolvência do assuntor. Nesse sentido, Enuncia-
do n. 16 da I Jornada de Direito Civil: ‘O art. 299 do Código Civil
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Assim, caso João decida prosseguir com a assunção, deverá procurar a imobi-
liária credora e formalizar com ela a assunção da dívida, a fim de que ele assuma
a posição de Maria como devedora. Ele e Maria podem, ainda, notificar a imobi-
liária, manifestando o interesse e concedendo o prazo de 15 dias para a resposta,
mas se a imobiliária nada disser, o negócio não terá sido feito.
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mente o terceiro passa a ser devedor, liberando o outro do vínculo). Nesse tipo
de assunção, diante da não participação do devedor, as garantias prestadas na
obrigação ficam extintas, conforme prevê o artigo que estudamos.
Imagine que João assume um débito de Maria com a imobiliária, mas João so-
mente o fez porque foi coagido por Maria, que o ameaçou de revelar segredos
da vida particular de João a todos. Nesse caso, com o consentimento do credor e
a assunção da dívida, Maria, em tese, ficou liberada do vínculo e João se tornou
o novo devedor.
Nos termos do art. 301 do Código Civil, o débito original fica restabelecido, com
todas as suas garantias, caso a substituição do devedor seja anulada. Assim, Maria
retoma a posição de devedora e todas as garantias que ela mesma havia prestado
e ficaram extintas, voltam a garantir a obrigação. Caso existam garantias pres-
tadas por terceiros, como, por exemplo, uma fiança, essa garantia não retorna, a
menos que esse terceiro também tivesse conhecimento do vício na assunção e
dele tenha participado.
Por fim, o art. 303 do Código Civil traz uma regra sobre a obrigação
garantida por hipoteca. Nessa hipótese, a garantia da obrigação é um bem
imóvel dado em hipoteca. Assim, a assunção de dívida poderá ser realizada
mesmo que o credor não dê o seu expresso consentimento, caso ele seja
notificado e não apresente impugnação em 30 dias.
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“
Estamos diante de uma exceção e, como tal, a hipótese do art. 303
se interpreta restritivamente. Na hipótese de obrigação garantida
por hipoteca, o adquirente do imóvel hipotecado pode notificar o
credor para assumir a dívida, liberando o devedor primitivo. Nessa
hipótese, no silêncio do credor, após trinta dias (contados do recebi-
mento pelo credor da notificação do assuntor), considera-se aceita a
assunção. A razão de ser da regra é a seguinte: se há hipoteca garan-
tindo a dívida, a substituição do devedor é pouco ou nada gravosa
ao credor, já que há uma garantia real. É por isso que seu silêncio
implica, excepcionalmente, aceitação. Naturalmente, o credor pode
se opor à assunção mesmo havendo hipoteca. (SIMÃO, 2021, s. p.).
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NOVOS DESAFIOS
O estudo da transmissão das obrigações é de grande importância e de grande
relevância, pois, considerando o conteúdo patrimonial das obrigações, a trans-
missão delas é bastante utilizada no cotidiano. Ao longo deste tema, vimos que
a transmissão das obrigações pode ocorrer tanto com relação ao crédito quanto
com relação ao débito, sendo, no primeiro caso, a cessão de crédito, ao passo que,
no segundo, a assunção de dívida.
Identificar as modalidades da transmissão das obrigações é muito importante
para o profissional do direito, uma vez que ambas possuem finalidades distintas
e requisitos distintos. Vimos que, por exemplo, o consentimento dispensado na
cessão de crédito é essencial na assunção de dívida.
Ao lidar com a análise de uma obrigação transmitida ou com a avaliação
técnica de uma transmissão, é muito importante que o profissional esteja
atento aos requisitos de validade do ato e a responsabilização do credor e/
ou do devedor que deixam de compor o polo obrigacional e daqueles que
passam a compô-lo. A referida atenção é necessária para evitar que as partes
envolvidas sofram prejuízos e para manter a higidez do conteúdo da relação,
preservando os interesses das partes.
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VAMOS PRATICAR
1. “Conforme lembra Maria Helena Diniz, a obrigação não traz um vínculo imóvel, uma
vez que ‘a transmissão da obrigação é uma conquista do direito moderno, repre-
sentando uma sucessão ativa, se em relação ao credor, ou passiva, se atinente
ao devedor, que não altera, de modo algum, a substância da relação jurídica, que
permanecerá intacta, pois impõe que o novo sujeito (cessionário) derive do sujeito
primitivo (cedente) a relação jurídica transmitida’ (CURSO..., 2002, p. 410). Sendo
muito comum a sua ocorrência no meio social, principalmente em casos envolvendo
transações empresariais, não se pode afastar a importância prática do tema. Sa-
liente-se que a transmissão das obrigações deve ser encarada diante dos princípios
sociais obrigacionais e contratuais, particularmente a boa-fé objetiva e a função
social. Como se tem afirmado, não há outra forma de encarar o Direito Privado.”
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14.ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
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VAMOS PRATICAR
3. “No sistema brasileiro, a assunção é, em regra, liberatória, nos termos do art. 303.
Será cumulativa em duas hipóteses: por força de contrato ou por força da insolvência
do assuntor. Nesse sentido, Enunciado n. 16 da I Jornada de Direito Civil: ‘O art. 299
do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da dívida quando
dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância do
credor’. Na hipótese em que, quando da assunção, o assuntor era insolvente (dívidas
em valor superior aos bens) e o credor ignorava, a assunção, por lei, é cumulativa. Se
o credor sabia da insolvência do assuntor (estava de má-fé), o devedor primitivo está
liberado da obrigação. Caso contrário, o devedor primitivo prossegue no polo passivo
na qualidade de devedor subsidiário.”
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.;
MELO, M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência.
3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. E-book.
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VAMOS PRATICAR
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, José F.;
MELO, M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência.
3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. E-book.
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VAMOS PRATICAR
5. “Por via de regra, o credor sempre pode transferir o seu crédito (Código Civil de 2002,
art. 286), pois em princípio todos são suscetíveis de mutação, como qualquer elemento
integrativo do patrimônio. Por exceção, e somente por exceção, será defesa. As proi-
bições ou decorrem da natureza da obrigação ou da vontade da lei ou da convenção
entre as partes. Pela própria natureza, não podem ser objeto de cessão os créditos
acessórios, enquanto tais, sem a transferência do principal, também aqueles que de-
rivam de obrigações personalíssimas; ou quando não seja possível fazer efetiva a
prestação ao cessionário sem alteração de seu conteúdo; ou ainda quando a pessoa
do credor é levada em consideração exclusiva para a constituição do vínculo.”
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed.
Rio de Janeiro: Forense, p. 362.
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REFERÊNCIAS
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
3. Opção E. O art. 299 do Código Civil fundamenta as três afirmativas. Pelo art. 299 do Có-
digo Civil, é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento
expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da
assunção, era insolvente e o credor ignorava. Assim, vê-se que a assunção liberatória,
a que exonera o devedor primitivo, é a regra, sendo a assunção cumulativa a exceção,
a qual ocorre na hipótese de insolvência do terceiro que assume a dívida e o credor não
tinha conhecimento dela. Nesse último caso, o devedor primitivo continua obrigado, mas
na forma subsidiária.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
4. Opção A, pois o art. 303 do Código Civil traz uma regra sobre a obrigação garantida por
hipoteca. Nessa hipótese, a garantia da obrigação é um bem imóvel dado em hipoteca,
assim, a assunção de dívida poderá ser realizada mesmo que o credor não dê o seu
expresso consentimento, caso ele seja notificado e não apresente impugnação em 30
dias. Tal indica ainda o erro na opção C. A opção B é incorreta, pois o art. 299, parágrafo
único, do Código Civil, prevê que o silêncio implica em recusa. A opção D é incorreta,
pois, na cessão de crédito, o consentimento é dispensado. A opção E é incorreta, pois a
notificação não é o mesmo que o consentimento, o qual deve ser expresso.
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MEU ESPAÇO
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UNIDADE 4
TEMA DE APRENDIZAGEM 6
MINHAS METAS
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P L AY N O CO NHEC I M ENTO
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VAMOS RECORDAR?
A transmissão das obrigações envolve o estudo da cessão de crédito e da
assunção de dívida, duas importantes formas de transmissão do vínculo
obrigacional
DO PAGAMENTO
“
Os termos pagamento, adimplemento e cumprimento são utiliza-
dos indistintamente pela doutrina. Pagar vem do latim pacare, cujo
radical tem pax ou paz. Quem paga, apazigua, traz a paz. Há diver-
gência doutrinária quanto aos vocábulos em questão. Há autores
que entendem que pagamento e adimplemento são sinônimos e a
distinção é irrelevante (Orlando Gomes). Para outros, dar dinheiro
é pagar e, para todas as demais prestações (dar coisa que não dinhei-
ro, fazer e não fazer), o termo correto é adimplemento (Pontes de
Miranda). Para outros, adimplemento é gênero e pagamento espécie
(SIMÃO, 2021, s. p.).
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A P RO F UNDA NDO
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Como se vê, no direito brasileiro existe a obrigação daquele que recebeu quan-
tia indevida em restituí-la, sendo terminantemente proibido que o recebedor
invoque a regra de que quem paga mal, paga duas vezes. A partir disso, já se sabe
que, nesses crescentes casos em que o sujeito recebe uma transferência bancária
por engano, ele possui a obrigação de devolver o valor indevidamente recebido,
inclusive sob pena de responsabilidade criminal.
Pela regra do art. 304, caput, do Código Civil, qualquer interessado na extinção
da dívida pode pagá-la. Como regra, esse interessado é o próprio devedor, mas
nada impede que um terceiro o faça, conforme está previsto no parágrafo único
do art. 304 do Código Civil.
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“
[…] deve ser tomado o devido cuidado, uma vez que interesse pa-
trimonial não significa interesse afetivo. Dessa forma, um pai que
paga a dívida do filho por intuito afetivo não pode ser considerado
terceiro interessado no campo do direito obrigacional. O pai que
paga a dívida deve ser considerado, na verdade, um terceiro não
interessado na dívida. Esse também tem direito de realizar o paga-
mento (TARTUCE, 2019, s. p.).
De acordo com o art. 305, caput, do Código Civil, o terceiro não interessado, que
paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar,
ao passo que o terceiro interessado, caso o faça, se sub-roga nos direitos do cre-
dor. Neste ponto, vemos que a diferença básica entre o pagamento realizado por
terceiro interessado e o pagamento pelo terceiro não interessado é a posição que
esses terceiros assumirão em face do devedor.
A sub-rogação é a transferência de todos os direitos do credor primitivo ao ter-
ceiro interessado que realizou o pagamento. Assim, se uma obrigação possuía deter-
minada garantia, essa garantia também será aproveitada pelo terceiro interessado.
Para exemplificar, imagine que João realizou um empréstimo com Maria, no
valor de R$ 100.000,00. Em garantia do pagamento, João ofereceu um veículo de
sua propriedade, mais a fiança prestada por Marcos.
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João, no entanto, não adimpliu o débito com Maria, tendo sido Marcos cobra-
do pela dívida e realizado o pagamento. Nesse caso, como Marcos é um terceiro
interessado, pois é o fiador, ele terá o direito de cobrar de João o valor que pagou e
ainda poderá exigir o veículo dado em garantia no contrato realizado com Maria.
O veículo somente poderá ser exigido porque Marcos se sub-rogou nos direitos
da credora. Assim, uma garantia que havia sido prestada no contrato realizado
com Maria, foi transferida, por sub-rogação, ao terceiro interessado que efetuou o
pagamento da dívida, e agora poderá exigi-la também.
Por outro lado, o terceiro não interessado que realiza um pagamento, em seu
próprio nome, mas em proveito do devedor, somente tem o direito a ser reem-
bolsado pelo que pagou. Aproveitando o exemplo anterior, caso Marcos não fosse
o fiador, mas, sim, amigo de João, embora ele pudesse exigir o reembolso pelo
valor pago, não poderia exigir a garantia prestada no contrato de empréstimo.
Note que esse pagamento deve ocorrer em nome próprio, pois se for um
pagamento realizado em nome do devedor, nada mais pode ser exigido. Nessa
hipótese, em que o terceiro realiza o pagamento em nome do devedor, a inter-
pretação é no sentido de que teria ocorrido uma doação.
Por fim, o art. 306 do Código Civil prevê que o pagamento feito por terceiro,
com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele
que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. A expressão “meios para
ilidir a ação” é sinônimo de “meios de defesa”.
“
Ação de cobrança. Sentença de improcedência. Inconformismo
da parte autora. Alegação de pagamento de obrigação tributária
(IPTU) em área maior que englobou a área menor de titularidade
de domínio da parte ré, adquirida por meio de usucapião. Rejeição.
Hipótese em que o registro da matrícula do imóvel usucapido foi
regularizado em 2013, correspondendo ao período de incidência do
IPTU. Pagamento realizado pela apelante na qualidade de terceiro,
sem conhecimento do requerido e com expressa oposição posterior.
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O pagamento, conforme o art. 308 do Código Civil, deve ser feito ao próprio
credor ou a um representante, isto é, alguém que tenha poderes para receber o
pagamento em nome do credor. Caso esse pagamento seja feito a um estranho
que não tenha tais poderes, ele somente será considerado eficaz se o credor, pos-
teriormente, confirmar a quitação ou se o devedor conseguir comprovar que o
pagamento foi revertido em proveito do credor.
O art. 309 do Código Civil traz uma interessante regra sobre o pagamento
feito à pessoa que aparenta ter poderes para receber, mas, de fato, não os tem. São
os chamados credores putativos, cujo pagamento realizado a eles, pelo credor de
boa-fé, é considerado eficaz.
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Imagine, estudante, que João resolveu se mudar para o exterior e constituiu Maria
como sua procuradora, a fim de que ela recebesse os aluguéis de seus imóveis
e gerenciasse os seus negócios. Após um tempo, João revoga a procuração de
Maria e constitui Jorge como o seu novo procurador, mas deixa de notificar aos
seus inquilinos, que, acreditando que Maria ainda possuía poderes para receber
os pagamentos, continuaram a fazê-los a ela.
Veja que a situação representa uma clara hipótese de pagamento, de boa-fé,
realizado a um credor putativo. Nesse caso, é muito importante que esses paga-
mentos tenham sido feitos de boa-fé, isto é, que os devedores desconheçam a
real condição de Maria e de Jorge, sob pena de terem de refazer o pagamento.
“
A lei protege, pois, o solvente de boa-fé, e a solutio assim realizada
extingue a obrigação do devedor, que não mais poderá ser moles-
tado. Vencedor na contenda, o credor real tem ação contra o credor
putativo acipiente, para dele recobrar o montante do recebimento. A
eficácia do pagamento feito ao credor putativo constitui matéria de
fato, a ser apreciada, diante das circunstâncias de cada caso, a posse
de estado de credor (PEREIRA, 2017, p. 186).
Nessa hipótese, portanto, o credor deverá demandar aquele que recebeu o valor
para cobrá-lo, e não o devedor, uma vez que o pagamento eficaz extingue a obri-
gação. No caso de pagamento de má-fé, isto é, feito àquele que sabiamente não
era mais credor ou autorizado a receber o débito, o devedor continuará obrigado
e terá de refazer o pagamento (art. 310 do Código Civil).
A lei presume, ainda, que esteja autorizada a receber o pagamento a pessoa
que estiver portando a quitação (art. 311 do Código Civil). Imagine que o loca-
dor de um imóvel vai até o escritório do locatário para realizar o pagamento do
aluguel, mas, no local, somente encontra um terceiro que está portando o recibo
dado pelo próprio credor.
Nessa hipótese, considera-se eficaz o pagamento realizado a esse terceiro,
uma vez que ele é o portador da quitação. Por outro lado, se houver fundada
dúvida sobre a idoneidade dessa quitação, por exemplo, quanto à veracidade
da assinatura, o devedor deverá deixar de realizar o pagamento, uma vez que as
circunstâncias não lhe são favoráveis (art. 311, última parte, do Código Civil).
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Por fim, sendo o caso de um crédito penhorado e o devedor tem ciência da pe-
nhora, ele não poderá realizar o pagamento ao credor, mas ao exequente bene-
ficiário da penhora, sob pena de ter de realizar novamente o pagamento. O art.
312 do Código Civil traz essa regra, protegendo, contudo, o devedor de boa-fé,
isto é, aquele que não tem ciência da penhora.
Imagine que um locador de um imóvel foi intimado a realizar o pagamento
dos aluguéis não mais ao locatário, mas em depósito judicial, pois os aluguéis
foram penhorados em uma ação de execução. Caso tenha havido a penhora e o
devedor não foi intimado para ter ciência sobre quem deve receber o crédito, será
eficaz o pagamento por ele realizado ao credor, já que, na hipótese, o pagamento
foi feito de boa-fé.
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O art. 316 do Código Civil prevê a possibilidade de que seja convencionado o au-
mento progressivo de prestações sucessivas. Esse tipo de alteração pode ocorrer
tanto com relação ao valor da prestação em si quanto com relação à incidência
de juros e de correção monetária.
Seria a hipótese de alguém celebrar um contrato de locação de um bem imóvel,
no qual existe a previsão de que, no primeiro ano, o aluguel seria no valor de R$
1.500,00, ao passo que, no segundo e nos subsequentes, haveria um aumento, por
ano, de R$ 200,00, sempre aplicando um índice de correção monetária. A correção
monetária, a propósito, serve para garantir que o valor acordado em um período
da história mantenha o seu valor real em outro. No nosso exemplo, o acordo de
R$ 200,00 celebrado hoje, possivelmente, sofrerá alteração daqui a alguns anos,
quando esse mesmo valor já não conservar o mesmo poder de compra.
É possível que esse tipo de acordo com prestações sucessivas e progressivas
gere um desequilíbrio contratual, o qual pode ocorrer tanto em razão da saúde
financeira do devedor quanto em razão de fatores externos. É pensando nessa
hipótese que o art. 317 do Código Civil foi elaborado, cuja previsão é de que, se
por motivos imprevisíveis sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, o juiz poderá corrigi-lo, a
pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
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Nessa situação, como exposto, poderá o juiz corrigir o preço a pe-
dido da parte interessada para assegurar, ‘quanto possível’, o valor
real da prestação. É difícil prever o alcance dessa norma, que sempre
balouçará aos ventos da economia. De qualquer forma, atribui-se ao
Judiciário, de forma expressa, o poder de revisão dos preços, dentro
da teoria da imprevisão ou excessiva onerosidade. Não há que se
falar, contudo, nesta e em outras disposições do mesmo alcance,
em discricionariedade exclusiva do Judiciário, pois os advogados
e a sociedade desempenham papel importante nessas chamadas
cláusulas abertas do atual código (VENOSA, 2013, p. 190).
Essa revisão, conforme orienta Tartuce (2019, s. p.), pode ocorrer em contratos
que sejam bilaterais, onerosos, isto é, os quais contenham uma remuneração,
e de execução diferida ou continuada, ou seja, que prevejam prestações para o
cumprimento. Além disso, deve haver um motivo imprevisível que torne a pres-
tação desproporcional, como ocorre no caso de uma crise econômica em razão
de uma emergência de saúde.
A 32a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, por exemplo, no julgamento da apelação cível nos autos de nº
101190802.2021.8.26.0002, em 27.04.2022, com fundamento no art. 317 do Có-
digo Civil, deu provimento ao recurso interposto pelo devedor para modificar
o índice de correção monetária em um contrato de aluguel, aplicando o IPCA,
menos oneroso do que o IGPM. O fato imprevisível considerado foi a pandemia
da Covid-19 e os prejuízos econômicos dela decorrentes.
DA PROVA DO PAGAMENTO
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A quitação por escrito é considerada uma prova cabal do pagamento, sendo sem-
pre recomendada, uma vez que a prova testemunhal é tida pelo Código Civil (art.
227) como simplesmente complementar.
Essa quitação, conforme previsto no art. 320 do Código Civil, deve designar o
valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou,
o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu repre-
sentante. A regra, no entanto, é relativizada pelo parágrafo único, que prevê que,
embora não contenha todos esses requisitos, se as circunstâncias assim demons-
trarem, o documento valerá como quitação.
Essa regra possui aplicação para o caso de contratos, por exemplo, mas há títu-
los cuja prova da quitação não é exatamente um recibo, mas a simples devolução
deste (arts. 321 e 324 do Código Civil). É o caso da nota promissória, um título
de crédito cujo pagamento é comprovado com a devolução do título ao devedor.
Suponha que Ricardo vendeu o seu veículo a Renato, o qual, em pagamento,
lhe entregou uma nota promissória se comprometendo a pagar a quantia certa
de R$ 50.000,00 em uma data posterior, prevista para dois meses após a emissão
do título. Na data, ao realizar o pagamento, Ricardo deverá devolver a nota pro-
missória a Renato, o que valerá como quitação.
Em complemento, o art. 321 do Código Civil trata, ainda, da hipótese de perda do
título, impondo ao credor o dever de emitir uma declaração que inutilize o título. Caso
não o faça, o devedor poderá reter o pagamento até que tal declaração seja emitida.
Por fim, em se tratando de um pagamento em cotas periódicas, o pagamento
da última faz com que sejam presumidamente quitadas as anteriores. Conforme
o art. 322 do Código Civil, no entanto, é possível que seja provado o contrário,
ou seja, de que, embora paga a última prestação, as anteriores não o foram.
O LUGAR DO PAGAMENTO
Nos termos do art. 327 do Código Civil, o pagamento deve ser realizado no
domicílio do devedor. Porém, como é de praxe em relações privadas, é possível
que as partes acordem que o pagamento seja realizado em local diverso, além de
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A convenção pode definir a dívida como quérable ou portable. No
primeiro caso, caberá ao credor dirigir-se ao devedor a fim de rece-
ber o objeto da prestação; no segundo, a tarefa será do devedor, que
deverá portar o pagamento até o domicílio do credor. Tal distinção
é importantíssima para a definição da mora. Se a dívida é quesível
e o credor não procura o devedor na data de vencimento, este não
ficará em mora. Poderá, se quiser, ajuizar uma ação de consignação
em pagamento (NADER, 2016, p. 351).
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Suponha que João e Maria possuem um contrato de locação de bem imóvel, cuja
previsão é a de que João, o locatário, tenha de realizar o pagamento no domicílio
de Maria, mês a mês, o que seria uma dívida portável. Porém Maria acaba op-
tando por buscar o pagamento no domicílio de João, todos os meses, tornando
a dívida quesível.
Nesse exemplo, o comportamento de Maria faz com que seja presumido que
ela renunciou à previsão contratual, de dívida portável. Dessa forma, ela fará
surgir para si o dever de sempre reclamar o pagamento no domicílio de João.
O TEMPO DO PAGAMENTO
O pagamento tem como regra a previsão de que deve ser realizado imediata-
mente, uma vez que o art. 331 do Código Civil prevê que, salvo disposição legal
em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor
exigi-lo imediatamente. Assim sendo, se as partes formalizam um contrato no
qual não existe a previsão para o prazo de pagamento, o credor poderá exigir
imediatamente que este seja feito.
Em se tratando de uma prestação com prazo de vencimento, “ele existe em
favor do devedor, que não é obrigado a pagar a dívida se não no dia do venci-
mento” (SIMÃO, 2021, s. p.).
“
O vencimento é o momento em que a obrigação deve ser satisfeita,
cabendo ao credor a faculdade de cobrá-la. Esse vencimento, tempo
ou data de pagamento pode ser fixado pelas partes por força do
instrumento negocial. A obrigação, sob o prisma do tempo do paga-
mento, pode ser instantânea ou de execução imediata (pagamento à
vista), de execução diferida (pagamento deve ocorrer de uma vez só,
no futuro) ou de execução periódica (pagamento de trato sucessivo
no tempo). Como se sabe, o credor não pode exigir o adimplemento
antes do vencimento; muito menos o devedor pagar, após a data
prevista, sob pena de caracterização da mora ou do inadimplemento
absoluto, fazendo surgir a responsabilidade contratual do sujeito
passivo obrigacional (Haftung) (TARTUCE, 2019, s. p.).
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Conforme leciona Tartuce (2019, s. p.), “as obrigações condicionais são aquelas
cujos efeitos estão subordinados a um evento futuro e incerto. Estas são cumpri-
das na data do implemento ou ocorrência da condição”.
Imagine que, por exemplo, Renato se comprometeu a doar uma obra jurídica
a Ricardo, assim que ele for aprovado no exame da Ordem dos Advogados do
Brasil. Nesse caso, o cumprimento da obrigação por Renato deve ocorrer logo
que ele tiver ciência da aprovação, que é a condição do negócio.
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Por fim, a legislação prevê situações em que o pagamento, estipulado com prazo,
poderá ser exigido de forma antecipada. Essas situações são aquelas descritas
no art. 333 do Código Civil, quais sejam, a falência ou concurso de credores do
devedor, a insuficiência das garantias prestadas pelo devedor ou a penhora, por
outro credor, de bens hipotecados ou empenhados.
Nesse caso, o bem dado em garantia de uma dívida, por hipoteca ou por pen-
hor, sofre uma penhora em uma execução ajuizada por outro credor. Nesse
caso, a dívida do credor que se beneficiou com a garantia é considerada ven-
cida, uma vez que os credores que possuem essas garantias têm preferência
sobre os credores que não as têm (art. 961 do Código Civil). Se não houvesse
o vencimento antecipado, o credor com garantia não poderia exercer o seu
direito de preferência.
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E M FO CO
NOVOS DESAFIOS
O estudo minucioso do adimplemento e da extinção das obrigações desempenha
um papel fundamental na determinação da eficácia de um pagamento realizado.
Ao longo dessa temática, exploramos situações em que o pagamento é feito a al-
guém que, embora não seja o credor, aparenta sê-lo, protegendo, assim, a boa-fé
do devedor e reconhecendo a validade desse tipo de pagamento.
Além disso, examinamos as diferentes formas de ajustar o prazo de pagamen-
to e as possibilidades de sua alteração, como nos casos de antecipação da dívida.
Quanto ao local do pagamento, identificamos as regras que abrangem desde a
atribuição de competência para a cobrança de uma dívida até as consequências
da mora, quando o devedor não efetua o pagamento no local correto.
Essas regras são de suma importância para profissionais do direito e áreas cor-
relatas, uma vez que o desconhecimento em relação à eficácia do adimplemento de
uma obrigação pode acarretar riscos quanto às consequências da mora e do ina-
dimplemento. Portanto o estudo aprofundado desses aspectos é essencial para uma
atuação jurídica precisa e bem fundamentada.
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VAMOS PRATICAR
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, José F.;
MELO, M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência.
3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, s. p.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 197.
Quanto ao local do cumprimento da obrigação, com relação aos bens imóveis, este deve
ser:
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VAMOS PRATICAR
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.;
MELO, M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência.
3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, s. p.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
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VAMOS PRATICAR
4. “Outro conceito que pode gerar dúvida é o de terceiro interessado na dívida . Este
corresponde à pessoa que tenha interesse patrimonial na sua extinção, caso do fiador,
do avalista ou do herdeiro. Havendo o pagamento por esse terceiro interessado, esta
pessoa sub-roga-se automaticamente nos direitos de credor, com a transferência de
todas as ações, exceções e garantias que detinha o credor primitivo. Em hipóteses tais,
ocorre a chamada sub-rogação legal ou automática (art. 346, inc. III, do CC).”
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
a) Como Marcos é um terceiro interessado, pois é o fiador, ele terá o direito de cobrar de
João o valor que pagou e ainda poderá exigir o veículo dado em garantia no contrato
realizado com Maria.
b) Como Marcos é um terceiro não interessado e pagou o débito em nome de João,
nada poderá exigir.
c) Como Marcos é um terceiro não interessado, caso pague o débito, terá o direito de
ser apenas reembolsado na medida do que pagou.
d) Como Marcos é um terceiro não interessado, caso pague o débito, terá o direito de
cobrar de João o valor que pagou e ainda poderá exigir o veículo dado em garantia
no contrato realizado com Maria.
e) Como Marcos é um terceiro interessado, pois é o fiador, ele terá o direito de cobrar de
João o valor que pagou, mas não poderá exigir o veículo dado em garantia no contrato
realizado com Maria.
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VAMOS PRATICAR
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
13. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 183.
Imagine que João resolveu se mudar para o exterior e constituiu Maria como sua pro-
curadora, a fim de que ela recebesse os aluguéis de seus imóveis e gerenciasse os seus
negócios. Após um tempo, João revoga a procuração de Maria e constitui Jorge como
o seu novo procurador, mas deixa de notificar aos seus inquilinos, que, acreditando que
Maria ainda possuía poderes para receber os pagamentos, continuaram a fazê-los a ela.
Nesse caso, assinale a alternativa correta:
a) João, por sua falta de diligência em notificar os seus devedores, nada poderá deman-
dar contra Maria nem contra os devedores.
b) João deverá demandar aquele que recebeu o valor para cobrá-lo, no caso, Maria, e
não o devedor, uma vez que o pagamento de boa-fé ao credor putativo extingue a
obrigação.
c) Tanto Maria quanto quem realizou a ela o pagamento deverão ser demandados. Maria,
por ter recebido o pagamento de má-fé, e os devedores, por não terem sido diligentes
quando do pagamento realizado à pessoa indevida.
d) Os pagamentos realizados a Maria são ineficazes, devendo João demandar os deve-
dores a pagarem novamente. Maria nada deve.
e) João deverá demandar os devedores, pois de má-fé realizaram o pagamento a pessoa
indevida.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU de 11 jan. 2002.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 21
ago. 2023.
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
SÃO PAULO. Apelação Cível nº 1011106-02.2018.8.26.0554, Relator Desembargador Rogério
Murillo Pereira Cimino, 9ª Câmara de Direito Privado. DJe de 14.12.2020.
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO,
M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2021.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
1. É possível que esse tipo de acordo com prestações sucessivas e progressivas gere um
desequilíbrio contratual, o qual pode ocorrer tanto em razão da saúde financeira do
devedor quanto em razão de fatores externos. É pensando nessa hipótese que o art.
317 do Código Civil foi elaborado, cuja previsão é de que, se por motivos imprevisíveis
sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de
sua execução, o juiz poderá corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto
possível, o valor real da prestação. Essa revisão pode ocorrer em contratos que sejam
bilaterais, onerosos, isto é, nos quais contenham uma remuneração, e de execução diferida
ou continuada, ou seja, que prevejam prestações para o cumprimento. Além disso, deve
haver um motivo imprevisível que torne a prestação desproporcional, como ocorre no
caso de uma crise econômica em razão de uma emergência de saúde. A 32ª Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por exemplo, no julgamento
da apelação cível nos autos de nº 1011908-02.2021.8.26.0002, em 27.04.2022, com fun-
damento no art. 317 do Código Civil, deu provimento ao recurso interposto pelo devedor
para modificar o índice de correção monetária em um contrato de aluguel, aplicando o
IPCA, menos oneroso do que o IGPM. O fato imprevisível considerado foi a pandemia da
Covid-19 e os prejuízos econômicos dela decorrentes.
3. Opção E. A legislação trata dos conceitos de terceiros interessados e dos terceiros não
interessados. Interessados são aqueles que podem ser patrimonialmente responsabi-
lizados pelo inadimplemento da obrigação, como é o caso do avalista, do fiador e do
sublocatário (afirmativa I). De acordo com o art. 305, caput, do Código Civil, o terceiro
não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se
do que pagar, ao passo que o terceiro interessado, caso o faça, se sub-roga nos direitos
do credor (afirmativas II e III).
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
5. Opção B. Maria é considerada credora putativa porque ela tinha poderes para receber
esses aluguéis e a revogação da procuração ocorreu sem a ciência dos devedores. As-
sim, eles continuaram a realizar o pagamento a ela somente por ainda acreditarem que
ela continuava tendo poderes para dar quitação. Nesse caso, João deverá cobrar o valor
indevidamente recebido diretamente de Maria, conforme o art. 309 do Código Civil. A
opção A é incorreta, pois quem recebe indevidamente o pagamento deve ser demanda-
do a restituí-lo, o que também torna a opção D incorreta. A opção C é incorreta, pois os
devedores de boa-fé nada mais devem. A opção E é incorreta, uma vez que a ausência de
ciência da revogação da procuração faz com que haja presunção de boa-fé dos devedores.
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TEMA DE APRENDIZAGEM 7
MODALIDADES ESPECIAIS
DE PAGAMENTO
MINHAS METAS
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VAMOS RECORDAR?
Alguém que paga uma dívida pode ser definido como interessado ou não interessado,
a depender da responsabilidade dessa pessoa pelo inadimplemento. Assista ao
vídeo e relembre a importante regra do pagamento da dívida pelo interessado.
Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de
aprendizagem.
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O pagamento em consignação
iv) o objeto da obrigação está em discussão judicial entre o credor e algum terceiro
que se diz credor.
Note que a consignação pode ocorrer de duas maneiras, como se vê do art. 334
do Código Civil. Ela pode ser tanto judicial, por meio da chamada ação de con-
signação em pagamento, regulamentada pelos arts. 539 e seguintes do Código
de Processo Civil, quanto extrajudicial, ocasião em que o devedor realizará um
depósito bancário e notificará o credor para levantá-lo.
Lima (2012, p. 214) observa, ainda, que a con-
signação não poderá ser extrajudicial na hipótese
de dúvida sobre quem é o credor, pois, caso o de-
vedor realizasse o depósito e notificasse o credor
incerto, ele teria direito ao levantamento do valor
mesmo não havendo certeza sobre a sua condição.
A consignação em pagamento é um meca-
nismo cuja vantagem é evitar maiores proble-
máticas no cumprimento da obrigação, quando
pendente alguma anomalia, conforme as cita-
das anteriormente. Se realizada de forma eficaz,
terá força de pagamento e, portanto, afastará da
obrigação os efeitos da mora.
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Como se vê, essa é uma hipótese em que o devedor poderá realizar a consigna-
ção de valor diferente do valor contratado e obter os efeitos semelhantes ao do
pagamento, como o afastamento da mora. Trata-se de uma hipótese excepcional
e fundamentada na defesa do consumidor.
Uma vez realizada a consignação do objeto da obrigação, o devedor somente
poderá requerer de volta o depositado (levantar) caso o credor ainda não tenha
declarado que o aceita, no caso da consignação extrajudicial, ou não tenha apre-
sentado impugnação, no caso da consignação judicial (art. 338 do Código Civil).
Por outro lado, se o credor declarar a aceitação do pagamento ou contestar a
ação de consignação, e ainda assim aceitar que o devedor realize o levantamento
do que foi consignado, as garantias que porventura tiverem sido prestadas ficarão
extintas, bem como os demais codevedores que não tiverem requerido o levan-
tamento, ficarão desobrigados (art. 340 do Código Civil).
Como se vê, não se trata de uma situação comum, pois não há muita lógica
que o credor autorize o devedor a requerer de volta o valor consignado, haja
vista que o interesse dele é receber pela dívida. Porém, se ele o fizer, a legislação
prevê tais mencionadas consequências como forma de punição pelo compor-
tamento contraditório.
“
Com a aceitação do depósito, temos a concordância do devedor
com a extinção da ação e da obrigação. O mesmo efeito produz
o silêncio na consignação extrajudicial. Assim, impossível será
o credor autorizar o devedor a levantar o depósito “recriando”
uma obrigação extinta. Se o fizer, surge uma nova obrigação que
pode ter o mesmo objeto e extensão da anterior, mas, por ser uma
nova obrigação não obriga os codevedores (solidariedade passiva
ou obrigação indivisível com pluralidade de devedores), nem
terceiros garantidores. Há uma segunda consequência: o credor
perde a preferência sobre a coisa. Imaginemos que o bem móvel
consignado tenha sido dado em penhor ou o imóvel consignado
em hipoteca. Quando o credor aceita o depósito e depois, em níti-
do comportamento contraditório, autoriza o devedor a levantar o
bem, perde a garantia e a preferência. A razão de ser da regra que
acaba por punir o credor com a perda da garantia tem sua razão
(SIMÃO, 2021, s. p.).
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O art. 346, I, do Código Civil, prevê que o credor que paga a dívida do devedor comum
se sub-roga nos direitos do outro. Imagine uma obrigação na qual existam dois cre-
dores, Jorge e Renato, e um devedor, Carlos, mas o devedor ofereceu em garantia um
imóvel somente em favor de Jorge, ao passo que o outro, Renato, nada dispõe como
garantia. Nesse caso, se Renato, credor que não dispõe de garantia nenhuma, opte por
pagar a dívida de Carlos a Jorge, que detém a garantia, Renato se tornará o único credor
de Carlos e, por ter operado a sub-rogação, passará a ter como garantia o imóvel.
O art. 346, II, do Código Civil, prevê que o adquirente de imóvel hipotecado que paga ao
credor hipotecário se sub-roga nos direitos deste. Nesse caso, quando esse adquirente
realiza o pagamento ao credor hipotecário, na verdade, a hipoteca ficará extinta, mas
a sub-rogação operará com relação aos eventuais juros e multa existentes. Assim, im-
agine que Jorge adquiriu um bem imóvel de Renato, o qual havia sido dado em garantia
de um empréstimo realizado pelo próprio Renato com o Banco S/A. Nesse caso, se
Jorge pagar a dívida de Renato para que a hipoteca seja extinta e o imóvel fique livre e
desembaraçado, ele poderá cobrar o valor de Renato e com o acréscimo de todos os
encargos que tinham sido impostos pelo Banco.
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O art. 346, III, do Código Civil, prevê que o terceiro interessado que realiza o pagamento
da dívida se sub-roga nos direitos do credor. É a hipótese em que um fiador realiza o
pagamento da obrigação, de modo que, ao pagar a dívida, ele assumirá a posição de
credor do devedor principal, podendo exigir todas as garantias prestadas em proveito
do credor originário.
A imputação em pagamento
“
Imputação do pagamento é a faculdade de escolher, dentre várias
prestações de coisa fungível, devidas ao mesmo credor, pelo mesmo
devedor, qual dos débitos satisfazer. É reconhecida primeiramente
ao devedor, com as restrições que a lei consagra; se o devedor não
usa do direito de indicar a dívida imputável transfere-se ao credor;
e se nem um nem outro o faz, a lei menciona o critério a ser obede-
cido (PEREIRA, 2017, p. 228).
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Ao adimplir a obrigação, caso a escolha seja do devedor e ele não indique qual
das dívidas líquidas e vencidas é o objeto do pagamento, aceitando a quitação
de uma delas, o credor é quem indicará qual está sendo paga, conforme o art.
353 do Código Civil. Em síntese, conforme ensina Simão (2021, s. p.), “o dis-
positivo pressupõe que o credor exerceu o direito de escolha porque o devedor
não o fez quando pagou”.
Pela regra do art. 354 do Código Civil, caso haja juros na obrigação, o paga-
mento será considerado, primeiro, com relação aos juros vencidos, e só depois
quanto à obrigação principal. Isso ocorre porque, caso o devedor pudesse impor
o pagamento à obrigação principal, primeiro, e só após os juros, a obrigação dei-
xaria de produzir frutos em favor do credor, uma vez que o que produz frutos é
a obrigação principal, a qual já estaria extinta pelo pagamento.
Por fim, se não houver a indicação sobre qual dívida recai o pagamento e a quita-
ção dada pelo credor também não é específica, considera-se que o pagamento foi
com relação àquela que se venceu primeiro. Se todas tiverem vencido na mesma
data, o pagamento será considerado em proveito da obrigação mais onerosa (art.
355 do Código Civil).
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A dação em pagamento
O credor não pode ser obrigado a receber coisa diversa daquela que é devida,
por força do princípio da identidade física da obrigação. A dação em paga-
mento é a possibilidade de que o devedor, no entanto, dê em pagamento coisa
diversa da devida, mas somente poderá fazê-lo caso o credor consinta (art. 356
do Código Civil).
Uma importante regra sobre a dação em pagamento é a do art. 359 do Código
Civil, cujo texto prevê que, se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento,
a obrigação primitiva será restabelecida e a quitação dada ficará sem efeito.
Evicção é o termo que se dá à perda da coisa, de modo que, caso tal ocorra, a
solução é considerar restaurada a obrigação primitiva.
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A novação
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situação em que João firmou com ela um novo contrato contendo novas condi-
ções de parcelamento do restante da dívida e contendo uma cláusula de que tal
se tratava de uma novação.
Nesse exemplo, caso Renato não tenha tido ciência da novação, ele será exone-
rado da obrigação e não garantirá o cumprimento do novo contrato. Além disso,
se não houvesse ainda a manifestação no novo contrato de que ele se trata de no-
vação, ele seria interpretado como simples renegociação de dívida, mantendo-se
as garantias prestadas.
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O art. 361 do Código Civil se preocupa com a caracterização, em
concreto, da novação, exigindo das partes a intenção inequívo-
ca de realizar a substituição da obrigação existente. A doutrina
é pacífica ao indicar o animus novandi como um dos requisitos
essenciais da novatio. Em relação ao Código Civil de 1916, o atual
inovou neste ponto, ao admitir explicitamente a novação tácita.
O fundamental é que, em sua exteriorização, as partes deixem
inequívoco o seu animus novandi. A Lei Civil não prevê o reco-
nhecimento da novação por meio de presunções. Não há de se
confundir o tácito com o presumido. Tácito é o que se acha implí-
cito, mas existente; presumido é o que se mostra provável, mas de
existência incerta. Se o animus novandi não fica inequivocamente
manifesto, ter-se-á apenas a confirmação do vínculo existente. É
a previsão do art. 361 (NADER, 2016, p. 472).
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Como se vê, o simples fato de ter sido realizado um novo contrato contendo
novas condições do empréstimo não faz com que ele seja considerado uma
novação, pois tal deve estar expressamente contido instrumento de contrato.
Essa situação, aliás, acaba gerando muitas discussões judiciais, pois é bastante
comum que instituições financeiras realizem renegociações de financiamento,
as quais não contam com a participação do fiador.
Nesses casos, quase sempre há cláusula prevendo que a renegociação não
se trata de novação ou, ainda, a renegociação nada diz a respeito, situações que
fazem com que a fiança continue vigente, já que a novação não é presumível.
O negócio, nos termos do art. 361 do Código Civil, simplesmente confirma o
primeiro, embora com outras condições.
Por fim, apesar de a novação extinguir a obrigação anterior e, por conse-
quência, os seus eventuais vícios, ela não tem força para extinguir aqueles que
ocasionem a nulidade do negócio. O art. 367 do Código Civil prevê que, salvo
as obrigações simplesmente anuláveis (art. 171 do Código Civil), não podem
ser objeto de novação as obrigações nulas (art. 166 do Código Civil) ou extintas.
Em outras palavras, se o vício no primeiro contrato for apenas passível de
anulação, cujas hipóteses estão descritas no art. 171 do Código Civil, a novação
terá força de convalidar o vício, isto é, de corrigi-lo. Sendo o caso de nulidade, no
entanto, cujas hipóteses são as previstas no art. 166 do Código Civil, bem como no
caso de uma obrigação já extinta, a novação não terá força de corrigir tais vícios.
A compensação
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Se estivermos diante de uma obrigação garantida por fiança, o art. 371 do Código
Civil prevê que o fiador, demandado a pagar a dívida em função do inadimple-
mento pelo devedor principal, pode alegar a compensação porventura existente
entre o devedor principal e o credor. O contrário, no entanto, não é possível, isto
é, o devedor principal não pode alegar a compensação existente entre o fiador e
o credor para se livrar da dívida.
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O artigo abre uma exceção, para o fiador, tendo em vista que ele
é chamado a solver débito de seu afiançado. Além de lhe ser lícito
compensar dívida sua com o que lhe deve o credor, pode também
invocar a compensação do débito de seu afiançado ao credor. Não
é crédito seu, mas operou a extinção da dívida pela qual é chamado
a responder (PEREIRA, 2017, p. 256).
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A confusão
A confusão é uma situação em que uma pessoa passa a ser, ao mesmo tempo,
credora e devedora de si mesma, no todo ou em parte (art. 382 do Código Civil).
Nos termos do art. 381 do Código Civil, quando houver essa confusão, a obri-
gação é tida como extinta, uma vez que ninguém pode ser credor de si próprio.
Na hipótese de credor ou de devedor solidário, a confusão somente extingue
a obrigação na proporção do crédito ou da dívida, permanecendo o restante do
crédito ou do débito inalterados, conforme o art. 383 do Código Civil. De acordo
com Simão (2021, s. p.), a remissão, que veremos a seguir, e a confusão na obri-
gação solidária têm efeitos idênticos.
Imagine que Jorge, Renato e Carlos são devedores solidários de Márcio, no valor
de R$ 30.000,00. Ocorre que Jorge é o único herdeiro de Márcio e este falece, de
modo que Jorge, por força da sucessão, passa a ser o titular daquele crédito.
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O negócio jurídico de liberação da dívida, sem o respectivo paga-
mento, é ato impregnado de significação. A vontade do credor é
de beneficiar o devedor, extinguindo o ônus da dívida sem o paga-
mento. O ato de remitir não gera, para o credor, qualquer direito
correspondente, uma vez que espontaneamente abriu mão de um
direito. Não lhe cabe, assim, exigir reciprocidade do devedor. Se a
intenção das partes for de transacionar, a remissão da dívida não é
a fórmula adequada (NADER, 2016, p. 527).
A remissão deve ser aceita pelo devedor e somente pode ser prestada por quem
tenha capacidade para fazê-lo, isto é, por quem, de fato, seja o credor e esteja em
plena capacidade civil. Por esse motivo, por exemplo, as pessoas que estejam em
tutela ou em curatela (interditadas) não podem remitir (perdoar) dívidas.
Conforme leciona Simão (2021, s. p.), a remissão pode ser tanto expressa
quanto tácita. A expressa é aquela em que a manifestação de vontade indica que
o perdão ocorreu, ao passo que a remissão tácita se dá quando o credor pratica
algum ato incompatível com a conservação do crédito.
O art. 386 do Código Civil, a propósito, trata da remissão tácita, prevendo
que a devolução do título da obrigação é ato que se interpreta como remissão de
dívida. “Há títulos cuja devolução só pode implicar perdão, pois não é usual a
sua restituição. É o caso do cheque” (SIMÃO, 2021, s. p.).
Outra situação ocorre com a garantia prestada, cuja devolução voluntária do
objeto dado em garantia implica a renúncia do credor a ela (art. 387 do Código
Civil). Quando falamos em dar algum objeto em garantia, estamos nos referindo
ao penhor, que é o ato de entregar ao credor um objeto de valor para garantir o
pagamento da dívida, como, por exemplo, uma joia.
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NOVOS DESAFIOS
Ao longo deste tema, nos dedicamos ao estudo das formas especiais de pa-
gamento e de extinção das obrigações, que vão além do simples ato de quitar
a dívida. Ficou evidente que, embora o pagamento direto ao credor seja a
maneira mais comum de extinguir uma obrigação, existem diversas possi-
bilidades de alcançar esse objetivo sem a efetivação do pagamento ou sem a
entrega direta do objeto devido.
Durante a nossa análise, examinamos situações de extrema relevância prática,
como o uso da consignação em pagamento como alternativa para evitar os efeitos
da mora e do inadimplemento. Além disso, dedicamos tempo ao estudo de uma
forma bastante comum de extinção de obrigações sem o pagamento: a compensação.
É de suma importância que os profissionais do ramo jurídico estejam aten-
tos a essas formas especiais de cumprimento de obrigações, pois, em deter-
minadas circunstâncias, elas podem surgir como alternativas para solucionar
impasses, como ocorre na consignação. Por outro lado, essas modalidades
também podem ser utilizadas como meio de proteção dos próprios créditos,
como acontece na compensação.
Portanto, é fundamental compreender e dominar essas alternativas, a fim de
garantir uma atuação eficiente e assertiva, seja na defesa dos interesses dos credo-
res, seja na busca pela satisfação dos devedores. Ao conhecer e explorar todas as
possibilidades de adimplemento das obrigações, os profissionais do direito estarão
melhor preparados para lidar com os desafios que surgem no cotidiano jurídico.
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VAMOS PRATICAR
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 241.
2. “As dívidas alimentares não podem ser objeto de compensação por envolverem direitos da
personalidade e decorrência da regra prevista no art. 1.707 da atual codificação material
privada. Cabe pontuar que, pelo Novo Código de Processo Civil, os honorários advocatícios
passam a ter natureza alimentar, expressamente pela lei, sendo vedada a sua compensação
em caso de sucumbência parcial (art. 85, § 14, do CPC/2015). Com isso, perde aplicação a
Súmula 306 do STJ, segundo a qual, ‘os honorários advocatícios devem ser compensados
quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à
execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte’. Urge, portanto, o cancela-
mento dessa sumular.”
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019. E-book.
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VAMOS PRATICAR
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 230.
I - Trata-se de direito subjetivo do devedor, contra o qual o credor não pode se opor.
II - Se houver a perda da coisa dada em pagamento, o devedor não terá responsabilidade,
pois a dação quita plenamente o débito.
III - A dação em pagamento só é possível com o consentimento do credor.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
4. “Os efeitos da remissão e da confusão na obrigação solidária são idênticos. Assim, como
faz o art. 277 do CC, este dispositivo em comento demonstra a estrutura da obrigação
solidária a partir da extinção parcial da obrigação pela confusão imprópria ou parcial. A
solidariedade gera um feixe obrigacional que estrangula relações autônomas, razão pela
qual cada devedor tem uma relação jurídica autônoma para com o credor. Se com relação
a devedor solidário ocorrer a confusão, para ele desaparece a relação obrigacional, mas
os demais devedores prosseguem presos pela solidariedade (Haftung), descontando-se
o valor da quota em que a confusão operou.”
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO,
M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2021, s. p.
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VAMOS PRATICAR
a) Na obrigação solidária, a confusão produz os mesmos efeitos que a remissão, qual seja,
o aproveitamento em relação a todos os devedores.
b) A confusão em obrigação solidária faz com que ela seja extinta integralmente, uma vez
que o devedor solidário pode ser obrigado pelo todo.
c) Na obrigação solidária, a confusão extingue a obrigação na proporção do crédito ou da
dívida do respectivo credor/devedor.
d) Os efeitos da remissão e da confusão, na obrigação solidária, são distintos, pois a re-
missão concedida a um devedor aproveita aos demais, ao passo que a confusão, não.
e) Nas obrigações solidárias, não é possível a ocorrência de confusão.
5. “No pagamento com sub-rogação, um terceiro, e não o primitivo devedor, efetua o paga-
mento. Esse terceiro substitui o credor originário da obrigação, de forma que passa a dispor
de todos os direitos, ações e garantias que tinha o primeiro. Ressalta evidente que, quando
alguém paga o débito de outrem, fique com o direito de reclamar do verdadeiro devedor
o que foi pago e que esse crédito goze das mesmas garantias originárias. Não há prejuízo
algum para o devedor, que em vez de pagar o que deve a um, deve pagar o devido a outro.”
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 255.
a) A sub-rogação pode ocorrer tanto por previsão legal quanto por acordo entre as partes,
sem prejuízo para o devedor, que, em vez de pagar o que deve a um credor, paga a outro.
b) A sub-rogação não tem o condão de alterar a configuração inicial da obrigação, man-
tendo-se inalterados o credor, o devedor e o objeto da obrigação.
c) A substituição do credor, na sub-rogação, somente pode ocorrer em hipóteses legal-
mente previstas, não sendo lícito que as partes assim acordem.
d) Havendo a sub-rogação, o devedor poderá exercer o direito de optar para quem realizar
o pagamento, se para o credor primitivo ou se para o substituto.
e) A sub-rogação convencional ocorre nas hipóteses estabelecidas em lei, ao passo que a
sub-rogação legal é a hipótese em que as partes acordam para tanto.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU de 11 jan. 2002. Dispo-
nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 21 ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. DOU de 17 mar. 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 21 ago. 2023.
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de Ja-
neiro: Forense, 2017.
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO, M. A.
B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13. ed.
São Paulo: Atlas, 2013.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
5. Opção A. A sub-rogação pode ocorrer tanto por previsão legal (sub-rogação legal) quanto
por acordo entre as partes. A sub-rogação convencional ocorre quando as partes envolvidas
estipulam, por meio de acordo, uma situação específica em que haverá a sub-rogação de
direitos, ao passo que a sub-rogação legal é aquela estabelecida diretamente pela lei, a exem-
plo do art. 346 do Código Civil. Por isso, a opção A está correta e a C e E incorretas. A opção
B está incorreta, pois a sub-rogação é um instituto que consiste na substituição de algum
elemento da obrigação, bem como a D está incorreta, uma vez que, havendo a sub-rogação,
o devedor não poderá deixar de, conscientemente, realizar o pagamento ao novo credor.
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UNIDADE 5
TEMA DE APRENDIZAGEM 8
TEORIA GERAL DO
INADIMPLEMENTO
DAS OBRIGAÇÕES
MINHAS METAS
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VAMOS RECORDAR?
O pagamento em consignação é uma das diversas formas especiais de extinção
das obrigações. Assista ao vídeo e relembre o conceito e os mecanismos desse
importante instituto. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do
ambiente virtual de aprendizagem.
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Espécies de inadimplemento
Perceba que, nesse exemplo, havia uma data única e específica para a execu-
ção dos serviços, inclusive com uma finalidade única e que, com relação àquele
casal, pelo menos, em regra, não se repetirá. Como se vê, está-se diante de um
inadimplemento absoluto, pois mesmo que os músicos se disponham a realizar
o concerto em data futura, o cumprimento da obrigação já não mais interessa ao
credor, razão pela qual se trata de um inadimplemento absoluto.
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
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Em qualquer dos casos há inadimplemento, porque o credor tem
direito à prestação devida, na forma do título e no tempo certo. Cum-
prir em parte pode ser o mesmo que não cumprir, porque o credor
tem direito a todo o devido, e pode se não considerar satisfeito se algo
falta na prestação do devedor, da mesma forma que um cumprimento
por modo diferente do devido ou uma execução retardada não libera
o sujeito passivo do poder que sobre ele criou o vínculo obrigatório.
Assim, à impossibilidade equivale às vezes a execução parcial; à
ausência de prestação pode corresponder a que se der em termos di-
ferentes do expresso no título; à falta de pagamento pode comparar-se
a prestação inoportuna (mora do devedor) (PEREIRA, 2017, p. 314).
O dolo e a culpa surgem em um contexto em que ocorre uma falta por parte do
devedor, isto é, uma infração ao dever de cumprir com a obrigação. Os dois con-
ceitos, no entanto, surgem a partir de atitudes diferentes e são responsabilizados
de maneiras distintas, a depender do vínculo obrigacional.
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U N I C ES U M A R
Por outro lado, a culpa ocorre não pela intenção do devedor inadimplente, mas pela
falta de observância a algum dever contratual, de alguma conduta razoável, para o
cumprimento da obrigação. Nessa hipótese, a qual nomeamos de culpa em sentido
estrito, o inadimplente provoca uma situação não porque ele quis, mas porque,
podendo, não tomou as providências necessárias e cabíveis para evitá-las.
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
Como se vê, o dever de emprego da melhor técnica foi violado pela falta de dili-
gência e zelo do contratado no exercício da sua função. Não necessariamente, o
advogado contratado tenha perdido os prazos com a intenção de descumprir o
contrato, mas, até que haja prova em contrário, o ocorrido se deu pela inobser-
vância dos seus deveres funcionais, sendo o caso de descumprimento por culpa.
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U N I C ES U M A R
Modalidades de culpa
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
A obrigação, por se tratar de uma relação patrimonial, tem como principal ga-
rantia os bens do devedor. Prova disso é que o art. 391 do Código Civil diz que
todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento das obrigações.
Essa regra, como várias outras em direito, não é absoluta, ou seja, não são
exatamente todos os bens do devedor que respondem pelo inadimplemento
das obrigações. Há aqueles que a legislação classificou, em razão da natureza
deles, como insuscetíveis de apreensão pelo credor, como enuncia o art. 832
do Código de Processo Civil.
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U N I C ES U M A R
O art. 833 do CPC contém uma lista de bens considerados impenhoráveis, que
não serão apreendidos, em uma execução, para o adimplemento da obrigação.
Dessa lista, podemos destacar aqueles que são de uso pessoal e profissional do
devedor, como os vestuários, desde que de valor modesto, e os livros, as máquinas,
as ferramentas e os utensílios necessários ao exercício da sua profissão.
AP RO F U NDA NDO
O art. 833, IV, do CPC, prevê que o salário do devedor, os seus proventos de apo-
sentadoria, os seus ganhos como profissional autônomo e os seus honorários de
profissional liberal são impenhoráveis. A exceção legalmente prevista é a do art.
833, §2º, do CPC, para o qual a regra não se aplica em se tratando de obrigação
alimentar e para o caso de valores excedentes a 50 salários mínimos.
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
ocorrer, desde que o valor apreendido ainda permita que, com o restante, o
devedor se sustente, e desde que o credor já tenha tentado outras medidas de
execução. Os críticos da decisão sustentam que houve uma relativização do
que está legalmente previsto.
Conforme já abordamos anteriormente, mesmo na excepcional hipótese de
prisão do devedor como forma de estímulo ao adimplemento da obrigação, o que
se dá somente naquela de caráter alimentar (art. 5º, LXVII, da Constituição Fede-
ral), não é a prisão que garante o recebimento da dívida. A prisão, na verdade, é
uma forma de estimular que o devedor pague o que deve e mesmo se decretada
e cumprida integralmente o período, tal não extinguirá a dívida.
“
A mora propriamente inexiste, pois o reus debendi passa do estado
de adimplência para o de descumprimento sem intervalo temporal.
Enquanto respeitava a obrigação de não fazer se mantinha adim-
plente, no momento em que violou o acordo passou à condição de
inadimplente. Carvalho Santos configura bem essa situação: “Em
rigor, não há mora nas obrigações negativas. Ela confunde-se com
a inexecução. De fato, se o devedor ao invés de ter a obrigação de
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U N I C ES U M A R
Estabelece o art. 393 do Código Civil que os prejuízos resultantes de caso fortui-
to ou de força maior não atribuíveis ao devedor, desde que não haja acordo em
sentido contrário. A doutrina tem elaborado diversas teorias para a diferenciação
conceitual do que seria caso fortuito e força maior, não havendo um consenso
sobre o assunto.
“
As que se destacam são aquelas que tratam os fatores da natureza e o
fato humano como elemento de distinção. Curiosamente, os autores
divergem com esses critérios. Para alguns, se o evento está ligado à
natureza, estamos diante de força maior, e, se está ligado ao ser huma-
no, estamos diante de caso fortuito (por todos, Carvalho Santos). Para
outros, é exatamente o contrário: se o evento está ligado à natureza,
estamos diante de caso fortuito e se está ligado à atividade humana,
estamos diante de força maior (por todos, Clóvis Beviláqua). Há, ain-
da, os que utilizam o critério de previsibilidade como diferenciador.
Se o evento for previsível, estamos diante de caso fortuito, mas se
imprevisível estamos diante da força maior (SIMÃO, 2021, s. p.).
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Pela regra do art. 394 do Código Civil, tanto o devedor quanto o credor podem
ser considerados em mora. No caso do credor, ela ocorrerá quando ele não quiser
receber o objeto da obrigação no tempo, no lugar ou na forma estabelecida pelas
partes ou pela lei.
Imagine que João adquiriu um touro reprodutor de Roberto, mediante o pa-
gamento de determinada quantia, a qual foi paga logo no ato da negociação. No
acordo, ficou estabelecido que João buscaria o touro reprodutor na propriedade
de Roberto em uma data futura e, chegada a data, ele não compareceu.
Perceba que, no nosso exemplo, o devedor é Roberto, cuja obrigação é a de
dar coisa certa a João, qual seja, o touro reprodutor. No entanto, João, o credor,
que tinha a obrigação de receber a coisa no local combinado, que era a proprie-
dade de Roberto, descumpriu o acordado, tornando-se um credor em mora.
O art. 400 do Código Civil prevê que, em se tratando de mora do credor, o de-
vedor fica isento de responsabilidade se houver a perda ou a impossibilidade do
objeto da prestação durante o período do atraso. Além disso, o credor em mora
deve ressarcir o devedor por todas as despesas que ele tenha realizado com a
finalidade de conservar o objeto da obrigação (art. 400 do Código Civil).
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“
Responde, na verdade, o devedor pelos prejuízos a que der causa o
retardamento da execução (Código Civil de 2002, art. 395); obriga-
do fica a indenizar o credor pelo dano que o atraso lhe causar, seja
mediante o pagamento dos juros moratórios legais ou convencio-
nais, seja ressarcindo o que o retardo tiver gerado. A indenização
moratória não é substitutiva da prestação devida, vale dizer que
pode ser reclamada juntamente com ela, se ainda for proveitosa
ao credor. Mas, se se tornar inútil ao credor em razão da mora do
devedor, tem ele o direito de exigir a satisfação das perdas e danos
completa, mediante a conversão da res debita no seu equivalente
pecuniário (PEREIRA, 2017, p. 301-302).
Conforme o art. 396 do Código Civil, para que seja caracterizada a mora, faz-se
necessária a ocorrência de ação ou omissão por parte do devedor que contribua
para tanto. Assim, o descumprimento justificado da obrigação, seja por motivo de
caso fortuito ou de força maior, é suficiente para descaracterizar a mora e obrigar
o devedor aos efeitos dela decorrentes.
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Espécies de mora
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
Por outro lado, em se tratando de uma obrigação que não possua prazo definido
para o seu cumprimento, faz-se necessária a notificação do devedor quanto ao
seu descumprimento, a fim de que, então, ele seja considerado em mora (art. 397,
parágrafo único, do Código Civil). Trata-se da regra que define a mora ex persona,
a qual não ocorre de maneira automática, mas mediante a notificação do credor.
A P RO F UNDA NDO
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AP RO F U NDA NDO
Essa situação é regulamentada pelo Decreto-Lei nº 911/69, cujo art. 3º prevê que,
para comprovar o descumprimento do pagamento das parcelas, com a finalidade
de se obter o mandado de busca e apreensão, a instituição financeira deverá no-
tificar o devedor. Assim, mesmo em se tratando de uma mora ex re, já que o valor
é certo e o prazo também, a notificação é necessária para comprovar o inadimple-
mento e, sem ela, o mandado de busca e apreensão do bem dado em garantia
não será expedido.
Os atos ilícitos são fontes das obrigações nas quais o devedor se obriga não por
um acordo de vontades, mas pela prática de algum ilícito violador de direitos de
outra pessoa. Nesses casos, a pessoa obrigada, a que cometeu o ato ilícito, é consi-
derada em mora desde o momento que praticou o ato (art. 398 do Código Civil).
Efeitos da mora
“
O devedor em mora não responde pelos prejuízos decorrentes do
caso fortuito e da força maior se: a) provar que os prejuízos teriam
ocorrido ainda que a obrigação tivesse sido oportunamente desempe-
nhada. Isso significa que o devedor pode provar que, mesmo se tivesse
cumprido a obrigação na data certa, no lugar certo e na forma certa,
o prejuízo teria ocorrido. É o caso do cavalo emprestado, que vem
do Direito Romano. Se Tício empresta a seu vizinho Mévio o cavalo
que deve ser devolvido em 10 de janeiro, mas Mévio não devolve e,
já em mora, há uma enchente (força maior) que mata o cavalo afo-
gado, o devedor responde pelas perdas e danos. Contudo, se Mévio
provar que os cavalos de Tício (credor) também morreram em razão
da mesma enchente, Mévio nada paga a Tício (SIMÃO, 2021, s. p.).
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 8
Por fim, o art. 401 do Código Civil prevê que o devedor em mora poderá quitar
a dívida desde que ofereça o valor da prestação acrescido dos prejuízos decor-
rentes da mora, bem como que o credor poderá fazê-lo oferecendo-se a receber
o pagamento e se responsabilizando pelas consequências da sua mora. A essa
hipótese damos o nome de purgação da mora, cujo significado é o cumprimento
da obrigação, por parte daquele que está em mora, com a finalidade de interrom-
per a ocorrência dos efeitos do inadimplemento.
E M FO CO
NOVOS DESAFIOS
Ao explorarmos o tema da teoria geral do inadimplemento nas relações obri-
gacionais, pudemos perceber sua importância crucial para o campo do Direito.
Nossos estudos abordaram aspectos fundamentais, como a distinção entre
dolo e culpa, bem como a diferença entre culpa contratual e extracontratual,
fornecendo as bases para uma análise precisa das situações que podem surgir
no contexto das obrigações.
Ao examinarmos a sujeição dos bens do devedor em caso de inadimplemento
e as exceções legais a essa situação, pudemos compreender as implicações e res-
ponsabilidades envolvidas nesse cenário. Adicionalmente, aprofundamos nossos
conhecimentos sobre o inadimplemento nas obrigações negativas e o inadim-
plemento sem culpa do devedor, ampliando nossa compreensão das diversas
circunstâncias que podem se manifestar.
As regras gerais sobre a mora e sua caracterização foram abordadas de manei-
ra minuciosa, fornecendo uma visão abrangente dos momentos em que a inadim-
plência se configura e das consequências que dela derivam. Essa compreensão
é essencial para que o profissional jurídico possa tomar decisões embasadas e
fornecer orientações adequadas, evitando prejuízos decorrentes da mora e do
inadimplemento tanto para o credor quanto para o devedor.
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VAMOS PRATICAR
1. “O art. 391 da Lei Civil trata da garantia natural das obrigações: o patrimônio do devedor. A
interpretação sistemática já leva a esta conclusão, à vista dos procedimentos de execução
judicial. Se intimado a pagar e deixa de fazê-lo, segue-se o ato de constrição, mediante
penhora de bens. Há partes do patrimônio que não respondem por dívidas pessoais: os bens
impenhoráveis e os de família (art. 1.711, CC). Ordinariamente estes últimos não garantem
as obrigações de seu titular, salvo se estas forem oriundas de pensão alimentícia, de fian-
ça prestada em contrato de locação, entre outras hipóteses. Como regra geral, a criação
em lei dos chamados bens reservados atende a uma causa social e humanitária. A família
fica a salvo de dívidas provenientes de desemprego ou de negócios mal-sucedidos do
responsável pelas despesas do lar. Em contrapartida, a lei não permite ao juiz a prática da
justiça do caso concreto. Conforme o caso, o ato de constrição pode mais aliviar o credor
e família do que agravar as condições do devedor.”
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 548-549.
A obrigação, por se tratar de uma relação patrimonial, tem como principal garantia os bens
do devedor. Essa regra, como várias outras em direito, não é absoluta, ou seja, não são exa-
tamente todos os bens do devedor que respondem pelo inadimplemento das obrigações.
Há aqueles que a legislação classificou, em razão da natureza deles, como insuscetíveis de
apreensão pelo credor, como enuncia o art. 832 do Código de Processo Civil. No caso do
salário do devedor, discorra sobre a possibilidade de que este venha a responder por dívidas
não alimentares, elencando os argumentos favoráveis à referida tese.
2. “Cumprir em parte pode ser o mesmo que não cumprir, porque o credor tem direito a
todo o devido, e pode se não considerar satisfeito se algo falta na prestação do devedor,
da mesma forma que um cumprimento por modo diferente do devido ou uma execução
retardada não libera o sujeito passivo do poder que sobre ele criou o vínculo obrigatório.
Assim, à impossibilidade equivale às vezes a execução parcial; à ausência de prestação
pode corresponder a que se der em termos diferentes do expresso no título; à falta de
pagamento pode comparar-se a prestação inoportuna (mora do devedor).”
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 314.
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VAMOS PRATICAR
3. “A mora propriamente inexiste, pois o reus debendi passa do estado de adimplência para
o de descumprimento sem intervalo temporal. Enquanto respeitava a obrigação de não
fazer se mantinha adimplente, no momento em que violou o acordo passou à condição
de inadimplente. Carvalho Santos configura bem esta situação: ‘Em rigor, não há mora nas
obrigações negativas. Ela confunde-se com a inexecução. De fato, se o devedor ao invés
de ter a obrigação de fazer, tem a de abster-se, o inadimplemento não se pode verificar
de outro modo senão mediante os atos positivos da contravenção. Mas aí já estamos no
domínio da inexecução, fora dos lindes da simples mora, ou retardamento’.”
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 547-548.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
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VAMOS PRATICAR
4. “As que se destacam são aquelas que tratam os fatores da natureza e o fato humano como
elemento de distinção. Curiosamente, os autores divergem com esses critérios. Para al-
guns, se o evento está ligado à natureza, estamos diante de força maior, e, se está ligado
ao ser humano, estamos diante de caso fortuito (por todos, Carvalho Santos). Para outros,
é exatamente o contrário: se o evento está ligado à natureza, estamos diante de caso for-
tuito e se está ligado à atividade humana, estamos diante de força maior (por todos, Clóvis
Beviláqua). Há, ainda, os que utilizam o critério de previsibilidade como diferenciador. Se
o evento for previsível, estamos diante de caso fortuito, mas se for imprevisível, estamos
diante da força maior.”
SIMÃO, J. F. Do Direito das Obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO,
M. A. B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2021, s. p.
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VAMOS PRATICAR
5. “Responde, na verdade, o devedor pelos prejuízos a que der causa o retardamento da exe-
cução (Código Civil de 2002, art. 395); obrigado fica a indenizar o credor pelo dano que o
atraso lhe causar, seja mediante o pagamento dos juros moratórios legais ou convencionais,
seja ressarcindo o que o retardo tiver gerado. A indenização moratória não é substitutiva
da prestação devida, vale dizer que pode ser reclamada juntamente com ela, se ainda for
proveitosa ao credor. Mas, se se tornar inútil ao credor em razão da mora do devedor, tem
ele o direito de exigir a satisfação das perdas e danos completa, mediante a conversão da
res debita no seu equivalente pecuniário.”
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 301-302.
a) Sendo inútil a prestação, ela será convertida em perdas e danos, de maneira equitativa
e ao arbítrio do credor.
b) Para a caracterização da mora, é desnecessária a ocorrência de ação ou de omissão
por parte do devedor.
c) A indenização moratória é substitutiva da prestação devida, não podendo ser reclamada
junto com ela.
d) Estando em mora, o devedor é responsável por todos os prejuízos dela decorrentes,
inclusive com as despesas realizadas para a cobrança do débito.
e) No caso de utilidade da prestação, o credor poderá exigir do devedor que a obrigação
seja resolvida em perdas e danos, pois é o caso de inadimplemento relativo.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei 911/69, de 1º de outubro de 1969. Altera a redação do art. 66, da Lei nº
4.728, de 14 de julho de 1965, estabelece normas de processo sobre alienação fiduciária e dá
outras providências. DOU de 3 out. 1969. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Decreto-Lei/1965-1988/Del0911.htm. Acesso em: 21 ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU.de 11 jan. 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 21
ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. DOU de 17 mar. 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 21 ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 14.034, de 5 de agosto de 2020. Dispõe sobre medidas emergenciais para a
aviação civil brasileira em razão da pandemia da Covid-19; e altera as Leis n os 7.565, de 19 de
dezembro de 1986, 6.009, de 26 de dezembro de 1973, 12.462, de 4 de agosto de 2011, 13.319, de
25 de julho de 2016, 13.499, de 26 de outubro de 2017, e 9.825, de 23 de agosto de 1999. DOU de
6 ago. 2020. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/
L14034.htm. Acesso em: 21 ago. 2023.
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017.
SANTOS, W. dos. Dicionário Jurídico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO, M. A.
B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
1. O art. 833, IV, do CPC, prevê que o salário do devedor, os seus proventos de aposentadoria,
os seus ganhos como profissional autônomo e os seus honorários de profissional liberal são
impenhoráveis. A exceção legalmente prevista é a do art. 833, §2º, do CPC, para o qual a regra
não se aplica em se tratando de obrigação alimentar e para o caso de valores excedentes a
50 salários mínimos. Recentemente, passou-se à discussão sobre a possibilidade da penhora
desse tipo de verba para o adimplemento de obrigações não alimentares. Os defensores de
tal possibilidade sustentam que, como regra, na maioria dos casos, a única renda do devedor
é a do seu próprio salário, de modo que impedir que parte dele seja utilizada para adimplir
a obrigação seria o mesmo que sujeitar o credor ao eterno prejuízo. A Corte Especial do Su-
perior Tribunal de Justiça, em 19.04.2023, no julgamento dos Embargos de Divergência em
Recurso Especial nº 1.874.222/DF, de relatoria do Ministro João Otávio de Noronha, decidiu
que a relativização da regra da impenhorabilidade do salário, independentemente da na-
tureza da dívida, é admitida, desde que o valor penhorado não comprometa a subsistência
do devedor. Além disso, foi decidido que a relativização deve ser feita desde que o credor
tenha tentado os outros meios para a satisfação do débito. Assim sendo, uma antiga regra
que considerava impossível a apreensão do salário do devedor para a quitação de uma dívida
passou a ser relativizada, para que tal possa ocorrer, desde que o valor apreendido ainda
permita que, com o restante, o devedor se sustente, e desde que o credor já tenha tentado
outras medidas de execução. Os críticos da decisão sustentam que houve uma relativização
do que está legalmente previsto.
3. Opção C. As obrigações negativas, também denominadas de não fazer, são aquelas em que
o devedor é obrigado a se abster da prática de algum ato. Nesse tipo de obrigação, o art.
390 do Código Civil prevê que o inadimplemento ocorre imediatamente quando realizado o
ato que não deveria. Pelo texto do artigo em questão, nas obrigações negativas, o devedor é
havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Assim,
apenas as opções I e II estão corretas.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
4. Opção E. Estabelece o art. 393 do Código Civil que os prejuízos resultantes de caso fortuito
ou de força maior não são atribuíveis ao devedor, desde que não haja acordo em sentido
contrário, por isso o acerto na opção E e o erro nas opções A e B. A doutrina tem elaborado
diversas teorias para a diferenciação conceitual do que seria caso fortuito e força maior, não
havendo um consenso sobre o assunto, por isso a incorreção na opção C. Há diversos casos
envolvendo a discussão de inadimplemento por caso fortuito e força maior no contexto da
Pandemia da Covid-19 (Apelação Cível nº 0703134-36.2021.8.07.0018, 4a Turma do TJDFT,
DJe de 17.12.2021), por isso o erro na opção D.
5. Opção D. Pelo art. 395 do Código Civil, os prejuízos causados pela mora implicam na res-
ponsabilidade do devedor por eles, com acréscimo de juros, correção monetária e demais
despesas que a parte lesada tiver realizado para a cobrança. Sendo inútil a prestação, ela
será convertida em perdas e danos, mas no valor equivalente ao da obrigação, por isso o
erro na opção A. Conforme o art. 396 do Código Civil, para que seja caracterizada a mora,
faz-se necessária a ocorrência de ação ou omissão por parte do devedor que contribua para
tanto, por isso o erro na opção B. A indenização moratória não é substitutiva da prestação
devida, vale dizer que pode ser reclamada juntamente com ela, se ainda for proveitosa ao
credor, por isso o erro na opção C. No caso de inutilidade da prestação, ao que nomeamos
de inadimplemento absoluto, o credor poderá exigir do devedor que a obrigação seja re-
solvida na forma de indenização por perdas e danos (art. 395, parágrafo único, do Código
Civil), por isso o erro na opção E.
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TEMA DE APRENDIZAGEM 9
EFEITOS DO INADIMPLEMENTO
DAS OBRIGAÇÕES
MINHAS METAS
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P L AY N O CO NHEC I M ENTO
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T E MA DE A PRE ND IZAGEM 9
VAMOS RECORDAR?
O inadimplemento e a mora são conceitos de grande importância para o direito
das obrigações. Assista ao vídeo indicado e relembre esse conteúdo. Recursos
de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem.
PERDAS E DANOS
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Para calcular o valor das perdas e danos, o art. 402 do Código Civil estabelece
que devem ser considerados tanto o prejuízo imediato quanto o prejuízo futuro
decorrente do descumprimento da obrigação.
“
No primeiro caso, há os danos emergentes ou danos positivos, caso
dos valores desembolsados por alguém […]. No segundo caso, os
lucros cessantes ou danos negativos, constituídos por uma frustra-
ção de lucro (TARTUCE, 2019, s. p.).
Imagine que, por exemplo, você é o proprietário de uma indústria que produz
pães e possui um fornecedor fixo de farinha de trigo. Em um determinado
período, o seu fornecedor atrasou a entrega da farinha de trigo, de maneira
injustificada e sem previsão de normalidade, o que levou ao atraso na produção
e entrega de pães.
Nesse exemplo, podemos imaginar que
o atraso na produção e na entrega dos pães
ocasionou a redução na média das vendas
durante o período, o que seria a hipótese
de lucros cessantes. Além disso, podemos
imaginar ainda que a indústria, para res-
tabelecer a produção, precisou contratar
emergencialmente um novo fornecedor,
cujos preços praticados foram bastante
superiores aos normais em razão da aqui-
sição emergencial, de modo que esse pre-
juízo com a compra de insumos mais caros
seriam os danos emergentes.
Dessa forma, ao calcular as perdas e danos devidas pelo fornecedor de farinha
faltoso, a indústria poderá incluir tanto o valor dos prejuízos imediatos quanto o
valor daquilo que ela deixou de lucrar em razão do atraso na produção.
Neste ponto, é muito importante ressaltar que, conforme o art. 403 do Código
Civil, essas perdas e danos não podem incluir danos meramente hipotéticos, mas
somente aqueles que estejam diretamente ligados ao descumprimento. Dessa
forma, ao requerer as perdas e danos, o credor não poderá estabelecer um valor
aleatório, mas, sim, deverá comprovar a existência do prejuízo alegado.
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O parágrafo único do artigo 404 arma o juiz de poderes para agir
por equidade. Esta, como justiça do caso dado, ou faculdade de
conceder ou decidir fora dos termos estreitos da lei, permitirá ao
julgador pesar as circunstâncias de cada caso, animado de dois
elementos inspiradores: a ausência de cláusula penal e a insufi-
ciência dos juros moratórios para cobertura do prejuízo do credor.
O artigo não especifica, nem ao menos oferece elementos para
estabelecer em que consiste a indenização complementar. Para
isto, pode valer-se de dados concretos, ou proceder sob inspira-
ção de seu arbítrio de bom varão – arbitrium boni viri. Não cabe,
entretanto, ao juiz proceder discricionariamente. Deverá valer-se
tanto quanto possível dos elementos consagrados em lei e nos usos
e costumes, inclusive judiciais. Dentre os critérios utilizáveis, esta-
rá a correção monetária, que é aplicável às dívidas de valor, como
as condenações judiciais, e bem assim os juros compensatórios
(PEREIRA, 2017, p. 325).
E U IN D ICO
Quando constatado no processo judicial que o valor dos danos sofridos pelo cre-
dor é maior do que o valor apurado em perícia, considerando o excesso de tem-
po entre a ocorrência do dano e a data da condenação, é cabível a concessão
da indenização suplementar. Para entender melhor essa hipótese, convidamos
você a acessar o inteiro teor de um julgamento em recurso de apelação cível, da
32a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. Recursos de
mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem.
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JUROS LEGAIS
Os juros são valores adicionais que incidem sobre o valor da obrigação, fun-
cionando como uma forma de compensação ou remuneração para o credor, a
depender da natureza que eles tenham. Esse valor adicional pode ser definido
pelas partes ou não, sendo que, neste último caso, é a própria legislação que re-
gulamentará a taxa devida.
Esses juros são, em regra, limitados pelo disposto no art. 591 do Código Civil,
para o qual, em empréstimos com a finalidade econômica, os juros não podem
ser superiores à taxa dos juros moratórios.
ZO O M N O CO NHEC I M ENTO
O art. 1º do Decreto nº 22.626/1933 (Lei de Usura) prevê de forma expressa que é veda-
da a estipulação de juros superiores ao dobro da taxa legal. Essa limitação, em números,
corresponde à taxa de 12% ao ano, sendo considerada nula a estipulação superior.
As instituições financeiras, no entanto, não se sujeitam à referida limitação,
conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (súmula de nº 596 do STF). As-
sim sendo, em contratos firmados com instituições financeiras, a pactuação dos
juros poderá ser superior à taxa de 12% ao ano, como quase sempre é, e eventual
abusividade dessa taxa deve ser discutida conforme parâmetros específicos.
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Juros moratórios
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CIVIL. JUROS MORATÓRIOS. TAXA LEGAL. CÓDIGO CIVIL,
ART. 406. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. 1. Segundo dispõe o
art. 406 do Código Civil, ‘Quando os juros moratórios não forem
convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando pro-
vierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos
à Fazenda Nacional’. 2. Assim, atualmente, a taxa dos juros mora-
tórios a que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do
Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, por ser ela a
que incide como juros moratórios dos tributos federais (arts. 13 da
Lei 9.065/95, 84 da Lei 8.981/95, 39, § 4º, da Lei 9.250/95, 61, § 3º,
da Lei 9.430/96 e 30 da Lei 10.522/02). 3. Embargos de divergência
a que se dá provimento (BRASIL, 2008, s. p.).
Por outro lado, aqueles que defendem a aplicação da taxa de 1% ao mês, argu-
mentam que a referência que o art. 406 do Código Civil faz é ao disposto no art.
161, §1º, do Código Tributário Nacional, que prevê que os juros de mora aplicá-
veis aos créditos tributários, não havendo previsão legal expressa, é o de 1% ao
mês. A propósito, o Enunciado nº 20 da I Jornada de Direito Civil dispõe que a
taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, §1º, do Código
Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês.
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Nesse cenário de controvérsia, embora haja diversas decisões que adotam ou uma
taxa, ou outra, como regra, deve ser considerada a taxa Selic como a dos juros mora-
tórios não convencionados entre as partes, pois esse é o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, cuja função é justamente interpretar a aplicação da lei federal.
Exemplificando o exposto, imagine uma situação em que uma vítima de
acidente automobilístico ajuíza uma ação de compensação pelos danos morais
sofridos em razão do acidente. Nesse caso, com certeza, as partes não ajustaram
nenhuma taxa de juros aplicável na atualização do valor da indenização, mesmo
porque o dever de indenizar surgiu com o ato ilícito, e não com um contrato.
Assim, temos um claro exemplo de hipótese em que os juros de mora não
foram estipulados pelas partes. Dessa forma, caso condenado, o réu deverá pa-
gar o valor da indenização com o acréscimo de juros de mora correspondentes
à taxa Selic, os quais incidirão desde a data em que ocorreu o acidente até o
momento do efetivo pagamento.
A propósito, os juros moratórios são contados desde a data em que verifi-
cada a mora do devedor. Assim, se se tratar de uma obrigação certa e com data
de vencimento, não sendo necessária nenhuma notificação para o devedor, os
juros incidem logo quando do descumprimento. Por outro lado, se para a carac-
terização da mora for necessária a notificação do devedor, os juros incidirão a
partir da referida notificação ou, ainda, a partir da data da citação no processo
de cobrança (art. 405 do Código Civil).
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CLÁUSULA PENAL
A cláusula penal, conhecida como multa contratual, é o valor que passa a ser
devido pelo inadimplemento da obrigação, podendo este ser total ou parcial
(art. 409 do Código Civil). Nos termos do disposto no art. 408 do Código Civil,
essa multa é devida a partir do momento em que ocorrer o descumprimento da
obrigação de forma culposa.
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Destarte, submete-se, a priori, a uma pena o devedor que descum-
prir a obrigação culposamente, ou cumpri-la com atraso, tipifi-
cado como mora. O instituto é utilizado com extrema frequência
nos contratos. Raros serão os contratos que não a têm. Num con-
trato de locação, por exemplo, estipula-se multa, caso o locatário
pague o aluguel após um dia do mês fixado. É comum as partes
camuflarem a cláusula penal, estipulando-a ao avesso, isto é, no
contrato de locação, fixam um desconto, caso o devedor pague até
determinado dia, rezando a avença que o preço do aluguel é ou-
tro, mais elevado. Trata-se de verdadeira multa moratória, como
veremos. No mesmo exemplo do contrato de locação, geralmente
são encontradas as duas formas tradicionais de cláusula penal:
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A cláusula penal pode ser estipulada tanto para compensar os prejuízos de-
correntes do inadimplemento da obrigação quanto como uma punição ao
devedor pelo seu descumprimento. Na primeira situação, chamamos a multa
de cláusula penal compensatória, ao passo que, na segunda, nomeamos de
cláusula penal moratória.
Segundo dispõe o art. 410 do Código Civil, quando se estipular a cláusula penal
para o caso de total inadimplemento da obrigação, ela será convertida em alter-
nativa a benefício do credor. Esta é, aliás, a definição da cláusula penal compen-
satória, que serve como uma indenização devida ao credor diante do descum-
primento total da obrigação.
Imagine que João adquire um veículo de Maria, no valor de R$ 70.000,00,
com a previsão de entrega para os próximos três meses. No contrato, há uma
cláusula prevendo que, no caso de perda do veículo, será paga uma indenização
no valor de R$ 70.000,00.
Dessa forma, caso o veículo seja destruído antes da entrega, João poderá exi-
gir somente o valor previsto pelas perdas e danos. Não poderá, com efeito, exigir
esse valor acrescido do valor pago, pois ele já serve como indenização pré-fixada
pelas pernas e danos.
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[...] a maior vantagem da cláusula penal compensatória é que o cre-
dor não precisa provar a ocorrência de dano, pois ela estabelece
uma presunção e será devida sem que o devedor possa questionar
se os danos realmente existiram ou não (art. 416 do Código Civil).
Porém, caso esses danos sejam superiores ao valor estabelecido, é melhor que o
credor, em vez de exigir a multa compensatória, demande pelas perdas e danos
integrais, hipótese em que ele deverá comprovar todo o prejuízo.
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Na multa compensatória, a opção será do credor. Se ele entender
que seus prejuízos pelo inadimplemento foram mais vultosos que o
valor da multa, partirá para a via das perdas e danos. Se, por outro
lado, entender que a multa lhe cobre os prejuízos, ou, ainda, se não
deseja submeter-se a custosa e difícil prova de perdas e danos, opta-
rá pela cobrança da multa. Geralmente, a parte inocente no contrato
pedirá sua rescisão, cumulando tal pedido com a condenação no
pagamento da multa (VENOSA, 2013, p. 357).
A principal limitação quanto à cláusula penal é aquela de que trata o art. 412
do Código Civil, para o qual o valor da multa não pode exceder o da obrigação
principal. Nesse caso, estamos diante da limitação da cláusula penal compensa-
tória e, conforme vimos anteriormente, sendo os prejuízos superiores ao valor
da obrigação, é melhor que o credor demande pelas perdas e danos integrais.
Quanto à cláusula penal moratória, exceto nas relações de consumo, não há
uma previsão específica sobre a sua limitação. Normalmente:
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[...] os limites costumeiros são de 20% do valor da prestação inadim-
plida […]. Esse limite de 20% para as relações civis e empresariais é
resultado de uma longa experiência histórica e de uma verdadeira
repetição de condutas em matéria contratual (SIMÃO, 2021, s. p.).
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O que não pode ocorrer é se exigir a prestação devida cumulada
com a cláusula penal compensatória, pois o credor receberia duas
vezes a prestação (uma in natura e outra na forma de perdas e danos
prefixadas). Isso não se verifica no caso de cláusula penal morató-
ria (ver art. 411 do CC). Há também uma normal correlação entre
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Uma outra hipótese é aquela em que a cláusula penal, em si, é um objeto in-
divisível. Imagine que a multa pelo descumprimento de determinada obrigação,
assumida por dois devedores, seja a entrega de um touro reprodutor.
O devedor que não deu causa ao descumprimento, arcando com a sua proporção
na multa divisível ou com o pagamento integral na multa indivisível, tem resguar-
dado o seu direito de exigir o valor pago ao devedor faltoso. É a regra do art. 414,
parágrafo único, do Código Civil, para o qual, aos não culpados, fica reservada a
ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.
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ARRAS OU SINAL
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Dadas as arras, considera-se assegurada a conclusão do contrato.
Distinguem-se da cláusula penal, pelo fato de ser convenção real, no
sentido de que um dos contratantes entrega desde logo ao outro uma
importância em dinheiro ou uma outra coisa móvel, ao passo que a
cláusula penal consiste numa convenção acessória, pela qual a parte
infratora pagará à outra o valor estipulado (PEREIRA, 2017, p. 345).
Arras confirmatórias
Desse modo, tem-se duas situações distintas e com consequências distintas, quais
sejam, a inexecução contratual pela parte que deu as arras ou o sinal e a inexecução
pela que recebeu as arras ou o sinal. Se for pela parte que deu as arras, o valor será
perdido em proveito de quem recebeu; se a inexecução for por quem recebeu, a
parte será obrigada a restituir o valor recebido mais o equivalente.
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Se a parte que deu as arras não cumprir o contrato, as arras devem
ser devolvidas à outra parte mais seu equivalente (mínimo de inde-
nização), que poderá, ainda, pedir a resolução do contrato por ina-
dimplemento (“haver o contrato por desfeito”). [...] A lei não utiliza
o termo “dobro”, pois objetos não têm dobro (só dinheiro tem). Se
João deu um cavalo em arras e se arrepende, João perde o cavalo.
Se Maria recebeu o cavalo em arras e se arrepende, Maria devolve
o cavalo mais seu valor em dinheiro. O dinheiro é o equivalente
universal. Se João deu R$ 1.000,00 em arras e se arrepende, João per-
de o dinheiro. Se Maria recebeu R$ 1.000,00 em arras e se arrepende,
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Arras penitenciais
E M FO CO
NOVOS DESAFIOS
O inadimplemento das obrigações é um fenômeno que traz implicações muito
diversas do simples prejuízo imediato experimentado pela parte inocente. Além
do valor devido, podem ocorrer outros prejuízos previstos ou não nos contratos.
Nesse contexto, o presente tema de aprendizagem abordou quais são as ver-
bas incluídas no conceito das perdas e danos, bem como a necessidade de que
todos os prejuízos efetivamente sofridos pela parte inocente sejam comprovados.
Vimos que, por exemplo, não é admissível a cobrança de indenização por dano
hipotético que não tenha efetivamente ocorrido no mundo dos fatos.
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Neste ponto, aliás, é muito importante que o profissional jurídico tenha em mente
tal regra, a fim de melhor orientar o seu cliente a documentar todos os prejuízos
que efetivamente sofreu quando diante de um inadimplemento contratual. Por
outro lado, é importante ainda que ele saiba identificar a prova de tais prejuízos,
caso esteja em defesa da parte inadimplente, a fim de evitar que sejam pagos
valores que não foram comprovados.
Vimos, ainda, que nas obrigações podem incidir valores adicionais que fun-
cionarão ou como compensação ou como remuneração do credor. Tais valores,
como estudamos, estão, em regra, limitados a uma taxa de 12% ao ano, com
exceção das obrigações contraídas com as instituições financeiras.
Essa limitação de juros, inclusive, há muito tempo tem sido um campo de
atuação para o profissional jurídico, cuja função primordial é a de identificar a
existência de juros superiores aos legalmente previstos e orientar na tentativa
de redução destes.
Por fim, estudamos, ainda, a cláusula penal e o sinal, bem como os limites
destes e as diferenças entre ambos os institutos. Vimos que a cláusula penal é uma
multa que pode tanto se somar ao valor devido quanto substituir esse valor, como
uma indenização pré-fixada, bem como que o sinal tem uma função semelhante,
mas, ao invés de ser requerido após o inadimplemento, é estabelecido previamente.
Nesse cenário, o profissional jurídico deve estar atento às referidas
peculiaridades de cada uma dessas verbas estudadas nesta unidade, a fim de
identificar quais são cumuláveis e quais não são cumuláveis. Conhecer essas
consequências do inadimplemento das obrigações é imprescindível para prestar
uma boa orientação às partes, tanto ao credor quanto ao devedor, de modo a
evitar a perda de valores devidos e a afastar cobranças abusivas.
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VAMOS PRATICAR
1. “À vista disso, seja por princípios gerais do direito, seja pela principiologia adotada no CDC,
ou, ainda, por comezinho imperativo de equidade, mostra-se abusiva a prática de estipular
cláusula penal exclusivamente ao consumidor, para a hipótese de mora ou de inadimple-
mento contratual absoluto, ficando isento de tal reprimenda o fornecedor em situações
de análogo descumprimento da avença. Destarte, prevendo o contrato a incidência de
multa para o caso de inadimplemento por parte do consumidor, a mesma multa deverá ser
considerada para o arbitramento da indenização devida pelo fornecedor, caso seja deste a
mora ou o inadimplemento absoluto.”
BRASIL. Ementa, relatório e voto no Recurso Especial nº 1.614.721/DF. Ministro Luis Felipe
Salomão. Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça. DJe de 25 jun. 2019, s. p.
2. “O parágrafo único do artigo 404 arma o juiz de poderes para agir por equidade. Esta, como
justiça do caso dado, ou faculdade de conceder ou decidir fora dos termos estreitos da lei,
permitirá ao julgador pesar as circunstâncias de cada caso, animado de dois elementos
inspiradores: a ausência de cláusula penal e a insuficiência dos juros moratórios para co-
bertura do prejuízo do credor. O artigo não especifica, nem ao menos oferece elementos
para estabelecer em que consiste a indenização complementar. Para isto, pode valer-se
de dados concretos, ou proceder sob inspiração de seu arbítrio de bom varão – arbitrium
boni viri. Não cabe, entretanto, ao juiz proceder discricionariamente. Deverá valer-se tanto
quanto possível dos elementos consagrados em lei e nos usos e costumes, inclusive judi-
ciais. Dentre os critérios utilizáveis, estará a correção monetária, que é aplicável às dívidas
de valor, como as condenações judiciais, e bem assim os juros compensatórios.”
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017, p. 325.
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VAMOS PRATICAR
a) A indenização suplementar será devida sempre que o julgador, com base nas suas regras
de experiência, a considerar justa.
b) A indenização suplementar somente será devida quando, mesmo atualizando o valor das
perdas e danos, este não é suficiente para custear os danos efetivamente comprovados.
c) A indenização suplementar é discricionária, valendo-se o juiz de elementos que ressaem
à relação obrigacional.
d) Não existe previsão legal de fixação de indenização suplementar, sendo uma construção
costumeira.
e) A indenização suplementar será devida sempre que o valor das perdas e danos for su-
ficiente para custear os danos efetivamente comprovados.
3. “CIVIL. JUROS MORATÓRIOS. TAXA LEGAL. CÓDIGO CIVIL, ART. 406. APLICAÇÃO DA TAXA
SELIC. 1. Segundo dispõe o art. 406 do Código Civil, ‘Quando os juros moratórios não forem
convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação
da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional’. 2. Assim, atualmente, a taxa dos juros moratórios a
que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e
Custódia - SELIC, por ser ela a que incide como juros moratórios dos tributos federais (arts.
13 da Lei 9.065/95, 84 da Lei 8.981/95, 39, § 4º, da Lei 9.250/95, 61, § 3º, da Lei 9.430/96 e
30 da Lei 10.522/02). 3. Embargos de divergência a que se dá provimento.”
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VAMOS PRATICAR
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
4. “Destarte, submete-se, a priori, a uma pena o devedor que descumprir a obrigação cul-
posamente, ou cumpri-la com atraso, tipificado como mora. O instituto é utilizado com
extrema frequência nos contratos. Raros são os contratos que não a têm. Num contrato
de locação, por exemplo, estipula-se multa, caso o locatário pague o aluguel após um dia
do mês fixado. É comum as partes camuflarem a cláusula penal, estipulando-a ao avesso,
isto é, no contrato de locação, fixam um desconto, caso o devedor pague até determinado
dia, rezando a avença que o preço do aluguel é outro, mais elevado. Trata-se de verdadeira
multa moratória, como veremos. No mesmo exemplo do contrato de locação, geralmente
são encontradas as duas formas tradicionais de cláusula penal: a moratória, já acenada, e
a compensatória, quando se estipula uma multa, no caso de infringência de qualquer das
cláusulas do contrato, como, por exemplo, desvio de uso do imóvel ou da coisa em geral,
resolução antecipada etc.”
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 354.
a) A cláusula penal pode ser estipulada tanto para compensar os prejuízos decorrentes
do inadimplemento da obrigação quanto como uma punição ao devedor pelo seu des-
cumprimento.
b) A maioria dos contratos não contém a previsão de cláusula penal, devendo a compen-
sação ser sempre avaliada em juízo.
c) O devedor será sujeito à pena independentemente de ter agido culposamente.
d) A cláusula penal será sempre compensatória, representando uma indenização pelo
descumprimento contratual.
e) A cláusula penal sempre será fixada em percentual devido ao credor.
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5. 5. “Na multa compensatória, a opção será do credor. Se ele entender que seus prejuízos
pelo inadimplemento foram mais vultosos que o valor da multa, partirá para a via das perdas
e danos. Se, por outro lado, entender que a multa lhe cobre os prejuízos, ou, ainda, se não
deseja submeter-se a custosa e difícil prova de perdas e danos, optará pela cobrança da
multa. Geralmente, a parte inocente no contrato pedirá sua rescisão, cumulando tal pedido
com a condenação no pagamento da multa.”
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13.
ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 357.
Imagine que João adquiriu um veículo de Maria e, entre a assinatura do contrato e a data da
entrega, o comprador realizou diversas despesas para receber o bem, como, por exemplo,
a construção de uma garagem, a aquisição de equipamentos especiais e outras. O contrato
prevê uma cláusula penal que é exatamente o valor do veículo. Nesse caso, assinale a opção
que melhor representaria os direitos de João.
a) João deverá pleitear a cláusula penal compensatória, não lhe assistindo nenhum direito
sobre os prejuízos suplementares.
b) Se o prejuízo for superior ao valor da obrigação, João deverá exigir de Maria tão somente
o valor dos prejuízos experimentados.
c) Considerando que os prejuízos devem ser repartidos proporcionalmente, João arcará
com metade dos seus gastos e Maria com a outra metade.
d) Verificando que o prejuízo é superior ao valor da obrigação, João deverá optar pela
resolução do contrato exigindo a restituição do que foi pago e a compensação pelos
demais prejuízos.
e) Se João optar pela cláusula penal compensatória, ele deverá provar os prejuízos.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Acórdão no Recurso Especial de nº 1.553.790/PE, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma. Superior Tribunal de Justiça. DJe de 09.11.2016.
BRASIL. Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933. Dispõe sobre os juros nos contratos e dá outras
providências. DOU de 8.4.1933. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
d22626.htm. Acesso em: 3 ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e
institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. DOU de
27 out. 1966. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm.
Acesso em: 3 ago. 2023.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. DOU de 11 jan. 2002. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 31 jul. 2023.
NADER, P. Curso de Direito Civil: obrigações. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 29. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017.
SIMÃO, J. F. Do direito das obrigações. In: SCHREIBER, A.; TARTUCE, F.; SIMÃO, J. F.; MELO, M. A.
B. de; DELGADO, M. L. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula 596. As disposições do Decreto 22.626/1933 não se apli-
cam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições
públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional. Disponível em: https://portal.
stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=2017. Acesso em: 3 ago. 2023.
TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 14. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2019. E-book.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13. ed.
São Paulo: Atlas, 2013.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
2. Opção B. O art. 404, parágrafo único, do Código Civil, prevê expressamente a indenização su-
plementar. Em atenção à necessidade de preservar o caráter reparatório das perdas e danos,
o art. 404, parágrafo único, do Código Civil, prevê ainda que o juiz pode conceder ao credor
uma indenização suplementar, caso ele verifique que os juros da mora não são suficientes
para cobrir o prejuízo. Assim, as demais alternativas estão incorretas, pois consideram que
ela é discricionária e que não há previsão legal para tanto.
3. Opção C. Se estivermos diante de uma obrigação na qual esses juros não foram combinados
pelas partes, o art. 406 do Código Civil prevê que eles devem ser considerados como sendo
os mesmos aplicáveis às dívidas de impostos devidos à Fazenda Nacional. Essa taxa de juros
de que trata o mencionado artigo é bastante discutida, havendo muita divergência sobre
qual seria essa taxa. Para alguns, esses juros moratórios devem ser calculados com base na
taxa SELIC, ao passo que, para outros, o valor seria o de 1% ao mês. O erro na afirmativa III é
considerar que não existe divergência sobre a taxa, quando, na verdade, há quem defenda
ser a de 1% ao mês.
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CONFIRA SUAS RESPOSTAS
4. Opção A. A cláusula penal, conhecida como multa contratual, é o valor que passa a ser devido
pelo inadimplemento da obrigação, podendo este ser total ou parcial (art. 409 do Código
Civil). A cláusula penal pode ser estipulada tanto para compensar os prejuízos decorrentes
do inadimplemento da obrigação quanto como uma punição ao devedor pelo seu descum-
primento. Na primeira situação, chamamos a multa de cláusula penal compensatória, ao
passo que, na segunda, nomeamos de cláusula penal moratória. Além disso, é uma pena
imposta à parte que culposamente deixou de cumprir com o acordo, podendo ser fixada
em valor fixo ou em percentual, quase sempre presente nos contratos. Assim, as opções B,
C, D e E estão equivocadas.
5. Opção D. A maior vantagem da cláusula penal compensatória é que o credor não precisa
provar a ocorrência de dano, pois ela estabelece uma presunção e será devida sem que o
devedor possa questionar se os danos realmente existiram ou não (art. 416 do Código Civil).
Porém, caso esses danos sejam superiores ao valor estabelecido, é melhor que o credor,
em vez de exigir a multa compensatória, demande pelas perdas e danos integrais, hipótese
em que ele deverá comprovar todo o prejuízo. Assim, verificamos, ainda, os equívocos nas
opções A, B, C e E.
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