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Ciências & Cognição 2006; Vol 08: 127-142 <http://www.cienciasecognicao.

org> © Ciências & Cognição


Submetido em 18/06/2006 | Revisado em 13/08/2006 | Aceito em 14/08/2006 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 15 de agosto de 2006

Revisão

A ciência como forma de conhecimento


Science as a kind of knowledge

Carlos Alberto Ávila Araújo

Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),


Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Resumo

Analisa-se as particularidades da ciência enquanto forma de conhecimento, a partir da distinção em


relação a outras formas como o senso comum, a religião, a arte, a filosofia e a ideologia. A seguir,
define-se o conhecimento científico e são vistos os autores que promovem sua fundamentação:
Descartes, Bacon e Galileu. Discute-se ainda as particularidades da ciência no contexto
contemporâneo da pós-modernidade, com destaque para os estudos que têm a ciência por objeto de
problematização. © Ciências & Cognição 2006; Vol. 08: 127-142.

Palavras-chave: ciência; formas de conhecimento; pós-modernidade.

Abstract

In this study, the particularitities of science while a knowledge form will be analyzed from the
distinction in relation to other forms as common sense, religion, art, philosophy and ideology. Next,
the scientific knowledge will be defined and will be seen the authors who promote its foundations:
Descartes, Bacon and Galileu. Finnaly, the particularitities of science in the context of post-modernity
will be studied, with special attemption for the studies that have science as research object. ©
Ciências & Cognição 2006; Vol. 08:127-142.

Keywords: science; kinds of knowledge; post-modernity.

A ciência e o conhecimento científico Antes de se apresentar cada uma das


são definidos de maneiras diferentes pelos formas de conhecimento, convém explicitar o
diversos autores que se lançam à tarefa de que se entende por conhecimento e por
refletir sobre eles. Algumas definições são processo de conhecer:
bastante semelhantes, outras levantam
algumas diferenças. Contudo, a maior parte “Conhecer é atividade
dos que buscam definir a ciência concorda especificamente humana. Ultrapassa o
que “ao se falar em conhecimento científico, o mero ‘dar-se conta de’, e significa a
primeiro passo consiste em diferenciá-lo de apreensão, a interpretação. Conhecer
outros tipos de conhecimento existentes” supõe a presença de sujeitos; um
(Lakatos e Marconi, 1986: 17). objeto que suscita sua atenção
compreensiva; o

– C.A.Á. Araújo é jornalista, mestre em Comunicação Social e doutor em Ciência da Informação. Atua como
professor adjunto na Escola de Ciência da Informação (UFMG), nas áreas de Teoria e Epistemologia da Informação,
Usuários da Informação e Fundamentos Sociais da Informação. E-mail para correspondência:

1
casalavila@yahoo.com.br.

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uso de instrumentos de apreensão; um cotidiano, empírico por excelência, normal-


trabalho de debruçar-se sobre. Como mente adquirido por meio da experiência.
fruto desse trabalho, ao conhecer, cria- É um conhecimento produzido e
se uma representação do conhecido – aprendido por intuição, acidente ou uma
que já não é mais o objeto, mas uma observação causal, mas pode ser também
construção do sujeito. O conhecimento resultado de um esforço deliberado para a
produz, assim, modelos de apreensão – solução de um problema. É um conhecimento
que por sua vez vão instruir conheci- limitado pois “não é sistemático, nem
mentos futuros.” (França, 1994: 140) eficiente e não permite identificar conheci-
mentos complexos ou relações abstratas”
A autora destaca, assim, os principais (Gressler, 2003: 27).
elementos envolvidos no processo de conhe- Para Lakatos e Marconi (1986: 18), o
cer: o sujeito que conhece, a “coisa” conhe- senso comum, também denominado conheci-
cida (que, uma vez conhecida, torna-se mento vulgar ou popular, é um modo corrente
“objeto”, isto é, a “coisa”, elemento da e espontâneo de conhecer que “não se
realidade, da perspectiva de quem a conhece, distingue do conhecimento científico nem
para quem se torna “objeto”), o movimento pela veracidade nem pela natureza do objeto
do sujeito em direção ao objeto (que é o conhecido: o que os diferencia é a forma, o
próprio processo de conhecer) e os instrumen- modo ou o método e os instrumentos do
tos utilizados neste processo. Um último ‘conhecer’”.
elemento é apresentado pela autora, o fato de As autoras destacam as seguintes
que todo processo de conhecimento se dá no características do senso comum: ele é superfi-
cruzamento de duas dinâmicas opostas, duas cial, sensitivo, subjetivo, assistemático e
atitudes básicas: acrítico (Lakatos e Marconi, 1986: 19). E,
mais adiante, levantam outro conjunto de
“... a abertura para o mundo, a características dessa forma de conhecimento:
cristalização (ou enquadramento) do valorativo, reflexivo, assistemático, verifi-
mundo. Conhecer significa voltar-se cável, falível e inexato.
para a realidade, e ‘deixar falar’ o A caracterização do senso comum
nosso objeto; mas conhecer significa como uma forma de conhecimento acrítica,
também apreender o mundo através de que não reflete sobre si mesmo, e assiste-
esquemas já conhecidos, identificar no mática, pois não tem a preocupação de uma
novo a permanência de algo já existente sistematização e organização de idéias num
ou reconhecível. O predomínio de uma conjunto coerente, consistindo antes uma
ou outra dessas tendências tem efeitos série de conhecimentos dispersos e desço-
negativos, e é através de seu equilíbrio nexos, também é destacada por Demo, para
que se pode alcançar o conhecimento quem o senso comum:
ao mesmo tempo atento ao novo e
enriquecido pelas experiências cogni- “não possui sofisticação. Não proble-
tivas anteriores.” (França, 2001: 43) matiza a relação sujeito/objeto. Acredi-
ta no que vê. Não distingue entre
É a partir destes aspectos (os elemen- fenômeno e essência, entre o que
tos que compõem o processo de conhecer e as aparece na superfície e o que existe por
duas dinâmicas envolvidas nesse processo) baixo. Ao mesmo tempo, assume infor-
que podem ser distinguidos diferentes tipos mações de terceiros sem as criticar.”
ou formas de conhecimento. A primeira forma (Demo, 1985: 30)
de conhecimento normalmente identificada
pelos autores que se dedicam à conceituação Ainda sobre o senso comum, deve-se
de ciência é o “senso comum”. Trata-se de destacar seu caráter imediatista, colado às
uma forma de conhecimento adquirido no necessidades imediatas, a “dose comum de

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conhecimentos, da qual dispomos para nossas O conhecimento religioso pressupõe


atividades rotineiras” (Demo, 1985: 31) e o um sujeito que a tudo conhece e tudo sabe e,
fato de ele ser “transmitido de geração para portanto, o desafio do conhecimento colocado
geração por meio da educação informal e para os sujeitos não é o de conhecer e
baseado em imitação e experiência pessoal” produzir verdades sobre o mundo, mas sim
(Lakatos e Marconi, 1986: 17). compreender uma verdade que já está pronta,
Embora sem métodos críticos e sem revelada, concedida. O homem é menos
sistematização, mas sendo colado às sujeito do conhecimento, na medida em que
necessidades imediatas e fruto da intuição e não pratica experimentações ou busca novas
da experiência, o conhecimento derivado do formulações, mas apenas busca compreender
senso comum existe numa constante tensão cada vez mais um corpo de conhecimentos
entre os pré-conceitos, os modelos consagra- que se lhe apresenta já organizado, sistema-
dos que se transmitem ao longo das gerações tizado, com regras, hierarquias e leis.
sem o devido questionamento de sua validade Ao mesmo tempo, trata-se de um tipo
ou de suas reais relações de causa e efeito, e o de conhecimento não falseável, isto é, que não
dinamismo e a espontaneidade que formulam permite a verificação porque vem da transcen-
a todo momento novas teorias e novos dência. E, exatamente por essa característica,
modelos explicativos. Enfim, apresenta as representa uma forma de conhecimento que
duas dinâmicas de conhecimento: a abertura e evolui muito lentamente, tende a ser
a cristalização. estacionário.
Uma outra forma de conhecimento Uma boa demonstração dessa concep-
destacada por diversos autores é o ção é a frase de Santo Agostinho que diz que:
pensamento religioso, que inclusive acompa-
nha a humanidade desde os seus primórdios: “aquilo que a verdade descobrir não
pode contrariar aos livros sagrados,
“Um dos processos mais antigos e, ao quer do Antigo quer do Novo
longo dos séculos, mais comumente Testamento.” (Aranha e Martins, 1993:
adotado pelo homem, na busca de 101)
conhecimento e verdade, é o do apelo à
autoridade ou à tradição e aos Assim, o conhecimento é entendido,
costumes. A autoridade estava nas por Santo Agostinho, como ato da iluminação
mãos de chefes de tribo, dignatários divina (Andery et al., 2004: 145). Ou seja, na
religiosos, de políticos ou sábios; a experiência religiosa, o sujeito se relaciona
verdade seria o que afirmavam os que não com “coisas” da realidade que ele vai
detinham o poder.” (Gressler, 2003: tentar conhecer, mas com “objetos” que
26). surgem a ele já interpretados e explicados
pela doutrina religiosa.
O conhecimento religioso ou teológico Uma outra forma de conhecimento
se caracteriza por ser valorativo, inspira- levantada por alguns autores (França, 1994:
cional, sistemático, não verificável, infalível e 141; Santaella, 2001: 103) é a experiência
exato (Lakatos e Marconi, 1986: 21). O artística. Diferentemente do senso comum e
princípio da autoridade é fundamental para do conhecimento religioso, a arte consiste
seu funcionamento, pois ele se apóia em numa forma de conhecimento subjetiva e não
doutrinas com proposições sagradas, objetiva, isto é, não se propõe a ser “a
reveladas pelo sobrenatural, que consistem em verdade”, não propõe explicações universais e
verdades indiscutíveis já que, na experiência generalizáveis. Antes, é a forma de
religiosa, “está sempre implícita uma atitude conhecimento mais ciente de que constrói
de fé perante um conhecimento revelado” representações da realidade, afirmações
(Lakatos e Marconi, 1986:: 21). inexatas, propositalmente imprecisas e
indiretas. Ela possui métodos e técnicas, mas

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é, por definição (embora tal característica seja limites das diferentes manifestações do
ideal e não ocorra necessariamente na maioria conhecimento humano:
das situações) espontânea, dinâmica e aberta.
A arte não apresenta discursos fechados e “A filosofia trata das idéias – idéias
definitivos sobre a realidade, mas, antes, sobre o mundo, sobre as pessoas, idéias
formula enunciados abertos às diferentes sobre o viver (...) A filosofia se
interpretações, convoca os sujeitos para, com preocupa de modo geral com o modo
o uso da imaginação, produzirem diferentes como sabemos as coisas e com o que
representações daquilo que lhes é apresen- podemos saber.” (Raeper e Smith,
tado. A arte, assim, está muito mais voltada 2001: 13)
para a primeira dinâmica do processo de
conhecer, para o “descobrimento” do mundo. Alguns autores ainda identificam,
Barilli (1994: 49-50) argumenta que a como uma outra forma de conhecimento
experiência estética proporcionada pela arte distinta das demais, a ideologia. É o caso de
pode se dar também em outros campos. O Demo (1985: 31), que distingue a ideologia
autor dá, como exemplo, o ato de comer, que como forma de conhecimento composta de
em princípio é um ato da ordem biológico- enunciados que justificam relações de poder.
fisiológica, pertencente à esfera da natureza e Essa é uma concepção de ideologia oriunda
não da cultura. Entretanto, esse ato pode do pensamento marxista, que define a
converte-se em experiência estética desde que ideologia como “a transposição involuntária
se faça intervir as três características da para o plano das idéias de relações sociais
experiência estética: a novidade, a totalização muito determinadas” (Chauí, 1981a: 10). Essa
e a ritmicidade. Assim, o ato de comer não definição de ideologia não destaca tanto as
como aquela refeição normal e vulgar de todo características do conhecimento ideológico
dia, marcado pela pressa e pela economia, (que pode ser mais ou menos sistematizado,
mas como uma prática em que os pratos sofisticado, coerente) mas sim seu “efeito”
surpreendem, em que há um empenho em sobre a realidade e a sociedade, ou seja, a
recolher daquela experiência um grande forma como se dá a inserção desse
número de elementos, pode se transformar conhecimento nas relações sociais:
numa experiência estética.
Assim, no processo de conhecimento “Fundamentalmente, a ideologia é um
instaurado pela arte as manifestações artís- corpo sistemático de representações e
ticas são apresentadas aos sujeitos enquanto de normas que nos ‘ensinam’ a
“coisas”; na relação com os objetos e conhecer e a agir. A sistematicidade e a
produtos artísticos cada sujeito vai elaborar coerência ideológicas nascem de uma
sua interpretação, construindo então determinação muito precisa: o discurso
“objetos”. ideológico é aquele que pretende
Outros autores costumam destacar coincidir com as coisas, anular a
ainda uma outra forma de conhecimento, que diferença entre o pensar, o dizer e o ser
é o conhecimento filosófico. Lakatos e e, destarte, engendrar uma lógica de
Marconi o apresentam como um dos quatro identificação que unifique pensamento,
tipos de conhecimento, caracterizado por ser linguagem e realidade para, através
valorativo, racional, sistemático, não verificá- dessa lógica, obter a identificação de
vel, infalível e exato. Contudo, é mais comum todos os sujeitos sociais com uma
encontrar a filosofia não exatamente como imagem particular universalizada, isto
uma forma de conhecimento da realidade, é, a imagem da classe dominante.”
como as outras, mas como uma forma de (Chauí, 1981b: 3)
conhecimento que avalia as demais formas de
conhecimento, que estuda a natureza e os Concebida dessa forma, mostra-se
mais coerente pensar na ideologia não como

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uma forma de conhecimento distinta das concebera uma hipótese de trabalho e


demais, mas como uma dimensão do conhe- verificara experimentalmente o seu
cimento que pode estar presente em todas as valor. Era sem dúvida uma atividade
formas de conhecimento. Tanto o senso científica.” (Laborit, 1988: 23).
comum quanto a religião ou a arte podem
funcionar como discursos ideológicos em Contudo, a maior parte dos autores
determinados contextos. Assim também a que definem ciência a identificam com um
ciência pode se revestir de uma dimensão momento específico da história da
ideológica, como aliás salientam vários humanidade:
autores. Alves (1987: 11) alerta para o fato da
ciência ter virado um mito e, como tal, induzir “Um novo tipo de abordagem do
o comportamento e inibir o pensamento. problema do conhecimento desenvol-
Gressler (2003: 32) também identifica a veu-se a partir do século XV ... Já o
possibilidade da ciência se tornar um método de investigação difundido por
“produto ideológico”. E ainda Lacey (1998: Galileu é mais do que simples indução
14) critica a idéia de neutralidade e ou dedução. Compreende uma série de
imparcialidade do conhecimento científico, procedimentos para testar criticamente
constatando que a ciência não é “livre de e selecionar as melhores hipóteses e
valores” e que ela assume uma postura teorias para explicar a realidade.”
ideológica quando busca se legitimar e negar (Gressler, 2003: 27).
a legitimidade de conhecimentos alternativos,
pelo modo como transforma a natureza e a A necessidade do homem de uma
sociedade, e quando ocorre desigualdades e compreensão mais aprofundada do mundo,
dominação pelo forma como o conhecimento bem como a necessidade de precisão para a
é gerado e estruturado. troca de informações, acaba levando à
elaboração de sistemas mais estruturados de
A construção da ciência na era moderna organização do conhecimento. Gérard Fourez
destaca que, no início, os homens se comuni-
Torna-se mais fácil compreender a cavam a partir de uma linguagem que
ciência após a delimitação das outras formas utilizava um código restrito, em que os
de conhecimento. Afinal, o conhecimento objetos do mundo são descritos sem uma
científico nasce da proposta de um conheci- preocupação com o alcance das descrições -
mento diferente dos demais, porque busca não havendo, pois, uma reflexão elaborada. É
compensar as limitações do conhecimento a linguagem do dia-a-dia, “útil na prática e
religioso, artístico e do senso comum. A que não leva adiante todas as distinções que
busca de um conhecimento mais confiável da se poderia fazer para aprofundar o meu
realidade está presente desde a pré-história: pensamento” (Fourez, 1995: 18). Mas, com o
tempo, passaram a desenvolver um código
“Mas, o que é ciência? Quando o “elaborado”, com o objetivo de tornar as
homem do paleolítico encontrou um noções mais precisas e sistematizar os campos
mamute, percebeu imediatamente que de conhecimento. Aqui se tem a origem dos
não podia enfrentá-lo. Fugiu correndo “conceitos”, noção fundamental para a
e, na incoerência aterrorizada da formação dos campos disciplinares.
corrida, caiu e feriu o joelho num sílex. De acordo com outro Maslow (1979:
Compreendeu que o sílex era mais duro 206:
que o joelho. Ora, o homem é o único
animal que reuniu essas diversas expe- “a ciência tem as suas origens nas
riências para formular uma hipótese de necessidades de conhecer e compre-
trabalho ... [após construir uma arma ender (ou explicar), isto é, nas neces-
para enfrentar o mamute, o homem] sidades cognitivas”

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(o fenômeno propriamente dito, o que está no


De um conhecimento difuso, espa- mundo, o ens reale) e objeto formal (o objeto
lhado, assistemático e desorganizado, passa- construído, recortado por uma ciência), abre-
se a um trabalho de arranjo segundo certas se caminho para a construção de várias
relações, de disposição metódica. Esse ciências, já que uma definição científica “é a
processo é fundamental para a composição de releitura de um certo número de elementos do
campos específicos do conhecimento. mundo por meio de uma teoria” (Fourez,
Michel Serres (1989), no tratado que 1995: 46).
organiza sobre a história da ciência, apresenta Contudo, uma análise do processo de
as principais eras científicas ou do conheci- fortalecimento das disciplinas que queira ir
mento, isto é, eras marcadas por uma grande além da visão da ciência “como um processo
sistematização dos conhecimentos: a Matemá- absoluto e de modo algum histórico” (Fourez,
tica no Egito Antigo e Mesopotâmia, a Grécia 1995: 59) vai incorporar toda a dimensão
Clássica, a Intermediação Árabe, a Teologia política, sociológica e histórica que levou à
da Idade Média e a Ciência Moderna (que, em consolidação do conhecimento científico
sentido estrito, é a única forma de conheci- como forma de conhecimento. O ponto de
mento que realmente pode ser classificada partida para essa visão é a análise de Rossi,
como “científica”). que aponta para o fato de que as
Embora se possa dizer que “não existe universidades não estiveram no centro da
um ‘lugar de nascimento’ daquela realidade pesquisa científica:
histórica complicada que hoje chamamos de
ciência moderna” (Rossi, 2001: 09), uma vez “A ciência moderna nasceu fora das
que a nova forma de conhecimento é fruto do universidades, muitas vezes em polêmi-
trabalho de autores de diversas nacionalidades ca com elas e, no decorrer do século
e contextos, existe uma força de agregação do XVII e mais ainda nos dois séculos
projeto científico que é sua orientação marca- sucessivos, transformou-se em uma
da pelo racionalismo de Descartes e pelo atividade social organizada capaz de
empirismo de Bacon e Galilei (Lara, 1986). criar as suas próprias instituições.”
O projeto racional proporciona um (Rossi, 2001: 10)
acúmulo de conhecimentos, teorias e méto-
dos, que vão exigindo separações, tratamentos A criação das academias e
diferenciados, posturas específicas: posteriormente dos institutos de pesquisa
(Rossi, 2001: 337-386) representa não apenas
“Não se ‘observa’ do mesmo modo o movimento de “renúncia ao trabalho
um neutrino, um micróbio, uma solitário” (Rossi, 2001: 371) como, princi-
cratera sobre a Lua, uma nota de palmente, o fortalecimento do saber cientí-
música, um gosto de açúcar ou um fico, com a reunião daqueles que partilhavam
pôr-do-sol.” (Fourez, 1995: 41) interesses, conceitos e métodos, e sua
distinção em relação a outros.
Sob a justificativa de que objetos Essa análise é confirmada pela
diferentes reclamam conceitos de naturezas historiografia de Deus (1979: 12), que analisa
diferentes, produziram-se cisões e comparti- a importância da ciência para o desenvol-
mentalizações no conhecimento científico. vimento do capitalismo, desde a astronomia
Tratam-se das disciplinas científicas. A maior de Copérnico, que “mina o aparelho
dessas cisões é a que separa as ciências em espiritual feudal controlado pela Igreja”,
inorgânicas (que estudam o mundo físico), passando pelas orientações marítimas para os
orgânicas (que estudam o mundo biológico, comerciantes à procura de novos mercados,
isto é, tudo aquilo que tem vida) e chegando à industrialização, quando a ciência
superorgânicas (que estudam o mundo social). torna-se força produtiva, e passa a ser
Depois, com a distinção entre objeto material apropriada pelo Estado. Esse processo

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acontece com o concurso fundamental do desenvolvida pelos gregos. Contudo, a autora


agrupamento dos cientistas engajados no particulariza o projeto científico como uma
processo de construção de uma nova forma de forma específica de conhecer a realidade
apreender o mundo: desenvolvida com a contribuição de uma série
de personagens, destacando-se sobretudo três:
“Os primeiros cientistas eram indiví-
duos mais ou menos isolados, profis- “A necessidade de se ter fundamentos
sionais das universidades ou simples sobre o processo de investigação e
amadores .... Graças às boas ligações e sobre a certeza dos resultados desper-
à maleabilidade política, conseguem tou o interesse de pensadores, já no
pouco a pouco agrupar-se em início do século XVI, em três povos
sociedades científicas e ir ocupando os distintos do Ocidente. Na França, René
lugares de controle das velhas universi- Descartes pautou sua defesa no método
dades medievais. ... A consolidação da dedutivo; na Inglaterra, o grande
ciência, particularmente marcada do teorizador da experimentação, Francis
século XVII, significou antes de mais Bacon, deu uma configuração doutri-
nada a consolidação das instituições nária à indução experimental, procu-
científicas, a criação de comunidades rando ensinar alguns métodos
científicas cada vez mais estáveis, auto- rudimentares de observação e
reprodutivas, auto-suficientes.” (Deus, apontamentos e na Itália, Galileu
1979: 15) Galilei, preocupado em instituir um
pensamento baseado na experimenta-
De acordo com Chalmers (1994), a ção, resolveu pôr à prova alguns
organização de cientistas em comunidades ensinamentos de Aristóteles.” (Gressler,
científicas vai ser discutida e analisada por 2003: 28).
diversos autores, como Imre Lakatos, Karl
Popper e Paul Feyerabend, nas décadas de A fundamentação do projeto de
1960 e 1970, no âmbito da filosofia da construção do conhecimento científico se deu
ciência, a partir de discussões que vêem o então a partir do trabalho destes três
conhecimento científico como questão pensadores. Descartes (1596-1650), em obras
política e destacam seu papel ideológico. como “O discurso do método” e “Medita-
Deus (1979: 17) destaca também a contribui- ções”, propôs como ponto de partida de todo
ção de autores da sociologia da ciência, tais conhecimento a busca da verdade primeira
como Robert Mertoon (1979) com sua análise que não pudesse ser posta em dúvida. Por
dos imperativos institucionais da ciência isso, converte a dúvida em método: “Se
(entre os quais se destaca o “cepticismo duvido, penso; se penso, existo” (Cogito,
organizado”) e de Thomas Kuhn (1975), que ergo sum). Com isso, Descartes promove um
analisa as comunidades científicas como o “questionamento radical do princípio de
suporte material e real do saber autoridade como forma de conhecimento”,
institucionalizado. pois sua atitude coloca em suspenso as
verdades adquiridas por via da tradição e da
A fundamentação da ciência revelação, isto é, do senso comum e da
religião (Quintaneiro et al., 1996: 09). Ao
Ao apontar o surgimento do método mesmo tempo, o pensador francês promove a
científico no século XV, Gressler não descarta razão, informada pelas regras do método, à
que, desde a idade antiga, já houvesse condição de guia supremo do processo de
habilidades e preocupações com uma conhecer. Ao teorizar sobre a racionalidade,
linguagem técnica e uma argumentação lógica ele promove uma separação entre mente e
fundamentada na razão – como bem corpo, entre matéria e pensamento, e entre a
demonstra, por exemplo, a geometria razão e as demais formas de conhecimento,

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nascendo daí a ruptura da ciência com o desenvolvimento das técnicas.” (Chauí,


sensível, a natureza, a imaginação e o 1996: 116).
sagrado:
Bacon propôs uma separação entre a
“Para Descartes, o conhecimento ciência e as humanidades (estas preocupadas
sensível (isto é, sensação, percepção, com a justiça, com as pessoas, com a
imaginação, memória e linguagem) é a natureza, com o sagrado) e foi forte propulsor
causa do erro e deve ser afastado. O do empiricismo, difundindo a crença de que o
conhecimento verdadeiro é puramente ponto de partida de todo conhecimento
intelectual, parte das idéias inatas e deveria ser a observação, a descrição fiel da
controla (por meio de regras) as realidade, isenta de julgamentos e
investigações filosóficas, científicas e interpretações.
técnicas.” (Chauí, 1996: 116) Por fim, Galileu Galilei (1564-1642) é
reconhecido por muitos como o pai do
Descartes opera uma redução da método científico. Seu trabalho é menos
subjetividade humana a seus aspectos filosófico do que o dos dois pensadores
racionais, o que resultou numa imagem do citados anteriormente, mas foi sobretudo ele
cientista como alguém que não pertence a quem enfatizou a atitude empírica na pesquisa
uma coletividade, que não estabelece científica e, rompendo com as indicações de
relações, como se fosse apenas uma mente Aristóteles que eram tomadas sem
pensante, um cérebro – é a idéia do cientista questionamentos por outros pesquisadores,
isolado do mundo (Alves, 1987: 10-11). buscou medir os fenômenos e fazer observa-
Também é de Descartes o mérito de propor, ções quantitativas. Dentre suas diversas
como método científico, a redução da contribuições (como a lei da inércia) destaca-
complexidade, isto é, separar para estudar, se a teoria heliocêntrica, por meio da qual
dividir o objeto de conhecimento em suas pôde comprovar as idéias de Copérnico, e
menores unidades e estudar cada uma dessas pela qual foi submetido a julgamento durante
unidades separadamente. a Inquisição em Roma, em 1633. Foi
Já Francis Bacon (1561-1626) tem no obrigado a se retratar publicamente do
Novum organum uma obra fundamental em conceito de rotação da Terra em torno do Sol.
que compreende a ciência como um novo Nessa ocasião, contudo, após se retratar, teria
órgão, um novo sentido do pensamento. Com dito, em voz baixa e olhando para o solo, a
ele tem início o caráter “prometéico” da frase eppur si move (“mas ela se move”), o
ciência: não um saber contemplativo e que se tornou um dos lemas do pensamento
desinteressado, mas um saber instrumental, científico. Deve-se a Galileu ainda o início do
que possibilite a dominação da natureza: projeto da Mathesis universalis, isto é, a
busca de um ideal matemático. Outra frase
“Bacon acreditava que o avanço dos sua, “O livro da natureza está escrito em
conhecimentos e das técnicas, as caracteres matemáticos” (Alves, 1987: 80),
mudanças sociais e políticas e o demonstra sua intenção de construir um
desenvolvimento das ciências e da conhecimento em que as relações entre os
Filosofia propiciariam uma grande objetos conhecidos se expressem em língua-
reforma do conhecimento humano, que gem matemática – o que resultaria na
seria também uma grande reforma na produção de um conhecimento exato e
vida humana. Tanto assim que, ao lado preciso.
de suas obras filosóficas, escreveu uma A ciência, pois, é uma forma de
obra filosófico-política, a Nova conhecimento que, compreendida num
Atlântida, na qual descreve e narra uma sentido mais específico, surge historicamente
sociedade ideal e perfeita, nascida do no século XVI, dentro do processo da
conhecimento verdadeiro e do Modernidade de ruptura com o mundo feudal

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e eclesiástico, embasada filosoficamente pelo


Iluminismo e originada com o Renascimento. “Sempre que passamos do passado
“O discurso científico tem a intenção para o futuro, ou do particular para o
confessada de produzir conhecimento, numa geral, nós ampliamos aquilo que
busca sem fim da verdade” (Alves, 1987: sabemos.” (Alves, 1987: 116)
170). Para conseguir alcançar esse
conhecimento mais adequado, mais fiel à Busca-se tanto as regularidades e
realidade, a ciência busca o desejado equilí- uniformidades quanto, também, a
brio entre as duas dinâmicas do conheci- possibilidade da previsão. A segunda é a
mento, isto é, a constante renovação e a falseabilidade, isto é, os enunciados cientí-
consolidação dos conhecimentos já ficos podem ser testados para se confirmar se
construídos. são verdadeiros ou falsos. Uma proposição
Lakatos e Marconi (1986: 20) verificável “é aquela sobre a qual, a partir de
identificam como características do testes, podemos tomar uma decisão sobre sua
conhecimento científico: ser factual (lidar verdade ou falsidade” (Alves, 1987: 176).
com ocorrências e fatos reais), contingente (a Entre os objetivos da ciência estão a
veracidade ou falsidade do conhecimento busca do controle prático da natureza, a
produzido pode ser conhecida através da descrição e compreensão do mundo e a
experiência), sistemático (ordenado lógica- possibilidade de predição (Gressler, 2003:
mente num sistema de idéias), verificável (o 37). Posteriormente, ela se alia à técnica – é
que não pode ser comprovado não é do quando ela realmente “se destaca” (Gressler,
âmbito da ciência), falível (não é definitivo, 2003: 24) e passa a resultar numa série de
absoluto) e aproximadamente exato (novas avanços nos modos de produção da sociedade,
descobertas podem reformular o acervo de tendo seu ápice na Revolução Industrial do
idéias existentes). século XVIII com grandes inventos como a
Essas características são também lançadeira (1733), o tear mecânico (1738), a
levantadas por Alves. Para o autor, contudo, máquina a vapor (1768), a locomotiva (1813),
não se deve falar em ruptura do conhecimento o barco a vapor (1821) e muitas outras que
científico com o senso comum. Embora eles alteraram de forma significativa as formas de
sejam “muito diferentes” um do outro (Alves, produção e de vida das sociedades. Ao mesmo
1987: 37), “existe uma continuidade entre o tempo, o conhecimento científico se
pensamento científico e o senso comum” desenvolve e busca sua legitimidade a partir
(Alves, 1987: 17). Com isso, o autor de sua institucionalização nas universidades,
argumenta que a ciência não deve ser vista conselhos, associações, congressos; institutos,
como uma forma de conhecimento publicações e eventos.
completamente distante do fazer humano,
dotada de autoridade inquestionável. Entre as A ciência na pós-modernidade
características da ciência, ainda conforme o
autor, destacam-se a busca de ordem, a No século XX a ciência vai ser
formulação de modelos e leis que explicam o questionada em vários de seus princípios e
funcionamento dos fenômenos e da natureza, suas propostas. De acordo com Santos (1996),
o abandono dos valores e a busca de um saber o “paradigma dominante”, que é o modelo de
objetivo, o uso de hipóteses e de experimen- ciência surgido no século XVI, caracterizado
tação que permite medir os eventos com pela luta apaixonada contra todas as formas
precisão e o rigor do pensamento com a de dogmatismo e autoridade, pela busca de
utilização do raciocínio lógico. Alves leis e da objetividade e pelo uso da
identifica ainda duas características essen- matemática como instrumento privilegiado de
ciais. A primeira é a busca por um conheci- análise (apenas o que é quantificável é
mento geral, universal, aplicável a todos os cientificamente relevante) passa a sofrer um
casos: processo de perda de confiança. Para o autor,

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isso acontece a partir de dois tipos de ciência clássica em vários aspectos como, por
condições. exemplo, a superação da compartimentali-
O primeiro tipo são as condições zação dos saberes (Morin e LeMoigne, 2000:
teóricas, isto é, descobertas científicas que 199-213); também Capra (1987) percebe uma
colocam em evidências limitações do modelo grande revolução em todas as ciências com a
tradicional. Entre essas descobertas o autor crise do modelo cartesiano. Para outros
destaca as contribuições de Einstein, autores, contudo, não se estaria vivendo um
Heisenberg e Bohr, Gödel, Prigogine e outros momento de crise da ciência. É o caso de
que derrubam, entre outros pilares do Gomes que alerta para um certo modismo
“paradigma dominante”, o mito da objetivi- atual de se identificar uma “crise dos
dade, da possibilidade de se estudar um objeto paradigmas da ciência moderna”:
sem perturbá-lo, e a idéia de tempo e espaço
absolutos. “... poder-se-ia detectar tal crise
O segundo tipo são as condições apenas se estivéssemos vivendo uma
sociais. Diversas experiências do século XX, ruptura revolucionária generalizada.
como as duas grandes guerras, as experiências Não me parece haver qualquer coisa
totalitárias, os desastres ecológicos, a submis- desse tipo no ar. A ciência contem-
são da ciência aos interesses militares e porânea dedica-se ao labor cotidiano
econômicos, levaram a uma perda do da investigação, discute suas desço-
interesse no conhecimento científico tal como bertas a partir de categorias comuns,
vinha sendo produzido. submete-se a discussões com pressu-
Essa foi uma questão amplamente postos comuns, publica em periódicos
discutida por Adorno e Horkheimer com compreensões comuns de
(1947/1985) logo após a II Guerra. Os autores cientificidade... Pode ser que pessoas
realizam uma extensa análise sobre os mais atentas notem algum furor
processos de dominação na sociedade revolucionário varrendo convicções
ocidental contemporânea e percebem como a anteriores; eu consigo ver um tempo de
ciência, a partir da razão instrumental, ciência normal, normal até demais, com
converteu-se em elemento de “mistificação costumes preguiçosos e arraigados,
das massas”. Habermas (1989) deu continui- com distribuição em formas tradicio-
dade ao debate buscando determinar a nais de prestígio e reconhecimento.”
maneira como a ciência deixou de ser um (Gomes, 2003: 319)
elemento libertador e passou a inserir-se na
lógica industrial da sociedade capitalista. De toda forma, percebendo-se um
Conforme Santos, essas duas condi- momento de crise ou apenas um processo de
ções estariam levando a uma crise do continuidade, o que se pode verificar é que a
paradigma dominante e à emergência de um idéia, nascida com a Modernidade, de ciência
novo paradigma. Outros autores têm discutido como um conhecimento completamente
a questão. Wersig (1993: 229) percebe a objetivo (capaz de conhecer um objeto sem
emergência, no século XX, de um novo tipo qualquer perturbação por parte do sujeito que
de ciência, denominada por ele “ciência pós- o conhece), em busca de leis definitivas e
moderna”, voltada não para a compreensão do absolutas, deu lugar a uma compreensão da
modo de funcionamento da natureza, como a atividade científica como um “produto social”
ciência clássica, mas para a resolução de (Gressler, 2003: 32), dotado de uma “matriz
alguns problemas causados pela ciência coletiva” (Alves, 1987: 206), que lida com
moderna e suas tecnologias; Morin e “objetos construídos” (Demo, 1985: 45). Essa
LeMoigne apresentam a proposta do evolução da forma de se encarar a ciência foi
pensamento complexo como a forma mais possível sobretudo a partir do momento em
adequada de produção do conhecimento, que a ciência tornou-se, também ela, objeto de
compreendendo-o como uma evolução da

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estudo, a partir da intervenção de diferentes sociais. Nessas relações podem ser identi-
disciplinas. ficadas as posições que os atores ocupam uns
em relação aos outros. Trata-se, na verdade,
Estudos sobre a ciência e o fazer científico da retomada dos princípios marxistas relativos
ao conflito e à determinação das condições
A realização de estudos sobre a produ- sociais de produção, o que abre caminho para
ção de conhecimento científico e a uma abordagem sociológica da ciência que
necessidade de avaliação do trabalho dos entende que “o conhecimento científico,
pesquisadores, dos produtos e dos processos enquanto produto, é afetado pelas condições
de divulgação científica foi um fator de um contexto específico” (Silva, 2002: 109)
condicionante, ao longo do século XX, da ou, em outros termos, que a verdade científica
evolução de toda uma área do conhecimento. “reside numa espécie particular de condições
Essa área não se desenvolveu de maneira sociais de produção” (Bourdieu, 1983: 122).
uniforme, mas, antes, consistiu na realização Essa compreensão permite entender a
de diferentes pesquisas com várias naturezas, ciência como resultado não propriamente de
métodos e filiações teóricas. Nela se progressos e questões “científicas”, mas como
encontram tradições tão diversas como a resultado dos processos de luta, de utilização
história da ciência, a sociologia da ciência, a e busca por recursos e “capital simbólico”,
teoria do conhecimento e as preocupações pela lógica de “distinção”. Essa distinção
epistemológicas e filosóficas dentro de cada pode ser compreendida como instâncias de
área específica, entre outras. consagração e de prestígio que se relacionam
Entre os vários campos de estudos com o grau de aceitação no campo, o que
dedicados às investigações sobre a produção implica, entre outras práticas, a aceitação das
científica, merecem destaque as contribuições regras da prática científica:
de dois autores que têm tido um impacto
fundamental no direcionamento dos estudos “O campo científico exige dos seus
contemporâneos. O primeiro deles é participantes um saber prático das leis
Bourdieu, cuja importância é salientada a de funcionamento desse universo, isto é,
seguir: um habitus adquirido pela socialização
prévia e/ou por aquela praticada no
“Em artigo bastante conhecido, Pierre próprio campo.” (Silva, 2002: 119)
Bourdieu introduz a noção de campo
científico, em clara oposição ao O habitus, uma das categorias de
conceito de comunidade científica de Bourdieu, diz respeito àquilo que está intro-
Kuhn, apesar de incorporar muitos jetado em cada indivíduo, que foi construído
dos seus termos. Para Bourdieu, a por suas experiências e história de vida, mas
noção de comunidade científica também é possível identificar um habitus
autônoma, insu- lada e auto- coletivo ou de grupo.
reprodutora, com cientistas neutros e Cientistas estão constantemente em
interessados somente no progresso da luta por autoridade e reconhecimento,
sua disciplina, esconde, mais que traçando variadas estratégias e efetuando
elucida, a dinâmica das práticas ações em uma ou outra direção para atingir
científicas na sociedade moderna.” seus objetivos. As lutas se dão em torno da
(Hochman, 1994: 208) apropriação de um capital específico do
campo e/ou pela redefinição daquele capital.
O autor está se referindo à aplicação, Nesse esforço, criar ou fortalecer novas áreas
por Bourdieu, de sua teoria dos campos ou campos de pesquisa (disciplinas) pode ser,
sociais à ciência, definindo esta como um em determinados momentos, a atitude mais
“campo científico”. Bourdieu (1983) define o interessante ou “lucrativa” dentro do “jogo
campo social como um espaço configurado científico”. São contextos específicos de
pelas relações que ocorrem entre os atores

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reações e contra-reações à estrutura de reconhecida e amplamente aceita por


posições dentro de um campo que motivam a estudiosos da área da análise do
criação de novos campos e a migração de discurso e acha-se extensamente
alguns cientistas para estes novos campos, trabalhada no livro do referido autor.”
dando assim origem a novas disciplinas que, (Alvarenga, 1996: 255)
com o tempo, vão buscar se legitimar
enquanto campos do conhecimento. Nesse O livro ao qual a autora se refere é
processo, é fundamental a formação de uma “Arqueologia do saber”, cuja primeira edição
“infra-estrutura” de discursos e de uma data de 1969, em que o autor empreende seu
dinâmica de institucionalização que garanta a grande projeto de buscar as regras de
legitimidade dos novos campos científicos formação de discursos dentro de um campo
criados. específico de conhecimento:
Do ponto de vista da filosofia da
ciência, um dos autores mais importantes “a arqueologia pode assim – e eis um
voltados para a problemática dos discursos de seus temas principais – constituir a
científicos e de sua legitimidade é Michel árvore de derivação de um discurso.”
Foucault. Sobre esse autor é importante (Foucault, 1972: 181)
destacar que:
O método da arqueologia do saber
“ao considerar a questão da história e busca uma abordagem dialógica entre o
da filosofia do ponto de vista de “dado” e o “não-dado”, fazendo emergir o
Foucault, é preciso primeiramente que fica oculto, os componentes históricos e
levar em consideração que seu contextuais (Alvarenga, 1996: 254). Busca-se,
interesse não diz respeito à ciência com isso, a superação do positivismo,
propriamente, mas ao saber; não à sua compreendendo a ciência dentro dos limites
racionalidade imanente, mas às do que é possível dizer. Em alternativa às
condições externas de possibilidade categorias de “objetividade” e “verdade”,
de sua existência.” (Portocarrero, Foucault busca compreender a ciência como
1994: 45) locus de luta entre sistemas competitivos, isto
é, como um conhecimento que possui um
Ao utilizar a expressão “saber”, suporte institucional, reforçado por práticas
Foucault salienta o fato de que o discurso sociais, preciso e definido (controlado).
científico não é formado apenas por ciência Ainda para Foucault:
propriamente dita (pelas teorias e conceitos
científicos), mas por uma quantidade imensa “um campo discursivo não se caracteri-
de saberes políticos, administrativos, institu- zaria pelos objetos que estuda, pelas
cionais, culturais, literários, artísticos, etc. modalidades de enunciação, pelos
Com isso se abre a possibilidade de análise da conceitos ou pelas temáticas privile-
ciência para além dos seus próprios critérios giados, mas sim pela maneira pela qual
de cientificidade, pois são exatamente essas se formam os seus objetos.”
condições de “cientificidade” ou de “verdade” (Alvarenga, 1994: 256)
que vão ser analisadas pelo autor. Compondo
esse conjunto de saberes que o autor identifica A formação de objetos de um campo
como estando presentes na prática científica, discursivo se dá pela demarcação das
Foucault vai então trabalhar com o discurso superfícies primeiras de emergência (que
científico enquanto “formação discursiva”: limita o domínio desse campo), pelas instân-
cias de delimitação (campos institucionais e
“A caracterização de um conjunto de disciplinas), pelas grades de especificação
discurso pertinente a uma vertente (relações entre instituições e processos
específica do saber, vista por Foucault sociais) e pela análise das relações entre esses
como uma ‘formação discursiva’, é

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planos. Tudo isso nos dá o contexto no qual se informação. Os colégios invisíveis foram
origina o conhecimento. Os critérios de estudados por Price, Crane, Crawford,
cientificidade seriam apenas uma das formas, Zaltman, Kohler, Gaston e muitos outros
entre outras existentes, e que, como ela, são (Mueller, 1994: 310-311), e podem ser
histórica e contextualmente dependentes, de definidos como grupos não formais de
legitimação de saberes e discursos. cientistas que estão, num dado momento,
Dentro dessa formulação teórica, trabalhando em torno de um mesmo problema
cumpre destacar que: ou área de pesquisa e que se comunicam entre
si sobre o andamento de seus trabalhos. Já os
“A arqueologia não descreveria estudos sobre o fluxo da comunicação
disciplinas, tomando-se aqui ‘disci- científica representam esforços para identifi-
plina’ como ‘conjunto de enunciado que car e representar o fluxo total da informação
empresta sua organização a modelos científica e foram desenvolvidos por autores
científicos que tendem à coerência e à como Garvey, Griffith, Menzel, Paisley e
demonstratividade e que são recebidos, Lipetz (Mueller, 1994: 312-313). A referência
institucionalizados, transmitidos e comum a toda essa corrente de estudos é a
ensinados como ‘ciência’ ’. As discipli- tradição de pesquisa conhecida como
nas, segundo o autor, ‘podem servir de Sociologia da ciência, cujo precursor, ainda
iscas para a descrição de positi- em 1957, é Robert K. Merton e que, na
vidades’.” (Alvarenga, 1996: 256) década de 60, se desenvolveu com pesquisa-
dores como Crane, David, Encel e Storer, e
Ou seja, também em Foucault, a que se preocupa:
ciência pode ser vista como produto do
desenvolvimento histórico e social dos “com fatores como: motivação,
processos de produção de conhecimento, reconhecimento, comportamento, visibi-
sendo mais um elemento da realidade a ser lidade, criatividade, que afetam a
estudado e descrito do que uma categoria produtividade dos cientistas, quer no
“científica”. Ao colocar em suspensão a referente às propriedades psicológicas
categoria de “cientificidade”, o autor passa a individuais, quer num contexto institu-
compreender a ciência dentro de um espectro cional e organizacional na pesquisa.”
teórico mais amplo e mais crítico. (Mueller, 1994: 8)
Outros estudos relevantes são aqueles
que se debruçam sobre a comunicação Atualmente estão em destaque os
científica, isto é, sobre as formas como os “estudos de laboratório” de cunho etnográfico
cientistas se comunicam entre si, trocam iniciados por Latour e Woolgar (análise do
informações e referenciam uns aos outros na cotidiano da atividade científica, das práticas
produção do conhecimento científico. Afinal, cotidianas, dos ritos, dos “ciclos de
entre o início da pesquisa e sua publicação credibilidade” e motivações). No âmbito dos
(normalmente em artigo de periódico) há estudos sociológicos sobre a ciência, a
várias instâncias de comunicação e divul- proposta de Latour e Woolgar, “da macro para
gação, em diferentes níveis de abrangência e a microanálise da ciência” (Hochman 1994:
formalidade. O objetivo dos estudos nessa 214) marca o início de uma linha de estudos
área é conhecer essas atividades de influenciada principalmente pelo
comunicação e divulgação que precedem a interacionismo simbólico e pela etnometo-
publicação do artigo – para estudar os dologia. Nessa linha se desenvolve uma nova
periódicos deve-se conhecer a intensa ativida- postura:
de de comunicação que o precede.
Os estudos “clássicos” em comunica- “É preciso rever essas atitudes episte-
ção científica compreendem os estudos sobre mológicas em relação à ciência.
os colégios invisíveis e sobre o fluxo de Então, “vá ao laboratório e veja”,
sugerem

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Latour, Woolgar e Knorr-Cetina, à Alvarenga, L. (1994). Bibliometria e


produção do conhecimento científico. arqueologia do saber de Michel Foucault:
Isto implica uma recusa a qualquer traços de identidade teórico-metodológica.
privilégio epistemológico em face da Ciência da Informação, 27, 253-261.
descrição etnográfica das práticas Alvarenga, L. (1996). A institucionalização
científicas. Em vez de impor categorias da pesquisa educacional no Brasil. Tese de
e conceitos estranhos ao mundo dos doutorado, Programa de Pós-Graduação em
observados, os autores defendem que o Educação, Universidade Federal de Minas
fenômeno deve ser analisado contex- Gerais, Belo Horizonte, MG.
tualmente, tendo em vista o que os Alves, R. (1987). Filosofia da ciência:
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