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Trabalho de Português

Poetas contemporâneos

Nicoleta Fătu
Turma 14
Nr°9

José Régio

Biografia

José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, foi um dos mais importantes
escritores, poetas e ensaístas portugueses do século XX. Nascido em Vila do Conde, Portugal,
no dia 17 de setembro de 1901, Régio desenvolveu uma carreira literária prolífica que deixou
um legado significativo na literatura portuguesa.

José Régio era o quinto de seis filhos numa família com grande interesse na literatura e arte.
A sua paixão pela escrita manifestou-se desde cedo, e durante a adolescência, ele já escrevia
poesia. Estudou no Liceu de Portalegre, e posteriormente, em 1920, ingressou na
Universidade de Coimbra, onde estudou Filologia Românica. Foi durante a sua estadia em
Coimbra que Régio entrou em contacto com outros estudantes com interesses literários
semelhantes, o que mais tarde levou à criação da revista literária "Presença".

A revista "Presença", fundada em 1927 foi uma das publicações literárias mais importantes
em Portugal durante o século XX. Régio foi um dos fundadores e contribuiu
significativamente para a revista, onde publicou muitos dos seus trabalhos. A "Presença"
tornou-se um símbolo do modernismo em Portugal, defendendo a liberdade artística e o
experimentalismo literário.

A obra de Régio é caracterizada por uma profunda introspecção e análise do eu. Ele
explorava temas como a religião, a moralidade, a psicologia e a busca da identidade. Como
poeta, Régio é conhecido pelo seu estilo lírico e pelo uso de simbolismo. Os seus poemas
muitas vezes refletem angústia e questionamentos existenciais.

Além da poesia, Régio também escreveu prosa, teatro e ensaios críticos. Entre as suas obras
mais notáveis estão a peça "Benilde ou a Virgem Mãe" (1947), que questiona a moralidade e a
santidade, e o romance "Davi, Rei" (1941), que aborda temas bíblicos.

Após terminar os estudos em Coimbra, José Régio mudou-se para Portalegre, onde trabalhou
como professor de Português e Francês no liceu local. Durante esse período, continuou a
produzir uma vasta gama de trabalhos literários. Ele manteve um perfil discreto, evitando o
contato com a vida social de Lisboa e preferindo a tranquilidade do interior.

José Régio faleceu em 22 de dezembro de 1969, em Vila do Conde, a sua cidade natal. O seu
legado literário continua a influenciar escritores e estudantes da literatura portuguesa
contemporânea. Em homenagem a si, vários lugares em Portugal têm o seu nome, como
escolas, ruas e um museu em Vila do Conde que contém parte do seu acervo pessoal e
literário. A obra de Régio permanece uma parte fundamental da literatura portuguesa, sendo
estudada e admirada por muitas gerações.

Prémios / condecorações recebidas

José Régio, apesar da sua influência significativa na literatura portuguesa do século XX, não
era um escritor particularmente focado na procura de reconhecimento ou condecorações. Ele
manteve uma vida relativamente discreta, centrada no seu trabalho literário e académico.
Como resultado, a lista de prémios e condecorações oficiais que recebeu é bastante limitada.

Destaca-se então:

❖ Prémio Diário de Notícias: em 1961 recebeu o prémio Diário de Notícias.

❖ Recebeu o Prémio de Novelística da SPE em 1963.

❖ Prémio Nacional de Poesia: Em 1970, José Régio recebeu o Prémio Nacional de


Poesia, um reconhecimento oficial do governo português pelo seu contributo para a
poesia do país.
Além disso, José Régio recebeu algumas homenagens póstumas e reconhecimento pelo seu
trabalho, como a criação do Museu José Régio em Vila do Conde e a atribuição do seu nome
a ruas e escolas em Portugal. Infelizmente, não há uma extensa lista de prémios e
condecorações atribuídos a José Régio ao longo da sua carreira. Contudo, o seu legado e
influência permanecem evidentes na literatura e cultura portuguesas.

Obras publicadas

❖ 1925 — Poemas de Deus e do Diabo - o poema ‘Cântico Negro’ é dedicado a Sofia


D’Orey.
❖ 1929 — Biografia
❖ 1936 — As Encruzilhadas de Deus
❖ 1941 — Fado
❖ 1945 — Mas Deus é Grande
❖ 1954 — A Chaga do Lado
❖ 1961 — Filho do Homem
❖ 1968 — Cântico Suspenso
❖ 1970 — Música Ligeira: volume póstumo, org. Alberto de Serpa (Prémio Nacional de
Poesia 1970 da Secretaria de Estado da Informação e Turismo (SEIT).
❖ 1971 — Colheita da Tarde: volume póstumo, org. Alberto de Serpa.

Ficção
❖ 1934 — Jogo da cabra-cega
❖ 1941 — Davam grandes passeios aos domingos
❖ 1942 — O príncipe com orelhas de burro

Romance
❖ 1945 — A velha casa I - Uma gota de sangue
❖ 1946 — Histórias de mulheres
❖ 1947 — A velha casa II - As raízes do futuro
❖ 1955 — A velha casa III - Os avisos do destino
❖ 1960 — A velha casa IV - As monstruosidades vulgares (Prémio Diário de Notícias
em 1961)
❖ 1962 — Há mais mundos (Grande Prémio de Novelística da SPE em 1963).
❖ 1966 — A velha casa V - Vidas são vidas

Ensaio, Crítica, História da Literatura


❖ 1925 — As correntes e as individualidades na moderna poesia portuguesa.
❖ 1936 — Críticos e criticados
❖ 1937 — António Botto e o amor
❖ 1940 — Em torno da expressão artística
❖ 1941 — Pequena história da moderna poesia portuguesa
❖ 1964 — Ensaios de interpretação crítica
❖ 1967 — Três ensaios sobre arte
❖ 1977 — Páginas de doutrina e crítica da Presença (recolha póstuma).

Teatro
❖ 1936 — Sonho de uma véspera de exame
❖ 1940 — Jacob e o anjo
❖ 1940 — Sou um homem moral
❖ 1947 — Benilde ou a virgem-mãe
❖ 1949 — El-Rei Sebastião
❖ 1953 — Jacob e o anjo (2.ª versão).
❖ 1954 — A salvação do mundo
❖ 1957 — Três peças em um acto: Três máscaras - 2.ª versão; O meu caso; Mário ou
Eu Próprio - O Outro.
❖ 1967 — O judeu errante
❖ 1984 — Três máscaras (ópera).
❖ 1971 — Confissão dum homem religioso - páginas íntimas
❖ 1994 — Páginas do diário íntimo

Escolha do poema e análise

Narciso
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!

Ó boca tumular, cerrada e fria,


Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!

Assim me desejei nestas imagens.


Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:

Que eu vivo à espera dessa noite estranha,


Noite de amor em que me goze e tenha,
...Lá no fundo do poço em que me espelho!

Análise formal:
❖ Este poema é composto por duas quadras e dois tercetos (soneto).
❖ esquema rimático: a b b a / a b b a / c c d / e e d , ou seja, temos rima interpolada e
emparelhada.

Den/tro / de / mim / me / quis / eu / ver. / Tre/mi/a,

Do/bra/do em / dois / so/bre o / meu / pró/prio/ po/ço…

Ah,/ que/ te/rrí/vel / fa/ce e / que ar/ca/bou/ço

Es/te / meu / cor/po / lân/gui/do es/con/di/a!

❖ o primeiro verso é um decassílabo, o segundo verso é um hendecassílabo, o terceiro


verso é um dodecassílabo e o quarto é um hendecassílabo, logo a métrica é irregular.

Análise do conteúdo:

O poema aborda o mito de Narciso, uma figura da mitologia grega conhecida pela sua beleza
extrema e pela sua morte trágica causada pelo seu amor-próprio. José Régio usa essa história
como base para discutir temas como egoísmo, solidão e a procura da identidade. Narciso é
um símbolo do indivíduo obcecado pela própria imagem, incapaz de ver além de si mesmo.

A estrutura do poema "Narciso" é bastante livre, esse estilo permite a Régio explorar a
temática com uma certa flexibilidade, refletindo as tensões internas que ele descreve.

A linguagem é lírica, com uso de metáforas e imagens evocativas para retratar a obsessão de
Narciso. O tom do poema é sombrio e introspectivo, refletindo a natureza trágica do mito.
Régio utiliza elementos da natureza, como água e reflexo, para enfatizar a dualidade entre
realidade e imagem, entre o eu e o outro. Régio vive o drama de não poder possuir a imagem
que desejava ter – não uma imagem física, mas a imagem imaginada da sua alma.

O poema pode ser lido como uma crítica ao narcisismo, ao egoísmo e à incapacidade de ver
além do próprio reflexo. A história de Narciso sugere que o isolamento e a obsessão consigo
mesmo levam à destruição. O poeta parece explorar essas ideias para questionar a procura
pela identidade e a desconexão do mundo ao redor.

Ao mesmo tempo, pode-se ler o poema como uma reflexão sobre a natureza humana e as
armadilhas do ego. O fato de Narciso não poder amar ninguém além de si mesmo reflete uma
angústia existencial, um sentimento de solidão que o leva ao fim trágico. A crítica ao
narcisismo é uma crítica à condição humana, indicando que uma procura excessiva por
auto-afirmação pode resultar em isolamento e morte metafórica. Assim, o poema convida o
leitor a refletir sobre sua própria busca por identidade e sobre como a obsessão pelo próprio
reflexo pode afastar as pessoas do que realmente importa na vida.
Apreciação Crítica

José Régio é uma figura marcante na literatura portuguesa do século XX, e sua contribuição
para a poesia contemporânea é inestimável. Ele é amplamente reconhecido pela sua
profundidade filosófica, a sua capacidade de explorar os recantos mais sombrios da alma
humana e sua habilidade de lidar com temas complexos como a fé, a dúvida, a dualidade
entre bem e mal, e a procura pelo sentido da vida.

Um dos aspectos mais notáveis da poesia de Régio é o seu estilo único, que combina lirismo,
introspecção e uma notável fluidez narrativa. A sua escrita é ao mesmo tempo intimista e
universal, atraindo leitores que se identificam com a angústia existencial e os dilemas morais
que ele aborda nas suas obras.

Régio conseguiu captar a essência do ser humano, apresentando os seus dilemas e conflitos
internos de maneira honesta e autêntica. Ele evitava o sentimentalismo excessivo e preferia
explorar as complexidades emocionais e psicológicas do indivíduo.

Outra característica distintiva de José Régio é sua coragem em questionar normas e desafiar
convenções. A sua abordagem inovadora tornou-o num precursor do modernismo português,
influenciando gerações subsequentes de escritores e poetas.

Um aspecto que achei bastante interessante neste autor foi o facto de a sua obra não se limitar
apenas a um tipo de texto e sim a vários, incluindo o teatro. Em suma, afirmo que é excelente
autor para se conhecer, principalmente se precisarmos de inspiração e reflexão pessoal.

webgrafia

❖ https://paginas.fe.up.pt/~mgi97011/regio.html - Biografia
❖ https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_R%C3%A9gio - biografia/ prémios e
condecorações / obras publicadas
❖ https://www.jogosflorais.com/poemas-de-antes/2018/10/narciso - poema e análise

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