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Introdução Aos Estudos de Literatura 3
Introdução Aos Estudos de Literatura 3
AOS ESTUDOS
DA LITERATURA
Introdução
O Barroco corresponde ao movimento estético e ao período histórico que
vigorou na Europa entre o final do século XVI e meados do século XVIII.
Boa parte dos estudiosos da história, das artes e da literatura consideram
o Barroco como uma continuação do Renascimento, devido ao interesse
pela arte da antiguidade clássica. Todavia, ele não está fortemente atento
à transição cultural do feudalismo para a modernidade, mas sim ao Ab-
solutismo e à Contrarreforma católica.
Entre as inovações estéticas e temáticas trazidas pelo Barroco, podem
ser enumeradas as antinomias bem/mal, Deus/homem, céu/terra; a luta
entre o sagrado e o profano; o hedonismo; a valorização do presente; o
uso de metáforas, o gosto pelos pormenores e os malabarismos verbais.
No Brasil, o Barroco se integra ao período colonial brasileiro, que congrega
as primeiras manifestações literárias da colônia — basicamente, relatos
de viagem de cunho informativo e cartas e sermões dos missionários
catequistas jesuítas.
Neste capítulo, você vai ter acesso a conhecimentos que lhe permitirão
traçar um breve panorama do Brasil na época do Barroco. Além disso,
poderá contrastar a visão de críticos literários sobre o referido movimento,
especificamente por Antonio Cândido e Haroldo de Campos. Ao final,
você terá a possibilidade de desenvolver uma leitura crítica de obras
desse período: o épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, o poema A Cristo
N. S. crucificado, de Gregório de Matos, e o Sermão da Sexagésima, de
António Vieira.
2 O Barroco brasileiro
Cabe lembrar que, para fins puramente didáticos, o Barroco em Portugal teve início
em 1580, quando Portugal perdeu a sua autonomia política após a morte de Dom
Sebastião, passando a ser uma dinastia do Império Espanhol. No mesmo ano, morreu
Camões, o grande poeta Renascentista. O Barroco português passou a ter forte apelo
sebastianista, com a crença mística de que Dom Sebastião, “desaparecido” durante
a batalha de Alcácer-Quibir, regressaria como messias para elevar o povo português
novamente à sua honra e glória. O movimento teve o seu fim apontado em 1756,
com a fundação da Arcádia Lusitana, reputada academia literária portuguesa que deu
origem à tradição subsequente ao Barroco: o Arcadismo.
4 O Barroco brasileiro
voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e
sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi
ouvida por todos com muito prazer e devoção.
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém,
a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós
todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação,
da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento
desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio
muito a propósito, e fez muita devoção. (CAMINHA, [2018?], p. 6).
Para saber mais sobre a forma como Antonio Cândido vê as relações entre cultura, produção
e representação simbólica da sociedade, assista à palestra Brasil Século XXI, cedida em 1988
e disponibilizada pela Secretaria de Comunicação da TV Unicamp, acessando o link abaixo.:
https://goo.gl/oXsbqS
Embora seja uma contenda famosa na história da crítica literária brasileira, não
há um “vencedor” da discussão: tanto a visão de Cândido (1997) quanto a de
Campos (1989) são entendidas como pontos de vista teóricos distintos sobre o
mesmo movimento estético.
LX
o-lhaio-gran-de-go-zoe-do-ce-gló-(ria) (9 sílabas) A
que-te-reis-quan-do-pos-tos-em-des-can-(so) (10 sílabas) B
con-tar-dees-ta-lar-gae-tris-te-his-tó-(ria) (10 sílabas) A
jun-to-do-pá-trio-lar-se-gu-roe-man-(so) (10 sílabas) B
que-vai-da-ba-ta-lhaa-ter-vic-tó-(ria) (9 sílabas) A
o-que-do-mar-in-cha-doaum-re-man-(so) (9 sílabas) B
is-soen-tãoha-ve-rá-de-vos-soes-ta-(do) (9 sílabas) C
a-os-ma-les-que-ti-ver-des-já-pas-sa-(do) (11 sílabas) C
terminar os seus estudos, foi nomeado Juiz de Alcácer do Sal (no Alentejo) e
acabou por regressar à Bahia em 1679 como desembargador, sendo nomeado,
em 1692, tesoureiro-mor da Sé por Dom Pedro II. Foi destituído de ambos os
cargos por não usar batina e por não aceitar ordens de seus superiores pelo
arcebispo Frei João da Madre de Deus. Em função disso, dedicou-se à escrita
de poemas satíricos, em que criticava os costumes da época.
Devido à sua má fama e aos inimigos que arranjou (entre eles o próprio
governador), Gregório de Matos foi deportado para Angola. Todavia, em função
dos seus préstimos a D. João de Lencastre, governador da Bahia, após auxiliar
no combate a uma conspirata militar, Gregório foi autorizado a retornar ao
Brasil, sem, no entanto, voltar à Bahia.
O poeta acabou por morrer em Recife, em 1696, devido a uma febre ad-
quirida em Angola. Gregório é conhecido como um poeta maldito, dadas as
críticas que fazia à Igreja e aos poemas pornográficos que escreveu, o que lhe
garantiu o apelido de Boca do Inferno. Entretanto, os seus biógrafos apontam
para a expressão de culpa e de arrependimento em seus últimos sonetos, escritos
no leito de morte, em especial no A Cristo N. S. crucificado. Leia o poema:
A Cristo N. S. crucificado
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evan-
gélico a semear» a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de
Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit,
porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de
contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o
que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem
lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe
fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há
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outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão
pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que
se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo
tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura;
aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e
hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá,
achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare.
(VIEIRA, [2018?], p. 1).
Leituras recomendadas
BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.
CHUVA, M. Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e
civilizado. Topoi, Rio de Janeiro, v. 4, n. 7, p. 313-333, 2003.
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