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DIAS. Tatiana. Sistema de Cotas Raciais Inclusão em Meio À Controvérsia Nexo Jornal. 24 Fev. 2016.
DIAS. Tatiana. Sistema de Cotas Raciais Inclusão em Meio À Controvérsia Nexo Jornal. 24 Fev. 2016.
EXPLICADO (/EXPLICADO/)
Política é adotada em universidades para corrigir diferenças históricas. Mas ainda é vista por muitos como uma injustiça
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SISTEMA DE COTAS É ADOTADO NO BRASIL DESDE OS ANOS 1990. E JÁ HÁ RESULTADOS NA CORREÇÃO DA DESIGUALDADE
O Brasil adota o sistema de cotas nas universidades de diferentes formas desde o início da década passada. A prática de reservar vagas em c
implementada sob o argumento de tentar corrigir diferenças históricas que resultaram em padrões desiguais de inclusão social e, mais espe
estudantes de escolas públicas e de baixa renda, e as raciais, destinadas a negros (pretos e pardos) e indígenas.
Os críticos argumentam que reservar vagas para pessoas de determinada cor ou etnia é injusto com os outros estudantes, tende a reduzir a q
racismo, ao discriminar estudantes sem ser pelo mérito. No entanto, a política, apesar de polêmica, tem mostrado bons resultados. Este text
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30/06/2023, 15:31 Sistema de cotas raciais: inclusão em meio à controvérsia | Nexo Jornal
Esse histórico tem reflexo até hoje nas diferenças socioeconômicas entre negros e brancos no país. Pretos e pardos correspondem à metade
população preta e 13% da parda têm ensino superior. Entre os brancos, o número é de 31%.
A diferença no nível de escolaridade se reflete também na renda. Segundo dados de 2015 do IBGE
(http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000024954801102016481128904912.pdf) , o salário da população
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Em contextos como esse, surge a possibilidade de realizar políticas de ação afirmativa, que se caracterizam por medidas temporárias que vis
As cotas raciais nas universidades querem corrigir essa desigualdade. Elas partem do princípio de que a livre concorrência é injusta quando
para que uma porcentagem de vagas seja reservada a grupos raciais específicos é que, em razão das condições históricas, eles têm menos ch
Esse tipo de medida, no entanto, tem caráter temporário. A lógica é que, quando mais negros estiverem nas universidades, tiverem formaçã
trabalho, maiores serão as chances de que as próximas gerações de negros e brancos tenham igualdade de oportunidades e, portanto, as cot
Ao dar a oportunidade de que esses grupos se incluam em sistemas dos quais estão historicamente excluídos - as universidades, por exempl
formação, pelo aumento das chances no mercado de trabalho ou pela criação de relações sociais.
A Constituição Brasileira de 1988 foi pioneira ao determinar que uma porcentagem de cargos e empregos públicos deveria ser ocupada por p
afirmativa do país.
Na década de 1990, o movimento negro passou a se articular com o governo federal para que fossem adotadas ações afirmativas em univers
jovens entre 18 e 24 anos que se declararam negros havia frequentado uma universidade, segundo o Censo (http://www.estadao.com.br/no
quadruplica-mas-91-ainda-estao-fora-imp-,946579) .
O Rio de Janeiro foi o primeiro Estado a adotar cotas, no ano 2000, com uma lei que reserva 45% das vagas nas universidades estaduais par
seguinte, adiciona mais uma cota com critério de cor. A UnB (Universidade de Brasília) também adotou na mesma época um sistema semelh
vagas eram reservadas a negros e índios.
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A adoção de cotas pela UnB foi contestada por uma ação judicial movida pelo partido político DEM em 2009, segundo a qual as cotas criaria
ação inclui a defesa da Carta Brasileira, que determina que “todos são iguais perante a lei”.
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal determinou por unanimidade que as cotas raciais são constitucionais e necessárias para corrigir o his
afirmativas não são a melhor opção, mas são uma etapa. O melhor seria que todos fossem iguais e livres”, disse na ocasião a ministra Carme
Naquele mesmo ano, a presidente Dilma Rousseff sancionou a primeira política de reserva de vagas em nível nacional.
As cotas para pessoas pretas, pardas ou indígenas devem ser preenchidas de acordo com o percentual dessas etnias em cada Estado.
A Lei de Cotas começou a ser aplicada de maneira gradual. A expectativa para 2016 é que, de fato, metade das vagas do sistema federal de en
públicas.
As cotas raciais dividem opiniões. Há negros que militam pelas cotas e há negros que as condenam. Há acadêmicos que defendem a adoção
política. Apoiadores e defensores estão em um amplo espectro político.
Em 2006, época em que se discutia a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial, um grupo de mais de 120 intelectuais assinou um manif
contra a reserva de vagas por critério racial. Na lista há nomes como o cantor Caetano Veloso, o poeta Ferreira Gullar, o sociólogo e professo
Bernardo Sorj, e a antropóloga e professora emérita da USP (Universidade de São Paulo), Eunice R. Durham.
“Políticas dirigidas a grupos ‘raciais’ estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até mesmo produzir o efeito con
possibilitando o acirramento do conflito e da intolerância”, dizia o manifesto.
O integrante do Movimento Brasil Livre Fernando Holiday se tornou outro porta-voz de oposição às cotas. Negro, ele gravou um vídeo no Y
ninguém”. “O governo se mostra preconceituoso a partir do momento que se institui cotas raciais, porque ele está admitindo que eu, só por
dos outros. Isso não é justo.”
A MISCIGENAÇÃO
Mesmo que se leve em conta aspectos biológicos - a tonalidade da
pele - críticos dizem que, no Brasil, diferente de outros países
como África do Sul e EUA, a comunidade negra não tem limites
claros. Por ser um país miscigenado, é difícil estabelecer um
padrão de ‘pureza’ para a raça: os limites são difusos.
POSSÍVEIS FRAUDES
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Para serem aplicadas, as cotas dependem da autodeclaração do
candidato, o que abre espaço para fraudes, ou da avaliação de
comitês, o que cria uma espécie de “tribunal racial”, segundo as
palavras dos integrantes do DEM, que pediram a
inconstitucionalidade das cotas no Supremo Tribunal Federal.
Apesar das críticas, no entanto, o sistema de cotas brasileiro pode ser avaliado como bem-sucedido. Isso por que, em primeiro lugar, as cota
no Brasil. Dos 1,8% de 1997, a porcentagem de negros no ensino superior saltou para 11,9% em 2011. Além disso, o número de matrículas en
brancos.
Em 2014, a população preta, parda e indígena conseguiu 30,9% das vagas nos institutos federais e 22,4% nas universidades.
Diante dos dados objetivos, alguns dos argumentos contrários às cotas sociais e raciais ficaram sem sustentação. Em geral, o desempenho d
no vestibular quanto nas disciplinas ao longo da universidade.
Em 2016, a nota de entrada dos cotistas na Universidade Federal de Minas Gerais foi superior à nota dos não-cotistas em 2013, último ano e
universidade adota o Sisu (Sistema de Seleção Unificado) e reserva 50% das vagas para estudantes oriundos de baixa renda, com parcela pa
de Cotas.
“Os cotistas entram na UFMG mais bem preparados que os não cotistas de poucos
anos atrás.
Ricardo Takahashi
Estado de Minas
Pró-Reitor de Graduação da UFMG, ao jornal
(http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2016/01/26/internas_educacao,7283
18/nota-de-alunos-que-ingressam-na-ufmg-pela-cota-ja-supera-a-dos-nao-cot.shtml)
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No Sisu, para as vagas de medicina nas universidades federais, por exemplo, as notas de corte foram de 787,56 pontos. Entre os cotistas, 76
Estadual do Rio de Janeiro), no curso de administração, a média dos cotistas foi bem inferior - 30 contra 56 dos não cotistas - mas, na avali
cotas se saiu ligeiramente melhor: média de 8,07 contra 8,04.
Na mesma universidade, um levantamento interno mostrou que a nota média dos beneficiários das cotas era 6,41; a dos não-beneficiários, 6
nos cursos. O desempenho deles é ótimo”, disse Teresa Olinda Caminha Bezerra, pesquisadora da UFF (Universidade Federal Fluminense)
(http://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/viewFile/12650/9213) de cotistas e não-cotistas da Uerj (Universidade E
Na UFBA (Universidade Federal da Bahia), que reserva 36,5% das vagas a estudantes negros de baixa renda, pesquisadores perceberam que
desempenho acadêmico dos estudantes cotistas se igualava ou até mesmo ultrapassava o de não-cotistas, especialmente nas disciplinas de h
“Os alunos cotistas demonstraram que tinham potencial efetivo para cursar o ensino
superior na UFBA.”
Antonio Sérgio Alfredo Guimarães (USP), Lilia Carolina Costa (UFBA) Naomar
de Almeida Filho (UFBA)
Pesquisadores, em levantamento
(http://www.fflch.usp.br/sociologia/asag/Inclusao%20social%20e%20rendimento%20escolar.
pdf) sobre o desempenho na UFBA
As cotas não são consideradas uma solução definitiva para o problema de ensino, mas uma medida paliativa para corrigir desigualdades his
estruturais na educação, que garantam maior acesso da população negra e de baixa renda ao sistema de ensino.
Além disso, são necessárias também medidas que garantam que os cotistas permanecerão na universidade e concluirão o ciclo de ensino sup
permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática”, diz um documento produzido (https://www.ufmg.br/inclusaosoci
Hélio Santos, militante histórico do Movimento Negro e uma das primeiras vozes a lutar por política de
cotas no Brasil, pede um endurecimento (http://www.geledes.org.br/cotas-raciais-o-acinte-das-
fraudes/#gs.CWaXvRI) contra quem frauda o sistema . “Sem punições exemplares, a impunidade fica Militante pede
estabelecida como direito de aviltar políticas duramente conquistadas”, escreveu. sistema
Para Petrônio Rodrigues, doutor em História pela Universidade de São Paulo e pesquisador do movimento
negro, um modelo de cotas razoável deveria respeitar a porcentagem da população negra do local em que
fosse aplicado. “Desse modo, o corpo discente da universidade vai representar mais fielmente a composição racial do Estado no qual estiver
(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782005000200013#nota11) sobre o tema.
Já o pesquisador Álvaro Mendes Júnior, doutor em economia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), defende a exclusão do cr
que, em alguns casos (ele analisou especificamente a Uerj), a inclusão de pretos e pardos já aconteceria se só o recorte de renda fosse utiliza
seriam cinco negros que ingressariam na universidade no lugar de cinco brancos.
Isso aconteceria porque, proporcionalmente, o número de negros em classes socioeconômicas mais baixas é maior. Ao mesmo tempo, está a
em escolas públicas. “Mesmo os critérios sociais já aumentam de forma significativa o número de pretos e pardos na universidade”, diz.
Cada país tem um histórico e um contexto muito diferentes. Levando isso em conta, porém, é possível entender os motivos que levaram cad
de ensino superior.
O primeiro deles foi a Índia, em 1933, que instituiu cotas universitárias para castas inferiores. Foi uma forma de garantir a inclusão dos cha
Na África do Sul, há vários tipos de cotas. As empresas têm incentivos governamentais conforme a porcentagem de negros empregados. As u
admissão conforme a raça do candidato. Há também um plano de se adotar cotas raciais em esportes como o críquete, o futebol e o rúgbi.
Nos EUA, cotas raciais começaram a ser aplicadas nas décadas de 1960 e 70 para garantir que negros fossem incluídos em instituições majo
de inclusão de latinos. Mas várias decisões judiciais ao longo das décadas vieram em sentido contrário. A última delas, em 2014, vetou trata
proibição (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/04/justica-dos-eua-valida-proibicao-de-cotas-raciais-em-universidade.html) do crité
constitucional. Uma pesquisa do instituto Pew Research Center, no entanto, aponta que 63% dos americanos apoiam as cotas raciais.
Ayres Britto
Ministro do STF, na votação sobre a constitucionalidade das cotas
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30/06/2023, 15:31 Sistema de cotas raciais: inclusão em meio à controvérsia | Nexo Jornal
“Os negros e outras minorias oprimidas não têm que exigir que o Estado os tutele com
reservas de mercado ou leis específicas, mas sim que o Estado cumpra bem o seu papel
mínimo.”
Éder Souza
Historiador pela USP
"De fato melhorias têm ocorrido, mas a diferença ainda é muito importante. A
melhoria pode ser atribuída a questões como escolaridade da população como um todo
que vem aumentando, permitindo que as pessoas obtenham empregos com maiores
rendimentos, assim como também ao aumento do poder aquisitivo da população, que
gera um aumento de vagas no comércio, por exemplo."
EM ALTA
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