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gestáltico
ARTIGO
RESUMO
ABSTRACT
Considering sexuality as an aspect of great relevance for human being global health,
this monograph discusses how women sexuality expressions occur, focusing
specifically on their sexual desire or interest disorder since it is very frequent, it has
implications for woman and couple sexual function, and also because its origin
derives from a variety of highly sensitive factors to psychotherapy treatment. Based
on this perspective, this monograph aims at expanding the theoretical-
methodological knowledge about sexual desire or interest disorder based on a
Gestalt-therapy perspective, searching for a higher qualification for the Gestalt-
therapist in the treatment of women and/or couples with such complaints. Thus, first
of all, it investigates the occurrence of human sexual functions and disorders based
on a consistent bibliographic survey; then, it discusses sexual desire or interest
disorder, focusing on the factors that have influence on its development and
maintenance and on its diagnosis; next, it approaches such disorder under the
perspective of Field Theory and of some fundamental Gestalt-therapy concepts (Self,
Awareness and Contact), pointing out some possible ways for psychotherapy
intervention in Gestalt-therapy for women and/or couples with such complaints.
Finally, it concludes highlighting some considerations about what has been
discussed so far, reinforcing its introductory aspect and the need for deepening
knowledge in this field.
INTRODUÇÃO
Cabe, então, ressaltar neste momento, que a sexualidade humana não deve ser
vista como reduzida à expressão sexual. Ela se constitui, na realidade,
Justificativa do Tema
Outros fatores determinantes para a escolha da citada Disfunção como tema deste
trabalho foi o interesse da especializanda pelo mesmo devido à sua experiência
clínica e o fato de existirem poucos estudos específicos na área da psicologia que
instrumentalizassem o gestalt-terapeuta no manejo desta disfunção. Os poucos
estudos existentes direcionavam seu olhar a mulheres que estavam enquadradas
em períodos específicos de vida como “na menopausa” e “na gravidez” ou “no
decurso de uma doença (diabetes e câncer, por exemplo)” e, em sua maioria,
estavam baseados na Teoria Psicanalítica.
1
Tradução minha: (...) um aspecto central do ser humano ao longo da vida e envolve sexo,
identidades de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é
experienciada e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores,
comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas
essas dimensões, nem todas elas são sempre experienciadas ou expressas. A sexualidade é
influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos,
culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais. (OMS, 2004)
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Metodologia
No quarto e último capítulo serão feitas algumas reflexões sobre o que fora discutido
ao longo desta monografia.
Seguiu-se a eles outra autora clássica, Helen Kaplan, que reviu o modelo existente e
propôs alterações nas etapas da resposta sexual, passando a valorizar a função do
desejo no desencadeamento da sexualidade. Estes dois modelos clássicos, datados
das décadas de 60 e 70, respectivamente, postulavam a linearidade das etapas da
resposta sexual humana, apesar de considerarem etapas diferentes de resposta
sexual, e pautavam-se mais em aspectos biológicos. Eles serviram de referência
para a conformação do conhecimento científico internacional sobre função e
disfunção sexual humana que se mantém até os dias atuais.
No final do século XX, estes modelos foram revisitados e uma nova proposta de
modelo de resposta sexual foi feita por Rosemary Basson. Esta proposta foi
motivada pelas especificidades do sexo feminino em relação ao masculino e
reconhecia a não linearidade das etapas que conformam a resposta sexual das
mulheres, bem como a importância da dimensão subjetiva para o seu adequado
funcionamento.
1ª. Fase de Excitação – a resposta sexual é iniciada por meio de uma adequada
estimulação física (através dos cinco sentidos humanos: tato, olfato, audição,
gustação e visão) e/ou psíquica (através de pensamentos e fantasias). Esta
estimulação causaria a excitação sexual de homens e mulheres, promovendo
alterações fisiológicas em ambos (a ereção, nos homens e a vasoconstrição da
vagina e da vulva, na mulher) de modo a deixá-los dispostos para o ato sexual.
3ª. Fase do Orgasmo – nesta fase ocorre o ápice da tensão sexual, com homens e
mulheres apresentando significativas alterações físicas (contrações rítmicas da
musculatura genital) e psíquicas (consciência subjetiva do orgasmo), que podem
variar em sua intensidade e duração, e que se configuram em uma sensação de
prazer máximo.
1ª. Fase de Desejo – esta fase pode ser anterior ao próprio contato sexual e se
caracteriza por fantasias sexuais e anseio pela atividade sexual.
2
Cabe ressaltar que Kaplan não contempla neste modelo a Fase de Resolução.
disposição da mulher para se focar em estímulos sexuais, que são influenciados por
fatores tanto biológicos quanto psicológicos e resultam em um despertar subjetivo
para a sexualidade. A continuidade da estimulação adequada permite a excitação
sexual e o prazer, desencadeando o interesse pelo ato sexual propriamente dito.
Neste estágio, o desejo sexual, ausente no início, agora está presente. Com a
intensificação da excitação e do desejo sexuais pode haver ou não o orgasmo. De
qualquer forma, a satisfação emocional e física ao final da atividade sexual
predispõe a uma maior receptividade da mulher a futuras atividades sexuais.
Diante das particularidades expostas acerca deste novo modelo do ciclo de resposta
sexual feminina, através de consenso entre especialistas, a FADU apresenta uma
classificação específica das principais disfunções sexuais que acometem às
mulheres. Esta categorização difere da apresentada pelos principais sistemas de
classificação nosológica (CID-10 e do DSM-IV).
Para uma compreensão mais ampla acerca das disfunções sexuais de homens e
mulheres é recomendada a utilização de um modelo teórico que contemple aspectos
biológicos, psicológicos, sócio-culturais e relacionais. Isto porque se acredita que
tais aspectos atuem de forma inter-relacionada seja no desenvolvimento, seja na
manutenção da disfunção. Espera-se também que com esta abordagem mais
ampliada se viabilize um diagnóstico e uma terapêutica das disfunções sexuais
potencialmente mais eficientes.
Segundo o DSM-IV:
É importante ressaltar que, de acordo com Abdo e Fleury (2006), quanto mais
precocemente ocorrer o comprometimento deste ciclo de resposta sexual humana,
mais prejudicada será esta resposta sexual e mais difíceis serão o quadro clínico, o
prognóstico e o tratamento da disfunção.
comportamento em adultos‟ (F60-F69). Estes últimos não serão aqui abordados por
fugirem à proposta deste trabalho.
Disfunções Sexuais:
Transtornos Orgásmicos:
302.76 – Dispaneuria
302.51 – Vaginismo
Parafilias
Sob este prisma, o modelo do ciclo de resposta sexual de Basson contempla tais
particularidades do gênero feminino e, juntamente com estudos realizados por um
Comitê com especialistas em sexualidade feminina da FADU, propõe uma
classificação das principais disfunções sexuais das mulheres. Tais especialistas
definiram as disfunções sexuais femininas como sendo “o comprometimento do
desejo e excitação sexual, do orgasmo e/ou dor sexual, provocando desconforto
pessoal significativo.”(FLEURY, 2004, p.18). São elas:
Disfunção Orgásmica.
Vaginismo.
Dispaneuria.
Neste momento, cabe salientar novamente o motivo que levou à escolha da citada
disfunção em detrimento das demais. Como já explicitado anteriormente, tal escolha
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Tradução minha: A aceitação de uma conceituação baseada em evidências sobre a resposta sexual
das mulheres combinando fatores interpessoais, contextuais, psicológicos e biológicos tem levado a
recomendações publicadas recentemente para a revisão de definições das desordens sexuais das
mulheres encontradas no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-
TR) da Associação Americana de Psiquiatria. (...) As definições revisadas consideram as várias
razões pelas quais as mulheres concordam ou instigam a atividade sexual e refletem a importância
do despertar sexual subjetivo. A conceituação subjacente de um ciclo de resposta sexual circular de
fases sobrepostas em uma ordem variável pode facilitar não apenas o acesso, mas também o manejo
da disfunção.
Diante de tais fatos e da temática em questão, uma pergunta se faz premente: o que
é desejo? Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis5, desejo significa:
Visto, então, de uma forma mais ampla, desejo é ação, é energia que move o ser
humano no sentido de sua satisfação, impulsionando-o para a vida. Pressupõe,
portanto, uma carência, uma falta e está referido e dependente de um outro (objeto
de desejo) que o satisfaça. Nesse sentido, o desejo não cessa, posto que nunca é
plenamente satisfeito.
Visto com foco na sexualidade humana, temática deste trabalho, desejo é energia
que impulsiona para as escolhas sexuais, sendo a base para as fantasias eróticas e
predispondo a mulher para o ato sexual. Vai além disso, sendo também a vontade
de ser amado.
Assim, o desejo sexual se caracteriza por um impulso que pode predispor a mulher a
participar ativamente da atividade sexual ou a tornar-se disponível, permitindo ao
seu corpo responder a circunstâncias que possam resultar em satisfação sexual,
seja ela oriunda do ato sexual em si ou de uma maior intimidade com o parceiro.
Esta – a necessidade de maior intimidade com o parceiro – é o grande diferencial
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Tradução minha: Um novo modelo da resposta sexual das mulheres reflete suas várias motivações
para serem sexuais e o fato de que fatores psicológicos e biológicos influenciam fortemente o seu
despertar.(...) Para aumentar a intimidade emocional com seu parceiro, as mulheres encontrarão ou
serão deliberadamente receptivas aos estímulos sexuais que podem potencialmente estar
despertando. Somente mais tarde, elas sentem especificamente a necessidade sexual para continuar
pelo bem das sensações sexuais, da tensão sexual e da possível libertação orgásmica. Um modelo
de despertar sexual subjetivo das mulheres reflete a atual modulação de suas emoções e cognições,
assim como de seu feedback genital altamente variável.
5
Disponível na internet: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues, acesso em 08 de dezembro
de 2008.
existente na resposta sexual das mulheres, segundo Basson, visto que deflagra o
desejo da mulher pelo ato sexual propriamente dito. Ela se caracteriza por
Etiologia e Diagnóstico
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Tradução minha: A Disfunção Sexual pode ser um sintoma de uma desordem subjacente, ou ter
causas fora da própria paciente. É importante evitar “patologizar” mulheres ao diagnosticar uma
desordem sexual baseada em uma resposta normal, tais como cansaço ou o efeito colateral de uma
droga. Simultaneamente, é essencial não supor que a disfunção está ausente ou desacreditar
simplesmente porque a causa é externa à paciente.
Fatores Predisponentes
Fatores Precipitantes
Alguns fatores podem precipitar o desenvolvimento de uma disfunção sexual
principalmente em mulheres que se apresentarem mais vulneráveis, elevando,
assim, os seus índices de ansiedade e afetando a sua auto-estima. Estes fatores
precipitantes estão geralmente relacionados à condições de vida específicas que
esta mulher está vivenciando e que podem ser percebidas como uma crise. Assim,
diferentes problemas no relacionamento (divórcio, perda do parceiro, infidelidade),
menopausa, experiências sexuais humilhantes, depressão e ansiedade e abuso ou
uso de drogas podem precipitar o aparecimento da disfunção sexual.
Fatores Contextuais
Os fatores interpessoais e contextuais estão relacionados à dimensão psicológica e
ao contexto sociocultural em que a mulher vive. São constituídos por situações onde
há perda de privacidade e tempo, distrações devido a exigências de trabalho e
filhos, problemas com a auto-imagem e preocupações em geral que interfiram na
experiência sexual, bem como situações insuficientemente eróticas.
Fatores Mantenedores
Alguns fatores podem ser os responsáveis por transformar fracassos sexuais
episódicos em disfunções sexuais mais graves, demonstrando uma falta de recursos
pessoais da mulher para lidar com os desafios normais que a vida apresenta. Esses
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Deve-se fazer, então, um diagnóstico diferencial, considerando que em alguns casos a Disfunção de
Desejo ou Interesse Sexual pode estar sendo secundária aos efeitos fisiológicos de uma condição
médica geral, do uso e/ou abuso de substâncias e de transtornos psiquiátricos.
Verifica-se, então, com esta caracterização, que uma multiplicidade de fatores pode
afetar a sexualidade das mulheres e fazer com que elas não se sintam à vontade
para explorar os próprios desejos e anseios, sendo esta uma condição necessária
para entrar em contato com seus sentimentos e sensações, principalmente os
relacionados à sua receptividade a excitação e desejo sexuais. Este fato corrobora,
portanto, que a investigação da disfunção de desejo ou interesse sexual de
mulheres, assim como das demais disfunções, deve ser feita de forma mais
ampliada, tentando abarcar esses complexos elementos que se interrelacionam e
juntos contribuem para o aparecimento e a manutenção da disfunção.
Com este intuito, Basson et al. (apud FLEURY, 2006) recomenda que o diagnóstico
da Disfunção de Desejo ou Interesse Sexual deva ser feito identificando-se também:
ajuda. “(...) devem-se investigar as condições do (a) parceiro (a), para se afastar
possíveis equívocos de interpretação ante o quadro referido pela paciente”. (ABDO e
FLEURY, 2006, p. 165) Isto porque um baixo desejo aparente em um parceiro pode
refletir, ao invés disso, uma necessidade excessiva de expressão sexual da parte do
outro ou mesmo uma disfunção sexual deste.
Formas de Tratamento
posto que desta forma ele entende que cabe somente a ele promover as mudanças
necessárias para o seu próprio desenvolvimento e, então, mobilizar os recursos que
possui na direção desse crescimento. Para tanto, coloca que é de fundamental
importância que este homem busque estar inteiro e completo no experienciar de
cada uma de suas vivências, expandindo seus conhecimentos sobre si mesmo e
sobre o meio no qual se encontra e com o qual estabelece contato. Acredita que
este contato viabiliza a ampliação do conhecimento do homem sobre si e sobre o
meio, fazendo com que ele possa vislumbrar novas e diferentes possibilidades de
ser e estar no mundo, estando o processo de mudança diretamente relacionado à
criatividade. Aponta ainda que este homem, apesar de único, singular em seu modo
de ser e agir, não é isolado, está constantemente em relação com o meio em que
vive, formando com o mesmo um sistema interligado e interdependente,
transformando-o na medida em que é por ele transformado. Assim, ao longo de toda
a sua existência e a partir do contato que estabelece com o meio em que vive, o
homem se encontra em um constante processo de construção de si mesmo.
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“O ajustamento criativo (Perls, 1951) é o processo de fazer contato com o meio ambiente através de
uma fronteira. Quando o ajustamento é saudável favorece o desabrochar da individualidade e o
florescer dos relacionamentos. (...) nesse processo a participação ativa do indivíduo. Não se trata de
adaptação a algo que já existe e sim de transformar o ambiente e, enquanto este se transforma, o
indivíduo também se transforma e é transformado”. (SILVEIRA, 2008)
Outra característica a ser enfatizada sobre a citada teoria é que, segundo ela, “o que
olhamos, como olhamos e o contexto de nossa observação determinam o que
observamos.” (YONTEF, 1998, p.196). Em decorrência, a realidade não é absoluta
ou objetiva, isto é, ela depende de quem a vê e ninguém consegue vê-la em sua
totalidade, mas apenas uma pequena parte da mesma. Deste modo, não somente o
comportamento humano seria resultante desta interrelação de diversas forças,
tornando-se diferente à medida que a interação entre elas é alterada, como também
a realidade percebida por essa pessoa é construída em função da configuração
dessas mesmas forças no campo.
Deste modo, “Mediante contato, cada pessoa tem a chance de encontrar o externo
de um modo nutridor” (POLSTER, 2001, p.110). Assim, o contato se caracteriza pelo
constante intercâmbio entre indivíduo e meio e ocorre nas fronteiras que delimitam
um e outro, diferenciando o que é indivíduo e o que não é indivíduo. Essas fronteiras
de contato geralmente são fluidas e flexíveis, tornando-se permeáveis, assimilando
aquilo que é interessante ou agradável, ou impermeáveis, rejeitando aquilo que é
danoso ao equilíbrio do indivíduo. Esta permeabilidade, contudo, varia grandemente
de pessoa para pessoa, havendo aquelas que apresentam amplas modificações na
fronteira do eu, estabelecendo bons contatos, e aquelas cujas fronteiras se
apresentam mais rígidas e inflexíveis, prejudicando a qualidade do contato. Essas
variações, chamadas funções ou disfunções de contato9, também podem ser
observadas ao longo da vida de uma mesma pessoa e são importantes para
manutenção da integridade do indivíduo.
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Não será objeto desta monografia aprofundar o conhecimento acerca de cada uma das funções e
disfunções de contato, sendo as mesmas simplesmente citadas.
Segundo Polster, não basta, então, apenas ver, ouvir, tocar,... mas ver, ouvir, tocar...
de modo mais inteiro e presente possível com a experiência. Deste modo, é o
contato aware, presente e envolvido, que implica necessariamente no crescimento
do indivíduo, posto que assim o mesmo se torna capaz de vislumbrar novas
alternativas de ser e estar no mundo, saindo de um padrão enrijecido de existir.
O autor ilustra tal situação referindo-se à função de contato visão e sinaliza que se
pode distinguir uma dicotomia em relação a esta forma de contato que também se
aplica às demais funções: “Um desses tipos é o contato evidencial, em que o olhar
nos proporciona orientação para acontecimentos ou ações que estão além do ato de
olhar em si mesmo. O outro é o contato em si.” (POLSTER, 2001, p. 143) Ele
enfatiza, então, que o indivíduo está mais acostumado a estabelecer um contato
evidencial com as coisas do mundo, isto é, está mais acostumado a contatar as
coisas do mundo com uma finalidade prática (“Vejo a máquina de escrever para que
eu possa datilografar (...)”). (POLSTER, 2001, p. 143). Em contrapartida, assinala
que o contato como um ato por si mesmo não é hábito tão comum ao indivíduo e
alerta que
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Awareness é compreendida como “(...) uma forma de experienciar; é o processo de estar em
contato vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/ambiente, com total apoio
sensório motor, emocional, cognitivo e energético.” (YONTEF, 1998, p.215)
ver, por ver, é pouco importante para nós. Isto reduz a ativação
na vida e provavelmente pode até reduzir também o contato
evidencial. Todas as funções precisam existir por si mesmas,
além de servir a propósitos meramente práticos. Assim,
aqueles que sentem prazer em ver têm maior probabilidade de
ser mais alertas e sensíveis também quando se trata de ver
evidencialmente. (POLSTER, 2001, p. 143)
Quando uma mulher ou casal chega ao consultório com esta queixa específica, o
gestalt-terapeuta não precisa focalizar apenas este aspecto da vida daquela(s)
pessoa(s). Entendendo que o desejo sexual da mulher é influenciado diretamente
pelo contexto em que esta vive, sendo responsivo a um estímulo provocado pelo
meio na mesma, o gestalt-terapeuta deve buscar ampliar o seu olhar para os
diferentes aspectos da vida desta mulher e mapear os componentes desse contexto
que podem estar contribuindo para o desenvolvimento e/ou manutenção da citada
disfunção sexual. Lembrando sempre que esta disfunção é entendida como o melhor
recurso disponível da mulher, em um dado momento, para lidar com uma
circunstância causadora de sofrimento (disfunção como sintoma), tem-se como
decorrência que não se objetiva, no processo terapêutico, a retirada desse sintoma.
O que se tem por objetivo é a ampliação do conhecimento da mulher acerca de si
mesma, de suas ações e reações ao longo das situações que ela vivencia. Com
base nestes conhecimentos sobre si e sobre o seu contexto, esta mulher terá maior
possibilidade de escolher a forma que deseja atuar no mundo nos mais diferentes
contextos. Assim no caso da Disfunção de Desejo ou Interesse Sexual, a mulher
poderá optar tanto pela manutenção quanto pela remissão deste sintoma.
Assim, através desta visão holística, cabe ao gestalt-terapeuta verificar cada tipo de
fator que pode estar deflagrando ou contribuindo para a manutenção do quadro de
Disfunção de Desejo ou Interesse Sexual na mulher: fatores biológicos, relacionais,
psicológicos e socioculturais, além de características da estimulação e do contexto
sexual. Ressalta-se, contudo, que esta divisão dos fatores que afetam a expressão
sexual feminina é apenas didática, posto que na realidade todos eles estão
imbricados na expressão da própria subjetividade na vivência sexual.
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Entende-se que não é papel do gestalt-terapeuta tratar tais questões biológicas, contudo ele não
pode deixar de reconhecer sua existência, devendo estar atento às mesmas devido à sua importância
no desenvolvimento e manutenção deste tipo de disfunção sexual.
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Médico ginecologista ou endocrinologista, dependendo do caso.
sobre anatomia, com foco no aparelho genital, e incitá-la a aguçar os seus sentidos,
explorando o próprio corpo e atentando para cada sensação.
Dessa forma, o uso dos sentidos humanos, que constituem as funções de contato,
deve ser estimulado, visto a importante influência que exercem no despertar da
sexualidade e do desejo sexual humano.
A função de contato visão, por sua vez, é uma das vias mais utilizadas,
principalmente na contemporaneidade, para a percepção do ambiente e do outro e,
por isso, apresenta uma considerável influência sobre o funcionamento sexual
humano. É por meio do contato visual que a mulher tem acesso mais fácil e rápido
às características, sexuais ou não, do parceiro e do ambiente em que se encontra, o
que pode se configurar em um estímulo deflagrador do desejo sexual.
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Como explicitado no capítulo anterior, segundo o modelo de resposta sexual feminina proposto por
Basson, o interesse da mulher pela intimidade com o parceiro é anterior ao interesse por sexo
propriamente dito e pode deflagrá-lo.
humanos, cada qual em um grau distinto, muitas vezes foram coibidos, tornando-se
um tabu para muitas pessoas, que passam a evitar fazê-lo. Tal repressão pode
ocasionar não apenas um receio de entrar em contato com as outras pessoas e o
mundo, mas também, e muitas vezes, pode levar a uma restrição de contato consigo
próprio(a). Assim, impede-se a livre exploração das sensações, a livre expressão
dos sentimentos e cria-se uma barreira natural de separação em relação a si e ao
outro, inclusive durante o sexo, podendo deflagrar, dentre outras coisas, disfunções
sexuais.
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O conhecimento do corpo e das sensações também é um importante trabalho a ser desenvolvido
com o casal.
15
Entende-se por „experimentos‟ os recursos utilizados pelos gestalt-terapeutas, que surgem no
contexto do setting terapêutico, a fim de ampliar a awareness do cliente. Como diz Juliano (1999, p.
27): “O experimento proposto tem sempre a finalidade de afinar, sublinhar, focalizar, amplificar,
clarear o tema emergente. A amplitude desse experimento vai variar muito de acordo com o momento
vivido e com a fase em que se encontra o cliente.”
contato que ela estabelece com o outro e consigo mesma e com a ampliação da
sua awareness.
O gestalt-terapeuta deve estar vigilante ainda para o fato de que as mudanças nos
diversos papéis que a mulher pode assumir ao longo de sua vida, além daquelas
transformações ocorridas ao longo dos tempos, poderão influenciar a disponibilidade
da mulher também para a vida sexual.
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Em casos onde a queixa principal é de disfunção sexual, esta pode ser ainda um agravante às
discussões e desentendimentos do casal.
uma vez este fato se faz mais marcante no caso da mulher, que, queixosa do
parceiro e/ou desta relação, muitas vezes não quer compartilhar suas experiências
íntimas com o mesmo, não possuindo motivação para expressar-se para ele, ainda
mais expressar-se sexualmente. Deste modo, o estímulo à comunicação entre o
casal no processo terapêutico fortalece esta habilidade em ambos, que não a
utilizarão apenas neste âmbito restrito de seu relacionamento afetivo, podendo
desenvolvê-la cada vez mais em outros âmbitos de sua vida.
Cabe ressaltar, neste momento, o que se entende por comunicação:
Tendo por base, então, tal concepção de comunicação, é importantíssimo que estes
parceiros se comuniquem, falem e ouçam aberta e respeitosamente o que sentem, o
que gostam e desejam e o que os incomoda. Para tanto, é essencial que ambos se
conheçam, saibam daquilo que gostam e não gostam, do que lhes gera prazer e do
que não lhes é prazeroso. Acredita-se, então, que a partir do momento em que a
mulher conhece a si mesma e também ao parceiro, há uma maior proximidade e
consequente intimidade entre eles, viabilizando uma maior fluidez no relacionamento
como um todo e refletindo-se diretamente na relação sexual.
É importante, então, que seja dada uma ênfase especial ao aspecto comunicacional
no processo de psicoterapia, promovendo experimentos que tentem facilitar o ato de
falar e de ouvir de modo claro, ao desenvolvimento de recursos pessoais para
vivenciar um relacionamento íntimo, expressar seus sentimentos e pensamentos,
conhecer o próprio corpo e o corpo do parceiro, os estímulos que lhes dão prazer e
dão prazer ao outro. Algumas propostas de experimentos podem ser: trabalho de
consciência corporal e de sensibilização, utilização de recursos como espelho,
música, desenhos, projeção, distanciamento-aproximação do casal durante a
sessão, ficar frente a frente um com outro, olhar, sentir a temperatura da pele um do
outro, etc. Cabe ressaltar, entretanto, que alguns destes experimentos poderão ser
realizados no próprio consultório, sendo outros, de caráter mais íntimo, realizados
em casa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de tecer considerações acerca do que fora abordado neste trabalho, faz-se
necessário destacar uma dificuldade que esteve presente desde o início do seu
desenvolvimento: o levantamento das informações e dos conhecimentos existentes
em livros, artigos e pesquisas das áreas da sexualidade humana e da Gestalt-
Terapia que abordassem a Disfunção de Desejo ou Interesse Sexual.
Por compreender que a visão sobre a citada disfunção está em acordo com a
Gestalt-Terapia, tentou-se, neste trabalho, fazer exatamente uma aproximação de
caráter introdutório entre tais teorias de modo a ampliar não só o conhecimento
acerca da Disfunção de Desejo ou Interesse Sexual como também os recursos
psicoterapêuticos de abordagem gestáltica para a intervenção com mulheres e/ou
casais que apresentam este tipo de queixa.
Ao final deste trabalho, acredita-se ter alcançado tal objetivo, pelo menos no que
concerne à autora do mesmo, que pôde mergulhar neste vasto campo ainda pouco
explorado e tentar articular as possíveis interfaces entre a Disfunção de Desejo ou
Interesse Sexual e a Gestalt-Terapia.
REFERÊNCIAS
KAPLAN, HS. A nova terapia do sexo. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1977.
OBRAS CONSULTADAS
E-mail: fabidutra@hotmail.com