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MÓDULO 1

AULA 1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL .................................................................. 2


A. Divisão do Curso ....................................................................... 2
B. Por que fazer um curso de Teologia Espiritual? ......................... 3
C. O diferencial deste curso ........................................................... 4
PARTE I PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA VIDA CRISTÃ ........ 6
A. Introdução ................................................................................. 6
1. O que é espiritualidade ou teologia da perfeição? .......... 6
2. O fim da vida cristã ........................................................ 10

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Teologia Espiritual

INTRODUÇÃO GERAL

Sejam todos bem-vindos ao Curso de Teologia Espiritual – Em


Busca da Santidade!
Parabéns por se interessar por um assunto que pode fazer a diferença
na sua vida: a santidade!
Espero que esteja se familiarizando com a Plataforma Hotmart, onde
nós estamos hospedando o nosso Curso.

A. Divisão do Curso

Como vocês já sabem, o nosso curso vai se desenvolver em três


partes:
Na primeira parte vamos explorar os princípios fundamentais da
vida cristã, entendendo melhor os conceitos de espiritualidade,
perfeição cristã, a orientação da vida cristã à santidade e sua relação
singular com a Virgem Maria.
A segunda parte se dedica a constituição do organismo
sobrenatural, ou seja, de como nasce e se desenvolve um santo. Será a
oportunidade de abordar a vida sobrenatural, a graça santificante e as
potências sobrenaturais, incluindo o papel das virtudes infusas e os dons
do Espírito Santo nesse processo.
A terceira parte foca no desenvolvimento normal da vida cristã,
mergulhando em ambos os aspectos da vida cristã:
Aspectos negativos da jornada espiritual (os obstáculos), explorando
a luta contra o pecado, o mundo, o demônio e a carne. Serão pontos
valiosos sobre as purificações ativas e passivas, que proporcionará uma
compreensão mais abrangente do combate espiritual.
Aspectos positivos no processo da santificação (o cultivo). O curso
destaca os meios fundamentais para o desenvolvimento da graça: os
sacramentos, as virtudes teologais e morais e sua relação com os dons

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Em busca da santidade

do Espírito Santo, bem como a vida de oração e suas diversas formas


nas etapas ascética e mística, enfrentando as dificuldades comuns no
combate espiritual. Também destaca os meios secundários internos e
externos, os quais adiante veremos.
Para cada parte haverá uma data em que as aulas ficarão disponíveis.

B. Por que fazer um curso de Teologia Espiritual?

Va entendendo que este termo “Teologia Espiritual”, assim como


teologia da perfeição cristã ou Espiritualidade, são sinônimos.
Uma das motivações foi o interesse e a necessidade dos católicos,
tantos os de Paróquia, quanto os que estão buscando conteúdos na
internet.
Ao longo de dezembro de 2022 e dezembro de 2023, só na internet
eu tive a graça de pregar seis Exercícios Espirituais de Santo Inácio de
Loyola. Ao final de alguns deles fizemos enquetes, que revelaram a
necessidade que há de aprofundar em temas da vida espiritual.
Além disso, sabemos que a santidade é o maior bem que podemos
aspirar aqui na Terra, cujo prêmio se encontra no Céu. Digo maior bem,
porque, com a santidade, se busca Deus sobre todas as coisas.
A marginalização de Deus, o esquecimento dele, o ateísmo teórico e
prático, a perda da referência dele como Criador, Redentor,
Santificador, é a raiz de todos os males. Enquanto a busca de Deus é a
fonte de todos os bens.
A santidade é o bem mais necessário, pois aqui se joga a salvação da
nossa alma: “de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder
a sua alma?” (Mc 8,36); “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua
força” (Mc 12,30-34).
É o bem mais prioritário: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua
justiça (santidade), e todas as demais coisas, vos serão dadas por
acréscimo” (Mt 6,33).

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Teologia Espiritual

É o bem mais urgente, pois reputo eu, que estamos passando pela
maior crise da história da humanidade. O mundo, a Igreja, as almas
precisam urgentemente de santos em todos os estados de vida e em
todos as camadas e setores da sociedade.
Um santo é o maior presente de Deus ao mundo.
Não há nada de melhor que possamos fazer que ser santos.
Foi com a santidade que Deus interveio para sanar as maiores crises
da história de seu povo.

C. O diferencial deste curso

Por isso que nos determinamos a estudar um pouco de


espiritualidade, mas não de forma desconexa, solta, à deriva, como
acontece frequentemente na internet, onde muito vemos e pouco ou
nada aproveitamos, mas de forma mais ordenada, orgânica,
sistematizada, de modo a tirar proveito.
Não será um curso acadêmico, meramente teórico, mas simples,
prático e acessível a todos.
Desejo a todos um excelente e proveitoso curso Em busca da
santidade.

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Em busca da santidade

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Teologia Espiritual

PARTE I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA VIDA CRISTÃ

A. Introdução

A vida cristã refere-se à jornada do cristão em direção à vida eterna


ou ao crescimento na vida sobrenatural, também chamada vida da
graça.
Do ponto de vista do ser cristão, a vida cristã significa a participação
da graça de Cristo Cabeça, cuja humanidade a possui em plenitude (Jo
1,16), o homem batizado se conforma interiormente a Cristo (Rm 8,29),
converte-se em cristão.
Do ponto de vista do agir cristão, todo cristão deve “permanecer em
Cristo” (Jo 15,4-6), “revestir-se de Cristo” (Gl 3,27), “agir em nome de
Cristo” (1Cor 10,31; Cl 3,17), “ter a mente de Cristo” (1Cor 2,16), até
alcançar “o estado de homem perfeito à medida que convém à plena
maturidade de Cristo” (Ef 4,13).

1. O que é espiritualidade ou teologia da perfeição?

Nesta introdução à Espiritualidade a primeira coisa que devemos


saber é, justamente, o que é Espiritualidade e para que vamos estudar
este assunto.
Devemos dizer, em primeiro lugar, que a Espiritualidade ou Teologia
da Perfeição é uma parte da Ciência Teológica que é uma só ciência,
que estuda Deus e as criaturas enquanto se referem a Deus.
Podemos dar uma breve definição dizendo que a Espiritualidade: “É
uma parte da Teologia que, fundamentando-se nos princípios da
Divina Revelação e na experiência dos santos, estuda o organismo da
vida sobrenatural (vida interior, vida espiritual etc.), explica as leis de

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Em busca da santidade

seu progresso e descreve o processo que seguem as almas desde o


começo da vida cristã até os cumes da perfeição ou santidade”.
Vamos explicar um pouco esta definição a fim de conhecer bem o
que vamos estudar.
“É uma parte da Teologia...”: Com isso se quer dizer que a
Espiritualidade é uma parte da Sagrada Teologia, que é uma única
ciência. Não é, portanto, uma ciência diferente da Teologia.
“que, fundamentando-se nos princípios da Divina Revelação...”:
isso significa que, como parte da Teologia, ela deduz suas afirmações
da Sagrada Escritura, tudo o que vamos estudar nesta ciência é tirada
da mesma Palavra de Deus.
“e na experiência dos santos...”: O elemento fundamental da
espiritualidade são os dados da Revelação, mas também utiliza muito a
experiência dos santos, a experiência daqueles que já alcançaram o fim
que nós ainda procuramos atingir. É de muita utilidade conhecer como
eles fizeram para poder chegar ao céu e à santidade.
“estuda o organismo sobrenatural...”: quer dizer, tendo como
fundamento a revelação, busca entender como é natureza da vida
espiritual (o que é a vida espiritual), em que consiste a santidade para
orientar as almas até esse fim.
“explica as leis de seu progresso...”: Tendo deixado claro o que é a
vida espiritual e a sua natureza, a Espiritualidade estuda como é o
progresso na vida espiritual, como cresce e como se desenvolve a vida
espiritual ou, em outras palavras, como crescer na santidade.
“descreve o processo que seguem as almas...”: Aqui o estudo se
orienta para a parte prática, porque de nada serve conhecer somente de
um modo teórico o que é a santidade, como ela vai se desenvolvendo
ou como se dá o crescimento. Também é necessário observar e estudar
de que maneira se dá esse crescimento na prática e quais são os
caminhos normais que as almas percorrem para alcançar a perfeição ou
a santidade.
Mesmo que a ação de Deus em cada alma seja muito diferente e
especial, assim como é especial seu amor por cada um de nós, isso não
impede que investiguemos algumas características comuns que

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Teologia Espiritual

permitem ver o caminho normal de uma alma rumo à santidade. Para


esta parte do estudo é muito importante a experiência dos grandes
místicos, como São João da Cruz, Santa Teresa, Santo Inácio... etc.

a. Importância e necessidade da teologia da perfeição

Qual é o fim desta Teologia Espiritual? Sem dúvida que o fim deste
estudo é servir de estímulo para avivar o desejo de perfeição e de luz
orientadora no caminho da própria santificação.
Nada há mais elevado e nobre que o estudo da ciência que indica a
via e os meios para unir-se intimamente a Deus (cf. Lc 10,42). Tudo foi
ordenado por Deus para fazer participar ao homem da bem-
aventurança: criação, redenção, santificação... Daí que não existe um
estudo mais elevado que o da teologia da perfeição.

b. Fontes da teologia da perfeição

As fontes da teologia espiritual são cinco: a Sagrada Escritura, os


ensinamentos da Igreja, a sagrada liturgia, a doutrina dos santos Padres,
dos doutores e teólogos, e o estudo da psicologia.

c. Divisão da Teologia Espiritual

Várias são as divisões propostas, entre elas:


Reginald Garrigou Lagrange, As três idades da vida interior a
divide em cinco partes:
1. A origem da vida interior e sua finalidade;
2. A purificação da alma dos principiantes;
3. Os progressos da alma guiada pelas luzes do Espírito Santo;

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Em busca da santidade

4. A união das almas perfeitas com Deus;


5. As graças extraordinárias.

Amato Dagnino, A Vida Cristã - Teologia da vida espiritual a divide


em seis partes:
1. A graça;
2. Nosso organismo sobrenatural;
3. A união da alma com Cristo - participação no mistério pascal;
4. Nosso crescimento em Cristo;
5. A purificação da alma;
6. Os graus da vida cristã - etapas do mistério pascal.

Antônio Royo Marín, Teologia da Perfeição Cristã, divide em


quatro partes:
1. O fim da vida cristã;
2. Os princípios fundamentais da teologia da perfeição;
3. O desenvolvimento ordinário da vida cristã;
4. Os fenômenos místicos extraordinários.

São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota (Filoteia),


divide-a em cinco partes:
1. Avisos e exercícios para conduzir à alma do primeiro desejo à
resolução da vida devota (cc.1-24, purificações do pecado, das afeições
ao pecado, direção espiritual, meditações etc.);
2. Avisos para elevar a alma a Deus pela oração e os sacramentos
(cc.1-21);
3. Avisos para o exercício das virtudes (cc.1-14);
4. Avisos contra as tentações mais ordinárias (cc.1-15);

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Teologia Espiritual

5. Para renovar a alma e confirmá-la no propósito da devoção (cc.1-


18).

2. O fim da vida cristã

A consideração do fim é a primeira coisa que se impõe no estudo de


qualquer obra dinâmica ou atividade. E sendo a vida Cristã
essencialmente dinâmica, é necessário saber para onde vamos, ou seja,
qual é o fim que desejamos alcançar.
A vida cristã tem dois fins:
- Um fim último ou absoluto, a Glória de Deus.
- Um fim próximo ou relativo, a santificação.
Expliquemos um pouco isso.

a. A glória de Deus

A glória se define como “conhecimento claro com louvor”. Expressa


algo extrínseco (exterior) ao sujeito que recebe a glória. Por exemplo,
quando uma pessoa recebe glória quer dizer que há outro que conhece
suas qualidades e lhe tributa um louvor por essas qualidades. Por isso
falamos que a glória expressa algo extrínseco ao sujeito que a recebe,
porque o conhecimento e o louvor posterior vem de fora. Podemos
distinguir em Deus uma glória dupla: intrínseca e extrínseca.

Qual é a glória intrínseca?


É a glória que Deus dá a si mesmo no interior da Trindade
Santíssima: Deus Pai conhece-se a si mesmo e gera uma ideia de si
mesmo, perfeitíssima, igual a Ele em natureza. É o Verbo, no qual está
espelhada sua mesma vida, sua mesma beleza, sua mesma imensidão,
sua mesma eternidade, todas as suas infinitas perfeições; esse Verbo é
seu filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

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Em busca da santidade

Quando eles, o Pai e o filho, se contemplam a si mesmos, entre eles


surge um amor especial. Que por proceder do Pai e do Filho tem a
mesma natureza divina que Eles. Isso dá origem a Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade, o Espírito Santo. Que é o Amor Eterno entre o Pai
e o Filho. Então, no seio da Trindade, a Glória intrínseca é esse
conhecimento, amor e louvor que Deus se dá a si mesmo no mistério de
sua vida íntima. Quer dizer há um conhecimento e um louvor que
constituem a glória intrínseca.

Qual é a glória extrínseca?


Deus é infinitamente feliz e não precisa das criaturas, que não podem
acrescentar em nada sua glória e sua felicidade intrínseca. Mas Deus é
amor (1Jo 4,16) e o amor é comunicativo, tende a se comunicar, a se
doar. Como afirmam os filósofos, Deus é o bem infinito que tende ou
procura se expandir: “O bem é difusivo de si mesmo”. Essa é a razão
da criação, Deus, o bem infinito que comunica sua bondade criando
outros seres.
Deus quis comunicar suas infinitas perfeições às criaturas, o que nos
leva à pergunta: Por que razão Ele quis fazer isso?
Devemos responder: para sua glória, para que essas criaturas lhe
tributem louvor e glória. Esse é o fim de toda criação.

Como podemos explicar isso?


Podemos fornecer essa resposta usando a luz natural da razão. É um
fato filosoficamente indiscutível que todo agente (todo ser que realiza
alguma ação ou operação) age com um propósito, buscando alcançar ou
obter algo. Por exemplo, o homem que come e bebe o faz para se
alimentar e preservar sua vida natural.
Além disso, os agentes intelectuais, ou seja, aqueles que possuem
inteligência, sempre agem com um propósito específico. Quando
determinam o objetivo de suas ações, as subordinam para alcançar esse
fim.

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Teologia Espiritual

Deus é um agente intelectual e, portanto, deve agir com um


propósito; contudo, esse propósito não pode ser diferente d’Ele mesmo,
pois todo agente que age de maneira diferente subordina seu agir a esse
fim. Por exemplo, um jovem que estuda para entrar na universidade
subordina todas as suas ações a esse fim: conseguir uma vaga na
universidade.
Se Deus tivesse criado o universo com um propósito diferente Dele,
teria subordinado Seu agir a esse fim, o que o impediria de ser Deus, já
que algo estaria acima Dele.
Ademais, todo agente que age busca uma perfeição que não possui;
alcançar essa perfeição se torna o fim desse agente, ao qual ele
subordina suas ações. Se Deus agisse com um propósito diferente Dele,
estaria buscando adquirir uma perfeição que Ele não possui, o que é
absurdo, pois Deus é a suma perfeição e não carece de nada.
No entanto, Santo Tomás de Aquino afirma que Deus age por amor
a Si mesmo, tendo a Si como fim, e é por isso que criou o universo para
Sua glória.
Isso não é egoísmo por parte de Deus, mas sim um grande ato de
amor, generosidade e desinteresse. Ao criar, Ele não buscou Seu próprio
bem (já que as criaturas não podem acrescentar nada à Sua glória
intrínseca); Ele criou apenas para comunicar Sua bondade e organizou
as coisas de modo que as criaturas encontrassem sua felicidade ao dar
glória e louvor a Ele.
Portanto, segundo Santo Tomás, o único verdadeiramente generoso
é Deus, pois Ele não age por interesse próprio ou necessidade, mas sim
para comunicar Sua bondade e infinita felicidade.
A Sagrada Escritura contém diversas passagens em que Deus
reivindica a glória para Si mesmo, não por egoísmo, mas por amor (Is
1,24; 48; Ap 1,8, etc.).
Em conclusão, o fim primeiro e absoluto da vida cristã é a glória de
Deus, pois fomos criados por Deus com esse propósito, para Lhe dar
glória através de nossa vida.

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b. A Santificação da alma: fim próximo e relativo da vida cristã

Após a Glória de Deus, que é perfeitamente subordinada a ela, a


finalidade da vida cristã é a santificação da nossa própria alma. O
Batismo, que serve como porta de entrada para a vida cristã, infunde
em nossas almas uma "semente de Deus": a graça santificante. Essa
semente está destinada a se desenvolver plenamente, e esse
desenvolvimento é denominado santidade. Todos são chamados a
alcançá-la, embora em graus muito diferentes.
Mas afinal, em que consiste propriamente a santidade? O que
significa ser santo? Qual é o elemento íntimo e essencial da santidade?

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