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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA

Até o século XVIII, a deficiência era vista como produção mítica e


de ameaça social e, a partir do século XIX, como uma conotação de
patologia. Foi somente no século XX, de maneira bastante
progressiva que a concepção de deficiência foi sendo alterada,
deslocando-se o foco do “corpo doente individual” para o do “corpo
doente social”, fruto da ideia de que as doenças também seriam
produtos sociais.

Neste sentido, postula-se que os estados de invalidez podem ser


influenciados, não apenas por limitações individuais decorrentes da
deficiência ou incapacidade, mas também por factores ambientais e
sociais, que variam de acordo com o meio no qual o indivíduo
deficiência se acha inserido (Rocha, 1999; 2006).

De acordo com Amiralian (2000), o modelo médico enfatiza a


dependência, enquanto que o modelo social atribui as
desvantagens à sociedade, sendo a solução a reestruturação desta.
Portanto, segundo a autora, há a necessidade de se privilegiar um
modelo combinado entre os modelos médico e social da deficiência,
não se limitando nem aos factores biológicos, nem aos sociais.

Há muito tempo a reabilitação carece de uma estrutura conceitual


unificadora. Historicamente, o termo tem descrito uma série de
respostas à deficiência, desde as intervenções para melhorar a
função corporal até medidas mais abrangentes destinadas a
promover a inclusão
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF) fornece um arcabouço que pode ser utilizado em todos
os aspectos da reabilitação.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) Deficiência


são “limitações significativas ao nível da actividade e da
participação em um ou vários domínios de vida, decorrentes de
alterações funcionais e estruturais de carácter permanente,
resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação,
aprendizagem, mobilidade, autonomia, relacionamento interpessoal
e participação social.

Da invisibilidade à convivência na sociedade, houve uma longa


trajectória representada pelas medidas caritativas e o
assistencialismo, correspondentes a ações imediatistas e
desarticuladas, que mantiveram as pessoas com deficiência
isoladas nos espaços da família ou em instituições de
confinamento. Na primeira metade do século XX, surgiu o modelo
biomédico da deficiência, que interpreta a deficiência como
incapacidade a ser superada. Esse modelo está vinculado à
integração social. A seguir, instalou-se a transição para o modelo
social da deficiência, relacionado à inclusão.

Na actualidade aplica-se o paradigma dos direitos humanos para


garantir a dignidade da pessoa com deficiência, o combate à
violação de seus direitos, sua autonomia e acesso a todas as
prerrogativas sociais.

No modelo biomédico, considera-se a deficiência como


consequência de uma doença ou acidente, que deve ser objecto de
tratamento para a habilitação ou a reabilitação do máximo de
capacidades, aproximando-se da cura. Este paradigma tem como
foco as limitações funcionais que se encontram na pessoa,
desconsiderando as condições do contexto social.

O modelo biomédico corresponde à integração da pessoa com


deficiência à sociedade, situação na qual os esforços de
participação são desenvolvidos pela pessoa e sua família, sem que
haja mudanças da sociedade. O modelo (bio) médico da deficiência
tem sido responsável, em parte, pela resistência da sociedade em
aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes
(SASSAKI, 2003).

Nesse modelo as políticas públicas destinadas às pessoas com


deficiência são específicas, isoladas e habitualmente restritas à
saúde, assistência e educação especial em escolas segregadas. Na
integração as pessoas com deficiência são representadas pelos
profissionais e familiares, sem voz e sem actuação directa nas
políticas públicas. Em muitas sociedades subsiste modelo de
integração

A partir da consolidação dos estudos sobre a deficiência na década


de 1960 (DINIZ, 2009) e do movimento de reivindicação de direitos,
da luta contra a opressão e pelo protagonismo das pessoas com
deficiência, surgiu o modelo social da deficiência em
contraposição ao modelo meramente biológico.
O modelo social tem por foco as condições de interação entre a
sociedade e as pessoas com limitações funcionais. As pessoas com
deficiência são sujeitos de direitos, com autonomia e independência
para fazer suas escolhas, contando com apoios sociais.
O modelo social visa à transformação das condições sociais,
mediante políticas públicas inclusivas. Segundo Sassaki, no modelo
social da deficiência cabe à sociedade eliminar todas as barreiras
físicas, programáticas e atitudinais para que as pessoas possam ter
acesso aos serviços, lugares, informações e bens necessários ao
seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional
(SASSAKI, 2003).

As intervenções são realizadas na esfera atitudinal e na provisão de


acessibilidade nas construções e espaços urbanos, nos transportes,
nas diversas formas e sistemas de comunicação, de informação,
assim como acesso à tecnologia assistiva

O novo conceito supera a ideia de impedimento como sinónimo de


deficiência, reconhecendo na restrição de participação o fenómeno
determinante para a identificação da desigualdade pela deficiência
(DINIZ, 2009)

A deficiência é um conceito em evolução, de caráter


multidimensional e o envolvimento da pessoa com deficiência na
vida comunitária depende de a sociedade assumir sua
responsabilidade no processo de inclusão, visto que a deficiência é
uma construção social.

Esse novo conceito não se limita ao atributo biológico, pois se


refere à interacção entre a pessoa e as barreiras ou os elementos
facilitadores existentes nas atitudes e na provisão de acessibilidade
e de tecnologia assistiva.
As limitações físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais passam a
ser consideradas atributos das pessoas, atributos esses que podem
ou não gerar restrições para o exercício dos direitos, dependendo

A desigualdade vivida pessoas com deficiência, como


analfabetismo, desemprego e baixa renda impactam os indicadores
de desenvolvimento negativamente.

O QUE É INCLUSÃO SOCIAL?

Conceitualmente dizendo: É um conjunto de meios e acções que


combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade,
provocada pela diferença de classe social, origem geográfica,
educação, idade, existência de deficiência ou preconceitos raciais
Inclusão Social é oferecer aos mais necessitados oportunidades de
acesso a bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie a
todos e não apenas aos mais aptos

PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA

Quem são? Há muitos conceitos para classificar o portador de


deficiência e foram mudando ao longo da História, assim como as
palavras utilizadas para exprimi-los. Termos como: retardado,
doentinho, aleijado, surdo-mudo, surdinho, mudinho, excepcional,
mongolóide, débil mental e outros, não são mais aceitos, pois
carregam muitos preconceitos

PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA

Estes termos também despertam controvérsias; cada um deles tem


defensores, com argumentos próprios. Acredita-se que o
fundamental é referir-se a estas pessoas ou conversar com elas de
forma natural e respeitosa.

Em termos gerais, podemos definir que "Pessoa Portadora de


Deficiência" é a que apresenta, em comparação com a maioria das
pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais,
decorrentes de factores inatos e/ou adquiridos, de caráter
permanente e que acarretam dificuldades em sua interação com o
meio físico e social

"No domínio da saúde, a desvantagem representa um


impedimento sofrido por um dado indivíduo, resultante de uma
deficiência ou de uma incapacidade, que lhe limita ou lhe impede o
desempenho de uma actividade considerada normal para ele,
levando em conta a idade, o sexo e os factores socioculturais"
(OMS, 1980, p. 37).

A situação de desvantagem só se determina em relação a outros,


sendo por isso um fenómeno social. Caracteriza-se por uma
discordância entre o nível de desempenho do indivíduo e as
expectativas que o seu grupo social tem em relação a ele. Dizer que
um indivíduo "tem uma deficiência" não implica, portanto, que ele
tenha uma doença nem que tenha de ser encarado como "doente".
Incapacidade:

A incapacidade, estabelecendo a conexão entre a deficiência e a


desvantagem, representa um desvio da norma relativamente ao
comportamento ou actividade habitualmente esperados do
indivíduo. A incapacidade não é um desvio do órgão ou do
mecanismo, mas sim um "desvio" em termos de actuação global do
indivíduo e pode ser temporária ou permanente, reversível ou
irreversível, progressiva ou regressiva.

A Incapacidade pode ser definida como qualquer redução ou falta,


seja ela física, psicológica, volitiva, sensorial ou intelectual, que
impeça a pessoa de desempenhar, mesmo que momentaneamente,
uma actividade em igualdade de condições com os demais, sem
deixar de observar o ambiente em que está inserido.

Logo, conclui-se que a incapacidade está ligada à impossibilidade


parcial ou total de desempenhar tarefas ligadas à actividade laboral
habitual. Ainda segundo a CID-10, “as Incapacidades reflectem as
consequências da deficiência em termos de qualquer restrição ou
falta de habilidade para se realizar uma actividade de uma maneira
ou dentro da amplitude normal para o ser humano.

As incapacidades reflectem distúrbios no nível da pessoa”. Como


exemplo, podemos afirmar que uma deficiência de dentes torna a
pessoa incapaz de mastigar adequadamente ou que uma
deficiência de audição torna a pessoa incapaz de ouvir. Existe, pois,
uma incapacidade auditiva ou surdez, incapacidade de mastigação
ou incapacidade de locomoção sem auxílio de outras pessoas.

Segundo a CID-10, “as Desvantagens handicaps – são aquelas,


resultantes ou de deficiência ou de uma incapacidade, que limitam
ou impedem o cumprimento de um papel que é normal
(dependendo da idade, do sexo e de factores sociais e culturais)
para aquele indivíduo”. As desvantagens reflectem, desta forma, a
discordância entre o desempenho do indivíduo e as expectativas
sociais, incluindo as familiares, em relação a esse indivíduo ou
grupo de pessoas no qual ele ou ela é membro.
Resumindo a deficiência é algo em relação à pessoa, à condição
física, intelectual, visual, auditiva, exista acessibilidade ou não, a
deficiência está lá. Já a incapacidade é gerada a partir das barreiras
do meio para que a pessoa possa realizar determinada acção.
Assim, o nosso papel como cidadão é buscar contribuir para
eliminar barreiras físicas e atitudinais para que as pessoas com
deficiência venham a viver com plenitude e desenvolver suas
potencialidades.

QUEM É O VERDADEIRO DEFICIENTE?

“Se você deixa de ver a pessoa, vendo apenas a deficiência quem é


o cego? Se você deixa de ouvir o grito do seu irmão para a justiça,
quem é o surdo? Se você não pode comunicar-se com sua irmã e a
separa, quem é o mudo? Se sua mente não permite que seu
coração alcance seu vizinho, quem é o deficiente mental? Se você
não se levanta para defender os direitos de todos, quem é o
aleijado? A atitude para com as pessoas deficientes pode ser nossa
maior deficiência... E a sua também” (Autor desconhecido).

VERDADES E MITOS SOBRE AS DEFICIÊNCIAS

 Deficiência não é doença;


 Algumas crianças portadoras de deficiências podem
necessitar de escolas especiais;
 As adaptações são recursos necessários para facilitar a
integração dos educandos com necessidades especiais nas
escolas;
 Síndromes de origem genética não são contagiosas;
 Deficiente mental não é louco.
MITOS SOBRE AS DEFICIÊNCIAS:

 Todo surdo é mudo;


 Todo cego tem tendência à música;
 Deficiência é sempre fruto de herança familiar;
 Existem remédios milagrosos que curam as deficiências;
 As pessoas com necessidades especiais são eternas
crianças;
 Todo deficiente mental é dependente.

POR QUE TEMOS PRECONCEITOS?

É normal ter preconceito. O preconceito faz parte da natureza


humana, desde o início dos tempos. O homem desconfia e tem
medo de tudo o que é diferente dele mesmo. O "outro" inspira
receio, temor, insegurança; daí para adotar atitudes defensivas e de
ataque é um passo.

Esses sentimentos eram importantes no tempo das cavernas,


quando os homens eram poucos e lutavam bravamente para
sobreviver em um ambiente hostil. Infelizmente, persistem até hoje,
nas lutas entre católicos e protestantes, árabes e judeus,
muçulmanos e cristãos, brancos e negros...

Na verdade, desde que o mundo é mundo sempre houve pessoas


com deficiência. Mas, nem sempre estas pessoas foram
consideradas da mesma maneira. No passado, a sociedade
freqüentemente colocou obstáculos à integração das pessoas
deficientes. Receios, medos, superstições, frustrações, exclusões,
separações estão, lamentavelmente, presentes desde os tempos da
antiga Grécia, em Esparta, onde essas pessoas eram jogadas do
alto de montanhas, ou em Atenas, onde elas eram abandonadas
nas florestas.

Estratégias para facilitar mudança de atitudes:

 Filmes mostrando como pessoas com necessidades


especiais podem viver integradas em sua comunidade;
 Palestras com pessoas com necessidades especiais
relatando suas experiências;
 Palestras com profissionais acerca da problemática das
deficiências;
 Livros e folhetos informativos sobre a deficiência.
 Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais.
 Promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
A expressão “o bem de todos” indica que os direitos e deveres
da cidadania pressupõem que todos são iguais perante a lei,
com a garantia de que são invioláveis o direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e


que a deficiência resulta da interacção entre pessoas com
deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que
impedem a plena e efectiva participação dessas pessoas na
sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Todavia, as pessoas com deficiência possuem necessidades
especiais que as distinguem das outras. Desta forma, é importante
compreender que, além dos direitos relativos a todos, as pessoas
com deficiência devem ter direitos específicos, que compensem, na
medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão
sujeitas.

SOCIEDADE INCLUSIVA Todas as pessoas têm igual valor; A


diferença entre as pessoas é um princípio básico e nenhuma forma
de discriminação pode ser tolerada;

QUEM É O VERDADEIRO DEFICIENTE?

“Se você deixa de ver a pessoa, vendo apenas a deficiência quem é


o cego? Se você deixa de ouvir o grito do seu irmão para a justiça,
quem é o surdo? Se você não pode comunicar-se com sua irmã e a
separa, quem é o mudo? Se sua mente não permite que seu
coração alcance seu vizinho, quem é o deficiente mental? Se você
não se levanta para defender os direitos de todos, quem é o
aleijado? A atitude para com as pessoas deficientes pode ser nossa
maior deficiência... E a sua também” (Autor desconhecido

A reabilitação é sempre voluntária e alguns indivíduos podem


necessitar de apoio para decidir sobre as opções disponíveis. Em
todos os casos, ela deve ajudar a capacitar a pessoa com
deficiência assim como a sua família.

Habilitação e Reabilitação, da Convenção das Nações Unidas sobre


os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) recomenda
medidas apropriadas, inclusive por meio do apoio de pares, para
permitir que pessoas com deficiência alcancem e mantenham o
máximo de independência, a sua mais completa capacidade física,
mental, social e vocacional, além de total inclusão e participação em
todos os aspectos da vida. A convenção recomenda, ainda, que os
países organizem, reforcem e ampliem serviços e programas de
reabilitação, que devem começar o mais cedo possível, baseados
em avaliações multidisciplinares das necessidades e capacidades
dos indivíduos e incluindo dispositivos e tecnologias assistivas.

Reabilitação é também entendida como “um conjunto de medidas


que ajudam pessoas com deficiências ou prestes a adquirir
deficiências a terem e manterem uma funcionalidade ideal na
interacção com seu ambiente”. Algumas vezes faz-se a distinção
entre habilitação – que visa ajudar os que possuem deficiências
congénitas ou adquiridas na primeira infância a desenvolver sua
máxima funcionalidade enquanto que a reabilitação é entendida
como aqueles que tiveram perdas funcionais são auxiliados a
readquiri-las. O termo reabilitação normalmente, acontece durante
um período determinado de tempo, mas pode envolver intervenções
simples ou múltiplas realizadas por uma pessoa ou por uma equipa
de profissionais.

Embora o conceito de reabilitação seja amplo, não engloba tudo


que diz respeito à deficiência.
 A reabilitação visa a melhoria da funcionalidade individual, por
exemplo, melhorando a capacidade de uma pessoa comer e
beber sem auxílio.
 Ela também pode ser necessária desde a fase aguda ou
inicial do problema médico, logo após sua descoberta, até as
fases pós-aguda e de manutenção.
 A reabilitação também inclui a intervenção no ambiente do
indivíduo, por exemplo, a instalação de uma barra de apoio no
banheiro.
 A reabilitação reduz o impacto de uma ampla gama de
condições de saúde.
Mas iniciativas para remover barreiras no âmbito social, tais como a
instalação de rampas nos edifícios públicos, não são consideradas
reabilitação neste relatório. A reabilitação envolve a identificação
dos problemas e necessidades da pessoa, o relacionamento dos
transtornos aos factores relevantes do indivíduo e do ambiente, a
definição de metas de reabilitação, planeamento e implantação de
medidas, além da avaliação de seus efeitos (veja figura abaixo).

Educar as pessoas com deficiência é fundamental para desenvolver


os conhecimentos e habilidades para a auto-ajuda, a assistência, a
gestão e a tomada de decisões. Pessoas com deficiência e suas
famílias conseguem melhorar a saúde e a funcionalidade quando
são parceiros na reabilitação.

O PROCESSO DE REABILITAÇÃO

Reabilitação, fornecida ao longo de uma assistência contínua desde


o atendimento hospitalar até a reabilitação na comunidade, pode
melhorar os resultados de saúde, reduzir custos pela diminuição
dos períodos de hospitalização, reduzir a deficiência e melhorar a
qualidade de vida. Pode ser conduzida por profissionais de saúde
junto com especialistas em educação, emprego, bem-estar social e
outros campos. Em contextos de poucos recursos, ela pode
envolver trabalhadores não especializados como, por exemplo,
trabalhadores em reabilitação da própria comunidade, família,
amigos e grupos comunitários.

A reabilitação que começa cedo produz resultados funcionais


melhores para quase todas as condições de saúde associadas à
deficiência. A eficácia da intervenção precoce é especialmente
marcante em crianças que têm, ou podem vir a ter, atrasos de
desenvolvimento, ou seja melhora os progressos educacionais e de
desenvolvimento.

Para que a Reabilitação atinja e mantenha a funcionalidade ideal na


interacção com o seu ambiente, é necessário que tenha os
seguintes resultados abrangentes:

■ Prevenção da perda funcional;


■ Redução do ritmo de perda funcional;
■ Melhora ou recuperação da função;
■ Compensação da função perdida;
■ Manutenção da função actual.

Os resultados da reabilitação são a melhora e modificações na


funcionalidade do indivíduo ao longo do tempo, atribuíveis a uma
medida isolada ou a um conjunto de medidas. Os resultados da
reabilitação também podem ser medidos pelas mudanças no uso de
recursos; por exemplo, a redução das horas semanais necessárias
para serviços de apoio e assistência.

Os exemplos a seguir ilustram diferentes medidas de


reabilitação:
■ Uma mulher de meia idade com diabetes avançado. A reabilitação
pode incluir assistência para recuperar a força após sua
hospitalização devido a coma diabético, o fornecimento de uma
prótese e treinamento de marcha após amputação de um membro,
e o fornecimento de um software de leitura de tela para permitir que
ela continue a trabalhar como contadora após a perda da visão.

■ Um jovem com esquizofrenia. Esse homem pode ter dificuldades


com situações rotineiras, como trabalhar, ter vida independente e
manter relacionamentos. A reabilitação pode significar tratamento
medicamentoso, educação do paciente e familiares, apoio
psicológico através de assistência ambulatorial, reabilitação
baseada na comunidade ou participação num grupo de apoio.

■ Uma criança cega e surda. Pais, professores, fisioterapeutas e


terapeutas ocupacionais, além de outros especialistas em
orientação e mobilidade precisam trabalhar em conjunto para
planear espaços acessíveis e estimulantes para encorajar o seu
desenvolvimento. Os cuidadores precisarão trabalhar com a criança
a criação de métodos adequados de comunicação por toques e por
sinais. A educação personalizada com avaliação cuidadosa ajudará
no aprendizado e reduzirá o isolamento da criança.

Treinos para pessoas com Paralisia Cerebral


 Treinar a criança de diferentes formas para completar a tarefa.
 Avaliar e fornecer equipamentos,
 Treinar os pais para levantar, carregar, movimentar, alimentar
e ou cuidar da criança com paralisia cerebral.
 Ensinar os pais e familiares a usar e manter o equipamento
 Fornecer informação e apoio para pais e familiares.
 Aconselhar a família
 Uso de tecnologia de apoio
 Fornecer equipamentos para manter a postura e o auto-
cuidado, diversão e interacção, como permanecer sentado ou
em pé (de acordo com a idade). Pais mais capazes de cuidar
do (a) filho(a) e de serem mais pró-activos.
 Redução da probabilidade de ter o desenvolvimento
comprometido, deformidades e contracturas.
 Mostra algumas medidas de reabilitação possíveis para uma
criança com paralisia cerebral, resultados possíveis, barreiras
em potencial e as diversas

Entre os terapeutas e profissionais de reabilitação incluem-se


os terapeutas ocupacionais, técnicos de órteses e próteses,
fisioterapeutas, psicólogos, auxiliares técnicos e em reabilitação,
assistentes sociais e fonoaudiólogos.

Medidas terapêuticas incluem:


 Treinamento
 Exercícios e estratégias de compensação
 Educação, Apoio e aconselhamento
 Modificações no ambiente
 Disponibilização de recursos e tecnologia assistiva.

Dados convincentes mostram que algumas medidas terapêuticas


melhoram os resultados da reabilitação. As necessidades de
reabilitação não satisfeitas podem retardar a reabilitação, limitar
actividades, restringir a participação, causar deterioração da saúde,
aumentar a dependência pela assistência de outrem, e piorar a
qualidade de vida.

Psicologia da reabilitação: pesquisa aplicada à intervenção


hospitalar

Tradicionalmente identificada como um nível específico de acção


em saúde, a reabilitação envolve muitos desafios conceituais,
metodológicos e técnicos para seus profissionais e pesquisadores.
Concebida como um processo de aprendizagem e
desenvolvimento, com ênfase no aprimoramento das habilidades
pré-existentes, busca propiciar a melhor capacidade física-mental-
social possível, apesar das limitações impostas pela deficiência ou
pelo dano. De carácter essencialmente multi-profissional e inter-
disciplinar, suas intervenções visam à inserção social e à autonomia
da pessoa deficiente (Araújo, 2005).

De facto, também é importante destacar que: A visão


contemporânea de reabilitação fundamenta-se em quatro
conceitos básicos:

a) Intervenção centrada no paciente;

b) Ênfase no processo (interacção, negociação, comunicação,


educação e troca de informações);

c) Actuação fundamentada em um modelo que integra aspectos de


auto cuidado, produtividade, recreação e socialização, resultantes
dos componentes físico, sociocultural, mental /emocional e
filosófico/ espiritual;
d) Responsabilização do cliente na resolução de problemas,
estabelecimento de planos, incluindo até a orientação do meio
social na execução dos cuidados (Hammell, 1995).

Numa revisão dos últimos quarenta anos, Stover (1994) constata a


existência de três fases evolutivas nas propostas assistenciais:

1) Fase de construção (décadas de 1940, 1950 e 1960), em que se


observa a necessidade da adopção de um conceito de reabilitação
apoiado no trabalho em equipa;

2) Fase do idealismo (décadas de 1970 e 1980), caracterizada pela


avaliação de conceitos e programas, cujos resultados tendiam a
serem positivos;

3) Fase do realismo prático (final da década de 1980 e anos 1990),


fruto das conquistas da fase anterior e das limitações impostas pela
economia médica e sanitária (Pereira &Araujo, 2006, p.38.

Tomando por base tal contextualização da Psicologia da


Reabilitação, cabe retomar as três principais abordagens actuais na
área da Psicologia da Saúde, das quais se reflectem nas tendências
da subárea:

a) Clínica: caracterizada por acções no âmbito do sistema de saúde


(hospitais, clínicas e centros de saúde), está voltada,
principalmente, para grupos de pacientes com doenças crónicas.
Além da intervenção terapêutica, tal abordagem visa optimizar os
serviços prestados por meio do planeamento de pesquisas com
enfoque predominantemente quantitativo e quasi-experimental.
b) Pública: distingue-se por acções visando à melhoria da saúde da
população em geral. Contudo, prioriza uma perspectiva preventiva e
focaliza grupos vulneráveis e de risco. Para tanto, adopta métodos
epidemiológicos e propõe a avaliação de programas de saúde.

c) Comunitária: é direccionada para famílias e comunidades,


visando a sua emancipação e a mudança social a partir de um
enfoque multi-metodológico, que reúne pesquisadores, profissionais
e representantes comunitários (Araujo, 2001).

Nas últimas décadas, a violência urbana vivida, expressa


indicadores de acidentes de trânsito e agressões por arma de fogo,
impõe uma actuação em reabilitação. Somam-se ainda as
catástrofes naturais ou tecnológicas, as quais vem tendo um
crescimento exponencial provavelmente em decorrência da
globalização. Como consequência, cada vez mais tem sido preciso
planear estratégias de enfrentamento individual, grupal e
comunitário para lidar com ameaças permanentes (Pereira &
Araujo, 2005; Araujo, 2006-c.

A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA NO PROCESSO DE


REABILITAÇÃO

Quando um paciente adquire uma incapacidade física, ficando


paraplégico, por exemplo, tem sua independência diminuída, e
enfrenta muitas dificuldades. Estas transcendem o âmbito físico, e
passam a influenciar nos aspectos psico-sociais do indivíduo.

Estes aspectos também devem ser trabalhados para o sucesso da


reabilitação física.
“O processo de reabilitação física de um paciente deve ter por
objectivo verificar e identificar possíveis ocorrências de déficits
cognitivos, alterações afectivas emocionais, incapacidades físicas,
bem como os quadros de patologias associadas e co-morbilidades.
Além disso, também deve abranger a inserção social do paciente
reabilitado, ampliação e fortalecimento de suas redes sociais.

O papel do psicólogo numa equipa de reabilitação é a avaliação,


acompanhamento, psico-diagnóstico e tratamento psicoterapêutico,
individual e em grupo, a fim de identificar os aspectos das funções
cognitivo e afectivo emocional, bem como aspectos da
personalidade e comportamento. A partir daí, é possível estabelecer
relação de todo o funcionamento do sujeito com possíveis
alterações causadas por qualquer tipo de deficiência.

O psicólogo numa instituição de reabilitação física actua na


modalidade de psicoterapia breve, individual ou em grupo,
dependendo do caso, com o foco na deficiência e os impactos que
esta trouxer para o paciente e sua família, colaborando e actuando
directamente com a equipa interdisciplinar, realizando inter-
consultas quando se fizer necessário. Essa modalidade
psicoterapêutica tem por base o trabalho biopsicossocial, que
integra o indivíduo como um todo, para que este possa tomar
consciência de suas incapacidades físicas e/ou cognitivas e poder
buscar novas formas de viver a sua vida de forma adaptada,
sempre enfatizando e valorizando todos os ganhos decorrentes do
processo de reabilitação.”

PSICOLOGIA DA REABILITAÇÃO
Psicologia da Reabilitação é uma prática realizada por psicólogos
que actuam, através da psicoterapia, em pacientes que sofreram
traumas psicológicos e/ou cognitivos a partir de alguma deficiência
física ou neurológica adquirida.

O atendimento tem como objectivo ajudar o paciente a se reintegrar


social e emocionalmente, trabalhando na sua compreensão e
buscando meios de enfrentar a situação. A reabilitação busca o
restabelecimento do indivíduo na sua rotina anterior à doença.

Dessa forma, o objectivo principal é capacitar as pessoas para que


elas alcancem o funcionamento esperado quanto a autonomia na
interacção com o seu ambiente e autogestão, independente da sua
condição. Partindo da perspectiva da Análise do Comportamento, a
reabilitação é um processo de reeducação do desempenho das
actividades do dia-a-dia e o aprendizado de novas habilidades por
meio do controle de estímulos verbais e treino de habilidades
sensório-motoras.

As doenças do Sistema Nervoso Central são uma das maiores


ameaças à saúde pública e as que causam maior prejuízo na
capacidade do indivíduo em interagir e modificar o seu meio. As que
mais se destacam são: demências, cefaléias, distúrbios do
movimento, esclerose múltipla, AVC, infecções encefálicas,
traumatismo crânio-encefálicos e epilepsias.

Nas doenças neurológicas adquiridas, diferentes partes do cérebro


e consequentemente comportamentos podem ser afectados,
podendo interferir na visão, na audição, na percepção do próprio
corpo ou no ambiente em sua volta, no funcionamento orgânico e
também no equilíbrio. Além disso, pode haver prejuízo na resolução
de problemas ou respostas aos estímulos.

Um programa de reabilitação neurológica parte de uma actuação


multidisciplinar, sendo exercida por diferentes profissionais como:
médico fisiatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional,
fonoaudiólogo, técnico de órteses, enfermeiro, assistente social e
psicólogo.

Para algumas pessoas com deficiência, a reabilitação é essencial


para torná-los capazes de participar da vida educacional, do
mercado de trabalho e da vida civil. A raiz da incapacidade é a
limitação no desempenho da actividade que deriva totalmente da
pessoa. No entanto, o termo incapacidade não é mais utilizado
porque pode ser tomado como uma desqualificação social.
Ampliando o conceito, essa Classificação Internacional inclui a
participação, definida como a interacção que se estabelece entre a
pessoa portadora da deficiência, a limitação da actividade e os
fatores do contexto socioambiental” Amiralian ( 2003).

SEQUELAS

As doenças neurológicas podem comprometer diversas


capacidades, como por exemplo o funcionamento físico -
relacionado a capacidade motora, o funcionamento cognitivo -
relacionado a problemas do quotidiano, como não conseguir
lembrar de compromissos, o controle do comportamento social -
relacionado a comportamento disruptivo, como reagia a
agressividade e deficiência da da comunicação, ou seja,
comprometimento na fala

TRATAMENTO
No caso do tratamento terapêutico, o psicólogo identifica os
aspectos das funções cognitivas e afectivo emocionais, incluindo a
qualidade de vida do paciente, observando características da sua
personalidade e o seu comportamento. Para isso, podem ser
executados testes que avaliam diferentes áreas do raciocínio
(atenção, memória, velocidade do pensamento).

A partir daí ficará claro quais áreas precisam ser trabalhadas, sendo
também reforçadas as capacidades que não foram perdidas e os
pontos fortes de cada paciente, que serão muito bem aproveitados.

Dessa maneira, poderão ser estabelecidas metas alcançáveis entre


cliente, sua família e o terapeuta, com foco na deficiência e seus
impactos. O tratamento pode ser realizado em domicílio, hospitais,
residências terapêuticas, clínicas, entre outros.

ALGUNS TESTEMUNHOS DE PESSOAS REABILITADAS

Testemunho 1
Como amputado que usa prótese funcional de membro inferior,
posso dizer que a prótese me permite ter funcionalidade normal.
Com a prótese, voltei a ter confiança e autoestima para participar
das actividades normais da sociedade, modificando minha atitude
perante a vida, de positiva para mais positiva.
Sem dúvida, a prótese teve um impacto na minha situação actual e
na minha qualidade de vida, pois hoje faço praticamente todas as
tarefas que me são atribuídas o que, ao "final das contas, resulta
em boa produção e bons ganhos. (Johnny)

Testemunho 2
Sendo oriundo de um país onde não há muita consciencialização
nem muitos recursos para lidar com vítimas de lesão medular,
minha volta para casa foi, realmente, um enorme desafio. Morando
numa casa sem recursos de acessibilidade, meus familiares tiveram
que continuar a me levando para cima e para baixo todos os dias. A
"fisioterapia tornou-se uma necessidade crucial e, em razão dos
custos contínuos, a minha mãe assumiu a tarefa de fazer a minha
"fisioterapia e ser minha cuidadora. Durante o processo da minha
reabilitação, foi quase impossível conseguir tratamento nos
períodos de doença ou usar as clínicas de "fisioterapia devido à
imensa lista de espera. Apesar dos desafios, o meu período de
reabilitação foi um momento de humildade em minha vida e um
processo contínuo que enfrento até hoje. Aprendi que a deficiência
não é incapacidade, e uma mente forte e atitude positiva foram
muito importantes. (Casey).

Testemunho 3
As famílias passam por dificuldades depois que um de seus
membros tem um AVC. Eu me considero um sobrevivente, mas a
minha família é uma vítima do AVC. Tive sorte e consegui voltar a
trabalhar, mas tenho que batalhar o tempo todo. Nós não temos a
ajuda de que necessitamos; os serviços são muito variados e não
há assistência em fonoaudiologia e fisioterapia suficientes. Após o
AVC, tive que aprender a fazer tudo novamente, inclusive a engolir
e falar. A primeira coisa que recuperei com minha fala foram os
xingamentos. Minha primeira frase tinha quatro palavrões, mas me
disseram que isto era normal. (Linda)

Testemunho 4
Quando você não tem uma cadeira de rodas adequada, você
realmente sente que é deficiente. Mas com uma cadeira adequada,
que atende às suas necessidades e se adapta a você, é possível
esquecer a deficiência (Faustina)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 Sociedade Beneficente Israelita Brasileira "[1]", site Albert


Einsten
 Carla Regina Boldrini, "Reabilitação de Pessoas com Doenças
Neurológicas sob a Perspectiva da Análise do
Comportamento", revisão de estudos de 2011 a 2015,
Mestrado em Psicologia Experimental: Análise do
Comportamento.
 LMM Pontes, MMC HüBNER - Archives of Clinical Psychiatry
(São …, 2008 - SciELO Brasil
 PGM Canho, CMB Neme, MO Yamada - Estudos
de Psicologia …, 2006 - SciELO Brasil
 NL Lomba - 2006 - bdigital.ufp.pt
 MO Yamada, MC Bevilacqua - Estudos
de Psicologia (Campinas), 2005 - SciELO Brasil
 KM De Benedetto, MCR Forgione, VLR Alves - Acta fisiatrica,
2002 - revistas.usp.b

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