Teoria Do Conhecimento

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Índice

1. Introdução..................................................................................................................4

2. Teoria do Conhecimento............................................................................................5

2.1 Saber e Conhecer: Diferentes Compreensões.........................................................5

2.2 Perspectiva da Análise do Conhecimento..............................................................6

2.3 Tipos de Conhecimentos........................................................................................6

2.3.1 O Conhecimento Popular ou do Senso Comum.................................................6

2.3.2 O Conhecimento Artístico..................................................................................7

2.3.3 O Conhecimento Filosófico................................................................................8

2.3.4 O Conhecimento Científico................................................................................8

2.4 Problemas e Correntes da Teoria do Conhecimento e seus Representantes..........9

2.4.1 O Cepticismo......................................................................................................9

2.4.2 O Dogmatismo..................................................................................................10

2.5 Perigo do Conhecimento......................................................................................11

2.6 Classificação da Ciência Segundo Augusto Conte...............................................12

2.7 A Questão da Verdade..........................................................................................12

2.8 Epistemologia contemporânea: continuísmo e descontinuíssimo (Thomas Khun,


Karl Popper e Guston Bachelard)....................................................................................14

2.8.1 Continuísmo......................................................................................................15
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1. Introdução

A Teoria do Conhecimento e/ou Epistemologia é a área da Filosofia que


se preocupa em estudar quais as condições e possibilidades em que ocorre o
conhecimento, isto é, em que grau e em que nível se processa o conhecimento de
acordo com os diferentes pressupostos epistemológicos presentes nas diversas
abordagens teóricas.

O ato de conhecer está directamente ligado há algo que tivemos contacto


e que, de certa maneira, estamos familiarizados. Assim, conhecer é diferente de
saber, pois o significado não é o mesmo, como, por exemplo, falarmos que
conhecemos os livros de Aristóteles ou que sabemos que os livros existem. São
duas formas de falar sobre o saber e o conhecer que expressam um significado
diferenciado.

Para Luckesi e outros (2003, p. 137-138), existem duas maneiras de o


sujeito se apropriar do conhecimento. A primeira consiste na apropriação directa
da realidade sem a mediação de outra pessoa ou de algum outro meio. Nesse
caso, o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. A segunda ocorre de forma
indirecta, na qual a compreensão se dá por intermédio de um conhecimento já
produzido por outra pessoa ou por meio de símbolos orais, gráficos, mímicos,
pictóricos etc.

1.1 Objectivos
1.1.1 Geral
 Compreender a Teoria do Conhecimento.
1.1.2 Específicos
 Conceitualizar a Teorias;
 Caracterizar os Tipos de Conhecimento;
 Descrever a classificação da Ciência Segundo Augusto Conte
 Falar da Epistemologia contemporânea.
1.2 Metodologia

Para realização do presente trabalho foi mediante a consulta e revisão de certas


literaturas bibliográficas que abordam acerca da temática em questão. E, por fim, foi
levada acabo a componente referente a analise e compilação da informação.
5
6

2. Teoria do Conhecimento

A palavra conhecimento tem sua origem no latim "cognitio", e


pressupõe, necessariamente, a existência de uma relação entre dois polos: de um
lado o sujeito e do outro objecto.

A Teoria do Conhecimento e/ou Epistemologia é a área da Filosofia que


se preocupa em estudar quais as condições e possibilidades em que ocorre o
conhecimento, isto é, em que grau e em que nível se processa o conhecimento de
acordo com os diferentes pressupostos epistemológicos presentes nas diversas
abordagens teóricas.

O conhecimento, portanto, é justificado pela racionalidade ao ponto que


constitui uma “acção e um produto racional” (Bombassaro, 1992, p. 17).
Constitui uma acção e um produto na medida em que o homem produz
enunciados (compreensões) sobre o mundo, constantemente utilizados para a
construção do conhecimento.

Nesta linha de pensamento Bombassaro, alega o seguinte:

“Ao tratar da questão do conhecimento, deve-se ter presente, em


primeiro lugar, que ele é uma actividade intelectual na qual o homem
procura compreender e explicar o mundo que o constitui e o cerca”
(Bombassaro, 1992, p.18).

A partir da frase de Bombassaro, deve-se salientar outra dimensão do


conhecimento, a historicidade. Por ser uma actividade intelectual, o
conhecimento não pode ser entendido pela simples acção mental do homem, mas
o resultado, o conjunto de enunciados produzido, sistematizado e partilhado
como condição para a existência e perpetuação humana.

2.1 Saber e Conhecer: Diferentes Compreensões

Ao buscar a conceituação clássica do saber, deparamo-nos com a


contribuição de Platão para quem o saber constitui uma opinião verdadeira, a
qual vem acompanhada de uma explicação e de um pensamento fundado
(Bombassaro, 1992; p. 23-24).
7

Desta forma, a conceituação do saber remete à vinculação do homem ao


mundo, a suas acções, ao mundo prático. Assim como o saber, o conhecer
também vincula o homem ao mundo, contudo, o conhecer sempre exige um
complemento que dê sentido ao ato de conhecer.

2.2 Perspectiva da Análise do Conhecimento

O ato de conhecer está directamente ligado há algo que tivemos contacto


e que, de certa maneira, estamos familiarizados. Assim, conhecer é diferente de
saber, pois o significado não é o mesmo, como, por exemplo, falarmos que
conhecemos os livros de Aristóteles ou que sabemos que os livros existem. São
duas formas de falar sobre o saber e o conhecer que expressam um significado
diferenciado (Bombassaro, 1992, p.24).

Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente


dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo,
e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o
primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar.

Para Luckesi e outros (2003, p. 137-138), existem duas maneiras de o


sujeito se apropriar do conhecimento. A primeira consiste na apropriação directa
da realidade sem a mediação de outra pessoa ou de algum outro meio. Nesse
caso, o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. A segunda ocorre de forma
indirecta, na qual a compreensão se dá por intermédio de um conhecimento já
produzido por outra pessoa ou por meio de símbolos orais, gráficos, mímicos,
pictóricos etc.

2.3 Tipos de Conhecimentos


2.3.1 O Conhecimento Popular ou do Senso Comum

O conhecimento popular ou do senso comum é “ [...] aquele que não


surge do estudo sistemático da realidade a partir de um método específico, mas
provém do ‘viver e aprender’, da experiência de vida” (Rauen, 1999, p. 8). Por
isso, por meio desse tipo de conhecimento, não conseguimos explicar
adequadamente um fenómeno, não se constituindo em uma teoria.
8

Consiste na acção pela acção, sem ideias comprovadas, que não


permitem o estudo ou a investigação sobre um determinado fenómeno. Então, o
seu conteúdo se forma a partir da experiência que se vivencia no dia-a-dia
(Gewandsznajder, 1989, p. 186).

Köche (1997, p. 23-27) apresenta as seguintes características para o


senso comum:

a) Resolve problemas imediatos (vivencial);


b) Elaborado de forma espontânea e instintiva (ametódico);
c) Linguagem vaga e baixo poder de crítica;
d) Impossibilita a realização de experimentos controlados;
e) Dogmático (crenças arbitrárias);
f) Não apresenta limites de validade.

Para Laville e Dionne (apud Rauen, 2002, p. 23), as fontes do


conhecimento popular ou do senso comum são a intuição e a tradição. A intuição
é a percepção imediata que dispensa o uso da razão, e a tradição ocorre quando,
uma vez reconhecida a pertinência de um saber, organizam-se meios sociais de
manutenção e de difusão desse conhecimento, tornando-se uma marca visível na
formação da identidade cultural de uma comunidade.

2.3.2 O Conhecimento Artístico

O conhecimento artístico é baseado na intuição, que produz emoções,


tendo por objectivo maior manifestar o sentimento e não o pensamento. Sendo
assim, para Oliveira Netto (2005, p. 5), “a preocupação do artista não é com o
tema, mas com o modo de tratá-lo”, configurando-se, necessariamente, em uma
interpretação marcada pela sensibilidade.

O conhecimento artístico é uma forma de conhecimento que transmite


informações de natureza emocional, cuja referência é a estética. Baseia-se na
interpretação subjectiva produzida pelo artista e pelo intérprete. Para Heerdt e
Leonel (2006, p. 30):

[...] a arte combina habilidade desenvolvida no trabalho


(prática) com a imaginação (criação). Qualquer que seja sua
forma de expressão, cada obra de arte é sempre perceptível com
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identidade própria, dando-lhe também componentes de


manifestação dos sentimentos humanos, tais como: emoção,
revolta, alegria, esperança.

2.3.3 O Conhecimento Filosófico

A palavra filosofia vem do grego e é formada pelas palavras "Philo", que


significa amigo e "sophia", sabedoria. Portanto, filosofia significa, em sua
etimologia, amigo da sabedoria. Segundo Appolinário (2004, p. 52, grifo do
autor):

[...] forma de conhecimento caracterizada pela reflexão racional


[...] e pelo foco na lógica interna, ou seja, pela coerência dos
conceitos articulados em sua formulação, todavia prescindindo
de verificação empírica (o que a diferencia do conhecimento
científico, por exemplo).

Esse tipo de conhecimento surgiu em nossa sociedade para superar ou se


opor a quatro atitudes mentais: conhecimento ilusório (conhecimento das
aparências das coisas); emoções (sentimentos e paixões cegas e desordenadas);
crença religiosa (supremacia da crença em relação à inteligência humana);
êxtase místico (rompimento do estado consciente). (Chauí, 2002, p. 59-60).

Reflectir ou conceber o mundo à luz do conhecimento filosófico


significa, antes de tudo, usar o poder da razão para pensar e falar ordenadamente
sobre as coisas. Assim, a reflexão filosófica é radical, rigorosa e de conjunto
sobre os problemas que a realidade apresenta. Radical porque vai às raízes do
problema, rigorosa porque é sistemática, metódica e planejada, e de conjunto
porque analisa o problema em todos os seus ângulos e aspectos. (Aranha;
Martins, 1999).

2.3.4 O Conhecimento Científico

A ciência, da forma como é entendida hoje, é uma invenção do mundo


moderno. Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros,
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foram os grandes expoentes que, no final da Idade Média e durante a Idade


Moderna, criaram as bases do conhecimento científico.

Para Köche (1997, p. 17):

O conhecimento científico surge não apenas da necessidade de


encontrar soluções para os problemas de ordem prática da vida diária,
característica esta do conhecimento ordinário, mas do desejo de
fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas
através de provas empíricas que é o conhecimento que advém dos
sentidos ou da experiência sensível.

O conhecimento científico é real no sentido que se prende aos fatos e


contingente porque se pauta, além da racionalidade, pela experiência e pela
verificabilidade [das coisas] ”. (Rauen, 2002, p. 22). Geralmente, ele se verifica
na prática, pela demonstração ou pela experimentação, dependendo da área de
estudo em que esteja inserido: seja nas áreas sociais e humanas ou nas “exactas”
e biológicas, por exemplo.

Para Silva (2005, p. 22):

O conhecimento científico é alcançado através da ciência, porque a


ciência está buscando constantemente explicações e soluções, revisando
e avaliando os seus resultados, com uma clara consciência de que está
sujeita a falhas e que tem limitações. A ciência é um processo de
construção, ela está sempre se renovando e se reavaliando.

2.4 Problemas e Correntes da Teoria do Conhecimento e seus Representantes

A partir do método fenomenológico foi possível na era moderna levantar


um conjunto de questões-problemas que dão sentido a Teoria do Conhecimento.
A desconfiança característica do Homem moderno estimulou a busca do método
que melhor segurança oferecesse na construção do mundo da ciência (Colodny,
1965, p. 145-260).

Quando o Homem compreende que ele próprio tem um papel na função


do conhecimento, é levado a reflectir sobre papel é esse. A consciência ingénua
torna-se pensamento crítico. É essa consciência de que o conhecimento depende
não só do objecto mas também do sujeito e que por depender dele é passível de
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ilusão e erro, que leva o Homem a interrogar-se sobre o que pode ou não
conhecer, sobre o que vale ou não o que conhece. A função do conhecimento
aparece, assim, como fonte de interrogações e problemas.

2.4.1 O Cepticismo

É a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir a verdade


absoluta, o espírito declara-se incapaz de afirmar ou negar o que for por falta de
motivos sólidos para o fazer. O céptico não nega que tenhamos certezas de
ordem empírica, nega que encontremos motivos suficientes para eleva-las a
categoria de certezas científicas, evita emitir juízos acerca de qualquer assunto e
por isso suspende o seu assentimento (Laudan, 1993, p. 7-89).

Ao lado do Cepticismo surgiu uma forma moderada, o chamado


Probabilismo cujos principais representantes foram Arcesilau (316-241 a.C.) e
Carnéades (214-129 a.C.), que afirmaram que embora nenhum dos nossos
conhecimentos se possa apresentar com carácter de certeza e de verdade, existe,
todavia, entre eles a distinção dos graus de probabilidade, sendo por isso,
legitimo o estado de opinião.

Na época moderna, o Cepticismo que mereceu maior atenção foi o


Relativismo, para este, não existe verdade absoluta porque não conhecemos a
realidade em própria mas sim como ela é para nós e, portanto, todo
conhecimento é relativo não só o sensível mas também o intelectual que
dependem da nossa construção mental (o homem não conhece a autentica
realidade).

2.4.2 O Dogmatismo

É a doutrina segundo a qual o conhecimento certo é possível e afirma que


a inteligência é capaz de atingir verdades certas. O Dogmatismo apresenta-se
sob dois aspectos: o Dogmatismo Espontâneo e o Dogmatismo Critico
(Buckingham, 2011; p. 152).

 O Dogmatismo Espontâneo: supõe que conhecemos os objectos tal como eles


são, que há um perfeito acordo entre conhecimento e a realidade. A primeira
atitude do espírito humano que deposita plena confiança nos sentidos é ainda
12

hoje, a atitude do vulgo que julga conhecer as coisas como elas são, numa
atitude de crença e não entra reflexão ou critica e, que ainda, não há qualquer
problema quanto ao valor do conhecimento.
 O Dogmatismo Crítico: aparece com Sócrates (séc. V e IV a.C.) após o conflito
entre Parménides e Heráclito que leva os sofistas a uma posição céptica acerca
do valor do conhecimento. O Dogmatismo crítico admite que possuímos
conhecimentos certos acerca da realidade, embora não a conheçamos total e
perfeitamente. Além disso, exige que se faça um exame crítico de todas as
certezas naturais, ainda mesmo das verdades-bases.

Descartes recomendava a necessidade de todos os investigadores


começarem pela dúvida. Esta orientação deve ser de todos os sábios nas suas
investigações e deve ser também a do filósofo. Este, segundo a exigência do
Dogmatismo crítico, deve utilizar a dúvida metódica real acerca das verdades
que não são imediatamente evidentes, isto é, estas não devem ser admitidas sem
que se tenham encontrado razões suficientes para isso.

2.5 Perigo do Conhecimento

A noção de que o conhecimento pode ser perigoso não é nova, já foi


utilizada na própria Bíblia. Segundo o relato do Livro do Géneses, Adão foi
expulso do paraíso por ter comido a fruta da árvore do conhecimento. Samuel
Johnson (1709-1784), em seu romance Rasselas, o Príncipe da Abissínia, de
1759, escreveu:

A integridade sem conhecimento é débil e inútil e o conhecimento


sem integridade é perigoso e temível.

Em 1963, Karl Popper, citado por Ben-David, afirmou:

A ciência e o crescimento do conhecimento estão sempre partindo


de problemas e talvez terminando em problemas - problemas de
profundidade sempre crescente e com uma fertilidade sempre
crescente para sugerir novos problemas.

Van Rensselaer Potter, baseando-se em um artigo seu publicado em


1967, definiu conhecimento perigoso como sendo aquele conhecimento que se
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acumulou muito mais rapidamente que a sabedoria necessária para gerenciá-lo.


O conhecimento torna-se perigoso nas mãos de especialistas aos quais falta um
referencial amplo para

Reconhecer um conhecimento como sendo perigoso não significa


impedir, a priori, o seu avanço. Isto seria uma medida obscurantista. Em 1956 já
foi dito, conforme citado por Potter, que:

A melhor maneira de se lidar com o conhecimento perigoso é


buscando mais conhecimento".

Desta forma, o diálogo entre a Ciência (conhecimento) com a Filosofia


(sabedoria) é uma das bases para a reflexão bioética.

2.6 Classificação da Ciência Segundo Augusto Conte

Para Comte (1978) a ciência seria o epítome do conhecimento positivo, o


último estágio das três fases (teológica, metafísica e positiva) pelas quais passa o
conhecimento humano. A marcha da ciência traduzia um processo cumulativo,
associado ao progresso e à aplicação do método científico.

Para Comte (1978) a teoria geral das classificações, estabelecidas nos


trabalhos de filósofos botânicos ou zoólogos, permite esperar um sucesso real,
oferecendo um guia certo, graças ao verdadeiro princípio fundamental da arte de
classificar, princípio este que é consequência necessária da aplicação directa do
método positivo. Assim, a classificação deve provir do próprio estudo dos
objectos a serem classificados, “sendo determinada pelas afinidades reais do
encadeamento natural apresentado por eles, de sorte que esta classificação seja
ela própria a expressão do fato mais geral, manifestado pela comparação
aprofundada dos objectos que abarca”.

Na classificação Comteana são consideradas apenas as teorias científicas


e de modo algum suas aplicações. As ciências se desenvolvem tanto logicamente
como historicamente do abstracto e simples para o concreto e complexo. As
abstractas buscam descobrir regularidades (ou leis) nos fenómenos encontrados
e as concretas buscam explicar como as regularidades podem ser aplicadas a
casos especiais. No esquema Comteano, as ciências abstractas são: matemática,
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astronomia, física, química, biologia e sociologia, cada uma dependendo dos


princípios das precedentes. A Sociologia, por se referir às relações entre
entidades biológicas, se apoia na biologia; a biologia, por se tratar de objectos
físicos, busca apoio na física; a física, tratando de objectos que podem ser
contados, se apoia na matemática. Nesse enfoque, a matemática se torna uma
ciência positiva para Comte, devido ao seu posicionamento quanto à importância
dos fatos palpáveis, mensuráveis e reprodutíveis para a formulação das leis. A
matemática envolveria a mensuração indirecta de magnitudes e se propõe a
determinar magnitudes de acordo com as relações existentes entre os números
(Auguste Comte, 1978; P: 133-138).

2.7 A Questão da Verdade

Em termos gerais, o conceito de verdade pode ser relacionado em uma


dicotomia no que é verdadeiro ou falso, o que pode se entender como uma teoria
absoluta, em outros termos podem ser compreendida a partir de uma
relativização, a verdade enquanto um instrumento da linguagem (Lopes, 2017).

Outro filósofo que trabalha o conceito de verdade é Heidegger, em sua


obra retoma o termo da "aletheia" que significa "o que não está oculto”, trata-se
de um desvelamento, de uma manifestação daquilo que outrora não estava ao
alcance das vistas. Para o autor, é possível diferenciar dois aspectos de verdade:
o primeiro é concebido pela via tradicional, significa dizer que teve uma
utilização corrente na metafísica ocidental. Através do termo em latim "Veritas
est adaequatio rei et intellectus" a verdade é relacionada à realidade, portanto há
uma adequação ao que existe, a transliteralidade da expressão significa que a
verdade é a adequação da coisa ao intelecto (Heidegger, 1993; P: 37).

Para Hessen (1980), a ausência de contradição é com efeito, um critério


de verdade, porém, não é um critério geral válido para todo o conhecimento, mas
sim um critério válido somente para uma classe determinada de conhecimento,
que ele define como a esfera das ciências formais ou ideais. Mas esse critério
fracassa quando não se trata de objectos ideais, mas sim de objectos reais e da
consciência.
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Verifica-se, assim, a necessidade de procurar outros critérios de verdade.


Hessen propõe que nos detenhamos, antes de tudo, nos dados da consciência.
Exemplificando: possuímos uma certeza imediata do preto que vemos ou da dor
que sentimos, isto consiste na presença ou realidade imediata de um objecto.
Dessa maneira, são verdadeiros todos os juízos que assentam em uma presença
ou realidade imediata do objecto pensado. No livro “O Problema da Verdade” de
Jacob Bazarian (1994), são analisados cinco critérios da verdade:

1. O critério da autoridade: historicamente é o mais antigo e, psicologicamente é


o primeiro critério de verdade. Na Antiguidade e nas sociedades primitivas, a
opinião da autoridade mantinha um papel importante e decisivo na opinião das
pessoas. Na Idade Média, quando a ideologia dominante era a religião, o critério
da verdade estava na Bíblia.
2. O critério da evidência: Afirma que o único e último critério da verdade é a
evidência. A palavra evidência deriva de ver acto de visão directa e imediata,
obtida pela intuição da evidência. Por exemplo: “o todo é maior que sua parte”,
“duas quantidades iguais a uma terceira, são iguais entre si” são verdades
evidentes que captamos directa e imediatamente pela intuição de evidência.
3. O critério da ausência da contradição: para o positivismo lógico, a verdade
significa a concordância ou a coerência do pensamento consigo mesmo. Essa
concordância pode ser conhecida na ausência da contradição entre os juízos ou
enunciados. Por exemplo: “Todos os homens são mortais” (premissa maior).
“Ora, Sócrates é homem” (premissa maior). “Logo, Sócrates é mortal”
(conclusão). Nesse raciocínio, não há contradição entre os juízos, o pensamento
é coerente consigo mesmo, logo é verdadeiro.
4. O critério da prova: A prova é um raciocínio ou uma apresentação de fatos pela
qual se constata ou se estabelece a verdade de uma proposição. Toda tese
cientificamente provada, portanto, é, sem dúvida, verdadeira. Tanto na ciência
como no quotidiano, nada deve ser aceito na base da crença e da fé, mas é
necessário provar, demonstrar, fundamentar tudo o que se diz.
2.8 Epistemologia contemporânea: continuísmo e descontinuíssimo (Thomas
Khun, Karl Popper e Guston Bachelard).

Etimologicamente, a palavra epistemologia significa discurso (logos)


sobre as ciências (episteme) e surgiu somente a partir do século XIX no
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vocabulário filosófico. Dentre as diversas correntes teóricas, a epistemologia


acabou recebendo uma conceituação diferente em cada autor. Para Blanché
(1975) “a epistemologia significa literalmente teoria da ciência” (p. 06),
complementando que “é uma reflexão sobre a ciência” (p.13). Em Japiassu
(1992) encontramos que é um estudo metódico e reflexivo do saber que se
divide em três tipos: epistemologia global (trata do saber globalmente
considerado), epistemologia particular (leva em consideração um campo
particular do saber (crenças ou científico) e epistemologia específica (trata de
uma disciplina intelectualmente constituída em uma unidade do saber). Pêpe
(1978) diz que a epistemologia pode se tornar parte da teoria do conhecimento,
uma vez que a primeira reflecte somente sobre o conhecimento científico.

Com o advento da modernidade, a ciência, em seus moldes iluministas,


fez com que os homens acreditassem que só através da ciência e da técnica a
humanidade conseguiria o progresso da sociedade. Nascida em meio aos
avanços científicos, a epistemologia acompanhou esta evolução e, como aponta
Boaventura de Sousa Santos (1989), quando a ciência sofre uma crise, a
epistemologia também fica em crise.

2.8.1 Continuísmo

Dentro desta corrente de pensamento é possível encontrar duas linhas de


pensamento (continuísmo radical e continuísmo moderado) (Bunge, 1980; p.
153-155).

Continuísmo Radical: defende que a ciência evolui de forma linear e acumulativa,


linear porque evolui sempre na mesma direcção, o que significa que os conhecimentos
uma vez estabelecidos jamais serão postos em causa; acumulativas pelo facto de os
novos conhecimentos se juntarem aos anteriores como se tratasse de um celeiro. Esta
concepção da ciência e fruto de alguns pressupostos gnosiológico, dentre eles:

 Associação de conhecimento com o método da verificação;


 O conhecimento é tomado como fruto de uma entidade fidedigna (a razão
humana);
 A ciência obedece a um processo evolutivo cujas descobertas se interligam entre
si;
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 O Homem aprende a ciência de forma gradual, começando pelas coisas mais


simples e evoluindo para conhecimentos cada vez mais complexos.

O continuísmo moderado: considera que esta versão da ciência é irrealista e ingénua,


os factos inerentes ao próprio processo de construção da ciência desnudaram-se dando
origem a uma visão moderada do processo, apesar de ainda existirem defensores e de se
acreditar na visão continuísta.

2.8.2 O descontinuísmo

Alguns filósofos da ciência como Bachelard, A. Koyre, Popper e T.


Khun defendem que o desenvolvimento da ciência conhece momentos de
descontinuidade, ou seja, rupturas que separam de forma clara um fase da outra.
Trata-se de momentos surpreendentes que afectam a legitimidade dos princípios
gerais. Onde surge a seguinte questão: Quando é que se diz que os princípios
gerais perdem legitimidade?

A resposta surge a partir do momento em que o funcionamento das


ciências é assimilado: na ciência onde uma teoria ou conjunto de teorias
funcionam sempre ligadas a um princípio geral (o paradigma). Quando este não
consegue enquadrar em si as novas descoberta revelando contradições ou
lacunas irreparáveis, a comunidade científica é forçada a abandonar o antigo
paradigma e a conceber um novo eu enquadre as novas descobertas e abra
caminhos para as novas pesquisas (Bunge, 1980; p. 153-155)

2.9 A Teoria de Karl Popper

Popper (1902-1994), filósofo austríaco das ciências exactas e humanas,


nega o progresso científica considerado como acumulação de conhecimento
(reside a posição descontinuísta). Ele é da opinião de que a ciência analisa e
critica as teorias anteriores corrigindo-as ou até substituindo-as, portanto, a
ciência não progride por acumulação de teorias mas através de criticas as teorias
anteriores e a inovação das mesmas ou até banindo as anteriores para dar lugar
as novas teorias, capazes e que entram em consonância com a nova realidade
científica (Bunge, 1980; p. 153-155).

2.10 A Teoria de Thomas Kuhn


18

Kuhn faz uma análise fenomenológica das rupturas epistemológicas, já


defendidas pelos seus antecessores, para o efeito, ele usa expressões como
ciência normal, anomalia e ciência extraordinária, além do conhecido paradigma
que constitui o centro da sua análise (Bochniak, 1992; p. 93).

a) Paradigma

Trata-se de uma teoria científica dominante na qual todas as outras se


integram, outro elemento importante para a compreensão do paradigma é o
método, o paradigma define especificamente a metodologia apropriada para o
desenvolvimento da ciência, nos moldes estabelecidos pelo paradigma, por esta
razão, o conceito de paradigma em Kuhn chega a ser comparado ao credo de
uma comunidade religiosa.

b) Ciência Normal e Anomalia

É o momento em que a comunidade científica desenvolve com sucesso as


suas pesquisas mediante o paradigma em vigor, a actividade fundamental neste
período é explicar os fenómenos ainda não esclarecidos, enquadrando-os na
teoria dominante. Nesta etapa, o seu desenvolvimento (da ciência) contínuo o
cientista desenvolve as suas pesquisas dentro dos limites estabelecidos pelo
paradigma.

c) Ciência Extraordinária

Quando as anomalias se acumulam entra-se num período de crise pois os


fundamentos do paradigma são postos em causa, a acumulação de anomalias
abala o paradigma e o comportamento dos cientistas é o de procurar obviamente
outras teorias e fundamentos que substituam o paradigma que se torna
ultrapassado.

2.11 Noções Epistemológicos Segundo Bachelard

Bachelard (1996) propõe uma ruptura com a cultura experimental


sedimentada na vida quotidiana dos estudantes, ou seja, mudar a forma como
esses vêem a ciência, uma vez que fazer ciência é muito mais que realizar
simples experimento. Entretanto, romper com esses obstáculos sedimentados
19

pela vida quotidiana desses alunos e um grande desafio a ser enfrentado.


Bachelard (1971, p. 165) afirma que:

Quando se procuram as condições psicológicas dos progressos da


ciência, em breve se chega à convicção de que é em termos de
obstáculos que deve pôr o problema do conhecimento científico. E não
se trata de considerar obstáculos externos, como a complexidade e a
fugacidade dos fenómenos, nem tão pouco de incriminar a fraqueza dos
sentidos e do espírito humano: é no próprio acto de conhecer,
intimamente, que aparecem, por uma espécie de necessidade funcional,
lentidões e perturbações.

Bachelard (1996) denomina obstáculos epistemológicos como a inércia


provocada por perturbações no próprio ato de conhecer, mesmo ele
reconhecendo que o conhecimento científico avança por meio de obstáculos.
Porém, para ele os obstáculos precisam ser superados para que o conhecimento
científico possa avançar, caso contrário, residirá na estagnação ou mesmo a
regressão.

Batista (2006) refere-se aos obstáculos epistemológicos de Bachelard


como sendo aqueles que " [...] devem ser superados para que se consiga formar e
estabelecer uma mentalidade científica significativa". Logo, o conhecimento
somente terá um carácter científico quando os obstáculos que o cercam são
superados. É através da superação destes obstáculos que o pensamento é
direccionado para uma crescente coerência racional, onde Bachelard irá
caracterizar através de uma hierarquia as zonas de um perfil epistemológico, que
veremos no tópico seguinte.
20

3. Conclusão

Ao término do presente trabalho, conclui que a palavra conhecimento


vem do latim (cognitio) e resulta da relação entre o sujeito e o objecto. Como
formas de apropriação do conhecimento, podemos destacar a directa e a
indirecta. A forma directa ocorre quando o sujeito enfrenta a realidade e opera
“com” e “sobre” a mesma. Na indirecta, o conhecimento é obtido por intermédio
de símbolos gráficos, orais, mímicos etc.

O senso comum é aquele que provém do viver e aprender, da experiência


de vida, sem apresentar uma preocupação com o estudo sistemático da realidade.
O religioso ou teológico se funda na fé, acreditando que as verdades são
infalíveis ou indiscutíveis, vinculadas às revelações divinas. O artístico
preocupa-se em produzir emoções, por meio da manifestação dos sentimentos,
marcadas pela sensibilidade do artista ou do intérprete. O filosófico utiliza o
poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas, possibilitando
uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto sobre os problemas que a realidade
apresenta. Esse conhecimento constrói uma forma especulativa de ver o mundo.
O conhecimento científico, por sua vez, fornece explicações sistemáticas que
podem ser testadas e criticadas por meio de provas empíricas, caracterizando-se
como real e contingente.
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4. Referências Bibliográficas

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Bazarian, J. O problema da verdade. 4. ed. São Paulo: Alfa-Omega, 1994;

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Bornheim, G. A. Introdução ao filosofar. 5. ed. Porto Alegre: Globo, 1980;

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Hessen, J. Teoria do conhecimento. 7. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1980;

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Livraria Francisco Alves Editora, 1992. SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução
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Pêpe, Albano Marcos Bastos. A Epistemologia Bachelardiana e o Projeto de uma


Pedagogia Científica: O papel do Racionalismo aplicado: Uma Leitura
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