Você está na página 1de 8

(Ivanilde Monari Toledo)

“APRENDENDO A NAVEGAR”

“Mar de Histórias” é uma expressão que se usava em sânscrito para se referir ao universo
das narrativas. Ao transitar por essas rotas imaginárias, é sempre bom ter em mente a
metáfora do mar. Ou seja, é preciso ter um caminho, é preciso manter o leme firme, mas é
também necessária a consciência de que se navega em águas que ora podem ser muito
tranqüilas, ora podem se transformar em verdadeiros maremotos. “Esta é a aventura
literária da qual fazem parte o mestre e seus alunos: é preciso coragem para trafegar por
mundos imaginários; porém, as viagens serão sempre cheias de descobertas.”

Navegar pelos mares da leitura nos permite ampliar nossa visão de mundo, desenvolver a
compreensão, a comunicação e o senso crítico, além de possibilitar a aquisição dos
conhecimentos acumulados pela humanidade, abrindo as portas para se viver em sociedade,
cumprindo seu papel de cidadão.
Porém, um dos barcos que deveria nos conduzir nessa viagem, apresenta algumas
dificuldades... A escola não consegue efetivar as práticas de leitura.
Muitas crianças têm seu primeiro contato com os livros na escola, o que a torna um local
privilegiado para desenvolver o gosto pela leitura e oferecer atividades que desenvolvam as
competências leitoras.
O professor deve assumir seu posto de capitão e não deixar esse barco afundar, fazendo
com que a leitura ocupe um lugar de destaque na aula. Ao ler deve apresentar o texto como
ele é, sem suas explicações, sem substituições de palavras ou termos, sem impor nossas
interpretações, permitindo assim que o aluno reflita sobre seu comportamento leitor,
incentivando as crianças, assegurando ao aluno contato com vários livros dos mais variados
gêneros, mostrando-lhe a utilidade de cada um. O aluno precisa entender a função da
leitura,e encontrar sentido naquilo que lê, precisa descobrir o prazer de ler, que após um
texto não somos mais os mesmos, e que não lemos todos os textos de uma mesma forma. E
com essas reflexões conseguir transformar a leitura enquanto objeto de ensino, em objeto
de aprendizagem.
VIAJANDO PELA LEITURA

Para uma viagem pela roda de leitura são necessárias algumas orientações:
- ESCOLHA DO TEXTO: o texto deve ser agradável, de um autor conhecido, deve conter
humor, podendo ser texto longo e sem ilustrações;
- LEITURA PRÉVIA: Ler o texto antes, procurando melhor interpretar, para saber se há
necessidade de dividir em capítulos, contando um pouco por dia, ou não;
-AQUECIMENTO: antes da leitura pode se fornecer elementos para o entendimento do
texto, pode se discutir sobre o título, ler uma sinopse do livro, estimulando a curiosidade,
despertando a atenção;
- DEPOIS DA LEITURA: Uma conversa rica, onde cada um expõe suas idéias e sentimentos, faz
associações com elementos da vida, constrói sentidos pessoais.

NOSSA LEITURA DE CADA DIA

A. LER OU CONTAR HISTÓRIAS?

Ao contar uma história nós podemos utilizar as nossas próprias palavras. Colocando nossa
interpretação e nossos sentimentos em relação ao texto.

A leitura de uma história envolve a palavra escrita e o estilo de quem escreveu. Há um


envolvimento com o terceiro (o escritor). Quando o professor lê uma história para si é
intérprete, mas quando lê para seus alunos é um interpretante da língua escrita. No
momento da leitura o professor passa informações importantes sobre o comportamento
leitor. Ouvir histórias lidas contribui para a aquisição da escrita.
O professor encantado pelo texto pode fazer com que seus alunos se interessem mais pela
leitura.

Ambas as situações exigem preparo e planejamento por parte do professor. Quando vai ler
um texto, o professor lê antes o livro, escolhe a história, prepara um lugar especial para a
leitura. Ao contar uma história, decora a narrativa, busca acrescentar palavras suas, adéqua
o seu contar aos ouvintes e à situação.

B. COMO ESCOLHER UM TEXTO?

O que será que envolve esta escolha?Quais os critérios do professor?

Pode se usar um texto que gostou que contenha humor, que nos diverte e nos faz rir, um
autor conhecido pelas crianças.

Depois de feita a escolha, é preciso ler o conto, pensando nas entonações que fariam, se a
leitura será em capítulos ou não, mesmo quando se lê, podemos causar certo suspense.
Pode preparar os alunos contando uma sinopse. Essa estratégia é interessante porque pode
fornecer elementos para o entendimento das crianças.

Quando o professor conversa sobre o que a história despertou nele ou explicita sua escolha,
ele está se colocando como leitor para seus alunos. E com isto os ensinando a serem
leitores.

C. TEXTO LONGO E SEM ILUSTRAÇÃO NÃO ATRAI AS CRIANÇAS – MITO OU


VERDADE?

Parece que às vezes nos assustamos mais do que deveríamos diante de um texto longo e
sem figuras, mas também precisamos preparar os alunos para este tipo de leitura. Dividir a
leitura, conversar brevemente sobre a história, trazer uma bela imagem retirada de um livro
sobre a história, são estratégias que podem ser exploradas.

D. É NECESSÁRIO SUBSTITUIR PALAVRAS NOVAS?


É importante não omitir nem substituir palavras, pois assim poderíamos estar interferindo
no trabalho com a língua escrita. Às vezes são palavras que fazem parte do modo de falar do
povo, das expressões populares da história tradicional que o autor contou.

E. O QUE FAZER DEPOIS DE LER?

Será que apenas uma conversa não é muito pouco? Não seria melhor pedir um desenho,
uma dramatização, a escrita do título da história? Será?

Uma conversa após a leitura já significa muito para nossos alunos. Justamente porque
conversar sobre o texto, construir sentidos pessoais a partir da leitura, fazer associações com
elementos da vida e com outras histórias são comportamentos leitores importantíssimos.

F. A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR LEITOR

Além de proporcionar um espaço-tempo para a conversa após uma leitura, o professor ao se


colocar como leitor ensina por meio de ações seu comportamento leitor. Falando sobre
como escolheu o texto, qual sua opinião, estabelecendo relações com outras histórias, e
assim construindo seu trajeto leitor.

G. PLANEJANDO UM SEQUENCIA DE LEITURA

Podemos planejar uma seqüência de leituras, escolhendo os textos e os livros por:

1-temas

2-autores

3-gêneros literários

A elaboração de uma seqüência de leituras exige planejamento (escolhas e leituras) por


parte do professor.

Organizar uma seqüência a partir de temas comuns é muito interessante, pois não
precisamos necessariamente forjar entre os alunos nenhum tipo de relação com outra
história, pois os textos e as relações que se estabelecem com as leituras, os sentidos que
constroem falam por si. Uma seqüência bem planejada evidencia isto aos alunos.

Ler textos de um mesmo autor permite conhecer o seu estilo e comparação com outros.

Ainda que a relação ente as histórias e a familiaridade com o estilo do autor não seja
evidenciada pelas crianças, até porque é complexo de se fazer, algo começa a ser construído
no sentido de perceber a temática do autor, saber que livros escreveu, reconhecê-lo quando
se depararem com outras obras de sua autoria.

Ler textos semelhantes, do mesmo gênero, permite que os alunos tirem conclusões sobre
familiaridade entre os gêneros ou sobre diferentes versões.

H. COMO A ESCOLA PODE FORMAR BONS LEITORES?

● Garantindo o contato com livros desde os primeiros anos de vida;

● Oferecendo diferentes gêneros literários para as crianças;

● Garantindo o contato com diferentes portadores de textos, em situações reais e

significativas;

● Tendo contato com professores leitores, que comentem, indicam leitura e que

possam ler na frente do aluno;

● Proporcionando momentos de leitura prazerosa e significativa;

● Promovendo visitas a bibliotecas, livrarias e rodas de leitura;

● Incentivando a troca de dicas literárias entre os alunos por meio de murais, cartões,

marcadores de livros;

● Tendo livros disponíveis ao alcance das crianças nos ambientes que freqüentam;

● Garantindo a qualidade daquilo que se lê, procurando ler textos bem escritos e que

considerem a criança um ser capaz de compreender textos não “infantilizados”.


Podemos concluir então que o papel de professor-leitor é ensinar a criança a se colocar
frente a um texto, compreendê-lo e utilizá-lo de acordo com nossos objetivos, exprimindo
opiniões sobre ele, recomendando a leitura, isto é comportamento leitor. E repensando
nossas atitudes nas atividades de leitura, possamos servir de incentivo e fornecer sentido à
leitura, contribuindo para a formação de leitores autônomos.

“o interesse pela leitura se cria, se suscita, se educa...”


Isabel Solé
BIBLIOGRAFIA

● Curso “O mundo das histórias nas páginas dos livros

A leitura feita pelo professor” realizado pelo Instituto Avisa Lá (2o sem.2010)

● PRIETO, Heloísa -Quer ouvir uma história? Lendas e mitos no mundo da criança.

( Ed.Angra. Página 23)

● LERNER, Délia , Ler e escrever na escola – o real,o possível e o necessário

● Revista Avisa Lá – (Abril 2006) e (julho 2004)

● Emília Ferreiro - Interpretação, Intérpretes e Interpretantes


❖ ELABORAÇÃO: Ivanilde Monari Toledo - Professora I / Catanduva- SP

Você também pode gostar