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Relatório de Avaliação Neropp
Relatório de Avaliação Neropp
Este livro foi revisado por duplo parecer, mas a editora tem a política de reservar a privacidade.
C131r
Caetano, Cintia
Relatório de avaliação neuropsicopedagogica – RAN: da anamnese à devolutiva / Cintia Caetano. Rio
de Janeiro: Wak Editora, 2021.
160p. : 24cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-86095-13-5
1. Psicologia educacional. 2. Psicologia da aprendizagem. 3. Neurociência cognitiva. 4. Avaliação
educacional. I. Título.
20-66353 CDD 370.15 CDU: 37.015.3
2021
Direitos desta edição reservados à Wak Editora
Proibida a reprodução total e parcial.
WAK EDITORA
Av. N. Sra. de Copacabana, 945 – sala 107 – Copacabana
Rio de Janeiro – CEP 22060-001 – RJ
Tels.: (21) 3208-6095, 3208-6113 e 3208-3918
wakeditora@uol.com.br www.wakeditora.com.br
A meu amado esposo Caetano,
meu amigo e fiel companheiro.
PREFÁCIO
SOBRE A AUTORA
INTRODUÇÃO
ANAMNESE
PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
SESSÃO LÚDICA DE APRENDIZAGEM
AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM
AVALIAÇÃO DE HABILIDADES MATEMÁTICAS
AVALIAÇÃO DE ATENÇÃO E FUNÇÕES EXECUTIVAS
AVALIAÇÃO DE MEMÓRIA DE APRENDIZAGEM
AVALIAÇÃO DE HABILIDADES PSICOMOTORAS
AVALIAÇÃO DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
RAN
INTERVENÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
PREFÁCIO
Claudia Diniz
Fonoaudióloga. Pedagoga. Mestre em Saúde Mental pelo Laboratório de Mapeamento Cerebral e
Integração Sensório-Motora – Instituto de Psiquiatria/Universidade Federal do Rio de Janeiro –
IPUB/UFRJ. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Neurociências e Educação (NeuroEduc/UFRJ)
– Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento – CNPQ. Pós-graduada em Neurofisiologia, Neurologia da
Motricidade, Fonoaudiologia Hospitalar, Pedagogia da Infância e Neurociência aplicada a
aprendizagem, certificadas pela IBMR, Universidade Estácio e UFRJ. Gestora e docente dos cursos de
pós-graduação em Neuropsicopedagogia Clínica e Neuropsicopedagogia Institucional e Educação
Especial e Inclusiva – CENSUPEG BRASIL. Docente dos cursos de pós-graduação em Neurociência
Pedagógica, Educação Especial e Inclusiva, Docência no Ensino Fundamental e Ensino Médio e
Psicopedagogia na AVM EDUCACIONAL/UCAM. Autora e organizadora do livro Neurociência e
Carreira Docente, publicado pela Wak Editora.
SOBRE A AUTORA
1Rapid Eye Movement, período do sono em que o corpo consegue relaxar totalmente e a taxa de renovação
cerebral é maior. (MULLER; GUIMARAES, 2007)
2 A acetilcolina é um regulador de atenção e memória e tem papel modulador do sono REM. Graças a
ela, conseguimos armazenar melhor as memórias e as informações obtidas durante o dia (GOMES;
QUINBONES; ENGELHARDT, 2010).
3 Intercepção responde aos estímulos em níveis viscerais, sendo manifestadas sensações de dor ou prazer
pelo organismo.
4 Propriocepção diz respeito à percepção dos estímulos em nível de músculos, ligamentos e tendões.
PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
OBSERVAÇÕES
1. Escolha de Verifique se o paciente tem iniciativa na escolha dos
brinquedos brinquedos, ou se espera a indicação de alguém.
2. Verifique se o paciente se expressa de diferentes maneiras com
Plasticidade diferentes brinquedos. Se ele modifica a função dos
brinquedos (objetos) adequando-os às necessidades de
expressão.
3. Rigidez Verifique se o paciente utiliza verbalizações e gestos para
expressar seus sentimentos e conflitos.
4. Verifique se o paciente repete uma e outras vezes com o
Perseverança mesmo comportamento, ou se brinca sempre com o mesmo
brinquedo.
5. Verifique se o paciente assume algum papel enquanto brinca,
Personificação se alterna os papéis, ou se solicita ao observador que assuma
um papel em suas brincadeiras.
6. Verifique se o paciente apresenta gestos e posturas compatíveis
Motricidade com a expressão, se apresenta ritmo nas brincadeiras, se
explora o espaço da sala, dando sequência aos movimentos,
demostrando compreensão da função de cada brinquedo, se
possui lateralidade, sequência de movimentos, e se há
compreensão da função de cada brinquedo.
7. Verifique se o paciente usa os brinquedos de várias formas, se
Criatividade se expressou de maneira criativa, se variou a utilização dos
brinquedos.
8. Emocional Verifique se o paciente foi tolerante à frustração, verifique a
reação diante dos limites apresentados pelo observador.
9. Cognição Verifique se o paciente compreende bem as instruções e
ordens, se possui linguagem adequada e compreensiva, se é
curioso, aberto a aprendizagem.
10. Social Verifique se o paciente brincou sozinho, se demonstrou
iniciativa e independência, se apresentou afeto pelo
observador.
A partir da tabela acima, crie um formulário próprio, onde você possa
relatar como foi a interação da criança durante a sessão lúdica de
aprendizagem. Deixe o formulário sobre a mesa e, enquanto a criança brinca,
você pode fazer anotações. Caso a criança proponha uma interação com o
profissional, deixe o preenchimento para o final da sessão. Lembre-se de fazer
as anotações no mesmo dia, para que nenhuma informação importante caia no
esquecimento.
Ao final, informe à criança que o tempo encerrou e que chegou ao
término do momento lúdico. Perceba se a criança guarda o material no mesmo
local que ela encontrou, ou se ela simplesmente vai embora. Caso ela não
guarde o material, explique que, no seu consultório/espaço, as coisas são bem
organizadas, que ela tem total liberdade, porém deve deixar tudo direitinho
como estava antes. Estimule a criança a recolher todo o material e elogie ao
final mostrando o quão importante é brincar e guardar os brinquedos. Você
pode motivá-la com uma bala (se a criança puder).
Caso a criança se desinteresse pela caixa no meio da sessão, convide-a à
sua mesa e inicie um processo de estímulo ao desenho. Busque interagir com
ela. Proponha que ela faça um desenho para você e que o desenho será exposto
no mural da sua sala. Se a criança ainda se opor, desenhe você e peça a ela que
avalie seu desenho. Aproveite essa oportunidade para perguntar seu nome
completo, se ela gosta do seu nome, onde ela estuda, se gosta da escola, qual o
nome da professora, se gosta da professora, se ela gosta de ler, se gosta de
histórias etc.
Se a criança gosta de histórias, pegue um livro, leia com ela e sempre
faça perguntas sobre a casa, a família, as relações sociais. Aproveite esse
momento para sanar dúvidas que ficaram da anamnese com os pais. A partir
dessas análises, o profissional terá um bom perfil do paciente e saberá
perfeitamente com que tipo de criança está lidando e quais serão os desafios
futuros.
AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM
Área de Wernicke
Interpreta (Compreende)
Área de Broca
Interpreta (Compreende)
Alguns exemplos são viáveis nesse momento, como, por exemplo, uma
criança com dificuldade na análise e síntese visual e auditiva pode apresentar
problemas na formação das sílabas, na sequência das letras e,
consequentemente, na formação de novas palavras. Uma com dificuldades no
esquema corporal pode ter sérios problemas em orientação espacial e temporal,
equilíbrio e postura, dificuldades de se locomover em um espaço ou escrever
obedecendo aos limites de uma linha ou de uma folha. Outra com dificuldades
no ritmo pode apresentar uma leitura lenta, silabada, com pontuação e
entonação inadequadas. Outra com dificuldades nas habilidades visuais pode
provocar leitura silabada, lenta, com inversões, omissões e adições de letras,
sílabas ou palavras. Na escrita, pode ocasionar a execução incorreta de letras e
palavras, devido à movimentação ocular errônea. Ou uma criança com
dificuldades nas habilidades auditivas pode fazer com que o sistema nervoso
receba informações distorcidas do ambiente, dificultando a resposta do cérebro.
Na pré-escola, as letras cujos sons são parecidos (f/v, t/d, p/b etc.) devem ser
estimuladas por meio da discriminação de sons. É necessário que se estimule,
também, a memória auditiva, que irá permitir a retenção e a recordação do que
a criança aprendeu, sendo possível fazer a correspondência entre o símbolo
gráfico visualizado e o som correspondente.
Perceba que todos os pré-requisitos estabelecidos acima são aprendidos
na Educação Infantil. Instintivamente, leva-nos a pensar: Como um professor
pode ensinar todos esses pré-requisitos para uma criança se ele tem a obrigação
de massificar essa criança com atividades em livros etc.?
Fonte: http://www.sbnpp.com.br/
TESTES
Como a área de linguística é muito complexa e há a necessidade de
avaliar diversas áreas menores, no Brasil, temos inúmeros testes para avaliação
de linguagem. Dentre eles, destaco aqui alguns testes que, atualmente (2019),
estão favoráveis para utilização, sejam: Avaliação da Linguagem –
Leitura/Escrita (da Regina Morizot, digitado pela professora Rita Russo),
Pacote Trio Avaliação Neuropsicológica Cognitiva, Protocolo de Avaliação de
Habilidades Cognitivo-linguísticas, IAR – Pré-Requisitos à Alfabetização,
Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo-Linguísticas e outros.
O primeiro teste que vamos trazer ao conhecimento nesta obra é o
Teste de Avaliação da Linguagem – Leitura/Escrita (da Regina Morizot,
digitado pela professora Rita Russo). Resolvi destacar esse teste, pois é um teste
completamente gratuito e de fácil aplicação. O ponto negativo é o fato de ser
um teste de avaliação que não é padronizado, ou seja, qualitativo, que conta
com a expertise do profissional em realizar uma boa avaliação descritiva do
resultado do teste.
O teste de avaliação de leitura e escrita, da Regina Morizot, conta com
duas provas: uma que avalia o reconhecimento e a discriminação de sons, e
outra que avalia o ritmo e a entonação. Na avaliação de escrita, o teste contém
seis provas, que avalia discriminação fonética, análise e sucessão de sons
(protopalavras), memória auditiva de frases, ditado, evocação e organização do
pensamento.
Apesar de ser um instrumento de avaliação qualitativa, o teste da
Regina Morizot é um teste completo que avalia várias áreas da linguagem, por
isso vale sua presença neste livro. Por sua característica descritiva, o profissional
que aplica deve estar atento durante todo o tempo de aplicação das provas,
observando a postura no manejo do lápis, a postura corporal, agitação motora,
nível de cansaço, desinteresse, aspectos relacionados com hipertonia ou
hipotonia muscular, o movimento da escrita (da esquerda para a direita), o
movimento correto das letras, o fato de a criança escrever a palavra inteira para
depois colocar os sinais específicos (til, acentos, cedilha etc.). Verifique se a
criança mantém o mesmo tipo de letra durante toda a avaliação e anote as
trocas fonéticas, dificuldades ortográficas etc.
A Tabela 4 apresenta um exemplo de como colocar no RAN uma
avaliação do teste de Linguagem – Leitura/Escrita (da Regina Morizot).
Perceba que, apesar do teste ser um teste qualitativo, é possível transformar a
quantidade de acertos em dados quantitativos e produzir uma tabela para
apresentar os dados.
Tabela 4: Exemplo que resultados encontrados na aplicação do Teste de Linguagem e Escrita.
LEITURA
PROVA ACERTOS/TOTAL % AVALIAÇÃO
ACERTOS
1 – Reconhecimento e 28 acertos/29 96% Discriminação
discriminação de sílabas fonética realizada
sons. errando apenas
uma sílaba.
2 – Ritmo e 1 acerto/1 questão 100% Leitura realizada
entonação corretamente.
ESCRITA
PROVA ACERTOS/TOTAL % AVALIAÇÃO
ACERTOS
3 – Discriminação 17 acertos/19 89% Escrita realizada
fonética sílabas errando apenas
duas sílabas.
4 – Análise e sucessão 12 acertos/12 100% Análise de
de sons palavras sucessão de sons
(Protopalavras) realizada
corretamente.
5 – Memória auditiva 5 acertos/ 5 frases 100% Memória auditiva
de frases de frases realizada
corretamente.
6 – Ditado 22 acertos/29 75% As trocas
palavras ocorreram entre
as letras q-g, ch-x,
s-z, s-c.
7 – Evocação 31 acertos/31 100% Evocação
figuras realizada
corretamente.
8 – Organização do 1 acerto/1 figura 100% Organização do
Pensamento pensamento
realizada
corretamente.
TOTAL 117 acertos/127 92%
questões
1 Garatuja é um termo utilizado para designar a criança com o punho fechado, executando seus traços
iniciais, sem muita destreza e domínio práxico-motriz (LEVIN, 1998).
AVALIAÇÃO DE HABILIDADES MATEMÁTICAS
Figura 19: Fatores que influenciam o desempenho escolar dos estudantes no aprendizado de Matemática.
Fonte: (BUTTERWORD, 1999, p. 315)
TESTES
Há, no Brasil, uma carência dos instrumentos para avaliação da
competência aritmética. Dentre eles, destaco aqui alguns testes que atualmente
(2019) estão favoráveis para utilização, sejam: CORUJA (WEINSTEIN,
2016), PROADE (BACHA; VOLPE, 2014), Prova de Aritmética (DIAS;
SEABRA, 2013) e Protocolo para Cálculo e Raciocínio Matemático (Adaptado
de Boller e Faglione por Bastos J. A., 2005).
O primeiro teste que gostaria de chamar a atenção é um teste gratuito,
o Protocolo para Cálculo e Raciocínio Matemático (Adaptado de Boller e
Faglione por Bastos J.A., 2005), e da Regina Morizot, digitado pela professora
Rita Russo. Esse é um teste qualitativo, que depende da expertise do
profissional para realizar as análises descritivas dos resultados do teste. O Teste
é composto por oito provas que vão desde o reconhecimento numérico até a
resolução de problemas matemáticos.
A Tabela 6 apresenta um exemplo de como colocar no RAN uma
avaliação do Teste de Habilidades Matemáticas (da Regina Morizot). Perceba
que, apesar de ser um teste qualitativo, é possível transformar a quantidade de
acertos em dados quantitativos e produzir uma tabela para apresentar os dados.
Tabela 6: Resultados encontrados na aplicação no Teste de Habilidades Matemáticas
MATERIAL DE MATEMÁTICA
PROVA ACERTOS/TOTAL % AVALIAÇÃO
ACERTOS
PROVA 4 acertos/4 questões 100% Acertou todas as questões com o
1 objetivo de transformar em
numeral o que está em extenso.
PROVA 4 acertos/4 questões 100% Acertou todas as questões com o
2 objetivo de escrever por extenso os
numerais.
PROVA 4 acertos/4 questões 100% Acertou todas as questões com o
3 objetivo de identificar o maior
número.
PROVA 7 acertos/7 questões 100% Acertou todas as questões com o
4 objetivo de realizar somas.
PROVA 4 acertos/7 questões 57% Deficiência nas subtrações com os
5 números acima de quatro dígitos.
PROVA 2 acertos/7 questões 28% Deficiência nas multiplicações
6 com os números acima de três
dígitos.
PROVA 3 acertos/6questões 50% Deficiência nas divisões com os
7 números acima de três dígitos.
PROVA 2 acertos/8 questões 25% Deficiência na resolução e
8 formulação de problemas
matemáticos.
TOTAL 30 acertos/47 61%
questões
Figura 25: Localização das funções do córtex cerebral, de acordo com a arquitetura citológica
(Segundo K. Kleist). Face convexa do hemisfério esquerdo.
Fonte: (DUSS, 1997)
Fonseca (2014) define funções cognitivas como aquelas que têm sua
origem social e são compostas por três componentes principais: a
conectividade, sequencialidade e a interatividade. As funções cognitivas
correspondem à atenção, à memória, à percepção, à linguagem, ao raciocínio e
à execução. O autor também destaca outra tríade de funções e subfunções
cognitivas, que é a função de input (entrada), de recepção ou de captação, de
apreensão de dados; a função de integração, retenção e de planificação, ou seja,
seleção de dados relevantes; e, finalmente, a função de output (saída), de
execução ou de expressão, ou seja, uma comunicação clara, conveniente,
compreensível e desbloqueada.
Em relação às funções conativas da aprendizagem, Fonseca (2014)
afirma que dizem respeito à motivação, às emoções, ao temperamento e à
personalidade do indivíduo. Essa função está ligada diretamente ao sistema
límbico (córtex afetivo), responsável pelas memórias do presente e passado
(imediato, curto e longo prazo). O autor também destaca três componentes de
otimização funcional: o componente de valor (porque faço a tarefa); o
componente de expectativa (que faço com a tarefa); e o componente afetivo
(como me sinto fazendo a tarefa). A função conativa diz respeito ao esforço em
perseverar em si mesmo e ao esforço em se manter equilibrado diante de uma
determinada tarefa de aprendizagem ou problema. As funções conativas são
cruciais na aprendizagem, pois, sem afetividade, a aprendizagem não acontece.
Isso por que as funções conativas nutrem no aluno o interesse, o desejo, a
motivação, a curiosidade, o empenho, o esforço, o entusiasmo, o prazer, o
sentimento de competência etc. O autor também destaca que, quando não há
um vínculo afetivo na aprendizagem, gera estados emocionais opostos nos
alunos, como a desmotivação, o desprazer, a frustração, a fuga, a rejeição, a
indisciplina etc. Em suma, o esgotamento das funções conativas pode gerar
uma condição em que o cérebro “aprende a não aprender”, gerando bloqueios e
afetando as demais funções.
Porém, neste capítulo, vamos discorrer sobre as funções executivas na
aprendizagem. Sendo assim, o autor define que são funções de coordenação e
de integração das funções cognitivas e conativas, ou seja, são as funções
executivas que regulam, supervisionam e controlam as ações, os pensamentos e
as emoções. Por isso, sua tamanha importância no processo de aprendizagem.
O córtex pré-frontal é o coordenador das funções executivas, é ele que
se comunica com todas as outras áreas do cérebro. Fonseca (2014) destaca que,
para o sucesso escolar, os alunos devem ter algumas competências executivas,
como ter objetivos, antecipar tarefas, priorizar e ordenar tarefas no espaço e no
tempo, pensar, reter, manipular, memorizar, flexibilizar, manipular informação
na memória de trabalho, revisar e verificar tarefas etc. As escolas dos dias atuais
expõem o aluno a múltiplas tarefas, e esse aluno deve responder de maneira
eficiente. Sendo assim, as funções executivas são essenciais e necessárias ao
sucesso escolar.
Dentro das definições das funções executivas, Fonseca (2014) chama a
atenção para o modelo de “roda da sorte” e destaca categorias, como atenção,
percepção, memória de trabalho, controle, ideação, planificação e antecipação,
flexibilização, metacognição, decisão e execução. As funções executivas têm um
papel essencial no desenvolvimento das crianças e em seu sucesso até a idade
adulta, isto porque o córtex pré-frontal encontra-se imaturo antes dos 20 anos
(já falamos da maturação cerebral em capítulo anterior). Sendo assim, é
importante encontrar maneiras de favorecer a evolução das funções executivas
desde a primeira infância.
Acredito que os futuros profissionais de Neuropsicopedagogia Clínica
devem ter total conhecimento sobre as três funções apresentadas neste capítulo,
são elas: as funções cognitiva, conativa e executiva. Isso, pois, os processos
psicognitivos responsáveis pela aprendizagem afetam não somente ao que
aprende (aluno) mas também aquele que ensina (professor). O professor
quando entende as bases neurológicas da aprendizagem consegue criar
ecossistemas mais produtivos em sala de aula, onde todas as crianças aprendam.
Aprender é uma experiência do organismo, é transformar o organismo
adaptando-o ao meio de vida.
Todos temos a mesma estrutura cerebral, mas temos modos de
funcionar diferentes. Entender as funções cognitivas é entender que a cognição
diz respeito à aquisição de conhecimento por meio da interação com o meio,
ou seja, é a forma pela qual o cérebro aprende, a partir de informações captadas
pelos sentidos. Segundo Pedro (2017), aprender a aprender corresponde a
“praticar, treinar, aperfeiçoar, e redesenvolver as funções e capacidades
cognitivas”, ou seja, o aluno deve ser estimulado à prática constante dos
conceitos recebidos.
Entender as funções conativas nos remete a compreender o princípio
de conato, que é o esforço que cada um tem de perseverar em si mesmo, ou
seja, preservar o algo que insiste em si, é a sua personalidade, o seu modo de
ser, seja negativa ou positiva. As funções conativas dizem respeito às emoções,
ao temperamento, à personalidade, à adaptabilidade, à preparação antecipada
etc. A conação é uma função interpessoal que diz respeito a ter consciência de
si e dos outros, sobre como somos afetados pelos outros. Tudo que nos afeta é
afeto, seja bom ou ruim. Para a aprendizagem ser bem-sucedida, as funções
conativas devem nutrir o trabalho docente, pois afeto (emoção) aliado à
experiência gera aprendizagem. A função conativa é integradora e se conecta
com a função cognitiva e executiva.
Finalmente, ao entender as funções executivas, compreendemos a
importância da execução do trabalho e da supervisão dele. O córtex pré-frontal
é um grande aliado a essa execução e coordenação, pois desenvolve habilidades
conectivas, de maneira a manter, gerir e manipular informações. O
desenvolvimento das funções executivas exige tempo, isso pela lentidão do
amadurecimento do córtex pré-frontal, que se dá aos 20 anos
aproximadamente, o que nos leva a entender que as habilidades executivas são
adquiridas gradualmente ao longo do tempo. Sendo assim, as crianças devem
em todo momento ser treinada nas suas funções executivas, assim como no
controle inibitório, na memória de trabalho e na flexibilidade mental. A
Neurociência contribui para o entendimento dos processos educacionais de
maneira a explorar o cérebro humano, justificando o fato de o cérebro ter uma
significância no processo de aprendizagem da pessoa.
TESTES
Atualmente, para a utilização dos neuropsicopedagogos, temos apenas
dois testes para a avaliação de atenção e funções executivas, o TAC – Teste de
Atenção por Cancelamento (MOTIEL; SEABRA, 2012a) e o TRILHAS –
Teste de Trilhas: Partes A e B (MOTIEL; SEABRA, 2012b). O TAC avalia
especificamente a atenção (concentrada, alternada e dividida) e o TRILHAS
avalia afunção executiva e flexibilidade cognitiva, habilidade de planejamento,
flexibilidade e resolução de problemas.
Vamos iniciar pela apresentação do TAC, que é um teste de fácil
aplicação. A idade do público-alvo é de 5 até 14 anos. A atenção é avaliada em
três etapas, ou seja, três matrizes impressas, chamadas de partes. Cada parte é
da folha de instrução ao aplicador, folha de treino e folha de aplicação.
Inicialmente, o aplicador deve apresentar o exemplo, explicando como o teste
deve ser feito. Tenha sempre certeza de que a criança entendeu o que era para
fazer.
Posteriormente, deverá apresentar a folha treino e instruir o paciente a
realizar o treino em 1 minuto. Seja claro que é apenas um treino, por isso é
uma atividade menor. Lembre-se de que, a partir de oito anos, a criança não
fará a folha de treino. Na folha de treino, pode apagar, riscar etc., mas, na folha
de teste, não pode ter qualquer intervenção. Somente após isso, deverá
apresentar o teste propriamente dito. Não permita que a criança interrompa o
teste de maneira nenhuma, somente entre uma aplicação e outra. E, se a
criança se recusar a fazer o resto do teste, avalia-se apenas o que ele fez. Destaco
que não é permitido filmar ou fotografar.
TAC
PARTE 1 – ATENÇÃO SELETIVA
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
45 acertos 103 Média (quando entre 85 e
114)
PARTE 2 – ATENÇÃO DIVIDIDA
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
6 acertos 113 Média (quando entre 85 e
114)
PARTE 3 – ATENÇÃO ALTERNADA
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
41 acertos 126 Alta (quando entre 115 e
129)
TOTAL
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
92 acertos 118 Alta (quando entre 115 e
129)
TRILHAS
PARTE A (LETRA E NÚMEROS)
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
24 acertos 108 Média (quando entre 85 e
114)
PARTE B (LETRA E NÚMEROS ALTERNADOS)
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
2 acertos 48 Muito baixa (quando < 70)
PARTE B-A (ESCORE DERIVADO)
ESCORE PONTUAÇÃO- CLASSIFICAÇÃO
BRUTO PADRÃO
B-A 46 Muito baixa (quando < 70)
2 - 24 = -22
Dessa forma, após a aplicação do teste, verificou-se em sua parte A
(Letras e Números) uma classificação média (P-P 108) e, em sua parte B
(Letras e Números Alternados) uma classificação muito baixa (P-P 48). Na
interpretação do escore derivado B-A (diferença de uma avaliação para outra),
o paciente obteve classificação muito baixa (P-P 46). No escore derivado,
percebe-se que não houve diferença significativa. O teste de Trilhas foi
realizado em um tempo máximo de 1 minuto.
Menezes et al. (2012) apresentam outros instrumentos
neuropsicológicos. Os autores definem que os testes de funções executivas são
denominados simples quando avaliam os domínios separadamente e são
denominados complexos quando avaliam mais de um fator. Temos os seguintes
testes simples: o Teste de Stroop e o Teste de Geração Semântica para avaliar a
inibição, temos o Teste de Dígitos em ordem reversa ou Blocos de Corsi para
avaliar memória de trabalho e o Teste de Trilhas B para avaliar flexibilidade. Já
nos testes complexos, temos o Teste de Categorização de Cartas Wisconsin, os
Teste de Torres (Torre de Londres e Torre de Hanói) e os Teste de Fluência
Verbal.
AVALIAÇÃO DE MEMÓRIA DE
APRENDIZAGEM
TESTES
Atualmente, para a utilização dos neuropsicopedagogos, não há testes
para a aplicação que avalie memória de aprendizagem. O neuropsicopedagogo
tem como opção o Teste “Sete figuras / Sete palavras”, é um instrumento que
faz parte de um teste Bateria de Testes ABC de Lourenço Filho (que não está
sendo mais utilizado), porém este subitem “Memória de Aprendizagem Visual
e Auditiva. Ele é um teste privativo dos psicólogos, aplicado em crianças até
oito anos. O neuropsicopedagogo pode utilizá-lo de maneira qualitativa, ou
seja, descritiva, não sendo permitido realizar a elaboração do gráfico de
memória de aprendizagem. O teste avalia memória de aprendizagem visual:
imediata, tardia e de reconhecimento. Avalia também a aprendizagem auditiva:
imediata, tardia e de reconhecimento (LOURENÇO FILHO, 1952).
O procedimento de aplicação é simples. O profissional deve mostrar as
sete figuras por 30 segundos. Retirar a folha com as figuras e perguntar: “O que
foi que você viu na folha?” (anotando na ficha de resposta). Apresente a figura
mais duas vezes e anote na ficha de resposta. Provavelmente após mostrar mais
vezes, a criança lembrará de mais objetos apresentados na folha.
Figura 31: Figuras do Teste “7 Figuras / 7 Palavras”
Fonte: (LOURENÇO FILHO, 1952)
TESTES
No Brasil, não temos muitos instrumentos para avaliação das
habilidades psicomotoras. Dentre eles, destaco aqui alguns testes que
atualmente (2019) estão favoráveis para a utilização, sejam: POP-
TT (Protocolo de Observação Psicomotora), BPM (Bateria Psicomotora do Dr.
Vitor da Fonseca) e EDM (Escala de Desenvolvimento Motor do Rosa Neto).
Vamos iniciar pela apresentação do POP-TT, um protocolo de
observação psicomotora que realiza uma análise simplificada dos padrões
motores do paciente. Ele pode ser aplicado em crianças de 4 a 12 anos e possui
um custo baixo para aquisição.
Ele visa corroborar os critérios diagnósticos em crianças que apresentam dificuldades de
relacionamento, desenvolvimento e/ou aprendizagem no período dos quatro aos doze anos de
idade, buscando a compreensão mais acertada acerca das inadaptações existentes, numa análise
simplificada do arcabouço psicomotor em funcionamento. (BORGHI; PANTANO, 2010)
TESTES
Tendo como premissa que o neuropsicopedagogo não realiza
diagnóstico de TDAH, é importante destacar em nossos relatórios que
identificamos sintomas de TDAH no paciente. O médico que acompanha o
paciente é que deve realizar as demais avaliações, levando em conta também o
RAN, para dar o diagnóstico.
Para se avaliarem sintomas de TDAH, temos alguns instrumentos,
como o SNAP-IV, Escala CONNERS, Escala de Transtorno do Deficit de
Atenção e Hiperatividade ETDAH-AD (12 e 87 anos) etc.
O questionário denominado SNAP-IV foi construído a partir dos
sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da
Associação Americana de Psiquiátrica. Esta é a tradução validada pelo GEDA –
Grupo de Estudos do Deficit de Atenção da UFRJ e pelo Serviço de Psiquiatria
da Infância e Adolescência da UFRGS.
O SNAP-IV tem o objetivo de avaliar sintomas do Transtorno do
Deficit de Atenção/Hiperatividade em crianças e adolescentes. Ele auxilia no
diagnóstico preliminar desse transtorno por parte de psicopedagogos e demais
profissionais da área de educação. Este questionário é apenas um ponto de
partida para o levantamento de alguns possíveis sintomas primários do TDAH,
sendo considerado um ponto de partida para levantamento de alguns possíveis
sintomas primários do TDAH. O SNAP-IV avalia sintomas para o critério A.
O SNAP-IV é composto de um questionário único e é classificado
como um teste ecológico, que deve ser respondido pela família e pela escola.
De maneira nenhuma, deve ser perguntado à criança. Ele avalia separadamente
desatenção e hiperatividade e impulsividade. Após o pai, a mãe e o(a)
professor(a) responder, o profissional fará a análise das respostas. A avaliação é
simples:
1. Se existem seis ou mais itens marcados como “BASTANTE” ou
“DEMAIS” nas questões de 1 a 9, isto quer dizer que existem mais sintomas de
desatenção que o esperado em uma criança ou um adolescente.
2. Se existem seis ou mais itens marcados como “BASTANTE” ou
“DEMAIS” de 10 a 18, isto quer dizer que existem mais sintomas de
hiperatividade e impulsividade que o esperado em uma criança ou um
adolescente.
Após receber as respostas, o profissional deve consolidá-las para
apreciação médica posterior. Na Tabela 11, temos um exemplo de apresentação
dos resultados de aplicação do SNAP-IV. Lembre-se de redigir um texto
descrevendo as diferenças encontradas na análise das respostas. Por exemplo, o
fato de a criança ter características de desatenção na escola, mas em casa, com a
família, não. Ou vice-versa. Essas diferenças de comportamento podem ser um
ponto de partida para um encaminhamento psicológico.
Tabela 11: Observações na aplicação do SNAP-IV para colocação no RAN
SNAP-IV
OBSERVADOR RESULTADO AVALIAÇÃO
Escola Não apresenta 1 ponto como BASTANTE e 0 ponto
sintomas de como DEMAIS nos itens de 1 a 9 do
desatenção questionário. Desconsidera-se hipótese de
desatenção na visão da escola.
Apresenta 6 pontos como BASTANTE e 1 ponto
sintomas de como DEMAIS nos itens de 10 a 18 do
TDAH questionário. Considera-se hipótese de
TDAH na visão da escola.
Pai Não apresenta 2 pontos como BASTANTE e 0 ponto
sintomas de como DEMAIS nos itens de 1 a 9 do
desatenção questionário. Desconsidera-se hipótese de
desatenção na visão do pai.
Não apresenta 5 pontos como BASTANTE e 0 ponto
sintomas de como DEMAIS nos itens de 10 a 18 do
TDAH questionário. Desconsidera-se hipótese de
TDAH na visão do pai.
Mãe Apresenta 9 pontos como BASTANTE e 0 ponto
sintomas de como DEMAIS nos itens de 1 a 9 do
desatenção questionário. Desconsidera-se hipótese de
desatenção na visão da mãe.
Apresenta 6 pontos como BASTANTE e 2 pontos
sintomas de como DEMAIS nos itens de 10 a 18 do
TDAH questionário. Considera-se hipótese de
TDAH na visão da mãe.
1. INTRODUÇÃO
Nome da criança: JASM
Data de nascimento: 27/02/2007 Idade: 11 anos
Escolaridade: 5º ano
Dominância manual: Destro
Filiação: LSM e CAM
Faz uso de medicamento? (Sim) Qual: Risperidona
2. QUEIXA
A mãe relata que a criança é agitada, atrapalha a aula, não acompanha
o conteúdo. A escola procurou a família, informando o problema.
5 - SAÚDE FAMILIAR
A família não apresenta problemas de saúde. O pai biológico
apresenta problemas com alcoolismo.
6 - VIDA ESCOLAR:
A mãe relata que a criança teve seu contato com a escola desde a
creche, passando por uma adaptação normal, sem apresentar
problemas. Não apresentou problemas na alfabetização. No Ensino
Fundamental (4º ano), veio a repetir o ano. A mãe relata que a
professora a procurou informando que a criança apresenta
comportamento agitado em sala, desatento e bagunceiro, atrapalha
muito a aula, não acompanha o conteúdo, implica com os colegas,
põe apelidos, briga com os colegas. A professora sempre apresenta
reclamações do comportamento na escola. A escola passou o problema
para a família. Já repetiu de ano por conta de notas baixas.
8 - INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO:
Para a avaliação neuropsicopedagógica, foram utilizados testes
quantitativos, qualitativos, ecológicos, além da observação lúdica,
relatos da família, da escola e do paciente.
* Sessão Lúdica de Aprendizagem
* Material Qualitativo Triagem/Sondagem Linguagem e Aritmética da
Regina Morizot
* Avaliação Neuropsicológica Cognitiva Atenção e Funções Executivas
– Volume 1. Teste de Atenção por Cancelamento.
* Avaliação Neuropsicológica Cognitiva Atenção e Funções Executivas
– Volume 1. Teste de Trilhas: Partes A e B.
* Protocolo de Observação Psicomotora. TESTE POP.
* SNAP-IV
10 - CONCLUSÃO
Levando em conta o perfil pessoal, socioeconômico e escolar do
paciente, foram propostos testes e entrevistas, de maneira a avaliar os
diversos aspectos que compõem esse relatório, desde sessão lúdica,
linguagem e escrita, habilidades matemáticas, atenção e funções
executivas e observação psicomotora. Após a aplicação dos testes,
verificou-se que o paciente é pouco criativo, ainda faz trocas de letras.
Verificou-se, quanto às habilidades matemáticas, dificuldades com
operações utilizando três e quatro dígitos e resolução de problemas.
Quanto às funções executivas, o paciente demostrou um baixo
rendimento. Os resultados apontam um ótimo desempenho motor e
de atenção.
11 - INDICAÇÕES DE TRATAMENTO
* Indicação para avaliação com neurologista.
* Indicação para avaliação com psicólogo.