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A relevância de um debate teórico em relações internacionais que valorize

múltiplas dimensões de análise: algumas reflexões

INTRODUÇÃO
Toda a discussão, análise e debate moderno em torno dos fundamentos
teóricos sobre o comportamento das unidades políticas centrais das relações
internacionais, os Estados, teve início após a carnificina e o sofrimento humano
como decorrência da guerra industrial no primeiro conflito contemporâneo em
grande escala. É no reexame da trajetória histórica dos últimos um século e
meio que se pode não apenas contextualizar os acontecimentos históricos,
como encadear questões aparentemente tão díspares quanto política, cultura,
geopolítica e economia quanto compreender a essência das relações de mútua
influência entre as dimensões conjuntural e estrutural que caracterizam os
atores políticos e o sistema interestatal no qual se localizam.
Nesse sentido, as práticas diplomáticas e o uso recorrente dos meios
militares (dentro da dimensão da estratégia e da geopolítica) pelos principais
atores estatais do mundo nos últimos 400 anos passou a ser estudado de
forma mais racional e científica a partir da ruptura da relativa paz europeia
desde o fim das guerras napoleônicas, de grande escala, provocadas pelo
advento da primeira conflagração em escala industrial e global entre as
principais potências europeias e que contou com a participação das novas
potências que emergiam, Estados Unidos e Japão, nos quadros da
consolidação de um sistema capitalista industrial, liberal e em escala
planetária.
A necessidade de compreender as razões intrínsecas para a ruptura da
paz e da crença no sistema de equilíbrio europeu que vigorara ao longo do
século dezenove fez emergir, no contexto da sociedade moderna, impactada
pela emergência do primado da ciência e da tecnologia para a compreensão do
mundo e para atender crescentemente as necessidades materiais de massas
urbanas que surgiam e que impactavam sobre os sistemas político e
econômico das nações, fez nascer inúmeras questões que precisavam ser
enfrentadas.
Síntese das interações político-diplomáticas, papel das guerras e o processo
de acumulação de capital.
Aqui é preciso estabelecer um padrão de recorrência e o exame de
tendências de longo prazo no campo das relações de poder entre as
formações políticas pode ajudar. Assim, a história nos oferece um
campo profícuo para o exame das relações de poder entre poderes
políticos de diversas sociedades desde pelo menos a emergência do
Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
que se convencionou denominar na modernidade de “ Estado “ e o papel
do poder militar como garante da segurança de suas elites dirigentes.
Ao longo da história desde a antiguidade, independente de formação
político –social e modo de produção, um fenômeno é recorrente: o balanço de
poder e o uso da guerra para fins políticos, ou seja, de obtenção, manutenção
ou maximização de poder e, com isso, de aumento da segurança de um
Estado. A formação de impérios e a evolução dos meios de se fazer a guerra,
bem como a construção de alianças, mudanças de sistema político e mesmo
de econômico, o que nos conduz à ideia de que impactam na geopolítica
também, parece ser um resultado do equilíbrio de poder entre as entidades
políticas externas. Resta nos perguntarmos até que ponto o sistema interno e
suas dimensões cultural (sobre as instituições militar e político-diplomática das
frações de elites), política (militar, diplomática, mais ou menos
institucionalizada) e econômica tem o condão de causar efeitos sobre os
sistemas internacionais. Cumpre destacar, porém, que a tarefa de
compreender com precisão qual o exato alcance e impacto de fatores internos
e externos, materiais e psicológicos e culturais sobre as razões dos padrões de
conflitos e acomodação e, no limite, a expansão dos impérios, mesmo no
mundo antigo, é tarefa árdua, na medida em que raramente um fenômeno
político prescinde de mais de uma causa que lhe deu origem. Autores
importantes como os antigos Tucídides e Políbio e contemporâneos como
Goldsworthy, Harris, Eckestein, Heather, Canfora, Luttwak e Keegan por
exemplo, contribuem de maneira singular para este estudo do fenômeno dos
padrões de interação entre unidades políticas na Antiguidade, por exemplo, a
partir de uma multidimensionalidade de fatores ou causas das guerras.
Este nível de complexidade já denotada no mundo antigo não é, de
forma alguma, algo isolado. Se existe algum padrão ao longo de toda a história
humana, parece o de ser um crescente nível de complexidade, ao qual a
emergência do sistema global unificado sob a lógica dúplice do capitalismo e
do Estado territorial irá lançar novos níveis de complexidade ao fenômeno da
guerra entre as nações. E assim como os estudos de Engels e mais tarde de
Perry Anderson, no plano da estrutura social de classes dos povos antigos e
seu impacto na formação da superestrutura ideológica e política podem ser
vistos como o fundamento que da sustentação e racionalidade ao exame das
demais dimensões de análises dos historiadores especialistas em história
antiga, com muito maior razão as modernas interpretações do fenômeno
internacional a partir do núcleo do pensamento de Marx, Lênin e Rosa
Luxemburgo sobre a relação entre modo de produção e o fenômeno do
imperialismo são os pilares fundadores do pensamento marxista sobre o
fenômeno internacional em sua profundidade.

Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
O que é certo é que a partir da emergência do capitalismo comercial da
Idade Moderna em diante, esta tendência estrutural da dimensão política se
amalgamará como uma união quase indissolúvel com a lógica de acumulação
de capital como as duas forças motrizes das mudanças, características e
condicionantes dos sistemas internacionais sucessivos, de seus padrões de
relações diplomáticas e da instrumentalidade e característica do uso da guerra
como meio da política e da economia das grandes potências, impactando e
sendo impactada pela geopolítica e pelas características intrínsecas dos
respectivos sistemas político-econômico internos (dos quais não se pode
também abstrair os aspectos culturais e sociológicos mais profundos).
Não se deve esquecer, todavia, que como bem demonstraram os
estudos de Immanuel Wallerstein, Geovanni Arrighi e Ellen Menskins, e
igualmente demonstrado pela relação estrutural podemos assim descrever
entre capital, Estado e poder de coerção, eixo da análise histórica e sociológica
de Charles Tilly, se o poder político e seu correlato meio militar são
fundamentais para a luta pela acumulação de capital do Estado que surge a
partir de meados do século XVI, na fase do capitalismo mercantil, esta
interdependência entre as dimensões política e militar, de um lado, e a
econômica, de outro, se invertem: doravante, o Estado e seu arcabouço
institucional militar estará a serviço da lógica do capital.
Isso, contudo, não elide estabelecerem-se padrões de comportamento
entre os atores estatais que possam ter existido desde a antiguidade em
termos da teoria do balanço de poder tão cara aos realistas. Porém, tal lógica
de equilíbrio de poder deve ser percebida enquanto meio de exercício de poder
político a serviço das razões de Estado dentro de uma lógica distinta, ou pelo
menos, mista, que incluem cada vez mais a progressiva dependência da lógica
política ao poder do capital representado pela crescente ascensão das frações
de classe burguesa que irão finalmente lograr o poder político no curso do
século XIX, nos contextos das revoluções liberais e industriais.
Nas formações definidas pelos modos de produção escravo e feudal, por
exemplo, a lógica da guerra encerrava uma necessidade de sobrevivência
material, por um lado, e o desenvolvimento de uma cultura militarista como
fundamento ideológico comum às sociedades antiga e medieval. Aquelas
sociedades pré-capitalistas também dependiam dos fatores materiais. Mas tais
fatores eram antes meios do que fins. Os recursos materiais como terras,
metais, (recurso financeiro), mão-de-obra escrava ou livre remunerada e da
circulação de bens (comércio) eram instrumentos de ascensão, manutenção e
acumulo de poder político, que não se separava do poder militar. Neste sentido
a aplicação da lógica do realismo clássico àquelas sociedades se amolda com
quase perfeição, na medida em que o pensamento dos clássicos como
Morghentau e Aron não negam a importância dos fatores internos e das
Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
personalidades dos indivíduos em posições de hegemonia na condução das
ações dos Estado antigo e medieval. Guerra e política eram a mesma face da
moeda (obs. Fazer menção a que a assertiva clássica de Clausevitz deve ser
pensada para o contexto da Idade Moderna a partir do século 17 em diante).

Lógica desde a II RI
Competição por nova hegemonia dentro do capitalismo
Estimula disputas geopolíticas por mercados e matérias primas, segurança
demográfica e econômica e por segurança contra agressões estrangeiras
Crise cíclica (recessão, queda da bolsa, desemprego, enxugamento da
liquidez, etapa financeira para maximização do lucro do capital financeiro)
Conflito militar
Aumento dos gastos para atender as demandas por sistemas militares
sofisticados para ganhar a guerra, para atender aos ganhos do capital
financeiro que ganha com a indústria bélica e para resolver a crise de produção
da economia real, o que é necessário para a legitimidade do Estado liberal
democrático
Em ciclo de crescimento os gastos militares seriam funcionais para a lógica da
acumulação de capital, mas em ciclo de recessão com a redução da liquidez
(justo para remunerar o capital financeiro e investir em inovações tecnológicas
que em primeiro lugar se aplicam no setor bélico para depois serem recicladas
para o setor produtivo para competição e acumulação produtiva, em tese, com
outras economias capitalistas) o setor militar seria benéfico apenas para com o
setor financeiro do capital, criando dificuldades para a acumulação de capital
em outros setores, com reflexos econômicos, sociais e políticos para a própria
democracia no plano interno, no médio e longo prazos, além de estar ligado à
eclosão de conflitos locais e regionais que alimentam a lógica destrutiva da
economia bélica e que buscam compensar, de alguma forma, as perdas do
capital produtivo pelas oportunidades por reabrir, em tese, novos mercados
para alguns setores, com guerras como Iraque, por exemplo, mas os efeitos
dessa estratégia é discutível, em razão dos poucos ganhos econômicos com
essa estratégia.
Em princípio algumas considerações precisam ser levadas em conta. Primeiro,
apenas os setores econômicos do petróleo, indústria bélica e bancos lucraram
com esta estratégia, além da temporária vantagem estratégica com a
penetração no Oriente Médio, afetando os interesses geopolíticos do Ira,
Rússia, China e Turquia e mesmo países como Alemanha e França, no que se
convencionou denominar de geopolítica do gás e petróleo, que contextualiza as
Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
questões iraquiana, afegã e síria. Mesmo as construtoras americanas não
teriam auferido todas as vantagens, com perdas para outros capitais
estrangeiros. Em segundo lugar salvo o capital produtivo em algumas áreas
intensivo em mão de obra, desde a 3 RI o capital produtivo investe em
tecnologias que substituem o emprego formal em mao de obra, com graves
reflexos sociais. Em terceiro lugar, existe uma crescente preponderância do
capital financeiro sobre o ciclo de acumulação desde a crise estrutural dos
anos 70. A lógica estrutural, sistêmica e primeira de tudo isso se encontra na
crise do sistema de acumulação americano. A eclosão de guerras locais e
mesmo a ameaça de eventual conflito central também obedece a uma lógica
dual e interdepentende: a do capital financeiro e do poder coercitivo militar que
lhe da sustentação, assim como das frações da elite política que legitimam
politicamente este processo e que dependem estruturalmente do complexo
militar financeiro para se manterem no poder ou gestão do Estado dentro dos
primados do regime da democracia de corte liberal.

Aqui as lógicas “internas” da ideologia nacionalista (mercado, trabalho,


recrutamento nas configurações de forçar militares desde a RF), da cultura
estratégica das organizações militares ou são construídas dentro desta lógica
em que os detentores do capital necessitam da aliança com o poder coercitivo
e, logo, do Estado como estrutura institucional mediadora e, nesse sentido, dos
políticos que são os seus representantes.
Cumpre salientar que antes da criação do sistema capitalista e do surgimento
da burguesia, já existiam o Estado, em sua forma e lógica territorialista e os
estamentos aristocrático e militar que lhe davam sustentáculo e que ao mesmo
tempo representavam o seu interesse, já que mesmo antes da divisão do
trabalho ou quando esta era incipiente nas sociedades primitivas, antigas e
medievais, os estamentos aristocrático e militar se confundiam em um só.

O sistema mundial hoje

1-ESTRUTURA DO SISTEMA = ACUMULAÇÃO CAPITALISTA +


EQUILÍBRIO DE PODER ESTRATÉGICO – longo prazo
2-CONTEXTO Internacional – média duração = 3ª e 4ª RCT,
Transnacionalização e Financeirização do Capital (desde a crise
econômica de 2008)
1-CONJUNTURA internacional – curta duração – atos unilaterais e
multilaterais dos Estados = ações políticas e diplomáticas, atos de
guerra, formação de alianças ad hoc, conferências, etc.

Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
Efeitos de retroalimentação entre estes 3 níveis de análise para com o
sistema político interno dos Estados: - sistema político, econômico e
cultural formado a partir da coalizão de elites política, burocrático-
institucional e econômica, dentro de um contexto internacional específico
combinado com um contexto e estruturas sócio-cultural (e política) e
econômica domésticas.

Tendências do cenário internacional que é o grande contexto


internacional atual por que passa o sistema internacional de acumulação
e balanço de poder:
1- Processo de acumulação é condicionado pela financeirização do
capital e pelo aprofundamento da revolução científico tecnológica
com maior impacto econômico, social e político impactando sobre:
2- Aprofundamento da competição intercapitalista entre as grandes
potências, provocando o processo de transição hegemônica que tem
duas vertentes interdependentes: a econômica e a geopolítica =
contexto específico das guerras locais, da dissuasão estratégica
entre as grandes potências (nuclear e com mísseis convencionais de
longo alcance) e das guerras híbridas, prefigurando uma nova
Guerra Fria
3- A) produção industrial de alta tecnologia, que fica cada vez mais
intensiva em tecnologia em detrimento da mão de obra, com graves
repercussões sobre os aspecto social pela diminuição da demanda
por força de trabalho, o que gera tensões sociais (desemprego,
criminalidade, aumento das demandas por bens e serviços públicos
de natureza social por parte do Estado para mitigar ou resolver estas
tensões);
B) divisão internacional do trabalho, condenando a periferia do sul
global à fornecer matérias primas;
C) desestímulo ao desenvolvimento industrial intensivo em mão de
obra de corte fordista, e desestruturação do Estado de bem estar e
tendências ao neoliberalismo, com enfraquecimento das políticas
públicas em educação, saúde, assistência social, trabalho, com o
Estado privatizando serviços públicos essenciais e endividado pelo
sistema de dívidas pública interna e externa para atender às
demandas do capital financeiro e das corporações de alta tecnologia
transnacionais.

CONCLUSÃO

Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.
Análise de conjuntura como resultado ou síntese das dimensões político-
estratégica (diplomacia, militarismo), econômica e cultural = deep state=
complexo militar-industrial como núcleo de coesão de elites do poder

Pelo menos desde a obra O Príncipe, de Maquiavel, se utiliza essa denominação para se referir
às formações político-sociais que iam emergindo na Europa Ocidental sob a lógica da aliança
entre capital e poder político. A partir dai as formações político-sociais anteriores também
ganharam esta denominação pela maioria dos historiadores e demais cientistas sociais, ainda
que não se tratassem nem do Estado territorial moderno europeu, muito menos do Estado
capitalista ocidental.

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