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1) Como surgiu o seu interesse em trabalhar como

psicopedagoga?

Terminei a minha primeira graduação com 21 anos, sou fonoaudióloga. E eu sempre


gostei, eu sempre trabalhei, meu objeto de trabalho sempre foi alterações neurológicas.
Trabalho até hoje, eu trabalho com tudo, mas o meu foco são pacientes neurológicos.
Então meu primeiro trabalho foi com crianças com síndromes raras. Então, eu trabalho com
comunicação alternativa. Instrumentalizo crianças com potencial de comunicação, que não
tem mais condição de falar, mas que precisa de certa forma estar se comunicando. E
durante esse processo, eu tinha muitas dificuldades em relação ao processo de construção
da aprendizagem. E não queria fazer o curso de pedagogia porque era um curso mais
extenso. E aí eu conheci a psicopedagogia. Porque o objeto de estudo da psicopedagogia é
o processo de aprendizagem, ela só fez somar a minha profissão mais pelo objeto de
estudo, que é o processo de aprendizagem.
Eu fiz a minha especialização em desenvolvimento infantil, eu fiz minha especialização em
psicopedagogia.

2) Qual o foco e o principal objetivo da psicopedagogia para você?


O processo de aprendizagem. O objeto de estudo dela, e a gente tem que focar nisso.
É o processo de aprendizagem.
O processo de aprendizagem em si, como a informação entra, ela é processada, como ela
vai para determinadas áreas, a psicopedagogia ela abre um espaço pra isso. Totalmente
diferente de toda e qualquer profissão.
Por isso que hoje em dia você vê várias, né? Terapeuta ocupacional, psicopedagogo.
Encaixar essa criança dentro desse contexto das tuas intervenções, das tuas atividades.
Então eu acho que ela agrega muito. É uma pós-graduação que vale muito a pena para
quem vai atender crianças.
3) Quais os campos de atuação possíveis e quais são atividades
próprias da sua área?

Da psicopedagogia, você pode fazer a parte clínica, que é o meu caso, que é feita em
consultório.
A parte institucional, que ela é feita somente em escola. É um trabalho preventivo. O
psicopedagogo institucional, ele não atende. Ele trabalha em um ambiente escolar.
O psicopedagogo hospitalar: Eu trabalhei durante quatro anos como psicopedagogo
hospitalar no Albert Sebi. E foi um momento muito massa pra mim. Porque eram crianças
sem possibilidades terapêuticas, mas que tinham, de certa forma, ser estimuladas. Tinha
que ser. E o psicopedagogo era o profissional que tinha acesso a isso, né? E eu fiquei
durante quatro anos trabalhando no hospital. E foi um momento muito legal.
Você também não vai, necessariamente, ensinar uma criança que tá sem possibilidades
terapêuticas, de ensinar além. Mas existem outras coisas que a gente pode estar fazendo.
-

4) A senhora sempre teve esse interesse em fazer psicopedagogia?


Não, nunca tive não. Eu primeiro fui conhecer. Quando a gente se forma, é sempre bom a
gente sempre ter um plano B e eu fui muito para esse lado.

Da área de atendimento e aí hoje meu foco, eu trabalho muito com comunicação


alternativa, mas eu trabalho também com esse processo de alfabetização de crianças, sem
potencial (crianças que nem leem e nem nada). E aí eu acabei me especializando nisso, e
trabalho com isso. Inclusive, meu livro vai estar saindo no final desse ano sobre as
habilidades pré-editoras de crianças com alterações neurológicas.

5) Como está a situação, em termos de atuação da sua área no


Nordeste? A demanda é grande?
Vou fazer 50, e estou desde os 21.
Tem uma lei que tá querendo transformar a psicopedagogia em graduação. Mas, até então,
ela é uma pós. Então eu sou fonoaudióloga. Eu pago meu conselho de fono. Existem
algumas profissões que não precisa pagar conselho. Eu sou bióloga também. Eu me formei
em fonoaudiologia e me formei em biologia. A biologia eu não preciso pagar conselho pra
estar exercendo.
Mas essas que a gente faz atendimento. A psicopedagogia, apesar de não ser uma
graduação, uma pós, a gente tem uma associação. ABPP. Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
Paga o valor pra gente poder estar exercendo essa profissão. E aí ela é diferente de todas
as outras pós-graduadação. Porque a pós-graduação em psicopedagogia, ela te dá uma
titulação. Tu vai ser psicóloga e psicopedagoga.

6)Como é a relação dos psicopedagogos com outros profissionais


da área?

Aqui onde trabalho, é uma clínica que tem um fluxo muito bom. Porque na região tem
poucas poucas clínicas assim e por ser uma clínica mais antiga, então as pessoas
procuram muito aqui. Como aqui tem psiquiatra, tem tudo, então as crianças chegam pros
atendimentos e tudo. O psiquiatra daqui encaminha para algum profissional daqui da clínica
e assim digamos que todos se ajudam.
7) E quais as dificuldades mais frequentes que você já se deparou,
assim, durante toda sua vida atual?
Na psicopedagogia, eu acho que a maior dificuldade, que hoje a gente quase não tem
mais, é esse entendimento de que o psicopedagogo não é um professor particular. Ele é
um terapeuta como qualquer outro terapeuta. Então, às vezes, a criança tá com dificuldade
pra ler. E o que faltava, era o estímulo da mãe sentar e buscar conversar com essa criança,
acompanhar as tarefas, ter aquele acompanhamento familiar.
-

8) E quais os testes que um psicopedagogo, exatamente assim,


pode aplicar?

Os testes são vários. Não existe um teste específico. Mas tem o TDE, tem a ABAS, tem o
ABFW, que a gente ainda pode aplicar junto com o FOMO.] Mas assim, os mais específicos
são o TDE, o IA. Testes pra dislexia, pra descalculia. Existem testes específicos pra isso.
.O TDE é um teste que tanto o fonoaudiólogo como o terapeuta ocupacional, se ele quiser
aplicar, ele pode aplicar. Mas ele não é específico. Você não precisa ser psicopedagogo.
Então, assim, a maioria dos testes da psicopedagogia, eles não são específicos só do
psicopedagogo. O TDE é o teste de desempenho escolar. A primeira edição dele é aplicada
até a quinta série. A gente vai avaliar, aplica um teste nessa criança pra ver qual é esse
percurso. Se ele não sabe somar... Pra somar, você precisa ter várias funções. E a gente
vai trabalhar em cima disso aí.
Então, por exemplo, o TDE vê essa questão da aritmética, da leitura e da escrita. Ele avalia
esses três pontos de avaliação. Então, a gente vai avaliar o que é que ele aprendeu na
criança.
O IA, ele é um teste de que ele pode ser aplicado coletivamente, ele pode ser aplicado
individualmente. É um teste que a gente aplica, geralmente, no infantil 5, mas com algumas
crianças que têm até 5 anos, 6 anos no máximo, mas... E o TDE até 11 anos. Mas, às
vezes, por exemplo, o IA a gente pode aplicar em crianças com autismo, que tem um
desenvolvimento um pouco atrasado, com crianças com atraso, né, cognitivo, crianças com
deficiência intelectual, crianças com Down. A gente aplica. Até 10 anos eu já apliquei o IA.
Né? E é um teste que vê os pré-requisitos, por exemplo, pra leitura e pra escrita. Todos
aqueles pré-requisitos de lateralidade, esquema corporal, você consegue avaliar no IA.
Então, existem vários testes.
9)Quais características ou habilidades são importantes o
profissional ter pra poder atuar?

Eu acho que você tem que gostar de estudar. Esse é o caminho sempre
Então quem faz a nossa profissão é... Somos nós. O que a gente é, é o que a gente
investe. Se você investir cinco reais, você vai ser um profissional cinco reais. Se você
investir, por isso que vale muito a pena a gente estudar. A gente não precisa nesse
momento tá se matando de estudar. Mas a gente precisa dedicar todos os dias, o momento
do nosso tempo para o estudo. Porque não adianta a gente estudar só quando se forma.
Então são certas coisas, mas eu consegui tudo o que tenho da noite pro dia? Não sei. Eu
fiz a dente, eu fiz a dente no final. Demorei muito. Muito, muito. Eu paguei pra trabalhar.
Paguei pra trabalhar. Durante muito tempo. Mas, mas nunca desisti. Eu sempre estudei
muito, eu sempre fui muito estudiosa. E aí agora a gente vai, vai correndo. E vai correndo
atrás.

11) Qual a média salarial da sua área?


Varia muito, cada um tem seu valor. O valor da minha consulta é 170 reais. E não cobro
pacote de avaliação. Faço questão de mostrar resultado, faço visita domiciliar, visita escolar
(todos tenho acesso a escola), faço questão de mostrar o meu diferencial.

10) Pra finalizar, o que a senhora diria para aqueles que estão
considerando a possibilidade de atuar nessa área?

Estudar, não tem conselho melhor. Qualquer profissão vai ser muito boa pra gente desde
que a gente invista.

ACABA AQUI
PERGUNTAS A PARTE QUE FIZERAM,

10) Encaixando assim com o que a senhora falou, né? Porque eu


tenho muita dúvida nisso, Porque eu fico estudando Aí eu fico me
perguntando Como é que eu vou começar isso, eu queria saber
como é que a senhora começou Nessa área, né? Como tudo
começou quando a senhora terminou.

Eu terminei, gente, parece até Coisa de


[29:44 - 29:55] Todo mundo aqui acredita em Deus, né? Então tá bom Então eu vou dizer
Mas Deus, ele existe de verdade O meu primeiro emprego foi com crianças com autismo
Né?
[00:00 - 00:11] Tu sabe quanto é que eu ganhava? R$116,00, porque era o valor do salário
mínimo na época. Eu ganhava um salário mínimo, que era R$116,00. Vocês não tinham
nem pretensão.
[00:11 - 00:17] Teu pai nem tinha nem... Eu morava quase vizinho ao pai dela.
[00:18 - 00:31] E era um garotão, teu pai. Ele era muito amigo dos meus irmãos,
muito amigo. E viajavam juntos. E eles... R$116,00 eu ganhava.
[00:31 - 00:40] Então acredita, era o valor do salário mínimo. E aí quando eu entrei, foi o
meu primeiro congresso com crianças com autismo.
[00:40 - 00:47] E aí eu comecei a trabalhar num local chamado Perspectiva Teach, que
trabalhava com o programa Teach.
[00:47 - 01:00] O Teach é um programa baseado na... A base dele é o behaviorismo, tá
certo? Que significa trabalho e educação para crianças. Com autismo e distúrbios da
comunicação humana.
[01:00 - 01:13] A sigla do Teach. Não é teacher, professor, não. É Teach. Tia Teach. Né? E
é o seguinte. Trabalho e educação para crianças com autismo e distúrbios da comunicação
humana. E aí eu fui fazer um curso na Carolina do Norte, com o Dr. Eric Schopler.
[01:13 - 01:23] Porque lá o Teach é programa de estado. A criança nasce com autismo e
ela entra no programa de estado. E eu fiz esse curso lá com ele e vim pra... E voltei.
[01:23 - 01:35] Passei um mês, quase 45 dias fazendo esse curso. Fiz esse curso lá e
voltei. Quando cheguei, fui logo trabalhando, né? Fui logo trabalhando. E aí pronto. Me
apaixonei. Mas é um trabalho... Sempre foi um trabalho muito cansativo.
[01:35 - 01:47] E eu disse, não, eu não vou ficar trabalhando com crianças especiais. Tu
entra, tu não consegue mais sair. Porque acaba tu virando referência às pessoas, né? E aí
eu não consegui mais sair.
[01:48 - 02:00] E sempre trabalhei muito. Aí fui chamada pra coordenar a média
complexidade. Passei 10 anos. Coordenei 14 anos da minha vida. Coordenei a média
complexidade aqui em Fortaleza. Atenção neurológica.
[02:01 - 02:11] E trabalhando como coordenadora em outro expediente atendendo. Aí me
vi grávida, né? E minha segunda filha nasceu com autismo.
[02:11 - 02:23] Então assim, eu acho que a Maria tinha que ser minha filha. Não poderia
ser filha de outra pessoa. A Maria é muito grave. Eu fico imaginando a Maria na mão de
outra mãe que não tivesse a habilidade,
[02:23 - 02:35] um anseio que eu tenho, um anseio clínico que eu tenho com ela. E ela
tinha que ser minha. E aí agora eu entendo. Deus me preparou a vida toda pra ser melhor
Maria, né? Só pode ser.
[02:36 - 02:48] E aí quando eu saí da gestão, fui trabalhar no Up Vida. E fiz uma promessa
pra mim que não queria mais ser gestora. Cheguei no Up Vida, recebi um convite pra
participar de um processo seletivo
[02:48 - 02:56] pra cuidar da medicina preventiva do Up Vida. Se eu ainda estivesse lá,
vocês como terminassem estarem todas em casa. Eu ia me entregar.
[02:58 - 03:11] E fui coordenada, passei quatro anos coordenando a medicina preventiva e
implantei o grupo UTEA lá. Eu cuidava medicina preventiva, nascer bem, bariátrica e por
final UTEA.
[03:11 - 03:22] Só que ser gestora suga muito. E aí eu pedi pra sair e hoje em dia eu só
sou funcionária. Sou peão, né? Não sou mais gestora.
[03:22 - 03:28] Mas uma boa parte da minha vida eu sempre trabalhei como gestora. E
como terapeuta também.

Então, a senhora acha que com essa coisa das telas, de como as
crianças estão sendo expostas a isso, aumentou, né? A demanda?
Aumentou muito. Né?

Aumentou muito. E não só isso.


[10:59 - 11:12] O próprio desenvolvimento infantil, ele modificou demais. Né? Ou... Antes, a
gente tinha uma noção de como era. Na minha época, o desenvolvimento era totalmente
diferente, por exemplo, da época da minha filha agora. Né?
[11:12 - 11:25] E com isso, assim, a própria neurociência, ela veio modificar. Hoje, existem
várias perspectivas de aprendizagem. Hoje, a gente fala em... Hoje, por exemplo, o
paciente não fica mais vegetando.
[11:25 - 11:37] Né? Então, existem várias possibilidades. Hoje, a gente vê possibilidades
para aquele idoso. Ah, eu quero fazer uma estimulação cognitiva no idoso. Existe uma área
da psicopedagogia que é aplicada só a idoso. Né?
[11:37 - 11:49] Ó, eu acho que meu pai está perdendo muito. Tem como fazer uma
estimulação cognitiva? Tem. Né? Aí, voltado ali para esse lado da aprendizagem, voltado
para isso, então, o psicopedagogo tem uma área que trabalha com isso. [11:49 - 12:01]
Então, assim, cresceu demais. Né? E, mais, eu acho... Foi tudo uma questão. A própria
neurociência, esse conhecimento que a gente tem hoje, dessa plasticidade neuronal,
né? É...
[12:03 - 12:13] É... A quantidade de crianças especiais que aumentou absurdamente. Então,
assim, hoje a gente não vê mais uma criança com autismo sem possibilidade de
aprendizagem.
[12:13 - 12:26] Então, a gente entende que toda criança com autismo, mesmo com grau de
suporte avançado, ela tem pó de ler. Ela pode falar. Depende das intervenções que forem
aplicadas a essa criança. Entendeu? Então, assim, aumentou muito o campo de trabalho.

E você acha que as telas, assim, redes sociais, o celular,


atrapalham um pouco o desenvolvimento da criança? Isso é
comprovado já cientificamente, né?

[12:37 - 12:49] Até um ano e sete meses a gente não pode apresentar celular para os filhos.
Isso é comprovação científica. Depois de um ano e sete meses a criança só pode ter
acesso à tela uma hora por dia.
[12:51 13:00] Então o atraso é comprovado. Se você vai para qualquer pediatra, se você
vai... Então hoje por isso que a gente tem tantas crianças...
[13:00 - 13:10] Só aqui, eu atendo aqui, seis crianças com atraso de fala. Quase três anos.
Só falavam mamãe e papai. Quase três anos.
[13:10 - 13:21] Então aí, o atraso de fala é sinal de alerta para comprar tudo. Então dessas
seis crianças, quatro são com suspeita de TEA. Mas dessas quatro, só duas são TEA.
[13:21 - 13:34] As outras duas é um sinal de alerta. Então tu imagina uma criança de três
anos que é para ter um repertório de mais de 180 palavras, tá falando... Formando frases e
não fala nem mamãe e papai. O que o médico suspeita?
[13:34 - 13:45] Não existe exame clínico que diga que a criança tem autismo. Aliás, exame,
né? Um raio-x, um hemograma, não existe. O exame é totalmente clínico. Então a mãe diz,
olha, não fala, faz isso, faz isso, faz isso.
[13:46 - 13:58] Chega naqueles marcos do desenvolvimento. A criança chega aos três anos
e a criança não fala ainda. Qual é a primeira suspeita? TEA. Né? Então... E eram crianças
que tinham acesso...
[13:59 - 14:11] Direto. Direto às telas. Usava demais. Né? Então assim, a tela é muito
prejudicial. O celular é prejudicial pra gente. Sim. Quanto tempo a gente não perde no
Instagram? TikTok. Né?
[14:12 - 14:23] TikTok, Instagram, não tem coisa pior pra gente. Né? E a gente precisa se
policiar pra não tá... Não tá usando isso como, né? É...
[14:24 - 14:34] Direto, mas você perde muito tempo. Tu tá aqui almoçando, às vezes tu
come mal. E tu tá no Instagram. Como assim? Para a procrastinação que gera, né? É, vou
fazer depois.
[14:34 - 14:46] Aí fica lá, tu deita na tua cama pra dormir, tu podendo ler um livro, tu vai ver
o Instagram. Verdade. Aí tu diz assim, não, quando eu começo a ler eu durmo. Puxa, tu tá
vendo o Instagram. Né?
[14:46 - 14:58] Tu quer ter o hábito da leitura e tu não tem porque tu tem o Instagram. Então
o Instagram, ele é péssimo. Né? Ele é péssimo. Quando a gente, principalmente quando a
gente não sabe usar da maneira correta, né? Mas as nossas crianças não sabem usar.
[14:58 - 15:10] Então eu falo assim, tá, eu uso, uso, uso. É YouTube, é desenhos, né? E aí
o que é? Então, muito quanto, né? A senhora falou que divide paciente, né?

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