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artigo técnico

LAMINAÇÃO:
AGREGANDO
VALOR À

Foto Divulgação/henkel
EMBALAGEM

Por Fabiana Silveira *

ENTENDA OS REQUISITOS, CONTROLES, PARÂMETROS E PRINCIPAIS PARTICULARIDADES DO


PROCESSO – NADA FÁCIL – DE LAMINAÇÃO DE SUBSTRATOS PLÁSTICOS FLEXÍVEIS, UTILIZANDO
OS ADESIVOS DO TIPO SOLVENTLESS

1. Introdução ao método convencional. As vantagens vão


O processo de laminação de embalagens desde o baixo consumo de energia até a redu-
plásticas flexíveis por meio da combinação de di- ção na emissão de VOCs (do inglês, Compos-
ferentes substratos é um recurso utilizado para tos Orgânicos Voláteis) e dos solventes residu-
agregar valor às mesmas, contribuir nas questões ais na embalagem. Esses adesivos são prove-
estéticas, aumentar as propriedades de barreira, nientes da reação de isocionatos aromáticos
proteger a impressão e reduzir custos. Uma das ou alifáticos (adesivo) com um poliol, resina
principais vantagens das embalagens laminadas de poliéster ou poliéter (catalisador). Por isso,
é a união de propriedades de dois ou mais po- para a laminação de filmes plásticos, os ade-
límeros que, juntos, irão propiciar os requisitos sivos solventless na sua grande maioria são bi
necessários para o envase, o acondicionamento e componentes, logo validamos um conjunto: o
proteção, a produtividade e até mesmo as condi- adesivo e o catalisador. A reação de polime-
ções do preparo do produto. rização começa a ocorrer a partir da mistura
dos dois componentes, cuja reação principal
2. Adesivos solventless demonstramos a seguir:
O
O processo de laminação com adesivos po-
=

liuretânicos sem solventes (em inglês, solven- R - NCO + R1-OH RNH-C-OR1


tless) foi desenvolvido como uma alternativa ISOCIANATO POLIOL URETANO

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Os adesivos podem ser classificados em da e testada. Vale ressaltar que alguns layouts
duas categorias. Uma delas é a dos alifáticos: de embalagem, por exemplo, com degrades e
são aqueles que possuem resistência à radiação cromias, possuem uma tendência maior às al-
ultravioleta (ao amarelecimento). Outra catego- terações estéticas provocadas pelo processo de
ria é dos adesivos aromáticos; eles são divididos laminação. (Veja exemplo à página 52). Em ou-
de acordo com a performance em relação à re- tros casos, exemplo das impressões chapadas,
sistência química e térmica, que são: pode ocorrer o fenômeno de Ink smearing, ou
a) Standard: podem ser mono ou bi compo- seja, uma interação tão forte do adesivo com
nentes e são indicados para aplicações que não a tinta que ele a arranca do substrato em mo-
requerem resistência térmica e química; mentos de delaminação. A resistência à dela-
b) Média performance: aplicações que re- minação é muito menor na área de tinta, logo,
querem resistência térmica e química - são os se a embalagem possuir processo de solda a
mais utilizados no mercado de embalagens quente nessa região, algumas estruturas com
para alimentos, para pet food e produtos de resistência à delaminação, tipicamente baixa,
limpeza em pó; poderão não resistir a esse processo e, assim,
c) Alta performance: indicados para pro- apresentar problemas relacionados à vedação
cessos que requerem alta resistência ao ata- da embalagem. Como os solventes utilizados
que químico e térmico, como pasteurização, no processo de impressão possuem uma afini-
alto vácuo, esterilização e embalagens de pro- dade muito grande com os adesivos, recomen-
dutos reativos. da-se o controle do teor residual dos solventes.
Alterações nos mesmos na etapa de impressão
3. Projeto e escolha do conjunto devem ter uma avaliação dos seus impactos
adesivo também na laminação.
O sucesso de uma embalagem laminada se 3.3. Exposição da embalagem no
inicia pela avaliação técnica de todos os requisi- PDV
tos e a sua aplicação. Logo, para se alcançar o Como os adesivos aromáticos possuem
resultado esperado do projeto é necessário, em uma tendência ao amarelecimento, esse fe-
primeiro lugar, escolher adequadamente o tipo nômeno pode ocorrer em embalagens que fi-
de conjunto adesivo e catalisador, levando em cam expostas à radiação ultravioleta. O branco
consideração alguns fatores, como descritos nos fica amarelado, os tons de azuis, esverdeados
subitens a seguir, 3.1 a 3.5. e as cromias tendem a mudar de cor. Nessas
3.1. Estrutura da embalagem situações, é importante avaliar a necessidade
Os tipos de substratos são definidos no desen- de utilização de adesivos alifáticos, que não
volvimento com base no produto a ser acondicio- são atacados por essas radiações. Existem fa-
nado: barreiras necessárias, processo de envase, bricantes que possuem adesivos aromáticos
questões estéticas, especificações de resistência menos suscetíveis a esse ataque, além disso,
à delaminação, processo de vedação, forma de medidas como a aplicação do adesivo por bai-
apresentação no ponto de venda (PDV), requisi- xo da tinta, o tipo de layout da embalagem e
tos legais e custos. as cores utilizadas, também podem amenizar
3.2. Interação entre tintas, sol- essa alteração. Se o tempo de exposição for
ventes e conjunto adesivo curto, muitas vezes essas medidas retardam o
Esta interação deve ser previamente analisa- aparecimento do problema. Geralmente se usa

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a regra: em embalagens que há necessidade aromático, que é o momento em que a rea-


de utilizar tintas com resistência à radiação ção está completa (geralmente de 7 a 10 dias
ultravioleta, deve-se avaliar a necessidade no após o processo de laminação). Esse é o tem-
conjunto adesivo. po indicado para iniciar o processo de envase
3.4. Tempo de cura do produto com segurança, momento em que
Como já mencionado, os adesivos poliure- as características da embalagem em termos de
tanos são obtidos por meio da reação do iso- coeficiente de fricção (cof) e resistência à de-
cionato com um poliol, e essa reação se inicia laminação se encontram estáveis. Geralmente
logo após a mistura do adesivo e do catalisador, quanto maior a barreira da estrutura, maior é o
que tem como particularidade o tempo de cura tempo de cura. No caso dos adesivos alifáticos,
– nada mais é do que o tempo necessário para pode chegar a 21 dias.
ocorrer a polimerização. Essa reação é depen- 3.5. Velocidade do processo de
dente das condições ambientais (temperatura e laminação
umidade) e do tempo de espera entre a lamina- Com o aumento constante das velocidades
ção e a etapa seguinte. O processo pode ser di- de produção por meio de máquinas laminado-
vidido em dois níveis: 1º) Cura macroscópica de ras com uma gama de recursos que permitem
um adesivo aromático, que é o tempo necessá- explorar essa necessidade, os fabricantes de
rio para a movimentação da bobina e para que adesivos desenvolveram novos conjuntos que
a mesma apresente a resistência à delaminação se adaptam a essa realidade. Uma das carac-
desejada (geralmente de 6 a 48 horas, confor- terísticas que está relacionada à velocidade de
me as recomendações do fabricante), à estru- produção, bem como à viscosidade, é o cha-
tura da embalagem e às condições ambientais. mado “pot life”, ou seja, o tempo de vida útil
Já para os adesivos alifáticos, o tempo de cura depois da mistura do adesivo e catalisador na
macroscópica é mais estendido (em média 7 laminadora. Por isso, o adesivo deve ser espe-
dias); e 2º) Cura microscópica de um adesivo cífico para cada máquina, de acordo, principal-
mente com a velocidade de produção da mes-
ma. Essa sua característica também impacta na
limpeza do equipamento durante as paradas,
apresentando uma tendência mais ou menos
secativa, de acordo com esse parâmetro.

4. Processo de laminação
Após a análise dos critérios de escolha do
adesivo, o segundo ponto que deve ser analisado
são as condições de processo. Assim como as tin-
tas para impressão, para alcançar o desempenho
esperado na laminação, os parâmetros de má-
quina, expertise operacional e manutenção dos
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equipamentos e acessórios precisam estar dentro


das condições adequadas. Os principais pontos
que impactam na qualidade e no resultado do la-
Interação de tinta e adesivo,
resultado: manchas na imagem. minado veremos nos subitens 4.1 a 4.8.

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4.1. Condições das bobinas dos e (ou) aquecido, evitando um choque térmico
substratos na chegada da mistura à máquina. É comum,
O tipo e nível de tratamento superficial da em regiões geográficas de temperatura am-
bobina, o embobinamento inadequado (ex- biental elevada, não se verificar a necessidade
cesso de tensionamento, conicidade, rugas ou de tais recursos.
marcas), assim como as variações excessivas 4.3. Umidade
de espessura, o excesso de agentes deslizan- Um dos agentes de cura do conjunto ade-
tes ou solventes de impressão são fatores que sivo e catalisador é a umidade. Por isso, a
interferem diretamente na qualidade do lami- vedação dos tambores, de cintas e a limpeza
2500 dos bicos dosadores é de extrema importância
Pot Life
2000
para evitar a chegada de adesivo polimeriza-
Viscosidade (cps)

do à máquina laminadora, evitando altera-


1500
ções, como proporção de mistura incorreta e
1000
falha de aplicação. As trocas de tambores são
500
um momento crítico, pois bolhas de ar podem
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0
0 10 15 20 25 30 35 40
ficar retidas nos mesmos e nas mangueiras.
Tempo (min) O sistema de big bags diminui o processo de
“Pot life”: tempo de vida útil depois da mistura
troca, muitos fabricantes já trabalham com
do adesivo e catalisador na laminadora. esse tipo de embalagem. Um compartimen-
to de sílica, ligado diretamente aos tambores,
nado – problemas herdados das bobinas de também deve ser utilizado.
substratos que podem causar defeitos, como: 4.4. Equipamento dosador e
baixa força de adesão, irregularidade de apli- controle da proporção de mistura
cação, falha de umectação, canaletas, rugas, Todo conjunto adesivo e catalisador possui
marcas na bobina laminada e embobinamen- uma relação de mistura adequada para que a
to inadequado. reação ocorra da forma esperada e completa.
4.2. Temperaturas do adesivo e Esse é um dos parâmetros de controle crítico
catalisador para o sucesso de uma estrutura laminada no
Um dos requisitos que regula a viscosida- processo solventless. Quem comanda as quan-
de destes componentes é a temperatura. É tidades é o equipamento dosador. Por isso, a
importante se ter um controle da mesma nos limpeza, manutenção e tecnologia do mesmo
tambores de acondicionamento do adesivo garantem uma mistura em proporções corre-
e das “panelas” ou reservatórios dos dosa- tas. Além dos controles com o equipamento,
dores. Essas temperaturas são padronizadas o teste de proporção de mistura, a limpeza e
de acordo com as condições ambientais: se avaliação das condições do bico misturador
existem variações extremas no inverno e ve- garantem este requisito desse processo. A
rão, as temperaturas de trabalho também aplicação da mistura na máquina não deve ser
variam. É recomendado pelos fabricantes um direcionada em apenas uma área dos cilindros
pré-aquecimento nos tambores do adesivo e R1 e R2, sendo recomendável que o bico es-
do catalisador através da utilização de cintas teja em constante movimento para diminuir o
aquecedoras, bem como cobrir as manguei- tempo de exposição da mistura com a umida-
ras de transporte com revestimento térmico de. Dessa forma, sempre está sendo lançada

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mistura “nova” em todas as partes dos rolos, um histórico desses parâmetros para auxiliar
evitando que se aplique adesivo já em proces- nos próximos setups. A identificação das
so de cura no substrato. bobinas por meio de etiquetas, indicando o
4.5. Rolos de borracha horário de término da laminação, contribui
Os rolos de borracha, ou camisas, são os para que a etapa posterior siga um sistema
acessórios que transferem a mistura de adesi- de FIFO, evitando o uso de bobinas que não
vo e catalisador ao substrato. Por isso, nesses estejam com o tempo de cura adequado.
rolos, a dureza dos mesmos e o estado da su- 4.7. Acondicionamento da bobi-
perfície são pré-requisitos para o correto es- na pós laminação
palhamento da mistura no filme. O principal As primeiras horas após a laminação são
fator que contribui para a vida útil dos cilindros as mais críticas para o processo de cura e
de borracha é a limpeza adequada, visto que a para evitar perdas por marcas indesejadas na
mistura residual, deixada neles após o término bobina. Por isso, a recomendação é deixa-la
da laminação, tende a curar muito rápido e, suspensa pelas três primeiras horas após o
uma vez curado, a mistura fica impregnada no processo de laminação. Para acelerar a cura,
rolo, deixando-o brilhante e reduzindo a poro- principalmente, em temperaturas-ambientes
sidade da borracha. O recomendado é realizar baixas, é comum fazer uma estufa no local,
a limpeza, logo após o término do pedido e de utilizando aquecimento do ambiente duran-
maneira completa, sem deixar resíduos. te período.
4.6. Controles de parâmetros de 4.8. Gramatura aplicada
processo
Tensões, pressões, percentual de aplica-
ção da mistura, gramatura aplicada e tempe-
raturas são os principais parâmetros de pro-
cesso que devem ser contralados. É impor-
tante que o operador tenha ciência de que
deverá alterá-los de acordo com a estrutura
a ser laminada. Alguns substratos, como fil-
mes rígidos, de PET ou BOPP, impõem tam-
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bém limitações de velocidade. Alterações de


temperatura no Nip Rol auxiliam em ques-
tões de espalhamento do adesivo, brilho do Marca no laminado, provocada por resíduo no rolo de borracha.
laminado, mas também podem impactar no
cof final da bobina. É recomendado, como O controle da gramatura de adesivo é es-
boa prática, um check operacional, onde, sencial para atingir os resultados esperados.
além de registrar os parâmetros de processo Quando fora dos padrões recomendados,
utilizados no pedido em questão, também tanto no limite superior quanto no inferior,
são registrados os controles de produto, ela causa problemas no laminado. A gra-
como gramatura aplicada, proporção de matura do adesivo abaixo do recomendado
mistura, código e lote dos adesivos utiliza- pode causar alterações, como resistência à
dos e ainda a amostra de retenção das bobi- delaminação, química e térmica baixas, as-
nas. Com essas informações é possível criar sim como o espalhamento inadequado. Já

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Controle da gramatura de adesivo é essencial para alcançar os
resultados esperados. (Nas imagens 1, 2 e 3: teste de gramatura).

1 2 3
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Gramatura do adesivo abaixo do recomendado pode causar


espalhamento inadequado, entre outras alterações.

aquela acima do limite superior, além de inadequado, baixa resistência à delaminação e


acarretar em custo, impacta em tempo de alterações na impressão. Outras questões rela-
cura, alterações de cof, de rigidez da emba- cionadas com a resistência química e térmica
lagem e defeitos estéticos. podem ocorrer ainda durante e após o acondi-
cionamento do produto. No processo de vali-
5. Conclusão dação de adesivos, as questões de segurança
Tão importante quanto as demais etapas, o alimentar e toxicidade dos componentes pre-
processo de laminação é um aliado no sucesso cisam estar presentes. Por isso, análise crítica
do projeto da embalagem. Uma particularida- no desenvolvimento da embalagem, contro-
de é o fato de que os problemas associados à les, conhecimento operacional, registros, boas
laminação dificilmente são percebidos no mo- práticas de fabricação e treinamentos dos
mento da mesma. É comum nos depararmos operadores auxiliam e nos dão embasamento
na etapa de acabamento da embalagem com teórico para que, ao final do processo, tenha-
defeitos, como: falhas, marcas, espalhamento mos atingido os objetivos do projeto.

(*) Fabiana Silveira

Técnica em Química, pela E.E.T. São João Batista, do Rio Grande do Sul. Licenciada em Química pela Universidade Luterana do Brasil, cur-
sando MBA em Gestão da Qualidade, Competividade e Certificações, pela Faculdade da Serra Gaúcha. Atua no segmento de embalagens
plásticas flexíveis há 11 anos, nas áreas de desenvolvimento, engenharia de processo, controle e gestão da qualidade. É Coordenadora de
Gestão da Qualidade na Bazei Plásticos e Embalagens Ltda. Contato: fabiana@bazei.com.br

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