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TEMAS PARA PROJETO DE PESQUISA

1) Protagonismo do estudante
Romper com um aprendizado passivo, mesmo quando a tecnologia está
presente, é essencial para começar a mudar a maneira com que se aprende. Em
segundo lugar, ter à disposição um currículo que, além de apresentar novos
conhecimentos reforça o desenvolvimento de habilidades, precisa estar no
topo da lista de lideranças escolares e de secretarias de ensino. É assim que
o Porvir acredita que a escola pode encontrar um caminho para se conectar
cada vez mais aos estudantes.

“A escola é território potente e importantíssimo para que estudantes


desenvolvam competências para protagonizarem a própria história,
transformar a realidade e exercer a cidadania ativa”, afirma Cris Stefanelli,
coordenadora de projetos da Fundação Educar.

Segundo ela, construir caminhos e oferecer condições para a promoção da


autonomia passa pelo acreditar na potência dos estudantes – com olhar
apreciativo e entusiasmado. E mais: “É pelo construir espaços de diálogo e
participação; por proporcionar oportunidades para a conexão com a vida real,
a resolução de problemas e a tomada de decisões. Ser a escola que é ponte
para grandes possibilidades.”

Protagonismo do estudante ganha força quando refletido no


currículo
Crédito: Photo by Allison Shelley/The Verbatim Agency for EDUimagesMetodologias ativas
demandam um novo olhar para avaliações / Crédito: Photo by Allison Shelley/The
Verbatim Agency for EDUimages

2) Metodologias ativas
Preparar o estudante de hoje para entender o mundo ao seu redor não é uma
tarefa que vai ser resolvida do jeito que a escola sempre foi e sempre se
comportou. É preciso encontrar metodologias que proporcionem o
protagonismo e ofereçam ao professor maneiras acolhedoras e eficientes de
alcançar os diferentes ritmos de aprendizagem, sem deixar ninguém para trás.

Tal tarefa somente será possível com professores bem formados capazes de
entender em quais momentos do currículo a diversificação é necessária para
superar dificuldades comuns a toda a turma ou específicas de cada estudante.

Fazer do jeito que sempre foi feito não é uma abordagem capaz de dar conta
do cenário tão assimétrico entre os níveis de aprendizagem de uma mesma
turma após a pandemia. As avaliações de larga escala precisam estar alinhadas
às avaliações formativas, que trazem informações mais ágeis sobre a situação
de cada aluno e permitem intervenções rápidas.

E o que pode ser feito no curto prazo? É abrir espaço para o registro de
práticas pedagógicas mesmo quando o estudante considera que não está tudo
pronto, à autoavaliação e à avaliação por pares. Desta forma, o professor
consegue avaliar as habilidades desenvolvidas, não desenvolvidas e em
desenvolvimento, para intervir com maior certeza do que em uma prova ao
final do bimestre. Como já demonstrou a educadora Heloize Charret em
artigo para o Porvir, avaliar significa manter uma postura constante de coleta
de dados variados (procedimentais, factuais e atitudinais) sobre o
desenvolvimento dos estudantes para a tomada de decisão.

Guia Educação Mão na Massa

3) Educação antirracista
Superar as lacunas já conhecidas e ampliadas pela pandemia da Covid-19
implica atuar decisivamente contra a desigualdade racial do sistema
educacional. Esse trabalho passa diretamente pelo reconhecimento de uma
série de atitudes e posturas presentes no cotidiano da escola que evidenciam o
racismo estrutural da nossa sociedade.

Grupo populacional que mais sofreu com a pandemia, que mais teve
dificuldades em ter acesso à tecnologia e que mais abandona a escola,
estudantes negros precisam contar uma escola na qual se sintam pertencentes
e consigam não só ter acesso à educação, mas a uma educação de qualidade.

“A educação antirracista deveria ser parte intrínseca do currículo em todos os


anos, entretanto, nosso histórico apagou essa possibilidade, tornando
necessário um esforço do educador para que o tema entre de fato nas escolas”,
diz Suzane Jardim, professora e historiadora especializada em questão racial.

Ela argumenta que, quando o tema não é tratado na escola, o estudante sai
perdendo. “Estamos prejudicando nossos alunos, que terão dificuldades de se
posicionar e se colocar diante da presença da questão no cotidiano, seja nas
redes sociais, nos jornais, nas discussões em família e até mesmo em
avaliações como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que tem
buscado trazer fragmentos da questão nos temas de história, por exemplo”.

Qualificar o debate em sala de aula depende da superação de antigas maneiras


diante do racismo, segundo a educadora. A realidade mostra como é errada a
lógica da democracia racial, na qual “somos todos humanos” e “não vemos
cores”. Isso silencia o tema, diz Suzane, e torna o professor inapto para
debater educação antirracista de um modo aberto que promova consciência em
vez de promover mais silêncio.

Já Nilma Lino Gomes, educadora e ex-ministra das Mulheres, Igualdade


Racial e dos Direitos Humanos, comenta que o tema precisa estar mais
presente a partir de políticas públicas. “Penso que é importante retomar as
políticas do Ministério da Educação com editais de pesquisas que visem o
estado da arte da educação antirracista no Brasil e práticas pedagógicas em
educação antirracista, bem como apoio à realização de seminários nacionais,
estaduais e locais.

Em outro nível, Nilma menciona que também é importante que estados,


municípios e universidades construam cursos de especialização,
aperfeiçoamento e programas de extensão voltados para a formação em
serviço de docentes de escolas públicas e privadas sobre escola democrática e
educação antirracista.

Jogo da Lei 10.639 ajuda educadores a promoverem uma educação


antirracista

4) Tecnologia
As tecnologias digitais são cada vez mais presentes em nossas vidas e, por
isso, precisam ser abordadas nas escolas. Para integrar esses recursos de forma
crítica e significativa na sala de aula, no entanto, é necessário que educadores
tenham suas competências digitais desenvolvidas.

Diretora da consultoria educacional Redesenho Edu, Julci Rocha, também


doutoranda em tecnologias da inteligência e design digital pela PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ressalta é fundamental que,
neste cenário, escolas e redes criem oportunidades para que educadores
tenham suas competências digitais desenvolvidas e consigam integrar esses
recursos de forma crítica e significativa na sala de aula.

“É importante que a formação vá além do treinamento em ferramentas


específicas e inclua o desenvolvimento de competências digitais. Sem isso,
corremos o risco de prejudicar os estudantes, que poderão ter dificuldades
para fazer um uso adequado das tecnologias digitais. Na educação, um uso
acrítico pode impedir que os professores aproveitem os recursos digitais para
melhorar o ensino e o desenvolvimento integral dos estudantes”, afirma.

Se você acompanha o noticiário de tecnologia nas últimas semanas, sabe


que sistemas de inteligência artificial deram um grande salto. O ChatGPT,
que imita conversas com o usuário, estará no buscador Bing, da Microsoft,
enquanto o Google também terá um recurso semelhante integrado.

“Um recurso como esse pode colocar alguns educadores e escolas em um


lugar de desconforto, caso atuem em um modelo mais transmissivo e não no
desenvolvimento integral dos estudantes. Por isso, reforço que a grande
tendência, para mim, deve ser oferecer oportunidades de desenvolvimento dos
educadores (e licenciandos) que efetivamente tenham foco nas competências
digitais e na transformação do modelo de ensino-aprendizagem”, diz a
especialista.

ChatGPT: inteligência artificial bate à porta da escola. E agora?

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Escolas que inspiram com os olhos

5) Projeto de Vida
O esforço de resgatar o interesse dos estudantes pela escola demanda apoio
para que eles consigam traçar objetivos pessoais de forma estruturada. Samuel
Andrade, educador e líder da frente de materiais pedagógicos do Instituto
iungo, diz que o desenho de um projeto de vida é mais complexo que
estabelecer resoluções de início de ano.

“Construir projetos de vida é um exercício constante de olhar para si, para um


contexto em transformação, para as relações pessoais e sociais, e sobre como
se entender dentro desse novelo de relações”, afirma. Samuel afirma que, após
tantas mudanças e dificuldades impostas pela pandemia, “é importante que na
escola sejam pautadas aprendizagens que provoquem e apoiem os estudantes
para a compreensão da complexidade desses fatores é um importante aspecto
do porquê ter Projeto de Vida como tema prioritário”.

O trabalho com este componente também está relacionado com a construção


de valores coletivos. “A BNCC (Base Nacional Comum Curricular), por
exemplo, fala de princípios democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Algumas perguntas surgem como chave para reflexão em nossas práticas
como educadores: quais valores queremos compartilhar, fortalecer e construir
com nossos alunos em 2023? Como podemos relacionar esses valores com
outras aprendizagens pautadas pela escola?”, questiona Samuel. Após um
primeiro ano de implementação de mudanças no ensino médio, ele vê o
trabalho com projetos de vida nas escolas ampliado ou consolidado, tanto pelo
componente específico quanto pelo trabalho transversal a todo o percurso de
escolarização dos estudantes.

Como fazer um bom plano de aula de Projeto de Vida

6) Inclusão e diversidade
Com a volta às aulas, a diversidade – característica da natureza humana – se
faz mais presente, destaca a socióloga Marta Gil, fundadora e coordenadora-
executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas. Para ela, a inclusão é
muito mais do que importante, é um direito constitucional. E o que esperar do
ano letivo? “Chegam à escola alunos com deficiência ou outras condições em
maior número, crianças sem deficiência, mas que não exercitaram seus
músculos por ficarem nas telinhas, há o aumento da expectativa dos pais para
‘recuperar o tempo perdido’ e, talvez, a própria expectativa dos professores
em relação à sua atuação”, afirma.

Para Marta, uma das especialistas mais renomadas em educação no Brasil, não
se trata de recuperar a aprendizagem, mas sim de recompô-la, aplicando
estratégias que visam minimizar as desigualdades, por qualquer razão.
“A educação inclusiva tem muito a oferecer, com suas estratégias que
concretizam os conceitos e estimulam a participação ativa. Diversidade e
inclusão beneficiam a todos: alunos com e sem deficiência e a equipe
educacional”.

Para os estudantes, Marta deixa uma dica: “Ao preparar a mochila, material
escolar, uniforme e tênis, que tal levar também a vontade de conhecer colegas
que podem parecer diferentes – pela cor de sua pele, pelo sotaque ou por ter
uma característica diferente da sua: podem não enxergar ou ouvir; podem se
movimentar do jeito deles, precisar de mais tempo para aprender ou de vez em
quando ter uma reação diferente da sua – e está tudo bem. Todos nós somos
diferentes. Todos nós podemos aprender cada um do seu jeito e no seu
tempo”.

Educação inclusiva é educação para todos


Crédito: Brasil2/Getty Images/CanvaProDesmatamento na floresta Amazônica / Crédito:
Brasil2/Getty Images/CanvaPro

7) Educação climática
A escola é extremamente importante para ajudar a compreender que o clima
definirá o futuro, influenciando o que cada um vai comer, onde trabalhará e o
que será discutido. “Tudo o que você fará estará relacionado ao clima”, disse
Matthew Shirts, jornalista autor do livro “Emergência Climática”
em entrevista recente. Uma educação que se preocupe com o mundo real,
portanto, precisa colocar o tema de mudanças climáticas entre suas
prioridades.

E nesse trabalho de conexão à realidade dos estudantes, existe uma ligação


entre o impacto da crise climática, justiça social a população negra, maioria
entre os mais pobres. Marina Marçal, advogada, ecofeminista e especialista
em política climática, ciências jurídicas e sociais, gênero e relações étnico-
raciais.

“Sabendo que a nossa população é majoritariamente composta por negros e


mulheres, as pessoas mais afetadas pela mudança do clima têm raça e gênero
bem definidos e se encontram na base da pirâmide social brasileira. Se não
avançarmos no ensino da educação climática em todos os níveis da educação,
sofreremos as consequências desta escolha, aumentando o número de doentes,
de pessoas em situação de migração e até mesmo o número de mortes
causadas por grandes catástrofes.”

Marina lembra que, de acordo com a Constituição Federal, todos temos direito
a um meio ambiente equilibrado. “O Brasil é o primeiro país da América
Latina a ter uma Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecida pela
lei federal 9795/1999, que afirma que todo indivíduo tem o direito à educação
ambiental formal e não-formal em todos os níveis e modalidades de ensino”.
Não se trata, portanto, de radicalizar o discurso, porque o alarme soa em
diferentes cantos do país.

Mathaus Torres, secretário-executivo da Em Movimento, instituição que


desenvolve pesquisas para fortalecer o campo das juventudes com dados e
evidências, considera que o tema da educação climática deve estar presente na
escola para que crianças e adolescentes possam entender seu papel diante da
crise e, a partir disso, conseguir desenvolver o senso crítico e fazer boas
escolhas nas eleições, lutar por um mundo mais justo e sustentável.

“A educação climática é um tema que está no nosso dia a dia, seja para um
jovem que more no interior da Bahia e está vivenciando um alagamento por
um ciclo de chuvas inesperado, seja um jovem que está no Norte Global,
passando por situações de frio extremo no Canadá. As pandemias também nos
ensinaram que, pelos estudos, pelos dados, elas podem ocorrer, cada vez com
mais frequência, por causa das mudanças climáticas.

Com todos esses argumentos, a educação climática pode ser o fio condutor de
atividades interdisciplinares, sendo trabalhada em diferentes aspectos por
professores de ciências, matemática, história, geografia, português, física,
inglês…

8) Educação socioemocional
A pandemia mostrou que trabalhar somente a questão das competências – que
normalmente são chamadas de cognitivas – não dá conta de preparar um
estudante para viver e conviver na contemporaneidade. Silvia Lima, gerente
de projetos em formação de educadores no Instituto Ayrton Senna, defende
um olhar para múltiplas dimensões que precisam ser formadas.
Tendo a família como parceira, a escola precisa realizar um trabalho
intencional que olhe e que desenvolva de forma muito estratégica essas
múltiplas dimensões desses estudantes, sendo alguém que aprende, que tem
afeto e que é afetado, alguém que tem a sua religião e sua crença, que tem a
sua história e que precisa ser valorizado. “É olhar para esse indivíduo e pensar
no desenvolvimento pleno que se dá via educação integral”.

Por meio de atividades colaborativas, Silvia afirma que a escola pode atuar
contra situações de bullying e violência. “O trabalho da escola é educativo e
preventivo, fortalecendo essas competências que se dão por meio do convívio
com os outros”.

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