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Tema: entraves para a inclusão de idosos na esfera digital.

No filme estadunidense “O Senhor estagiário”, observa-se o retorno de um


aposentado ao mercado de trabalho em uma grande empresa de moda, na qual – de forma
humorada e transformadora – a interação com pessoas mais novas e a sua adaptação ao
novo emprego funcionam com atenção e respeito. Infelizmente, a inclusão de idosos na
seara virtual distancia-se do abordado no filme, em que diversos longevos brasileiros não
usufruem do direito a uma inserção na internet com dignidade. Nesta senda, a
inaplicabilidade das leis aliada à falta de alteridade apresentam-se como os principais
precursores do estabelecimento desta problemática no país.
Diante desse cenário, salienta-se a inobservância legislativa como elemento de
intensificação do problema. Com efeito, o Estatuto da Pessoa Idosa (EPI), promulgado em
2003, estabelece, em seu artigo 21, que toda a população senil brasileira deve ter
oportunidades de acesso à educação, ou seja, é possível interpretar que a principal lei de
proteção à terceira idade prevê mecanismos de inclusão desse grupo no que se refere ao
uso de ferramentas virtuais. Entretanto, a realidade tupiniquim evidencia uma
vulnerabilidade no manejo da internet quando se trata de idosos, visto que a maioria deles
não sabe fazer operações mínimas, como a criação de contas em redes sociais; o uso de
aplicativos bancários e a proteção de senhas. Dessa maneira, esse grupo fica submetido a
uma condição de subcidadania, com direitos positivados, mas não evidenciados na
prática.
Além disso, a ausência da prática de alteridade por parte da sociedade corrobora um
descaso adjacente ao entrave em debate. Segundo o filósofo russo Mikhail Bakhtin, é na
relação com a alteridade que os indivíduos se constituem, isto é, o ser se reflete por meio
do outro, todavia, a população brasileira não assessora a terceira idade ou percebe sua
vulnerabilidade no âmbito virtual. Sob esse viés, acentua-se a negligência para com o
indivíduo idoso, o qual – socialmente – é invisibilizado quanto às suas necessidades
básicas, dentre elas a inclusão digital, preceito que se tornou indispensável para a vida
digna em sociedade. Portanto, o agir quanto a esse impasse não pode se restringir somente
às ações legislativas, mas precisa considerar o papel do corpo social a partir do exercício
da alteridade.
Destarte, evidencia-se que tanto o desrespeito ao Estatuto do Idoso quanto a falta de
empatia social são desafios à inclusão de anciãos na internet. Logo, é dever do Poder
Legislativo – cuja função é criar e ordenar as leis que regem o país – ampliar o que dispõe o
art. 21 do EPI para garantir plena inclusão de idosos no manejo do âmbito virtual. Essa
medida será possível com apoio da sociedade, a qual – engajada pela causa – deverá atuar
junto aos longevos em cursos de capacitação e de formação para o uso da web, assim, será
possível garantir à terceira idade brasileira o devido usufruto de seus direitos,
assemelhando-se ao que se experencia no filme “O Senhor Estagiário”.

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