Disciplina 4 Unidade 1 Especialização Prim Infância

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Conheça o Conteudista

Patrick Antunes Menezes


Patrick Antunes Menezes, é bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro, mestre em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e
doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense. Atua como Professor da
Faculdade de Educação, na Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Educação,
com ênfase nos estudos que relacionam História e Educação, bem como aqueles relativos a
Educação das relações étnico-raciais, Educação em Direitos Humanos, Ensino de História,
sistema socioeducativo e políticas públicas.

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Ementa:

Crianças na primeira infância com mães/pais privados de liberdade. Política Nacional de Atenção às Mulheres
em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional. Os cuidados com os bebês e as mães no
Sistema Penitenciário. Marco Legal da Primeira Infância (2016). O papel da escola na relação com crianças em
situação de mães privadas de liberdade ou egressas do Sistema Prisional. Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). Programa Justiça Presente. Comissão dos Direitos da Criança.

Apresentação geral da disciplina:

Prezadas e caros cursistas, espero que estejam bem e destaco que é um prazer recebê-los(as) no percurso
de aprendizagem da disciplina “As privações de liberdade e a relação com a proteção e garantia dos direitos das
crianças”. Como o título já nos permite entrever, o foco do nosso estudo está na tríade criança, mães e direitos
fundamentais, na relação com o debate sobre privação de liberdade.
E, por privação de liberdade estamos entendendo não somente a situação de cumprimento da pena em
espaços prisionais, como também em espaços domiciliares. Independentemente do espaço, temos de pensar nas
políticas e programas que têm conciliado o direito da criança aos cuidados e à convivência com mães e pais que se
encontram no processo de cumprimento de medidas de privação de liberdade.
E pensar nesse direito é atentar-se para o que alguns estudos têm localizado como a importância da figura
materna para o desenvolvimento da criança e de sua identidade. Por exemplo, quando Donald Winnicott (1983)
apresenta a conexão existente entre mãe e seu filho ou filha, desde a fase de dependência absoluta da criança, que
garante a sua existência.
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Sendo quebrado esse convívio e não constituindo o apego durante suas primeiras relações com a
figura materna ou com o adulto de referência, a criança, conforme explica John Boewby (2002), pode ter seu
desenvolvimento integral comprometido. E isso entendendo que a criança não necessita somente de
espaço, de necessidades físicas atendidas, como também precisa ter os sentimentos e aspectos mentais
considerados.
Pensem nisso quando realizarem o estudo de todo o material desta disciplina e conversarem com
mediadoras(es) e colegas! Desejo um ótimo período de formação!

Objetivos de aprendizagem da disciplina

▪ Compreender as causas e consequências das privações de liberdade para crianças.

▪ Explorar os instrumentos legais e normativos de proteção das crianças contra a privação de liberdade.

▪ Analisar abordagens e melhores práticas na promoção da liberdade e proteção infantil, tendo como eixo
norteador a intersetorialidade e as políticas voltadas para as mães/mulheres em privação de liberdade.

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Composição da disciplina

Unidade I: Privar de liberdade não é privar a criança de afeto e convivência


Vídeo – Apresentação da disciplina e da unidade

Unidade II: Criar pontes e fortalecer a intersetorialidade entre os diferentes sistemas em prol da
primeira infância
Vídeo – Apresentação da unidade

Unidade III: Políticas voltadas para as mulheres em privação de liberdade e que beneficiam as crianças
Vídeo – Apresentação da unidade

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UNIDADE I
Privar de Liberdade não é
Privar a Criança de Afeto
e Convivência

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Privar de liberdade não é privar a criança de afeto e convivência

As diferentes áreas do conhecimento têm-


se empenhado em estabelecer um diálogo com
o universo infantil, tomando a criança não mais
como objeto de pesquisas, mas como
partícipes ativos em seus processos de
investigação. A criança, assim, assume novo
status nos campos da Sociologia, da
Psicologia, da Pedagogia, entre outros. Por
outro lado, o reconhecimento da criança
enquanto sujeito de direitos tem promovido a
construção de uma série de políticas públicas a
fim de garantir-lhes meios para o pleno
desenvolvimento. No entanto, à revelia de seu
status frente aos campos de estudos ou no âmbito dos direitos, grupos de crianças seguem invisíveis e à margem da

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sociedade. É o que acontece com as crianças que nascem e vivem parte de sua infância no contexto prisional pelo fato de
suas mães cumprirem pena de privação de liberdade (Peroza, 2018, P. 124).

Prezados e caras, iniciamos nossa primeira unidade da disciplina com um trecho do estudo de Marilúcia Peroza (2018)
que nos relembra duas questões importantes: primeiro, que é consenso nas diferentes áreas científicas de que a criança é
sujeito de direitos e que, como tal, não é um ser alvo de pesquisas e observações, mas um indivíduo participativo, que produz
cultura e, assim como interfere no mundo em que vive, também sofre os efeitos dessa inserção. A criança tem uma ação que,
como delimita Willian Corsaro (2002; 2011), por meio da Sociologia da Infância, seria de reprodução interpretativa, ou seja,
a criança erige seus próprios processos de subjetivação a partir das relações que trava com outras crianças, com os adultos,
com o meio social em que vive. Ou, ainda, as crianças não são reprodutoras do que escutam, olham, sentem; elas também
negociam, compartilham, criam e reelaboram a cultura com seus pares e adultos de referência.
Continuando, a segunda questão a ser identificada é a de que ainda temos muito que debater, pesquisar e impetrar
quando o tema se refere às crianças que nascem e que vivem por um tempo no sistema prisional com suas mães. Façam um
pequeno esforço reflexivo aqui, só com as informações que detêm agora, tentando responder às seguintes perguntas:

1) Quanto tempo um bebê/uma criança bem pequena, pode ficar junto com a sua mãe após o nascimento no sistema
prisional?
2) Quais são os direitos dessas crianças ao estarem nesse espaço acompanhando as mães?

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3) Que legislações vocês conhecem que estão atreladas a tal situação?
4) Que políticas públicas ou programas direcionados para as crianças e suas mães no sistema prisional vocês
conhecem?
5) Vocês se lembram de algum debate em jornais, mídias sociais, etc., sobre crianças em sistema prisional, que tenha
tido acesso recentemente?

Se vocês conseguiram responder três ou mais dessas perguntas, com certeza já estamos avançando para além do
panorama apontado por Marilúcia Peroza (2018, p. 124), de que “grupos de crianças seguem invisíveis e à margem da
sociedade”, quando consideramos sua existência e permanência no sistema prisional, acompanhando suas mães. E isso nos
direciona para o título da nossa unidade, no sentido de acompanhar essa criança, que está no espaço de privação de
liberdade, por causa da situação penal das mães, mas entendendo que essa realidade espacial não pode agregar uma
privação de afeto, de convivência e de direitos garantidos a todas as crianças brasileiras.

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Dessa forma, privar uma criança de
liberdade, quando convive no espaço prisional com
a mãe, não implica, necessariamente, privá-la de
afeto e convivência. Este é um tema complexo que
exige uma análise cuidadosa das nuances
envolvidas no desenvolvimento infantil e nas
circunstâncias que levam à restrição da liberdade.
Diversos estudiosos têm abordado essa questão,
destacando a importância de considerar tanto os
direitos fundamentais da criança quanto as
medidas necessárias para garantir sua segurança.
Observemos a imagem a seguir:

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FIGURA 1: No armário ou na porta de cela, a presença infantil

FONTE: Varella; Moura; Amorim, 2017 – fotografia de Julia Rodrigues

As imagens estão dispostas na reportagem entre textos e fotografias que mostram mães e crianças bem pequenas no
regime de privação de liberdade devido cumprimento de pena materna. Aqui, elas comparecem como recurso imagético que
permite visualizar a polarização da situação de direitos das crianças, se considerarmos a questão do cuidado (que pode ser
indicada na imagem das roupas do bebê aparentemente limpas, passadas, organizadas por cores, dispostas nas prateleiras
do que seria um guarda-roupa da cela), bem como a falta de interações com outras crianças e adultos (se considerarmos o

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aprisionamento na cela, ainda que apenas em alguns momentos, com a sua mãe). E esse é o teor do debate que encontramos
em outras notícias e reportagens: se o direito da criança é assegurado junto ao direito materno.
Ainda na mesma reportagem temos a transcrição de posicionamento de pessoas da área jurídica – professora de Direito,
doutora em criminologia e subprocurador:

“Se seguíssemos a lei à risca, a maioria


dessas mulheres grávidas ou com filhos, presas em
situação provisória, não estaria encarcerada”, diz
Bruna Angotti, professora de Direito e coautora com
Ana Gabriela Braga, doutora em criminologia, da
pesquisa Dar à luz na sombra. “O processo não
correu, elas têm possibilidade de estar em casa,
mas seguem presas”, afirma Bruna. As instâncias
superiores defendem mais a opção de criança e
mãe ficarem juntas em liberdade do que as
instâncias inferiores, diz o subprocurador
Bonsaglia. Manter uma criança com a mãe na cadeia (mesmo que em ala especial) ou afastá-la da mãe gera efeitos ruins de
toda sorte (Varella; Moura; Amorim, 2017, n.p.).

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Não podemos esquecer o ano de tal reportagem – 2017 – e nem desconsiderar que muito já se discutiu de lá até agora
no âmbito legal e na efetivação da legislação na prática. Todavia, aqui, é importante retomarmos o artigo 227, da Constituição
Federal (Brasil, 1988), primeiro, pela demarcação de responsabilidade – “é dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade (...)” – em segundo, pela indicação de quais direitos
devem ser resguardados nesse caráter de responsabilização – “o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (...)” – e , em
terceiro, a indicação do que se deve salvaguardar a criança, o adolescente e o jovem – “colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Brasil, 1988, Art. 227).

O Estatuto da Criança e do Adolescente já preconizava, desde sua alteração em 2014, que devia ser garantida a
convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas
pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente de
autorização judicial (Lei nº 8.069/1990, art. 19, § 4o (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014). A partir do disposto [aqui], quando
não é possível a concessão da prisão domiciliar, visando concretamente à manutenção dos vínculos familiares, é direito da
criança, inclusive na primeira infância, realizar visitas periódicas ao pai e/ou à mãe privado de liberdade, cuja responsabilidade
recai sobre o responsável pela criança. E se a criança estiver em serviço de acolhimento institucional, o responsável pelo

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acolhimento deve proporcionar essas visitas, abrangendo-as no Plano Individual de Atendimento (PIA) (Zaher et al., 2022, p.
5).

Um ano antes da publicação da reportagem que aqui


tomamos para o diálogo, temos dois documentos importantes para
pensar a prática da situação das mães e das crianças em situação
de sistema prisional. O primeiro é o documento Regras de Bangkok
(Conselho Nacional de Justiça, 2016), instituído pela Organização
das Nações Unidas (ONU) e que, como explicita Mayara Neto
(2023):

O Brasil participou da elaboração e da aprovação das Regras


de Bangkok em 2010, todavia, a tradução do diploma internacional
ocorreu somente em 2016. As regras são classificadas como
Tratado Internacional de Direitos Humanos, homologado pelo país,
não pelo rito necessário para a aprovação de uma emenda
constitucional, sendo compreendidas, portanto, como normas de
caráter supralegal, consoante a jurisprudência do Supremo

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Tribunal Federal. A observância das diretrizes e a sua aplicação no ordenamento jurídico é compromisso internacional
assumido pelo país, porém não há qualquer previsão de sanção para o Estado que deixa de aplicá-las, situação que
enfraquece a sua eficácia. A forma fiel de compreender a realidade carcerária brasileira é através das experiências das
mulheres que foram submetidas ao cárcere (Neto, 2023, n.p.).

E sobre essa não observância das diretrizes, relacionadas às Regras de Bangkok, é importante sabermos quais são as
que nos interessam neste momento retomar, que estão dispostas na seção “Mulheres gestantes, com filhos(as) e lactantes
na prisão”, as Regras 49, 51 e 52:

Regra 49 Decisões para autorizar os/as filhos/as a permanecerem com suas mães na prisão deverão ser
fundamentadas no melhor interesse da criança. Crianças na prisão com suas mães jamais serão tratadas como presas.
Regra 50 Mulheres presas cujos/as filhos/as estejam na prisão deverão ter o máximo possível de oportunidades de
passar tempo com eles.
Regra 51 1. Crianças vivendo com as mães na prisão deverão ter acesso a serviços permanentes de saúde e seu
desenvolvimento será supervisionado por especialistas, em colaboração com serviços de saúde comunitários. 2. O ambiente
oferecido para a educação dessas crianças deverá ser o mais próximo possível àquele de crianças fora da prisão. Regra 52
1. A decisão do momento de separação da mãe de seu filho deverá ser feita caso a caso e fundada no melhor interesse
da criança, no âmbito da legislação nacional pertinente.

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2. A remoção da criança da prisão deverá ser conduzida com delicadeza, e apenas quando alternativas de cuidado da
criança tenham sido identificadas e, no caso de presas estrangeiras, com consulta aos funcionários/as consulares.
3. Uma vez separadas as crianças de suas mães e colocadas com familiares ou parentes, ou sob outras formas de
cuidado, serão oferecidas às mulheres presas o máximo de oportunidades e condições para encontrar-se com seus filhos e
filhas, quando estiver sendo atendido o melhor interesse das crianças e a segurança pública não for comprometida (Conselho
Nacional de Justiça, 2016, p. 35).

Sobre o segundo documento, seguindo a nossa sequência de indicação, temos a promulgação da Lei nº 13.257/2016,
conhecida como Marco Legal da Primeira Infância (Brasil, 2016). No resumo das disposições e modificações empreendidas
pela referida legislação, nos interessa aqui a alteração da Lei nº 8.069/1990, conhecida como Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA (Brasil, 1990) e do Decreto-Lei nº 3.689/1941, conhecido como Código de Processo Penal (Brasil, 1941).
Sobre o primeiro, o destaque se dá para o artigo 19, que modifica o artigo 8 do ECA:

Art. 19. O art. 8º da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-
natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.

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§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que manifestem
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de
liberdade.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único
de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento
integral da criança. (NR) (Brasil, 2016, Art. 19).

Nota-se que a ênfase está no atendimento às mães, todavia, ao tratar do acolhimento ao filho, há a indicação de que
esse deve ser feito atendendo o disposto no Sistema Único de Saúde e “em articulação com o sistema de ensino competente,
visando o desenvolvimento integral da criança” (Brasil, 2016, Art. 19, § 10). Sobre a segunda legislação aqui mencionada, o
Código de Processo Penal (Brasil, 1941), tem-se a seguinte disposição no Marco Legal da Primeira Infância (Brasil, 2016):

Art. 41. Os arts. 6º, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal) ,
passam a vigorar com as seguintes alterações:
Art. 6º (...) X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (NR)

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Art. 185 (...) § 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa. (NR)
Art. 304 (...) § 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos,
respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos,
indicado pela pessoa presa. (NR)
Art. 318 (...) IV - gestante; V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (NR)
(Brasil, 2016, Art. 41).

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Ainda percorrendo documentos legais e
orientadores para entender a complexidade da
privação de liberdade, quando consideramos as
crianças e suas mães em sistema prisional, é
importante retomar que o Artigo 318, do Código de
Processo Penal, e que foi reformulado pelo Marco
Legal da Primeira Infância, inclui a gestante e a
mulher com filho(a) criança (até 12 anos incompletos)
na possibilidade do exercício do cumprimento de
pena em prisão preventiva domiciliar (Brasil, 2016,
Art. 318, IV e V). E que, na sequência, no artigo 318-
A, há a indicação feita a partir da Lei nº 13.769/2018,
de que a prisão preventiva pode ser substituída pela
prisão domiciliar, desde que a mulher gestante ou a
mãe/responsável “I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II - não tenha cometido o crime
contra seu filho ou dependente” (Brasil, 2018, Art. 318-A, I e II).
O que importa sinalizarmos aqui, com maior veemência, é que, seja em prisão preventiva domiciliar, seja em
cumprimento de pena em unidade prisional – o que não é recomendado, mas não proibido, demarcada as situações legais

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previstas – a criança precisa ter os seus direitos fundamentais assegurados. E, quando escrevemos criança, aqui estamos
considerando a primeira infância – de 0 a 6 anos de idade – e até 12 anos incompletos (Brasil, 1990; 2016). Pensando no
caráter intersetorial, e aí atentando-se à educação, por exemplo, a primeira infância pode ser compreendida como período
de vida de bebês (de 0 a 1 ano e 6 meses de idade); criança bem pequena ( de 1 ano e 7 meses até 3 anos e 11 meses) e
crianças (de 4 a 5 anos e 11 meses), ciclos da Educação Infantil, e (de 6 anos) no primeiro ano do Ensino Fundamental, anos
iniciais (Brasil, 2017).
Em suma, abordar a privação de liberdade infantil requer uma análise multifacetada, considerando as dimensões
psicológicas, sociais e legais. É crucial encontrar um equilíbrio entre a proteção da criança e a preservação de seus direitos
fundamentais, incluindo o acesso ao afeto e à convivência que são essenciais para um desenvolvimento saudável.
Especialistas ressaltam a importância de criar ambientes prisionais mais humanizados, que reconheçam a maternidade e
proporcionem condições adequadas para a convivência familiar. Além disso, é preciso investir na capacitação de profissionais
que lidam diretamente com essa população, buscando garantir um ambiente que promova o desenvolvimento integral das
crianças, respeitando seus direitos e preservando sua dignidade.

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ARTIGO (LEITURA OBRIGATÓRIA)

BARTOS, Mariana S. H. Primeira Infância com mães e pais privados de liberdade: uma análise baseada no Marco Legal
da Primeira Infância. Ponto-e-Vírgula, PUC-SP, No 28 – Segundo Semestre de 2020. p.97-110. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/view/51758/34504. Acesso em: fev. 2024.

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LEITURA COMPLEMENTAR

KRAMER, Sonia; NUNES, Maria Fernanda R.; PENA, Alexandra. Crianças, ética do cuidado e direitos: a propósito do
Estatuto da Criança e do Adolescente. Educação e Pesquisa, v. 46, p. e237202, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ep/a/fs7wzvKtfJRWYf8tv8zbX6b/#. Acesso em: fev. 2024.

NUNES, Lívia R. DE C.; DESLANDES, Suely F.; JANNOTTI, Claudia B. Narrativas sobre as práticas de maternagem
na prisão: a encruzilhada da ordem discursiva prisional e da ordem discursiva do cuidado. Cadernos de Saúde Pública, v. 36,
n. 12, p. e00215719, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/WwcRZxZCnjmxJnBd7Jr5Gyq/#. Acesso em: fev.
2024.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARPINI, Naiara; LOPES, Viviane. Maternidade atrás das grades: a vida de mães que deram à luz em uma cadeia no
ES. Mães detentas do Centro Prisional Feminino de Cariacica, na Grande Vitória, relatam sobre como é ter um filho dentro
da prisão e sobre o período que elas ficam com os bebês. G1 ES e TV Gazeta, Espírito Santo, 14/05/2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2023/05/14/maternidade-atras-das-grades-a-vida-de-maes-que-deram-a-luz-
em-uma-cadeia-no-es.ghtml. Acesso em: fev. 2024.

BARTOS, Mariana S. H. Primeira Infância com mães e pais privados de liberdade: uma análise baseada no Marco
Legal da Primeira Infância. Ponto-e-Vírgula, PUC-SP, No 28 – Segundo Semestre de 2020. p.97-110. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/view/51758/34504. Acesso em: fev. 2024.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: fev. 2024.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: fev. 2024.

BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 1941.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: fev. 2024.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: fev. 2024.

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1
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF: Senado
Federal, 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em: fev. 2024.

BRASIL. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio
de 1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012. Brasília, DF: Presidência da
República, 2016. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm. Acesso em: fev.
2024.

BRASIL. Lei nº 13769, de 19 de dezembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
Processo Penal), as Leis n º 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), e 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei dos
Crimes Hediondos) (...). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13769.htm#art2. Acesso em: fev. 2024.

BOLWBY, John. Apego. A Natureza do Vínculo. Martins Fontes, São Paulo: 2002. 3 ed.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres
presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília: CNJ, 2016. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf. Acesso em: fev. 2024.

CORSARO, William A. A reprodução interpretativa no brincar ao “faz-de-conta” das crianças. Educação, Sociedade e
Culturas, Porto, n. 17, p. 113-134, 2002.

CORSARO, William A. Sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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1
KRAMER, Sonia; NUNES, Maria Fernanda R.; PENA, Alexandra. Crianças, ética do cuidado e direitos: a propósito do
Estatuto da Criança e do Adolescente. Educação e Pesquisa, v. 46, p. e237202, 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ep/a/fs7wzvKtfJRWYf8tv8zbX6b/#. Acesso em: fev. 2024.

MEIRELES, Cecílica. Romance XXIV ou da bandeira da inconfidência. In: Obra Poética. Editora Nova Aguilar S/A, Rio
de Janeiro, 1977. [obra digitalizada] Disponível em:
https://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5628/material/Cec%C3%83%C2%ADlia%20Meireles
%20-%20Romanceiro%20da%20Inconfid%C3%83%C2%AAncia%20[Rev][1].pdf. Acesso em: fev. 2024.

NETO, Mayara. A (não) aplicabilidade das Regras de Bangkok pelo Brasil sob a ótima de mulheres submetidas ao
cárcere. Nasser Advogados, Higienópolis - São Paulo, SP, 20/03/23. Disponível em: https://nasser.adv.br/publicacoes/a-nao-
aplicabilidade-das-regras-de-bangkok-pelo-brasil-sob-a-otima-de-mulheres-submetidas-ao-
carcere/#:~:text=A%20ONU%20instituiu%20as%20Regras,de%20liberdade%20para%20mulheres%20infratoras. Acesso
em: fev. 2024.

PEROZA, Marilúcia Antônia de Resende. INFÂNCIA NO CONTEXTO PRISIONAL: REFLEXÕES SOBRE


PROCESSOS EDUCATIVOS E DIGNIDADE HUMANA. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador, v.
27, n. 52, p. 123-138, maio, 2018. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
70432018000200123. Acesso em: fev. 2024.

STJ (Superior Tribunal de Justiça). STJ assegura a mães presas o direito de cuidar dos filhos, mas mantém ressalva
em casos excepcionais. Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-
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