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PROFESSOR: Brian Rey

Direitos Humanos – 9° Ano


PROPRIEDADE PRIVADA: DO CARÁTER ABSOLUTO atinge uma função social e, mais recentemente, a
À FUNÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL chamada função ambiental, conceito reforçado com a
Giuliano Deboni Constituição Federal de 1988 e com o Código Civil atual.

A propriedade, enquanto direito do homem, é uma ANTIGUIDADE CLÁSSICA (DIREITO ROMANO)


das prerrogativas mais antigas da humanidade (o “ter” O ordenamento jurídico Romano coincide com a
nasce praticamente contemporaneamente ao “ser”), tendo chamada Antiguidade Clássica, período que compreende
o seu conceito se modificado e evoluído com a mutação aproximadamente os séculos VIII a.C. até V d.C., ou seja,
das condições sociais e históricas. da fundação de Roma (753 a.C.) até a queda do Império
Nesse sentido, referem C. BARBOSA e R. Romano do Ocidente (476 d.C.).
PAMPLONA Filho: Nas mais remotas legislações, já se Obviamente, durante estes XIII séculos a
vislumbrava a existência de um direito subjetivo à concepção de propriedade no Direito Romano não
propriedade, como decorrência natural da existência do permaneceu estática, ao contrário, esteve em contínuo
homem e da possibilidade de acúmulo de riqueza desenvolvimento em paralelo com as evoluções políticas,
É possível se considerar, inclusive, que a sociais e culturais.
propriedade tenha sido o núcleo de muitas destas etapas S. Venosa ensina que: "Antes da época romana,
evolutivas. E é neste contexto que S. VENOSA afirma: nas sociedades primitivas, somente existia propriedade
cada povo e cada momento histórico têm compreensão e para as coisas móveis, exclusivamente para objetos de
extensão próprias do conceito de propriedade. O conceito uso pessoal, tais como peças de vestuário, utensílios de
e a compreensão, até atingir a concepção moderna de caça e pesca. O solo pertencia a toda a coletividade, todos
propriedade, sofreram inúmeras influências no curso da os membros da tribo, da família, não havendo o sentido de
história dos vários povos, desde a antiguidade. A história senhoria, de poder de determinada pessoa. Todavia,
da propriedade é decorrência direta da organização costumes daqueles povos explicavam bem essa situação:
política. os homens viviam exclusivamente da caça, da pesca e da
Entretanto, para alcançar o conceito e o grau de agricultura – e se deslocavam do lugar onde estavam nos
evolução atual, a propriedade sofreu no curso da sua momentos em que estes faltavam – e, por consequência,
história, desde os tempos mais remotos, influência de não aflorava o interesse na apropriação, e na utilização
muitos povos. Eis porque a propriedade foi, desde sempre, individual e exclusiva do solo. Apenas a exploração
objeto de um acalorado debate, tanto em sede doutrinária permanente da mesma terra por parte de um mesmo povo
quanto jurisprudencial. (mesma tribo, mesma família) começou a ligar o homem a
De um ponto de vista positivo, a propriedade ela, fazendo emergir assim a concepção de propriedade
representa o direito do proprietário de gozar e dispor da coletiva e, sucessivamente, individual."
coisa; a partir de um ponto de vista negativo, a mesma Coulanges afirma que tendo a propriedade se
propriedade excluí todos os outros sujeitos diversos do tornado sacra para as famílias (relação com as
proprietário (não-proprietários) do referido gozo e concepções religiosas, as quais consideravam que para
disposição. Todavia, dita exclusão é cada vez mais cada habitação existiam Deuses que protegiam aquela
relativizada, tendo em vista que a utilização pelo seu mesma família) fez surgir nos romanos a ideia de que ela
proprietário pode ser restringida em benefício de um fosse um bem absoluto e inalienável, fortemente ligado ao
número maior de pessoas e, assim, da própria conceito de família. A propriedade privada fazia parte da
coletividade. própria religião.
Todavia, mesmo que se possa considerar, Todavia, do momento em que o Império Romano
conforme já assinalado anteriormente, que a propriedade começou a se expandir, essa visão familiar e religiosa do
não seja menos antiga que a humanidade, pouco se sabe território começou a enfraquecer; de fato a conquista de
com relação ao seu conceito nas sociedades primitivas. novas terras pertencentes a outros Estados fazia com que
Entretanto, a evolução do Instituto ocorre no sentido das a propriedade perdesse a concepção sacra, uma vez que
graduais restrições dos poderes dos proprietários. o vínculo sentimental-religioso com a terra não era mais o
Nesta ótica, e feita esta breve introdução acerca mesmo. A partir de então, e com o advento da Lei das XII
dos primórdios da propriedade privada, o presente texto Tábuas a terra foi considerada alienável.
tratará da evolução histórica deste instituto, transcorrendo A Lei das XII Tábuas introduziu, em realidade, a
o período que vai da Antiguidade Clássica do Direito noção jurídica de ius utendi, fruendi et abutendi, ou seja, o
Romano, passando pela Idade Média (marcada pelo direito de usar, gozar e dispor. O domínio sobre a terra era
Direito Feudal) e Idade Moderna (Revolução Francesa), absoluto.
até chegar na Idade Contemporânea, momento em que
R. Sacco refere que o direito de propriedade No que diz respeito às relações entre Senhor e
romano no curso inteiro de sua longa evolução, ou seja, Vassalos, desde um ponto de vista jurídico é possível
em alguns períodos particulares da mesma, apresenta defini-las como uma concessão de terra feita em troca de
como características o caráter implícito, a individualidade, fidelidade e de certos serviços por parte de uma pessoa,
a unidade da categoria, a exclusividade do direito e a que recebe o título de Senhor Feudal, a uma outra pessoa
ausência de limites. chamada Vassalo, que adquire sobre a terra assim
Portanto, conforme já exposto precedentemente, concedida um direito real sui generis. Por efeito da
nestes treze séculos a concepção de propriedade no constituição do feudo, então, se estabelecia a um só
Direito Romano sofreu modificações de acordo com a tempo ligações de dependência entre duas terras (o feudo
evolução política, social e cultural. servente e o feudo dominante) e entre duas pessoas (o
A propósito, Cretella junior, ao tratar do Direito de Senhor Feudal e o vassalo). Consequentemente, com a
propriedade no Direito Romano nos ensina que este instituição do feudo o vassalo contraia conjuntamente
Instituto “sofreu inúmeras transformações no longo obrigações de caráter pessoal (fidelidade, serviços de
período em que vigorou o direito romano, a partir da antiga corte, assistência militar, assistência financeira em
concepção, poder ilimitado e soberano, profundamente ocasiões de matrimônio e de outros eventos excepcionais,
individualista, até a concepção justiniana, arejada por um etc.) e obrigações de caráter real e de conteúdo
novo e altruísta sentido social”. econômico (Pagamento de direitos de mutação em caso
Todavia, mesmo com todas essas modificações, de transferência do feudo, submissão ao recuo feudal, que
se pode afirmar, em termos gerais, que a propriedade representava uma espécie de direito de preferência,
privada no Direito Romano era concebida como absoluta sujeição ao desapossamento, a assim chamada comissão,
(oponibilidade erga omnes), exclusiva e perpétua, sendo em caso de inadimplência, etc.)
caracterizada pelos seus elementos constitutivos: o ius Todavia, a característica dominante da
utendi, fruendi et abutendi. propriedade no período feudal – e é isto que mais nos
interessa neste momento – é a bifurcação do domínio.
IDADE MÉDIA (DIREITO FEUDAL) Nasce a possibilidade de se haver duas propriedades
A queda do Império Romano do Ocidente (476 sobre o mesmo bem. Uma delas à qual pertencia o
d.C.), considerada o momento inicial da Idade Média, dominium directum (domínio direto ou eminente) -
trouxe consigo um novo modelo político, denominado beneficiário – e outra à qual pertencia o dominium utilie
sistema feudal. As invasões bárbaras e o declínio do (domínio útil) – vassalo. O titular do domínio (efetivo
Império Romano causaram modificações profundas no possuidor) era o Senhor Feudal, proprietário da terra
direito de propriedade vigente naquela época. Enquanto (beneficiário), enquanto o usufrutuário era o vassalo.
na Antiguidade Clássica do Direito Romano a propriedade A propósito, explicita O. GOMES que sobre a
era concebida como absoluta e individual, durante a Idade propriedade medieval existe uma “concorrência” de
Média, caracterizada pelo feudalismo, essa ideia é proprietários. De fato, afirma que: "A propriedade medieval
abandonada em favor de uma visão coletiva. caracteriza-se pela quebra desse conceito unitário. Sobre
Durante a época intermediária, a propriedade é o mesmo bem, há concorrência de proprietários. A
largamente influenciada por instituições novas (por dissociação revela-se através do binômio domínio
relações feudais, pelo sistema das investiduras, pela eminente + domínio útil. O titular do primeiro concede o
tradição jurídica alemã); esse desenvolvimento coexiste, direito de utilização econômica do bem e recebe, em troca,
entretanto, nos países que justamente em razão disso, serviços ou rendas. Quem tem o domínio útil
serão ditos romanistas, com uma ciência universitária que perpetuamente, embora suporte encargos, possui, em
induza essencialmente sobre modelos romanos- verdade, uma propriedade paralela."
bizantinos; essa ciência predispõe as categorias de Essa foi a fórmula utilizada pelos Senhores
modelo romanista necessárias para inserir-lhes as Feudais para manter o poder político, que estava
instituições da época. estreitamente relacionado com a propriedade das terras. A
Durante o feudalismo – e no que diz respeito aos propriedade pertencia simultaneamente ao soberano, ao
feudos – a estrutura política era baseada em relações de beneficiário e ao vassalo. A exploração da terra tinha,
vassalagem, segundo a qual um homem livre (vassalo) se juridicamente, a forma de vínculo entre aqueles que a
submetia a um senhor (beneficiário), o qual se incumbia possuíam, mas não a cultivavam, e aqueles que a
de protegê-lo. O beneficiário deixava ao vassalo uma trabalhavam, mas não eram proprietários. A estes últimos
determinada área de terra e este último tinha o dever, reconheceu-se o direito de possuí-la com a obrigação,
além do pagamento pela utilização da terra (em serviço ou todavia, de satisfazer perpetuamente determinadas
renda), de fidelidade e auxílio ao Senhor que o introduzia obrigações. Em síntese, os vassalos tinham um direito real
no sistema produtivo. Em outras palavras, em sobre coisa de outro, mas não a propriedade que se
contrapartida à fidelidade e ao serviço prestado, o vassalo conservava no domínio eminente das famílias nobres que
recebia proteção do Senhor. não empregavam qualquer esforço para trabalhá-la. Se
C. A. Maluf esclarece que “na estrutura econômica trata, portanto, de uma oligarquia de proprietários que
da feudalidade, a terra é o bem principal, porque a exploravam fortemente o trabalho dos servos aos quais
subsistência social depende, fundamentalmente, do seu era concedida uma porção de terra suficiente a sua
cultivo.” subsistência.
Entretanto, o sistema feudal, aproximadamente no propriedade romana em seus aspectos técnicos-jurídicos.
Séc. XIV, começou a decair. Uma forte crise atingiu a Foram esses os momentos, no quadro da evolução
agricultura europeia e toda a sociedade feudal entre os histórica de nossa instituição, em que a propriedade reuniu
séculos XIV e XV, em seguida ao colapso demográfico e à os maiores atributos. Mas a ideologia que inspirava a
diminuição da produção, mas principalmente em razão dos propriedade, em um e outro caso, era indubitavelmente
problemas internos do modo de produção feudal. A queda diversa. A concepção romana evidenciava um
demográfica levou a uma situação em que se evidenciava autoritarismo, de conotação militar, religiosa e política, que
uma abundância de terra, em oposição a um número assegurava a supremacia das famílias aos descendentes
escasso de camponeses; os proprietários enfraqueceram, e aos fundadores de Roma. A propriedade napoleônica,
seguidos por uma diminuição do seu poder político; se filha da Revolução Francesa, que foi o resultado da união
criou assim o cenário ideal para que os camponeses dos pequenos e médios proprietários de terras com a
começassem a se liberar dos vínculos pessoais de burguesia contra o rei e a nobreza, pretende separar o
servidão e conquistassem posições melhores na relação poder político do poder econômico, reconhecendo o
com a terra. primeiro ao povo e o segundo aos cidadãos."
Os vários feudos começaram a comportar-se Esses novos valores sociais, fortemente
como pequenas monarquias independentes. Os influenciados pelas ideias iluministas, sobretudo aqueles
imperadores, sempre menos capazes de manter unido o de liberdade, igualdade e fraternidade culminaram com a
próprio domínio, começaram a conceder a hereditariedade Revolução Francesa. A nova concepção de propriedade
do cargo primeiro aos feudatários maiores e, surgida e inspirada nos princípios de liberdade, igualdade
posteriormente, também aos menores. Iniciou-se, assim, e fraternidade fizeram com que o direito de propriedade –
aquele processo de fragmentação territorial que tido como individualista - fosse excessivamente idolatrado,
transformou a Europa em um campo de batalha e tornou a prescindir dos interesses coletivos. De acordo com essa
os vassalos ainda menos dependentes do poder central. concepção, o indivíduo vem antes, inclusive do corpo
Frequentemente os Reis se revelavam muito mais fracos social.
que os vassalos e, muitas vezes, até mesmo detentores O Direito Moderno tem seu marco histórico na
de menos terras. Revolução Francesa de 1789, que traz modificações no
A grande retomada do Séc. XVI e o salto contexto social, político e jurídico, marcado pela
demográfico ocasionaram uma nova distribuição da terra, concepção individualista, produto da exaltação das
que era explorada, principalmente, pela forte classe liberdades individuais e da mínima intervenção do Estado
burguesa, com o início do desenvolvimento da indústria e na organização social."
do comércio, e que fez perder o primado econômico à A partir dessas ideias iluministas foi se formando
classe fundiária nobre. Desse modo, no inicio do Séc. XVII uma concepção muito protecionista do direito de
começaram a delinear-se os sinais de novos modos de propriedade. Aos proprietários eram dadas armas para
produção, que entraram em contradição com o velho, mas defender-se dos inimigos, identificados como sendo todos
ainda dominante, sistema de produção feudal. aqueles que não tinham alguma terra.
Com o passar dos anos se acentuou a tendência A Declaração dos Direitos do Homem e do
ao desaparecimento do sistema feudal, com a Cidadão, no artigo 17° identificava a propriedade como um
consequente eliminação das vantagens conferidas ao direito inviolável e sacro: "Como a propriedade é um direito
Senhor Feudal e dos encargos aos quais a terra estava inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não
ligada, devido à consolidação da propriedade livre e ser quando a necessidade pública legalmente comprovada
individual que caracterizaria o Direito Moderno. o exigir e sob condição de justa e prévia indenização."
E no seu artigo 2° classificava a propriedade, ao
A IDADE MODERNA (REVOLUÇÃO FRANCESA) lado da liberdade, como um direito natural: "A finalidade de
O apogeu da burguesia – cujo poder econômico toda associação política é a conservação dos direitos
era crescente e que desenvolvia um papel fundamental na naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a
economia da época – a forte influência das ideias do liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à
iluminismo e o desenvolvimento da indústria e do comércio opressão."
não fizeram outro que recuperar a concepção unitária Deste modo, em harmonia com a mencionada
(individual) da propriedade, que havia marcado o período Declaração, o direito de propriedade vinha concebido
romano. como absoluto, exclusivo e quase ilimitado.
O novo contexto histórico, assinalado pelo fim da Em meio a este contexto histórico revolucionário,
Idade Média e pelo empenho para encontrar novos valores em 1804 surge o Código Napoleônico (Code Napoléon ou
sociais, foi determinante para a recuperação do antigo Code Civil) que reiterou de forma explícita a
conceito de propriedade. individualidade do direito de propriedade, colocando-o
Entretanto, importante referir que alguns ainda como núcleo do ordenamento jurídico. No artigo 544
estudiosos estabelecem diferenças entre os conceitos de do Code Napoléon está contido o caráter fundamental da
individualidade vividos pelos romanos e aqueles havidos propriedade burguesa: um poder absoluto, que consagra o
no cerne da Revolução Francesa. Entre eles, Manuel proprietário como dominus incontestável. E no sistema de
ADROUGUE: " A Revolução Francesa, ao suprimir o então – que se diria certamente de dominação privatística
regime feudal de propriedade, restabeleceu a estrutura da – não há espaço para intervenção do Estado."
F. K. Comparato ratifica essa afirmação,
IDADE CONTEMPORÂNEA informando que “a ideia de função social da propriedade
A Idade Contemporânea é caracterizada por uma entrou a fazer parte do Direito Positivo com a promulgação
revisão da posição não intervencionista por parte do da primeira Constituição Republicana Alemã, em Weimar,
Estado, e da concepção individualista da sociedade e do em 1919
direito de propriedade, produtos da ideologia liberal da Essa Constituição (Weimar) - que na última parte
Idade Moderna. do artigo 153 afirma que “A propriedade obriga. O seu uso,
A concepção individualista não correspondia mais além de voltar-se ao privado, deve servir ao bem comum -
à realidade dos fatos. A tese da propriedade unitária influenciou a organização política e jurídica da Idade
começa a ser negada pelas prerrogativas sociais. Se Contemporânea, e a função social da propriedade
reconhecem novidades fundamentais como o interesse na começou a fazer parte dos diversos textos constitucionais
urbanística, e na saúde pública, na arqueologia e na arte, em todo o mundo, como, por exemplo, na Itália , Espanha
que vão além em relação ao interesse individual da (artigo 33, da Constituição de 1931), Chile (alínea 10, do
propriedade. artigo 10, da Constituição de 1925), Venezuela (§2°, artigo
Esse movimento se intensificou com a Revolução 32, da Constituição de 1925), uma vez que o objetivo do
Industrial e com a organização dos sindicatos dos legislador era aquele de considerar os interesses
trabalhadores. Diante da evolução econômica se migra de individuais e coletivos de maneira justa, sensata e
um sistema agrícola-artesanal-comercial a um sistema equilibrada.
industrial moderno, caracterizado pelo uso de máquinas No Brasil, a inclusão se deu na “Constituição da
acionadas a partir da energia mecânica e pela utilização República dos Estados Unidos do Brasil”, de 16 de julho
de fontes energéticas como os combustíveis fósseis, em de 1934, no artigo 113, inciso XVII: Art. 113. XVII. É
substituição aos trabalhadores. garantido o direito de propriedade, que não poderá ser
Nas palavras de F. S. Cavedon, este movimento exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma
dá-se, principalmente, a partir da Revolução Industrial e que a lei determinar. A desapropriação por necessidade
dos movimentos sindicais que passam a requerer a ou utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante
proteção dos chamados direitos sociais, que exigem uma prévia e justa indenização. Em caso de perigo iminente,
atitude positiva do Estado, no sentido de prover como guerra ou comoção intestina, poderão as
determinadas necessidades básicas dos cidadãos (saúde, autoridades competentes usar da propriedade particular
trabalho, educação, previdência social) e, também, impor até onde o bem público o exija, ressalvando o direito a
limitações às liberdades da burguesia, inclusive, limitando- indenização ulterior.
se a Propriedade Privada. Conforme demonstrado, o conceito de propriedade
Neste momento histórico – reforçado pelas modificou-se e evoluiu com o desenvolvimento do homem,
doutrinas sociais (entre elas as de Karl Marx e Friedrich com as modificações das condições sociais e históricas.
Engels) – se vislumbrava a necessidade de que a Portanto, resumidamente, se pode dizer que o princípio
propriedade não cobrisse somente os interesses dos irradiado da Constituição de Weimar foi definitivamente
proprietários tidos individualmente, mas também o bem- consagrado, garantindo ao proprietário o seu direito, mas
estar da coletividade. impondo obrigações que o limitam e o condicionam em
Assim, a propriedade-direito começa a nome desse interesse geral.
transformar-se em propriedade-função. A concepção
individualista da sociedade passou a não mais Na atual Constituição brasileira (1988), a
corresponder à realidade dos fatos. O indivíduo deixou de propriedade é prevista no artigo 5°, inciso XXII, que
ser considerado um objetivo para ser encarado como um dispõe: “é garantido o direito de propriedade”. E na
meio para cumprir um papel social. Começa, então, a ser sequência, no inciso XXIII, assegura a função social,
questionada a concepção civilista do código em função de (XXIII: a propriedade atenderá a sua função social;).
uma nova noção jurídica de propriedade, a noção de Portanto, o direito de propriedade é garantido pela
propriedade-função. Constituição, como direito fundamental, mas de qualquer
Desse modo, se durante a Idade Moderna forma deve ser respeitada a função social. A confirmação
germinou a concepção individualista do direito de disso tudo é dada pelo artigo 184 da Constituição, que
propriedade - fundamento das grandes codificações e autoriza a expropriação por interesse social (para os fins
pilastra das ideologias liberais – o nascimento e de reforma agrária) de propriedade rural que não atenda à
normatização dos direitos coletivos e difusos e a função social. Em outras palavras, isso quer dizer que a
publicização da esfera privada – características inerentes liberdade individual é satisfeita somente se ao mesmo
ao Direito Contemporâneo – trouxeram modificações ao tempo são levadas em consideração as liberdades sociais.
direito de propriedade, que começou a valorizar, a levar Todavia, a propriedade em âmbito constitucional é
em consideração o aspecto social e, mais adiante, o prevista não apenas como acepção de direito fundamental
ambiental. (art. 5°, XXII e XXIII), mas também como acepção de
Esta evolução, limitadora dos direitos privados em elemento da ordem econômica. Assim, no capítulo
favor do interesse coletivo, culminou com a Constituição destinado aos princípios gerais da atividade econômica, o
de Weimar de 1919, que vinculou o direito de propriedade artigo 170 dispõe: A ordem econômica, fundada na
às obrigações de natureza social. valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
por fim assegurar a todos existência digna, conforme os QUESTÃO 5) Explique como a fragmentação territorial
ditames da justiça social, observados os seguintes e a emergência da classe burguesa contribuíram para
princípios: (...) II - propriedade privada; III – função social a transformação do modelo de propriedade e para o
da propriedade; (...) VI – defesa do Meio Ambiente.” surgimento de novos modos de produção na Europa.
Nota-se, assim, como o citado dispositivo
materializa a integração da propriedade privada, da função QUESTÃO 6) Discorra sobre a transição da concepção
social e do ambiente. E é deste modo que a função social individualista para a propriedade-função durante a
e a proteção do meio ambiente passaram a integrar o Idade Contemporânea, destacando os principais
próprio conteúdo do direito de propriedade, o que significa fatores históricos e ideológicos que contribuíram para
dizer que a propriedade privada existe somente se são essa mudança.
respeitados tais princípios. E é nesse sentido que surge a
função ambiental da propriedade. QUESTÃO 7) Explique como a Constituição de Weimar
Portanto, a utilização da propriedade, no de 1919 foi um marco na consolidação da função
desenvolvimento de atividade econômica deverá, além de social da propriedade, examinando suas implicações
responder à necessidade privada do proprietário, respeitar na organização política e jurídica da Idade
os interesses da sociedade e harmonizar-se com a Contemporânea e seu impacto em outras
preservação dos recursos naturais existentes na mesma constituições ao redor do mundo.
propriedade. Isto é, o direito à livre iniciativa e ao exercício
da atividade econômica é limitado no interesse da
coletividade e na utilização racional dos recursos
ambientais. Em outras palavras, foi introduzida uma nova
perspectiva com relação à propriedade, no sentido da não
utilização econômica do bem ambiental quando o
ambiente equilibrado é colocado em risco.
Em âmbito constitucional, se pode afirmar,
portanto, que o processo evolutivo do direito de
propriedade se deu em três fases, iniciando como um
direito individual (absoluto), passando por um período que
dedicou especial atenção aos direitos sociais (função
social), para, finalmente, chegar a uma terceira fase, que
acrescentou outro elemento ao direito de propriedade: a
função ambiental.

QUESTÃO 1) Como era concebida a propriedade na


Grécia e em Roma durante os períodos da Antiguidade
Clássica? Explique como essa concepção evoluiu ao
longo do tempo, considerando os contextos políticos,
sociais e culturais dessas civilizações.

QUESTÃO 2) De que forma a Lei das XII Tábuas


influenciou a compreensão e o tratamento da
propriedade no Direito Romano? Analise como essa
lei introduziu conceitos como ius utendi, fruendi et
abutendi, e como isso afetou a relação dos romanos
com a propriedade.

QUESTÃO 3) Discorra sobre a evolução do conceito de


propriedade durante a Idade Média, especialmente no
contexto do feudalismo. Analise como as relações
entre Senhor Feudal e vassalos influenciaram essa
concepção e como ocorreu a bifurcação do domínio
nesse período.

QUESTÃO 4) Explique como a Revolução Francesa


influenciou a concepção de propriedade na Europa e
marcou o início do Direito Moderno?

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