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Universidade Federal de Pelotas – UFPel

Centro de Artes – Bacharelado em Música


Disciplina: História da Música Brasileira I
Material didático produzido pelo Prof. Dr. Werner Ewald

O Rei D. João VI e a Corte Portuguesa no Brasil

No âmbito da política internacional a guerra napoleônica forçou a fuga e

chegada de D. João VI, rei de Portugal, e de toda a corte ao Rio de Janeiro em 1808.

Este acontecimento desencadeou uma revolução social e cultural na então modesta

cidade do Rio de Janeiro, irradiando-se também para outras partes do país. D. João VI

era protetor das musas (as artes) e logo da chegada da corte instituiu a Capela Real no

Rio de Janeiro. Para seu funcionamento a Capela Real precisava de muitos músicos e

isto ampliou as possibilidades de trabalho musical. A movimentação cultural-musical

também, propiciou a vinda de músicos europeus como Sigismund von Neukomm

(Áustria 1778 – França 1858) e Marcos Portugal (Portugal -1762 – Rio de Janeiro

1830), que fizeram música própria e também divulgaram no Brasil o que havia de mais

recente em música na época, estilo clássico de Joseph Haydn e Wolfgang Amadeus

Mozart. Cantores e instrumentistas internacionais também faziam turnê apresentando se

no Rio de Janeiro e outros centros urbanos. O nome brasileiro se destacará é o de José

Mauricio Nunes Garcia (Rio de Janeiro 1767- 1830), mestiço de origem humilde e que

se fez padre para poder estudar. Foi professor de música, compositor, instrumentista

exímio e Mestre-de-Capela de D. João VI. Compôs música sacra como a Missa Pastoril

e a Missa de Santa Cecília, obras orquestrais como a Abertura em Ré e Abertura

Zemira, a modinha em estilo do Bel Canto italiano Beijo a mão que me condena e

outras centenas de peças vocais e instrumentais, além de obras teóricas.

Este ambiente musical efervescente no Rio de Janeiro, que era então a capital do

Brasil, foi duramente atingido quando novos acontecimentos políticos internacionais


fizeram com que D. João VI retornasse a Lisboa em 1821. As atividades musicais

esvaziaram-se bruscamente e com o incêndio do Teatro de São João em 1824 a situação

musical só piorou. Temos que lembrar que neste período, em 1822, D. Pedro I

proclamou a independência do Brasil de Portugal passando o país da situação de

Colônia para Império. Apesar de D. Pedro I ser um entusiasta da cultura musical, tendo

estudado música e mesmo composto algumas peças como, por exemplo, a música do

Hino da Independência, a situação de instabilidade política e financeira criada pela

independência política teve reflexos sérios e imediatos na vida musical e cultural. Um

pouco mais tarde, em 1831, D. Pedro I abdica do trono e neste conjunto de

acontecimentos o cenário musical se estreitou cada vez mais. A dissolução da Capela

Imperial (antiga Capela Real instalada por D. João VI) completa o difícil quadro da já

minguada atividade musical.

Mesmo em meio às dificuldades houve reações. Um nome muito ativo nesta

época de crise foi o compositor Francisco Manuel da Silva (Rio de Janeiro-1795 –

1865), aluno do Padre José Mauricio e hoje mais lembrado como compositor da música

do Hino Nacional Brasileiro (reconhecido como tal apenas em 1890 logo após a

Proclamação da República). Francisco Manuel da Silva, com parcos recursos

financeiros, organizou sociedades musicais colaborando fundamentalmente para o

andamento da vida musical. Procurou organizar também o ensino da música no Brasil e

em 1847, já tendo D. Pedro II assumido o poder em 1840, cria o Conservatório de

Música do Rio de janeiro (o primeiro do Brasil) do qual foi diretor, e que representou

um passo importante para o ensino oficial e profissionalização da música no Brasil.

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