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Escola de Direcção e Negócios
CORREIO DA
Publicação: quinzenal
Director: J.L.Carvalho Cardoso
Editor e Proprietário: AESE
Impresso por: Moinho Velho
Depósito legal: nº 21228/88
Preço: e 1

DOCUMENTAÇÃO
21º Ano

Nº 498, 1-12-2008

ENTREVISTA PROF
ENTREVISTA PROF.. RA UL DINIZ
RAUL

- Quais são, em seu entender, os principais Muitas vezes ficamo-nos pela ideia de que a
factores críticos de sucesso das organizações nos ética são normas, códigos éticos, códigos de conduta
dias de hoje? a cumprir e que o seu incumprimento deve levar à
criação de novas normas, a uma supervisão cada vez
Existem vários factores críticos que contribuem
maior, porque a anterior não funcionou. Mas há
para o sucesso das organizações, mas talvez nos quem ouse ir mais ao fundo da questão e questione
possamos circunscrever a um que actualmente reúne o que inspira afinal a criação de tais normas? É
consenso: o da necessidade de confiança. Verifi- evidente que subjacentes às normas estão valores,
camos, em parte pela crise que se está a viver, que princípios que se concretizaram em normas, mas se
as instituições não confiam, elas próprias, umas nas as pessoas não tiverem virtude para operativizar as
outras, que as pessoas não confiam nas instituições, normas… então tudo não passará do papel!
nos governantes, nos políticos, nos bancos… Está na
moda não confiar! E esta falta de confiança afecta Podemos até dizer que a norma não seria
profundamente aquilo que, sobretudo a partir do ano necessária caso houvesse virtude. A norma no fundo
de 1995, com o bestseller Trust, do historiador norte- existe como um princípio orientador para facilitar o
-americano Francis Fukuyama, se vem denominando conhecimento, mas pode não passar do conheci-
capital social e, quando se fere o capital social, está mento à vontade e, se não passar à vontade, não é
eficaz! Informa a nossa inteligência de alguns
a ferir-se a coesão social, as redes sociais, a coo-
princípios, tem um carácter cognitivo, mas falta-lhe
peração. Ou seja, tem-se vindo a ferir o relacio-
o elemento volitivo que só a virtude lhe dará. Neste
namento entre as pessoas e a levar à morte as
sentido fala-se, com razão, da necessidade de uma
instituições.
ética da primeira pessoa e não de uma ética da
- Q de Confiança é precisamente o lema que terceira pessoa, porque esta ética de princípios, de
a APQ escolheu para o seu 33.º Colóquio da valores, de normas é uma ética abstracta, que pode
Qualidade. De que modo relaciona confiança com levar-nos a fazer discursos magníficos sobre normas
qualidade e com excelência organizacional? e seus valores subjacentes, mas, se não nos empe-
nharmos e comprometermos pessoalmente com essas
Quando intervim no Colóquio da Qualidade do
normas, elas não terão eficácia.
ano passado, relacionei a excelência e a qualidade
com a ética. Disse que, enquanto se enfatizam as - Se a virtude preponderasse, poder-se-ia ter
estratégias da qualidade que estão focadas nos prescindido das leis e o certo é que elas acom-
processos, nos produtos, nos serviços, na melhoria das panham a nossa existência…
áreas organizacionais, em relação às pessoas fala-se De facto não somos suficientemente virtuosos.
muito menos da sua qualidade intrínseca, daquilo que Eu próprio, que ultimamente tenho reflectido mais
são as suas atitudes e comportamentos, daquilo que sobre o tema da confiança, concluo que é muito
se designa por ética. A ética é a ciência directiva dos difícil confiar totalmente numa pessoa, além de que
comportamentos humanos, faz parte das deno- nem seria prudente que a própria pessoa tivesse uma
minadas soft skills, constitui aliás a mais elevada das confiança absoluta em si mesma… Evidentemente
soft skills. Já os gregos identificavam a ética com a que ninguém parte para algo sem ter a sua auto-
excelência, porque a entendiam como virtude. confiança. A autoconfiança é fundamental para o
empreendedorismo, para qualquer trabalho que zada, que se instala no nosso dia-a-dia. Não confio
queiramos realizar. Temos de ter esperança que em ninguém, se não quero ter desilusões. Há muita
vamos conseguir, que vamos ser capazes. gente que chega ao fim da vida com estas aprendiza-
gens negativas, quando é melhor confiar mesmo
Mas quanto à confiança esta é, na sua essência,
tendo desilusões. Não acreditar nas instituições, nas
entre pessoas, é relacional e interactiva. Mesmo
igrejas, nas pessoas dá-nos a ideia de estarmos mais
quando confio num objecto, por exemplo num avião, defendidos, mas estamos contrariamente mais vulne-
ou numa instituição ou empresa, há sempre pessoas ráveis, porque não podemos viver sozinhos. Penso,
por detrás. É realmente muito interessante os por isso, que se deve partir do princípio que as pes-
diferentes sentidos que a palavra confiança pode soas são credoras de confiança até prova em contrá-
adquirir: umas vezes é usada em sentido próprio, rio, até nos darem razões para desconfiar. É verdade
outras em sentido próprio metafórico e outras em que isso pode levar a enganar-me muitas vezes, mas
sentido apenas metafórico, como quando digo que valerá a pena!
tenho confiança no futuro e não sei nada do futuro
nem conheço as pessoas que o vão orientar. Nas empresas a confiança relaciona-se com
tudo: só vou delegar se confiar, só vou ter boas equi-
As palavras chegam até nós «carregadas de pas se confiar, só vou obter inovação e criatividade
memória», como dizem os poetas. Se recuarmos no se confiar e se deixar que as pessoas tenham espaço
tempo, na raiz da palavra confiança está fidutia, fé. para desacertar. Uma pessoa a quem foi dado um
Assim sendo, confiança implica fé e fé é um elemento desafio por se confiar nela, ao ultrapassá-lo sentir-se-
que, apesar de não anular a racionalidade que -á mais confiante.
envolve o acto de confiar, lhe incute de certa forma
insegurança… Cada um de nós deposita confiança - Mas trata-se sempre de uma relação biuní-
em alguém. É o que fazemos, por exemplo, quando voca, ou seja, o outro também tem de se dar à
casamos. Esta confiança significa estar convencido confiança!?
que o outro não prossegue os seus interesses de uma Sim, tem realmente de ser credível. Não há uma
maneira desonesta, à custa dos meus interesses e dos cultura organizacional sem confiança, motiva muito
interesses de outros. Uma relação de confiança cada pessoa o facto de se confiar nela. Se falarmos
implica pelo menos duas coisas: implica a vontade ao nível da inteligência emocional, a confiança cria
de ser vulnerável às acções do outro, situação de que empatia enquanto a desconfiança impede a relação
muitas pessoas fogem, mas implica também ter a ex- e tem repercussões na estrutura. Agora defende-se
pectativa que o outro irá realizar uma acção impor- muito a flat organization, em que, ao confiar-se mais
tante para mim, independentemente da minha nas pessoas, se criam menos níveis de supervisão, em
capacidade de o controlar. Com efeito, o trade off que há mais lugar à participação, maior delegação
importante na confiança é: confiar ou controlar? E de responsabilidades e, consequentemente, menores
as pessoas preferem o controlo à confiança. Mas custos de transacção. As pessoas manifestam que
quem controla o controlo? Onde termina o controlo? ficam nas organizações, onde têm mais desafios e
Quais os custos do controlo? Temos pois de confiar, onde se confia mais nelas, facilitando assim a retenção
porque todos dependemos da cooperação uns dos de talentos. A juventude de hoje tem exigências novas
outros e o poder de controlo é limitado. O controlo nas organizações, já não está só focada na remune-
não pode ser levado ao infinito!
ração, quer não só mais qualidade de vida como
A confiança é algo basilar que, enquanto também uma maior confiança depositada no seu
questão antropológica, nos remete para os nossos trabalho e maiores desafios.
primeiros anos de vida, em que começámos por
Repare-se que estamos mais uma vez a falar de
confiar nos pais, mais propriamente na mãe que nos
confiança, confiança que tanto poderá recair na
indica quem é o pai. Este é o primeiro acto de
competência profissional, como aquela que espera-
confiança, já que o pai poderia ser outro!
mos de um médico, como na que advém do próprio
- É um sentimento intrínseco a cada um de carácter da pessoa. Quando vou ao médico, quero
nós!? que ele seja competente, mas avalio-o também pelas
convicções que tem, pela sua integridade e carácter.
Claramente. Logo de início construímos o nosso
Estes dois níveis vão estar na base da minha confian-
eu confiando nos pais, portanto é muito importante
ça, aquilo a que poderíamos chamar, na totalidade,
ter uma infância normal, uma infância confiante que
competência profissional. E voltamos à ética! Estou
me possibilite chegar a ser eu próprio. É natural
convencido que a confiança é também uma virtude,
confiar, depois é que nos é ensinado a desconfiar.
algo que se pode desenvolver, porque exige da parte
Recordo a este respeito um episódio: um pai cujo
de quem a cultiva uma benevolência em relação aos
filho trepou a uma árvore de pouca altura e lhe disse
outros. É um querer bem aos outros e um querer bem
que se atirasse para ele, mas que depois retirou os
para os outros. Ou seja, acaba por ser uma exigência
braços e o filho caiu. E deixou-lhe o aviso: «Para tu
para a construção da própria sociedade. A ética
aprenderes a não confiar!»
abarca tudo, está relacionada com tudo o que
As trajectórias e experiências da vida podem fazemos, o que somos… A ética é comportamental,
conduzir-nos a um cinismo de que vamos pouco a já o disse, pelo menos para quem vê as coisas desta
pouco sendo possuídos, a uma descrença generali- maneira.

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- Mas a confiança na classe médica mudou. emocional, reputacional... Estou convencido que a
Antes a opinião do médico estava acima de tudo, formação é muito importante e que o grande
a sua palavra era sagrada, agora já não é bem problema tem sido a formação ter estado apenas
assim. O que terá conduzido a essa mudança? orientada para a informação e o treino, em
Quando o médico não está ao serviço da saúde detrimento dos valores.
e da vida, ou pode não estar, passa a ser objecto de - Estamos a dar formação no lugar onde falha
desconfiança. Se um médico pode matar, então, a educação, nomeadamente o papel do ensino?
automaticamente, deixo de confiar. As pessoas não Estamos a dar passos atrás?
associam de imediato, mas a introdução do aborto e
da eutanásia é muitas vezes dramática deste ponto Mas estamos a dar passos atrás porquê? Porque
de vista da confiança na classe médica. Há muitas as três grandes instituições - família, escola, igrejas -
coisas que se andam a fazer, que julgamos que são não estão a funcionar! A educação, a formação de
aparentes progressos, mas que, na minha óptica, são base, está a ficar mal tratada. Se a família é
graves retrocessos, estando a minar a confiança numa disfuncional, se é monoparental ou se está fragilizada;
profissão em relação à qual as pessoas se dirigiam se a escola é um sítio de violência e de maus
antes com uma grande confiança. costumes; se as igrejas não convencem as pessoas por
qualquer razão, então têm vindo a perder-se
- Neste mundo de globalização tendencial-
oportunidades de formação e transformação. É
mente haverá menos ética profissional?
diferente uma pessoa que insere valências técnicas
Eu diria que a globalização está a demonstrar numa personalidade rica, pessoalmente bem pre-
que a ética é absolutamente necessária. Tem de haver parada, e uma pessoa que pode adquirir uma grande
uma gramática ética comum, sem a qual não poderei competência técnica e ficar muito sábia numa
negociar com qualquer outro povo. Se, num deter- determinada matéria mas que, sem valores, se pode
minado país, roubar é considerado uma virtude, tornar um perigo! Podemos perguntar: Quem matará
então não poderei estabelecer aí uma relação de melhor que um médico? Sócrates perguntava: «Quem
negócio. Todos sabemos que não se deve roubar, que é que pode cometer mais erros de gramática? Um
não se deve mentir, que se deve honrar a palavra. retórico ou um ignorante?» - respondiam-lhe mal…
Repare-se nos contratos bilionários que se fazem na «O ignorante!». «Não, é o retórico, porque pode
Internet, onde existe uma base de confiança comum. infringir cada uma das regras, já que as conhece
Há muita gente empenhada na escrita de uma todas!»
ética universal. A declaração dos direitos universais - Infracções conscientes?
do homem é isso mesmo. Também a literatura dá
nota desse denominador comum. Há algum autor que Sim, infracções conscientes. É por isso que tenho
tenha elogiado a traição, o egoísmo, a covardia, a medo de um certo tipo de ética que hoje está em
mentira? A ética não é uma superestrutura cultural, voga. Herdeiro da filosofia de David Hume, o mundo
a ética é ditada pela consciência com que todos anglo-saxão tem promovido o utilitarismo e o
nascemos e orienta a nossa racionalidade para a pragmatismo, que é um perigo para a ética: «Seja
acção correcta e mais adequada. O pior que pode ético porque ser ético dá dinheiro!» Claro que,
acontecer é termos alguém sem consciência e com quando não der dinheiro, deixarei então de ser
poder, pois será sempre um perigo público. A ética ético!? Ou sou ético porque quero ser boa pessoa?
é algo interiorizado que permite a sociedade Quando a visão da ética é uma visão utilitária e uma
funcionar de tal modo que, quando se perde, a visão pragmática, estou a ser ético porque a ética dá
sociedade fica disfuncional e tem de voltar a gerar dinheiro, dá reputação, vendo melhor as coisas… Isto
valores, num processo a que os sociólogos chamam é perigoso, não porque não tenha uma parte de
sociogénese. Por exemplo, a corrupção não pode ser verdade, mas porque não deve ser assim o raciocínio
um fenómeno que se estenda sem limites, porque ético. Eu sou ético, porque quero ser uma pessoa
destrói as economias, os mercados, a confiança de correcta, honesta, boa pessoa, porque devo ser assim,
que temos vindo a falar. independentemente do dinheiro que a ética me dê.
- Qual deveria ser o papel do ensino e da - É nesse sentido que diferencia ética
formação na criação de recursos humanos com destrutiva e ética construtiva?
mais qualidade, neste caso com mais ética? Não. A ética, quando não se assume, é sempre
Deveria ser total! A formação é um factor crítico destrutiva porque é auto-referencial, portanto, mesmo
em que realmente acredito. Não porque pertenço a que não faça mal a terceiros, faço sempre mal a mim
uma instituição que dá formação e porque tenho próprio. Por exemplo, se digo uma mentira, posso não
orientado para essa área a minha vida profissional, ter prejudicado ninguém, mas estou a correr o risco
mas, de facto, acredito no enriquecimento dos de me tornar mentiroso. Sempre que se falta à ética
chamados recursos humanos ou, como prefiro dizer, é-se autodestrutivo, para além de que normalmente
na melhoria das pessoas. É na formação que a batalha se pode destruir terceiros. Inversamente, sempre que
se dá, para que possamos elogiar em cada empresa cada um cultiva a sua excelência ética é construtivo,
o seu capital humano, intelectual, social, cultural, porque está a tornar-se melhor pessoa.

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Também tenho muito medo das pessoas que Felizmente têm surgido códigos éticos e de conduta,
encaram os problemas da vida como a última batalha, comités éticos para receber e tratar das reclamações
as que dizem que vão ser não éticas apenas num dos clientes, etc.
certo momento, por uma única ou última vez, visto
- Em seu entender, a ética pode ser certifi-
que se trata duma situação de vida ou de morte. Ou cável? Faz-lhe sentido existirem normas nessa área
seja, depois vou ser boa pessoa, mas agora tenho de e uma entidade externa que as audite?
aldrabar, tenho de apresentar estes resultados no
relatório de vendas... A pessoa encontrou uma Acredito que se podem certificar processos,
racionalização para aquilo que vai fazer de menos produtos, serviços pela melhoria que isso poderá
correcto, considerando que vai ser uma última vez. significar e se não for apenas um objectivo de
Por isso digo, raciocinar é uma coisa e racionalizar é marketing. Não chega ser-se certificado num qualquer
outra: quando estou a raciocinar, estou simplesmente âmbito e divulgar essa informação no boletim da
à procura da verdade, quando racionalizo, normal- empresa e descansar a seguir. Há que transformar o
mente, estou a querer justificar a posteriori uma coisa dia-a-dia numa prática de auto-exigência permanente.
feita, estou a querer legitimar o que fiz para suavizar A certificação só será valiosa, se os procedimentos
o sentimento de culpa. continuarem para além das auditorias. Porém, o que
nunca vou poder auditar é a qualidade ética de cada
- Hoje fala-se de responsabilidade social e um e é aí onde finalmente reside o segredo, é no
corporativa das organizações. Trata-se de uma carácter de cada um, na vontade de ser boa pessoa,
realidade ou é mais uma questão de imagem e de na vontade de ser um bom profissional… Isto é algo
marketing? muito difícil de auditar.
Tem de tudo um pouco. Em Portugal, há cerca - E o que faz ser um bom líder: a ética?
de meia dúzia de anos, muitas das empresas mais
responsáveis passaram a ter relatórios de sustenta- Sim, porque sou capaz de ser um bom estratega,
bilidade social. Facto que é muito interessante, se alguém com muito bons resultados, muito eficaz, mas
pensarmos quantos anos se viveu apenas com é preciso saber à custa de quê e de quem. Posso ser
relatórios financeiros. Começa a estar incorporado na um executivo que conheça muito bem as capacidades
dos meus colaboradores e potenciar todas as suas
cultura, pelo menos das grandes organizações, o
valências, para o bem ou para o mal, se eu não tiver
conceito do triple bottom line, o relatório social,
princípios… Quanto ao líder, este tem uma forte
ambiental e económico. Poderá dizer que isto
componente ética e aparece na organização uma
também é marketing! Será, até porque já não fica
nova realidade: a da unidade e sentido de missão. É
bem não ter todas estas sensibilidades, não ser verde,
quando a organização se transforma numa instituição.
não ter sensibilidade social, não fazer mecenato… E
É muito fácil ver a organização como um sistema
que não fique bem já é bom, porque o pior é fazer- técnico, mecanicista, fazê-lo funcionar bem no
-se o mal e vangloriar-se. aspecto psicossociológico, como organismo social.
Além disso, serve para as empresas aumentarem Difícil, difícil é este paradigma a que chamamos
o seu nível de confiança junto dos diferentes antropológico/humanista, em que a própria organi-
stakeholders e obterem dessas acções tradução zação tem em conta o crescimento de todos os seus
económica. E não há mal nisso: as empresas nascem colaboradores e incute esse sentido de missão que
para ganhar dinheiro! O lucro normalmente significa cada um tem de assumir em prol do serviço ao
que a empresa está a funcionar bem, que tem um cliente.
produto ou serviço que satisfaz os clientes e que pode - Essas serão bases para que as empresas
realmente crescer e dar mais emprego. Começa a ser possam atingir a excelência organizacional?
mau, quando é adquirido de forma incorrecta,
enganando, ludibriando com um mau produto ou um A excelência é uma meta talvez inatingível. O
mau serviço. Ou quando se distribui mal. Penso que mal é quando se vê que uma realidade é muito difícil
o capitalismo está numa tentativa de autocorrecção, e se afirma: «Isso é utópico, portanto não me
através da responsabilidade social e da ética empre- interessa!» Tomás More dizia que na utopia a palavra
sarial, em que vai sendo cada vez mais difícil colocar grega tinha duas raízes, eutopia e outupia. A eutopia
o accionista num lugar preponderante e absoluto. é um bom lugar, a outupia é nenhum lugar. Portanto,
Evidentemente que o accionista merece uma retribui- se não tivermos um pouco de utopia, ou de ideal,
ção, investiu o seu capital e corre riscos, mas já não ficaremos aquém. Se vivermos como somos, ficaremos
pior do que aquilo que somos, temos de viver com a
é o único a exigir: exigem também os gestores, os
intenção de sermos o que devemos ser. Isto é como
colaboradores, os clientes que geraram a expectativa
as cordas de uma guitarra, têm de ter um ponto de
de obter um produto ou serviço à medida das suas
tensão afinado para que os sons resultem harmo-
necessidades...
niosos. E esse ponto de tensão é exactamente… a
A empresa é hoje uma realidade muito excelência! A excelência é uma meta óptima,
importante, que tem por isso que ser muito sabendo que se deve prossegui-la continuamente
responsabilizada. Faz todo o sentido que haja cada mesmo que não se atinja nunca na totalidade.
vez mais códigos de boas práticas para as empresas,
à semelhança dos códigos profissionais há muito
existentes para médicos, advogados, engenheiros… (in Qualidade, APQ, Outono 2008)

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