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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

Relações De Afetividade Da Familia

É mais do que provado que todo ser humano precisa de amor, cuidado, respeito, interação social
para se desenvolver e crescer física, emocional e intelectualmente. A família como primeira relação
social, precisa constituir essas características. Costumamos dizer, baseados em vários estudos e
pesquisas realizadas a esse respeito, que a família é a base na vida do ser humano.

Partindo desse pensamento posso afirmar com certeza que uma pessoa que nasce e vive em uma
família sem estrutura emocional, fatalmente terá problemas de relacionamento no futuro interferindo
no crescimento intelectual, pois quem não consegue se relacionar não abre espaço para o
aprendizado, ficando sempre a margem da sociedade. Vemos um número crescente de pessoas
cada vez mais vivendo isoladas, só pensando em si mesmo, não se importando com os que estão à
sua volta, trabalham, estudam e mesmo quando estão em ambientes de diversão, ficam alheias as
pessoas que estão à sua volta querendo sempre levar a melhor em tudo.

Até mesmo as crianças quando entram na escola não sabem respeitar os amigos, professores,
monitores, porque já crescem aprendendo que não devem confiar e nem respeitar o outro, vivemos
uma grande disputa sem prêmio, nem pódio, a sociedade caminha para um lugar de solidão sem
amor, sem relacionamentos afetivos, sem confiança mútua.

Crianças já nascem e logo vão para escola, desde pequena, os pais saem pela manhã, e retornam no
fim do dia num circulo vicioso, dia após dia preocupado em prover o "melhor" a sua família. Muitas
famílias de hoje se resumem em pai, mãe e um filho, ou uma grande família onde não existe um pai
ou mãe, a avó é quem cria netos de mais de um filho, sendo uma família de primos e avós, e não que
falte amor, mas pode deixar a desejar a transmissão de valores, pois os avôs representam alegria na
vida de uma criança e não se sentem confortáveis em cobrar, pois acabam ficando penalizados pela
falta dos pais e sendo assim não colocam muitos limites. Hoje vemos se formar um novo modelo de
família, que são de casais homossexuais, e isso já é realidade em algumas famílias com muito amor,
com dois pais ou duas mães.

De um lado diríamos que não pode haver valores morais em uma família dessa natureza, mas por
outro diríamos que seria melhor essa família com amor do que a criança ficar triste em orfanatos.
Ainda poderíamos afirmar que muitas vezes é melhor uma casa de abrigo ou orfanato do que uma
família onde reina violência, desunião, fome maus tratos. Portanto a afetividade é primordial na vida
de uma pessoa independentemente o tipo de família em que está inserida.

A escola é outra ou até mesmo a próxima relação social vivida pelo ser humano, nos dias de hoje tão
próxima e essencial em nossas vidas. Como já disse anteriormente as crianças ingressam cada vez
mais cedo nas escolas. A maioria delas passa o dia todo na escola, ficando mais com profissionais e
educadores do que com os pais e familiares, e em alguns casos nem vêem os pais durante a semana
de trabalho, pois já chegam a sua casa dormindo e os pais saem antes mesmo que elas acordem
para mais um dia de trabalho.

Esse distanciamento causado pelos dias atuais faz com que muitas crianças não tenham referências
em suas casas ficando os professores como seus modelos de vida e valores.

Os pais por sua vez não percebem o que esta acontecendo em sua família e julgam estar sempre
fazendo o melhor. As escolas sofrem com esse novo modelo de aluno e não sabem se educam para
a vida de forma a transmitir valores ou se educam formalmente, pois essas crianças não se sentem
preparadas e na verdade não estão para receber outros conhecimentos já que não conseguem se
concentrar, é preciso que os educadores tenham muito mais do que conhecimentos a oferecer,
devem pensar em uma nova forma de oferecer esses ensinos, pois as crianças já se articulam e
querem muito mais que saber e gramáticas, querem atenção, afeto que não recebem dos seus
familiares por não terem tempo de ficar juntos, dialogar trocar informações e aprenderem uns com os
outros.

Antigamente íamos à escola apenas pra aprender conhecimentos formais cabendo a nossos pais
uma educação cultural, de valores e princípios religiosos. Passávamos mais tempos com nossas
famílias do que na escola e cabia a cada um uma função diferente. Os professores eram quase que
idolatrados, as meninas sonhavam em crescer para ser professora tendo como modelo as das series
iniciais.

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Não é uma tarefa fácil, mas a partir do conhecimento da existência desse novo modelo de aluno os
professores e a escola como um todo, devem ter em mente uma maneira de contornar toda a
situação para cumprir seu papel, devendo trazer os pais para participação efetiva da vida de seus
filhos, promovendo ações de integração da família com a escola na intenção de fazer com que as
crianças unam conhecimentos, valores, afeto, amizade, aprendizado e cresçam intelectualmente e
emocionalmente saudável, participantes, desenvolvendo um pensamento crítico consciente de seus
direitos e deveres como cidadão.

A união família escola é hoje primordial para os novos estudantes e filhos, os conhecimentos devem
ser unidos para proporcionar um crescimento emocional, e intelectual dessas pessoinhas que vão
cuidar do futuro do mundo. Cabe aos pais e professores a criação dos futuros "donos" do mundo, são
eles que vão continuar a fazer o bom e o ruim que fazemos e ensinamos hoje.

São eles que vão cuidar da nossa velhice e criar novos seres humanos para os futuros além, Família
e escola é que são os responsáveis por quem vai exercer os papeis de pais, professores, presidentes
do mundo futuro.

Metodologia

Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica dissertativa pelo motivo que recorreu ao uso
de materiais como livros, revistas, artigos, publicações avulsas e imprensa escrita. Os dados
levantados na fundamentação teórica trazem reflexões, argumentações, interpretações, análise e
conclusões de autores, a partir, deles, busca-se uma correlação com a realidade do tema em estudo.

Ao propor uma reflexão sobre: afetividade, família e escola as relações e as contribuições para o
êxito escolar dos alunos, percebe-se que essa relação está atualmente confusa, pois a família não
está cumprindo seu papel e sobrecarregando a escola. Valores estão sendo esquecidos ou até
mesmo ignorados, pois sabe-se que a função da família independente de sua formação, é dar apoio,
afeto e segurança a criança, para que a mesma sendo estruturada tenha capacidade de enfrentar os
desafios da vida e que estando em formação seja futuramente um cidadão consciente crítico e
autônomo desenvolvendo valores éticos, espírito empreendedor capaz de interagir no meio em que
vive. Mas essa relação Família e Escola constatam-se que é tarefa primordial tanto dos pais, como
também da escola o trabalho de transformar a criança imatura e inexperiente em cidadão maduro,
participativo, atuante, consciente de seus deveres e direitos, possibilidades e atribuições.

Assim, apesar dos desafios que a escola enfrenta como a tamanha dificuldade atual que os
professores possuem com alunos desmotivados, desinteressados e sem condições de se manterem
concentrados nas aulas, a importância de seu papel na formação do individuo é indispensável e
precisa de profissionais qualificados para intervir trabalhando juntos pára lidarem com as dificuldades
que os alunos enfrentam e sentem por parte da escola a necessidade e o desafio de integrar-se com
a família desses seres, pois ambos, escola e família constituem dois contextos de desenvolvimento
fundamentais para a trajetória de suas vidas, e é necessário a aproximação de ambos para o
progresso de ensino e aprendizagem.

O presente trabalho tem como tema: “Família e Afetividade: a evolução legislativa da família e o
vínculo afetivo nas relações familiares”, o qual é oriundo do interesse em vêA sociedade em geral
necessita ter conhecimento de como o afeto se tornou o principal formador da família, com a
instituição da Constituição Federal Brasileira de 1988, o legislador deu prioridade ao princípio da
dignidade da pessoa humana, excluindo o caráter patrimonialista que intervia as famílias. Tal
trabalho é composto por ideias doutrinárias e legislativas.

Neste contexto, arrolaram-se questões que deram fundamento do presente trabalho:

· Qual a influência do afeto na formação de uma família?

· O que mudou no direito da família com o advento da Constituição Federal de 1988?

O debate sobre afeto é um tema da atualidade, mas não está expresso no ordenamento jurídico
brasileiro, sendo reconhecido apenas pela doutrina e jurisprudência, por conta disso, possui
diferentes opiniões em volta do instituto da família disciplinado na filiação socioafetiva.
Historicamente a família evoluiu bastante, antigamente o pai era o chefe da família, hoje já não se
vê essa hierarquia entre os seus componentes.

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No momento atual, as famílias se constituem baseadas no amor e na solidariedade, com a


finalidade de resguardar os laços afetivos de cuidado, carinho, atenção e proteção dos
companheiros e dos filhos, procurando compartilhar todos os momentos importantes da vida.
Dessa maneira, a família se constitui por meio do afeto e transforma seus componentes a partir
desse afeto, com isso as relações familiares vão despertando o entendimento, a compreensão e o
carinho de todos.

Diante desse contexto, o presente trabalho tem por objetivo abordar sobre o afeto nas relações
familiares, bem como analisar a evolução legislativa desde o Código Civil de 1916 até o Código
Civil de 2002.

O método utilizado para que as indagações apresentadas sejam solucionadas foi A metodologia
científica a ser utilizada neste projeto será o método dedutivo, já que este buscará através de uma
premissa geral, chegar às conclusões relacionadas à temática principal. As fontes a serem
utilizadas neste trabalho serão bibliográficas, a doutrina correspondente ao tema em questão,
legislativas, jurisprudenciais, súmulas informativas dos tribunais superiores, julgados mais recentes
das cortes superiores, teorias positivas e negativas a respeito do tema em questão e artigos da
internet.

Dentre os autores encontrados no âmbito da matéria, o trabalho tem embasamento teórico na


doutrina de: Almeida (2012), Dias (2015), Lôbo (2011) e Venosa (2014).

Em sua primeira parte, estão explanadas neste estudo as noções histótico-conceituais da família e
a evolução legislativa da família. Na segunda seção será exposto uma explanação sobre o afeto no
direito de família. Por fim, a última parte contém as considerações finais.

Família E A Afetividade

O afeto é o ponto central da família, é o elemento essencial e vital de uma relação familiar. E
a Constituição ampara todo o valor jurídico desse afeto dentro de seus princípios, particularmente
no principio da dignidade da pessoa humana.

Visão Histórico-Conceitual Da Família

A definição de família vem ganhando bastante espaço no ordenamento jurídico brasileiro,


especialmente por conta das mudanças que ocorrem no meio social de uma forma acelerada. É um
instituto que vem se formando e acrescentando novos valores. A constituição de 1988 conceitua a
família como a base da sociedade, sendo a mais importante de todas as instituições.

Venosa (2014) entre os diversos organismos sociais e jurídicos, a definição, a percepção e a


ampliação da família são os que mais se transformam com o passar dos anos. Com a chegada do
século XXI, a sociedade adotou um entendimento mais globalizado, atualmente a família deve ser
analisada, sobretudo, sob o ponto de vista exclusivo sociológico e afetivo, antes de o ser vista
como fenômeno jurídico. No decurso das primeiras civilizações, como a assíria, hindu, grega,
egípcia, e romana, a denominação de família foi de uma instituição ampla e hierárquica.

Segundo Lobo (2011), a família patriarcal, que a legislação civil brasileira adotava como modelo,
desde a época da colonização até grande parte do século XX, entrou em crise, que culmi nou com
seu declínio, no âmbito jurídico, pelos valores introduzidos na Constituição de 1988. Tendo em
vista que crise é sempre perda dos fundamentos de um modelo em virtude do advento de outro, a
família moderna está fundamentada em um modelo que explica sua função atual: a afetividade.
Dessa forma, enquanto houver afeto haverá família, advindos da união por laços de liberdade e
responsabilidade, fortalecidos na simetria, na colaboração e na comunhão de vida.

Conforme a Constituição Federal de 1988, a família é conceituada como uma entidade que possui
laços consanguíneos formados por intermédio do casamento ou da união estável, elevando a
família como o lugar em que os parentes e sujeitos de modo geral, encontram apoio e sentem -se
protegidos, por saberem que a instituição familiar, na maior parte das vezes, oferta amor,
fraternidade, carinho e compreensão. Maria Berenice Dias (2015) compreende em sua obra que a
família está disposta em uma elaboração psíquica em que cada indivíduo ocupa um lugar e possui
uma função, seja como pai, como mãe ou filho, sem, entretanto, estarem ligados por laços
sanguíneos.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

Evolução Legislativa Da Família

O patriarcalismo introduzido no Código Civil de 1916 teve como influência o Direito Romano, só era
considerada família aquela formada pelo matrimônio e não era possível a sua dissolução, além de
discriminar alguns membros, por conta de qualificações discriminatórias. A família advinda do
casamento era chama de legítima, pois estava conforme os ditames da lei, sendo composta por
marido, esposa e filhos. No texto do artigo 219 do Código Civil de 1916, o defloramento
desconhecido pelo marido era um erro essencial sobre a pessoa, ou seja, se a mulher não fosse
virgem o casamento era anulado, como estava elencado no artigo 220 do mesmo Código.

Dessa forma, Maria Berenice Dias (2015) comenta que os outros tipos de família eram
denominados de ilegítimos, quem não se enquadrava nas regras do Código Civil de 1916. Os filhos
também eram discriminados como legítimos e ilegítimos, sendo os ilegítimos considerados
marginais e possuíam tratamento diferenciado. A filiação ilegítima era exposta no registro civil de
nascimento, sendo impedido apenas com o Decreto Lei 3200/1914. Após o falecimento do genitor,
o filho considerado ilegítimo só possuía direito a metade do patrimônio herdado pelos seus irmãos
legítimos, e da mesma maneira essa ideia era aplicada aos filhos adotivos, onde apenas metade do
patrimônio era destinada a eles, sendo a maioria dos filhos biológicos. Apenas em 1977 com a Lei
do Divórcio foi que essas normas foram extintas. No seio familiar, a mulher er a submissa ao
homem, que exercia o pátrio poder e o Código Civil de 1916 só considerava família, aquela
formada a partir do casamento, sendo assim, todas as outras formas de união efetiva ficava a
margem da lei.

Não era considerado o vínculo afetivo entre os componentes da família, por não ter relevância
jurídica. Nesse ordenamento, o parentesco era divido em legítimo, onde era celebrado o
casamento, e ilegítimo, onde não era celebrado o casamento, além de distinguir o parentesco em
natural ou civil, resultante da consanguinidade ou da adoção. Somente a família legítima possuía
proteção do Estando, pois no Código Civil de 1916, ficava claro o fator patrimonialista que
intervinha a instituição familiar.

Maria Berenice Dias (2007) assevera que o CC/16 regulava a família do início do século passado,
sendo unicamente constituída pelo matrimônio, fazia distinções entre seus membros e trazia
qualificações preconceituosas aos sujeitos unidos sem casamento e aos filhos concebi dos dessas
relações e que as referências feitas aos vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos eram
punitivas e serviam exclusivamente para excluir direitos. Ficou evidente o fator patrimonialista
do Código Civil de 1916, pois o mesmo só protegia a família legítima. O parentesco era divido em
legítimo, onde era celebrado o casamento, e ilegítimo, onde não era celebrado o casamento, além
de distinguir o parentesco em natural ou civil, resultante da consanguinidade ou da adoção.

O Código Civil de 1916, em seu livro sobre o Direito de Família, privilegiou o instituto do
casamento, considerado, durante bastante tempo, como o instituto que configurava o significado de
família. Com o advento da CF/88, disposições importantes foram originadas, protegendo não só ao
casamento, como também à família, em seu art. 226, analisado a seguir:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

(...)

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 66, de 2010)

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o


planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por
parte de instituições oficiais ou privadas. Regulamento

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,


criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

A Carta Magna trouxe em seu texto um capítulo dedicado aos filhos, no caput do artigo 227. Sendo
usada logo após no Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.

O avanço só veio com a Constituição Federal, onde a mesma conceituou a família, considerando
entidades familiares aquelas constituídas através da união estável, da famí lia monoparental e pelo
casamento. Nesse sentido, a doutrina e a jurisprudência aumentaram as modalidades de família
que são aceitas juridicamente, como por exemplo, a homoafetiva, que gera discussões no âmbito
jurídico e social. A Constituição Federal de 1988 veio para igualar os direitos dos filhos, acabando
com qualquer distinção entre filho biológico e filho socioafetivo. Maria Berenice Dias (2015) expõe
em sua obra que a família, no momento atual, recebe total proteção pela CF/88 e assegura que a
família é cantada e decantada como o alicerce da sociedade.

Paulo Lobo (2011, p.227) explana que:

A Constituição abandonou a primazia da origem genética ou biológica para fixar a filiação, quando
desconsiderou qualquer traço da família patriarcal e exclusivamente matrimonial, quando equiparou
aos filhos naturais os filhos adotados e quando atribuiu prioridade absoluta à convivência familiar.
Fazer coincidir a filiação com a origem genética é transformar um fato cultural em determinismo
biológico, o que não contempla suas dimensões existenciais.

Está exposto na parte do § 4º do artigo 226: “Entende-se, também, como entidade familiar a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Amparando assim, outras
configurações de instituição familiar, dando assim, importância para a afetividade e com isso,
dando valor a uma nova modalidade de Família: a Socioafetiva ou “Família Sociológica”. Portanto,
são notórias as mudanças ocasionadas pela implantação da Constituição Federal de 1988, como a
alteração definição de família e assim, as relações familiares puderam desfrutar de um novo
tratamento jurídico, anulando a estrutura consolidada pelo Código Civil de 1916.

Já o Código Civil de 2002 atualizou algumas disposições adequando o texto civil a legislação
constitucional, instituindo o cônjuge como herdeiro, amparando o regime de comunhão parcial de
bens no casamento, igualando homem e mulher dentro do matrimônio e findando a expressão
“pátrio poder” que deu lugar ao “poder familiar” e a instituição da união estável. Como bem fala
Carlos Roberto Gonçalves (2005), as alterações advindas pela lei civil de 2002, pretendem
conservar a harmonia familiar e os princípios culturais, atribuindo à família moderna uma proteção
mais compatível com a realidade social, visando atender a carência dos filhos e dando mais
importância à afeição entre os cônjuges.

O Código Civil de 2002, motivado pelos ideais da Constituição Federal de 1988, trouxe várias
transformações na matéria sobre as famílias, especialmente no que diz respeito ao parentesco e a
situação dos filhos adotivos. Suprimiu-se toda relação à filiação legítima, legitimada, incestuosa,
adulterina, ou adotiva, em razão de que, a partir da instituição do novo ordenamento constitucional,
a filiação é somente uma, sem discriminações e eliminou-se do texto o capítulo da legitimação. No
atual contexto brasileiro, a filiação não deve ser delimitada pelos fatores biológicos que geram a
união entre pais e filhos, mas dando ênfase e proteção às relações formadas através do afeto
nutrido diariamente.

Há de se entender que não existe uma restrição de parentesco apenas aos tipos civil e
consanguíneo. O artigo 1.593 do Código Civil de 2002 contempla o termo “outra origem” que
evidencia o reconhecimento da paternidade socioafetiva, legitimando os pais e filhos que não são
ligados somente pelos laços de sangue, mas também pelos laços de afetividade, carinho, respeito,
amor, carinho, cuidados, entre outros. Consoante com os assuntos retratados anteriormente, as
inovações trazidas pela Carta Magna de 1988 proporcionaram a ruptura o fim de ideias antigas que
atrasavam o Direito de Família. Ainda que o fator biológico seja importante, há de se reconhecer
que as famílias contemporâneas são modeladas pela afetividade.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

A partir do entendimento de DIAS (2015), a família não se encontra em decadência, apesar da


visão conservadora acreditar que sim, as relações familiares passam por uma verdadeira
repersonalização que busca os interesses mais valiosos das pessoas humanas: amor,
solidariedade, afeto, respeito, lealdade e confiança. Quem não segue a constante evolução social,
jurídica e científica do seu tempo entra em desarmonia com as necessidades dos indivíduos que
litigam, o que acaba comprometendo a prestação jurisdicional em sua efetividade, causando um
desserviço ao meio social.

A Afetividade No Direito De Família

Consoante com Almeida (2012), a afetividade decorre de fatores sociais e orgânicos, onde os
mesmos se interagem reciprocamente, além de modificar tanto as fontes de onde procedem as
manifestações afetivas, quanto às formas de expressão. A afetividade tem início no fator orgânico,
porém passa a ser persuadidos pela ação do meio social. No entendimento de Valle (2005), o afeto
é uma expressão utilizada para expressar os fenômenos da afetividade, incluindo as modulações
do prazer, da dor e do desejo, encontrada na experiência de sentimentos vitais, como emoções e
humor.

Lobo (2011) conceitua o afeto e sobre as relações sociais que se formam através dele,
contemplando que o afeto é um feito psicológico e social e por conta disso, devido os ideais
normativos dos profissionais do direito brasileiro, ocorreu toda essa resistência em trazer o afeto
para a perspectiva jurídica. No entanto, não é o afeto que importa ao direito, o que importa são as
relações sociais que incidem nas normas jurídicas.

Fachin (2003) explana que é construída a filiação sociológica, não importando a descendência, mas
sim os cuidados e carinhos explanados no tratamento diário, onde o afeto é transmitido no lar e em
público, sendo este afeto paternal, que vai além da genética. Diante desse entendimento, é notório
que o afeto tem se tornado cada vez mais aceito no meio jurídico, e a sociedade não condena esse
ato por privilegiar a qualidade de vida e bem-estar da criança que passa a integrar uma família. O
que se torna preocupante é o fato de não haver amparo legal, por conta do Código Civil atual não
refletir com a atual realidade social da família, em consonância com a Carta Magna, que em seu
texto deixa claro que não há distinção se um filho é biológico ou não.

Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo (2003), o afeto não é fruto da biologia. Os vínculos de afeto e
carinho são derivados da convivência que existe entre a família e não pelo fator sanguíneo. Fica
evidente que o afeto é o que une a família, pessoas que coabitam dia pós dia por conta de um
tronco ancestral comum, ou mesmo em razão de um destino comum. Do mesmo pensamento
compartilha Sérgio Rezende de Barros (2002), destacando que é o afeto que define a entidade
familiar. Sendo assim, é sob a égide do afeto que se edifica a família sociológica.

Além disso, Lobo (2011, p. 71) aborda sobre o princípio da afetividade implícito na CF/88:

O princípio da afetividade está implícito na Constituição. Encontram- -se


na Constituição fundamentos essenciais do princípio da afetividade, constitutivos dessa aguda
evolução social da família brasileira, além dos já referidos: a) todos os filhos são iguais,
independentemente de sua origem (art. 227, § 6º); b) a adoção, como escolha afetiva, alçou -se
integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 6º); c) a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo-se os adotivos, tem a mesma dignidade de
família constitucionalmente protegida (art. 226, § 4º); d) a convivência familiar (e não a origem
biológica) é prioridade absoluta assegurada à criança e ao adolescente (art. 227).

Maria Berenice Dias (2006) expõe em sua obra que foi extinto a ideia de que a família é
unicamente formada pelo caráter produtivo e reprodutivo, assegura ainda que o vínculo afeito
atualmente possui mais prestígio, envolvendo seus integrantes, nascendo uma nova concepção de
família, formada por laços afetivos de carinho, de amor. O valor do afeto passou a ser mais
respeitado nas relações familiares, permanecendo por toda a convivência familiar. Atualmente a
família passa por uma realidade nova, onde os valores são outros, tais como a afetividade, o
companheirismo, o convívio familiar, a contribuição de todos para o sustento do lar, que vai exigir
do legislador uma adequação melhor das leis às novas regras de conduta, que passam a se
transformar de forma célere no seio da sociedade, em virtude do desenvolvimento socioeconômico
por que passa o mundo.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

Da análise das obras dos autores consultados para o desenvolvimento deste trabalho, infere-se
que é a visão sobre o instituto família, atualmente, é mais abrangente e quem a compõe vive de
forma igualitária. Perdeu-se a função meramente procriadora, tendo sido formada novos tipos de
famílias, entre elas a socioafetiva e o afeto se tornou o fator principal para a constituição e
reconhecimento de uma família. O Direito de Família passou a enxergar que as relações de afeto
não podem ser abandonadas ou deixadas de canto, devido o art. 1º, inciso III da Constituição
Federal que fala sobre a dignidade da pessoa humana.

Diante do exposto e de acordo com as análises feitas com os autores percebeu -se que o afeto tem
se tornado cada vez mais aceito no meio jurídico, e a sociedade não condena esse ato por
privilegiar a qualidade de vida e bem-estar da criança que passa a integrar uma família. O
desenvolvimento do Direito de Família veio a partir do reflexo da própria sociedade, o prestígio pelo
que há de mais glorioso nas famílias: o sentimento afetivo, o carinho, o respeito, a proteção mútua.

O afeto sofreu variações dentro da história jurídica do ser humano, antes era dado como
presumido, ninguém discutia a sua existência ou não, mas com o passar do tempo se tornou o fator
responsável por da visibilidade jurídicas às relações familiares. Por fim, entende-se que não existe
uma restrição de parentesco apenas aos tipos civil e consanguíneo, pois a Constituição Federal de
1988 igualou os filhos, acabando com qualquer tipo de discriminação entre eles.

O afeto nas relações familiares decorre dos princípios do Direito de Família, sendo que muitos estão
presentes na atual Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro de 2002, bem como em leis
específicas de proteção aos entes familiares. É por meio do afeto, do amor e do cuidado, que as
relações entre os pais e os filhos tornam-se núcleo de proteção e compreensão, com a função de
moldar e estruturar o desenvolvimento psíquico da criança, de forma positiva para enfrentar as
situações adversas da vida em sociedade.

O Código Civil de 1916 adotava o sistema patriarcal; no critério da legitimidade da família e dos filhos
e na desigualdade entre os cônjuges e os filhos, demonstrando o individualismo e a falta de afeto na
configuração da família.

A partir da Constituição Federal de 1988, as matérias do Direito de Família que giravam em torno do
matrimônio foram perdendo espaço para dar lugar a microssistemas jurídicos de incidência
concorrente nos vários ramos das situações de natureza familiar, desta forma, ocorreu uma mudança
de paradigmas, do individual para a solidariedade conjugal.

As relações afetivas incidem sobre a família que é o campo do direito mais influenciado por idéias
morais e religiosas, pois trata de pessoas unidas pelo matrimônio ou de união estável, dos filhos e
das relações entre os familiares. É considerada uma instituição subordinada a condutas sociais e a
normas.

ção subordinada a condutas sociais e a normas. Para que as relações entre as pessoas ocorram,
bem como entre as famílias, é importante a troca de afeto, ou seja, sentimentos de ordem positiva
como o amor, mas também de ordem negativa como a agressividade para que o indivíduo possa ter
experiências agradáveis ou desagradáveis, constituindo um processo fundamental de
experimentação de sentimentos para a formação de sua personalidade. A dignidade da pessoa
humana é caracterizada pelo ato de existir uma natureza humana interligada aos aspectos que a
concretizam e o sentimento afetivo, tornando as pessoas capazes de vivenciar suas emoções em
limites aceitáveis pela sociedade, bem como relacionar-se de forma saudável com outras pessoas. A
ausência de afeto possibilita o desenvolvimento de comportamentos antissociais e traumas, sendo
necessário o acompanhamento psicoterapêutico com profissional capacitado, auxiliando-o no
restabelecimento de sua história de vida. A lesão pelo dano moral em decorrência da falta de afeto é
passível de pedido de indenização, seja por abandono moral, material ou abalo psíquico, pois a
família, grupo social onde o elemento principal é a afetividade, deve buscar através do dever de
cuidado dos pais para com os filhos, demonstrar afeto nos atos de ensinar, amar e cuidar. O trabalho
científico teve como objetivo, revisar na literatura o estudo do afeto, suas implicações nas relações
familiares e a possibilidade de pedido de indenização por danos morais e materiais, na falta deste.
Desta forma, o dano moral pode ser reparado com a ajuda do judiciário, desde que se utilize da
técnica de ponderação, e de uma avaliação psicológica para o arbitramento de uma indenização.
Cabe aos pais o dever legal de assistência moral e material em relação aos filhos, mesmo quando da
filiação socioafetiva. A pretensão para reparação de um dano psíquico por quem sofreu ou sofre é o

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

pagamento de tratamento psicoterapêutico ou psiquiátrico (quando da necessidade de medicação),


bem como perdas e danos de ordem moral pelo prejuízo causado, quando não houver afeto passível
de recuperação. É a busca para solucionar um conflito íntimo em função de uma deficiência ou
privação de afeto.

Material E Métodos

A metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa foi teórica, que consistiu na revisão literária
de obras, artigos de periódicos, documentos eletrônicos, além de jurisprudências referentes ao tema
em questão.

O Princípio Da Afetividade Como Novo Paradigma No Direito De Família.

(...) Apresentar a aplicação do princípio da afetividade como novo paradigma do Direito de Família é
entender que é na família que devemos encontramos a mola propulsora de nossas felicidades,
afirmação que irá ser fundamentada pela doutrina pesquisada de Maria Berenice Dias (2010), Paulo
Lôbo (2011), Rodrigo da Cunha Pereira (2012), Silvio de Salvo Venosa (2011), Pablo Stolze e
Rodolfo Pamplona Filho (2012) e Luiz Edson Fachin (2003), efetivando uma metodologia por meio de
uma pesquisa bibliográfica.

Neste caminhar, antes de se enfrentar o tema da constitucionalização de um ramo do Direito é


preciso entender o que é o Direito, tendo em vista que, por meio da história da cultura humana, o
Direito tem sido concebido de diferentes maneiras. Ora as definições enfatizam os princípios, ora os
meios, ora os fins do próprio Direito, o que resulta numa variedade riquíssima em conceituações e
conotações.

Da Constitucionalização Do Direito De Família

Em tal passo, é possível identificarmos que a família atual passou a ter a proteção especial do
Estado por meio de uma Constituição de cunho social, espelhada em outras constituições de mesmo
porte, constituindo assim, revolucionária transformação na concepção, na natureza e nas atribuições
das relações familiares, conforme expressa Lôbo (2011, pg. 36), senão vejamos:

“[...] A constitucionalização das famílias apresenta alguns caracteres comuns nas Constituições do
Estado social da segunda metade do século XX: a) neutralização do matrimonio; b) deslocamento do
núcleo jurídico da família, do consentimento matrimonial para a proteção pública; c) potencialização
da filiação como categoria e como problema, em detrimento do matrimonio como instituição, dando-
se maior atenção ao conflito parteno-filial que ao conjugal; d) consagração da família instrumental no
lugar da família-instituição; e) livre desenvolvimento da afetividade e da sexualidade.”

Portanto, do modelo legislativo adotado pelos civilistas brasileiros do início do século XX, o qual
abordava a família como expressão patriarcal, encontramos no atual plano jurídico uma verdadeira
derrocada, diante do surgimento de novos valores expresso em nossa Constituição Cidadã de 1988.

Na Lei Maior, a família é posta em paradigma que explica sua função atual, isto é, a afetividade,
despojando-a de meros valores patrimoniais, apresentando laços que vão além da certeza aparente
dos laços sanguíneos (art. 227, §6º), que atinge núcleo maior no entrelaçar familiar, como as famílias
anaparentais[1], união estável, etc; bem como diante do papel do casal, como se percebe no art. 226,
§§§3º, 4ºe 5º, ambos da Constituição Federal, senão vejamos:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e
seus descendentes.

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

Art. 227, § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Logo, induvidosamente, o novo paradigma é fundamentado na constitucionalização do Direito de


Família, o qual passa pela determinação de que a família contemporânea está unida por laços de
liberdade e responsabilidade, consolidada na simetria, colaboração e comunhão de vida, apontando
para a máxima de que onde houver afeto haverá família, valores estes que fundam a família brasileira
atual como lugar para a concretização da pessoa humana digna.

A Família E Sua Função Atual

A História atribui a família expressão variada dentro da denominação função, posto que tal
organismo é o que mais se alterou no curso dos tempos. Assim, por ser uma entidade orgânica, no
dizer de VENOSA (2011, pg. 3), “a família deve ser examinada, primordialmente, sob o ponto de vista
exclusivamente sociológico.”

Ora, assim, facilmente percebemos que o Direito passou a determinar o papel da mesma ante a
sociedade, por vezes, para fundamentar as relações sexuais, para referendar o pátrio poder em
Roma, por vezes determinando uma verticalização de poder, onde a mulher era objeto e sempre
submissa ao homem, entre outras situações, o que nos faz refletir, a saber, que a história citada fora
construída por questões religiosas, políticas, econômicas e procracional.

De tal maneira, de início tínhamos uma família estruturada pelo domínio patriarcal, havendo uma
legitimação dos poderes do homem sobre a mulher, representado pelo poder marital, e sobre os
filhos, antigo pátrio poder, deixando, por exemplo, o casamento longe de qualquer conotação afetiva,
senão vejamos VENOSA (2011, p. 4):

“Por muito tempo na história, inclusive na Idade Média, nas classes nobres, o casamento esteve
longe de qualquer conotação afetiva. A instituição do casamento sagrado era um dogma da religião
doméstica. Várias civilizações do passado incentivavam o casamento da viúva, sem filhos, com o
parente mais próximo de seu marido, e o filho dessa união era considerado filho do falecido. O
nascimento da filha não preenchia a necessidade, pois ela não poderia ser continuadora do culto de
seu pai, quando contraísse núpcias.”

Diante do aspecto pertinente a função religiosa e política a família atual não transparece tais
apontamentos, a não ser quanto fins históricos, como percebemos nas palavras de Coulanges (1958,
v.1:54), citado por VENOSA (2011, p. 4), no livro Cidade Antiga, senão vejamos:

“[...] A família antiga era mais uma associação religiosa do que uma associação natural. (...) o
principio da família não o encontramos tampouco no afeto natural. o Direito grego e o direito romano
não levavam em consideração esse sentimento. O pai podia amara muito sua filha, mas não podia
legar-lhe os seus bens. (...). O efeito do casamento consistia da união de dois seres no mesmo culto
doméstico, fazendo deles nascer um terceiro apto a perpetuar esse culto [...].”

Em tal momento histórico, a família era unidade reprodutiva, onde os mais novos cuidavam dos mais
velhos, função transferida pelo já clamado Estado Social, o qual demonstra seguridade perante
necessidades insurgidas de contingências, como por exemplo, doença, morte, velhice etc. Em
contrapartida, a família atual prioriza o afeto, onde a função econômica acaba por perder o seu
sentido de caráter primeiro para a construção familiar, que tem como identificação a solidariedade,
fundamentada no art. 3º, I da Constituição Federal de 1988.

De modo que, afirma a atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ, que a função atual
básica da família repousa na realização pessoal de seus membros, no dever de cuidar, conforme
expressou a ministra Nancy Andrighi, no julgamento do REsp n. 1159242 SP, na famosa frase que
abriu o julgado “Amar é faculdade, cuidar é dever.”, obrigando o pai a indenizar a filha em R$ 200 mil
por abandono afetivo, senão vejamos tal aspecto no julgado citado:

Civil E Processual Civil. Família. Abandono Afetivo. Compensação Por Dano Moral.
Possibilidade.

1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o


consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família.

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com
essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se
observa do art. 227 da CF/88.

3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a
ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem
juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia - de cuidado -
importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear
compensação por danos morais por abandono psicológico.

4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos
genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do
mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social.

5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes -


por demandarem revolvimento de matéria fática - não podem ser objeto de reavaliação na estreita via
do recurso especial.

6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso
especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou
exagerada.

7. Recurso especial parcialmente provido. REsp 1159242 / SP. RECURSO ESPECIAL


2009/0193701-9. T3 - TERCEIRA TURMA. Ministra NANCY ANDRIGHI. Data de julgamento.
24.04.2012. DJe 10.05.2012.

Não resta dúvida de que a família é reivindicada, conforme leciona o mestre Paulo Lôbo (2011, p.
70), como “único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar”, demonstrando a necessidade de um
ambiente de convivência e solidariedade, havendo uma reinvenção social do caráter da família,
reencontrando o afeto como primazia para suas relações.

O Afeto E Seu Valor Jurídico

Diante do novo perfil de família aqui já apontando, qual seja, o aspecto instrumental, ético e solidário,
sendo sustentado pela pedra fundamental, qual seja, o afeto, apresenta-se a contemporânea
presença de novos laços de família, arranjos que determinam a aplicação de conceitos
constitucionais fundamentais na esfera horizontal.

Neste pensar, o afeto é encarado no Direito de Família como referência jurídica, fundamentando-se
através do principio da afetividade, onde os vínculos familiares se entrelaçam acima de mero deleito
psicológico, ou intuitivo, pertinente do gostar ou não gostar. Em verdade, é atribuído por meio de
deveres impostos pelos laços criados através da função social que desponta da própria família, sendo
assim, inconcebível, por exemplo, a expulsão do filho de casa por ter o mesmo uma opção sexual
destoante do desejado pelo seu pai, conforme podemos identificar em Dias (2010, p. 71), senão
vejamos:

“[...] O afeto como valor realiza a dignidade e se afirma como um direito fundamental a ser preservado
e protegido nas relações familiares, deixando evidenciar que o princípio norteador do direito das
famílias é o princípio da afetividade, porque dele provém o espírito de solidariedade e cooperação,
estes capazes de manter a coesão de qualquer célula social.”

Portanto, o afeto como valor jurídico deve estar intimamente relacionado com a dignidade da pessoa
humana enquanto princípio, constituindo fundamento da comunidade familiar, seja ela biológica ou
socioafetiva, pois o afeto não é fruto da biologia, mas da convivência familiar, não do sangue,
apresentando ainda um viés externo, existente entre as famílias, pondo humanidade em cada família,
o que, no dizer de DIAS (2010, p. 71), acaba por compor “(...) uma família universal.”

Princípio Da Afetividade Como Novo Paradigma No Direito De Família

Lôbo (2011, p. 70), demarca o conceito do principio jurídico da afetividade como aquele “[...] que

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida,


com primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico.”

De tal pleito a Constituição de 1988 é pilar fundamental, diante da apresentação de novos valores à
família no Brasil, retirando o caráter unitário advindo da família casamenteira, postulando a primazia
da pluralidade inserida no conceito de família, anteriormente esboçado, sendo a mesma espaço
democrático, eudemonista e socioafetivo, senão vejamos o conceito de Dias (2010, p. 42):

“[...] família é expressão socioafetiva (porque somente se explica e é compreendido à luz do


principio da afetividade), eudemonista (pois, como decorre da função socia, visa realizar o projeto de
felicidade de cada um de seus integrantes) e anaparental (podendo ser composta, inclusive, por
elementos que não guardem, tecnicamente, vínculo parental entre si.

Neste diapasão, Lôbo (2011, p. 72) afirma que a afetividade não se confunde com o mero afeto, pois
não se fala apenas no sentimento que se perfaz por uma empatia ou antipatia pela outro, senão
vejamos:

A AFETIVIDADE COMO PRINCIPIO JURÍDICO não se confunde com o afeto, como fato psicológico,
ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este faltar na realidade das relações; assim a
afetividade é dever imposto entre pais e filhos, mesmo que possuam desentendimentos,
desaparecendo apenas com a morte ou com a perda do poder familiar. De outra parte, nas relações
entre irmãos (biológicos e adotivos), o princípio da afetividade assegura a “igualdade e o respeito a
seus direitos fundamentais, além do forte sentimento de solidariedade recíproca.”

Portanto é fácil identificar que diante das crescentes mutações ocorridas na sociedade os interesses
que se demonstram diante da família contemporânea devem caminhar de mãos dadas ao principio
solar constitucional da dignidade da pessoa humana, como já firmada pela posição vanguarda de
Fachin (2003, p. 14), ao afirmar que:

A família existe em razão de seus componentes, e não estes em função daquela, valorizando de
forma definitiva a pessoa humana: papel funcionalizado, devendo, efetivamente, servir como
ambiente propício para a promoção da dignidade e a realização da personalidade de seus membros,
integrando sentimentos, esperanças e valores, servindo como alicerce fundamental para o alcance da
felicidade. Mais do que fotos nas paredes, a família a de ser possibilidade de convivência.

Dessas lições, devemos apontar que o Princípio da Afetividade é vinculado intrinsecamente ao


Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, posto que o mesmo não está expressamente arrolado na
Carta Magna, tão pouco no Código Civil, sendo apenas decorrente de interlocução do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana, frente ao assegurar do desenvolvimento digno do ser humano perante
a entidade familiar.

Diante de tal pensamento é preciso ter tal compreensão disposta em relações interdisciplinares,
estas facilmente encontradas no Direito de Família, conforme aduz os ensinamentos de Lôbo (2011,
p. 12):

[...] o princípio da afetividade está implícito na Constituição. Encontram-se na Constituição


fundamentos essenciais do princípio, constitutivos dessa aguda evolução social da família brasileira,
além dos já referidos: a) todos os filhos são iguais, independentemente de sua origem (art. 227, §6°);
b) a adoção como escolha afetiva, alçou-se integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227,
§§ 5° e 6°); c) a comunidade formada por qualquer dos pais e seus constituintes, incluindo-se os
adotivos, tem a mesma dignidade de família constitucionalmente protegida (art. 226,§4°); d) a
convivência familiar (e não a origem biológica) é prioridade absoluta assegurada à criança e ao
adolescente (art. 227).

Neste caminhar é possível uma dedução que aponte que a valorização da família é obra da presença
do referido princípio nas relações familiares, posto que nos últimos anos tem-se valorado a entidade
familiar amplamente, conforme podemos perceber nos ditames do art. 1.593 do Código Civil, o qual
deslumbra o laço parental além da relação biológica ou legal (presunção da filiação no casamento),
senão vejamos: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra
origem.”

Neste caminhar, Lôbo (2011, p.73), atenta para o principio da afetividade sob a ótica da dignidade da

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RELAÇÕES DE AFETIVIDADE DA FAMÍLIA

pessoa humana, e afirma que o mesmo vem sendo fortalecido pelo legislador, como por exemplo, na
aplicação da Lei n. 11.112/2005, que tornou obrigatório o acordo relativo á guarda dos filhos menores
e ao regime de visitas, assegurando a companhia dos pais, na perspectiva de se ter uma redução de
conflitos, fato este acompanhado em 2008 pela Lei 11.698, a qual estipula a guarda compartilhada,
esta no intuito de efetivamente não haver a total quebra dos laços de família, diante da obrigação que
não se finda após a dissolução da sociedade conjugal, qual seja o poder familiar, o dever para com
os filhos quanto a educação, saúde, assistência (moral, ética, religiosa, etc), entre outras situações
jurídicas.

De tal maneira, percebe-se que na atual dinâmica social a força do principio da afetividade tem
morada na fragilidade das relações de família, sendo o elo de união de pessoas em tais relações,
possibilitando uma aplicação de antigos institutos através de uma visão mais igualitária, pois onde
havia uma família hierarquizada e impositiva, agora temos uma família pautada pelo desenvolvimento
da personalidade do individuo; há um redirecionamento dos papéis masculinos e femininos; há uma
possibilidade de determinações de reprodução humana assistida; além da possibilidade de laços
filiais além da biologia ou civilistas.

Considerações Finais

Feitas tais considerações, visualiza-se que, em nosso aspecto contemporâneo, não mais é
concebido desprezar a importância do afeto como fomentador de uma entidade familiar, quer seja na
plena afirmação do consentimento livre junto aos atos solenes do casamento, quer seja na
constitucionalização de um novo arranjo familiar, como a união estável homoafetiva, situações
atreladas à garantia da individualidade dos integrantes da família, o que culmina com a determinação
de que o afeto é também reconhecido como instituto jurídico.

De tal maneira, é possível identificar que a concepção contemporânea de família é traduzida como
lugar de realização dos anseios individuais, com a conseqüência de uma realização também coletiva,
trazendo à baila o princípio da afetividade como novo paradigma diante da transposição do conceito
fechado de família: pai, mãe e filho, para o conceito já atribuído, aberto: família monoparental; filiação
socioafetivas, etc.

O perfil fechado de família, identificador da mesma apenas como instituição natural, de direito divino,
imutável e indissolúvel, apontava o afeto como elemento secundário, imprimindo-o apenas no seu
ponto psicológico, anímico, diante do gostar e não gostar, porquanto, pode ser presumida quando
este faltar na realidade das relações.

Em contraponto, temos uma contemporaneidade pautada na afetividade como principio jurídico, de


maneira a afastar a confusão do seu conceito passado, sendo agora um valor jurídico, como por
exemplo, no dever imposto aos pais em relação aos filhos e destes em relação aqueles, mesmo que
haja desafeto, desamor entre eles; nas relações entre os cônjuges/companheiros, incidindo enquanto
houver a determinação real do afeto, o qual na visão do Direito é real por existir na relação o intuito
de construir família, de ser família, indo além da pragmática, por exemplo, presente nas ciências da
psique, na filosofia, nas ciências sociais, qual seja: amor e desamor, desafeição e afeição,
sentimentos de rejeição, etc.

Portanto, a afeto passa a ser visto pela ótica jurídica, por meio da aplicação do principio da
afetividade, sendo o mesmo elo mantenedor de pessoas unidas nas relações familiares, por meio da
solidariedade, cooperação, da funcionalidade familiar, primando assim por uma concepção
eudemonista e social de família, apresentando uma família verdadeiramente democrática, igualitária,
unidade por meio do aspecto socioafetivo e de um caráter instrumental inerente ao reconhecimento
da busca pela felicidade através do alcance de sonhos, estes plantados nas relações familiares e
colhidos em uma sociedade que por ordem constitucional deve ser justa e igualitária.

Resultados E Discussão

A presente pesquisa não apresentou conflito de idéias entre os diferentes autores estudados,
ressaltando o entendimento pacífico em relação ao arbitramento de uma indenização por dano moral
quando utilizada a técnica da ponderação, ou seja, uma perícia psicológica que comprova a ausência
de afeto. Em relação a ciência da psicologia, esta define aspectos referentes ao afeto para um
entendimento jurídico que possibilite ao judiciário efetuar a reparação moral e material.

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