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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena


Curso Gestão em Saúde Coletiva Indígena

TEMA CONTEXTUAL:
MEIO AMBIENTE, SAÚDE E
SUSTENTABILIDADE
Aula - Toxicologia Ambiental
Profª. Drª. Hosana Carolina dos Santos Barreto

Boa Vista - RR
2024.1
Conceitos de Toxicologia
TOXICOLOGIA : É a ciência que estuda as respostas dos
organismos vivos à ação de substâncias químicas, quali/
quantitativamente.
 1493-1541 Paracelsus - “Pai da Toxicologia”
 “Todas as coisas são veneno e nada há que não seja
veneno, é a DOSE que faz algo ser veneno” (PARACELSO,
XVI)
 A palavra TÓKSON, em grego, quer dizer “arco e flecha”, sendo que
a forma adjetiva toksikós significaria “relativo a arco e flecha”.

 Curiosamente o significado da expressão toksikón phármacon,


“veneno para flecha”, fundiu-se e a palavra toxicum (tóxico),
passou a ser utilizada como “veneno em geral”.
 Assim sendo, inicialmente a Toxicologia foi definida como a “ciência do
estudo dos venenos”.

 Homens primitivos usavam seus conhecimentos sobre os venenos de


animais e plantas para guerrear, caçar e muitas vezes para remover
membros indesejáveis de suas sociedades.
 A Toxicologia não é uma ciência nova.
 Inicialmente tratada como um ramo da medicina, hoje em dia
ela é considerada como UMA CIÊNCIA DE CARÁTER
MULTIDISCIPLINAR onde bases teóricas e metodológicas de
várias áreas atuam juntas.
 Ex. biologia, química, farmácia, medicina, etc.
 Visão da ciência integrada.
 TOXICIDADE - Capacidade inerente a uma substância
química de produzir efeito adverso ou nocivo sobre um
organismo vivo.
 A toxicidade de um composto químico depende de diversos
fatores.
 Suscetibilidade do organismo.
 Da exposição do organismo.
 Características químicas.
 Fatores ambientais - principalmente.
 A publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson
em (1962) catalisou a separação da ecotoxicologia da
toxicologia clássica.

 O ELEMENTO REVOLUCIONÁRIO INTRODUZIDO POR RACHEL


CARSON FOI A EXTRAPOLAÇÃO DOS EFEITOS SOBRE UM
ÚNICO ORGANISMO PARA TODO UM ECOSSISTEMA.

 Este estudo sistêmico é diferente da natureza antropocêntrica


da toxicologia clássica, e, portanto, a Ecotoxicologia é uma
disciplina bem mais ampla, porque incorpora aspectos de
ecologia, toxicologia, fisiologia, biologia molecular, química
analítica e outras ainda para estudar os efeitos de
‘xenobióticos’ em um ecossistema.
 Xenobiótico
 é o termo usado para designar substâncias químicas estranhas ao
organismo humano. Podem ou não ter efeito nocivo à saúde, sendo
que tal efeito possui relação com diversos fatores, como por
exemplo a quantidade e o tempo de exposição do indivíduo a
alguma(s) dessa(s) substância(s).
 Termo “Ecotoxicologia” – criado em 1969 pelo Dr. Rene
Truhaut;
 Ecotoxicologia ou toxicologia ambiental:
 é o estudo dos efeitos adversos de substâncias químicas
contaminantes com o objetivo de proteger espécies
naturais e populações (TRUHAUT, 1977).

 Contaminantes:
 são agentes biológicos, químicos ou físicos capazes de
produzirem uma alteração na resposta biológica do
organismo, sendo classificados de acordo com suas
características.
 A ECOTOXICOLOGIA – Contempla três áreas fundamentais de estudo:
 Estudo das emissões e ingresso dos poluentes no ambiente, assim como a
distribuição e destino.
 Estudos qualitativos e quantitativos dos efeitos tóxicos dos poluentes no
ecossistemas e no homem.
 Estudo do ingresso e destino dos poluentes na biosfera, enfatizando a
contaminação das cadeias alimentares
 Classes de contaminantes:
CLASSES EXEMPLOS
Compostos Inorgânicos Íons metálicos (Cd, Hg, Ag, Br, Ni)
Ânions (NO-3, CN-, S-2)
Compostos Orgânicos  Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs);
 Bifenilos policlorados (PCBs);
 Inseticidas;
 Organoclorados e Organofosforados;
 Inseticidas; Carbamatos;
 Inseticidas Piretróides;
 Herbicidas
Radionuclídeos U-238, Th-234, Ra-226
Contaminantes Emergentes  Fármacos (Esteroides, antibióticos,
antiinflamatórios, anticoncepcionais,
antipsicóticos);
 Cianotoxinas;
 Produtos de beleza;
 Nanopartículas;
 Conservantes
Dinâmica ambiental
 Os contaminantes têm a sua origem nas mais diversas atividades
humanas, tais como: mineração; indústria; agricultura; urbanização;
geração de energia; entre outras.
 Uma vez que são lançados no ambiente, esses contaminantes podem atingir
solos, lençol freático, rios, lagos, lagoas, atmosfera e oceanos, por meio dos
segmentos do ciclo hidrológico (precipitação, evaporação, escoamento
superficial, percolação e lixiviação), comprometendo a saúde dos
ecossistemas.
 Com o passar do tempo (T), a concentração do contaminante
crescerá progressivamente nos níveis tróficos, tornando-se maior nos
predadores de topo. Esse fenômeno é chamado de biomagnificação.
Uso de agrotóxicos e rotas ambientais (Gummer,
Toxicocinética e Toxicodinâmica
 A toxicidade de um composto dependerá de sua toxicocinética (absorção,
distribuição, metabolização e excreção) e de sua toxicodinâmica (ação do
agente químico no órgão-alvo).
 Uma vez absorvido pelo organismo, o contaminante passará pelo processo de
biotransformação, sendo o produto (metabólito) excretado para o meio. Caso
a excreção não seja possível, o contaminante será bioacumulado em algum
órgão ou tecido específico, dependendo do tipo de contaminante.
 A resposta "dano" ao organismo dependerá da convergência de
fatores, tais como:
 o tipo de contaminante (orgânico, inorgânico, radionuclídeos);
 tempo de exposição (segundos, minutos, horas, dias, meses...);
 via de exposição (respiratória, cutânea, gástrica);
 dose (concentração);
 a biologia do organismo (mamíferos, anfíbios, répteis,
artrópodes...); e
 o meio (terrestre, aquático, aéreo) ao qual está inserido.
Figura: Dinâmica de processamento de um contaminante em um organismo aquático.
 A extensão do dano (do indivíduo até o ecossistema) dependerá
principalmente do tempo de exposição de um ou mais indivíduos.

RESPOSTAS À CONTAMINAÇÃO NOS DIFERENTES NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA

TEMPO DE NÍVEL DANO


EXPOSIÇÃO
> 2 anos Ecossistema Alteração na estrutura do ecossistema.
Alterações da dinâmica e estrutura
0,5 – 1 ano População populacional.
1 – 2 meses Organismo Mudanças no crescimento e adaptação
Mudanças no crescimento, reprodução e defesas
20 – 120 dias Fisiológico imunológicas.
Patogenicidade celular, quebra de DNA,
1 – 3 dias Celular / Molecular formação de micronúcleos e anormalidades
cromossomais.
Imunossupressão, potencial genotóxico,
10 min Molecular toxicidade.
Bioindicadores e Biomonitores
 Os bioindicadores são organismos com maior sensibilidade de
resposta à exposição por curtos períodos de tempo a um ou mais
compostos, enquanto
 Os biomonitores são organismos menos sensíveis, acumulando em
seus tecidos os compostos aos quais estão expostos por longos
períodos de tempo no ambiente.
 As respostas de ambos podem incluir mudanças morfológicas,
celulares, histológicas, bioquímicas, metabólicas,
comportamentais, e até na estrutura da população.
 Dentre os diversos bioindicadores/biomonitores estão:
 Microorganismos (fungos, fitoplâncton, liquens e bactérias);
 Plantas (macrófitas, briófitas e pteridófitas);
 Invertebrados (crustáceos, moluscos, equinodermos, bivalves, oligoquetas,
 nematoides, artrópodes);
 Vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos)

Exemplos de organismos utilizados em ecotoxicologia: (a) algas; (b) bivalves; (c)


peixe; (d) angiosperma,; (e) macroinvertebrado; (e) Echinodermata.
BIOMARCADORES
 os biomarcadores podem ser definidos como alterações biológicas
mensuráveis que podem ser relacionados à exposição do
organismo aos agentes estressores.
 Os biomarcadores podem ser classificados como sendo de efeito
ou de exposição.
 Os biomarcadores de efeito refletem alterações biológicas ainda em
um estágio reversível (ou precoce), sendo geralmente alterações
bioquímicas ou fisiológicas, pois precedem danos estruturais.
 Os biomarcadores de exposição refletem a distribuição do
contaminante através do organismo.
BIOENSAIOS
 O bioensaio é um experimento laboratorial que visa a determinação da
toxicidade e dos limites permissíveis de diferentes contaminantes no
ambiente.
 São classificados como de exposição aguda (não superior a 24h) ou
exposição crônica (superior a 24h).
 Podem ser utilizados organismos de diferentes níveis tróficos, frente a
diferentes tipos de contaminantes.
 Os principais requisitos são: reprodutividade, padronização e
repetitividade.
Exemplo de delineamento experimental. Exemplos: peixes, ratos e bactérias
demonstrando que são testadas diferentes dosagens e o controle (dosagem zero).
BIOMONITORAMENTO
 O biomonitoramento trata-se de uma avaliação in situ (no local)
que visa determinar em uma escala temporal e espacial os
efeitos de contaminantes sobre o ecossistema, servindo como
uma importante ferramenta para averiguar a qualidade e a
saúde ambiental, sendo classificado como biomonitoramento
ativo ou passivo.
 No biomonitoramento ativo
 é realizada a exposição intencional de um ou mais organismos em
locais selecionados no ambiente.
 No biomonitoramento passivo
 é realizada a coleta de amostras de um ou mais organismos
presentes no ambiente, por meio dos mais diversos métodos de
captura.

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