Ficha Informativa - Crónica de Mudança

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Aspetos em Amor de Perdição

Crónica de Mudança Social

A aristocracia: símbolo de uma sociedade retrógrada e


decadente materializada na oposição preconceituosa das
famílias de Teresa e Simão ao amor, conduzindo-os à morte. Os
contrastes entre Lisboa, a capital moderna, e a província, espaço
rural atrasado. A visão negativa do povo relativamente às
instituições do estado. A sociedade onde a tradição familiar e a
preocupação com a reputação prevalecem sobre o indivíduo.

A instituição familiar: autoritarismo paterno, casamentos de


conveniência, situação de inferioridade da mulher. A instituição
familiar marcada por códigos fúteis e rivalidades. O
patriarcalismo português guiado por um código de honra
excessivo e obsessivo.

A igreja: convento de Viseu descrito como um mundo de intrigas e de vícios, de maldade e de


falsas virtudes. A clausura de jovens em conventos como meio de castigo. A devassidão dos
comportamentos da classe clerical, contrária aos preceitos religiosos e aos votos
assumidos.

A justiça: prepotência e arbitrariedade visível na demonstração da influência e do poder do pai


de Simão quando este é aconselhado a fugir pelas autoridades. A justiça e a sua respetiva
aplicação condicionada pela influência de personalidades ou grupos poderosos.

O exército: corrupção presente na interferência de Domingos Botelho no caso do filho Manuel


Botelho. A influência dos ideais da revolução francesa - liberdade, igualdade e fraternidade -
prenúncio de mudança.

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Se o Amor é o tema central de Amor de Perdição — e se concretiza na forma de ideal do amor
ou de amor contrariado —, outros temas e questões sociais ganham especial relevância na
novela, como a noção de honra, as falsas virtudes ou a condição da mulher no início do século
XIX.
Na verdade, Amor de Perdição assume-se como uma crónica da vida em sociedade e dos
costumes desta época de mudança social e política na transição do Antigo Regime
(Absolutismo) para a Época Moderna do Liberalismo.

Na narrativa encontramos dois sistemas de valores, ideias e entendimentos do mundo em


confronto: por um lado, as noções de honra, de privilégio das classes sociais dominantes, de
autoridade familiar e de (falsa) virtude cristã, associados ao Antigo Regime; e, por outro, os
valores de liberdade, igualdade, justiça social, que o Liberalismo e o Romantismo vêm
reivindicar.

As questões sociais são analisadas de forma crítica em Amor de Perdição. O narrador denuncia
e satiriza os valores caducos da sociedade antiga (isto é, anterior à Revolução Liberal) e os
comportamentos sociais condenáveis — sobretudo da velha nobreza e do clero —, tais como a
falência da justiça, as práticas dos membros da Igreja (recordem-se as freiras do convento
onde Teresa é encerrada), a noção de autoridade paterna (de Domingos Botelho e de Tadeu de
Albuquerque), cujas contradições são expostas perante os olhos do leitor.

De facto, Amor de Perdição é bem uma obra que, sendo romântica — veja-se a forma como se
expressam as emoções e como se veiculam os valores do Liberalismo —, anuncia já a narrativa
da atualidade, na medida em que estuda e critica a sociedade do seu tempo, ainda que a ação
se circunscreva ao início do século XIX e a uma região do Norte do País.

Como o próprio título indica, o enredo de Amor de Perdição centra-se numa história amorosa
que tem um final trágico. No entanto, o fascínio pela novela de Camilo Castelo Branco excede
largamente o motivo da relação passional entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque e os
sentimentos fortes que Mariana nutre pelo protagonista. Um dos interesses da narrativa está
na forma como representa os valores e os comportamentos sociais dos grupos da época da
ação da novela. A intriga amorosa, protagonizada por Simão e Teresa, desenrola-se entre os
anos de 1805 e 1807, anos que se inscrevem no final de um período histórico que é conhecido
por Antigo Regime (ou Absolutismo). Esta é a época que antecede o Liberalismo, que desponta

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em Portugal em 1820, mas que tivera como momento fundador a Revolução Francesa (1789).
Caracterizemos, em traços amplos, os dois períodos históricos.

Os temas nucleares de Amor de Perdição acabam por tratar a mudança de valores e de


comportamentos sociais que a novela representa e o embate entre a mentalidade retrógrada
de uma época que termina (o Antigo Regime) e os ideais do Liberalismo (a que o Romantismo
está associado), que estão a despontar. Estas questões estão no cerne da crítica social que a
novela empreende.

Camilo Castelo branco escreveu a novela passional Amor de Perdição inspirado no seu tio
Simão Botelho, um romance proibido que decorreu numa província portuguesa onde a
tradição familiar e a reputação pessoal se sobrepõem a tudo o resto.

Camilo Castelo Branco crítica a sociedade do seu tempo e mostra o seu sentimento de revolta
e de desilusão por viver num país onde estava impossibilitado de conquistar a felicidade e
viver seguindo as leis do coração.

É através do amor e da transformação das personagens em heróis que Camilo Castelo Branco
caracteriza a sociedade da sua época representado o seu lado anti-heroico que revela o nível
social em que estas se inserem.

Simão e Teresa opõem-se à mediocridade da sociedade que os rodeia, ao mesmo tempo que
correspondem à pureza pela entrega total ao amor ideal, sendo este amor o oposto da moral
burguesa estabelecido e decadente. Este par amoroso representa o direito à diferença e a
possibilidade de fazer parte de uma sociedade que valoriza o indivíduo face a uma sociedade
inflexível e destruidora. A tragédia surde motivada pela oposição entre valores ligados ao amor
(felicidade e as leis do coração) e valores sociais associados a estruturas familiares, códigos de
conduta e comportamentos instituídos. É esta tragédia que acaba por condenar Simão e
Teresa à solidão total.

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